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Atrocidades comunistas e a síndrome 

do esquecimento 
Não deu no jornal 

MÍDIA SEM MÁSCARA, 8 DE AGOSTO DE 2002 

Paulo Diniz Zamboni 

Três  décadas  após  o  final  da  Guerra  do  Vietnã,  muito  material  e 
informações  sobre  a  atuação  dos  Estados Unidos nesse conflito ainda são 
apresentados  ao  público  mundial,  especialmente  sob  o  ponto  de  vista  que 
norteou a mídia durante os anos de conflito, ou seja, crítico e militante. 

Após  o  amplo  destaque  dado  pela  imprensa  ao  conflito  no  sudeste 
asiático,  seria  de  se  esperar  que  outras  guerras  tivessem  o mesmo tipo de 
cobertura.  Entretanto,  isso  não ocorreu, e misteriosamente outros conflitos 
"sumiram" da mídia mundial, inclusive a brasileira. 

Além  disso,  por  que  vários  aspectos  da  guerra  do  Vietnã,  como  por 
exemplo,  o  amplo  envolvimento  da  URSS e da China, a violência comunista 
e  o  triste  destino  do  Vietnã  do  Sul  são,  ainda  hoje,  pouco  conhecidos, e os 
aspectos negativos no papel dos EUA são tão ressaltados? 

Para  demonstrar apenas dois exemplos da "falta de memória" da imprensa, 
eu  citaria  a  invasão  soviética  do  Afeganistão,  ocorrida  entre  1979-89,  e  a 
guerra em Angola, a partir de 1975. 

Ambos  os  conflitos  foram  provocados  diretamente  pelo  imperialismo 


soviético,  que  após  ter  atravessado  os  anos  60  em  estado  latente,  entrou 
novamente em movimento a partir de 1975. 

Ao  mesmo  tempo  em  que  os  comunistas  tomavam  o  poder  no  Vietnã,  no 
Camboja  e  no  Laos,  os  soviéticos  fincavam  um  pé  na  África,  patrocinando 
o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola). 

Na  Ásia  central,  os  soviéticos  aumentaram  a  sua  presença  no Afeganistão 


a  partir  de  1978,  com  a  finalidade  de  apoiar  o  desacreditado  governo 
comunista de Cabul, até que finalmente invadiram o país em 1979. 
Tanto  a  situação  em  Angola  como  no  Afeganistão  era  muito parecida com 
o  "quadro  negro"  que  a  imprensa  havia  pintado,  durante  anos,  sobre  o 
conflito  no  Vietnã:  uma  potência  mais  forte  exercendo  pressão  sobre 
povos fracos, para que se submetessem aos seus desígnios. 

Contudo,  a  mesma  atenção  dispensada  ao  Vietnã  jamais  foi  dada  ao 
Afeganistão  ou  Angola,  de  tal  forma  que  os  acontecimentos  nas  savanas 
angolanas  ou  nas  montanhas  afegãs  nunca  foram  devidamente 
conhecidos.  Dessa  maneira,  a  maciça  presença  comunista  na  África,  com 
o  uso  de  dezenas  de  milhares  de  soldados  cubanos  nos  projetos 
imperialistas  da  antiga  URSS,  por  exemplo,  caíram  completamente  no 
esquecimento. 

Tal  abordagem  serve  bem  aos  propósitos  dos  que  querem  manter 
imaculada  a  imagem  do  ditador  Fidel  Castro,  apresentando-o  como  um 
estadista,  mas  que  na  verdade,  durante  as  décadas  de  1970  e  1980, 
desempenhou  aquele  que  foi  seu  papel  fundamental  desde  sua  chegada 
ao poder em Havana: propagador do comunismo e vassalo de Moscou. 

Aparentemente  conflagrações  distantes,  são  o  vivo  exemplo  de  como  a 


mídia  dedica,  há  muito  tempo,  dois  pesos  e  duas  medidas  para  abordar 
assuntos  importantes,  e  como  nessa  "balança"  o  peso  principal  é  o  da 
ideologia. 

Para  tentar  recuperar  um  pouco  desse  passado  deturpado  ou  esquecido, 
pretendo  abordar,  ainda  que  de  forma  simples,  alguns  aspectos  dos 
conflitos  vietnamita,  angolano  e  afegão,  demonstrando  inequivocamente, 
como  os  notórios  padrões  esquerdistas  que  norteiam  o  conhecimento 
histórico  e  as  informações  jornalísticas,  servem  para  legitimar  ditaduras 
comunistas e seus métodos violentos. 

Caso 1 - A Guerra do Vietnã 

Devido  ao  trabalho  da  mídia  esquerdista,  até  hoje,  para  o  leigo,  o 
envolvimento  norte-americano  no  Vietnã  foi  uma  mera  "agressão"  de  um 
país muitíssimo mais forte contra um "povo pacífico e nacionalista". 

