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Artigo publicado

na edição 65

julho e agosto de 2018


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Quando abrir e fechar


um centro de distribuição?
Os fatores a serem considerados na tomada de decisão
Como consequência de estratégias de canal de distribuição, fiscal
e crescimento de vendas, além da otimização da área produtiva
disponível, entre outras, está a decisão sobre o posicionamento
da malha logística e, mais do que isso, sobre onde e quando abrir
ou fechar um centro de distribuição (CD). Entre tantas variáveis,
é imprescindível que os diferentes tipos de operações tenham
flexibilidade o suficiente para se adaptar às constantes mudanças de
comportamento dos consumidores e, consequentemente, à estratégia
do negócio.

Maurício Oliveira
Formado em Engenharia Ambiental pela Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), com MBA pela Thunderbird School of Global
Management, no Arizona, Estados Unidos, possui experiência em controle e melhoria de processos, e na elaboração de planos estratégicos em
curto e longo prazos para a cadeia logística, tendo trabalhado em indústrias químicas e de papel, e no varejo, nos Estados Unidos e Brasil.
mauricio.oliveira@global.t-bird.edu

A A decisão de quando abrir ou fechar um centro de dis-


tribuição envolve diversas variáveis, que, quando com-
binadas de acordo com a realidade do negócio, exige da
empresa uma análise de viabilidade e retorno do inves-
timento, visando aos benefícios esperados em curto e
longo prazos.
Entre as principais variáveis que determinam a aber-
tura ou o fechamento de um CD, estão o plano de cres-
cimento de volumes a serem processados, a estratégia
de canal (produtos estocados, cross-docking ou direto
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loja), os impactos fiscais, o nível de serviço, a frequên- novo CD, certificar-se de que terá capacidade de con-
cia de entrega, o custo do frete e, até mesmo, a disponi- solidar as cargas de um ou mais fornecedores, de modo
bilidade de tecnologias. a flexibilizar o recebimento e a distribuição dentro de
Nesse contexto, este artigo aborda as perspectivas sua própria cadeia, como também viabilizar o abasteci-
mencionadas de maneira abrangente, de forma a di- mento de suas lojas ou clientes finais, de acordo com a
recionar o trabalho dos profissionais e empresas inte- necessidade real de cada consumidor.
ressados em revisitar as suas respectivas operações de Nesse contexto, cabe às empresas estudarem qual
armazenagem e distribuição. formato de operação de CD tem maior aplicabilidade
para o negócio. Essa definição envolve a escolha entre
O CENTRO DE DISTRIBUIÇÃO COMO
FERRAMENTA DE EFICIÊNCIA os formatos cross-docking, transit point, estoque avan-
Segundo Fonte (2010), a logística busca agregar va- çado (ou não), ou ainda, uma combinação de formatos.
lor de lugar, tempo, qualidade e informação ao cliente Além disso, a avaliação deve considerar os estudos de
final, visando reduzir os custos e as perdas de tempo, e possíveis sinergias, que podem garantir melhor nível
atender às exigências do cliente. Abrange os processos de atendimento aos clientes, com melhor frequência de
de planejamento de materiais, armazenagem, fluxo de entrega, menor lead time, redução de custos de frete,
informação e movimentação, desde o ponto de origem entre outros.
até o consumidor final. Nessa linha, os centros de dis- O QUE CONSIDERAR NA AVALIAÇÃO DE
tribuição visam facilitar a dinâmica do fluxo de merca- ABERTURA OU FECHAMENTO DE UM CD
dorias e produtos em busca desses benefícios. Empresas que já operam com centros de distribui-
Para muitos negócios, operar sem um centro de dis- ção precisam constantemente revisar a sua estratégia de
tribuição significa conviver com uma logística ineficien- distribuição, devido ao dinamismo envolvido na inte-
te. Isso é o reflexo de condições diversas, que vão de ração com os fornecedores e clientes.
exigências referentes ao pedido mínimo, passando pelo A cadeia de suprimentos está em constante evolução
excesso de veículos de fornecedores entregando os seus e, com isso, os negócios devem estar atentos às conse-
produtos ao mesmo tempo em um mesmo cliente, até quências que tal evolução pode ocasionar à eficiência
os impactos gerados nos pontos de venda, pela perda de de um centro de distribuição. A dinâmica existente na
