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A arte Mesopotâmica

O Contexto Histórico -Cultural

Mesopotâmica significa, á letra, “terra entre dois rios”. De facto, geograficamente, ela
confina-se á extensa planície que, na ponta oriental do crescente Fértil, se estende entre-
osrios Tigre e Eufrates, tendo como limites naturais, sudeste, o Golfo Pérsico e, de
nordeste, as cadeias rochosas da Anatólia e do planalto do Irão, respectivamente.

A mesopotâmia antiga conheceu uma situação meteorológica mais favorável. Irrigada


por dois cursos de água com cheias periódicas d ritmos diferentes, a planície permanecia
verde todo o ano e a humidade do ar atraia as chuvas no inicio da Primavera e do
Outono. A fertilidade do solo incentivou a fixação das populações e permitiu o seu
rápido desenvolvimento: segundo os arqueólogos, ai surgiu a primeira grande
civilização da Historia – a civilização suméria.

Atraídos pelas condições naturais, muitos foram os povos que afluíram a planície.

Os primeiros parecem ter sido os Sumérios. Chegaram por volta do 6° ou 5° milénio a.


C e estabeleceram-se na parte sul da mesopotâmica, junto ao Golfo Pérsico.

Por meados do ǁǀ milénio a. C., toda a Suméria foi conquistada por povos semitas que,
por se terem estabelecido primeiro na Caldeia, receberam o nome de Acádios ou
Acadianos.

No último milénio antes da nossa era, a Mesopotâmica foi dominada pelos Assírios,
povos também semitas que desde o começo do ǁ milénio, se haviam fixado na região a
nordeste da planície mesopotâmica.

Esta heterogeneidade étnica e cultural deu origem a manifestações artísticas peculiares,


sujeitas a múltiplas inter-influências e a uma evolução descontínua pois acompanhou as
constantes oscilações político-militares dos seus principais centros.

Nestas circunstâncias fazer a síntese da arte mesopotâmica só se torna possível devido a


terem existido elementos unificadores que, para além de todas as diversidades regionais,
permitiram a existência de uma certa unidade cultural abrangente. Entre esses elementos
unificadores destacamos sobretudo:

O comércio, importante veículo de comunicação entre os povos e as regiões; A escrita


cuneiforme, que foi o modo de expressão comum;

divulgadas pelos Acadianos


A religião, cujas bases, lançadas pelos Sumérios, foram depois sistematizadas e

A religião mesopotâmica assumiu sobretudo objectivos práticos e funcionais: prever a


actuação dos deuses sobre a vida dos homens, evitar a sua ira aplacando-lhes os desejos,
procura a sua ajuda e protecção, fazendo-lhes oferendas. E esta característica acentue o
carácter pragmático da sua civilização e da sua arte, uma arte para os vivos que cantou
os deuses, mas principalmente os reis e seus feitos político-militares.

A arte Mesopotâmica

A escultura

materiais utilizados e pela diversidade das formas


Grandemente limitada pela falta de pedra, a escultura da Mesopotâmia soube, no
entanto, vencer as dificuldades e afirmar-se pela qualidade técnica e formal, pela
variedade dos

Com efeito, para além de vários tipos de pedra, os escultores mesopotâmicos


trabalharam os metais (cobre, ouro, prata, e estanho) e desenvolveram as técnicas
correspondentes, usaram a argila e a terracota, bem como o marfim, o alabastro e outros
materiais raros.

Atingiram um alto nível de execução das técnicas e de qualidade estética que se


caracterizou por,

Obediência a um rigoroso cânone formal cuja padronização se impôs por


condicionalismos de ordem técnica e não estética ou religiosa;

Respeito pela lei da frontalidade e pelo convencionalismo dos tamanhos de


representação de acordo com as posições sociais dos representados;

Tendência para a idealização que visou atribuir respeitabilidade e dignidade as


personagens representadas;

A expressão formal denotou uma grande sintetização e estilização na representação do


corpo Humano, com excepção dos rostos, das mãos e eventualmente dos pés, as
representações animalistas obedeceram, a uma maior naturalismo;

Tendência para estilização manifestou também através de um marcado gosto pela


geometrização das formas e da composição, geralmente um cone ou cilindro;

Por ultimo, apesar da idealização, a construção racional das imagens que se


reproduziram de acordo com a maneira como se sabia que efectivamente eram (realismo
conceptual) e não como se viam nos diferentes enquadramentos espaciais. Por isso a
perspectiva nunca foi tida em consideração, e não existiram esforços.
A arte Mesopotâmica

São numerosos os exemplos de estatuária no legado artístico dos povos mesopotâmicos,


dos sumérios aos assírios. A maioria representa deuses, reis ou altos funcionários – a
elite do poder de quem a arte depende nesta época.

