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SUSPENSÃO PEDIÁTRICA
DE HIDRÓXIDO DE ALUMÍNIO
Investigação - Revista Científica da Universidade de Franca Franca (SP) v. 5 n. 1/6 p. 139-144 jan. 2003 / dez. 2005
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INTRODUÇÃO ponentes, da durabilidade do preparado e de sua
boa aparência, qualidades desejáveis em todas as
As suspensões são utilizadas com três finalida-
formas farmacêuticas, algumas outras característi-
des principais: para uso oral, para aplicação tópica
cas dizem respeito mais especificamente às suspen-
na pele e nas mucosas ou para administração
sões, como sedimentar lentamente e voltar a dis-
parenteral. São sistemas heterogêneos em que a
persar-se com agitação suave do recipiente; as ca-
fase externa ou contínua é líquida ou semi-sólida
racterísticas da suspensão devem ser tais que o ta-
e a fase interna ou dispersa é constituída por partí- manho das partículas dispersas permaneça cons-
culas sólidas insolúveis no meio utilizado (PRISTA tante por longos períodos de repouso e esta deve
et al., 1979). escoar com rapidez e uniformidade da embalagem
O seu emprego justifica-se por várias razões. (ANSEL et al., 2000).
Uma delas é que certas substâncias são quimica- Como na maioria das vezes, os antiácidos são
mente instáveis em solução, porém estáveis em compostos por matérias-primas não hidrossolúveis;
suspensão. Nesses casos, a suspensão oral garante justifica-se, por isso, a necessidade na forma líquida
estabilidade química ao mesmo tempo em que de se preparar uma suspensão (ANSEL et al., 2000).
permite terapia com líquido. Para muitos pacien-
O presente trabalho baseou-se no desenvolvi-
tes, a forma líquida é preferível à sólida pela mai-
mento de uma suspensão de hidróxido de alumí-
or facilidade de deglutição e pela flexibilidade da
nio, sendo este um antiácido que se destina a com-
administração de diferentes doses. Essa é uma gran-
pensar os efeitos da hiperacidez gástrica (ANSEL
de vantagem para lactentes, crianças e idosos. Por
et al., 2000), sendo indicado nos casos de duodenite,
outro lado, o sabor desagradável de certos fármacos
esofagite, gastrite, hérnia de hiato e úlcera péptica
em solução é evitado quando o medicamento é
(Guia de remédios, 1999). Com o objetivo de ve-
administrado na forma de partículas não dissolvi-
rificar as características desta forma farmacêutica já
das de uma suspensão. Com a criação de formas
existente no mercado, foram avaliadas duas sus-
insolúveis de certas substâncias para o uso em sus-
pensões de hidróxido de alumínio de laboratórios
pensões, as dificuldades são superadas, e a escolha
diferentes e, posteriormente, comparadas com a
dos flavorizantes para uso na suspensão pode ba-
formulação desenvolvida. Um diferencial deseja-
sear-se em suas qualidades de palatabilidade, e não
do para a nova formulação era que apresentasse
na sua capacidade de mascarar sabores desagradá-
um sabor agradável para ser direcionada ao uso
veis (ANSEL et al., 2000).
pediátrico, visto que a maioria das formulações
Também pode ser utilizada quando se pre- comerciais existentes no mercado é direcionada ao
tende prolongar uma ação medicamentosa, retar- público adulto.
dando-se a absorção de um fármaco, como por
via injetável (PRISTA et al., 1979).
MATERIAL E MÉTODOS
As suspensões orais podem vir prontas para o
consumo quando a fase interna já se encontra dis- Foram utilizadas três suspensões de hidróxido
persa na fase externa ou pode apresentar-se na for- de alumínio. Duas industrializadas (laboratório A
ma de pó seco para ser disperso em um líquido e laboratório B) e uma desenvolvida no laborató-
com uma quantidade especificada que irá servir rio de pesquisa e desenvolvimento da Universida-
de veículo, geralmente água purificada. Essa últi- de de Franca.
ma é conhecida como formas extemporâneas e são As suspensões dos laboratórios A e B passa-
utilizadas quando o princípio ativo não é estável ram por testes para avaliar a sua qualidade diante
na presença do veículo (ANSEL et al., 2000). do consumidor.
São muitos os fatores que devem ser conside- Após a realização dos testes propostos, foi de-
rados no desenvolvimento e na preparação de uma senvolvida uma nova formulação, utilizando-se do
adequada suspensão farmacêutica. Além da eficá- conhecimento das formulações das suspensões dos
cia terapêutica, da estabilidade química dos com- laboratórios analisados e da literatura disponível.
