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D. AFONSO
HENRIQUES
G R A N D E S P R O TAG O N I S TA S
DA H I ST Ó R I A D E P O RT U G A L
© Editora Planeta DeAgostini, S.A. | Lisboa | 2004
Direitos reservados para a língua portuguesa
D. AFONSO
HENRIQUES
Manuel Margarido
A FORMAÇÃO
DO CONDADO
PORTUCALENSE
7
DOIS FIDALGOS DA BORGONHA
8
CONDE
D. HENRIQUE
é concedida a mão de D. Teresa, filha ilegítima de Afonso
E D. TERESA
VI e da dama Ximena Moniz. O casamento realiza-se em
1096. O território que lhe é concedido para governar, a Sul
da Galiza, estende-se do Minho ao Mondego, a título here-
ditário. É o Condado Portucalense.
Raimundo experimentou desde logo dificuldades
na administração dos seus vastos territórios. A partir de
1096, já as terras que iam do Minho até ao Tejo eram ad-
ministradas por Henrique, diminuindo consideravelmente
o poder de Raimundo. O marido de D. Teresa governava
agora, de facto, a província portucalense e era senhor de
importantes propriedades no seu interior.
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estes, cindidos entre os partidários de Iussuf (Marrocos) e
os naturais dos territórios do Sul da Península. É conheci-
da a peregrinação de Henrique a Santiago de Compostela.
Mais duvidosa é a sua presença na segunda cruzada aos
territórios da Síria, em 1101. Se nela participou, pouco por
lá se deteve, porque existem registos da sua presença em
Portugal no ano de 1105.
A homens com o po-
der e a ambição de Henrique
e Raimundo, este agora con-
finado aos territórios da Ga-
liza, deveria desagradar a
vassalagem que tinham de
prestar ao velho Afonso VI,
embora os seus títulos fos-
sem hereditários. A pouco e
pouco deve ter germinado
no espírito de Henrique a
ideia da autonomização, a
passagem do seu território
à categoria de reino. Rai-
mundo, por seu lado, em vir-
tude do casamento com a
D. RAIMUNDO herdeira legítima, Urraca,
DA BORGONHA.
aspirava ao trono de Leão por morte de seu sogro.
Tumbo A,
catedral
Mas os caprichos dos amores e as sortes ditadas
de Santiago pela vontade do mais forte iriam baralhar estas preten-
de Compostela.
sões. Afonso VI tinha um filho da bela Zaida, filha do emir
de Sevilha, Ibn-Abed. Chamava-se o moço Sancho e era
meio-irmão de Urraca e de Teresa. Urraca, porém, apesar
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de mulher, tinha uma vantagem na corrida à sucessão: era
filha de mãe cristã. Mas, por outro lado, contrariava-a uma
enorme desvantagem: Afonso VI pretendia que Sancho
fosse o seu herdeiro e futuro rei, tendo mesmo elaborado
um testamento nesse sentido, que legitimava amplamente
Sancho.
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portância variável, conforme os
interesses do momento e os
apetites de ocasião.
Henrique era agora vas-
salo da meia-irmã de sua mu-
lher. Tal facto deve ter em muito
contrariado o nobre borguinhão,
que se sentia profundamente
ligado ao condado que admi-
nistrava e para o qual desejaria,
certamente, a autonomia. De
novo se lhe coloca a hipótese do
uso da força, pelo que, em 1110,
parte para França, já a cunha-
da havia sido aclamada rainha,
para buscar o conselho do
abade de Cluny, seu protector,
ou mesmo procurando reunir
D. HENRIQUE uma força militar. Não se sabe
DA BORGONHA.
como, mas será preso antes de atravessar os Pirenéus, em
Tumbo A,
catedral
circunstâncias misteriosas. Acabou por se escapar.
de Santiago Entretanto, pouco depois de ser coroada, Urraca
de Compostela.
casa em segundas núpcias com o belicoso Afonso I, rei de
Aragão. A pequena história fala dos apetites carnais in-
saciáveis de Urraca, que a terão apressado para um casa-
mento extemporâneo. Na verdade, as razões de Estado
tiveram um papel muito importante, aliando dois Estados
que eram potenciais inimigos. Em breve se verificaria, con-
tudo, que os entendimentos políticos conviviam mal com
os desentendimentos do casal de soberanos.
12
D. Henrique da Borgonha
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de Portugal. Sabe-se que esteve em Roma e é possível que te-
nha ido até Jerusalém. Torna aos seus territórios em 1105, sem
se saber que façanhas militares cometeu.
Além de grande homem de armas e governador, D. Hen-
rique vai mostrar-se mestre no jogo diplomático, assestando a
sua atenção em minar a tutela de Afonso VI. Ele bem sabia que
Raimundo tinha aspirações ao trono de Leão e Castela, visto
Afonso VI não ter filho legítimo varão e ser D. Urraca, mulher
de Raimundo, legítima herdeira. Afonso VI, contudo, tinha uma
preferência especial pelo seu filho ilegítimo, D. Sancho. Ambos
os borgonheses tinham a temer que o poder fosse entregue a
este jovem. Por isso, os dois primos da Borgonha vão estabele-
cer um pacto para anular um eventual testamento desfavorável,
mediante o qual Henrique apoia a causa de Raimundo e Urra-
ca, concedendo-lhe este o domínio da Galiza ou Toledo e um
terço do seu tesouro. Raimundo, porém, morreu em Outubro
desse mesmo ano. D. Sancho, pouco tempo depois. Henrique
vê a oportunidade de receber de mão beijada para a sua Tere-
sa e para ele a herança do velho Afonso VI, que entretanto es-
tava no fim dos seus dias. Restava, porém, D. Urraca e o seu
filho, Afonso, fruto da união desta com Raimundo. D. Henrique
não consegue os seus intentos.
Entretanto, D. Urraca casa com D. Afonso, rei de Aragão e
Navarra (casamento que viria a ser anulado pelo papa, em vir-
tude do grau de parentesco). Entre os recentes marido e mu -
lher estabelece-se o conflito, e Henrique vai tomar o partido da
cunhada. É nestas reviravoltas que se desloca o fidalgo bor-
gonhês a Astorga, local onde falece. O seu corpo está sepulta-
do numa capela da Sé de Braga.
14
UM ESTRANHO CASAL
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marido, mas as resistências estavam a enfraquecer. Será,
contudo, capaz de expulsar o aragonês, que se vê obriga-
do a regressar a casa.
Então ocorre uma surpreendente reviravolta. Urra-
ca reconcilia-se com o marido. Será a primeira de várias
peripécias neste tumultuoso casamento, que têm como
pano de fundo os conflitos latentes entre Castela e Leão,
por um lado, e Aragão, por outro. Entretanto o que sucedeu
a Henrique, conde portucalense? Sabe-se que esteve ao la-
do de Afonso I de Aragão na batalha de Valtierra contra o
rei de Saragoça, em Janeiro de 1110, prestando-lhe serviço
de vassalagem. Aguardava melhores dias, e eles viriam.
VOLTAS DO DESTINO
16
A PENÍNSULA
IBÉRICA
em princípios
do século XII.
17
IRMÃS DESAVINDAS
18
aprendido, senão mesmo ensinado. Agora, D. Teresa vai
prosseguir os mesmos fins pelos mesmos meios.
TÚMULO DE
D. HENRIQUE.
Sé de Braga.
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sas para Aragão. Em seguida ferve-lhe o desejo de vingança
pela traição da irmã Teresa, que é obrigada a refugiar-se
nas suas terras. Vendo que a sua causa se encontrava muito
debilitada, é uma submissa D. Teresa que se apresenta na
cúria régia de Oviedo, em 1115, para prestar vassalagem
à irmã. Mas é mais que certo que este fosse um gesto de
pura oportunidade táctica e habilidade política, um gesto
para ser esquecido logo após ter sucedido.
20
O NASCIMENTO
DE UM REI
21
ACONTECIMENTOS DRAMÁTICOS
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vessam o rio, descendo até ao Douro, deixando para trás
campos e aldeias saqueados a ferro e fogo. Desta vez é
Teresa que fica cercada no castelo de Lanhoso, com forças
inferiores e em situação muito precária.
MAIS CONSPIRAÇÕES
Entretanto, o bis-
po Diogo Gelmines pen-
sa em mudar de partido.
Com o pretexto de ter
de se deslocar a um con-
cílio, abandona Urraca,
que imediatamente per-
cebe a tramóia. Esta
deixa-o partir, mas com-
preende que é urgente
voltar à Galiza, sob pe-
na dos danos que a
rédea solta do bispo lhe
podem causar. Então,
mais uma vez as cir -
cunstâncias favorecem
D. Teresa. As pazes são
feitas com a irmã, que
inesperadamente lhe
concede vastos domí -
D. URRACA DE LEÃO E CASTELA.
nios do próprio reino de Catedral de Santiago de Compostela.
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24
Leão e lhe garante, paradoxalmente, os bispados de Página do
APOCALIPSE
Ourense e Tui, que haviam sido o motivo para aquele con-
DO LORVÃO
flito. D. Teresa mal acredita nos acasos do destino que se com iluminuras
viraram a seu favor. de cavaleiros.
25
CASTELO
DE LANHOSO.
Aqui se
defendeu
D. Teresa,
em 1121,
do ataque das
tropas de sua
irmã D. Urraca.
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estavam agora solidamente implantados junto desta e
eram os seus conselheiros favoritos.
Entre este grupo de origem galega encontrava-se
Fernão Peres de Trava, filho de Froilaz de Trava, o conde
galego que tanto batalhara contra Urraca. Fernão Peres
em breve se transforma numa espécie de regente de
facto do condado, alimentando especulações de concubi-
nagem com Teresa, que viriam a servir de pretexto futuro
para a legitimação de Afonso Henriques como sucessor
natural à liderança das terras portucalenses.
E o que era feito do jovem Afonso Henriques? Não
é de esperar que, com a agitada vida política e militar que
D. Teresa levava, tivesse muito tempo para cuidar do seu
rebento. Pelo contrário, havia que o entregar aos cuidados
de um fidalgo de cepa antiga, indiscutível portugalidade e
convicções firmes. Assim é que, desde tenra idade, Afonso
Henriques é entregue aos cuidados de Egas Moniz e de sua
família. Egas Moniz era um daqueles nobres de velha cepa,
que se havia distinguido tanto no campo militar como na
administração prudente dos seus importantes domínios.
