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LINHA TEMÁTICA CONSCIÊNCIA, AUTOCONHECIMENTO E

EDUCAÇÃO.
O AUTOCONHECIMENTO DO EDUCADOR DA EDUCAÇÃO INFANTIL COMO
IDENTIDADE PEDAGÓGICA
1
Ana Lúcia Oliveira da Cruz
2
Maribel Oliveira Barreto

NEAC – Núcleo de Estudos Avançados sobre Autoconhecimento e Desenvolvimento


Socioemocional – ana.cruz@neuroeducadores.com.br

Pesquisas nas áreas das Neurociências, da Neurologia e da Psicologia do


desenvolvimento comprovam que é na infância que as bases para a construção
neural, sensorial, motora, emocional, cognitiva e moral do ser humano são
estabelecidas. É na primeira infância que as experiências de referências são
consolidadas. Experiências estas que ditarão o percurso destes indivíduos no
mundo interferindo positiva e/ou negativamente no processo educativo, afetando o
seu desenvolvimento socioemocional. Portanto, o profissional da educação
responsável por lidar com a infância necessita de uma maior atenção, formação e
comprometimento diante do seu verdadeiro papel. O presente trabalho tem como
objetivo geral refletir sobre a importância do autoconhecimento do educador da
Educação Infantil na formação da sua Identidade Pedagógica, e como a
consciência desse papel pode influenciar no trabalho pedagógico de maneira
circunstancial para as crianças. E como objetivos específicos: Conhecer os
saberes e os fazeres que contribuem para a formação da identidade do educador
da Educação Infantil; Estudar as competências e saberes que precisa
desenvolver para encarar os desafios e apresentar soluções para os conflitos que
possam aparecer ao longo da sua jornada, considerando que, “embora o
aprendizado jamais tenha fim, as bases do saber futuro são lançados em grande
parte já na infância” (FRIEDRICH; PREISS, 2008). Concluímos que o
autoconhecimento do educador, principalmente desta fase tão essencial para o
desenvolvimento físico, psíquico e moral do ser humano, a Educação Infantil,
possibilita-o transcender os limites do cuidar e do brincar, perpassando pelo
educar integralmente.

PALAVRAS-CHAVE: Autoconhecimento. Educador. Identidade Pedagógica.

1
Neuroeducadora, Pedagoga, Coordenadora do Centro de Neuroeducação da Ananda – Escola e
Centro de Estudos, docente do Instituto de Pesquisas em Neuroeducação de São Paulo,
Coordenadora do Centro de Investigações e Estudos Neofilosóficos de Ciências Avançadas e do
Núcleo de Geniologia. Consultora Pedagógica na elaboração das Orientações Curriculares e
Subsídios Didáticos para a Organização do Trabalho Pedagógico no Ensino Fundamental de Nove
Anos da Secretaria de Educação do Estado da Bahia. Docente do Ensino básico e Superior. Membro
do LABESCRI – Laboratório de Estudos da Criança (RJ) e do NEAC – Núcleo de Estudos Avançados
sobre Autoconhecimento e Desenvolvimento Socioemocional - ISEO.
2
Líder do Núcleo de Estudos Avançados sobre Autoconhecimento e Desenvolvimento
Socioambiental – NEAC. Pós-doutora em Consciência, Transdisciplinaridade e Educação pela
Universidade Católica de Brasília, e em Criatividade e Educação pela Universidade de Brasília/UNB;
Doutora em educação pela Universidade Federal da Bahia.
INTRODUÇÃO