foco na principal atividade do negócio, que deve ser no cadeia de suprimentos pode levar um empreendimento
piso de vendas, com a prestação de um bom serviço aos a rever as suas definições de estoque, no que se refere ao
clientes. giro e ao canal dos produtos, muitas vezes, ocasionan-
De acordo com Drucker (2002), a logística é a últi- do uma revisão da capacidade de processamento junto
ma fronteira na busca pela vantagem competitiva real. a uma equipe de engenheiros, capazes de identificar o
Portanto, o uso de centros de distribuição permite a melhor layout e fluxo operacional para o momento do
exploração de novos mercados, o aumento do market negócio.
share e, consequentemente, conquistar uma posição A capacidade produtiva e a redução dos custos ope-
única e sustentável, garantindo a participação em um racionais estão diretamente relacionados à quantidade
mercado cada vez mais concorrido, exigente e atualiza- de operações e à necessidade de área dos centros de dis-
do com as necessidades de seus clientes. tribuição para uma empresa operar de maneira eficien-
No momento em que uma empresa toma a decisão te. Apesar de não serem os únicos fatores que definem o
de investir em um centro de distribuição, tal iniciativa número de CDs, essas variáveis podem ser determinan-
deve estar fundamentada no estabelecimento de um tes no dimensionamento da área produtiva necessária a
processo logístico capaz de reduzir os custos, por meio uma operação de armazenagem e distribuição.
da melhoria da eficiência operacional. Isso significa Do mesmo modo, o emprego de novas tecnologias
que a organização precisa, com a implementação do pode aumentar a capacidade de processamento de pro-
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dutos em um CD, a ponto de viabi- Para ilustrar a necessidade de tal
lizar o fechamento de uma das ope- avaliação, no caso de um aumen-
rações de um negócio com múltiplas A aplicação de to permanente da participação de
centrais de distribuição. produtos de alto ou baixo giro em
tecnologias no
Em diversas ocasiões, as empresas um determinado CD, dependendo
optam por manter os processos ma-
gerenciamento da consistência das entregas feitas
nuais de seus centros de distribuição, e operação do pelos fornecedores, o layout e os
visando manter a capacidade de adap- CD pode ser fluxos operacionais devem ser revi-
tação às mudanças do mercado con- viabilizada pelo sitados, no intuito de garantir que
sumidor, de maneira rápida e relativa- proporcionem a maior eficiência
aumento de
mente barata. possível para cada caso.
Um CD com processos manuais, de
produtividade e De maneira prática, um CD que
modo geral, consegue se adaptar rapi- a consequente possui os seus produtos estocados
damente às mudanças exigidas pelas redução dos pode vir a trabalhar na modalida-
variações de mercado, pois a estrutu- custos que tais de cross-docking e vice-versa, o que
ra física disponível para tais processos não só justifica tais revisões inter-
investimentos
pode ser facilmente revisitada e redis- nas, como pode também determi-
tribuída, ao passo que uma operação
visam retornar. nar a necessidade de expansão ou
com processos automatizados já não abertura de um novo centro de dis-
possui a mesma flexibilidade, confor- tribuição.
me é possível notar nas ilustrações das Figuras 1 e 2. Do ponto de vista fiscal, no Brasil, pode ser atraente
Na hipótese de um aumento de volumes a serem a ideia de se ter pontos de distribuição dentro de cada
processados em um determinado armazém, uma em- Estado em que uma organização opera, de modo a re-
presa deve avaliar a necessidade de uma expansão, da duzir ou evitar o acúmulo de créditos fiscais em opera-
abertura de um novo CD, ou mesmo, da otimização da ções interestaduais. Porém, esse é um cenário muitas
utilização da área disponível, por meio da reorganiza- vezes inviável, devido aos custos operacionais associa-
ção dos processos, do layout operacional, da utilização dos à existência de diversas unidades de distribuição.
de tecnologias ou de uma combinação dessas iniciati- A não ser que uma empresa consiga benefícios fis-
vas. cais significativos em determinado local, a solução cos-
tuma ser a que resulta em menor impacto para o em-
preendimento, ou seja, o acúmulo de créditos fiscais, na
operação interestadual, ou os custos de uma operação
ARMAZENAGEM

RECEBIMENTO/
adicional, em determinado Estado.
CONFERÊNCIA
Exemplos de decisões logísticas baseadas nos im-
CROSS-DOCKING

