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FESTAS RELIGIOSAS

NO RIO DE A IRa:
perspectivas
de controle e tolerância no
século XIX
Martha Abreu

través da discussão sobre a re

lização de ''batuques de pretos" 1. A herança religiosa do


e sobre a decadência da festa religiosa século XIX
mais popular da cidade do Rio de Ja­
neiro, a festa do Divino Espírito Santo, o século XIX recebeu de herança o
que ficou conhecido por "religiosidade
na segunda metade do século XIX, pro­
colonial" (80111a,1986:88) ou "catolicis­
curarei aprofundar, de um lado, a re·
mo barroco", como mais recentemente
flexão sobre as possíveis continuida­
denominou João Reis. Ou seja, um ca­
des e mudanças do chamado "catolicis­
tolicismo marcado pelas espetaculares
mo colonial", e de outro, complemen­
manifestações externas da fé presen­
tarmente, as ambigüidades das estra­
tes nas pomposas missas, "celebradas
tégias de controle e tolerância, exerci­ por dezenas de padres e acompanha­
das tanto por autoridades municipais das por corais e orquestra"; nos "fune­
como por representantes do pensa­ rais grandiosos, procissões cheias de
mento católico reformador, sobre se alegorias", e Das festas, onde centenas
comemoraçóes religiosas populares. de pessoae das mais variadas condi-

Nota: Este artigo é a veJ"8OO revista de uma comunicação ap' sentada no ConCjCs-o América 92
(UFRJ/USP) e é parte integrante de minha pooquisa de doutoramento. Agradeço a contribuição dOI!
bolsistas de Iniciação Cientrriea. And réia Maisena e Rob80n Martins, oe debate. 1'El8.1im.dDl com meu.
colegna de departamento e ()8 comentários dos pu(::eriata.e de E.tueJo.Hi..Urioo..

E.tudo.Histórico.. Rio de Janeiro, voL 7, n. 1".1 p. 183-203.


184 ES'IUDOS IflSTÓRlCOS - 19114/14

ções se "alegravam com a música, dan­ às posses de seus membros (&schi,


ça, DUl5C8 radas e fogos de artificio" 1986:12-29).
(Reis, 1991:49).1 As festas organizadas pelas U",an­
Em geral, dentro desta prática reli­ dades em homenagem aos santos pa­
giosa, o clero secular tinha uma atua­ droeiros, ou oubus de devoção, eram o
ção que se limitava à celebração de momento máximo da vida dffi88s asso..
alguns sacramentos (batismos, mis­ ciações. Para desagrado de muitas au­
sas, comunhões, casamentos e ext16 toridades civis e religiosas. preocupadas
ma-unções) em datas específicas. Seu com a continuidade da ordem e oom o
trabalho de evangelização sempre foi não cumprimento das deterlllinações
pouco expressivo, devido aos limitados tridentinas, essas Cestas costumavam
recUl"30S que a Coroa enviava, à sua confundir as práticas sagradas e profa­
deficiente forl!!ação religiosa e à gran­ nAS, tanto nas comemorações externAS

de dependência dos leigos. As ordens como Da8 que eram realiza das dentro
religiosas, por sua vez, mais prepara­ das igrejas. Além das missas oom músi­
CAS mundanas , sermões, Te-Deum, no-­
das para disseminar um catolicismo
tridentino, dentro da ortodoxia religio­ VeDaS e procissões, eram parte impor­
sa, não conseguiam atingir todos os tante as danças, ooretos, fogos de artifi­
cio e barra cas de oomidas e bebidas. Em
fiéis. Desta forma, os leigos tornaram­
geral a população escrava e/ou negra
se os maiores agentes do "catolicismo
não perdiA a oportuni dade de tocar SUAS
bal"l'oco", repleto de sobrevivências
músicas e '1latuques" e dançar 811aS
pagãs, com seu politeísmo disfarçado,
danças. Locais privilegiados para a ma­
superstições e feitiços, que atraíram
nifestação da religiosidade popular,
também os negros, facilitando sua ade­
João Reis viu essas festas oomo rituais
são e paralela transforl!!ação (Remos,
de intercâmbio de energias entre os ho­
s/d:31-32). mens e as divinda des, um investimento
Uma das expressões mais típicas no futuro, tornando a vida mais intares­
desse catolicismo foram as confrarias sante e segura (Reis, 1991:61-70). Mary
organizadas pelos leigos. Entre elas, dei Priore analisou as festas ooloniais
exiatiam as irmandades e as ordens procurando focalizar a participação dos
terceiras, que se diferenciavam das diferentes atores, setores da elite, in­
primeiras por estarem subordina das dios, populares, negros e escravos, o que
às ordens religiOSAS. podiam reunir tornava o seu significado bastante
membros de diferentes origens sociais, multifacetado e dinámico: podiam ser
estabelecendo solidariedades verti­ um espaço de solidariedade, alegria,
cais, mas também servir como Ass ocia­ prazer, criatividade, troca cultural e, ao
ções de classe, profissão, nacionalidade mesmo tempo, um local de luta, violên­
e "cor", Organizavam-se para incenti­ cia, educação, controle e manutenção
var a devoção a um santo protetor e dos privilégios e hierarquias (PriOl"9,
para fins beneficentes destinados aos 1994).
seus irmÃos, que se comprometiam Implantado juntamente com a colo­
com urna efetiva participação nas ati­ nização portuguesa, graças ao direito
vidades da irmandade. Esses fins de "padroado", este catolicismo forma­
beneficientes, tais como auxílio na va um sistema "único de poder e legiti­
doença, na invalidez e na morte, varia­ mação", Associando numa interpene­
vam de acordo com os recursos da ir­ tração estreita "o Estado e a Igreja", o
mandade, diretamente proporcionais sagrado e o profano (Gomes, 1991:26 e
FESTAS REUGIOSAS NO RIO DE JANEIRO 185

Azzi, 1977:39-73). Por isso, como des­ No Ílúcio do século XIX, as princi­
taca Mary dei Priore, as festas religio­ pais comemorações religiosas da cida­
SBB e oficiais pareciam também acen­ de, todas com origem no perlodo ante­
tuar a identificação entre o rei e a rior, ainda eram muito concorridas: as
religião, consolidando a aliança dos c0- procissões do padroeiro São Sebastião,
lonizadores (Priore, 1994, capo 2 e 7). Cinzas, Semana Santa (passos, En­
doenças, Entel'l'o) e Corpo de Deus; as
festas em homenagem aos Santos Reis,
Santana, São Jorge, Santo António,
2. Continuidades e sinais de São João e, a maior delas, a do Divino
mudança Espírito Santo. Devemos levar em con­
ta também a persisténcia de.inÚlneras
o novo Estado Imperial inde­ comemorações de outros santos prote­
pendenta manteria, ap6s algumas difí­ tores, com SUBS procissões de menor
ceis negociações com a Santa Sé, a au­ extensão e pompa, e as celebrações
toridade sobre a Igreja e garantiria o exclusivamente negras, como as coroa­
caráter oficial do catolicismo na própria ções dos reis do Congo, realizadas pela
Constituição, orgulhando...e de ser o igreja Nossa Senhora do Rosário, e os
maior pais católico do mundo. Entre­ cucumbis, as danças coreográficas que
tanto, apesar da herança recebida do acompanhavam os funerais dos filhos
período colonial, a tradicional prática dos reis africanos aqui falecidoe (Coa­
católica enfrentaria uma série de desa­ raey, 1965:157-217, 313-349; Moraes
fioe decorrentes das transformações da Filho, 1979; Karash, 1987:214-302).
sociedade brasileira ao longo do século Em diferentes períodos do século
XIX: grande parte das elites políticas, X1X encontramos nos jornais indícios
dentro do espírito liberal do século, as­
de que a organização da festa dos san­
sumiu uma posição anticlerical e, pro­
tos protetores continuava sendo a mola
gressivamente, associou o catolicismo
mestra da vida das irmandades gran­
ao obscurantismo e ao atraso; algumas
des ou pequenas,2 Era o momento de
autoridades policiais e municipais con­
afil'illar a força daquela devoção, e de
denarnrn as festas n98 ruas, com 8UAS
seus próprios membros, e de reunir os
barracas e diversões, por serem locais
fundos necessários para a assistência,
de jogo e vagabundagem; oe médicoe
já que se aproveitava a ocasião para a
passaram a considerar as festividades
cobrança das mensalidades atJ'9sa das.
religiosas como bárbaras, vulgares e
O dia da festa também era o momento
ameaçadoras da ''família higiênica"
(Costa, 1979:133); e, fInalmente, a lide­ solene da distribuição doe benefícios.
rança religiosa começou a se preocupar Entretanto, começamos a perceber
com as "deficiências" do catolicismo bra· alguns indicativos de mudança. Após
sileiro, marcadas pelo despreparo do 1830, as comemorações negras e os
clero e pela prática religiosa pouco ro­ Ubatuques" passaram a ser cerceados.
manizada. 'lbdas essas preocupações Até o fil181 do século, o número e a
das diversas autoridades assumiriam pompa das procissões diminuíram; as
uma dimensáo especial na cidade do Rio tradicionais festas perderam popu­
de Janeiro, pois era a maior cidade do laridade, e a do Divino Espírito Santo
país e a capital do Império, além de ter transformou-se numa festa de paró­
recebido um grande contingente de afri­ quia (Coaracy, 1965; Moraes Filho,
canos até 1850... 1979).
186