Graças  à  imprensa,  a  legitimidade  que  porventura  os  norte-americanos 


tivessem  para  apoiar  um  governo  amigo,  frente  à  agressão  de  terroristas 
patrocinados pelo exterior, tornou-se nula. 
Assim,  enquanto  a  presença  norte-americana  era  criticada,  a  participação 
soviética  e  chinesa,  além  dos  seus títeres cubanos e norte-coreanos nesse 
conflito, era e ainda é desconhecida da maior parte das pessoas. 

Essa  participação  se  materializou  na  forma  de  milhares  de  assessores 
militares,  técnicos  e  forças  combatentes, incluindo pilotos e operadores de 
radar. 

Ou  alguém  realmente  acredita que os ataques dos caças norte-vietnamitas 


contra  os  B-52  norte-americanos  eram  feitos  por  pilotos  do  Vietnã  do 
Norte? 

Ou  então,  que  eram  norte-vietnamitas,  e  não  chineses  e  soviéticos,  que 


operavam  o  sofisticado  sistema  de  defesa  antiaéreo  utilizado  contra  os 
aviões  dos  EUA,  sistema  esse  considerado  em  meados  de  1969  o  mais 
poderoso  do  mundo,  tal  a  quantidade  de  mísseis  terra-ar,  canhões 
antiaéreos e sistemas de radar que possuía? 

A  guerra  rapidamente  tornou-se  uma  excelente  oportunidade  da  URSS  e 


China  darem  uma  "lição"  nos  EUA.  Dessa  forma,  como  já  havia  acontecido 
na  guerra  da  Coréia  (1950-53)  os  chineses  e  russos  forneceram  todo  o 
suporte  militar  aos  comunistas  locais,  cuidando  da  artilharia  antiaérea,  da 
pilotagem  de  caças,  do  treinamento  e  supervisão  de  tropas,  e  da 
assessoria em serviços de "segurança". 

Para  se  ter  uma  idéia  da  intensidade  do  auxílio  comunista  ao  governo 
norte-vietnamita,  durante  a  década  de  1960,  320  mil  militares  chineses 
foram enviados ao Vietnã do Norte, dos quais 4 mil morreram em combate. 
Além  disso,  Pequim  gastou  mais  de  US$  20  bilhões  (em  valores  de  1989) 
para  apoiar  o  exército  norte-vietnamita  e  a  guerrilha  do  Vietcongue  ("A 
História  da  China"  publicado  pela  agência  China  News  Service,  1989). 
Quanto  ao  montante  do  auxílio  de  Moscou,  foi  de  pelo  menos  o  dobro  do 
chinês. 

Os  outros  "assessores"  comunistas,  cubanos,  norte-coreanos  e,  ao  que 


consta,  do  Pacto  de  Varsóvia,  atuavam  no  manejo  de  armamentos  e  no 
setor de "inteligência". 

A  mídia  cobrou  muito  dos  norte-americanos  o  tratamento  dado  aos 


prisioneiros  comunistas.  Mas,  e  quanto  aos  prisioneiros  norte-americanos 
capturados  pelos  norte-vietnamitas  e  vietcongues?  Oficialmente,  70 
militares  dos  EUA  morreram  em  prisões  comunistas,  mas  o  total  pode  ter 
chegado  a  300  militares  norte-americanos  mortos  nas  prisões  do  Vietnã 
do  Norte,  em  conseqüência  de  torturas  e  ferimentos,  e  dos  600  que  foram 
libertados,  muitos  ficaram  aleijados.  (Prisioneiros  no  Vietnã,  Ed. RGE, 1985, 
p.736) 

Azares  da  guerra.  Pode  ser.  Mas  a  mesma  mídia  que  afirmava  isso, 
criticava  os  norte-americanos  sobre  supostas  atrocidades  contra 
prisioneiros  de  guerra  vietcongues,  os  quais,  ao  contrário  dos  soldados 
regulares, não eram protegidos pela Convenção de Genebra. 

A  participação  de  agentes  da  polícia  secreta  cubana  na  tortura  e 


assassinato  de  prisioneiros  de  guerra  norte-americanos  capturados  no 
Laos  e  Vietnã,  durante  interrogatórios,  é  até  hoje  denunciada  por 
ex-prisioneiros,  que  inclusive  identificaram  vários  agentes  cubanos 
envolvidos.  (BENGE,  Michael  D.  Cuban War Crimes Against American POW's 
During the Vietnam War. 1999). 