Estas estátuas individuais obedeciam a tipologias preestabelecidas, cujas dimensões,


posições e formas se mantiveram por largos períodos de tempo, embora com apreciáveis
variações regionais. O tipo mais comum foi o do orante. O orante era uma estátua
individual, destinadas a ser oferecida aos deuses como devoção ou objecto votivo.

Os exemplos mais famosos foram as estátuas do célebre Gudea, governador da cidade


de Lagash, no século ΧΧΙ a. C.

corpo)
As estátuas dos orantes estabeleciam-se segundo posições rígidas: sempre de pé, ou
sentados, com os braços à frente do corpo, as mãos, uma sobre a outra, os longos dedos
estendidos. A rigidez das formas e os movimentos contidos dão-lhes ar de compacto de
“estátuas blocos”, o que e acentuado, igualmente, pelas suas proporções atarracadas,
inferiores ao normal (a cabeça esta sempre representada numa escala superior à do resto
do

Para além dos orantes, a estatuária mesopotâmica deixa-nos ainda estátuas de deuses e
outros seres mitológicos, destinados aos templos e as capelas privadas, e estátuas,
bustos ou cabeças de reis e altos funcionários. Em todas e possível reconhecer o estilo
do artista mesopotâmico: as feições não personalizadas têm sobrancelhas bem
marcadas, unidas sobre o nariz; as barbas e eventualmente o cabelo, os gorros de lã
usada pelos sumérios ou os turbantes dos reis assírios são tratados com artifício
pormenor; o mesmo cuidado se encontra nas vestes, sempre longas, que configuram
linearmente as formas; particularidade interessante é a dos olhos, arredondados, de
pálpebras bem delineadas e contornadas a tinta negra, com enormes íris redondas, feitas
de incrustações de lápis-lazúli.
A arte Mesopotâmica

Muitos abundantes, os relevos constituem hoje, a par da estatuária, um dos aspectos


mais distintos da arte mesopotâmica. A sua individualidade ficou marcada:

Na temática, descritiva e narrativa, que reflecte o universo social, politico e religioso


das nações mesopotâmicas;

Nas técnicas (gravura, alto e baixo-relevo) e formas de representação onde predomina a


estilização e o hieratismo; Nos suportes e sua tipologia – estelas, obeliscos, selos ou
marcos territoriais.

Utilizados sobretudo com a função de decorar a arquitectura dos templos e palácios, os


relevos escultóricos exerceram simultaneamente importantes funções comemorativas de
carácter político, religioso e até privado. Estas funções evidenciam-se também nos
temas representados: rituais religiosos, episódios da vida política e militar, a vida dos
deuses, cenas de caça e de guerra, figuras individuais de animais emblemáticos e de
génios, estas duas últimas com um acentuado significado religioso e mágico.
As cenas descritivas ou narrativas dispunham-se normalmente em faixas ou bandas
sobrepostas onde, sem perspectiva e em cenários esquemáticos, os episódios se
sucediam em cortejo.

A arte Mesopotâmica

A Pintura

Nascida, segundo se crê, da pintura sobre os relevos, a pintura verdadeiramente dita foi
usada para os substituir, devido à falta de pedra e outros materiais escultóricos no
espaço mesopotâmico.

Infelizmente, o que resta dessa pintura parietal da mesopotâmica antiga é, hoje, muito
pouco – alguns fragmentos de estuques pintados originários de dois palácios: o de
Zimri-Lim, da cidade de Mari, no Norte da suméria (2° milénio a. C.); e o de Til-Barsip,
mandado construir por Tilagrapileser ΙΙΙ, no século VΙΙΙ a. C.

Pelas formas, pela composição, pela técnica das narrativas e pelo sentido decorativo
obedeceram ao estilo mesopotâmico já definido para os relevos. O colorido era vivo
com mais incidências no preto, branco, vermelho e amarelo.

O testemunho hoje conhecido deixa-nos concluir que as cenas predominantes foram os


rituais de corte (audiências, coroamento, passagem do poder) e as cerimónias sociais
com carácter festivo e comemorativo.

Mário Fortes®

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