Egas Moniz
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Com a morte do irmão, Egas Moniz torna-se uma figura
relevante e o mais destacado na corte de D. Afonso Henriques,
durante os complicados momentos políticos e militares que este
viveu. Assume o cargo de mordomo-mor, o mais importante
junto do rei, e certamente teve papel de relevo no aconselhamento
diplomático e bélico, quer se tratasse de contendas com reinos
cristãos vizinhos, quer o assunto fosse a reconquista cristã das
terras dominadas pelos muçulmanos. Receberá do rei generosas
doações em terras. Deste modo, possuía uma vintena de terras
e coutos, que se situarão sobretudo nas margens do Douro e
em diversas localizações beirãs.
Egas Moniz é objecto de uma das mais famosas e co-
moventes histórias de fundo lendário que se contam desde a
Fragmento
do TÚMULO origem de Portugal. Numa manobra política terá dado a sua
DE EGAS palavra por D. Afonso Henriques ao imperador de Leão e Cas-
MONIZ,
tela. No incumprimento do prometido, apresenta-se com a
no mosteiro
de Paço família perante o imperador com cordas no pescoço a fim de
de Sousa. lavar com honra a sua palavra, mesmo que para tanto apenas
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houvesse reparação com a sua morte. Esta história, provavel-
mente criada no reinado de D. Afonso III, é um dos mitos ca-
valeirescos fundadores de uma identidade nacional, que dá um
relevo imorredouro ao nome de Egas Moniz.
Homem de fundo carácter religioso, Egas Moniz fará, per-
to do fim da vida, múltiplas doações a instituições de carácter
religioso, especialmente ao mosteiro beneditino do Salvador de
Paço de Sousa, onde foi sepultado. Aí se mandou fazer, na se-
gunda metade do século XIII, nova sepultura com baixos relevos
que descrevem visualmente a saga da honra deste singular
homem, cujo nome ficará sempre indissociavelmente ligado a
D. Afonso Henriques.
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Ainda segundo a lenda, o jovem nasceu defeituoso
das pernas, chegando a dizer-se que as tinha coladas às
costas. Nada disto se pode comprovar, nem plausível se
apresenta. É natural que, com as condições do seu tempo,
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o rapazito algum defeito apresentasse. Certo é que se livrou D. AFONSO
HENRIQUES.
dele, a ponto de crescer com envergadura invulgar para a
Estátua
época, sendo as poucas fontes relativas (e incertas) con- proveniente
cordantes que D. Afonso Henriques viria a ser um homem da igreja de
Santa Maria
muito grande, «quase um gigante» para aquela época. Mas
da Alcáçova,
a lenda da cura do defeito do futuro rei não deixa de fa - em Santarém
zer sentido no contexto místico-religioso da época, con- (hoje no Museu
do Carmo, em
ferindo-lhe, com esse mito, uma espécie de predestinação
Lisboa).
divina.
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prestar vassalagem ao sobrinho e perdia todas as terras
que havia ganho desde o tempo de Afonso VI. Nada podia
desagradar mais aos fidalgos portugueses, indispostos ain-
da por cima com a influência que os galegos tinham jun-
to de D. Teresa.
Para os portugueses de linhagem, com palavra na
condução dos destinos do condado, desejando vivamente
a sua independência, D. Teresa não passava de uma re-
gente enquanto seu filho não adquirisse a maioridade. É
este sentimento que vai, paulatinamente, gerar a existência
de dois partidos: os defensores de D. Afonso Henriques,
enquanto legítimo herdeiro do Condado Portucalense; e
os apaniguados de D. Teresa, com Fernão Peres à cabeça,
dispostos a tudo para manter a situação privilegiada em
que se encontram. A dependência do Condado Portucalen-
se da Galiza era a linha orientadora desta facção que ia
contra a tradição da fidalguia do Minho e dos nobres por-
tucalenses que mantinham o espírito e o ideal do conde
D. Henrique.
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que a possibilidade de expandirem riqueza e influência. Estátua de
D. AFONSO
Quando Afonso Henriques chega aos catorze anos, D. Tere-
HENRIQUES
sa é já uma mulher na defensiva. E sabe o que a espera. situada junto
É com esta idade que o jovem exerce, por suas do castelo de
Guimarães.
próprias mãos, um gesto de grande simbolismo. Armou-
-se a si próprio cavaleiro em Zamora, acto apenas permi-
tido a um príncipe real. Era esta a dimensão das
ambições de Afonso Henriques, «compa-
nheiro dos fidalgos». Dominar um condado
que devia vassalagem a Leão, dele fazer um
reino, dele ser o rei. As condições estavam
maduras. O futuro reino tinha já, nessa
época, uma estrutura administrativa,
jurídica e militar equiparável a um
verdadeiro reino. Mas faltava ainda
muito penar para atingir tal objecti-
vo. A começar por um problema dila -
cerante: afastar a mãe do poder. Ao
armar-se cavaleiro, Afonso Henriques
estava, de facto, a desafiar o partido
da mãe.
Inicialmente D. Teresa vai
agir com alguma prudência. É
certo que manda prender D. Paio,
arcebispo de Braga, partidário do
jovem Afonso Henriques. E cada
mais vez outorga poderes a Fer-
não Peres, a ponto de muitos his-
toriadores alvitrarem a pos-
sibilidade de serem amantes.
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Para Fernão Peres de Trava, um casamento com a condessa
seria um óptimo passo, confirmando de facto os poderes
que já possuía. Mas, para a hábil Teresa, isso significaria
o fim do seu desejo de independência tendo-a a ela, ou ao
seu filho, como soberanos. É por isso possível que D. Tere-
sa tenha dado algumas esperanças ao fidalgo galego, sem
contudo as concretizar. Interessava-lhes certamente uma
forte aliança com a mais forte casa galega, o poderoso clã
dos Trava. Mas nenhuma fonte permite afirmar que se te-
nha realizado o casamento.
34
TÚMULO DE
D. TERESA.
Sé de
Braga.
UM CONFLITO FAMILIAR
35
lo Mendes da Maia, que passaria à história como O Lidador,
tais foram os seus feitos militares, e os ricos-homens, mes-
nadas de concelhos, alcaides. Enfim, a maior parte dos
homens que contavam no condado, acompanhados pelos
seus séquitos.
D. Teresa, por seu lado, contava apenas com o apoio
dos galegos, o que não era pouco. De Fernão Peres de Tra-
va ao seu pai, Pedro Froilaz, passando pelo sempre activo
bispo Gelmines, todos conspiravam para integrar o con-
dado nos domínios da Galiza. D. Teresa era verdadeira-
mente refém deste desígnio. Fernão Peres, que possuía o
título de conde de Coimbra e manobrava de facto os des-
tinos do reino, vai fazer tudo por tudo para abortar os in-
tentos daqueles que, agora, eram claramente vistos como
insurrectos. Nem D. Teresa se deixava enganar. Mas uma
nova humilhação a esperava, que iria desencadear os
dramáticos acontecimentos que se lhe seguiram.
D. Afonso VII, livre dos conflitos que o apoquen-
tavam nos territórios orientais da Península, obriga a tia
a vir prestar-lhe vassalagem. Para a nobreza portuguesa é
o fim. A mulher de D. Henrique deixou de lhes merecer
qualquer espécie de respeito e os preparativos começam.
D. Afonso Henriques tem dezassete anos. Para aquele tem-
po era um homem feito e temperado, que já se exercitava
havia tempo conquistando terras a eito, conforme a ocasião
se proporcionava. Agora era a mãe que tinha de enfrentar.
Não hesitou.
Estando D. Teresa em Guimarães, apresenta-se
Afonso Henriques com os seus homens. Nos campos de
São Mamede as duas forças avistam-se. Corre o dia 24 de
36
CASTELO DE
GUIMARÃES.
Julho de 1128. A batalha, violenta e sanguinária para al-
guns, apenas um recontro ajustado, para outros, trava-se.
As forças de D. Teresa cedem a pouco e pouco. Finalmente
é a debandada dos partidários da mulher de Henrique da
Borgonha. D. Teresa foge para as suas terras da Galiza. É
nesses domínios que virá a morrer em 1 de Novembro de
1130, sem que alguém já lhe desse apoio. Fernão Peres de-
pressa se tornará amigo do jovem Afonso Henriques. Leal,
ao que parece.
O Condado Portucalense está, finalmente, nas mãos
do filho de D. Henrique, o fidalgo estrangeiro que viu nas
terras de seu pai o sonho de construir uma nação inde-
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pendente. Imbuído do espírito do seu pai, cuidadosamente
alimentado por Egas Moniz, Afonso Henriques terá, ago-
ra, que enfrentar o mesmo dilema que qualquer um dos
seus progenitores sofreu: como libertar aquele embrião de
reino das garrras de Leão e da vassalagem a D. Afonso VII,
seu primo?
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BRAÇO DE FERRO
COM O REI DE LEÃO
39
UM PRIMO PERIGOSO
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hipóteses: submeter pela vassalagem, aprisionar ou mes-
mo destroçar as forças do primo.
Neste cerco começa um dos mais obscuros, e igual-
mente lendários, episódios da história de Portugal. Todas
as fontes são apócrifas, pelo que qualquer narrativa terá
um fundo de lenda, sendo difícil distinguir com precisão
os detalhes do ocorrido.
Mas certo é que a intervenção de Egas Moniz, e o
seu dramático desenlace futuro, retratam a envergadura
moral de um homem de carácter heróico, à idealizada
maneira medieval, por contraste com a política mesqui-
nha, de alianças e traições, meias verdades e grandes men-
tiras usuais naquele tempo.
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nhado por um pequeno séquito, tendo eventualmente
chegado a estar a sós com o rei, procurando concretizar o
difícil objectivo a que se propunha.
Afonso VII sabe quem ele é e qual a sua importân-
cia. Não lhe escapa que era um dos mais importantes fi-
dalgos portucalenses e aquele que teria, certamente, maior
influência sobre o jovem rebelde. É um homem que im-
porta ouvir. E o que Egas Moniz, senhor de Ribadouro, tem
para lhe dizer reveste-se de uma profunda delicadeza. No
Pormenor
do TÚMULO
fundo, nada mais era que uma habilidade, que lhe viria a
DE EGAS MONIZ. sair muito cara na honra e na consciência.