CARREGAMENTO/
pactos fiscais são as alterações do fluxo de mercadorias
AUDITORIA/
MOVIMENTAÇÃO EMBALAGEM/
RETORNOS
CONFERÊNCIA
entre os diferentes armazéns. Devido aos créditos e
débitos de Imposto Sobre Circulação de Mercadorias
CONTROLE
INVENTÁRIO e Serviços (ICMS) e Substituição Tributária (ST), e in-
PICKING
cidentes em diferentes percentuais nas operações inte-
ABASTECIMENTO
restaduais, as empresas buscam alinhar o recebimento
de seus fornecedores nos CDs e, também, as entregas
Figura 1: Modelo de centro de distribuição com operação manual, para os clientes, de acordo com o perfil de tributação
em que o fluxo operacional pode ser rapidamente reorganizado. Fonte:
http://vitorla.weebly.com/uploads/3/0/1/0/30109345/1612027_ que fizer mais sentido sob a ótica fiscal.
orig.jpg. Essas diferenças nas alíquotas agravam, segundo
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MONTAGEM DE MATÉRIAS PRIMAS INTRODUÇÃO AO SISTEMA ROBÓTICO

TRANSPORTE SISTEMA DE TRANSPORTE


TRANSPORTE SISTEMA DE TRANSPORTE

ARMAZENAMENTO DE ARMAZÉM AUTOMATIZADO


PRODUTOS ACABADOS DE PALLETS

ENTRADA DO ARMAZÉM SISTEMA DE TRANSPORTE

PALETIZAÇÃO ROBÔ DE PALETIZAÇÃO

ARMAZENAMENTO DE
CLASSIFICAÇÃO SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO ARMAZÉM AUTOMATIZADO TIPO BIN
MATÉRIAS PRIMAS

TRANSPORTE RGV

ARMAZENAMENTO DE ARMAZÉM ESTEREOSCÓPICO


PRODUTOS ACABADOS TIPO SHUTTLE

SAÍDA DO ARMAZÉM SISTEMA DE TRANSPORTE

TRANSPORTE AGV

Figura 2: Modelo de centro de distribuição com operação automatizada, em que o fluxo operacional tem pouca flexibilidade.
Fonte: http://www.eoslift.com/imgs/wms_03.jpg.

Andrade e Yoshizaki (2015), a questão do “turismo fis- empreendimento consiga se adaptar rapidamente às
cal”. É o caso do depósito de produtos em outro Estado, mudanças, sem a necessidade de novos investimentos
como o de Minas Gerais, em que a alíquota em relação significativos.
ao Estado de São Paulo é menor e tal medida acaba in-
CONSIDERAÇÕES FINAIS
centivando as vendas para Estados vizinhos e não para
Entre tantas variáveis, cabe a cada negócio entender
o próprio Estado, no qual o centro de distribuição se
quais se aplicam as suas respectivas realidades, no mo-
localiza.
mento em que se deparam com a decisão de abrir ou
Já no outro extremo, a decisão de se fechar um CD
fechar um CD. Para cada situação, é sempre válido que
pode ser fundamentada na queda dos volumes proces-
tanto o contexto atual, quanto os esperados em médio
sados no armazém e ser motivada pela capacidade da
e longo prazos sejam considerados nesse tipo de avalia-
organização de otimizar os processos que ocorrem no
ção. Isso ajuda a reduzir os riscos de perda significativa
local. Ainda, antes de considerar o fechamento de um
do capital investido e, ainda, suporta a flexibilização de
CD, é interessante à empresa avaliar a possibilidade de
determinada operação, a fim de garantir a longevidade
incluir novas operações no local, que podem diluir as
do empreendimento.
despesas fixas da operação, além de fomentar o cresci-
mento do negócio. Referências
Uma prática cada vez mais comum no merdado é ANDRADE, Luiz Eduardo Wilbert Albernaz;YOSHIZAKI, Hugo
a utilização de um único centro de distribuição, tanto Tsugunobu Yoshida. Impactos da reforma tributária: avaliando
a influência do novo Imposto de Circulação de Mercadorias e
para a operação de lojas físicas, quanto para as vendas
Serviços (ICMS) na reconfiguração da malha logística brasilei-
online. Dessa maneira, a organização consegue otimi- ra. Disponível em: <http://sites.poli.usp.br/org/sistemas.logisticos/
zar a utilização da área construída e obter os benefícios pesquisa_destaque/icms_sbpo.pdf>. Acesso em: 30 de agosto de
2015.
das sinergias operacionais entre as diferentes atividades
DRUCKER, Peter. A quarta revolução da informação, 2002.
do negócio, no mesmo local. Porém, para isso, é im-
FONTE, Mariana Oliveira Alves da. Aplicação da simulação de
portante que tal viabilidade seja estudada não apenas eventos discretos na logística de fábrica. Juiz de Fora: UFJF, 2010.
considerando o momento atual do negócio, mas deve http://vitorla.weebly.com/uploads/3/0/1/0/30109345/1612027_
envolver, também, as perspectivas futuras, de modo orig.jpg.
a proporcionar flexibilidade o suficiente para que o http://www.eoslift.com/imgs/wms_03.jpg.
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