Quem é o educador das escolas da Educação Infantil? Como chegaram até


aqui? De que maneira povoaram o Planeta Educação? Quais os seus saberes e
fazeres que contribuem para a formação da sua identidade profissional? Como a
consciência desse papel pode influenciar no trabalho pedagógico de maneira
circunstancial para as crianças? Estas e outras questões se tornaram recorrentes
nas minhas esparsas reflexões diárias sobre o meu fazer pedagógico.
Nos estudos de Teixeira (2012) é estabelecido que o educador da educação
formal na primeira infância, além dos conhecimentos inerentes à sua formação,
necessita de sensibilidade.
As pesquisas de Nakano (2015) apontam a necessidade de o educador ter
consciência do seu papel neste contexto. Sendo a autora a falta de identidade e
comprometimento com a Educação Infantil por parte dos profissionais que nela
atuam, tem sido um problema sério, que se agrava devido a baixa autoestima e
desvalorização destes profissionais.
Sabendo-se que as bases para o desenvolvimento do ser humano são
lançadas e consolidadas na primeira infância, entre 0 e 6 anos, entende-se a grande
preocupação com a formação do profissional deste segmento da educação formal,
bem como da importância do autoconhecimento do educador na formação da sua
Identidade Pedagógica.
Segundo afirma Mustard (2007), “Os anos iniciais do desenvolvimento
humano estabelecem a arquitetura básica e a função do cérebro”, o que corrobora
com a proposta da presente pesquisa, no que indica que, as experiências de
referências têm efeitos duradouros sobre a aprendizagem e apontam o tipo de
mentalidade desenvolvido por ele.
DESENVOLVIMENTO

Ao nascer a criança tem aproximadamente duzentos e cinquenta bilhões de


sinapses que servem como matéria-prima para as redes neurais futuras. A partir do
uso o cérebro vai sendo moldado, eliminando tudo aquilo que não está sendo
utilizado e fortalecendo as conexões do que está em uso. Portanto, existe um mundo
de possibilidades e infinitas potencialidades a serem desenvolvidas.

A aprendizagem começa na primeira infância, muito antes do início da


educação formal, e continua pela vida afora. A aprendizagem inicial viabiliza
a aprendizagem posterior e sucessos precoces criam sucessos posteriores,
assim como insucessos iniciais resultam em insucessos futuros
(HECKMAN, 2009).

No que se refere ao desenvolvimento humano não existe determinismo. Nem


sempre um insucesso na infância gera, obrigatoriamente, um insucesso na vida
adulta. Embora, pesquisas apontem a existência de uma maior probabilidade de
haver insucesso ou dificuldades no processo da aprendizagem daqueles indivíduos
que tiveram um desenvolvimento inicial “inadequado”, é preciso lembrar que o
cérebro humano é plástico e maleável, e isto assegura a possibilidade de mudanças
no percurso. O fator que desperta maior atenção dos estudiosos, é que quanto mais
cuidadosa e favorável for a educação da criança e a qualidade dos estímulos
neurais, sensoriais, motores, emocionais, cognitivos e morais na tenra idade,
maiores serão as possibilidades de sucesso no futuro.
Já é por nós sabido que a qualidade das relações da criança com os seus
pares, na família e na escola, os primeiros grupos sociais dos quais ela faz parte, é
de grande importância no seu desenvolvimento. Estudos demonstram que crianças
que têm relacionamentos com vínculos afetivos mais seguros e confiáveis sofrem
uma ativação pequena de hormônios que causam estresse, enquanto que crianças
que têm relacionamentos mais inseguros e com um mínimo ou nenhum laço afetivo,
ao contrário, acionam o sistema de resposta ao estresse como o cortisol, a
adrenalina e a noradrenalina, que em pessoas saudáveis retorna rapidamente ao
estado normal depois de um momento de tensão.
Assim posto, trazemos a reflexão sobre a importância do autoconhecimento
do educador da Educação Infantil na formação da sua Identidade Pedagógica, e
como a consciência desse papel pode influenciar no trabalho pedagógico de
maneira circunstancial para as crianças.

Precisamos pensar criativamente o cotidiano e desenvolver as habilidades


para enfrentar as incertezas na educação, antes que ocorra o
empobrecimento da espécie humana. A escola é o lugar ideal para crescer
e aprender a conviver e, com isso, faz-se necessária uma Pedagogia mais
afetiva e menos assistencialista [...] (RELVAS, 2009, p. 113).

Além dos saberes inerentes à profissão, a atuação do educador da Educação


Infantil deve ser norteada pelo reconhecimento das suas potencialidades e dos seus
limitadores com o intuito de despertar, desenvolver e expandir todas as suas
faculdades e de saber até onde pode e deve ir. No entanto, sendo sempre
impulsionado a ultrapassar tais limitadores. O autodesconhecimento embaça a visão
de si mesmo, dificulta a percepção de perspectivas de mudanças.