As antigas sQlidariedades nacio­ oficios à Câmara Mucúcipal comucúcan­


nais, raciais e profissionajs das il"lnan­ do que os "batuques, danças e tocatas de
dades também sofreram sugestivas al­ pretos, proibidos pelo Código Mucúcipal
terações. Pelos compromissos novos e de Posturas , têm continuado todos os
reformados que consultamos, após domingos". No último oficio O flSCSI in­
1850, as condições para a entrada de forma que no domingo 29 de julho "do­
. -
lrlllB05 passaram a ser menos excI u- braram tais batuques, com muito incô­
sivistas e mais flexíveis. Alguns ape­ modo para a vizinhança; havendo dois
nas recomendavam que o pretendente na rua da Alcântara, com fundos para a
fosse "bom catálico"; outros s6 exigiam rua São Leopoldo, e um na rua de S.
que tivesse condições de pagar a entra­ Diogo, canto de Santa Rosa". O fato
da e as anuidades ou que fosse de con­ ainda era mais grave, segundo a descri·
dição livre. Mesmo que na prática te­ ção do /isca1, porque um dos batuques
nham se ma ntido as separações raciais tinha uma "caixa de receber as espórtu­
e sociais, elas deixavam de ser uma las (gotjetas) de entrada, depositada em
intenção inicial. Abria-se caminho pa­ cima do passeio", e, quando ele próprio
ra uma maior diversidade entre os aproximou�e, "rondando com os guar..
membros, ampliando-se a cadeia de das" mucúcipais, recebeu "apupadas
solidariedade e as condições de sobre­ (vaia.) e foguetes". O fiscal explicava
vivência de uma innandade (Karash, que ainda não havia multado os batu­
1987:84), pelo menos para as mais p0- ques, como determina vam as JXl5turas ,
pulares, como a de Santo Antôcúo 0s 1 pois aguardava a Câmara "deliberar
Pobres e Nossa Senhora das Dores. qual deveria ser o seu comportamento
Procurando delirrutar melhor esses com semelhantes ajuntamentos".4
sinais de mudança e entender as pos­ Não são poucas as surpresas reuni­
síveis continuidades, privilegiarei, pe­ das nestes oficios de um fiscal de fre­
los limites deste artigo, a análise de guesia. Primeiramente, a existéncia de
duas expressões da religiosidade popu­ três "batuques de pretos" em plenos
lar no Rio de Janeiro no século XIX: os anos 60 do século XIX, localizados em
"batuques de pretos" e a história do fim áreas urbanas, na freguesia de Santa­
daquela que foi a festa símbolo do cha­ na, a mais populosa da cidade pelo
mado "catolicismo banoco" na cidade, censo de 1872. Como os endereços não
a do Divino Espírito Santo no Campo são muito distantes entre si, o barulho
de Santana. Avaliando a postura das conjunto dos batuques deveria ser re­
autoridades religiosas e civis, especial­ almente intenso e possivelmente re­
mente da prefeitura e da polícia, res­ percutia por toda a circunvizinhança
ponsáveis pela autorização das festas do Campo de Santana, o centro urbano
religiosas, será possível refletir sobre do regime imperial, onde se resliza­
as perspectivas de controle e os cami­ vam as festas oficiais e se situavam
nhos da toleráncia religiosa... vários prédios públicos construídos ao

longo do século XIX, como o Quartal
(1818), o Museu Nacional (1818), a Câ­
mara (1824), o Senado (1826), a Estra­
3. Batuques, danças e tocatas de da de Ferro (1856), a Casa da Moeda
pretos no Rio de Janeiro (1859), o Corpo de Bombeiros (1864) e
a Escola NOl'IiIal (1880) (Santos, 1965;
. Em junho e em julho de 1866 o fiscal Coaracy, 1985, Cruls, 1985). Mais pre­
da freguesia de Santana enviou alguns cisamente, os batuques aconteciam a
FESTAS REUGlOSAS NO RIO DE JANEIRO 187

UmA pequena distância da igreja de chefes de tais casas seriam punidos


Santana e do largo do Rossio Pequeno, com penAS de prisão e multas. Como
conhecido algum tempo depois como também não foi esta a opção defInida
praça OIl2e, local celebrizAdo como pelo fIScal para reprimir a infração,
beryo do samba carioca. concluimos que os referidos batuques
E de admirar também que um fIScal não se Assumjam claramente como um
da prefeitura, presumidamenta conhe­ local forlliAI e especial para aquelas
cedor do Código Municipal de Posturas manifestações.
e de sua aplicação, estivesse aguardan­ A terceira e última alternativa do
do a Câmara "deliberar qual devia ser fIScal, seguindo as posturas, era proi­
o seu comportamento com semelhan­ bir"os batuques, cantorias e danças de
tes ajuntamentos". Por esta conduta, pretos dentro das casas e chácaras",
podemos pensar que as posturas não CASO incomoda... em a vizinhança (títu­
eram muito claras, ou que. num outro lo lO, artigo 28). A penalidade era o
sentido, eram suscetíveis de diferentes estabelecimento de multas apenas pa­
interpretações. Como veremos, a posi­ ra o dono da propriedade. Ora, se foi
ção do fiscal revelava muito sobre a este o instrumento legal usado pelo
própria dinâmica dos batuques. fIScal, é fácil perceber que havia um
Diferentes títulos, parágrafos e pu­ espaço possível de realização dos batu­
nições diziam respeito aos batuques no ques, ou seja, através do consentimen"
Código de Posturas vigente, indicando to do proprietário e da complacência
que as suas possibilidades de ocorrên­ dos vizinhos. Com esta condição, en­
cia eram variadas. No caso em questão, trava ...e num terreno bastante subjeti­
como o flScal apenas mencionou as vo, que envolvia a noção de incômodo e
multas para estabelecer a punição, in­ a cumplicidade, ou não, dos vizinhos.
ferimos que os batuques não estavam Se juntarmos esta constatação com
se realizando em lugares públicos. o fato narrado pelo fIScal de que, ao
O Código proibia nestes locais os passar por perto de um dos batuques,
"ajuntamentos de pessoas com tocatas, teria recebido "apupadas e foguetes",
danças ou vozerias" (título 7, artigo desconflBremos que os "pretos" deve­
10), correndo risco os infratores de riam possuir importantes aliados pela
irem direto para a cadeia, caso não vizinhança, não só para realizar os ba­
tivessem dinheiro para o pagamento tuques numa casa particular, como pa­
da multa, como era de presumir, ao ra respaldar este comportamento fren­
menos em tese, a situação dos"pretos" te a uma autoridade da prefeitura.
envolvidos ".s tocatas. Desta forma, Sem dúvida, pelo desenrolar dos
supomos que o tal batuque se realizava acontecimentos, descobrimos que 08
em casa ou chácara particular e, assim, batuques eram autorizados nada me­
as multas pensadas pelo fIscal pode­ nos do que pelo subdelegado de polícia
riam .er pagas pelo respectivo proprie­ do 1· distrito da freguesia de Santana.
tário. Agora começam a fIcar mais claras as
Contudo, a simples ligação com o hesitações do fIScal. Seu problema não
particular não esgotava as possibilida­ era o desconhecimento das posturas:
des de existência dos batuques. O Có­ existiam pessoas que protegiam os "ba­
digo detenninava que eram proibidas tuques" e, certamente, nem todos os
as "casas conhecidas vulgarmente pe­ vizinhos incomodavam-se com eles.
los nomes de casas de zungu e batu­ O referido subdelegado escreve 1Ima
ques" (título 4, artigo 7). Os donos ou longa carta à Câmara, em agosto, não
188 ESTUD OS HISTÓRICOS -1904/14

concordando com a proibição dos batu­ Tolerar ou reprimir?