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Em seguida, foram feitos os mesmos testes 500mL para um béquer de 250mL e, seguindo a
para garantir a qualidade e verificar as característi- ordem com agitação rigorosa, foram adicionados
cas propostas para o desenvolvimento. no béquer 25mL de EDTA dissódico 0,05M (SV)
e 20mL de solução tampão ácido-acético – acetato
TESTES de amônio. Colocou-se o béquer com a solução
na manta de aquecimento por 5 minutos, até pró-
1. Características organolépticas ximo à fervura. O béquer foi retirado, aguardan-
Para verificar as características organolépticas do-se o resfriamento. Em seguida acrescentaram-
das suspensões, utilizaram-se 10mL da suspensão se 50mL de álcool e 2mL de ditizona SR. Em uma
de hidróxido de alumínio e verificou-se se era vis- bureta de 25 mL colocou-se o sulfato de zinco
cosa, branca, em camada fina e se pelo repouso 0,05M (SV) e titulou-se com a solução do béquer
separava-se em pequena quantidade de água. O até a viragem de cor do verde violáceo para o róseo.
sabor e odor tinham que ser característicos (BRA- Para obter-se o doseamento é necessário lembrar
SIL, 1977). que cada mL de EDTA dissódico 0,05M (SV) equi-
2. pH vale a 2549mg de hidróxido de alumínio (BRA-
SIL, 1977).
O pH foi conferido pela fita indicadora de pH.
Para isso, utilizou-se uma pipeta e transferiram-se 5. Determinação de volume
5ml da suspensão de hidróxido de alumínio e 5mL A determinação foi realizada individualmen-
de água destilada para um tubo de ensaio. Em se- te pesando-se dois frascos de hidróxido de alumí-
guida, verificou-se o pH que se apresentou inferi- nio de cada laboratório. Para cada frasco, o con-
or a 7,5 (BRASIL, 1977). teúdo dos frascos foi retirado e colocado em um
3. Identificação béquer limpo; os frascos foram lavados com água
e depois com álcool etílico; os recipientes foram
O hidróxido de alumínio foi identificado por
colocados para secar em estufa a 105ºC por uma
meio de dois testes. Foram utilizados dois béqueres
hora e deixados a esfriar em temperatura ambien-
e em cada um colocou-se 1,0g de cátion alumínio
te sobre uma bancada limpa. Em seguida, pesa-
e adicionados 5mL de ácido clorídrico SR. O cátion
ram-se novamente os recipientes, recolocando-se
alumínio teve que ser dissolvido para verificar a
a tampa e outras partes correspondentes a cada re-
formação da solução de sais de alumínio. Em um
cipiente. Depois, verificou-se a diferença entre as
béquer adicionaram-se 5mL de amônia SR, for-
duas pesagens, o que representa o peso do conteúdo.
mando um precipitado branco gelatinoso; com a
Determinou-se o peso médio das unidades testadas e
adição de mais amônia SR, não se observou a dis-
os valores mínimo e máximo foram anotados.
solução do precipitado branco gelatinoso. No ou-
tro béquer, foram adicionados 5ml de hidróxido Para a obtenção dos volumes correspondentes
de sódio, formando o precipitado branco gelatino- efetuou-se o seguinte cálculo:
so; com adição de mais hidróxido de sódio o pre- V ( mL)= m(g)/d (g/ mL)
cipitado foi dissolvido (BRASIL, 1977). Para ser aprovado, o volume médio das deter-
4. Doseamento minações não pode ser inferior ao declarado, e o
Foram pesados exatamente 25g de hidróxido desvio máximo tolerado é de 1,5% quando o vo-
de alumínio em um béquer e foram adicionados lume declarado estiver entre 100 e 250 mL
15mL de ácido clorídrico R, aquecendo-se a mis- (FARMACOPÉIA BRASILEIRA, 1988).
tura em banho-maria até à completa dissolução, 6. Tempo de sedimentação
após o que esperou-se o resfriamento da mistura. A suspensão de hidróxido de alumínio foi co-
A seguir, o seu conteúdo foi transferido para um locada em uma proveta de 50 mL e deixada em
balão volumétrico de 500mL e o volume foi com- repouso por 7 dias. Após esse período, foi avaliada
pletado com água e homogeneizado. Pipetaram- a quantidade de precipitado da suspensão em fun-
se 20mL do conteúdo do balão volumétrico de ção do tempo.
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7 Viscosidade proporcionou melhor viscosidade e um escoamen-
O aparelho utilizado para fazer o teste foi o to favorável. Foi acrescentado o xarope de sacarose
viscosímetro Copo Ford. Depois de montar e ni- com a intenção de colaborar com o aumento da
velar o aparelho, foram colocadas 100ml da sus- viscosidade, sendo esta uma característica impor-
pensão de hidróxido de alumínio dentro do copo, tante para a estabilidade desta forma farmacêuti-
utilizando-se os orifícios (nº 3 e nº 4). Com o auxí- ca, bem como melhorar a palatabilidade tornan-
lio de um cronômetro, verificou-se o tempo de es- do-a mais doce e aceitável.
coamento da formulação. O cronômetro foi Como conservante, o ácido sórbico foi o es-
desativado quando terminou o fio de viscosidade colhido, pois os parabenos têm sabor característico
(MANUAL DE INSTRUÇÕES VISCOSÍMETRO e interagem com CMC, o que poderia provocar
COPO FORD, [19—]). uma desestabilização da formulação.