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contra os infiéis. Este argumento tinha, efectivamente, um
peso de significado naquele tempo. Depois, ter-lhe-á afir-
mado que Afonso Henriques, ao enfrentar sua mãe, ape-
nas estava a lutar pelos seus direitos contra os nobres gale-
gos que tentavam usurpar o governo do condado das mãos
de D. Teresa. Também esta razão se apresenta lógica, crí-
vel, para o monarca de Castela e Leão.
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-se conta da brutalidade de uma trama que viria a abalar
os alicerces da sua consciência. Esperava-o, com toda a
certeza, a desonra.
O rei leonês ponderou. Vinda de quem viera, aque-
la afirmação bastou-lhe. Nada mais exigiu. Confiou naque-
le que era o homem mais influente junto do jovem rebelde.
De imediato deu ordens para levantar o cerco, levando as
suas tropas para outras paragens, para outras pelejas mais
a sul, para o eterno combate aos infiéis. No fundo estava
satisfeito. Não perdera homens, não desgastara o seu
exército, não demorara muito tempo.
O tempo encarregar-se-ia de lhe mostrar com crueza
o erro que cometera. Sozinho, Egas Moniz deve ter vivido
as amarguradas horas em que um homem de bem percebe
com clareza que perdeu o tesouro maior que possuía. A
honra.
TRAIÇÃO
44
Com o primo a pelejar em terras da Catalu-
nha, Afonso Henriques rompe as hostilidades,
inutilizando para sempre a palavra do velho
Moniz. Em boa verdade não fôra ele quem
dera a palavra. Por isso, no dealbar dos
seus vinte anos, ruma à Ga-
liza com um exército va-
loroso, em 1130. Afonso
VII, mesmo à distância,
percebe imediatamente
o perigo, mas não foi ne-
cessário acorrer à refrega.
D. Afonso Henriques não consegue
obter o apoio dos fidalgos galegos
com que contava para engrossar
as fileiras. Prudente, retorna aos
seus territórios. CAVALEIRO
MEDIEVAL.
O acto tem, contudo, uma consequência dramáti-
ca. Egas Moniz sente que a sua palavra fôra quebrada.
Reúne os filhos, chama junto a si a sua mulher, Teresa
Afonso, e parte ao encontro do rei de Leão e Castela para
saldar a dívida de honra que sentia dentro de si. O penhor,
o resgate, era a sua vida, e a dos seus.
Longa e penosa deve ter sido a viagem, no final da
qual impendia, sobre toda a casa de Egas Moniz, o cas-
tigo mortal. Consigo leva até os servos e diz a lenda que,
ao chegarem junto de D. Afonso VII, todos vestiam as ves-
tes dos sentenciados, uma mortalha branca de pano cru,
ostentando ao pescoço as cordas com as quais seriam
enforcados.
45
EXPIAÇÃO E PERDÃO
46
47
pois da sua primeira arremetida em terras galegas, ei-lo
de novo à frente das suas tropas, invadindo, saqueando,
deixando atrás de si um rasto de destruição. Mais uma vez
a sua tentativa será em vão, sendo expulso pela fidalguia
galega. Não desiste, porém. Refaz as tropas e atira-se com
valentia contra quem o havia derrotado, sendo desta vez
vencedor. Chega a erigir um castelo (Celmes), mas desta
vez a parada é mais alta. Sabedor dos atrevimentos do pri-
mo, D. Afonso VII vem ao combate com as suas tropas. Cer-
ca a fortificação e nela serão aprisionados muitos dos mais
importantes fidalgos portugueses.
O JOVEM INTEMPESTIVO
48
Mas é então que novo golpe do destino se vem opor
aos seus planos. Não na frente de batalha galega. Muito
mais a sul surgiam notícias alarmantes. Os muçulmanos
investiam pelo território portucalense adentro e amea-
çavam já Leiria, castelo da maior importância estratégica
para a defesa do território e charneira para qualquer acção
de conquista futura. Apesar da excepcional defesa de Paio
Guterres, alcaide de Leiria, o castelo acabou por ser ocu-
pado, tendo o alcaide escapado por pouco, reunindo-se ao
seu senhor portucalense. Afonso Henriques consegue
suster a ofensiva mourisca, mas depressa lhe chegam ao
conhecimento as consequências da sua expedição galega, CASTELO
o reverso da medalha. DE LEIRIA.
49
Após ter vencido o aliado navarro de Afonso Hen-
riques, D. Afonso VII toma conhecimento das pesadas der-
rotas que o infante portucalense havia infligido nos seus
territórios. Furioso, ruma à Galiza enquanto o jovem filho
de D. Teresa mede forças com os mouros. Em Tui, o monar-
ca castelhano força a reunião dos nobres com o objectivo
de invadir o Condado Portucalense e punir severamente a
traição. Uma vez mais Afonso Henriques encontra-se no
fio da navalha.
O ÚLTIMO
COMBATE
DO LIDADOR,
por Roque
Gameiro.
50
Gonçalo Mendes da Maia, o Lidador
51
52
A INDEPENDÊNCIA
DE PORTUGAL
53
UM PACTO DE CONVENIÊNCIA
54
dando caça ao jovem infante. Mas este resiste, infligindo
pesadas baixas à guarda avançada do monarca de Leão.
O RECONTRO DE VALDEVEZ
55
talmente desmoralizados. O monarca espanhol decide pru-
dentemente não perder as suas tropas, pedindo tréguas,
negociadas pelo arcebispo de Braga. As pazes são feitas.
Estamos em 1140 e Afonso Henriques acabara de obter
uma vitória muito importante. Mesmo a tempo.
Aproveitando-se do afastamento das tropas cristãs,
os mouros haviam desencadeado furiosa investida, toman-
do o importante castelo de Leiria, destruindo o castelo e
avançando para norte, chegam até Trancoso, que destroem.
De novo tem o jovem chefe dos portucalenses que
defender as suas terras. Cruza o Douro em Lamego e des-
barata as tropas dos «infiéis» em duas fulminantes sur-
tidas bélicas nas terras de Valdevez.
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Por enquanto, era tempo para Afonso, quase de fac-
to se lhe poderia agora chamar Afonso I, arrumar a casa.
Ou seja, levar o mais longe possível a consolidação do ter-
ritório a sul e, se possível, conquistar terras aos sarracenos.
Os alvos eram evidentes. Santarém, importante cidade
moura com uma excepcional situação geográfica para a
defesa, e Lisboa, a riquíssima urbe, considerada por todos
inexpugnável, graças às suas fortificações.
Afonso Henriques
sabe fazer alianças, apro-
veitar as oportunidades.
Sabendo da existência de
uma frota francesa fundea-
da ao largo de Gaia, a cami-
nho das cruzadas do Ori-
ente, alicia os estrangeiros
para invadirem Lisboa,
prelúdio da entrada, poste-
rior, em Santarém. A tenta-
tiva foi vã. Não tinham as
duas forças conjuntas, os
franceses por mar e os por-
tugueses por terra, meios
para tomarem tão difícil
objectivo. Os de França par- CASTELO
DE SANTARÉM.
tem, carregados dos despojos possíveis. Afonso de Portu-
Restos da
gal retira, dedicando-se a tarefas menos belicosas, mas muralha árabe
igualmente imperativas. Vai proceder, nomeadamente, à
reconstrução do castelo de Leiria, de grande importância
estratégica.
57
REINO E REI, FINALMENTE!
CARTA DE 1139
Agora governava um território que, para todos os
onde, pela efeitos, era independente. Apenas precisava da aprovação
primeira vez, papal para se considerar de direito um dos reinos ibéricos.
Afonso
Henriques
Era um pormenor. Mas um pormenor com imensa im-
se intitula rei portância.
58
Em primeiro lugar, havia que colocar o jovem Esta-
do sob a protecção da Igreja, jurando-lhe fidelidade e obe-
diência. É o que o jovem rei vai fazer, enviando a Inocên-
cio II, através do cardeal Guido de Vico, missiva ao papa
na qual lhe reconhecia a soberania sobre o novo reino, o
que, na prática, implicava que Roma o reconhecesse.
59
riques. Mas Afonso VII, no seu íntimo, estava já resignado
à existência daquele pequeno reino resiliente, comanda-
do por um chefe persistente e tenaz que apenas via na
consolidação da independência a consumação dos
desígnios de seu pai, de sua mãe e da nobreza que desde
cedo acalentara nele as esperanças de uma liberdade ini-
maginável nos tempos medievais, apenas possível graças
a tremendas ousadias e incríveis feitos de armas.
Era, portanto, Afonso Henriques rei de facto.
O destino do Condado Portucalense, do agora reino
de Portugal, pertencia-lhe. O que fazer? Sempre e sempre
o mesmo: lutar. Pelejar contra os mouros, defender, ali-
cerçar e expandir os territórios do Sul. Afinal de contas,
esta era a guerra mais legítima que um rei cristão podia
travar.
60
como arquidiocese, contrariando as pretensões hegemónicas de
Santiago de Compostela e de Toledo. Nesse contexto se insere
a integração das dioceses de Lamego, Viseu, Lisboa e Évora
como sufragâneas de Braga contra as pretensões das suas
concorrentes peninsulares.
Muito provavelmente deve também ter sido D. João a ins-
pirar a diligência diplomática de, em 1143, Afonso Henriques
colocar os seus territórios sob vassalagem directa à Santa Sé.
Foi ele, aliás, quem se deslocou a Roma para entregar ao papa
a carta Claves regni prestando vassalagem ao papa.
No recontro de Valdevez, foi D. João Peculiar o medianeiro
entre Afonso Henriques e o rei de Leão. E em 1147 esteve na
conquista de Lisboa, tendo sido ele a dirigir a alocução aos
cruzados convocando-os para o combate.
Morreu em Braga a 3 de Dezembro de 1175.
CARTA DE
COUTO AO
MOSTEIRO
DE TIBÃES.
O documento
mais antigo
em que Afonso
Henriques
é referido
como rei
61
O DESEJO DE CONQUISTA
62
mens para parlamentarem com o alcaide da cidade. Co-
municam-lhe aqueles a presença do rei português.
A batalha de Ourique
63
segundo José Mattoso, que o seu escudo viesse a ser guardado
quase como uma relíquia sobre o seu túmulo em Santa Cruz
de Coimbra.
