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Alemanha, França e Itália também suspendem vacina de Oxford; OMS diz que
risco de não imunizar é maior
Ao menos 17 países europeus e 1 asiático interromperam o uso do imunizante para verificar se ele não provoca efeito colateral
grave; entidades devem dar novo parecer nesta terça

15.mar.2021 às 15h47
Atualizado: 15.mar.2021 às 19h27

Ana Estela de Sousa Pinto (https://www1.folha.uol.com.br/autores/ana-estela-de-sousa-pinto.shtml)


Ana Bottallo (https://www1.folha.uol.com.br/autores/ana-bottallo.shtml)

BRUXELAS e SÃO PAULO Alemanha, França, Itália, Espanha, Portugal, Irlanda e Holanda se uniram a outros oito países
europeus —Dinamarca, Noruega, Islândia, Áustria, Estônia, Lituânia, Letônia, Romênia, Bulgária e Luxemburgo— e
um asiático —Indonésia— e suspenderam temporariamente a aplicação de vacinas
(https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/03/seis-paises-europeus-suspendem-uso-de-vacina-de-oxford.shtml) Oxford/AstraZeneca contra a Covid-19

para se certificarem de que elas não têm ligação com efeitos colaterais mais graves.

As suspensões começaram na semana passada, após casos de morte por trombose na Dinamarca e na Áustria, e se
ampliaram apesar de recomendações contrárias tanto da OMS (Organização Mundial da Saúde) quanto da EMA
(agência regulatória europeia).

As duas entidades afirmam que os dados disponíveis até agora não indicam uma proporção de casos maior que a que
ocorre na população em geral —de um caso a cada mil indivíduos, aproximadamente. Grupos de especialistas de
ambas as organizações se reúnem nesta terça (16), separadamente, para avaliar as informações disponíveis e emitir
novas recomendações.

Segundo a responsável por vacinas da OMS, Mariângela Simão, os lotes sobre os quais foram relatados problemas
foram distribuídos apenas na Europa. Não há suspeitas de problemas com os imunizantes fabricados na Índia —que
fornece para o Brasil— e na Coreia do Sul —de onde virão as vacinas da AstraZeneca adquiridas pelo país no
consórcio Covax.

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) afirmou que está acompanhando e buscando informações junto
às autoridades internacionais sobre possíveis eventos adversos relacionados ao uso da vacina de Oxford. Por meio de
sua área internacional, a agência solicitou informações sobre a investigação promovida na Europa.

Nas bases nacionais que reúnem os eventos ocorridos com vacinas não há registros de embolismo e trombose
associados às vacinas contra a Covid-19, segundo a Anvisa.
Médica da Marinha britânica prepara dose de vacina de Oxford/AstraZeneca em Bath, no sul da Inglaterra; o Reino Unido, pais mais adiantado
na vacinação na Europa, já aplicou mais de 10 milhões de doses do imunizante - Adrian Dennis - 11.mar.2021/AFP

Nesta segunda (15), a cientista-chefe da OMS, Soumya Swaminathan, afirmou que é esperado que as redes de
vigilância acompanhem alertas de efeitos colaterais de medicamentos e vacinas, e que nenhum deles está 100% livre
de provocar reações.

O fundamental, segundo ela, é comparar o risco de ter uma complicação por causa da vacina com o de adoecer
gravemente ou morrer por não ter sido imunizado.

“Mais de 300 milhões de pessoas já foram vacinadas no mundo até agora e não há nenhum caso documentado de
morte relacionado às vacinas. Por outro lado, 2,6 milhões de pessoas já morreram de Covid-19 desde o começo da
pandemia”, afirmou Swaminathan.

Esta é a segunda vez neste ano em que diversos países europeus paralisam a administração das vacinas de
Oxford/AstraZeneca preventivamente. Em fevereiro, Alemanha e França, entre mais de dez países, bloquearam o uso
do produto em idosos (https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/02/franca-polonia-e-suecia-decidem-nao-dar-vacina-de-oxford-a-idosos-antes-de-novos-
dados.shtml), argumentando que faltavam informações sobre seu efeito nessa faixa etária.

Os países voltaram atrás no começo de março, após a publicação de dados que indicavam boa proteção da vacina em
idosos no Reino Unido, onde ela tem sido usada sem restrições.

Mais de 10 milhões de doses do imunizante da AstraZeneca já foram aplicados pelo governo britânico e outros 7
milhões de doses, na Europa.

De acordo com a fabricante, foram relatados até agora 15 casos de trombose venosa profunda (TVP) e 22 eventos de
embolia pulmonar, índices "muito menores do que seria esperado que ocorressem naturalmente na população em
geral".
Phil Bryan, líder de segurança de vacinas da agência regulatória britânica (MHRA), a primeira a aprovar o imunizante
em dezembro do ano passado, afirmou que sua equipe está "revisando os relatórios de perto, mas as evidências
disponíveis não sugerem que a vacina seja a causa".

A trombose é uma doença que leva à formação de coágulos geralmente nas veias das pernas ou da pelve. As
principais causas são a chamada estase venosa (diminuição do fluxo venoso), lesões na parede da veia (geralmente
devido a traumas) e alterações da coagulação do sangue.

Segundo Jon Gibbins, diretor do Instituto de Pesquisa Cardiovascular e Metabólica da Universidade de Reading
(Reino Unido), a trombose venosa é relativamente comum, afetando de uma a duas pessoas em 1.000. Esse número
pode aumentar com a idade e por causa de antecedentes como tabagismo, hipertensão arterial, trauma, câncer, uso
de contraceptivos orais e terapias de reposição hormonal.

