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Eleições
Máquina do tempo dos candidatos nos leva de volta aos anos 50
Por exemplo, será que os eleitores brasileiros já possuem candidatos para
todos os cargos que serão preenchidos no próximo pleito? Ao que parece,
somente a disputa presidencial é que está sendo objeto de atenção da
mídia e dos eleitores, embora, da parte destes últimos, seja possível
afirmar que é uma atenção carregada de dúvidas, como atestam as
últimas pesquisas de intenção de voto, onde cerca de 30% dos eleitores
não sabem dizer em quem votarão para presidente.
Quando eu ouço esses discursos, lembro-me de um filme onde o herói
embarcava num carro (na verdade, uma máquina do tempo), e viajava até a
década de 1950. Lá, em meio a uma série de peripécias, lutava o tempo
todo para conseguir voltar para o futuro.
Um candidato afirmou que o país deve "buscar caminhos alternativos no
mercado internacional, aproximando-se da China e Índia". Somente
esqueceu-se de dizer que, quando necessitamos de crédito ou mercado
consumidor para nossos produtos, nossos parceiros fundamentais são os
EUA e os países europeus. Até porque, os referidos países asiáticos já
estão envolvidos em negócios com os EUA e a Europa, e a participação
brasileira nesses novos mercados, embora desejável, não seria suficiente
para substituir os tradicionais parceiros comerciais. Esse mesmo
candidato vive afirmando que o Brasil precisa priorizar o setor produtivo,
em detrimento do especulativo. Muito bonito. Contudo, quem vai dizer
onde os investidores devem ou não aplicar seu próprio dinheiro? Pela
forma autoritária como o candidato fala sobre o assunto, não há dúvida
que vai ser, para variar, "a mãe dos ricos", o Estado, quem vai definir isso.
Claro que adotar políticas como diminuição de impostos (para estimular o
setor produtivo), e corte nos gastos estatais, fazendo o que qualquer chefe
de família ou dona-de-casa responsável faz quando o orçamento está
apertado, é algo totalmente fora de cogitação para os senhores
candidatos.
Um outro candidato gaba-se no horário eleitoral de que, quando era
ministro da saúde, criou 300 mil empregos. Será que é por isso que várias
epidemias de doenças dadas como controladas aconteceram? Porque o sr.
ex-ministro, agora candidato, ao invés de cuidar da saúde, estava "gerando
empregos"?
Mas pelo que os candidatos afirmam, quando eles estiverem sentados na
cadeira presidencial, as coisas serão maravilhosas. Todos prometem
empregos, saúde, educação, melhorias sociais e econômicas. Assim,
parece que estamos de volta ao tempo em que fazer política era
simplesmente prometer o paraíso na face da Terra. Que eu saiba, apenas o
condidato do ex-"partidão" explicou como pretende fazer isso
tudo:"desonerando a cadeia produtiva e combatendo a especulação
financeira". Entretanto, quando indagado seriamente sobre como vai
conseguir isso, ele fica irritado ou não responde. Nos tempos áureos do
populismo, se a realidade apontava, como agora, para a impossibilidade de
se cumprir sequer uma pequena fração das promessas eleitorais, não
havia problema, pois a realidade era um mero detalhe.
Acima de tudo, o que chama mais a atenção em todos os candidatos é a
ausência de algum tipo de proposta que garanta a produtividade, a geração
de riquezas e o estímulo ao trabalho e a criação de empregos, sem a
necessidade de subsídios estatais, reservas de mercado, impostos
absurdamente altos, em suma, que valorize a capacidade e a liberdade das
pessoas individualmente. Os candidatos também nada falam sobre
racionalizar o setor público, cortando não apenas investimentos, mas,
sobretudo diminuindo o tamanho da presença estatal, privatizando-se
empresas falidas ou incompetentes. Aliás, pelo discurso de um dos
candidatos em recente visita à Brasília, os gastos do Estado com
funcionalismo deveriam ser aumentados.
E é por essas e outras que o Brasil caminha de volta para os anos 50,
quando o Estado era tido e havido como o "bem-feitor nacional" (e
principalmente de grupos econômicos privilegiados e do funcionalismo), a
verdadeira panacéia que solucionaria todos os problemas brasileiros. E
parece que muitos empresários estão realmente contando com isso, pois
as possibilidades de obtenção de verbas estatais e subsídios são
tentadoras demais para serem deixadas de lado.
Não é por outra razão, por exemplo, que o candidato da extrema-esquerda
brasileira, pessoa notoriamente despreparada, que para fazer uma simples
visita de uma hora ao presidente da República, precisou levar três
assessores e um calhamaço de anotações, está navegando em "águas
calmas" no processo sucessório.
Apoiando-se numa máquina de propaganda que não se via há muito
tempo, e na indisfarçável simpatia da mídia, que de todas as formas
possíveis e imagináveis oculta ou minimiza informações que possam
prejudicá-lo, como as ligações de seu partido com extremistas totalitários,
ou o seu evidente despreparo para o cargo que postula, o referido cidadão
assumiu ares de "estadista", "democrata" e "moderado", ludibriando os
incautos e indiferentes. Mas o "golpe de mestre" foi a aproximação com
velhas raposas da política nacional, senhores do populismo e da
demagogia, que lhe facilitaram o acesso ao patrocínio de muitos
empresários, que a vida inteira somente tiveram um objetivo: mamar nas
tetas do Estado, obtendo vantagens e benefícios de todos os tipos, além, é
claro, de barrar eventuais concorrentes. Afinal, o Brasil deve ser um dos
países do mundo onde menos se admite concorrência. Quanto ao povo
brasileiro, que precisa de serviços eficientes e a um bom custo, que se
dane, já que as prioridades dos candidatos são: 1 - O Estado; 2 - Os
funcionários do Estado; 3 - Tomar dinheiro do setor produtivo, para
sustentar o Estado; 4 - Fazer demagogia, utilizado o Estado e o dinheiro do
setor produtivo, recursos esses eufemisticamente conhecidos como
"impostos", mas que deveriam ser chamados de "saque", "derrama", ou
coisa que o valha.
Assim sendo, o país pode esperar pelo pior, pois no momento em que o
barco voltar a fazer água, pelo histórico dos atuais candidatos, corremos o
risco de medidas de "impacto", do tipo moratória da dívida interna ou
externa, "política externa soberana", (leia-se, aproximação com China, Cuba,
Venezuela etc.). Portanto, para levar o Brasil em direção ao futuro, esses
senhores apresentam propostas que são bem parecidas com as mesmas
tentadas há pelo menos meio século, inclusive com a participação de
vários dos personagens que estão na atual disputa (Leonel Brizola, Miguel
Arraes, PCB).
Só resta torcer para que o Brasil e os brasileiros consigam resistir ao
período turbulento que se aproxima, e que possamos, como o herói do
filme, voltar para o futuro, para o século XXI.