Para reforçar este simbolismo, teria sido ainda invocada
uma intervenção divina a confirmar Afonso Henriques como
paladino da «verdadeira fé» no combate contra o Islão.
Simbolismos à parte, o certo é que a batalha de Ourique,
travada em 1139, constituiu a primeira grande vitória de Afon-
so Henriques contra forças numerosas dos mouros.
SANTARÉM CONQUISTADA
64
BATALHA
o alerta que poderiam lançar. Houve que esperar pacien-
DE OURIQUE.
temente que estes se deixassem dormir. Os cristãos subi- Painel
ram então a encosta, com Mem Ramires à frente. Tentam de azulejos
do Pátio
fixar as escadas e, em momento dramático, são des-
dos Canhões,
cobertos. Mas, com resolução, neutralizam as sentinelas. Museu Militar,
Mais escadas se fixam, mais homens sobem abruptamente. Lisboa.
65
passados pelo fio da espada, a cidade é submetida a ferro
e fogo, saqueada, pilhada, inteiramente vencida. Não havia
distinção entre populações civis e sitiados em armas. To-
dos os que foram apanhados conheceram a morte, uma
imagem de marca da actuação de conquista de D. Afonso
Henriques que viria a espalhar-se como fogo em palha se-
ca nas populações muçulmanas do Sul de Portugal, e que
muito contribuiria para a fama do rei cristão, cruel e
impiedoso, furioso e implacável.
66
com quem casou em 1146. Era filha de Amadeu II, conde de
Sabóia e Piemonte, vassalo do imperador romano-germânico e
da condessa Mafalda de Albon.
O casamento de D. Afonso Henriques correspondeu a um
ILUMINURA
desejo de estabelecer relações fora da órbita de Leão e Castela, de Simon
nomeadamente com os condados da Sabóia e da Borgonha, num de Beninc
(século
esforço de afirmação de independência política.
XVI).
Teve sete filhos : Henrique, Mafalda, João, Sancha, D. San- Museu
cho I, Urraca e Matilde. Britânico.
67
68
A CONQUISTA
DE LISBOA
69
OBJECTIVO: LISBOA
70
FORAL DO PORTO.
71
tuídas por homens das mais baixas condições sociais das
suas próprias nações.
O bispo do Porto vai reunir os chefes da missão num
cemitério da cidade. Podemos imaginar a cena. Centenas
de homens, falando as mais diversas línguas, de carac-
teres e disposições diferentes, ouvindo a inusitada pro-
posta de invadir uma cidade que nem lhes tinha sequer
passado pelos planos. D. Pedro pronuncia-se em latim. A
confusão deve ter sido grande. Mas, graças ao esforço dos
que sabiam traduzir, acabam por se entender.
ALIADOS PROBLEMÁTICOS
72
cada numa colina de muito difícil acesso. E, sobretudo,
uma guarnição de 15 000 homens bem armados e prepara-
dos, em princípio capazes de resistir a qualquer tentativa
de invasão, por muito forte que fosse.
A armada larga do Porto a 26 de Junho, trazendo
consigo o bispo do Porto e o arcebispo de Braga, D. João
Peculiar, que sempre haveria de ser um dos mais fiéis
apoiantes de Afonso Henriques. Dois dias depois chegam
à foz do Tejo. Alguns dos homens desembarcam imedi-
atamente, envolvendo-se em recontros esporádicos que
apenas tiveram o condão de alertar os sitiados, que recol-
heram às bem fortificadas muralhas do castelo.
No dia seguinte, Afonso Henriques chega a Lisboa,
acompanhado por vastas e bem treinadas tropas. Desde
logo se reúnem as duas forças atacantes. Para planear o
ataque? Não! Para discutir a distribuição dos lucros que a
tomada da urbe proporcionaria. São longas as discussões.
Afonso Henriques alega que o seu reino é pobre, mas que
a cidade é rica e recompensará devidamente todos. Os
chefes normandos, essencialmente piratas, duvidam das
intenções do rei. Afinal, ainda estavam recordados do an-
terior assalto a Lisboa, e bradavam que, dessa vez, Afon-
so não cumprira o prometido.
EM MARCHA
73
trangeiros. Os bens móveis capturados seriam distribuí-
dos exclusivamente pelos forasteiros, tal como os resgates.
Todos os cruzados que se quisessem fixar em Portugal ob-
teriam casa e terra, sem necessidade de pagamento de de-
terminados impostos. E D. Afonso Henriques foi obrigado
74
a jurar que não abandonaria a luta a não ser em caso de CERCO
DE LISBOA.
perigo mortal. O pacto estava traçado. O assalto ia começar.
Em cima, forças
A primeira preocupação do rei cristão foi propor a de Afonso
rendição pacífica ao alcaide árabe. Manobra mais diplo- Henriques;
à esquerda,
mática que outra coisa. Bem sabiam os mouros o que os
ingleses,
esperaria caso se rendessem. Isto apesar de o arcebispo aquitanos
de Braga, o emissário enviado a parlamentar, ter prometi- e bretões;
à direita,
do a integridade de pessoas e bens em caso de rendição.
flamengos
Nisso se não fiaram os sitiados, e com razão. Ninguém e alemães.
poderia evitar que, em caso de pacífica entrega do caste-
lo, as hordas de soldados estrangeiros pilhassem e saque-
assem a seu bel-prazer.
O alcaide terá, em consequência, negado a rendição
e respondido: «Fazei o que couber em vossas forças, nós
faremos o que for da divina graça.»
As forças dispuseram-se estrategicamente. Afonso
Henriques ocupou a actual colina da Graça, sitiando o
castelo pelo norte. Flamengos e alemães ocuparam a parte
oriental pelo rio, e grande influência viriam a ter no decor-
rer dos acontecimentos, pela sua disciplina e sentido tác-
tico. No lado poente postaram-se os ingleses e os nor-
mandos.
PLANOS GORADOS
75
TOMADA acção que os movia. Apesar de se defenderem bem, lançan-
DE LISBOA
do enormes quantidades de flechas e de pedras, os mouros
AOS MOUROS,
pormenor
cederam terreno, deixando nas mãos dos atacantes parte
de têmpora do casario fora das muralhas. À medida que a noite caiu,
de Almada
o terreno torna-se uma traiçoeira contrariedade, esprei-
Negreiros.
tando perigo em cada rua, em cada esquina.
Percebendo que não podem recuar, os chefes ingle-
ses decidem investir até chegarem a um cemitério onde
reuniram forças e repeliram os inimigos para dentro das
muralhas. Na escuridão da noite, o casario da parte oci-
76
dental ardia. Na manhã seguinte chegam reforços. Mas os
homens que tanto queriam conquistar aquela praça de-
pressa se aperceberam de que a empresa não seria fácil.
O avanço dos ingleses e dos normandos teve uma
consequência inesperada, de que nem mesmo eles ini-
cialmente se aperceberam, mas que se viria a revelar de-
cisiva para o desfecho da contenda. Nos terrenos con-
quistados encontrava-se, em amplos armazéns subterrâ-
neos, a reserva de alimentos da cidade. Todos os cereais e
vegetais, em enormes quantidades, deixavam agora de
poder servir de alimento aos sitiados. Nos longos meses
de cerco que se seguiriam, a fome, mais do que qualquer
acção militar, ditaria a lenta agonia dos sitiados, que se
aguentaram admiravelmente com tão rigorosa privação.
Também os flamengos e os normandos não con-
seguiram esperar pelo dia seguinte. Entraram pelas estrei-
tas ruas do lado oriental com rapidez e grande violência,
acabando por se envolver em lutas corpo-a-corpo, e con-
quistaram sólidas posições.
IMPASSE
77
gastar os sitiados. Estes, igualmente, faziam surtidas com
a velocidade de um relâmpago, atacando fulminantemente
e refugiando-se tão depressa quanto tinham investido. Se
eram perseguidos pelas tropas aliadas, imediatamente
uma chuva de flechas, pedras e todos os objectos capazes
de agredirem caíam das muralhas sobre os perseguidores
que subiam a encosta.
Estes logravam, por vezes, chegar às muralhas com
escadas, a fim de tentarem uma entrada na inexpugnável
defesa mourisca. Mas os defensores acabavam sempre por
incendiar as escadas, ou então lançar pez a ferver sobre
os poucos temerários que se atreviam a subi-las.
A demora começa a enervar profundamente os nor-
mandos, que começam a avaliar se não valeria muito mais
a pena estarem nesse momento a saquear tranquilamente
navios árabes nas águas do Mediterrâneo. Na verdade, to-
dos concordavam que, atacando como estavam a atacar,
jamais conseguiriam tomar o castelo.
Tudo vai ser tentado. Constroem-se catapultas, na
tentativa de bombardear as muralhas e assim abrir bre-
chas. Chega a erguer-se uma torre com cerca de vinte me -
tros de altura, puxada por bois, na tentativa de anular a
desvantagem que a altura proporcionava aos defensores.
O enorme trabalho que deu construir estes engenhos foi
destruído num ápice, quando os árabes os queimaram com
um cerrado ataque de flechas incendiárias.
Este facto desesperou ainda mais os sitiantes. E tão
impotentes se sentiam, que chegaram mesmo a congemi-
nar o plano de cavar um túnel que pudesse fazer entrar
os homens no reduto dos muçulmanos. De novo a empresa
78
se revela vã. Os homens que tentavam escavar o túnel
eram imediatamente mortos pelos defensores, pelo que
depressa se desistiu de tal ideia.
79
jectivo não era penetrarem na fortificação. Em vez disso,
encheram o túnel de madeira, à qual lançaram fogo. O
calor produzido pelo incêndio do material combustível foi
de tal ordem que parte da muralha ruiu. Estava finalmente
aberta uma passagem que só à força de homens podia ser
defendida.
Este feito, realizado a 16 de Outubro, mudou radi-
calmente o curso dos acontecimentos. Inicialmente os
mouros defendem-se com excepcional valentia, batendo-
-se durante horas e repelindo os flamengos e os alemães.
80
81
Logo parte dos estrangeiros, sobretudo os normandos, se
subleva, alegando que o combinado com o rei lhes dava a
eles a guarda de reféns e respectivo resgate. Parece que
D. Afonso Henriques teve uma das manifestações de cólera
que caracterizavam o seu temperamento. Reúne os chefes
estrangeiros e diz-se pronto a enfrentar pelas armas os
amotinados. Só a prudência e a diplomacia dos chefes es-
trangeiros conseguiu evitar o pior, submetendo, com difi-
culdade, os seus encarniçados seguidores.