ques e desqualificando as alegações do
fIScal. Seus argumentos ilustram o debate entre o fiscal e o subdelega­
exemplal'mente a relação entre as au­ do retrata a continuidade de duas anti­
toridades do governo e os teimosos con­ gas concepções acerca das atitudes em
tinuadores dos "batuques" alHcanos relação às prãticas religiosas, ''batu­
na cidade do Rio de Janeiro, que, como ques" e divertimentos africanos. 6 Como
pretendo mostrar, "desenvolveram", apontou João Reis para a cidade de
da mesma forma que seus compatrio­ Salvador dos anos 30, a atuação das
t as baianos, conforme destacou João autoridades (e também de muitos se­
Reis, "com inteligência e criatividade, nhores), "dos mais altos governantes às
uma fma ma!ícia pessoal e uma des­ autoridades policiais mais miúdas", al­
concertante ousadia cultural". ternava entre a repressão e a tolerância
Nas ''malhas do poder escraviata", como estratégias para o mais eficiente
numa sociedade tradicionalmente ca­ controle e para se evitar ma1 pior. Repri­
tólica e no centro da capital do Império, mir ou tolerar, dependia da hora e das
os "pretos" conseguiram barganhar a circunstãll<'ias (Reis e Silva, 1989:37-
continuidade e a recriação de seus cos­ 38). Já que não havia lima clara política
tumes (Reis e Silva, 1989:33), mesmo expressa nas leis, as duas tendências,
em locais particulares ... também no Rio de Janeiro, eram mar­
Procurando mostrar que os ''batu­ cadas pelo estilo pessoal de cada autori­
ques" não eram excepcionais, o subde­ dade ou senhor, no caso o proprietário
legado afirmou que o ''fato era muito da casa ou os vizinhos. A própria postu­
antigo, sempre tolerado por todos os ra municipal em questão deixava livre
chefes de polícia e subdelegados", a interpretação e a autorização pessoal.
inclusive pelo próprio fIScal, que só Para os "pretos" conseguirem realizar
agora resolveu considerá-los "pertuba­ seus "batuques", a cadeia de acordos
dores do cômodo público". Também ale­ pes.c;;osis tinha que funcionar: era preci-
gou que sempre mandava policiar es­ 80 que um senhor, proprietário da CAsa,
ses lugares por irJSpetores de quartei­ pel'uútisse, a vizinhança concordasse e
rão, pedestres e oficiais dejustiça, sen­ alguma autoridade supervisionasse.
do que algumas vezes compareceu pes­ Mas, por outro lado, sempre havia al­
soalmente encontrando "pessoas da vi­ gum perigo de a cadeia pessoal ser rom­
zinhança, até famílias, assistindo a es­ pida e atuar de forJ!!a repressora (e
ses divertimentos que, principiando de ainda bem, porque do contrário não sa­
tarde, terminam sempre ao escurecer". beríamos deste episôdio).
Se realmente os batuques incomo­ Pelo documento do subdelegado, a
dassem, continuou, os vizinhos "quei­ importância do encaminhamento pes-
xar.-se-iam, não sofreriam sem gemer", 80al aparece nitidamente quando o au­
e ele próprio, "único responsável pelo tor "protege" os batuques emplestando
sossego público do distrito, não tolera­ 8eu cargo e sua própria reputação pes-
ria sua continuação". 80al de "chefe de uma grande família e
Procurando salientar que o fato era de um importante estabelecimento". A
mais uma "prevenção do flSca1", reafir­ política da tolerância é textualmente
'- -
mou ser "muito comum" "atacarem..se reafitinAda• em OposlçaO a repressora,
foquetes no dia 29 (de julho), dia de com argumentos de que é uma prática
Santana", em toda a cidade, "apesar de antiga e generalizada, principalmente
6
ser uma infração da lei". em dias de festa de uma santa católica.
FESTAS REUGlOSAS NO RIO DE JANEIRO 189

Mais ainda, é uma formA eficaz (e bas­ gas de rei e rainha em suas comemora­
tante antiga) de manter o controle so­ ções (Cosia, 1886).
bre os escravos e a ordem numa socie­ As posturas dos anos 1830 deixa­
dade escravista. Nas próprias palavras ram transparentes as preocupações
do subdelegado: das autoridades municipais, pois da­
tam desta época as proibições dos
"confio em que a Câmara me fará "ajuntamentos de pessoas com tocatas,
justiça de crer que eu, chefe de uma danças ou vozerias" em locais públicos
grande família e de um importante e a legislação sobre a ocorrência dos
estabelecimento, não tolerarei que "batuques" em locais particulares.
se pretenda quebrar uma só das mo­ Mais precisamente após os levantes
las da máquina governativa da so­ negros baianos de 1835, os "batuques"
ciedade em que vivo ..." na cidade do Rio de Janeiro não mais
foram vistos como inocentes, e surgi­
Interessante a concepção de tole­ ram muitos motivos para a sua proibi­
rância de n0550 subdelegado: a intran­ ção ou, ao menos, para a tendência de
sigência na manutenção das bases de que a repressão falasse mais alto. Co­
sua sociedade, sem sombra de dúvida mo havia 1Ima desconfiança de que es­
a própria escravidão, incluía urna tole­ tava sendo organizada uma insun-ei­
rante perspectiva em relação aos "ba­ ção de "negros" nas provínciss do Rio
tuques de pretos ..... de Janeiro e Minas Gerais, alguns ofi­
cios do Ministério da Justiça ao chefe
Pelos poucos argumentos do fiscal e
de polícia da cidade do Rio de Janeiro
pela incisiva posição do subdelegado,
solicitavam que fossem investigados
podemos supor que a tendência da to­
"alguns pretos que parecem exercer
lerância em relação a06 "batuques" era
uma autoridade religiosa" (17 de mar­
muito forte nos anos 1860. Principal­
ço de 1835) e "as irmandades religiosas
mente se levarmos em conta a decisão
de homens de cor para se descobrir
da Câmara, que concorda com O subde­
alguma tendência sediciosa" (13 de
legado afirmando que "não se deve
maio de 1835), e que fossem dissolvidos
proibir divertimentos inocentes sem quaisquer ajuntamentos de escravos
motivo algum". 7
(11 de setembro de 1835).
Como vimos, até o início do século
Trinta anos depois, proibidos os en­
XIX eram pel'mitidos os grandes encon­
contros em locais públicos, afastada a
tros das populações negl1ls na cidade do
ameaça de rebelião e inexistindo o pe­
Rio de Janeiro, como as congadas e os
rigo de "se quebrar uma das molas da
cucumbis. Entretanto, Mary Karash sociedade", a tolerância podia ser de­
demonstra que a partir dos anos 1820 a fendida, juntamente, é claro, com um
polícia começou a prender os "que dan­ determinado tipo de controle e fiscali­
çavam o batuque" e passou a proibir as zação pessoal. Desta forma, os batu­
danças e procissões organizadas pelas ques tinham condições de ser vistos
irlllandades de escravos, como a do R0- como ('divertimentos inocentes", e mui­
sário no Campo de Santana, por C91189 tas autoridades imperiais cariocas,
das desordens, bebedeiras e ameaças à dentre elas o subdelegado e a maioria
ordem pública (Karash, 1989:243). Em das de Câmara, pareciam não ver ou­
1820, talvez como uma forma de se pre­ tros inconvenientes de ordem religiosa
venir, a própria Irmandade do Rosário ou moral, por exemplo, para conviver
e São Benedito decretava o fim dos cal' com eles.
190 ESTUDOS IllSTÓRlOOS-1994/14

Os sentidos dos "batuques' Segundo Arthur Ramos, em O fol­


clore negro da BrCJ$il, editado em 1935,
Infelizmente, nem o fIScal nem o o "batuque" no século XIX referia-se a
subdelegado oferecem detalhes sobre I1ma dança de caráter geral, onde os
como eram esses batuques. Apenas O negros em círculo executavam cantos,
último revela algumas informações. passos, sapateados em ritmo marcado
Rebatendo as críticas do fIScal em re cQ.m palmas e instrumentos de percus­
lação à cobrança de espórtulas, argu­ são (atabaques). Para o meio do círculo
menta que "não há lei que o proíba, pois ia um dançarino ou dançarina, às ve­
teatros e bailes também os têm". Assim zes dois, para fazerem evoluções de
continua: grande agilidade, com requebros do
corpo em movimentos individuais.
Ne5MS evoluções eram comuns as um­
"cada preto que quer tomar parte no
divertimento paga 80rs de entrada; bigadas, chamadas em Angola de
ora, reunindo-se sempre pouco "semba", que significa movimentos
mais, ou menos, 50 pessoas, eleva­ pélvicos, de onde provavelmente se ori­
se a receita a 4$000rs; eis aqui ao ginou o termo samba, de ilÚcio tomado
que fica reduzida a tal caixa de es­ como sinônimo de batuque. Os "batu­
pórtulas.. .
"
ques" prolongavam-se dia e noite, des­
de que circulasse a "pinga" e os ânimos
Pela descrição é possível pensar que se mantivessem exaltados. As danças
os batuques não eram reuniões espon­ possuíam movimentos lascivos, '�ois a
mulher ou o homem dançando no meio
tâneas, mas envolviam uma certa or­
do grande círculo produziam maior ex­
ganização, como a cobrança de entra­
citação na assistência, atordoada com
das para algum fim (certamente ape­
as baterias, o sapateio, o canto geral e
nas para cobrir peqUenAS despesas),
o parati, que circulava horas a fio"
além das necessárias conversações
(Ramos, sfd:1l8-147).
com a vizinhança e com o próprio sub­
Karash considera que a palavra "ba­
delegado. Apesar de as nossas autori­
tuque", o termo mais comum para de­
dades e de o próprio Código de Postu­
nominar a dança africana no século
ras referirem--se aos "batuques, canto­
XIX, vem do "ba tuco", as danças sociais
rias e danças" como práticas de "pre­
de Angola. Reforçando a idéia de Ar­
tos", terlllo que na época significava thur Ramos, considera que dentre as
escravos, há suficientes indícios para danças escravas, como por exemplo O
se pensa� que eles eram freqüentados lundu, a capoeira, a dança dos velhos e
por urna variedade maior de pessoas, a jandineira, aquela que era conhecida
pouco definidas, como os "vizinhos". no século XIX por "ba tuque" é a que
Diante da menção de que "até famílias" estaria mais próxima do samba carioca
eram encontradas nos batuques, que­ moderno. As descrições mostram a
rendo dar a impressão de que pessoas existência de vários ingredientes do
de respeito acompanhavam os diverti­ samba atual: os tambores, o coro, dan­
mentos, podemos considerar também çarinos dos dois sexos e um leve movi­
a presença de mulheres, l'livres" e mento dos pés. O interessante, contu­
"brancos", nem que estes últimos esti- do, é que o teI"mo "samba" não é encon­
vessem apenas numa poslçao
.
- passiva .

