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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

FACULDADE DE HISTÓRIA – FH

HISTÓRIA DO BRASIL 4

SEGUNDO ANO – 2018/2

FICHA DE LEITURA – O “milagre” brasileiro: crescimento acelerado, integração


internacional e concentração de renda (1967-1973)

OBRA – PRADO, Luiz Carlos Delorme; EARP, Fábio Sá. O “milagre” brasileiro:
crescimento acelerado, integração nacional e concentração de renda (1967-1973). In:
FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucília (orgs.) O tempo da ditadura: regime militar e
movimentos sociais em fins do século XX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007 (O
Brasil Republicano 4), pp. 207-242.

POR

DYEENMES PROCÓPIO DE CARVALHO

GOIÂNIA-GO, 30 de outubro de 2018.


Ficha de Leitura – História do Brasil 4

Professora: Dra. Alcilene Cavalcante

Aluno: Dyeenmes Procópio de Carvalho

FICHA DE LEITURA – O “milagre” brasileiro: crescimento acelerado, integração


internacional e concentração de renda (1967-1973)

OBRA – PRADO, Luiz Carlos Delorme; EARP, Fábio Sá. O “milagre” brasileiro:
crescimento acelerado, integração nacional e concentração de renda (1967-1973). In:
FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucília (orgs.) O tempo da ditadura: regime militar e
movimentos sociais em fins do século XX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007 (O
Brasil Republicano 4), pp. 207-242.

Luiz Carlos Delorme Prado e Fábio Sá Earp, somente após suscitarem uma
pujança estatística, imagética e bibliográfica, embebida na imbricação de um texto de
linguagem marcadamente econômica com perspicácia histórica, trazem com força
comprobatória sua asseveração principal (pg. 234), a saber, que o crescimento vertiginoso
da economia, nominado por eles de “milagre” brasileiro, foi inversamente proporcional
à correta distribuição renda entre os setores mais vulneráveis e paralelamente
proporcional à concentração de renda entre os segmentos mais abastados da sociedade
brasileira, legando para o futuro um modelo calcando em influências externas que é, ao
mesmo tempo, encrustado ora na legitimação de reformas conservadoras anti-
inflacionárias ora num plano de aceleração da economia que desconsideram a melhoria
das condições de vida da população.
Prado e Earp constroem seus argumentos no texto analisando dois modelos
distintos adotados no período do seu recorte temporal. O primeiro se constitui nas
medidas econômicas conservadoras do governo Castelo Branco propaladas no Plano de
Ação Econômica do Governo (PAEG) que priorizavam a contenção do aumento da taxa
de inflação, o equilíbrio dos preços e a aceleração do desenvolvimento econômico. Esse
conjunto de reformas originou-se, entre outras coisas, da tentativa de retomar o
dinamismo econômico histórico brasileiro através de mudanças institucionais, incentivo
ao consumo de produtos industriais e “fechamento” do sistema político. Todavia, a
impopularidade dessas medidas atrelada ao baixo crescimento econômico e insucesso no
controle da taxa de inflação fizeram emergir uma guinada alternativa em governos
militares posteriores em direção às outras medidas econômicas.
O segundo modelo usado na argumentação dos autores como sedimento da seus
atese foi a nova política econômica corporificada no Plano Estratégico de
Desenvolvimento (PED). Tal Plano baseava na acepção de que existia uma capacidade
produtiva ociosa e fissuras abertas na conjuntura econômica internacional para o aumento
do gasto público. Um pretenso sucesso desenvolvimentista mudou a ênfase da política
econômica. Esse “desenvolvimentismo” era fomentado pela contenção do salário mínimo
real, ampla abertura de crédito subsidiado para os setores agrários fundiários e industriais
calcado na redução de entraves burocráticos e aumento das exportações. Teve como um
de seus frutos a acumulação de capital em setores como o financeiro e a construção civil.
Além disso, acrescentou-se uma elevação de crédito por meio de financiamentos e
investimentos paras as classes médias e altas no que tange ao consumo de bens duráveis
de valor unitário. O custo dessa nova política econômica foi o endividamento externo do
país e o agravamento de uma má distribuição dos benefícios oriundos do crescimento
econômico entre os anos de 1968-1973. Destaca-se que, no governo Médici, houve um
deslocamento do eixo de legitimação do governo militar da arena política para a esfera
econômica em que o discurso da construção de um país antes marginal em potência
mundial se constituía na base propagandística do referido governo. Em resumo, o
dinamismo econômico demandou a manutenção de dois dispositivos sistêmicos
estruturais da sociedade brasileiro, a saber, a desigualdade e concentração de renda
injusta. Por isso, não tardou para que pesquisadores de dentro e fora do país, munidos
especialmente com o censo, apontassem para a piora da distribuição de renda na década
de 1960.
Por fim, a suma do arrazoado de Luiz Carlos Delorme Prado e Fábio Sá Earp é
que não se pode negar o crescimento econômico brasileiro na casa dos dois dígitos entre
os anos de 1968 e 1973, mas que tal crescimento se deu sem equidade e preocupação com
as condições de subsistência da faixa mais pobre da população. Assim, no subterrâneo de
um ufanismo desenvolvimentista do discurso economicista da época reside o
agravamento do empobrecimento dos socialmente vulneráveis e enriquecimento ainda
maior das classes altas brasileiras. Segundo Prado e Earp, tal conjuntura pôde ser
observada quando revisitada depois de 30 anos desprovida de uma defesa apaixonada das
medidas econômicas dos governos militares.
Nota-se no texto de Prado e Earp a abundância e diversidade de fontes. Há um
diálogo bem construído entre leis orçamentárias e econômicas com autores da época e
imagens de manifestações, cartazes, tabelas do IBGE, Seminários da UNESCO. Digno
de nota é o uso perspicaz ainda que sutil de imagens relativas à vítimas de prisão, censura
e repressão, bem como de manifestações opostas ao regime no período do “milagre”
econômico. Tais imagens enriquecem o poder elucidativo do texto ao apontarem as
resistências e contestações do regime em meio ao crescimento econômico nacional
engastado num contexto de detrimento das liberdades individuais.
Enfim, ao se consultar a bibliografia de que Prado e Earp lançam mão, constata-
se a envergadura das obras consultadas perfazendo um conjunto que vem desde a década
de 60 até os anos 90. Eles trazem desde autores estruturalista ou cepalinos como Celso
Furtado, até autores no extremo oposto, liberais como Eugênio Gudin. Assim, Prado e
Earp se propõem a trazer autores de diversos matizes ideológicos econômicas e
historiográficas e de diferentes períodos com proposições e análise diferentes para a
conjuntura econômica brasileira das décadas de 1960 e 1970. Portanto, o texto in loco é
imprescindível para historiadores e economistas, especialmente em contextos que, por
pressões internas e externas, a política econômica brasileira novamente for seduzida ao
retorno de implementações de medidas historicamente comprovadas como socialmente
degenerativas. A questão que nos instiga hoje: será que essa sedução jaz à porta do Brasil
de hoje?

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