[...]
Expedição a Almada. Represálias
Sucedeu ... que certo dia alguns dos nossos passaram o Tejo
82
para irem pescar do lado de Almada. Efectivamente, o areal
daquela praia era mais favorável para os pescadores. Caíram
sobre eles os mouros daquela zona, mataram bastantes e
levaram com eles alguns cativos, cinco dos quais eram bretões.
Os nossos ficaram indignados com isso e, discutido o assunto
entre todos, foi decidido que duzentos cavaleiros com qui -
nhentos peões seriam enviados a Almada para a saquearem.
À hora de fazerem a travessia, os colonienses e os flamengos,
por má vontade ou por receio, ou por outro motivo que não co-
nheço, retiraram os seus do nosso grupo para não atravessa-
rem. Por essa razão, os normandos, os ingleses e os que se
mantinham connosco e estavam do nosso lado, malogrados na
constituição de grupo que abrangesse a todos, entregaram a
expedição prevista a Saério de Archelle com uns trinta cava-
leiros e uma centena de peões, para mais. Depois de terem mata-
do em combate mais de quinhentos mouros, trazendo cerca de
duzentos cativos e mais de oitenta cabeças, o que não deixou
de ser motivo de grande alegria para os nossos e de grande aba-
timento dos inimigos, regressaram eles vitoriosos no mesmo
dia, tendo perdido um apenas dos nossos.
(...)
Inicia-se a construção de uma torre móvel e a escavação de
uma mina (16 de Outubro)
É então que, por sua vez, os nossos se empenham mais no
trabalho e se lançam a escavar um fosso subterrâneo entre a
Torre e a Porta de Ferro, com o fim de deitarem abaixo a mu-
ralha. Porque estava demasiado acessível aos inimigos, ao ser
descoberta depois de iniciado o cerco à cidade, foi extremamente
danosa para os nossos, tendo-se gasto muitos dias a defendê-
83
Traçado -la sem êxito. Além disso, são levantadas pelos nossos duas
da muralha
balistas: uma, colocada junto à margem do rio era accionada
ou CERCA
MOURA
pelos marinheiros, outra situada frente à Porta de Ferro esta-
(repare-se va às ordens dos cavaleiros e dos seus acompanhantes. Es-
no antigo
tavam todos eles organizados em grupos de cem e, mal se ou-
braço
do Tejo que
via o sinal para saírem os primeiros cem, outros cem entravam;
subia da de forma que no espaço de dez horas tinham sido disparadas
Baixa até
cinco mil pedras. Acção desta natureza extenuava extrema-
ao Palácio
da Indepen-
mente os inimigos. É então a vez de os normandos, os ingleses
dência). e os que com eles se encontravam começarem a fazer uma torre
móvel de 83 pés de altura. Os colonienses e os flamengos re-
84
começam a escavar novo fosso subterrâneo frente à muralha
da parte mais alta do castelo a fim de a deitarem abaixo; era
uma construção de merecer elogios, com cinco entradas, com
um pouco menos de 40 côvados de largura na frente, e con-
cluíram-na em menos de um mês.
(...)
Desmoronamento dum lanço da muralha; avança a torre
móvel.
Minada, pois, a muralha e atafulhada com lenha para arder,
nessa mesma noite, ao cantar do galo, um pano das muralhas
de cerca de trinta côvados ruiu por completo.
No entanto, já antes se tinham ouvido os mouros que es-
tavam de vigia às muralhas gritarem angustiados que, para
porem fim de imediato a um trabalho ininterrupto, estavam
dispostos a partilhar o dia supremo com a morte e que não ti-
nham medo de a enfrentar, mas seria para eles satisfação má-
xima se eles se trocassem a si mesmos pelos nossos. Na reali-
dade, era fatal ir até um ponto de onde era inevitável não voltar;
em boa verdade, se em qualquer parte a vida acabasse bem,
não se diria que ela era breve; de facto, duraria quanto devia,
não quanto podia e não seria contada por quanto tempo tinha
durado, mas pelo modo como tinha corrido bem, e impor-lhe-
-iam apenas uma cláusula boa.
Os mouros, pois, acorrem todos, cada de sua parte, a de-
fender a brecha da muralha, tapando-a com uma barreira de
cancelas. Foram então os colonienses e os flamengos e tentaram
entrar, mas foram rechaçados. Efectivamente, embora a mu-
ralha tivesse ruído, a configuração do terreno impedia-lhes a
entrada pelo simples aterro existente. No entanto, como não
85
podiam atacá-los de perto, atormentavam-nos com o arremes-
so de setas incessantes e violentas, de tal forma que eles, para
se defenderem e como que evitando não ficar feridos, ao man-
terem-se imobilizados, pareciam ouriços de espinhos.
Assim se defenderam dos atacantes até à hora prima do
dia, altura em que se retiraram para os seus acampamentos.
Por sua vez, os normandos e os ingleses, que vêm armados
para renderem os seus companheiros, aprestam-se para
tomarem em primeira-mão a entrada aos inimigos que já hou-
vessem sido feridos e estivessem esgotados. No entanto, ainda
que impressionados com a vozearia, foram impedidos de o faze-
rem pelos comandantes dos flamengos e dos colonienses, os
quais instavam connosco para que intentássemos a entrada,
com as nossas máquinas, por onde quer que fosse possível, pois
diziam que aquela abertura fora conseguida por eles e não por
nós. Desta forma, porém, são rechaçados da entrada por todos
os modos durante alguns dias.
Finalmente foi levada a bom termo a nossa máquina de
guerra, envolvida a toda a volta por vimes e couro de boi para
evitar que fosse atingida pelo fogo ou pela violência das pe-
dras. Foi além disso intimado a todos os dos navios que fizessem
mantas de guerra e abrigos entrançados com varas.
(...)
O combate final
Afugentados os inimigos da torre e da muralha, vizinha da
nossa máquina, com a chegada da noite descansámos um pouco,
tendo todos regressado ao acampamento, mas deixando de
guarda cem cavaleiros dos nossos e cem dos franceses, com
frecheiros e besteiros e alguns jovens ligeiramente armados.
86
TOMADA
DE LISBOA
AOS
MOUROS,
têmpora
de Almada
Negreiros,
1947.
87
Ora, na primeira vigília da noite, a maré-cheia envolveu a
máquina e impedia que os nossos tivessem caminho para sair
ou para entrar. Tendo os mouros descoberto que a maré nos
isolava, a pé, atacaram a máquina com duas companhias de
homens através da dita porta, enquanto outros, em multidão
inacreditável, por cima das muralhas, tendo acarretado mate-
riais de lenha com pez, estopa e azeite com substâncias in-
cendiárias de toda a espécie, começam a atirá-los à nossa
máquina. Outros ainda lançavam sobre nós uma chuva insu-
portável de pedras.
Havia, porém, debaixo das asas da máquina, entre ela e a
muralha, um abrigo de vimes que em língua vulgar toma o
nome de gato valisco, em que se mantinham sete mancebos da
província de Ipswich que tinham trazido sempre esse abrigo
atrás da máquina. Ali debaixo, juntamente com os que se en-
contravam em andares inferiores, alguns dos nossos procu-
ravam, tanto quanto lhes era possível desfazer os materiais in-
flamáveis, mas em vão. Outros, por seu lado, tendo aberto co-
vas debaixo da máquina e aí permanecendo, dispersavam as
bolas de fogo. Uns, nos andares cimeiros, através de postigos
regavam de cima os couros que se retesavam; aí havia uns ren-
ques de vassouras de cauda, pendentes da parte de fora, que
molhavam toda a máquina. Os restantes, porém, dispostos em
linha de batalha, resistiam com ardor aos que tinham avança-
do desde a porta.
Foi assim a máquina defendida nessa noite em esforço di-
gno de admiração, por um punhado dos nossos, sob a ajuda de
Deus, sem grandes feridas, enquanto a maior parte dos mouros,
pelo contrário, mais perto ou mais longe, tinham caído mortos.
88
(...)
A Lisboa mourisca rende-se aos cristãos. (21 de Outubro,
terça-feira)
Cerca, porém, hora décima, na baixa-mar, os nossos jun-
tam-se na praia para aproximarem a máquina até quatro pés
das muralhas e assim lançarem uma ponte com maior facili-
dade. A defender esta parte da muralha chegam os mouros vin-
dos de toda a parte. Ao verem, porém, a ponte já içada uns dois
côvados e nós já prestes a entrar, como se nem a vida viesse a
ser deixada aos vencidos, gritam em grandes brados e, à nos-
sa vista, depõem as armas, baixam os braços e suplicam
tréguas, ao menos até ao dia seguinte.
Intervindo Fernão Cativo, por parte do rei, e Hervey de
Glanville, pela nossa, foram concedidas tréguas e recebidos lo-
go de seguida cinco reféns, tendo sido acordado em como du-
rante a noite não atacariam as nossas máquinas ou como eles,
entretanto, não procederiam a qualquer reparação que revertesse
em nosso prejuízo; além disso, durante a noite, deviam deli-
berar como é que nos entregariam a cidade no dia seguinte; se
é que era assim que queriam decidir entre eles, pois, caso con- ALCÁÇOVA
CASTELO
trário, o resto ficaria sujeito à sorte das armas.
DE S. JORGE.
89
90
ALARGAMENTO
PARA SUL
91
A RENDIÇÃO DE LISBOA
92
AS PRIMEIRAS IGREJAS EM LISBOA: à esquerda, Capela de Santa Maria dos Mártires;
dentro das muralhas, a Sé Patriarcal; à direita o convento de São Vicente de Fora
93
meses após o início das hostilidades, tudo estava con-
sumado. A conquista de Lisboa era o maior feito bélico de
D. Afonso I, e tinha uma importância estratégica enorme.
Não apenas defendia todos os territórios a norte, como era
a base de futuros ataques para o tão desejado Sul, de ri-
cas praças e ainda mais ricos campos de cultivo. Lisboa
era a chave para a consolidação de Portugal como nação.