O sorbitol, por ter características edulcorante,
TÉCNICAS DE PREPARO anti-hidrolítica e umectante, foi acrescentado à for-
mulação para fornecer maior estabilidade. Assim,
O preparo da suspensão seguiu metodologia o sabor, a hidrólise e a perda de água da suspensão
convencional para esta forma farmacêutica Os seriam melhorados.
componentes das suspensões dos laboratórios A
Foram testadas três essências diferentes para
e B e da formulação desenvolvida são citados
melhorar a palatabilidade. A mais aceita foi a de
na Tabela 1.
morango, superando as essências de abacaxi e de
No desenvolvimento da nova formulação, foi hortelã. Com relação à utilização da essência de
utilizado CMC (carboximetilcelulose) em diferen- abacaxi, esta foi excluída pela sensação de acidez
tes concentrações (0,5%; 0,6%; 0,7%; 0,8%), como que poderia passar, provocando piora dos sinto-
agente de viscosidade. mas. Para complementar, junto com a essência de
morango foi utilizado o corante vermelho para
RESULTADOS E DISCUSSÃO mascarar a cor.
A porcentagem de CMC de 0,6% foi a que No sentido de aumentar a segurança e aumen-
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tar a aceitação do produto no mercado, as emba- tempo com bom aspecto, conser vando o
lagens Pet com giro falso foram as escolhidas. sobrenadante turvo. A do laboratório B desfez-se
Em relação aos resultados dos testes obtidos rapidamente e o sobrenadante permaneceu
em laboratório, todos foram satisfatórios confor- límpido pois a velocidade de sedimentação foi mais
me mostra a Tabela 2. rápida, caracteríticas estas de uma suspensão
floculada. A viscosidade interfere no tempo de
O pH apresentou o mesmo valor para todas
sedimentação de uma suspensão. Foi possível ava-
as suspensões que foi de 7, não ultrapassando o
liar que quanto mais viscosa for uma suspensão,
valor estabelecido, ou seja, no máximo 7,5. Os dois
menor será a sua taxa de sedimentação. Nota-se
testes usados para a identificação do princípio ati-
que a formulação que utilizou o maior orifício para
vo geraram resultados positivos. No primeiro, no-
o teste de viscosidade também foi aquela que apre-
tou-se a formação do precipitado branco gelatino-
sentou menor taxa de sedimentação. A determi-
so com a adição de amônia e não houve a dissolu-
nação de volume é um teste que exige um tempo
ção do precipitado com mais adição de amônia. Já
maior. As formulações apresentaram um desvio
o segundo a adição de hidróxido de alumínio for-
dentro do padrão. Todas as formulações apresen-
mou o precipitado branco gelatinoso e ocorreu a
taram conformidade com relação à concentração
dissolução com a adição de mais hidróxido de alu-
de hidróxido de alumínio.
mínio.
Uma suspensão pode ser permanente ou
floculada. Quando permanente, o princípio ativo CONCLUSÃO
permanecerá homogêneo e suspenso na forma far- Os laboratórios A e B foram aprovados pelos
macêutica sem necessidade de agitação prévia. Já testes realizados, assim como a nova formulação.Os
quando floculada, o princípio ativo se deposita no componentes escolhidos para comporem a formu-
fundo da embalagem na forma de flocos e a agita- lação desenvolvida deram as características deseja-
ção antes da utilização é imprescindível para con- das a ela, permitindo que ficasse suspensa por lon-
ferir homogeneização da forma farmacêutica, fa- go período de tempo e tivesse um sabor agradá-
vorecendo uma dosagem correta na administração. vel, assim ela poderá ser colocada no mercado para
A suspensão do laboratório A é permanente, pois o público infantil, visto que o público alvo das sus-
sedimentou-se lentamente e manteve-se por mais pensões analisadas dos laboratórios é adulto.
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REFERÊNCIAS
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Sigma Pharma, 1999.
MANUAL DE INSTRUÇÕES VISCOSÍMETRO
COPO FORD. Diadema: Quimis aparelhos Ci-
entíficos, [19—]. p.1.
PRISTA, L. N. et al. Técnica farmacêutica e far-
mácia galênica. 4. ed. Lisboa: Fundação Caloustre
Gulbenkian, 1979.
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