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Seminário

Fundamentos Filosóficos Socio-históricos da Educação

VIEIRA, Sofia Lerche; FARIAS Isabel Maria Sabino. Política educacional no Brasil:
introdução histórica. Brasília: Líber Editora, 2007.

1)- Para o campo educacional, o regime militar significa uma clara inflexão na política
existente. Sob a égide da ditadura, novos instrumentos legais orientam o país: uma nova
Constituição é outorgada (24/01/1967), sendo, posteriormente, modificada por uma
Emenda Constitucional (17/10/1969), ambas concebidas de modo a justificar o regime de
exceção. Na educação, os rumos seriam ditado por duas leis e um amplo conjunto de
decretos-lei: a primeira, que regulamenta a reforma universitária, institui os princípios
para a organização e funcionamento do ensino superior e sua articulação com a escola
média (Lei n. 5.540/68); a segunda fixa as diretrizes e bases para o ensino de 1º e 2º grau
(Lei n. 5.692/71) – Pg. 122.
2)- A reforma universitária tem por finalidade oferecer resposta às demandas crescentes
por ensino superior. Pretende, ao mesmo tempo, formar quadros deste nível de modo a
dar substância ao crescimento econômico gerado pelo chamado milagre brasileiro A
reforma do ensino de 1º e 2º graus, por sua vez, pretende atingir um duplo objetivo: de
um lado, conter a crescente demanda sobre o ensino superior; de outro, promover a
profissionalização de nível médio – Pg. 123.

Reforma Universitária – racionalizar para atender a demanda


1)- O projeto da reforma de 1968 deve ser compreendido à luz de diversos elementos. Do
ponto de vista político, constitui uma resposta a uma pressão por acesso ao ensino
superior, demanda claramente colocada no seio da sociedade civil, de modo específico
entre suas camadas médias. Do ponto de vista técnico, procura atender a uma exigência
de racionalização – tanto no sentido de conter a expansão desordenada deste nível de
ensino, quanto de prover os meios para que as instituições pudessem vir a oferecer mais
e melhor ensino, num ambiente onde a participação estudantil fosse posta sob controle –
Pg. 132.
2)- Para dar resposta a esses ambiciosos objetivos, o governo constitui um Grupo de
Trabalho encarregado de, no prazo de 60 dias, “Estudar a Reforma da Universidade
Brasileira, visando sua eficiência, modernização, flexibilidade administrativa e formação
de recursos humanos de alto nível para o país (Brasil. Decreto nº. 62.397, de 02 de julho
de 1968) – Pg. 132.
3)- O projeto encaminhado pelo Grupo de Trabalho de 1968, que se explicita na Lei nº.
5.540/68, aprovada em regime de urgência no Congresso Nacional, em plena vigência do
estado de exceção, introduz várias novidades na organização do ensino superior. As
medidas mais importantes nesse sentido são: a estrutura departamental, o sistema de
créditos e de matrículas por disciplinas, o ciclo básico, a carreira universitária única, a
indissociabilidade entre o ensino e a pesquisa, dentre outras – Pg. 133.
4)- Como observamos no estudo anterior, “a reforma cujos princípios básicos foram
definidos sob as ideias de racionalização, expansão, flexibilidade, integração e
autonomia, não trazia no seu bojo uma proposta pedagógica”. Na verdade, “inscrevia-se
[...] numa lógica coerente com o período em que foi concebida, quando houve o
predomínio de soluções técnicas e prevalecem fórmulas que privilegiaram o apelo a
medidas de cunho administrativo e organizacional. Concebida em plena vigência do
governo autoritário, a reforma anunciou novos tempos para a estrutura do ensino
superior no país sem que, entretanto, fossem alterados em essência seus fundamentos”
(Vieira, 1990, p. 11). – Pg. 133-134.
5)- A contenção da “expansão desordenada”, objetivo declarado do Grupo de Trabalho
da Reforma Universitária, em verdade, não ocorre, pois o crescimento se dá em ritmo
acelerado e sem observância às exigências do modelo que se pretende implantar a partir
de 1968. O aumento de vagas acontece, sobretudo, às expensas do estabelecimento
isolado de ensino, em cursos de baixo custo, muitas vezes, sem perspectivas de inserção
de seus egressos no mercado de trabalho. A oferta de uma educação de tal natureza,
todavia, parece satisfazer à demanda reprimida por educação de nível superior por parte
das camadas médias da população. Enquanto perdura o “milagre econômico” e a demanda
de empregos para profissionais com título universitário, pressões por aumento ou
melhoria dos serviços de 3º grau não voltam a cena – Pg. 134.