O ser humano nasce com um aparato biológico que o possibilita crescer e


se desenvolver ao longo da vida. Além dos fatores genéticos, os fatores
ambientais são decisivos nesse processo de desenvolvimento (CRUZ et al
2013, p. 60).

Usando o seu aparato biológico e os fatores adquiridos do ambiente, o


educador autoconhece e aprende a reconhecer seus sentimentos e a lidar
adequadamente com as suas emoções, fato que corrobora com a sua práxis
pedagógica. O educador que conhece a si mesmo, seus limites e suas forças, que
aprende sobre seus sentimentos e suas emoções torna-se um fomentador da
transformação social.

A falta de identidade e comprometimento com a Educação Infantil por parte


dos profissionais que nela atuam, tem sido objeto de diversos estudos. As
teorias, as pesquisas, os avanços políticos econômicos e sociais apontam
para a importância do papel do professor da Educação Infantil (NAKANO,
2015).

A formação da identidade pedagógica pode e deve ser construída com a


prática do Autoconhecimento, a partir do estudo da Consciência. Prática esta que
será favorável ao educador possibilitando, também, o desenvolvimento das
potencialidades inerentes a todo ser e que estão latentes, aguardando estímulos
adequados para despertar, e assim, tomar Consciência do seu papel de cuidar,
brincar e educar a criança na escola.
CONCLUSÃO

A Educação Infantil é a fase de inserção da criança na educação formal. É a


fase do despertar da criança para o mundo letrado que a espera e, a fase decisiva
para a sua formação não só física, como psíquica e moral.
Na tentativa de responder as inquietações trazidas no início da pesquisa
sobre “Quem é o(a) educador(a) das escolas da Educação Infantil? Como chegaram
até aqui? De que maneira povoaram o Planeta Educação? Quais os seus saberes e
fazeres que contribuem para a formação da sua identidade profissional? Como a
consciência desse papel pode influenciar no trabalho pedagógico de maneira
circunstancial para as crianças?”, concluímos que, muito mais importante do que
trazer tais respostas, é gerar reflexões constantes ao educador, instigando-o a
repensar o seu fazer pedagógico.
Diferentemente do que se apresenta na realidade de muitas escolas
brasileiras, o educador da Educação Infantil precisa conhecer a si mesmo utilizando
o estudo da Consciência como recurso para tal. Autoconhecendo ele compreenderá
o seu papel de educador, no sentido mais genuíno, aquele que elabora estratégias
de trabalho para o despertamento, desenvolvimento, expansão, socialização e
moralização do potencial criativo da criança.
REFERÊNCIAS

BARRETO, Maribel Oliveira. O papel da consciência em face dos desafios atuais


da educação. Salvador: Sathyarte, 2005.
COSENZA R. M, GUERRA L. B. Neurociência e Educação: Como o cérebro
aprende. Porto Alegre: Artmed, 2011.
CRUZ, Ana Lúcia Oliveira da et al. Educação não formal: a família na formação do
caráter. In: LEIBIG, Susan. (Org.). Caráter se aprende na família e na escola. São
Paulo: All Print Editora, 2013. p. 55-75.
HANSON R, MENDIUS R. O cérebro de Buda: Neurociência prática para a
felicidade. São Paulo: Alaúde Editorial, 2012.
HECKMAN, James J. Giving Kids a Fair Chance. Boston: The MIT Press, 2009.

LEIBIG, Susan. (Org.). Mentes que aprendem: um ensaio sobre a Prontidão para a
Aprendizagem. São Paulo: All Print Editora, 2011.

MAIA H. (Org.). Neurociências e desenvolvimento cognitivo. Rio de Janeiro:


Wak, 2011.

MUSTARD JF. McCain MN. Shanker S. Toronto. Early years study: Putting
science into action. Council for Early Child Development: 2007.

RELVAS, Marta Pires. (Org.). Que cérebro é esse que chegou à escola: Bases
Neurocientíficas da aprendizagem. Rio de Janeiro: Wak, 2012.

_______, Fundamentos Biológicos da Educação: Despertando Inteligências e


Afetividade no processo de aprendizagem. 4. ed. Rio de Janeiro: Wak, 2009.

TEIXEIRA, Ana Paula. Ensinar e aprender como processo de Autoconhecimento


na Educação Infantil. Salvador: EDUNEB, 2012.

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