94
cristã e moura ficaram delimitadas com clareza pela fron-
teira geográfica do Tejo. Palmela e Almada cairão por sua
vez do mesmo modo, ultrapassando o jovem reino os limi -
tes transtaganos. Nas terras de Sintra, de Lisboa, de San-
tarém, a pouca população muçulmana que restou vai ficar
confinada à servidão, trabalhando nos campos.
Entretanto, D. Afonso Henriques interrompe o seu
ciclo de conquistas. Dedica-se à administração do reino.
Mas o seu temperamento, duramente forjado nos campos
FORAL DADO
A LISBOA,
em 1179,
por D. Afonso
Henriques.
95
PORTUGAL
EM MEADOS
DO SÉCULO XII,
após a
conquista
de Lisboa.
96
de batalha, deve ansiar por novas conquistas, novas aven-
turas nas terras férteis que se avistam da torre do caste-
lo de Palmela. O próximo objectivo tem um nome bem
definido: Alcácer do Sal.
ALCÁCER
97
Restos
da ANTIGA
MURALHA
DE ALCÁCER.
98
Tanto pior, terá pensado Afonso Henriques. Orga-
niza uma quarta tentativa de conquista de Alcácer, num
cerco convencional apenas com as suas tropas. Mas é de
tal modo cerrado o cerco, que nada entra ou sai das mu-
ralhas de Alcácer. Condenados à fome, os muçulmanos
são, finalmente, derrotados, a 24 de Junho de 1158, no fi-
nal de dois meses de duros recontros.
A vingança de Afonso I é terrível. Furioso com tão
denodada resistência, ele e as suas tropas matam todos
os homens de armas que encontram e sujeitam o povo
que vivia dentro das muralhas às piores atrocidades.
99
que retirou as suas forças de volta ao Norte de África. Era
não conhecer Afonso Henriques. Subestimá-lo foi sempre
CAVALARIA
a pior decisão dos seus adversários, como sabemos desde
MUÇULMANA. Afonso VII.
RUMO AO SUL
100
era tão grande e tão importante como o fora Santarém, ou
até talvez Lisboa. Évora, a rica cidade muralhada, na vas-
tidão da planície, era agora motivo de cobiça. Mas como
se haveria de conquistá-la?
Neste ponto da história afonsina, os acontecimen-
tos adquirem contornos de lenda. Na verdade a conquista
de Évora não se deve directamente a Afonso Henriques,
mas a um homem que fora de sua confiança e que Hen-
riques tornara proscrito. Geraldo Geraldes, conhecido pela
alcunha de «o Sem Pavor».
Como se refere, tudo na conquista de Évora tem
cunho lendário. E o que a lenda conta, em substância, é
que o nobre Geraldo, oriundo de uma família da Beira, fo-
ra um dos mais valentes homens dos exércitos de Afonso
Henriques. Tão destemido e corajoso se portava nas bata -
lhas que D. Afonso, ele próprio um valente militar, se
mostrava espantado com tamanha desenvoltura guerreira,
a ponto de o designar como «o Sem Pavor». Parece que,
num desacato ocorrido na corte, Geraldo terá morto ou-
tro cavaleiro, sendo por esse acto sujeito a terrível casti-
go, possivelmente a pena de morte. Por isso fugiu.
Na serra de Montemuro encontrou Geraldo refúgio
para ele e para os seus homens, mandando inclusivamente
construir um castelo próprio. E aí passou a viver, recor-
rendo certamente a algumas pilhagens e surtidas de ar-
mas para se alimentar e ao seu séquito, amealhando al-
guma riqueza em proveito próprio, cavaleiro feudal sem
feudo nem rei que agora era. Em breve a sua fama de cora-
gem começou a atrair toda a espécie de foragidos, ban-
doleiros, proscritos, aventureiros. Tinha à sua volta mais
101
de 500 homens a cavalo e respectivos peões. Deveriam ser
perto de 3000 os homens que rodeavam Geraldo, num
exército privado que era já considerável e representava
uma ameaça ao poder real.
102
Reuniu então o foragido os seus homens. Não lhes
revela o plano mas, com cinco dos mais fiéis companheiros,
dirige-se às portas de Évora, o centro de uma vasta região
que impedia ao rei cristão o domínio quase total do Sul.
Geraldo, chegado a Évora, pede para falar com o al-
caide da cidade. Este recebe-o com des -
confiança, sabedor das turbulências que
este causava. Mas Geraldo tem uma ideia
simples para lhe propor. Como ele, alcaide,
sabia, D. Afonso Henriques odiava-o e
perseguia-o, querendo a sua morte. Por is-
so, vinha propor uma aliança com o alcaide
de modo a derrotar os exércitos do rei.
Para o chefe mouro a ideia parecia
agradável. E por isso o tratou com todas as
honras, hospedando-o durante dois dias e,
chave do plano de Geraldo, mostrando-lhe
minuciosamente toda a cidade de que tan- GERALDO
GERALDES,
to se orgulhava. O cavaleiro aceitou de bom grado o trato
o Sem Pavor.
gentil, e aproveitou bem a ocasião para identificar a fun-
do todas as defesas da cidade, muralha a muralha, torreão
a torreão.
103
ra conhece a fundo Évora e as suas fraquezas. Reúne de
novo os seus homens, em Novembro de 1166. Caminharam
de noite, esconderam-se de dia. Chegados às proximidades
de Évora, aquartelam-se, sempre escondidos. Então, sobe
Geraldo sozinho a torre de atalaia, decapitando o guarda
que nela se encontrava e defenestrando a filha deste, que
se encontrava com o seu pai. Desce a torre e escolhe uma
centena de homens para se aproximarem das portas da
cidade, agora sem a vigilância do guarda.
Então subindo de novo à torre, ateia um incêndio
no seu alto, sabendo que este era um sinal dos mouros no
caso de serem atacados. Alertado, o alcaide junta as suas
forças e sai de supetão para fora das muralhas, deixando
abertas as portas do burgo. E foi com este expediente que
Geraldo «o Sem Pavor» à frente dos seus homens entra
pela muralhas adentro, fechando as portas atrás de si e
começando imediatamente a matar quem quer que se lhe
apresentasse pela frente. Fechados do lado de fora, os
mouros foram presa fácil dos restantes homens de Geral-
do. Estava conquistada a riquíssima praça da planície, e o
saque ocorreu instantâneo e brutal.
Geraldo Geraldes não perde tempo. Manda imedia-
tamente avisar D. Afonso Henriques da conquista da
cidade, que lhe oferece, bem como um quinto do valor do
saque, ao mesmo tempo que humildemente pede perdão
pelos agravos passados.
Evidentemente, D. Afonso I fica exultante. Perdoa
Geraldo e nomeia-o alcaide-mor de Évora. O rei percebe
imediatamente a extrema importância da conquista. Uma
vez caída Évora, dificilmente resistirão as outras praças
104
muçulmanas que a rodeiam, e que constituem os últimos
bastiões do Sul. Rapidamente ruma para os territórios sar-
racenos, conquistando sucessivamente Moura e Serpa.
Sem se deter, toma Trujillo e Cáceres e possui, agora, um
importantíssimo território do que fora o Al-Gharb dos
muçulmanos. El-rei de Portugal exulta. E ainda quer mais,
na sua sede de conquista.
É então que a sua co-
biça se vai virar contra ele
de forma tremenda.
D. AFONSO HENRIQUES.
105
106
OCASO
DE UM GRANDE REI
107
AFONSO GANHA UM GENRO
108
cabeça do destemido guerreiro português. O que é certo
é que, a pretexto da fundação de Ciudad Rodrigo levada
a cabo por D. Fernando, D. Afonso I declara constituir
esta uma ameaça. Acto contínuo ataca a nova urbe à fren-
CARGA
te das suas tropas, acompanhado pelo seu filho, o infante
DE CAVALARIA
E FAZ UM INIMIGO
109
D. Afonso Henriques não vai apaziguar-se com a
generosidade do genro. Bem pelo contrário. A história da
sua vida demonstra até que ponto uma derrota o encar-
niçava ainda mais no desejo de vingança. Estava-lhe no
sangue. Deste modo, reúne de novo as suas tropas, e ei-lo
de partida em furiosa investida contra a Galiza. Quantas
vezes já o fizera!
De novo entra
em Tui, onde as
forças portuguesas
arrasam tudo em
volta, praticando
enormes actos
de crueldade.
Continua a sua
sanha conquis-
tadora, de terra
em terra, Galiza
adentro, até que
a paciência de Fernando se esgota e de novo vem sitiar
as tropas do pai de sua mulher. Cerca os portugueses no
castelo de Cedofeita, perto de Pontevedra. Os homens de
D. Afonso Henriques acabam por se render, diz-se que por
interpretarem como mau agoiro um raio que fulminou
uma das torres, guarnecida de besteiros.
E o que faz o monarca português? Dirige-se a toda
a pressa para sul, tentando conquistar Badajoz, que per-
tencia a povos muçulmanos que se encontravam sob a
protecção do reino de Leão. Chegado a Badajoz, acolitado
pelo intrépido Geraldo Geraldes, «o Sem Pavor», Afonso
110
Henriques depressa conquista e devassa a cidade, para
grande ira de Fernando, que tem a obrigação de defender
a população da cidade que à sua guarda se confiara.
Com um ímpeto excepcional, Fernando II chega a
Badajoz, onde um Afonso I impante, agora cercado mas
nem por isso acobardado, sai ao campo para travar de no-
vo batalha com as tropas leonesas. É completamente der-
rotado e, ainda mais grave para a sua honra e dignidade,
parte uma perna ao cair do seu cavalo.
Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal, en-
contra-se pela primeira vez em toda a sua vida prisioneiro,
e logo do genro. Envelhecido, tolhido pela doença, o orgu-
lhoso rei vai implorar pela sua liberdade, pedindo perdão
pelos desmandos que provocara.
D. Fernando mantém o sogro cativo durante dois
meses. Depois, com uma demonstração de magnanimi-
dade, concede-lhe a liberdade, a troco da entrega das ter-
ras tomadas, 20 cavalos de batalha e uma grande quantia
em ouro. No total, Afonso Henriques foi obrigado a de-
volver 25 castelos ao rei leonês.
Afonso Henriques regressa a Portugal na Primavera
de 1169. Está agora com 60 anos. Nunca mais pode voltar
a montar a cavalo, devido à perna que ficara para sempre
inválida. Afirma-se mesmo que ficou confinado a uma
cadeira.