Reforma do Ensino de 1º e 2º graus – a tentativa de profissionalização


1)- Com efeito, o principal foco da política educacional desenvolvida pelo regime militar
é o ensino superior, para onde convergem atenções e recursos. Se com a reforma
universitária objetiva-se racionalizar o modus operandi das instituições de ensino
superior, de maneira a tender um maio número de alunos, com relação à reforma do ensino
de 1º e 2º graus procura-se conter essa demanda através da formação de quadros técnicos
de nível médio – razão pela qual se acena com a ideia de profissionalização no projeto de
Lei nº. 5.692/71 (Art. 5º) – Pg. 135.
2)- A reforma de 1971 apresenta algumas inovações significativas em relação à
organização prevista pela LDB, de 1961. Pela nova lei, os antigo cursos primário e
ginasial são substituídos pelo ensino de 1º grau, destinado à formação da criança e do rpé-
adolescente, com 8 anos de duração e obrigatório dos 7 aos 14 anos (Art. 17, 18 e 20). O
ensino médio passa a chamar-se ensino de 2º grau, destinado à formação integral do
adolescente, com três ou quatro anos de duração – Pg. 135.
3)- Na perspectiva da reforma de 1971, é concebido um currículo pleno de ensino de 1º e
2º graus, o qual compreende uma parte de educação geral e outra de formação especial
(Art. 5º, §1) [...] A ideia de profissionalização é que a qualificação para o trabalho viesse
a permear todo o 2º Grau, imprimindo-lhe um sentido de “terminalidade”. Ou seja,
qualquer jovem com “habilitação profissional” de nível médio estaria apto a ingressar
como técnico do mundo do trabalho – Pg. 136.
4)- A despeito dos esforços de profissionalização, pode-se dizer que esta foi uma
promessa que ficou no papel. A verdade é que poucas unidades escolares se mobilizaram
para adaptar-se a esta perspectiva, preferindo optar por habilitações “faz de conta”. Como
consequência, após concluir o 2º Grau, a maioria dos alunos não se sentia apto a
candidatar-se a ocupações no mercado de trabalho para as quais formalmente teriam sido
habilitados – Pg. 136.

Planejamento – a política educacional nos trilhos


1)- É nos governos militares, entretanto, que o planejamento atinge seu momento áureo,
passando a ser adotado em larga escala, buscando-se imprimir um cunho científico e
técnico à tarefa de prever as demandas do País – Pg. 137.
2)- Este modelo tem fortes repercussões sobre o contexto educacional brasileiro,
constituindo-se mesmo numa marca da gestão pública em geral e, da educação em
particular – Pg. 138.

