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Esses edifícios são às vêzes tão vastos que podem abrigar numerosos peregrinos e
viajantes, e comportam várias outras construções em seu recinto. Na Índia cada um é livre
para construir um templo. Não é necessária nenhuma autorização. Mas é preciso obedecer
a certas condições na escolha da orientação, do lugar, das dimensões, das portas, etc.
Os hindus possuem santuários onde se podem adorar diferentes deuses, e outros "vazios"
onde cada um pode orar ao "seu ichta". Encontram-se também altares fora dos templos,
nos caminhos, nas árvores e nas encruzilhadas. E neles são piedosamente colocadas as
estátuas da divindade para que o passante possa implorá-Ia.
O Culto
As formas essenciais do culto são a prece e o sacrifício. Mas o ritual dos cultos ou pujás,
celebrados nos templos, varia segundo os deuses. Podem ser feitos também mentalmente
(manasapujá); sua eficácia é a mesma. O culto interior (antaryaga) é o ato do crente que
busca a sua identidade com a divindade. Todos os rituais hindus compreendem a leitura
dos Livros Santos e as oferendas às imagens.
A Prece
A prece tem suas leis e suas exigências. Ela acompanha o ato religioso, o sacrificio ou a
oferenda. A prece ou mantra é uma "fórmula sagrada" que traz em si o poder da palavra.
"A prece é uma reunião de sílabas utílizadas para fins precisos, mas ela só se torna eficaz
quando pronunciada com a observância rigorosa do teor, do ritmo e do acento, e além
disso precedida da concentração mental requerida" (Idem).
Segundo os hindus, todo o ser possui em seu inconsciente certa palavra secreta, uma
palavra-mestra que lhe é própria e que lhe é revelada por seu guru. Essa palavra - raiz do
mantra junto a uma fórmula mística - constitui o seu mantra. A repetição piedosa do
mantra se chama "japa".
Pode-se, com essa repetição, despertar poderes extraordinários. No plano físico o mantra
pode provocar certos fenômenos, e pode também conduzir à "libertação". No plano
espiritual, o efeito é mais elevado, mais sutil. São necessárias certas condições para a boa
recitação dos mantras. É preciso que se tenha banhado, que as vestes e os cabelos estejam
limpos, o estômago leve; é preciso um ambiente tranqüilo, a fumaça do incenso, a posição
do lótus (padma- sana). Sem essa preparação os resultados seriam nulos. Os grandes
Bhaktas não cessam de repetir o seu mantra ao longo do dia, mesmo quando viajam,
andam ou assistem às festas religiosas, porque eles vivem em contacto perpétuo com o
Divino. Sri Ramakrichna costumava dizer que o nome de Deus se identifica ao próprio
Deus, de sorte que quanto mais se repetir o seu Nome, tanto mais depressa e melhor se
realizará a sua presença. O fiel repete os seus mantras de cento e oito a cem mil vêzes no
comêço, segundo as instruções de seu guru. Há três modos de praticar o japa: articulando-
o (em voz alta ou baixa); mentalmente, mas com ligeira contração física da garganta, e
finalmente, numa espécie de oração mental (sem nenhum reflexo físico) que permite a
concentração total [U. Chatterji, op. cit. 70].
Os mantras são sagrados e formam um dos maiores segredos da vida de cada um após a
iniciação. Eles têm um sentido esotérico e abrem ao inicado todo um campo de
significações espirituais. São um veículo do pensamento humano no plano espiritual e
criam em tôrno do recitante um ambiente particular. O som tem talvez tanta importância
como a luz para dissolver a obscuridade e suscitar fôrças positivas. Os mantras são
indispensáveis ao ritual e a tôda a disciplina religiosa.
O som "AUM" é o mantra original, é a palavra sagrada formada de três letras: AUM. Ele
exprime a Trimurti, ou Trindade hindu: Brama, o criador; Vichnu, o protetor; e Xiva, o
destruidor. Na realidade, os três são UM só.