Vira-se o ancião para o filho Sancho, que contava
dezasseis anos. Arma-o cavaleiro com essa idade. Nele de-
posita todas as esperanças, certamente convencido de que
em breve chegaria a sua hora. Viveria, espantosamente,
mais uma década e meia.
111
D. Sancho I
112
que pretendeu anular certas reformas levadas a cabo pelo seu
antecessor. Os cónegos e o povo portuense revoltaram-se, com
o apoio do rei, e as casas dos cónegos fiéis ao bispo foram saque-
adas e as igrejas arrombadas. O papa Inocêncio III tomou o
partido do bispo e excomungou D. Sancho. Este reagiu com vio-
lência, prendendo o bispo, saqueando e demolindo as suas casas,
e respondendo ao papa de forma tão «pouco respeitosa e au-
daciosa» como só «os heréticos» o haviam feito, nas palavras
do próprio Inocêncio III.
No final da sua vida, D. Sancho I haveria de reconciliar-se
com o papa, acatando as exigências dos seus delegados. D. SANCHO I.
113
A GENEROSIDADE DE FERNANDO II
D. AFONSO
joso de vingar afrontas antigas, o emir de Marrocos prepara,
HENRIQUES. a toda a pressa, um forte exército para invadir as terras
portuguesas. Fá-lo com tal su-
cesso que chega até Santarém,
a querida Santarém de D. Afon-
so I, e rapidamente a toma.
Estamos no ano de 1171 e
o velho guerreiro devia ferver,
amarrado à cadeira onde era
obrigado a repouso forçado. De-
via estar a congeminar planos
de contra-ataque, talvez sob o
co mando de seu filho Sancho,
quando mensageiros lhe trazem
uma notícia a todos os títulos
surpreendente. Fernando II aca-
bava de entrar em terras portu-
guesas com um vasto exército, e
dirigia-se para as zonas domi-
nadas pelos mouros.
O velho conspirador que
Afonso nunca deixara de ser te-
me o pior. Certamente que o seu
genro se queria aproveitar da
fragilidade portuguesa e parti-
lhar os despojos com os muçul-
manos. Às pressas envia men-
114
sageiros a Fernando II para se inteirar das suas intenções.
Rogava-lhe que esperasse pelo menos ver-se ele livre dos
infiéis para depois lhe poder dar combate. A resposta não
se faz esperar e vai colher desprevenido o ardiloso cons-
pirador que habitava em Afonso I. O rei de Leão ali esta-
va, em terras portuguesas, para proteger o sogro e o seu
reino!
Incrédulo, o rei de Portugal meditava. No lugar de
Fernando, é possível que tivesse feito exactamente o con-
trário. A generosidade do genro, após as afrontas que lhe
fizera, deixava-o confundido. O rei de Leão, por sua vez,
representou intimidação suficiente para que o emir Ius-
suf avaliasse imediatamente os riscos que corria e reti-
rasse em boa marcha para os seus territórios. A integri-
dade de Portugal estava, por enquanto, restituída.
115
A BULA MANIFESTIS PROBATUM, de 23 de Maio de 1179, pela qual o papa Alexandre III
reconhece D. Afonso Henriques como rei de Portugal.
116
sob a sua alçada alguns reis, o que não equivalia a abdicar de
reclamar autoridade sobre eles) – corresponde a uma «decla-
ração unilateral de independência».
A reacção do papa Lúcio II foi cautelosa. Em Maio de 1144,
na carta Devotionem tuam, aceita a vassalagem e o tributo
anual de quatro onças de ouro e promete defendê-lo «do assalto
dos inimigos visíveis e invisíveis», embora não o trate por rei,
mas antes por dux.
Só pela bula Manifestis probatum, de 23 de Maio de 1179,
é que o papa Alexandre III «certificou» plenamente o direito de
D. Afonso Henriques à coroa portuguesa, reconhecendo como
seus todos os territórios conquistados aos muçulmanos.
117
no estuário do Tejo a frota de Sevilha, num total de nove
galés, sob o comando de Ganim ben Mardanis, que cap-
turou duas galés portuguesas que estariam de vigia e as-
solou os arredores da cidade, regressando a Sevilha com
um riquíssimo despojo.
Na sequência deste ataque terá D. Afonso Henriques
encarregado um fidalgo chamado D. Fuas Roupinho de re-
Pormenor
activar a nossa frota e reorganizar a vigilância costeira.
de iluminura Terá então este proposto ao rei uma acção de re-
do século XVI
taliação contra Sevilha, que mereceu a sua aprovação. E,
onde se vê
a cidade
possivelmente no Verão de 1179, largou do Tejo a frota por-
de LISBOA. tuguesa, sob o comando de D. Fuas Roupinho, em que iria
embarcado o príncipe D. Sancho, a qual, depois de ter
saqueado Saltes, nas proximidades de Huelva, subiu o
Guadalquivir até Sevilha onde destruiu várias galés muçul-
manas e saqueou o arrabalde da cidade, regressando tri-
unfante a Lisboa. Uma retaliação perfeita em relação à
acção realizada meses antes pelos muçulmanos!
Não se conformaram estes com a ousadia dos
cristãos e logo no ano seguinte, 1180, ripostaram, envian-
do de novo a sua frota para a costa portuguesa, ainda sob
o comando de Ganim ben Mardanis, ao que parece com
ordem de destruir a frota portuguesa e, se possível, cap-
turar D. Fuas Roupinho.
118
ESTRONDOSA VITÓRIA
119
PORTUGAL
EM 1185,
à morte
de D. Afonso
Henriques.
120
cabo Espichel, tropeçou com a frota muçulmana que, por
mero acaso, iniciava a viagem de regresso a Sevilha, en-
volvendo-se com ela numa encarniçada batalha.
O número de galés portuguesas andaria à roda da
dezena, talvez dez ou onze (conforme se poderá deduzir
dos acontecimentos posteriores), o que daria a D. Fuas uma
ligeira superioridade numérica sobre o seu adversário.
Por outro lado é natural que as guarnições dos
navios muçulmanos estivessem bastante desfalcadas e
consideravelmente desmoralizadas com a derrota sofrida
em Porto de Mós. Seja como for, a batalha terminou com
uma vitória estrondosa dos portugueses, que capturaram
todas as galés inimigas e entraram com elas triunfalmente
em Lisboa.
Segundo as fontes árabes, D. Afonso Henriques terá
então conferido a D. Fuas Roupinho, como prémio pela
vitória que alcançara, o título de almirante, o primeiro da
história de Portugal.
121
MOSTEIRO
DE SANTA
CRUZ de
Coimbra.
122
tradição de resistência moçárabe à imposição da liturgia ro-
mana. Em 1111, coincidindo com uma ofensiva dos Almorávi-
das, tinha havido um conflito grave na cidade, em que Martim
Moniz aparece associado ao prior do cabido, Martinho Simões,
chefiando os moçárabes numa revolta contra o partido dos
«francos». Assim, também para pôr fim às antigas tradições
moçárabes e impor a unidade religiosa (segundo a liturgia ro-
mana), Santa Cruz adquire uma importância capital.
Afonso Henriques atribuirá a Santa Cruz de Coimbra, se-
gundo José Mattoso, «direitos eclesiásticos em Leiria e de grandes
domínios em todo o vale do Mondego, na faldas setentrionais
da serra da Estrela e numa vasta área à volta de Coimbra».
A igreja de Santa Cruz tornar-se-á o panteão da monar-
quia portuguesa e é lá que ainda hoje repousam os restos mor-
tais do primeiro rei de Portugal.
123
cho um digno sucessor, capaz de manter a integridade da
nação que ele criara. E nisso não se enganou.
Totalmente dedicado à vida familiar, sofreu grande
desgosto com a prematura morte de sua filha Mafalda,
que estava destinada a casar com Raimundo Berenguer,
conde de Barcelona. Desgosto idêntico ao que sofrera com
a morte da sua amada esposa, que tão cedo o deixara.
Urraca também já não habitava com ele, casada que
estava com Fernando II, ainda que mais tarde a repudi-
asse, entregando-a ao convento. Restava-lhe Teresa, for-
mosa e inteligente, a sua última grande companhia.
Até essa filha se irá embora. Preso de amores por
ela, Filipe, conde da Flandres, corteja-a e, após longas
manobras diplomáticas, finalmente consegue convencer
o velho rei a ceder, num acordo que se veio a revelar de
grande importância estratégica para uma nação que, ao
criar laços com outros Estados do Norte da Europa, se li-
bertava da mitigada condição de reino encastoado num
recanto peninsular.
Já sem razões para viver, falece D. Afonso
Henriques a 5 de Dezembro de 1185, com 74
anos de idade. Como infante governara 12
anos. Como rei, 45. Foi o rei com mais longo
reinado na história de Portugal. Por seu dese-
jo, sepultaram-no no Mosteiro de Santa Cruz,
em Coimbra, ao lado de sua mulher.
BRASÃO DE D. AFONSO
HENRIQUES em pintura
anónima do século XVIII.
124
TÚMULO DE D. AFONSO HENRIQUES em Santa Cruz de Coimbra.
125
Página da CHRONICA DE D. AFONSO HENRIQUES.
126
CRONOLOGIA
A PRIMEIRA
IMAGEM
CONHECIDA
DE D. AFONSO
HENRIQUES.
Originalmente
na igreja de
Santa Maria
da Alcáçova,
em Santarém,
está hoje no
Museu do
Carmo, em
Lisboa.
127
CRONOLOGIA
1087 1105
D. Henrique e D. Raimundo Pacto sucessório entre D. Raimundo
da Borgonha chegam à Península. e D. Henrique, em que o primeiro
se compromete, por morte
1090-01 de Afonso VI, a entregar-lhe
Casamento de D. Raimundo o governo da Galiza ou de Toledo
com D. Urraca, filha de Afonso VI em troca do seu reconhecimento
de Leão. Este entrega-lhe o condado por D. Henrique como rei de Leão.
da Galiza. Março Nascimento de Afonso
Raimundes (que viria a ser
1096 o imperador D. Afonso VII).
Casamento de D. Henrique
da Borgonha com D. Teresa, filha 1107
de Afonso VI. Este entrega-lhe os Morte de D. Raimundo.
condados Portucalense e de Coimbra.