Movimento de matrículas – a expansão como resposta à demanda social


1)- Considerando os dados examinados antes, é possível dizer que no início da década de
60, o Poder Público é o principal responsável pela oferta da educação básica, nos anos
subsequentes algumas diferenças substantivas começam a ser estabelecidas – Pg. 139.
2)- O que esses dados não mostram é que após uma fase de franca expansão na década de
50, a partir dos anos 60 há um decréscimo nos investimentos referentes ao ensino
fundamental, havendo momentos em que sua expansão não acompanha sequer os índices
de crescimento populacional – Pg. 140.
3)- Se com relação ao ensino fundamental e médio há uma expansão maior na oferta
pública, no ensino superior a tendência se inverte. Há, na verdade, um boom no período
compreendido entre 1962 e 1973, que ocorre tanto no ensino público quanto no ensino
privado, mas é significativamente maior neste que naquele – Pg. 140.
4)- O crescimento da oferta na rede privada é expressivo, sobretudo, no ensino superior,
carro-chefe da política educacional do período autoritário – Pg. 141
5)- Pelo que se viu, é possível perceber que o regime militar foi pródigo em medidas de
impacto junto aos diferentes setores da sociedade. No cenário educacional a reforma
universitária e a reforma do ensino de 1º e 2º graus assinalam tais intenções, embora
também seja inegável o fracasso desta última em relação à formação profissionalizante.
A centralização é retomada com força na gestão educacional através do planejamento
setorial de cunho técnico e racionalizador, imprimindo uniformidade à política
educacional em curso no País. Entretanto, se a tentativa de adequação do projeto
educacional ao modelo desenvolvimentista parece triunfar, a história em seu devir
reafirmará a democracia como condição soberana – Pg. 140-141.
MACIEL, Marciane; PAIM, Robson Olivino. Do golpe ao governo. Do governo às
reformas: a educação na ditadura civil-militar brasileira (1964-1985). In: SILVA, João
Paulo de Souza (org.). Intelectuais, instituições e reformas na educação brasileira (séc.
XX). Rio de Janeiro: Dictio Brasil, 2017, pp. 132-

1)- Tendo em vista a educação como atividade política e que, como tal traz intrínseco a
si processos sociais, econômicos, históricos, culturais, legais e ideológicos, é imperativo
que discutamos as imbricações destes processos na formação do sistema educacional
brasileiro – Pg. 132.
2)- A compreensão da consolidação do golpe, a forma do governo militar e as reformas
educacionais, tornou-se mais do que um apanhado histórico do passado, o qual já seria
justificável, mas, uma questão de autonomia pelo conhecimento – Pg. 133.
3)- Conforme Germano (2011, p. 34): “[...] à media que o tempo passa e nos distanciamos
daqueles “anos de chumbo”, a política educacional do período deva ser constantemente
revista, não somente no sentido da produção de um conhecimento a respeito – que em si
constitui um motivo plausível -, mas, igualmente, no sentido de resistir a toda forma de
autoritarismo passado e presente – Pg. 133.
4)- Saviani (2008, p. 295): “Faz sentido, pois, retomar a política educacional e as
realizações da ditadura no Brasil, pondo em destaque aspectos que se fazem presentes,
ainda hoje, na educação brasileira” – Pg. 134.
5)- Segundo Loewenstein (1983, p. 72) o regime caracterizou-se pelo fato de “o poder
não estar submetido a nenhum limite, estar fora de qualquer controle político” em outras
palavras, após a implantação, o acesso de lideranças políticas foi suspenso, já o poder
legislativo, bem como o judiciário, passou a ter papel simbólico, atuando conforme a
vontade única e exclusiva do executivo, que impôs sua “soberania” através dos Atos
Institucionais – Pg. 138.

