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'QG da propina': Crivella é investigado em procedimento


do MP que apura corrupção na prefeitura
Ministério Público investiga a denúncia da criação de um balcão de negócios na prefeitura do
Rio para a liberação de verbas a empresas mediante pagamento

Chico Otavio e Thiago Prado


02/12/2019 - 04:30 / Atualizado em 03/12/2019 - 07:47

Rafael Alves e Crivella, em evento oficial Foto: Reprodução

RIO — O Ministério Público estadual (MP-RJ) abriu um procedimento para


investigar a denúncia da criação de um balcão de negócios na prefeitura
do Rio para a liberação de verbas a empresas mediante pagamento de
propina. A apuração está baseada na colaboração premiada do doleiro
Sérgio Mizrahy, preso pela operação Câmbio, Desligo no ano passado.
Homologada pelo Tribunal de Justiça do Rio, a delação aponta o
empresário Rafael Alves, irmão do presidente da Riotur, Marcelo Alves,
como o operador do suposto esquema no município. O prefeito Marcelo
Crivella é alvo da investigação. Procurados, Rafael Alves e Crivella não se
manifestaram.

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LEIA: Proposta de Crivella na educação deixa conta de R$ 36 milhões por


ano para o sucessor
O procedimento estava paralisado desde julho, quando o presidente do
Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, suspendeu mais de 900
investigações pelo país que utilizaram dados do antigo Conselho de
Controle de Atividades Financeiras (Coaf), atual Unidade de Inteligência
Financeira. Por citar Crivella, o procedimento está a cargo do Grupo de
Atribuição Originária Criminal do MP-RJ, estrutura que age por delegação
do procurador-geral de Justiça, Eduardo Gussem, para apuração de casos
envolvendo pessoas com foro especial junto ao Tribunal de Justiça.
Proximidade: Imagem mostra Rafael Alves e Marcelo Crivella na Barra Foto: Reprodução

Na delação, Mizrahy afirma que Rafael Alves tornou-se um dos homens de


confiança de Crivella por ajudá-lo a viabilizar a doação de recursos de
empresas e pessoas físicas na campanha de 2016. Depois da eleição, o
empresário emplacou o irmão na Riotur e, segundo o doleiro, montou um
“QG da propina” na prefeitura mesmo sem ocupar cargo. “Rafael Alves
viabiliza a contratação de empresas para a prefeitura e o recebimento de
faturas antigas em aberto, deixadas na gestão do antigo prefeito Eduardo
Paes, tudo em troca do pagamento de propina”, diz Mizrahy no anexo 15
da sua delação. O acordo foi homologado pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª
Vara Federal do Rio, e ratificado pela desembargadora Rosa Maria Helena
Guita, do Tribunal de Justiça do Rio, foro responsável por acompanhar
investigações que envolvem prefeitos.
Foto de outro ângulo, que faz parte da investigação, é evidência da ligação do prefeito com o empresário Foto: Reprodução

Cheques semanais

No depoimento, Mizrahy afirma que Rafael Alves lhe entregava


semanalmente cheques oriundos de prestadores de serviço da prefeitura
para posterior recebimento em espécie. Um dos cheques, conta o doleiro,
referia-se à propina paga pela empresa Locanty, especializada em serviços
como limpeza, coleta de lixo e locação de veículos. Embora a empresa não
tenha contratos na gestão Crivella, ainda protesta recursos a receber da
administração passada de um contrato de aluguel de veículos para
reboque de carros.

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Para comprovar o seu depoimento, Mizrahy relata episódios ocorridos nos


dias 10 e 11 de maio do ano passado, logo após sua prisão. Diz que dois
funcionários da Riotur, empresa comandada pelo irmão de Rafael,
estiveram naqueles dois dias na casa de Mizrahy para “resgatar” com a
sua mulher cheques destinados ao pagamento de propina da Locanty. O
doleiro os chama de Johny e Thiago no depoimento. O GLOBO apurou que
seus nomes completos são Jones Augusto Xavier de Brito e Thiago Vinícius
Martins Silva, e que, de fato, estiveram empregados na Riotur naquele
período — atualmente, apenas Thiago continua na empresa municipal,
lotado no gabinete da presidência; Jones desligou-se em julho deste ano da
Riocentro S.A.
LEIA: Após Crivella beneficiar parte da Comlurb, vereadores preparam
emendas para dar estabilidade a 21 mil de empresas públicas

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Como evidências de que os fatos descritos realmente ocorreram, Mizrahy


prometeu entregar aos procuradores um pendrive com imagens dos dias
10 e 11 da portaria do prédio de sua mulher. Além disso, comprometeu-se
a levar ao Ministério Público seu motorista, a quem chama de Dudu, que
diz ter acompanhado a entrega dos cheques destinados ao pagamento de
propina feitos pela Locanty.

Emissários Thiago e Jones: Jovens citados na delação dizem ser ‘melhores amigos’ e aparecem em fotos com acusado Foto:
Reprodução

Mizrahy não detalha na delação o destino do dinheiro que diz ter


repassado para Alves nem se Crivella teria conhecimento do “QG da
propina” descrito pelo delator. A investigação, contudo, já tem em mãos
fotos que mostram a proximidade dos dois e a influência de Alves no dia a
dia do município. Há imagens de Alves e Crivella em eventos e
caminhando juntos na Barra da Tijuca, além de uma postagem em redes
sociais do empresário com os pés sobre uma mesa na sede da Riotur, na
Cidade das Artes, onde seu irmão despacha diariamente.

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Dívida de R$ 15 milhões

Procurado pelo GLOBO, o dono da Locanty, João Alberto Felippo Barreto,


negou que tenha pagado propina para receber restos a pagar do governo
Eduardo Paes. Ele afirma que reclama, por meio de um procedimento
administrativo na prefeitura, o recebimento de R$ 8 milhões referentes a
um contrato de aluguel de veículos para a Secretaria de Ordem Pública. Os
valores atualizados, segundo João, já estariam em R$ 15 milhões, mas ele
diz não ter recebido nada do município até hoje. Embora o procedimento
administrativo esteja aberto desde 2011, segundo o site da prefeitura do
Rio, João até hoje nunca entrou com um processo judicial para receber os
atrasados.
LEIA: Linha Amarela: Entenda a disputa entre prefeitura e Lamsa pela
cobrança do pedágio

Perguntado sobre os cheques que assinou e que estão nas mãos de


Mizrahy, João reconhece a autoria, mas afirma terem relação com outra
operação sua. O dono da Locanty conta que usava um advogado para
comprar títulos da Dívida Pública e abater do pagamento de impostos.
Esse advogado, conta João em sua versão, repassava os cheques para
Mizhay atuar como agiota.

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Procurados desde a semana passada, a prefeitura e Rafael Alves não se


pronunciaram sobre as acusações. O GLOBO não conseguiu localizar os
dois funcionários da Riotur citados por Mizrahy para apresentar suas
versões.

Em nota, o Ministério Público estadual confirmou "que recebeu


documentos oriundos do Ministério Público Federal (MPF) mencionando
autoridades com Foro por Prerrogativa no Estado em delações premiadas
firmadas na esfera federal. Imediatamente foram iniciadas as respectivas
investigações, devidamente judicializadas, que estão sob absoluto sigilo.”

SAIBA MAIS

Da campanha ao mundo do samba: quem é o empresário apontado como operador


de suposto esquema na prefeitura

Em três anos, Prefeitura do Rio deixou de investir R$ 2,2 bilhões na saúde

ll fi d á
Crivella afirma que não responderá mais ao GLOBO

O GLOBO: Crivella deixará de prestar contas aos cariocas

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