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Há várias versões para a origem das 78 cartas que compõem o

Tarô - hoje conhecido como um dos mais populares oráculos. A


Planeta na Web apresenta aqui um apanhado destas versões,
com o objetivo de iluminar um pouco mais esse baralho repleto
de simbolismo, que vem intrigando e ajudando tantas pessoas
em sua busca pelo auto-conhecimento.

DÉBORA LERRER

Aos 14 anos, Ana Correa, 52, começou a ler baralho comum e mão,
por brincadeira, intuição. Hoje em dia sei que era o inconsciente
coletivo familiar, porque sou descendente de ciganos. Para ler o
tarô foi um passo. Ana considera esse baralho de 22 cartas que
representam figuras emblemáticas, conhecidas como arcanos
maiores, e as 56 cartas semelhantes ao baralho comum,
conhecidas como arcanos menores, uma sínteses de muitos
conhecimentos. Para ela, o tarô é um veículos de auto-
conhecimento, uma ferramenta para você entrar em contato com
as leis cósmicas que vivem dentro da gente.

Em geral, para quem é chamado a se embrenhar pelo fascinante


simbolismo do Tarô, pouco importa sua origem. Mas não deixa de
ser curioso compreender que a profusão de baralhos hoje
disponível em qualquer livraria pode, na realidade, ser fruto de um baralho criado no
início do século XV, no norte da Itália, usado unicamente para um jogo semelhante ao
Bridge, conhecido como Jogo de Triunfos. De acordo com Ana Correa, também há
registros que as cartas eram usadas para o ensino de virtudes para as crianças.

Nessa época, os baralhos de cartas de jogar já eram comuns na Europa. Há


documentos que atestam a existência, por volta de 1440, de um baralho de cartas de
triunfos, com pinturas alegóricas de animais. Em 1450, o recém-instalado duque de
Milão, Francesco Sforza, escreveu uma carta a um de seus subalternos requerendo que
ele comprasse vários pacotes de cartas de triunfos para serem usadas na corte. Esta
mensagem é interessante porque o duque menciona as cartas de triunfo e as cartas de
jogar, distinguindo-as claramente, pois este último baralho seria sua segunda opção de
compra. De acordo com registros históricos, as primeiras cartas datariam do reinado de
Filippo Maria Visconti, duque de Milão, no período de 1416 a 1447.
Mapa da Itália na Renascença

Naquela época a Itália era uma colcha de


retalhos de cidades-estado. O Vaticano
controlava a maior parte do centro do país, e o
reino da França fazia fronteira com o reino de
Savoya. Rapidamente, as cartas de triunfo se
espalharam pela França. Foi por volta de 1530
que a palavra tarochi (ancestral da francesa
tarô) apareceu pela primeira vez.
Aparentemente, a razão para a mudança de
nome foi uma inovação feita pelos jogadores,
que descobriram que o jogo de triunfos
poderia ser jogado com um baralho de cartas
comum, se eles simplesmente declarassem
que um determinado naipe servia como
triunfos, no início do jogo. Logo, triunfo se
tornou um termo ambíguo e uma nova palavra
era necessária para se referir ao tradicional
jogo que usava as cartas com figuras como
trunfos permanentes e que havia se tornado
tremendamente popular, particularmente
entre a nobreza italiana e francesa da época.
Foi assim que a palavra tarochi começou a ser
usada, embora sua etimologia permaneça
sujeita a conjecturas.
Embora evidências
históricas documentem que
as cartas de triunfos
nasceram como cartas de
jogo, existe a possibilidade
de que as 22 cartas que
formam os arcanos maiores
do Tarô tenham sido criadas
com outros propósitos.
Embora nenhum documento
tenha sobrevivido para
corroborar esta hipótese, o
fato é que os símbolos e
imagens deste baralho não
parecem ter sido
selecionados
arbitrariamente.

Um dos possíveis criadores


desse inventivo jogo de
Tarô Visconti -
cartas pode ter sido o sábio
Sforza
Marziano de Tortona, que foi
tutor do duque Filippo Maria Visconte. Ele era
especialista em astrologia (ou astronomia, pois
nessa época essas duas disciplinas ainda
caminhavam juntas) e lhe servia como
secretário.