De acordo com Gibbins, a Alemanha está investigando casos de trombose venosa cerebral, um tipo raro de trombose
que afeta 5 em 1 milhão de pacientes e causa um acidente vascular cerebral. "Geralmente ocorre em pacientes com
plaquetas anormais que podem se tornar hiperativadas em certas circunstâncias."

O professor afirmou que as circunstâncias específicas na Alemanha ainda não estão claras, e eles aconselham que
qualquer pessoa com dores de cabeça graves e persistentes ou sangramento cutâneo por picada de agulha procure
atendimento médico com prioridade.

Segundo o Ministério da Saúde da Alemanha, a paralisação foi adotada depois que a autoridade responsável por
vacinas no país afirmou que “considera necessárias mais investigações após novos relatos de trombose cerebral em
conexão com a vacinação na Alemanha e na Europa”.

O ministro da Saúde, Jens Spahn, afirmou que houve sete casos relatados, um “risco muito baixo” em comparação
com o 1,6 milhão de doses já aplicadas no país.

O presidente francês, Emmanuel Macron, também atribuiu a suspensão a “medidas de precaução”. Na Itália, onde a
aplicação da vacina já havia sido retomada, por orientação da EMA, na semana passada, o uso foi de novo
interrompido nesta segunda, à espera do comunicado desta terça.

Na Espanha, a agência de medicamentos anunciou nesta segunda que pararia a aplicação de vacinas da AstraZeneca
por 15 dias (https://www.aemps.gob.es/informa/notasinformativas/medicamentosusohumano-3/seguridad-1/2021-seguridad-1/el-ministerio-de-sanidad-suspende-a-partir-de-
manana-y-durante-las-dos-proximas-semanas-la-vacunacion-con-la-vacuna-frente-a-la-covid-19-de-astrazeneca/), embora não haja registro de casos graves no
país.

Segundo o órgão, foram administradas mais de 769.415 doses a vacina no país, e o número de eventos relatados era
muito menor do que os casos esperados na população. A interrupção, porém, foi decidida depois de um relato de
caso de trombose cerebral.

De acordo com o presidente do comitê de saúde pública da Associação Britânica de Medicina, Peter English, não é
incomum que a introdução de uma nova vacina seja interrompida por relatos de eventos adversos.

"É um sinal de que os sistemas de monitoramento de reações adversas estão funcionando; mas, em geral, não indica
que as reações estejam sendo causadas pelas vacinas", afirmou.

Segundo ele, além de comparar as incidências de casos, é preciso entender se há relação causal entre a vacina e os
efeitos adversos.

Para a OMS, é preciso tomar cuidado para não causar pânico e criar preconceito indevido na população contra as
vacinas.

Na Bélgica, por exemplo, país que decidir continuar normalmente com as aplicações do imunizante da AstraZeneca,
o governo afirmou que houve cancelamentos de vacinação após novas notícias sobre suspensões. Os números não
foram informados.
Áustria, Romênia, Bulgária e países bálticos suspenderam a aplicação de um lote específico relacionados à morte de
uma enfermeira austríaca, e não de todas as vacinas da AstraZeneca. Esse lote, de 1 milhão de doses, foi enviado a 17
países.

No Brasil, o Ministério da Saúde também estima a ocorrência de trombose em uma a cada mil pessoas. Estudo de
2015 do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu estima a incidência de embolia pulmonar,
evolução mais grave da trombose, com formação de coágulos no sangue, em 3,9% a 16,6% da população.

Relatos de embolia pulmonar e de eventos tromboembólicos em decorrência da Covid-19 já foram reportados. Por
isso, pode ser também que esses eventos estejam relacionados à Covid, e não à vacina. Não há relatos, até o
momento, de qualquer vacina que cause o fenômeno.

“Os distúrbios de coagulação, tanto os que causam derrames quanto os que causam sangramento ou
trombocitopenia, um número reduzido de plaquetas no sangue, são muito comuns em pacientes com Covid-19",
afirma Stephen Evans, professor de farmacoepidemiologia da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.

Como ainda não há evidência de que as tromboses tenham sido provocadas por vacina, mas já é certeza de que a
Covid causa distúrbios de coagulação, "é extremamente provável que o benefício da vacina supere notavelmente
qualquer risco de distúrbios de coagulação, até porque ela evita outras consequências da Covid, como a morte".

Evans considera “inteiramente razoável" que sejam feitos estudos detalhados sobre as vacinas e as tromboses, mas
diz que impedir as pessoas de se imunizarem "parece um passo longe demais" com as informações disponíveis.

Para Renato Kfouri, presidente do departamento de imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), por se
tratar de vacinas em uso há pouco tempo, é preciso investigar os casos de maneira cuidadosa, mas nunca houve
associação de eventos tromboembólicos com vacinas.

"É importante lembrar que estamos vacinando muita gente, então muitas pessoas vão sofrer infartos, outros
problemas de saúde que teriam de qualquer forma", diz Kfouri. Segundo o pediatra, não há um mecanismo descrito
de vacinas alterando a coagulação sanguínea e, consequentemente, aumentando ou favorecendo esse risco.

Reações inflamatórias e até doenças associadas a essas inflamações já foram reportadas como eventos adversos às
vacinas, e essa poderia ser uma hipótese para a aparente associação, ainda não comprovada, da vacina com a
trombose.

"Mas o que se imagina é que eventualmente a resposta inflamatória que as vacinas levam para produzir a resposta
imunológica possa ter algum grau de agressão ao vaso sanguíneo. Mas isso é teórico. Os fenômenos tromboembólicos
se dão por alteração na veia ou artéria, e essas estimativas até hoje não foram demonstradas."

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https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/03/alemanha-franca-e-italia-tambem-suspendem-vacina-de-
oxford-oms-diz-que-risco-de-nao-imunizar-e-maior.shtml

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