O Sacrifício
O sacrifício é o ato religioso por excelência. Ele é um teste. munho de adoração sob a forma
de uma oferenda à Divindade, de uma "oblação". A verdadeira natureza do sacrifício
védico é antes de tudo uma "consagração de si-mesmo", a “transposição do profano para o
sagrado, que modifica a pessoa moral que serve de assunto à cerimônia, eventualmente
um objeto: flôres, frutos, arroz, etc”.
Todo o ritual védico repousava sôbre a instituição do fogo. O fogo serve de intermediário
entre o oficiante e a Divindade. O fogo artificial, agente de purificação antes de se tornar o
veículo da oferenda, é uma função dominante do culto. Havia uma distinção entre o
sacrifício de um só fogo (o mais antigo) para as cerimônias particulares do lar, exercidas
pelo chefe da família, e o sacrifício de três fogos para o culto solene, e sobretudo para o
sacrifício do soma (culto cada vez menos espalhado). O hotre é o "ministro" da oblação, o
recitante por excelência, aquele a quem incumbe dizer as estâncias do Rig- Veda, seja em
chastra, seja em versos ou em fórmulas sôltas.
Os Ritos Solenes
O sacrificante, se fôr brâmane, tem parte nas iguarias oferecidas, e os oficiantes repartem
os restos numa ordem determinada. O alcance do sacrificio é mais profundo do que julga
o profano. A fórmula sacrifical comporta uma absorção de fôrça, uma verdadeira
transubstanciação; muito mais, portanto, que uma simples comunhão.
A Oferenda
Práticas Expiatórias
As faltas podem ser involuntárias, veniais ou graves; podem ser de ordem religiosa e
comportar às vêzes a queda da casta. A noção de impureza está às mais das vêzes na base
dessas "faltas", julgadas por um punidor que preside uma côrte de justiça em miniatura
(Renou).
Os Ritos Privados
Estes ritos obedecem aos ensinamentos dos Sutras ou Aforismos domésticos. O rito
cotidiano da sandhya é o da "junção" do dia e da noite, que substitui o antigo rito do
Agnihotra. Ele consiste numa ablução interna, seguida de uma aspersão sôbre a cabeça;
depois vem a recitação da gayarti, do mantra tirado do Rig-Veda, e de uma homenagem
de adoração quando o sol aparece no horizonte; segue-se nova ablução com a recitação da
gayarti, e após o pranayama a pronunciação de novas fórmulas ou preces, e as oferendas.
Esses ritos são realizados também ao meio-dia e à tarde. Os cinco grandes sacrifícios
(maha-yajna) cotidianos, são:
3) o pitriyajna ou tarpana, libação de água misturada com sésamo, oferecida aos manes;
Os Sanskaras
Existem doze sacramentos principais. Em primeiro lugar, o nascimento. "Por um filho, diz
Manu, conquistam-se mundos; pelo filho do filho, adquire-se a imortalidade; pelo neto do
filho, ganha-se o mundo do sol". O nascimento é a ocasião de uma cerimônia que consiste
primeiro na introdução de uma bolinha de mel e de manteiga clarificada na bôca do
recém-nascido, com o auxílio de uma colher de ouro, e na "dedicação da criança a
Chachtni", deusa protetora. A "Imposição do nome" realiza-se no décimo dia.
O Matrimônio
Uma série de operações rituais figuram também nos textos da (revelação) çruti
concernente ao matrimônio. O exame das constelações permite fixar a data da cerimônia;
em seguida, após as oblações, vem o episódio dos "sete passos", que consagra o caráter
irrevogável do casamento. Ele consiste em que a noiva suba a uma pedra, dê uma volta ao
redor do fogo e dê em seguida sete passos, tendo o noivo pela mão. Durante a maior parte
da cerimônia as fórmulas sao tiradas do grande hino de Surya.
Os Funerais
A incineração é o modo habitual dos funerais na Índia. É descrito pelos Textos. O cortejo
fúnebre, precedido dos fogos, é acompanhado pelos parentes, sendo o defunto
transportado nos braços ou num carro até o local da cremação. As fórmulas religiosas
conjuram ao que abandonou o corpo a se unir aos manas e a Yama. Libertado o corpo de
todo o demônio, colocam-no numa pira entre três fogos e executam-se preces e oferendas
enquanto o fogo o consome.