Sabe-se com certeza que em algum momento


em torno de 1515, o duque ordenou que
Marziano inventasse um jogo de cartas de
acordo com suas instruções. Ao invés dos
naipes comuns, o novo baralho representava
virtude, riqueza, pureza e prazer, simbolizados
por figuras de pássaros: águias, fênix, rolas e
pombas. A cada naipe também havia quatro
cartas maiores retratando divindades
clássicas. Essa concepção de baralho é um
antecedente da idéia de triunfos, mas embora
essas não sejam as cartas que hoje
conhecemos como Tarô, Marziano chegou a
escrever um livro para acompanhar esse
baralho de cartas. Seu livro não fornecia
significados divinatório nem regras para um
jogo de cartas, seu foco era o significado
alegórico das figuras e sua hierarquia. Talvez
não seja exagerado supor que algum tempo
mais tarde, o duque Filippo tenha instruído
seu secretário a conceber outro baralho com
cartas alegóricas que, desta vez, significavam
as forças que controlam o destino humano.

Outras versões atestam que os Tarocchi de


Veneza teriam sido os primeiros a conter a
fórmula dos baralhos de tarô conhecidos hoje:
78 lâminas, subdivididas em 22 arcanos
maiores e 56 menores. Estes últimos tinham
quatro naipes Denari (dinheiros), Coppe
(cálices ou copas), Spade (espadas) e Bastoni
(bastos ou bastões) -, cada um deles
integrado por um rei, uma rainha, um
cavalheiro e dez cartas numeradas.
Tarô e o ocultismo

O interesse moderno do Tarô


como um instrumento
divinatório teria se originado
no séc. XVIII, a partir do
movimento ocultista francês
e, mais tarde, inglês.

Formado em teologia e
pastor da Igreja Reformada,
Antoine Court Gebelin (1725-
1784) devotou 20 anos à
pesquisa que resultou em
nove volumes publicados sob
o nome de Le Monde Primitif,
analysé et compare avec leê
monde moderne. No primeiro
volume de sua obra, Gebelin
apresenta a teoria de que as
cartas de Tarô nasceram das
páginas do Livro de Thot
salvo das ruínas dos templos
egípcios. Conta-se que tal
livro possuiria as respostas
para todos os problemas da
humanidade e foi concebido
por sacerdotes após
consultas com o deus da magia, Thot, que
também seria o Mercúrio egípcio. Esses
sacerdotes teriam ocultado esse conhecimento
secreto no baralho de tarô.

Gebelin também acreditava que os ciganos


eram na verdade egípcios que se dispersaram
pela Europa, e teria sido deles que se originou
o costume de ler a sorte nas cartas.
Entretanto há inúmeras evidências que
demonstram que os ciganos, forçados a sair
da Índia no começo do século XV, só
estenderam suas peregrinações pela Europa
quando as cartas - que devem ter sido
introduzidas na continente pelos árabes - já
eram conhecidas há algum tempo.

Gebelin deixou inúmeros seguidores. Muitos


ocultistas dizem reconhecer nas cartas do tarô
as páginas de livros hieroglíficos que contêm
os princípios da filosofia mística dos egípcios
numa série de símbolos e figuras
emblemáticas.

Um de seus maiores seguidores, o peruqueiro


Alliete, inverteu a ordem de seu nome, e como
Etteilla publicou muitos livros, entre eles, seu
famoso trabalho Manière de se récréer avec lê
Jeu de Cartes nommés Tarot.

Etteile sabia como arrebatar a imaginação e a


mente do povo da sua
época. Adaptou o baralho
do tarô ao seu próprio
sistema e promoveu ao
máximo a cartomancia.
Desse modo, Alliette
transformou-se no grande
adivinho Etteilla e,
instalado no Hotel De
Crillon, em Paris,
pressagiou o destino de
muitos franceses que
seriam vitimados pelos
acontecimentos de 1789.

Enquanto Gebelin e
Etteilla procuraram,
zelosamente, provar a
origem egípcia das cartas
do tarô, Eliphas Levi
acreditou que elas fossem
um alfabeto sagrado e
oculto, atribuído, pelos
hebreus, a Enoch, filho
mais velho de Caim; pelos
egípcios, a Hermes
Trimegistus, ao deus
egípcio Thoth; e, pelos gregos, a Cadmus, que
fundou a cidade de Tebas.