trado nas fontes do século XIX; "batu­


e fossem representados pelas autori­ ques" é a expressão dos viajantes, do.s
dades. códigos da repressão (as posturas) e
FESTAS RElJGIOSAS NO RIO DE JANEIRO 191

dos jornais. AfU'lna Karash que isto é era de origem africana ou l""'sula vín­
bastante curioso porque o termo "sam­ culos bem próximos com a Africa, prin­
ba" possui uma clara origem angolana. cipalmente com a região central (Ango­
O verbo '1rusamba", que significava la e Congo), de onde provinha a gran de
saltear e pular, devia expressar uma maioria. Importantes pesquisas reve­
grande sensação de felicidade (Karash, laram que os diferentes povos desta
1987:244 e 245). região compartilhavam uma série de
As danças negras da cidade do Rio traços religiosos e culturais, uma mes·
de Janeiro, na primeira metade do sé­ ma base lingüística e um mesmo siste­
culo XIX, realizavam-se nas festes re· ma de parentesco, que possivelmente
ligioSAS ou acontecimentos sociais, co­ permitiram a formação de uma deter­
mo as coroações ou nascimentos de minada "identidade banta" no Sudeste
reis, todos eles ótimas OCAsiões para o do Brasil (Slenes, 1991/1992:53-59).
encontro dos escravos. O oficio do sub­ Com esta perspectiva, mesmo em
delegado e a resposta da Câmara pro­ 1866, podemos supor que os ''batu­
curaram dar ênfase ao fato de que os ques: (termo que também tem origem
batuques eram apenas "inocentes na Africa Central), realizados como
divertimentos". Contudo, é dificil pen­ uma prática religiosa e lúdica, seriam
sar que em meados do século XIX esti­ uma ótima oportunidade não só para o
vesse tão clara esta separação entre o encontro entra os representantes dos
sag".do e o profano fia. danças de "pre

povos da Africa banta e seus mais di-


tos". As próprias declarações do fiScal retos descendentes, como também pa­
indicam o caráter religioso dos batu­ ra a troca com o. negros de outras
ques, porque eles acontecia m desde ju­ regiões e etniAS.
nho, época do início de um importante Em termos propriamente religiosos,
ciclo de festes católicas no Rio de Ja- os povos de origem banta oompartilham
nelro, que começava com as comemo-

o chamado oomplexo cultural ventu­


rações do Divino Espírito Santo, pas­ ra/desvent. ura
sava pelos populares santos católicos, constante emergência de movimentos
Santo António, São João e São Pedro, religiosos, que reoombinam e difundem
e terminava com as festes para Santa­ entre as oomnnidades da região novos
na, exatamente quando os "batuques" símbolos e rituais, objetivando trazer
se tornavam mais intensos. um novo ciclo de fortuna e felicidade. O
Provavelmente, para as tolerantes importante é que este processo não im­
autoridades da cidade, a ênfase nos ba­ plica o abandono da antiga religião, mas
tuques oomo divertimento era a única a jncorporação e aceitação de símbolos
alternativa de se admitir a sua realiza­ e ritos "estrangeiros" (Craemer, Vansi·
çáo e uma forllla de desvalorizar as na e Fox, 1976).
práticas religiosas negla5, CircWlSCre­ Ao serem obrigados a viver no Rio de
vendo-as num universo inconseqüente, Janeiro, os africanos de origem banta e
quase infantil e, portento, oontroláveL seus descendentes iriam tentar de algu­
Para os praticantes dos vários batuques mA f01'1119 diminuir o infortúnio (a des·
de Santana, entretanto, os significados ventura) e encontrar meios para reali­
poderiam ser bem diu,rentes.

zar seus valores maia importantes (a
Em 1866 a população escrava da ventura): eaúde, fecundidade, seguran­
cidade ainda sentia os efeitos do enor­ ça física, harmonia, poder, status e ri­
me fluxo de africanos chegados até queza. Apesar da escravidão, a cidade
1850. Uma parte grande dos escravos do Rio de Janeiro oferecia vários bons
192 ESTUDOS mSTÓRICOS -1994/14

espíritos que podiam contribuir para a mundo invisível. Santana, por sua vez,
boa fortuna, os diversos santos católioos a avó de Jesus Cristo, representada
e S1las imagens. Defende Mary Karash por uma senhora sentada ensinando à
que esta operação não significava neces­ sua filha Maria um lição, era um
sariamente a conversão dos escravos, atraenta fetiche para se obter alguns
muito menos o sincretismo religioso - objetivos do grupo, como a proteção
1Ima parte católica e outra parte africa­ familiar, geradora de harmonia, segu­
na - ou o ato de esconder os "deuses" rança e saúde. O respeito aos anciãos
africanos atrás das santas imagens. e a08 mais velhos é praticamente uni­
Significava, principahnente, a incorpo­ versal nas culturas africanas (Slenes,
ração das imagens católicas, dos novos
,
1991/1992:61 e Gomes, 1993:355).
símbolos, à religião da Africa Central Negociando com 08 vizinhos e auto­
Esta flexibilidade tornou-se a marca da ridades a realização de 811as manifes­
prática religiosa dos africanos e seus tações, "diverlindo-se" em dias de san­
herdeiros no Rio de Janeiro (Karash, tas católicas ou, mais apropriadamen­
8
1978:261-284). te, incorporando suas imagens e feti­
Dentre 05 vários santos que encon­ ches, os "pretos" conseguiam manter
traram seguidores entre a:I escravos ca­ suas tradições ao mesmo tempo que
riocas, Santana e o c�pírito SantoU ocu­ criavam identidades próprias, como os
9
pavam lugar de destaque. Santana, "batuques", que mais tarde se amplia­
mãe de Nossa Senhora, possuía nma riam e contribuiriam, através do "sam­
imagem na igreja de São Gonçalo, onde ba", para a construção da identidade
se reuniam várias irmandades negt'8S. coletiva da própria cidade (Carvalho,
Na igreja que recebeu o seu nome, havia 1986:136). No fundo, com seus "batu­
1Ima antiga tradição dos escravos de se ques, cantorias e danças", desencoraja­
encontrarem para eventos sociais aos vam os intolerantes, burlavam a re­
sábados. O Divino Espírito Santo, por pressão, diminuíam as agruras da es­
sua vez, sem deixar de perder sua iden­ cravidão e afirmAvam a sua existência
tidade específica, representada por1lma na cidade do Rio de Janeiro (Reis e
pomba ou por um pássaro de prata, Silva, 1989:53).
provavehnente foi incorporado e
reconhecido como os espíritos centro­
africanos encontrados nos pássaros, os
que marcam O limite entre a vida e a 4. Os casos do Divino
morte (Karash, 1987,275).
Em 1866, como vimos, os "batuques" Várias irmandades pela cidade
aumentaram no dia de Santana, em prestavam homenagens ao Divino Es­
locais muito próximos da sua igreja. pírito Santo, mas as grandes festas
Poderia ser uma boa ocasião para os realizavam-se em três locais - no largo
"pretos" "divertirem-se", como havia do Estácio, no largo da Lapa e no Cam­
declarado o delegado. Mas, tendo como po de Santana. A irmandade mais rica
referência a religião centro-africana, é era a da Lapa, mas a festa mais con­
plausível pensar que o grupo dos 50 corrida era a do Campo.
"pretos" reunidos para batucar e dan­ Os preparativos iniciavam-se muito
çar buscava um importante caminho antes. No sábado de Aleluia saíam das
para melhorar SUAS dificeis condições igrejas as famosas folias recolhendo
de vida. A música e o canto eram for­ donativos e anunciando as festas. Elas
mas de cura e de comunicação com o percorriam a cidade com a bandeira do
FESTAS REUGlOSAS NO RIO DE JANEIRO 193