Políticas educacionais nos anos de chumbo


1)- A organização do ensino no Brasil sempre mostrou-se, ao longo de sua história,
autoritária. Efeito disto é a estrutura que vigorou até a década de 60, instituída pelo Estado
Novo, como as reformas Capanema (SAVIANI, 2008, p. 301) – Pg. 148.
2)- “A escolarização e qualificação da força de trabalho dizem respeito a uma das funções
primordiais do Estado capitalista” (ALTVATER, 1977, OFFE e LENHARDT, 1984 apud
GERMANO, 2011) – Pg. 148.
3)- As ações do comando militar, no campo da educação, apresentaram-se como
prioridade, pois o regime tinha pressa na execução dos seus planos [...] Diante desta
ambiciosa meta, a educação primária deveria capacitar para a realização de determinada
atividade prática. Já o ensino médio teria como objetivo a preparação dos profissionais
necessários ao desenvolvimento econômico e social do país. Ao ensino superior era
atribuídas as funções de formar a mão-de-obra especializada requerida pelas empresas e
preparar os novos dirigentes do país (SOUZA, 1981, p. 67-68) – Pg. 149.
4)- Demerval Saviani (2008): “A orientação geral traduzida nos objetivos indicados e a
referência a aspectos específicos, como a profissionalização do nível médio, a integração
dos cursos superiores de formação tecnológica com as empresas e a precedência do
Ministério do Planejamento sobre o da Educação na planificação educacional, são
elementos que integrarão as reformas de ensino do governo militar” – Pg. 149.
5)- Projetos de Lei importantes – 5.540 de 28 de novembro de 1968, Decreto nº 464/69 –
Pg. 150.
6)- [...] Restauração e, ao mesmo tempo, Renovação (GRAMSCI, 1977). Restauração,
porque ao se revestir de legalidade, possibilitou o completo aniquilamento, por parte do
Estado de Segurança Nacional, do movimento social e político dos estudantes e de outros
setores da sociedade civil (GERMANO, 2011, p. 133) – Pg. 150.
7)- É notório que o pode dos militares implantou um sistema de ensino que rompia com
a singularidade regional, bem como os projetos populares de educação como os liderados
por Paulo Freire, dando início à desaceleração da escola pública, em favorecimento do
setor privado (GERMANO, 2000, p. 695) – Pg. 150.
8)- MEC/USAID 68 – “definia o papel da educação como o de formador de mão-de-obra
qualificada para gerenciamento da produção industrial – daí a explosão de curso
universitário ligados ao saber tecnológico” – Pg. 151.
9)- O governo militar implanta taxas e anuidade as universidades públicas, como se não
bastasse, em 28 de fevereiro de 1969 promulga o Decreto nº 477 que punia manifestações
de professores, estudantes e funcionários das universidades – Pg. 151.
10)- A atuação do Regime Militar manifesta-se segundo seu interesse de repressão e
controle ideológico político de ensino, com objetivo de eliminar toda e qualquer forma
de crítica para consolidar seu projeto de dominação – Pg. 151.
11)- José Wellington Germano (2011, p. 106): “A política educacional resulta da
correlação de forças sociais existentes em determinado contexto histórico. No Brasil pós-
1964 podemos afirmar que, no essencial ela foi uma expressão da dominação burguesa,
viabilizada pela ação política dos militares” – Pg. 152.
12)- Num apanhado geral, as reformas educacionais do período militar, concentraram-se
de forma sintética nas seguintes ações: Reforma Universitária, acordo MEC/USAID,
unificação da Escola primário/ginásio, implantação da disciplina Moral e Cívica,
eliminação da disciplina de filosofia e sociologia, implantação da língua inglesa, ensino
obrigatório de 7 a 14 anos, ensino profissionalizante, rompimento com Educação Popular,
exilando Paulo Freire, no Chile, instalação da educação tecnicista: com objetivo a
neutralidade científica, inspirada nos princípios de racionalidade, eficiência e
produtividade. O sistema de gestão no Brasil estava em adaptação do ensino, agora, volta
a uma mentalidade empresarial tecnocrata (SAVIANI, 2010, p. 381) – Pg. 152.
13)- No campo educacional, o regime tratou a educação como uma instrumentalização
necessária para o desenvolvimento do mercado de trabalho, era através das reformas
educacionais que o regime atingiria seus objetivos, ampliando a economia através da
qualificação da mão-de-obra, sem preocupação alguma com a formação integral do povo.
Ainda como se não bastasse, a educação também era tida como aparelho ideológico, ou
melhor, de controle ideológico, em especial após o AI-15 de 69 com a Lei de Segurança
Nacional com a pretensão de consenso e legitimação – Pg. 153.

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