Eliphas Levi foi um filósofo e um simbolista


profundo. Padre da Igreja Romana, seu
verdadeiro nome era Alphonse Louis Constant.
Mas por causa de suas obras filosóficas e
ocultistas, traduziu seu nome para o hebreu
Eliphas Levi Zahed.

Levi encontrou no tarô uma síntese da ciência


e a chave universal da Cabala, pois as dez
esferas ou emanações que formam o diagrama
cabalístico conhecido como Sephiroth, ou
Árvore da Vida, são interligadas por 22
caminhos, cada qual representado por uma
das 22 letras do alfabeto hebraico.

Levi, portanto, proclamou que as 22 cartas


dos Arcanos Maiores poderiam ser
corretamente atribuídas a cada uma das letras
do alfabeto hebraico, constituindo, assim, uma
unidade completa de letras, cartas e
caminhos.

Outro autor que contribuiu significativamente


para o ocultismo do Tarô e para a adaptação
das 22 cartas-trunfo do baralho às 22 letras
do alfabeto hebraico foi Gerard Encausse
(1865-1917), médico francês que escreveu
sob o nome de Papus. Fundador e líder da
Ordem espiritual e maçônica dos Martinistas e
membro da Ordem Cabalística da Rosa Cruz,
Papus baseou a sua filosofia ocultista na
doutrina teosófica concernente ao nome divino
YHVH. Os conceitos e aplicações dos códigos e
dos diagramas de Papus são apresentados no
seu famoso trabalho The Tarot of the
Bohemians - Absolute Key to Occult Science.

Autor de um dos mais famosos baralhos de


Tarô, Dr. Arthur Edward Waite (1857-1942) foi
membro da Ordem do Golden Dawn e um
genuíno estudioso e pesquisador do ocultismo.
Entre seus livros está The Key to the Tarot e
The Holy Kabbalah. Para ele, a chave do Tarô
reside única e exclusivamente no simbolismo
das cartas, que formam uma espécie de
alfabeto capaz de infinitas combinações que
sempre fazem sentido. O Tarô incorpora as
representações simbólicas das idéias
universais, por trás das quais estão todos os
subentendidos da mente humana, disse Waite.
É nesse sentido que ele contém a doutrina
secreta, que é a percepção, por uns poucos,
de verdades encerradas na consciência de
todos, muito embora elas não tenham sido
claramente reconhecidas pelas pessoas
comuns.

Tipos de baralho
Tarô de Marselha

Um dos mais velhos


desenhos que hoje se
encontram a nossa
disposição, o Tarô de
Marselha surgiu no final do
século XV, na França, e
tornou-se popular em toda
a Europa. Para Ana Correa,
é o baralho que tem a
simbologia mais próxima
da cultura ocidental, e é o
que ela costuma introduzir
a seus alunos. Embora
alguns de seus exemplares
sejam vendidos acompanhados de um texto
explicativo, originalmente o Tarô de Marselha
é vendido só como baralho e seus símbolos e
figuras servem de ponte para que a intuição
do leitor alce vôo e interprete sua linguagem.

Tarô de Etteilla

As cartas do tarô de Etteilla,


conhecidas como as cartas
do Grande Etteilla, são um
conjunto de cartas
emblemáticas baseadas nos
desenhos dos tarôs típicos e
acompanhadas por uma
série numeral, começando
com o número 1, Ettelila
questionnant (Etteila
consultando) e indo até o
número 78, Folie (A
Loucura). Os desenhos de
Etteilla representam um
afastamento em relação às
figuras simbólicas padrão, encontradas na
maioria dos outros baralhos de Tarô. Os
desenhos das cartas são quase todos de
figuras de corpo inteiro. Os títulos estão em
ambas extremidades das cartas e variam
levando em consideração os significados
invertidos.

Esse conjunto de cartas, desenhado e


preparado para fins divinatórios por Etteilla,
vinha acompanhado de um livro de
explicações e orientações, intitulado Maniére
de tirer - Lê Grand Etteilla où tarots Egyptiens.