Divino e o Imperador em deStaque, reis, ou com a chegada dos africanos da


geralmente uma criança eleita todo Lampadosa, que, cantando suas músi­
ano. Desses foliões, alguns tocavam cas, vinham homenagear o Divino. Tu­
pandeiro, outros viola e tambor, sendo do teCinjnava sempre com muitos fogos
que também estava presente a fanhosa de artifício (Coaracy, 1965:167)
música dos barbeiros, composta de es­ Mello Moraes Filho, o maior cronis­
cravos negros, que ensaiavam dobra­ ta da festa, descreve, provavelmente
dos, quadrilhas e fandangos (Fazenda, para os anos de 1840/50, outras varia­
1920; Coaracy, 1965; Almeida, s/d). das atrações das barracas, como lei­
Misturando em doses variadas uma lões, cenas acrobáticas, cosmoramss
devoção religiosa, uma corta imperial (vistas de regiões diversas observadas
popular e músicas profanas, a festa no por lentes que as ampliavam), mági­
Campo de Santana ainda prometia cas, um bezerro de cinco pernas, traba­
mais. Assinala Câmara Cascudo que a lhos de equihôrio, exercícios eqüestres,
popularidade do Imperador do Divino tablados para a dança e ambulantes
era tanta que motivou José Bonifácio a vendendo de tudo. Os saltimbancos e
decidir pelo título de Imperador para o os circos de cavalinhos eram uma gran­
futuro chefe político do país (Cascudo, de atração. Pela manhã, saíam pelas
1979:294). ruas anunciando o que aconteceria à
A duração de festa variou muito ao noite: dançarinas de corda, ginastas
longo do século. XIX. Em geral, a ir­ dando saltos mortais por sete e nove
mandade requisitava a autorização da cavalos, macacos e palhaços, um ver­
Câmara para realizar as comemora­ dadeiro circo.
ções do dia de Pentecostes (dia do Es­ Segundo Mello, entretanto, a maior
pírito Santo) até o de Santana, em 26 das barracas era a do Teles, a famosa
dejulho, o que muitas vezes significava "Três Cidra. do Amor', "freqüentada
mais de dois meses de atividades. pela plebe e burguesia, pelo escravo e
Além das novenas, missas solenes e a família, pelo aristocrata e homem de
Te-Deum, armava-se o "Império", um letras". Ali apresentavam-se os teatri­
pavilhão com uma capelinha ao fundo nhos de bonecos, comédjas, cantorias
e terraço na frente, onde, em seu trono, de duetos, mágicas e ginástica. O tea­
o Imperador do Divino recebia as ho­ tro do Teles era iluminado a velas e a
menagens dos seus ''súditos''. No Cam­ azeite e pagava-se 500 réis a entrada,
po de Santana e na Lapa o "Império" com direito a uma rifa. Ele próprio,
chegou a receber uma construção defi­ "homem inculto e gracioso", apresenta­
nitiva de pedra e cal. Mesmo sem estar va-se fazendo mágicas, engolindo fogo
programado nos compromissos, ou e espadas e representado comédias de
anunciado nos jornais, '! festa incluía Martins Pena, que, aliás, costumava
coretos de música, feira livre, banacas aparecer por lá, juntamente com João
de sorte, comidas e bebidas, jogos e até Caetano, Gonçalves Dias e outros im­
"batuques". As negras com seus tabu­ portantes bacharéis. Em seguida vi­
leiros vendiam cuscuz e cocadas, angu nha o espetãculo de bonecos, gênero
ou mocotó. Para o final do século XVIII que tinha enorme popularidade. Conta
e início do XIX, Coaracy registra a pre­ Mello Moraes duas aplaudidas peças,
sença das congadas, lutas de mouros e a Roda de fiar e a Criação do mundo,
cristãos, muito barulho e alegria, in­ que, cheias de palavras com sentido
telTompida de vez em quando com a dúbio e sensuais, acabavam com re­
visita de autoridades, como os vice- quebros de chula, catereté e umbiga-
194 ESTUDOS IDSTÓRlCOS - 1994M

das, sendo que na segunda ainda des­ aponta a destruição do "Império" per­
filavam um padre e personagens bíbli­ manente, para dar lugar à construção
cos (Moraes Filho, 1979:117-127). Por do Quartel, logo após a chegada da
último, entrava em cena um jongo de famüia real, como principal motivo de
bonecos negros que, "ao ferver de um seu enfraquecimento. Mello Momes já
batuque rasgado e licencioso", canta­ afirll!a que até o ano de 1855 "nenhu­
vam o estribilho: ma festa popular no Rio de Janeiro foi
mais atraenta". Provavelmenta seu
Dá de comê ·marco é a demolição da sede da irllla n­
Dá de bebê dade, a igreja de Santana, para a cons­
Santa Casa é quem paga trução da Estrada de Ferro D. Pedro II
A você! nessa mesma época. Entretanto, com
uma sede provisória, a igreja foi trans­
Com todos esses variados aconteci­ ferida para bem perto, ao lado do Ros­
mentos, a festa do Divino reunia 08 in­ sio Pequeno, futura pmça Onze, e a
gredientes da festa mais popular da ci­ irxnsnclade continuou organizando as
dade: as atrações espetaculares e ilusi.,. festas no Campo de Santana. Lima
nistas desafiavam a simplicidade do Barreto, por sua vez, em Feiras e ma,.
dia·a�ja; muita música, dança, sensua­ fuás, com uma abordagem bem mais
lidade, comida e jogos completavam o política, creditou a responsabilidade
ambiente profano de uma festa religi.,. pelo fim das "folganças" de junho no
58. A presença e a vivência da festa por Campo de Santana às novas diretrizes
diferentes setores sociais também ga.. da República perseguindo as manifes­
rantia que ela fosse um local de encontro tações populares (Barreto, 1956).
e, principalmente, de troca e circulação Acompanhando as licenças para fes­
entre as diversas manifestações cultu­ tas no século XIX, foi possível localizar
rais (Soibet, 1994:19-25): do batuque ao os momentos marcados pela tradicio­
teatro de Martins Pena; do ambulante nal toleráncia e delimitar aqueles em
que tirava a sorte aos exercícios eqües­ que se procurou estabelecer algllm tipo
tres e cosmorarnas internacionais. Era de controle. lO Da mesma for",a que
11m local, como diria Bak htin, onde o para os batuques, numa conjuntura
povo se tornava imortal, onde constan­ nacional ameaçada por insurreições
temente se renovava e desafiava em escmvas, o juiz de paz da freguesia de
plena pmça pública os poderes consti­ Santana recomendava em maio de
tuídos através da abundáncia, liberda­ 1836 que a Câmara não autorizasse a
de, irreverência e ironia, expressas MS construção das barracas para a festa
umbigadas. nas peças sobre a criação do do Divino, pois os "ânimos estavam
mundo, Das saudações ao "Imperador" muito indispostos (... ) e é muito mais
profano e nos estribilhos abusando da proficuo prevenir os ajuntamentos que
caridade da Venerável Santa Casa de separá-los (...) pelo interesse da tran­
Misericórdia (Bakhtin, 1987, p. 223). qüilidade pública". O problema chegou
ao próprio regente que, através do mi­
nistro dos Negócios da Justiça, orde­
Por uma história do Divin o nou que a Câmara seguisse as orienta·
ções do juiz e só permltisse as barracas
Os próprios memorialistas não che­ nos três dias da festa, e não com muita
garam a um acordo sobre as razões da antecedência. Pouco tempo depois, em
decadência da festa. Vivaldo Coaracy 1838 e 1839, as licenças continuavam
FESTAS RElJGlOSAS NO RIO DE JANEIRO 195