A  luta  no  sudeste  asiático  era  uma  autêntica "guerra por procuração", onde 


Moscou  e  Pequim  travavam  um  conflito  com  os  norte-americanos  de 
forma  indireta,  utilizando-se  da  "mão-de-obra"  dos  vietcongues  e 
norte-vietnamitas.  Mas  para  a  mídia,  quem  lutava  eram  apenas  os 
vietcongques,  corajosos  e  habilidosos,  que  faziam  frente  aos  ataques  de 
uma  superpotência.  Até  mesmo  a  participação  dos  norte-vietnamitas  no 
conflito  não  era  abordada,  pois  demonstraria  o  grau  de  envolvimento  do 
Vietnã do Norte na campanha terrorista dos Vietcongues, no sul. 

Por  motivos  políticos,  Washington  resolveu  restringir  os  ataques  contra  o 


norte,  para  forçar  negociações.  Foi  um  erro  terrível,  que  custou  muito  caro 
aos  norte-americanos  e  ao  Vietnã  do  Sul,  sobretudo  pelo fato do Vietnã do 
Norte  ser  uma  ditadura,  motivo  pelo  qual  os  ataques  dos  EUA  não 
provocaram  desgaste  político  ao  governo  comunista,  pois  não  havia  mídia 
contrária  ao  regime  e  nem  opinião  pública  para  quem  Hanói  devesse 
prestar contas. 

O  resultado  da  política  norte-americana  de  limitar  o  alcance  da  guerra  é 


conhecido:  baixas  enormes  entre  pilotos,  com  a  perda  de  centenas  de 
aviões  abatidos  entre  1965  e  1968,  destruição  de  alvos  sem  importância; 
desgaste interno e perda da iniciativa no sul. 

A  luta  terrestre  era  em  geral  favorável  aos  norte-americanos,  e  a  famosa 


"Ofensiva  do  Tet",  em  1968,  falsamente  apontada  como  uma  vitória  militar 
dos  comunistas,  revelou-se  o  "canto  de  cisne"  dos  vietcongues,  tamanha a 
mortalidade que produziu entre suas fileiras. 

Surge aí outro aspecto da abordagem da mídia: as baixas civis na guerra. 

Se  por  um  lado,  os  norte-americanos  eram acusados de assassinar civis, e 


sofressem  denúncias  em  "tribunais  internacionais"  sobre  crimes  de  guerra 
(na  verdade  circos  montados  por  comunistas  e  cripto-comunistas),  seus 
"crimes"  não  chegam nem perto do que os vietcongues cometeram em sua 
guerra de guerrilhas. 

Uma  estimativa  conservadora  calcula  que  entre  1958  e  1967,  os 


guerrilheiros  comunistas  tenham  assassinado  pelo  menos  37.000  civis 
católicos em seus ataques no sul. 

Os  métodos  de  ação  dos  terroristas  eram  os  mais  brutais  possíveis: 
execução  pública  de  lideranças  políticas,  religiosas  ou  militares  nas 
aldeias.  Muitas  vezes,  o  filho  de  uma  autoridade  era  seqüestrado,  e  após 
ser  assassinado,  sua  cabeça  era  colocada  na  entrada  de  uma  aldeia,  para 
demonstrar o poder dos guerrilheiros. 

O  programa  de  "corações e mentes" que os norte-americanos utilizaram no 


país  para  impedir  a  penetração  comunista,  baseado  em  um  programa 
similar  utilizado  pelos  ingleses  na  Malásia,  nos  anos  50,  incluía  melhorias 
de  saúde.  Entre  elas,  a  vacinação  de  crianças.  Para  os  vietcongues,  não 
havia problemas: se as crianças eram vacinadas, cortava-se o braço onde a 
vacina havia sido dada. 

Mas  o  maior  e  mais  trágico  exemplo  das  atrocidades  comunistas  foi  o 


massacre  na  cidade  imperial  de  Hué.  Importante  centro  administrativo,  a 
cidade  foi  rapidamente  capturada  pelos  comunistas  no  início  da  ofensiva 
Tet.  Nos  dias  em  que  permaneceu  sob  controle  vietcongue,  a  cidade  foi 
alvo  de  uma  verdadeira orgia de violência. Aplicando os princípios de terror 
revolucionário,  no  melhor  estilo  bochevique,  os  vietcongues  assassinaram 
todos  os  membros  da  elite  local:  professores,  médicos,  profissionais 
liberais, etc. 

Também  foram  assassinados  trabalhadores  civis  e  missionários 


norte-americanos,  além  de  médicos  alemães  que  trabalhavam  na  cidade, 
prestando auxilio aos civis sul-vietnamitas. 

Semanas  após  a  retomada  da  cidade,  covas  coletivas  ainda  eram 


encontradas  por  toda  parte,  contendo  os  corpos  de  milhares  de  vítimas, 
torturadas e mutiladas antes de serem assassinadas. 