Tarô Rider-Waite

Famoso baralho criado por Arthur Edward


Waite e desenhado, sob a sua supervisão, por
Miss Pámela ColmanSmith. O baralho foi
editado primeiramente pela Rider&Co.;, em
1910, e por isso ficou conhecido como baralho
Rider. Tornou-se o mais popular em países de
língua inglesa. Neste Tarô, Waite presumiu,
corretamente, que O Bobo, sendo uma carta
sem número e representado por O, não devia
ser colocado entre as cartas número 20 e 21,
conforme fora sugerido por Levi e por Papus,
mas que a suas seqüência natural seria antes
do Mago, como um atributo da primeira letra
do alfabeto hebraico, o Aleph. Ele também
mudou de lugar as cartas da Força e da
Justiça. Geralmente mostrada com o número
XI, a Força é indicada por Waite com o
número VIII, trocando de lugar com a Justiça.
Outra inovação de Waite foi trazer figuras
simbólicas nas cartas numeradas, ao invés de
apenas o símbolo do naipe. Com esta
mudança, cada carta do baralho faz uma
sugestão psicológica imediata na mente do
leitor.

Tarô de Thoth

Outro membro famoso da


Ordem do Golden Dawn, o
famoso ocultista Aleister
Crowley criou o Tarô de
Thoth (deus egípcio da
magia), pintado por Lady
Frieda Harris, em 1940,
mas publicado somente em
1966. Esse baralho tem
figuras psicologicamente
intensas (beirando o
psicodelismo) e um desenho bastante abstrato
e visceral. Embora as interpretações de
Crowley tenham conexões com as de Waite,
essa cartas afastam-se completamente dos
desenhos usuais de tarô.

Tarô de Wirth

As 22 cartas dos Arcanos maiores que acompanham o livro de Oswald


Le Taro dês Imagiers du Moyen Age, contêm letras hebraicas
desenhadas no canto inferior direito de cada carta. Por exemplo, o
Aleph é atribuído à carta número I, Lê Bateleur (O Mago). As cartas de
Wirth são impressas em admiráveis cores metálicas e ostentam
algarismos romanos na parte de cima.

O baralho de Case

Paul Foster Case, em seu livro The Taro, A Key to the Wisdom of the
, usa, para as 22 cartas dos Arcanos Maiores, desenhos que em
alguns casos são similares aos desenhos de Waite. As cartas de Case
trazem um número arábico no canto inferior esquerdo e uma letra
hebraica no canto inferior direito. O Aleph, por exemplo, é atribuído ao
Bobo, enquanto que Beth é atribuído ao Mago. Os desenhos em branco
e preto do baralho Case permite que a pessoa lhes dê o colorido que

Tarô de C.C. Zain

O baralho do tarô usado por C.C. Zain em seu livro The Sacred Tarot
publicado pela Igreja da Luz, também é em branco e preto e se presta
para colorir. Embora as cartas sejam ricas em matéria de simbolismo
egípcio, elas se afastam completamente dos símbolos usuais de Tarô.

The Motherpeace Tarot

Este é o primeiro baralho de cartas circulares. Ele promove uma


espiritualidade feminista, dentro de um contexto shamanico e de
cultura tribal.
Osho Zen Tarot

Embora contenha 78 cartas que podem ser postas em correspondência


com as dos baralhos de tarô tradicionais, esse tarô suprimiu
totalmente a distinção entre arcanos maiores e menores. Cada carta é
uma bela e psicológica imagem em si, pretendendo ser profundamente
transformadora.

Tarô Mitológico

Criados por Juliete Charman-Bourke e Liz Greene, todos os arcanos


deste tarô são representados por entidades e histórias da mitologia
grega. O conjunto de cartas que forma cada naipe dos arcanos
menores retrata um mito ou tragédia grega: o de Copas a lenda de
Eros e Psiqué; o de Paus, ao mito de Jasão e Os Argonautas em busca
do Velocino de Ouro; o de Espadas, a tragédia de Orestes e a maldição
da Casa de Atreu, o de Ouros, a história Dédalus, arquieto, escultor e
artesão ateniense que construiu o labirinto para o rei Minos de Creta.

Tarô Clássico, de Stuart Kaplan, Editora Pensamento


Jung e o Tarô, de Sallie Nichols, Editora Cultrix

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