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O GRANDE REAVIVAMENTO
NA INGLATERRA NO SÉCULO XVIII
Paulo Anglada
prisão, pareciam ter sido totalmente práticas da moda nas camadas mais
esquecidas e colocadas na prateleira.” elevadas da sociedade da época e não
Um conhecido advogado cristão escandalizavam ninguém.
da época afirmou que visitou todas
as mais importantes igrejas de Lon-
dres, e que não ouviu “um único dis- A TRANSFORMAÇÃO DA INGLATER-
curso que apresentasse mais cris- RA NA SEGUNDA METADE DO SÉ-
tianismo do que os escritos de Cícero, CULO XVIII
e que lhe seria impossível descobrir, Na segunda metade do século
do que ouvira, se o pregador era um XVIII, a Inglaterra mudou. Foi radi-
seguidor de Confúcio, de Maomé ou calmente transformada. Isto porque
de Cristo!” milhares de pessoas foram transfor-
Os bispos e arcebispos da época, madas. Trabalhadores e membros das
na sua grande maioria, eram homens classes mais elevadas tiveram sua
mundanos; tão mundanos que houve moral e costumes transformados.
casos em que o próprio rei teve de Como diz Nichols, “forte entusiasmo
intervir para restringir a impiedade apoderou-se da vida religiosa da In-
deles. Para se ter uma idéia da situa- glaterra, afugentando a indiferença e
ção, conta-se que, quando a pregação o desinteresse” que marcou a primeira
de Whitefield come- metade do século
çou a incomodar o C
XVIII. “Que uma
clero, foi sugerido mudança, para me-
com seriedade pelo Proclamavam as lhor, aconteceu na
próprio clero que a palavras de fé Inglaterra nos últi-
melhor maneira de
dar um fim à sua
com fé, e a história mos cem anos”, a-
firma Ryle no final do
influência era torná- da vida, com vida. século XIX, “é um
lo um bispo. Quanto C fato que, eu supo-
ao clero paroquial, nho, nenhuma pes-
Ryle afirma que “seus sermões eram soa bem informada jamais tentaria
tão indizível e indescritivelmente negar... Houve uma grande mudança
ruins, que é reconfortante lembrar para melhor. Tanto na religião quanto
que eram geralmente pregados a na moral, o país passou por uma
bancos vazios”. A verdade é que a completa revolução. As pessoas não
situação moral da Inglaterra na pri- pensam, não falam, nem agem como
meira metade do século XVIII era tão faziam em 1750. Este é um fato, que
baixa, que condutas reprováveis e os filhos deste mundo não podem ne-
comuns hoje no Brasil, como a práti- gar, por mais que tentem explicá-lo”.
ca do adultério, fornicação, jogo, Foi nesse período que surgiram as
linguagem obscena, profanação do obras sociais de caráter cristão, as
domingo e bebedice, também não escolas dominicais — “um dos pri-
eram consideradas coisas condená- meiros passos na educação popular
veis na Inglaterra na primeira metade da Inglaterra” —, a abolição do
do século dezoito. Estas eram as comércio de escravos, as reformas
justificação pela graça mediante a fé, vida cristã vigorosa e cheia de frutos;
a necessidade universal de conversão milhares foram profundamente con-
e de uma nova criação pelo Espírito vencidos de seus pecados, foram le-
Santo, a união inseparável da verda- vados ao mais sincero arrependimen-
deira fé com a santidade pessoal, o to, compreenderam a graça de Deus
ódio eterno de Deus pelo pecado e o em Cristo Jesus e por ela foram al-
seu amor pelos pecadores. Eles não cançados; e muitos — que até se
hesitavam em proclamar clara e dire- opunham — foram secretamente in-
tamente às pessoas “que elas estavam fluenciados e estimulados. Foram
mortas e precisavam viver; que se estes os homens e estas, as doutrinas,
encontravam culpadas, perdidas, os quais, nas mãos de Deus, “to-
desamparadas, desesperadas e em pe- maram de assalto as fortalezas de
rigo iminente de destruição eterna”. Satanás”, conclui Ryle, “arrancando
“Por mais estranho e paradoxal que milhares como que tições do fogo, e
pareça a alguns”, afirma Ryle, “o pri- mudaram o caráter da época”. Foram
meiro passo deles no propósito de estes os homens — sinceros e fiéis -
tornar bom o homem, foi mostrar que e esta, a pregação — viva, verdadeira
este era completamente mau; e o ar- e ungida - que aprouve a Deus es-
gumento primordial deles, no sentido colher para reavivar sua Igreja e trans-
de persuadir as pessoas a fazerem al- formar a Inglaterra na segunda meta-
guma coisa por suas almas, era de do século dezoito. Abençoa-nos
convencê-las de que não podiam fa- também, ó Deus, livra-nos da incre-
zer nada por elas”. Eles também dulidade, testifica diretamente em
“nunca recuaram em declarar, nos nosso espírito que somos teus filhos,
termos mais claros, a certeza do jul- pois cremos nisso, derrama o teu
gamento de Deus e da ira porvir, se amor em nossos corações pelo teu
os homens persistissem na impe- Espírito, que em nós habita; concede-
nitência e incredulidade; e, apesar nos a mesma alegria indizível e cheia
disso, nunca cessaram de magnificar de glória. Reaviva a tua obra em nosso
as riquezas da bondade e da com- país.
paixão de Deus e de conclamar todos
os pecadores a arrependerem-se e
voltarem-se para Deus, antes que ________________
fosse tarde demais”. Nota: A maioria das citações e in-
formações deste artigo foram extraídas
CONCLUSÃO do relato sobre o reavivamento espi-
Foram estes os homens e esta, a ritual do século XVIII na Inglaterra,
pregação que Deus usou como ins- escrito por J. C. Ryle. Os três primeiros
trumentos para reavivar a Igreja na volumes (George Whitefield, John
Inglaterra e, assim, transformar com- Wesley e William Grimshaw) foram
pletamente o país. Através desses traduzidos pelo autor desse artigo e
instrumentos de Deus, muitos crentes publicados no Brasil pela Editora
foram levados a renovar sua aliança Clássicos Evangélicos, na série Líderes
com o Senhor e passaram a viver uma Evangélicos do Século XVIII.