a ser dadas apenas para três dias, e os Novos usos e costumes n o Campo
proprietários eram obrigados a Assinar de Santana
um tel'lIlO de "não pernlÍ tir ajuntamen­
tos". Mas, a partir dos anos 40, as Por iniciativa da própria Câmara
licenças voltam a ser concedidas sem Municipal, que vinha discutindo dife­
condições e até por um més ou um més rentes projetos desde o final dos anos
e meio, retomando a festa o brilho dos 60, e com o apoio do Ministério do
velhos tempos e comprometendo as ex­ Império, que acabou entrando com o
plicações dadas por Vivaldo Coaracy. financiamento, o famoso Campo de
Contudo, elas não mais deixaram de Santana entrou em obras em 1873.
receber críticas, se é que um dia isto Com isso, a festa passou a ser realiza·
deixou de acontecer. O fIScal da fregue­ da no adro da igreja de Santana e
sia de Santana, por exemplo, em 1849 circunvizinhanças, não muito longe do
tentou convencera Câmara a não apro-­ antigo local, mas O suficiente para dei­
var as barracas, pois promoviam "de­ xar de ser a ma is concorrida festa da
sordens, desrespeito às leis, violência e cidade. O Campo de Santana, pelo seu
anarquia". tamanho e posição cenbal, facilitava a
Acrescentava ainda que "esta festa popularidade da festa; era ali que ela
de aldeia, no centro da cidade capital sempre havia ocorrido... A irmandade
do Império, é já olhada pelo homem sabia que a realização de sua festa
civilizado como imprópria", Não conse­ naquele local era fundamental, e os
gui descobrir se este funcionário da seus insistentes pedidos de licença
prefeitura era o mesmo que pretendeu comprovam isso, pois afirmam que se·
multar os batuques alguns anos mais ria mais cômodo para o público que em
tarde. De qualquer forllla, os fIScais da "glande número comparece às festivi·
populosa freguesia de Santana, por dades quando são feitas no Campo de
suas opiniões, pareciam representar Santana". Em uma solicitação de feve­
na cidade uma posição bem pouco tole­ reiro de 1873, feita com uma antece­
rante. dência incomum, a irmandade apela
Os anos 1870, finalmente, foram para a sua própria história e para uma
cruciais para o futuro da festa do Divi­ prática católica antiga que devia ser
no. Por um lado, assistiu-se à retoma­ respeitada:
da da construção da igreja de Santana,
e, ceriamente, ao revigoramento da ir.. "estas festividades se fazem desde
mandade, que naqueles anos solicitou muitos anos, transmitindo-se das
autorização para realizar tudo o que a gerações passadas às presentes, o
festa tinha de mais popular: Império, zelo e a Religião Católica de nossos
barracas, arraial de feira franca e fogo Progenitores que sempre foram au­
artificial, para durar até o dia de San­ xiliados pelo antigo Senado ..."
tana, 26 de julho!
Por outro, encontramos indicações Em 1874, a Cãmara ainda concedeu
de que a tradicional toleráncia e convi­ que se levantassem coretos, jogos pú­
vência com a festa iria conviver com blicos e barracas na área do Campo,
algumas ações intolerantes mais orga­ mas bem em frente à Secretaria da
nizadas, embora ainda indiretas e am­ Guerra, que logo protestou e pediu pa­
bíguas, tanto por parte do governo mu­ ra que no futuro não se permitisse tal
nicipal como de autoridades eclesiásti­ licença naquele local. Naquele ano a
cas. festa se dividiu, levantaram-se bana-
196 ESTUDOS msTÓrucos -1994114

cas no Campo de Santana e ao redor da pavões, cisnes, irerês e cotias, das


igreja, para onde ela acabou sendo quais restaram poucas sobreviventes
transferida definitivamente depois da ao tempo. O novo jardim foi inaugura­
inauguração da nova praça. do em 7 de setembro de 1880, com a
A decisão de ajardinamento e gl'a­ presença do Imperador e grande públi­
deamento do Campo de Santana aten­ co, em comemoração à Independência
dia a variadas reclamações sobre o seu Nacional (Gerson, 1954; Amaral e Sil­
11
mau uso, inclusive como depósito de va, 1905; Garcia Junior, 1938).
sujeiras, que desde os anos 1850 se Muito embora não se perseguisse
faziam nos jornais. O Campo de San­ diretamente a festa do Divino Espírito
tana, dizia lima notícia publicada no Santo, esboçava-se seu controle indire­
Diário do Rio de Janeiro no dia 8 de to através dos "melhoramentos" urba­
janeiro de 1850, "era o coração da pri­ nos reclamados e impedia-se, no mes­
meira cidade da América Meridional e mo sentido, a manutenção do maia im­
poderia se tornar uma das ma is belas portante espaço público popular cario-
,

praças do universo". ca da época. E claro que as festas reli­


As obras completaram um processo, giosas comandadas pelas irma ndades,
que se iniciara no inicio do XIX, de se cuja expressão máxima era o Divino,
edificar ao redor do Campo 05 principais não acabaram. Mas, certamente, en­
marcos do poder imperial, como já vi­ fraqueceu-se o seu potencial de atrair
mos. Foram, iguAlmente, um importan. todos os habitantes da cidade para
te sinal de que a antiga sociabilidade, uma mesma comemoração e local. Ou­
praticada nas ruas e festas de il'manda­ tras manifestações, paralelamente,
des, começava a ser limitada e afastada aumentaram em muito sua popu­
do centro do poder, expressando 11m no­ laridade em direção ao final do século
vo tipo de ocupação, recreação, encontro XIX e, de alguma forma, substituíram
(os passeios "familiares'1 e saúde (em o espaço cultural deixado pelo Divino
busca de ar puro) nos espaços públicos. Espírito Santo. Foi este o caso do Car­
Sem dúvida, esse processo ligava-<;e a naval e da festa da Penha. Esta última,
lima tentativa de af)J"mação e deleite da apesar de ser urna tradicional come­
aristocracia imperial, impedindo nes­ moração religiosa organizada pela ir­
ses áreas outros usos e costumes. No mandade, ocorria numa área bem dis­
caso do Campo de Santana, além de a tante do centro da cidade. Sem dúvida,
histórica festa do Divino ter sido no final das contas, cercou-se o Campo,
inviabilizada, foram demolidos o famo­ limitou-se o Divino, mas não se conse­
12
so "chafariz das lavadeiras", ponto de guiu acabar com a festa popular...
encontro e trabalho de mulheres escra­
vas e livres pobres da cidade, e o popular
Teatro Provisório. Catolicismo reformado e
Com o apoio do jovem engenheiro religiosidade popular
Pereira Passos, o botânico francês
François Glaziou foi encarregado da Para a transforillação das festas re­
obra e projetou um grande parque à ligiosas na cidade do Rio de Janeiro foi
inglesa, ornado com alamedas, lagos e fundamental também uma ação mais
grutas artificiais, sem deixar de apro­ intolerante em termos propriamente
veitar motivos oferecidos pela própria religiosos, ou seja, uma ação empreen­
flora brasileira. Era grande também a · dida por autoridades da Igreja. Na se­
quantidade de anima is, como veados, gunda metade do século XIX situa-<;e o
FESTAS RELIGIOSAS NO RIO DE JANEIRO 197

irúcio de um movimento de reforma da brações das missas em homenagem ás


prática católica, entendida em seu sen­ almas dos finados irmãos ou ao próprio
tido tridentino e rorno nizante, marea­ santo padroeiro; de organizar cultos
do pela maior aproximação com Roma para a ostentação e não para a santifi­
e pela moralização do clero (Gomes, cação dos fiéis; de manter os compro­
1991; Azzi, 1977). missos muito mais preocupados com o
Recentemente, Francisco Gomes, mundo temporal (seus bens, imóveis,
em seu trabalho sobre a Reforma Ca­ cargos, disputes eleitorais) que com o
tólica na Diocese do Rio de Janeiro, mundo espiritual e a caridade. As fes­
mostrou que os grandes objetivos des­ tes organizadas pelas irmandades, por
tes reformadores romanizantes, desta­ sua vez, foram vistas apenas como
cando·se no Rio de Janeiro a ação do meios de mostrar riqueza e poder; suas
bispo dom Lacerda, eram "reforçar a músicas profanas e sensuais, "com ce­
estrutura hierárquica e piramidal da nas teatrais", responsabilizadas pela
Igreja no Brasil", diminuindo o poder perda do espiei to religioso e pelo esque­
dos leigos organizados nas irmandades cimento de que o mais importante
e do próprio Estado; incentivar um no­ eram os sacramentos da confISSão e da
vo clero que substituiria o antigo, libe­ comunhão. Nos anos 1880, as críticas
rai e regalista, e, através dele, fOImar permaneceram e O Apóstola chegou a
os católicos num modelo de Igreja tri­ noticiar alguns conflitos abertos do bis­
dentina, sacralizando os locais de culto pado com certas irmandades, eviden­
(Gomes, 1991:444). ciando que elas estavam tentando
l3
O combate dos católicos reformado­ manter sua autonomia.
res no Rio de Janeiro ás irmandades Observando com atenção todas es­
pode ser acompanhado através do jor­ sas críticas presentes no jornal católi­
nal O Após/ola em seus diversos artigos co, podemos perceber que elas estão
e editoriais, principalmente a partir de principalmente preocupadas com a au­
1873, após o acirramento do conflito toridade leiga sobre o culto e com as
. . .
perlgosas consequenc19s que 1S'30 gera-
- ...

