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do esquecimento
Não deu no jornal
Três décadas após o final da Guerra do Vietnã, muito material e
informações sobre a atuação dos Estados Unidos nesse conflito ainda são
apresentados ao público mundial, especialmente sob o ponto de vista que
norteou a mídia durante os anos de conflito, ou seja, crítico e militante.
Após o amplo destaque dado pela imprensa ao conflito no sudeste
asiático, seria de se esperar que outras guerras tivessem o mesmo tipo de
cobertura. Entretanto, isso não ocorreu, e misteriosamente outros conflitos
"sumiram" da mídia mundial, inclusive a brasileira.
Além disso, por que vários aspectos da guerra do Vietnã, como por
exemplo, o amplo envolvimento da URSS e da China, a violência comunista
e o triste destino do Vietnã do Sul são, ainda hoje, pouco conhecidos, e os
aspectos negativos no papel dos EUA são tão ressaltados?
Para demonstrar apenas dois exemplos da "falta de memória" da imprensa,
eu citaria a invasão soviética do Afeganistão, ocorrida entre 1979-89, e a
guerra em Angola, a partir de 1975.
Ao mesmo tempo em que os comunistas tomavam o poder no Vietnã, no
Camboja e no Laos, os soviéticos fincavam um pé na África, patrocinando
o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola).
Contudo, a mesma atenção dispensada ao Vietnã jamais foi dada ao
Afeganistão ou Angola, de tal forma que os acontecimentos nas savanas
angolanas ou nas montanhas afegãs nunca foram devidamente
conhecidos. Dessa maneira, a maciça presença comunista na África, com
o uso de dezenas de milhares de soldados cubanos nos projetos
imperialistas da antiga URSS, por exemplo, caíram completamente no
esquecimento.
Tal abordagem serve bem aos propósitos dos que querem manter
imaculada a imagem do ditador Fidel Castro, apresentando-o como um
estadista, mas que na verdade, durante as décadas de 1970 e 1980,
desempenhou aquele que foi seu papel fundamental desde sua chegada
ao poder em Havana: propagador do comunismo e vassalo de Moscou.
Para tentar recuperar um pouco desse passado deturpado ou esquecido,
pretendo abordar, ainda que de forma simples, alguns aspectos dos
conflitos vietnamita, angolano e afegão, demonstrando inequivocamente,
como os notórios padrões esquerdistas que norteiam o conhecimento
histórico e as informações jornalísticas, servem para legitimar ditaduras
comunistas e seus métodos violentos.
Devido ao trabalho da mídia esquerdista, até hoje, para o leigo, o
envolvimento norte-americano no Vietnã foi uma mera "agressão" de um
país muitíssimo mais forte contra um "povo pacífico e nacionalista".
Essa participação se materializou na forma de milhares de assessores
militares, técnicos e forças combatentes, incluindo pilotos e operadores de
radar.
Para se ter uma idéia da intensidade do auxílio comunista ao governo
norte-vietnamita, durante a década de 1960, 320 mil militares chineses
foram enviados ao Vietnã do Norte, dos quais 4 mil morreram em combate.
Além disso, Pequim gastou mais de US$ 20 bilhões (em valores de 1989)
para apoiar o exército norte-vietnamita e a guerrilha do Vietcongue ("A
História da China" publicado pela agência China News Service, 1989).
Quanto ao montante do auxílio de Moscou, foi de pelo menos o dobro do
chinês.
Azares da guerra. Pode ser. Mas a mesma mídia que afirmava isso,
criticava os norte-americanos sobre supostas atrocidades contra
prisioneiros de guerra vietcongues, os quais, ao contrário dos soldados
regulares, não eram protegidos pela Convenção de Genebra.
Os métodos de ação dos terroristas eram os mais brutais possíveis:
execução pública de lideranças políticas, religiosas ou militares nas
aldeias. Muitas vezes, o filho de uma autoridade era seqüestrado, e após
ser assassinado, sua cabeça era colocada na entrada de uma aldeia, para
demonstrar o poder dos guerrilheiros.
No total, a imensa chacina em Hué causou cerca de 5 mil mortos,
sepultados em 2.800 valas. Além dos civis em Hué, os comunistas
assassinaram outras 7 mil pessoas nas áreas ocupadas durante a
ofensiva. (Combat Area Casualty File of 11/93 and The Adjutant General's
Center file of 1981).
Enfim, um massacre horrendo, mas que foi pouco divulgado na época, e
hoje em dia é "esquecido" toda vez que o conflito é lembrado.
Em uma semana de combates, as baixas comunistas foram da ordem de
32.204 mortos e cerca de 5.803 prisioneiros capturados pelos
norte-americanos e sul-vietnamitas, um verdadeiro desastre militar, que
também teria sido político, se a mídia tivesse divulgado o que os
comunistas fizeram nas aéreas por eles controladas. Contudo, mais uma
vez, os comunistas foram apresentados como "heróis", que haviam
"surpreendido" os norte-americanos.
Na mídia, o ataque ao saguão da embaixada dos EUA foi anunciado como
a "ocupação da embaixada norte-americana", inclusive com a ameaça de o
embaixador norte-americano ser tomado refém, o que nunca esteve
próximo de acontecer.
Assim, uma ofensiva que tinha tudo para representar um golpe mortal nos
guerrilheiros comunistas e seus senhores do norte, de forma absurda
tornou-se uma "vitória dos nacionalistas sul-vietnamitas sobre o
imperialismo norte-americano."
De forma geral, toda a abordagem da mídia era contrária à participação
dos Estados Unidos, aumentando a importância das vitórias comunistas,
minimizando ou escondendo as atrocidades dos terroristas vietcongues, e
inversamente, transformando a atuação do exército norte-americano num
festival de inutilidade e brutalidade.
Para o Vietnã do Norte, restou contabilizar o imenso morticínio entre suas
tropas (entre 1,5 e 2 milhões de mortos, cerca de 30 ou 40 vezes mais
mortos que os norte-americanos), mas como acontece com todas as
ditaduras comunistas, pouco importam as baixas, o que conta é a vitória
final, e isso, em grande parte graças ao trabalho da mídia esquerdista
internacional, eles obtiveram.
Já para os sul-vietnamitas, restou a morte e os campos de trabalhos
forçados.
Obviamente, tudo isso foi devidamente suprimido da mídia, quando muito
sendo abordada a questão dos refugiados vietnamitas que deixavam o
país a bordo de precárias embarcações, muitas vezes para morrerem em
naufrágios ou assassinados por piratas.
Para os Estados Unidos, a morte de seus soldados no final das contas foi
totalmente em vão, pois o aliado pelo qual haviam lutado durante uma
década foi abandonado à própria sorte, para fazer frente ao altamente
treinado e equipado exército norte-vietnamita, que inclusive venceria uma
guerra fronteiriça, anos mais tarde, com a própria China.
Com o final da guerra, em 1975, o papel da imprensa na região tornou-se
desprezível, não havendo mais a cobertura espalhafatosa da época do
envolvimento norte-americano, como se todos os problemas tivessem sido
revolvidos.
Assim, quando a ditadura comunista do Vietnã do Norte passou a controlar
o sul, e os expurgos, prisões e assassinatos começaram a acontecer, como
de costume, a mídia pró-comunista estava "preocupada demais" com
outras questões, para que pudesse acompanhar o que acontecia no Vietnã.