128
CRONOLOGIA
1126
Morte de D. Urraca e coroação
de Afonso Raimundes como
D. Afonso VII.
1109 (?)
Nascimento de Afonso Henriques,
filho de D. Henrique e de D. Teresa.
1112
Morte do conde D. Henrique.
1117
D. Teresa começa a usar o título
de rainha.
129
CRONOLOGIA
1127
Cerco de Guimarães por D. Afonso
VII para submeter Afonso Henriques
e obrigá-lo a cumprir os deveres
de vassalagem.
1128
Junho Batalha de S. Mamede, de
que Afonso Henriques sai vitorioso.
130
CRONOLOGIA
1130
Morte de D. Teresa.
1139
Batalha de Ourique, com vitória
1131 de Afonso Henriques sobre os
Início da construção do mosteiro muçulmanos; começa a utilizar
de Santa Cruz de Coimbra. o título de rei.
1136
Egaz Moniz assume o cargo
de mordomo-mor.
1137
Tratado de paz de Tui, entre
D. Afonso Henriques e D. Afonso VII.
131
CRONOLOGIA
1143
Tratado de Zamora: Afonso VII,
imperador de Leão e Castela,
reconhece o o título de rei
a D. Afonso Henriques.
Afonso Henriques coloca o reino
sob a protecção (vassalagem lígia)
1140 da Santa Sé. Ambos os aconteci-
Os mouros destroem o castelo mentos contribuem para que este
de Leiria. ano seja considerado como
o da independência de Portugal.
1141
Recontro de Valdevez. Pazes entre 1145
Afonso VII e Afonso Henriques. Casamento de D. Afonso Henriques
1142
Afonso Henriques
recupera o castelo
de Leiria.
132
CRONOLOGIA
com D. Mafalda (ou Matilde), 1148
filha do conde Amadeu II de Sabóia A conselho de D. João Peculiar,
e Piemonte. arcebispo de Braga, Afonso
Henriques restaura as dioceses
1147 de Viseu e Lamego, que haviam
Conquista de Santarém e – com pertencido à metrópole de Mérida
a ajuda dos cruzados – de Lisboa. e eram, por conseguinte, sufra-
gâneas de Santiago de Compostela.
Os bispos nomeados para estas
dioceses são sagrados pelo arcebispo
de Braga, o que leva aos protestos
de Afonso VII junto do papa.
133
CRONOLOGIA
1158
Conquista cristã de Alcácer do Sal,
com a ajuda de cruzados.
1153
Fundação em Portugal da abadia 1160
cisterciense de Alcobaça. Afonso Henriques recebe em Tui
o conde de Barcelona, Raimundo
1157 Berenguer IV, para negociar com ele
Morte do imperador Afonso VII o casamento de seu filho Raimundo
e divisão dos seus estados. Início com a princesa Mafalda.
dos reinados de Fernando II, Afonso Henriques e Fernando II
de Leão, e de Sancho III, de Leão encontram-se no mosteiro
de Castela, filhos de Afonso VII. beneditino de Celanova, na Galiza,
134
CRONOLOGIA
celebrando um acordo que restituía as cidades de Trujillo e Cáceres.
a Fernando II a cidade de Tui D. Afonso Henriques encontra-se
e o respectivo território. com Fernando II de Leão em
Pontevedra e selam novo acordo
1165 de paz.
Conquista definitiva de Évora
por Geraldo sem Pavor; toma ainda 1166
Foral de Évora. Geraldo sem Pavor
toma os castelos de Montánchez,
Serpa e Juromenha; instala-se
nesta última, assediando Badajoz.
Fernando II de Leão casa-se
com Urraca Afonso, filha
de Afonso Henriques.
135
CRONOLOGIA
1169 1174
Desastre de Badajoz: Fernando II Casamento de D. Sancho, filho
de Leão, aliado dos almóadas, de Afonso Henriques, com D. Dulce,
aprisiona o rei de Portugal, que filha de Raimundo Berenguer IV,
é ferido gravemente numa perna. rei de Aragão.
O príncipe D. Sancho é chamado
a participar na adminis-
tração do reino.
136
CRONOLOGIA
1179 Iussuf, morre na sequência de um
Reconhecimento da independência ferimento sofrido durante o assédio.
de Portugal pelo papa Alexandre III A defesa da cidade é dirigida
(bula Manifestis probatum). por D. Sancho, o herdeiro do trono
D. Afonso Henriques quadruplica português.
o censo que pagava à cúria romana,
pagando de uma só vez 1000 peças 1185
de ouro. Morte de D. Afonso Henriques,
primeiro rei de Portugal.
1184
Os Almóadas recuperam territórios
até à linha do Tejo. Cercam
Santarém, mas não conseguem
tomá-la. O emir de Marrocos, Iacub
137
BIBLIOGRAFIA
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Bertrand Editora, Lisboa, 2002
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de Lisboa, 23, 1957
MATTOSO, José, História de Portugal, A Monarquia Feudal
(1096-1480), vol. II, Círculo de Leitores, 1993
MATTOSO, José, Identificação de um País. Ensaio sobre
as origens de Portugal: 1096-1325, vol. I,
Editorial Estampa, Lisboa, 2.ª Edição, 1985
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Medieval, Novas Interpretações, Imprensa
Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1985
MEDINA, João (coordenação), História de Portugal, Portugal
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Serrão, vol. V, Figueirinhas, Porto, 1992
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Ministério da Educação – ICALP, Lisboa, 1991
138
BIBLIOGRAFIA
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1997
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Raiz e Madrugada, vol. I,
Círculo de Leitores, 1989
SERRÃO, Joaquim Veríssimo, Portugal no Mundo, nos
Séculos XII a XVI, Verbo, Lisboa, 1994
139
FOTOS E ILUSTRAÇÕES
Página 7, Arquivo Distrital de Braga/Universidade do
Minho; páginas 10, 12, 15, 23 e 40, Catedral de Santiago
de Compostela; páginas 19 e 35, Sé de Braga/IPPAR; páginas
24, 38, 58, 61 e 116, Arquivo Nacional Torre do Tombo;
página 28, Mosteiro de Paço de Sousa/IPPAR; páginas 30
e 127, Museu do Carmo; páginas 50 e 95, Arquivo Histórico
Municipal, Lisboa; página 53, Capela do Salvador, Terroso,
Póvoa de Varzim; páginas 55 e 110, in «Camões e as Artes
Plásticas»; página 65, Museu Militar, Lisboa; páginas 66,
91 e 118, Museu Britânico; página 74, gravura de Vieira
Lusitano na obra «El Alfonso del Cavallero Don Francisco
Botello de Morais y Vasconcellos», Lucae, 1716; páginas 84
e 96, Alexandra Paulino; página 89, desenho de Domingos
Vieira Serrão e gravura de Ioan Schorquens, da obra
«Viagem da Catholica Real Magestade Del Rey D. Filipe II
N. S. ao Reyno de Portugal», por João Baptista Lavanha,
Madrid, 1622; página 93, in «Perspectiva de Lisboa»,
de G. Braunio, século XVI; página 105, in «Elogios dos Reys
de Portugal»; páginas 107 e 113, in «Lusitanorum Regum
Icones Ordine Temporum Expositae»; página 124, Academia
das Ciências; página 126, Biblioteca Municipal do Porto.
140
ÍNDICE
D. AFONSO
HENRIQUES
7 A FORMAÇÃO DO 34 D. Teresa, a mãe adversária
CONDADO PORTUCALENSE 35 UM CONFLITO FAMILIAR
8 DOIS FIDALGOS DA BORGONHA
9 HENRIQUE DA BORGONHA 39 BRAÇO DE FERRO
GANHA FORÇA COM O REI DE LEÃO
11 UMA ALIANÇA DE CONVENIÊNCIA 40 UM PRIMO PERIGOSO
13 D. Henrique da Borgonha 41 UMA AMARGA MENTIRA
15 UM ESTRANHO CASAL 43 O VALOR DA PALAVRA DADA
16 VOLTAS DO DESTINO 44 TRAIÇÃO
18 IRMÃS DESAVINDAS 46 EXPIAÇÃO E PERDÃO
48 O JOVEM INTEMPESTIVO
21 O NASCIMENTO DE UM REI 51 Gonçalo Mendes da Maia,
22 ACONTECIMENTOS DRAMÁTICOS o Lidador
23 MAIS CONSPIRAÇÕES
26 A GÉNESE DE UM NOVO REINO 53 A INDEPENDÊNCIA
27 Egas Moniz DE PORTUGAL
29 A EDUCAÇÃO DO JOVEM AFONSO 54 UM PACTO DE CONVENIÊNCIA
31 O NOVO REI DE LEÃO E CASTELA 55 O RECONTRO DE VALDEVEZ
32 SURGE UM LÍDER NATURAL 56 AFONSO VII CONFORMA-SE
141
ÍNDICE
58 REINO E REI, FINALMENTE! 99 UMA PESADA DERROTA
59 UMA RESPOSTA INSATISFATÓRIA 100 RUMO AO SUL
60 D. João Peculiar, 102 GERALDO, O SEM PAVOR
arcebispo de Braga 103 AUDÁCIA SEM LIMITES
62 O DESEJO DE CONQUISTA
63 A batalha de Ourique 107 OCASO DE UM GRANDE REI
64 SANTARÉM RECONQUISTADA 108 AFONSO GANHA UM GENRO
66 D. Mafalda, primeira rainha 109 E FAZ UM INIMIGO
de Portugal 112 D. Sancho I
114 A GENEROSIDADE DE FERNANDO II
69 A CONQUISTA DE LISBOA 115 A bula «Manifestis Probatum»
70 OBJECTIVO: LISBOA 117 OS PRIMEIROS FEITOS NAVAIS
72 ALIADOS PROBLEMÁTICOS 119 ESTRONDOSA VITÓRIA
73 EM MARCHA 121 Santa Cruz de Coimbra
75 PLANOS GORADOS 123 O FIM DO GRANDE MONARCA
77 IMPASSE
79 UM NOVO CURSO
PARA A CONQUISTA 127 CRONOLOGIA
80 VALENTIA SEM LIMITES
82 A carta a (de?) 138 BIBLIOGRAFIA
Osberto de Bawdsley
97 ALCÁCER
142
GRANDES PROTAGONISTAS DA HISTÓRIA DE PORTUGAL