entre a autoridade dos bispos brasilei­


ros, a maço naria e o governo imperial. va. Mais do que acusações contra a
A principal estra tégia usada pelo prática religiosa popular, se quer inter­
jornal foi a publicação de severas críti­ ferir na liderança e orientação do culto.
cas às irmandades. Porém, não se Contudo, até mesmo esta interfe­
abriu mão do apoio ás que seguiam as rência não teve condições de ser com­
normas da Igreja, da divulgação das pleta. Como salientou Francisco Go­
corretas comemorações e festas, como mes, os recursos eram limitados, prin­
também da inteligente medida de não cipalmente pela dependência em rela­
se noticiar as festas organizadas exclu­ ção ao Estado, que autorizava e prote­
sivamente pelas irmandades. Em ge­ gia as irmandades, e pela ausência de
ral, as críticas apontavam a presença um clero romanizado numeroso (Go­
de maçons nas irolandades e a ausên­ mes, 1991:556-560). Mmal, o catoli­
cia do perfeito sentimento católico, de­ cismo leigo era também o oficial...
monstrado pela disposição de não-obe­ Paralelamente, o catolicismo estava
diência ao papa, ás autoridades dioce­ sendo duramente atacado pel06 libe­
sanas, ou mesmo aos vigários das igle rais, maçons, anticlericais e protestan­
jas. As irmandades também eram acu­ tes, através da imprensa e no próprio
sadas de não estar fazendo valer os Cong"*"'o Nacional, como responsável
seus compromissos no tocante às cele- pelas dificuldades de modernização do
198 ESTUDOS lUSTÓRlCOS - 1Q94!1(

pais e por atrair apenas a população carregados d'água com seus burIt>g
ignorante e analfabeta.14 O jornal O e os clássicos quatro barris que cons­
Apóstolo, na luta contra essas forças tituem a carga d'água para a lava­
'mternacionais", consideradas inimigas gem (...) Já desde o amanhecer o
da religião e da Igreja, meslllo que criti­ tamplo está franqueado às devotas
casse e desvalor iz.asse a prática católica lavadeiras (... ) Se o católico sabe que
não rornanizada e leiga, precisou refo.... nem tudo é milagre (referindo-se à
çar o catolicismo como um todo e, Assim, sala dos milagn's), tudo edifica e
nunca pôde considerar aquela prática encanta, todo observador sente-se
como um sistema religioso divergente ali vivamente tocado pela fé viva e
(Gomes, 1991:581-588). autêntica das multidões (... ) A nós
Procurando aprofundar esta última compete somente reconhecer, que
direção, foi possível localizar no jornal ali, no templo do Sr. do Bonfim, na
O Apóstolo um importante espaço de festa de seu santo nome, todo o joe­
tolerância no pensamento e ação católi­ lho se dobra..."
ca reforlllsdora. Não uma tolerância pa­
ra com as innanclades autônomas, pois, Outro sentido desta tolerância pode
como vimos, estas foram duramente cri­ ser encontrado na difícil tarefa dos ca­
ticadas e deslegitimadas, mas para com tólicos reformistas de terem que manter
as prátiCSls religiosas populares e afro­ a prática do culto externo, presente nas
brasileiras, e, fundamentalmente, e isso próprias determinações de 'frento, sem
é muito importante, para com os pró­ ficar subordinados às il'l!1andades. Pre­
prios populares. Na luta contra o mate­ cisavam fazer frente ao avanço do ''ra­
rialismo, a liberdade de culto, o CSlsa­ cionalismo" do século e, ao mesmo tem­
rnento e o registro civil, acabav8-ee va­ po, através da popularidade das procis­
lorizando a tradição popular católica do sões, responder às críticas dos que con­
país, como base para a própria naciona­ sideravam essas práticas um atraso pa­
lidade brasileira e em oposição a tudo ra a civililBçãO do país. Ou seja, os
que era importado. "bons" católioos foram obrigados a de­
Uma das fOl'was de tolerância foi a fender o catolicismo da "mas"" ignoran­
valorização das atitudes autênticas da te e analfabeta"; a mostrar aos protes­
fé popular. Assim, por exemplo, mesmo tantes que "não havia idolatria por par­
que se combatesse o jogo e as bebidas, te dos católicos", que as proc issões "não
procurava-6e deixar claro que nâo se eram opostas à civiJização do século", e
queria uarrefecero entusiasmo do povo", que "as pompas do catolicismoJ} e "o culto
que concorria em grande nÚmero às dos Santos eram benéficos para o povo"
festas. Comentando a festa de Nosso e para o próprio governo, evidenciando,
Senhor do Borúun em Salvador, quatro ao mesmo tempo, a gl1lnde força do culto
artigos doApóstolo no mês de janeiro de católico e a harmonia social do país.15
1888, publicados na seção de varieda­ Mais ainda, para combater os seus
des, refletem e expressam exemplar­ maiores inimigos, O liberalismo e o pro­
mente a admiração por aquela manifes­ testantismo, O Apóstolo foi veiculo de
tação religiosa, independentemente das um tipo de tolerância que complemen­
exigências da ortodoxia: tava todas as outras. Afirmava a exis­
tência de uma nacionalidade católica,
''Desfilam também, partindo do ar­ incorporando todos os brasileiros, in­
rabalde do comércio em longa pro­ clusive os escravos (em geral, nâo ''tão
cissão, crioulos e africanos bons católioos assim''), numa 56 fami-
FESTAS REUClOSAS NO ruo DE JANEIRO 199

lia, com uma mesma religião, costu­


mes e língua. Desta posição, inclusive, 5. Conclusão
emerge, .principalmente nos anos
1880, um combate radical contra a imi­ Procurei demonstrar ao longo deste
gração estrangeira e uma defesa da artigo, através de uma análise mais
educaçao
- dos mgenuos
' - t 16
e liberAS. detalhada sobre os "batuques" e festas
Em meio a uma política religiosa religiosas na cidade do Rio de Janeiro,
mais ortodoxa, em princípio mais in� representadas pela festa do Divino Es­
lerante, que estabelecia o catolicismo pírito Santo, que, apesar das mudan­
certo, o romanizado, a tolerância inter­ ças em relação à vivência religiosa co­
na foi reconhecida como uma importan­ lonial e do estahl>lecimento de algumas
te arma na luta contra outlas religiões polfticas repressoraa, sempre se man­
e ideologias estrangeiras. Neste contex­ teve um caminho e uma possibilidade
to, o popular e, mais surpreendente­ para a tolerância religiosa no século
mente, os libertos passaram a ser vistos XIX. Mesmo com as perspectivas de
como aliados na defesa do catolicismo. controle das autoridades e posturas
É claro que era 11m aliado de segunda municipais sobre os "batuques" e fes­
categoria, posto que visto como infantil tas do Divino; mesmo com as perigosas
e ma is do que nunca necessitado de uma conjunturas políticas do século XIX;
tutela, como a do clero romanizado. Não mesmo com o aprofundamento da se­
podemos descartar a hipótese de que paração entre 08 "catolicismos"; e mes­
esta perspectiva dos reformadores, pre mo com a criação de novos locais de
senta no jornal O Apóswlo, objetivasse sociabilidade e diversão, em prejuizo
mostrar o papel, a eficiência e a moder­ da festa do Divíno Espírito Santo no
nidade do catolicismo, capaz de discipli­ Campo de Santana, busquei pensar
nar os populares e ex-€SCmvos com no­ como foi possível a continuidade de
ções de obediência e resignação. prâticas religiosas leigas, populares e
Entretanto, em um outro sentido, negras, a despeito de todas as críticas
esta posição talvez represente uma das que receberam.
poucas vozes que, mesmo depois da Assim, destacaram-se o caráter pes­
Abolição, incorporou os libertos como soal das petlllissões, exemplarmente
"nacionais" e não como Udegenera­ expressos nos casos dos "batuques", a
dos", incapazes de serem educados superficialidade da intolerância, as
(Schwarcz, 1987, e Azevedo, 1987). Afi­ ambigüidades da repressão indireta às
nal, escrevia o editorial doApóswlo em festas religiosas tradicionais, que al­
8 de julho de 1888, após um mês_de ternavam interdições e convívio, e 08
comemorações populares pela Lei Au­ dilemas de um catolicismo nacional,
rea, "todos éramos irmãos e fIlhos do popular e ofIcial. Tudo isso, sem dúvi­
mesmo Deus", no maior país católico da, esteve presente na política dos re·
do mundo, o "Império de Santa Cruz", presentantes da Igreja e das autorida­
apesar de nem todos serem tão "bons" des municipais da cidade no Rio de
católicos assim.. Janeiro no século XIX. Entretanto, náo
A tolerância presente no pensamen­ se pode deixar de considerar a força de
to católico reformador só pode ser com­ persistência das heranças africanas e
preendida nesta corüuntura específica das exuberantes manifestações da fé
do fInal do século XIX e em todas as popular, expressas nas festas religio­
dimensões analisadas: religiosa, social sas que pel"maneceram. Ambas, ape­
e política. sar das perseguições, críticas e estra-
200 ESTUDOS HISTÓRICOS - 19!l411.

nhamentos, de alguma forma foram cismo popular", sem entretanto muita dis­
aceitas e incorporadas à vida da cida­ tinção em relação aos outros oonceitos C'Ner­
de, mesmo que em decorrência de uma neto 1987:17-18).
estratégia política e de controle mais 2. As Contes básicas de minha pesquisa
eficaz que a simples repressão... são: o jorne1 cat6lico O Apóstolo, entre
Lima Barn,to (1881-1922) lembrava­ 1866-1901, período de existência dojornal;
lS8 das '1JaI'l'aquinhas que se 81'1navam o jorne1 Diário do Rio ele Janeiro nos períe>­
no Campo se Santana", no largo em dos 1850-1853 e 1869-1871; e as licenças
frente ao Quartel-General, no tempo em para Cestas requeridas pelas irmandades à
que era menino. Responsabilizou a Re­ Câmara dos Vereadores entre 1830 e 1910
(Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janei­
pública por ter acabado com "aquela
ro). Para este artigo Coram tembém muito
folgança do mês". Entretanto, a festa do
importantes memorialistas citados
Divino Espírito Santo no Campo havia
08 na

bibliografia.
sido condenada muito antes de 1889...
Mais ainda, nos anos 1880, a Câmara,
,