No  total,  a  imensa  chacina  em  Hué  causou  cerca  de  5  mil  mortos, 
sepultados  em  2.800  valas.  Além  dos  civis  em  Hué,  os  comunistas 
assassinaram  outras  7  mil  pessoas  nas  áreas  ocupadas  durante  a 
ofensiva.  (Combat  Area  Casualty  File  of  11/93  and  The  Adjutant  General's 
Center file of 1981). 

Enfim,  um  massacre  horrendo,  mas  que  foi  pouco  divulgado  na  época,  e 
hoje em dia é "esquecido" toda vez que o conflito é lembrado. 

Em  uma  semana  de  combates,  as  baixas  comunistas  foram  da  ordem  de 
32.204  mortos  e  cerca  de  5.803  prisioneiros  capturados  pelos 
norte-americanos  e  sul-vietnamitas,  um  verdadeiro  desastre  militar,  que 
também  teria  sido  político,  se  a  mídia  tivesse  divulgado  o  que  os 
comunistas  fizeram  nas  aéreas  por  eles  controladas.  Contudo,  mais  uma 
vez,  os  comunistas  foram  apresentados  como  "heróis",  que  haviam 
"surpreendido" os norte-americanos. 

Na  mídia,  o  ataque  ao  saguão  da  embaixada  dos  EUA  foi  anunciado como 
a  "ocupação  da  embaixada  norte-americana",  inclusive com a ameaça de o 
embaixador  norte-americano  ser  tomado  refém,  o  que  nunca  esteve 
próximo de acontecer. 

Assim,  uma  ofensiva  que  tinha  tudo  para  representar  um  golpe  mortal nos 
guerrilheiros  comunistas  e  seus  senhores  do  norte,  de  forma  absurda 
tornou-se  uma  "vitória  dos  nacionalistas  sul-vietnamitas  sobre  o 
imperialismo norte-americano." 

De  forma  geral,  toda  a  abordagem  da  mídia  era  contrária  à  participação 
dos  Estados  Unidos,  aumentando  a  importância  das  vitórias  comunistas, 
minimizando  ou  escondendo  as  atrocidades  dos  terroristas  vietcongues,  e 
inversamente,  transformando  a  atuação  do  exército  norte-americano  num 
festival de inutilidade e brutalidade. 

As  conseqüências  da  guerra  também  só  abordam  o  legado  dos 


norte-americanos:  "Agente  laranja",  veteranos  de  guerra  psicóticos, 
mutilados, "marchas pela paz", 48 mil mortos em combate, etc. 

E para os vietnamitas, o que restou? 

Para  o  Vietnã  do  Norte,  restou  contabilizar  o  imenso  morticínio  entre  suas 
tropas  (entre  1,5  e  2  milhões  de  mortos,  cerca  de  30  ou  40  vezes  mais 
mortos  que  os  norte-americanos),  mas  como  acontece  com  todas  as 
ditaduras  comunistas,  pouco  importam  as  baixas,  o  que  conta  é  a  vitória 
final,  e  isso,  em  grande  parte  graças  ao  trabalho  da  mídia  esquerdista 
internacional, eles obtiveram. 

Já  para  os  sul-vietnamitas,  restou  a  morte  e  os  campos  de  trabalhos 
forçados. 

Obviamente,  tudo  isso  foi  devidamente  suprimido  da  mídia,  quando  muito 
sendo  abordada  a  questão  dos  refugiados  vietnamitas  que  deixavam  o 
país  a  bordo  de  precárias  embarcações,  muitas  vezes  para  morrerem  em 
naufrágios ou assassinados por piratas. 

Para  os  Estados  Unidos,  a  morte  de  seus  soldados  no  final  das  contas  foi 
totalmente  em  vão,  pois  o  aliado  pelo  qual  haviam  lutado  durante  uma 
década  foi  abandonado  à  própria  sorte,  para  fazer  frente  ao  altamente 
treinado  e  equipado  exército  norte-vietnamita,  que  inclusive  venceria  uma 
guerra fronteiriça, anos mais tarde, com a própria China. 

Com  o  final  da  guerra,  em  1975,  o  papel  da  imprensa  na  região  tornou-se 
desprezível,  não  havendo  mais  a  cobertura  espalhafatosa  da  época  do 
envolvimento  norte-americano,  como se todos os problemas tivessem sido 
revolvidos. 

Assim,  quando a ditadura comunista do Vietnã do Norte passou a controlar 
o sul, e os expurgos, prisões e assassinatos começaram a acontecer, como 
de  costume,  a  mídia  pró-comunista  estava  "preocupada  demais"  com 
outras questões, para que pudesse acompanhar o que acontecia no Vietnã. 

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