3. Ver lembém Reis, 1991:54. E prová­


com apoio da polícia, não havia autori­ vel que estas mudanças igualmente signi­
zado a Bl'!iISçãO de barracas ou a pror­ ficassem wna adaptação dos oompromis-
808 das irmandades às divisóes políticas do
rogação de suas licenças, pois elas na
Brasil independente, entre cidadãos e nãe>­
verdade agenciavam 'jogos proibidos",
cidadãos. Outra mudança que pode indicar
as bal'l'acas da sorte.
um ajuste aos novoI tempos é a inclusáo do
Não pensem, contudo, que IJma Bar­
beneficio do ensino gzatuito para os filhos
reto estava de todo errado. Ele deve ter
dos irmáos pobres. A instruçõ.o gratuita
assistido, sim, a uma festa, a única de era uma diretriz da política imperial, em­
que temos notícia, que se realizou entre bora quase nunca executada (Martinez,
maio e julho de 1888. Dizia o jornal O 1994). Os compromissos consultedos Ce>­
Apóstolo que alguns vereadol8S não sa­ ram das seguintes irmandades: Glorioso
biam e não entendiam como a C9mara ArcaIUo São Miguel e Almas, 1848; Glorie>­
havia dado licença para a 'jogatína", so Mártir São Gonçalo Garcia, 1853; Santo
"sob a capa da religião". Comentava-se, Antônio doe Pobres e Nossa Senhora dos
denunciava o mesmo jornal, que o mi­ Prazeres, 1859; SantíSl3ímo Sacramento
nistro da Justiça, o conselheiro Feneira da Freguesia de Sentana, 1865; Santa Ce­
VJana, havia passoalmente pel'mitido a caia, 1869; Divino Santo da Lapa do Des­
construção das barraquinhas.17 Prova­ teno, 1873; Filhos da Imaculada Senhora

velmente, evidenciando as ambigüida­ das Dores 1875; Santíssimo Sacramento


da Antiga Sé, 1877; Santíssimo Sacra­
des do controle e tolerância sobre a fes­
mento da Cendelária, 1881; Nossa Senhe>­
ta, o Conselheiro ainda estava sob os
ra do Rosário e São Benedito, 1891. Embe>­
efeitos das licenças que haviam sido
ra ainda seja ne:eesério maior aproftlDda­
concedidas para as grandes comemora­
mento, é importante destacar um aspecto
ções oficiais e populares pela Abolição
das irmandades populares: a SUB não lon­
da escravidão... ga duração. Isto talvez possa ser explicado
pela carência de recursos e pela necessida­
de de se mudar, constantemente, de sento
protetor (Karash, 1987:272).
Notas 4. Os documentos referentes a esses
"batuques" encontram1i8 no Arquivo Ge­
1. Augustin Wemet adotou a ex}XE!S áo rai da Cidade do Rio da Janeiro, oódice
"catolicismo tradicional" e comenta que ou­ 42-3-14, e na. Atas da Câmara dejulho da
bos autores preferiram a expr:8são "catoU· 1866.
FESTAS RELJGI05AS NO RIO DE JANEIRO 201

5. O dia de Santana é na verdade 26 de longo do período colonial, de 11ma maneira


julho. Presumo que a oonfusão das_ datas geral, a Igreja teve uma relação condes­
deve ter acontecido porque o dia 29 de cendente com 88 festas populares, pois
julho caiu num domingo, quando geral­ eram uma forma de atrair 08 ne6fitos e
mente se realizavam OS "batuques". Deve­ ensinar-lhes 08 ideais da Igreja e do Esta­
se ressaltar que as disputas entre as auto­ do. Entretanto, estava sempre atenta aos
ridades da prefeitura e da polícia não erAm exC"ssoB oontrários às determinações tri­
incomWl.8 neste período. dentinas (priore, 1994, capo 7).
6. Segundo LaUl1l de Mello • Souza, 11. Outrosjardins Coram planejados por
essas duas atitudes estivemrn presentes Glaziou na segunda metade do século XIX:
na cultura das elites desde o início do pe­ Passeio Público, Quinta da Boa VISta, cais
ríodo colonial, sendo que "dominou quase da Glória, dentre outros (Arquivo SPHAN,
sempre a condenação e o horror a ele" inventário de bens tombados). Até o mo­
(Souza, 1986:99). mento levantei a seguinte documentação
7. Esses documentos encontram-se no sobre os projetos de reforma no Campo de
Arquivo Nacional, códice 334, 1833-1840. Santana: jornal Diário do Ri<> de Janeiro,
Localizei ainda 11ma carta que o chefe de meses de dezembro de 1850, janeiro e fe­
polícia, Euzébio de Queirós, envia ao pre­ vereiro de 1851; AGCRJ, documentação
sidente de Câmara da cidade do Rio de sobre Jardins Públicos (códices 15-4-22 a
Janeiro pedindo para avaliar lima propos­ 15-4-54). O primeiro projeto arquitetamco
ta de postura feita pelo juiz de pez de para o Campo foi de Grandjean de Mon­
Jacutinge, em junho de 1833, que proibia tigny em 1827, porém não foi levado adian­
o "uso do tambor na dança do. escravos
te. E bom esclarecer que o Campo de San­ •

deno minada - candomblé - o qual deixan­ tana recebeu diferentes denominações ao


do-se ouvir de uma légua de distância atrai longo do século XIX: Campo da Aclamaçáo,
os eacravos das fazendas circunvizinhas; ap6s a coroação de dom Pedro I; Campo de
podendo de tais reuniões originarem-se Honra no período regencial; novamente
males ..... (Arquivo Geral da Cidade do Rio Campo da Aclamação oom dom Pedro II; 9,
de Janeiro, códice 6-1-25) finalmente, praça da República, em 1889.
Entretanto, até hoje a grande praça é co­
8. Da mesma forma como incorporaram
nhecida por sua designação colonial, Cam­
08 santos católicos, os africanos de origem
po de Santana.
banta iriam incorporar 08 orivÁs dos can­
domblés iorubás-gêges (Karash, 1987, 12. As Cestas da Glória permaneceram
284). Destaca Karash que a flexibilidade bastante conrorridas ao longo do século
dos povos de origem banta contrasta com XIX, até porque contavam com a participa­
a maior rigidez das tradições dos povos da çáo da própria família imperial. Entretan­

cultura iorubá (Africa Central). Uma inte- to, destaca Moraes Filho, elas nunca tive­
ressante e nova perspectiva sobre o "sin­ ram a popularidade do Divino. Sobre as
cretismo" também pode ser encontrada em festas da Penha e o Carnaval, ver Soihet,
Vogel, Mello e Ban-os. Para os autores, o 1994.
sincretismo deve ser visto como "uma fina 13. O jornal O Apóstolo circulou na ci­
arte do compromisso que assenta no pres­ dade do Rio de Janeiro entre os anos de
suposto de um mundo povoado de deuses, 1866 e 1901 e Coi uma espécie de órgáo
os quais é prudente, sempre que possível, oficial do bispado. 'lbdas as críticas podem
cooptar" (Vogel, Mello e Barros, 1993:166). ser encontradas nos seguintes dias: 19 e 21
9. Os santos de maior preferência foram de abril, 19 de maio, 22 de setembro e 27
São Jorge, Santo Antamo de Pádua e São de outubro de 1876, 12 de fevereiro e 22 de
Benedito (Karash, 1987:282). junho de 1879, 27 de novembro de 1881, 1
de agosto e 18 de dezembro de 1886.
10. As licenças a que faço referência se
encontram no Arquivo Geral da Cidade do 14. Verjornal O Ap6stolo, dentre vários
Rio de Janeiro, códices 58-3-35 e 43-4-7. Ao outros dias, 17 de março de 1873, 28 de
202 ESTUDOS HISTÓRICOS - 1004/1(

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15. Ver jornal O Apóstolo, respectiva­
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HOLANDA, Nestor. 1965. Itinerário da
de 1884, 27 de janeiro de 1870, 14 e 21 d.
paisagem carioca. Rio de Janeiro, Le­
fevereiro de 1886.
tras e Artes.
16. Sobre o abolicionismo católico, ver MORAES FILHO, Mello. 1979. Fest"" e
Abreu, 1994. Ver também O Apóstolo, en­ tradições populares no Br""il. Belo Ho­
tre outros dias, 1 de outubro de 1871, 9 de rizonte, Itatiaia.
março de 1884, 25 de outubro de 1885, 3 • SANTOS, Noronha. 1965. As (reguesi""
17 de março e 17 de novembro de 1886, 5 do Rio aJuigo. Rio de Janeiro, Cruzeiro.
e 10 de outubro de 1887, 22 de abril, 25 •
27 de maio e 5 de outubro de 1888. 2. Obras gerais:
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6 e 15 de julho de 1888. Atas de Câmara, fllhos libertos: emancipação e espaço
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Martha Abreu é professora de história
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Ngoma vem: Africa coberta e descober- t6ria na Unicamp .

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