Você está na página 1de 76

FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS – FMU

COORDENAÇÃO DO CURSO DE DIREITO

BRUNO HENRIQUE MINIUCHI PELLIZZARI

EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA NO COMBATE À


FALSIFICAÇÃO MONETÁRIA

SÃO PAULO

2018
2

BRUNO HENRIQUE MINIUCHI PELLIZZARI

EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA NO COMBATE À


FALSIFICAÇÃO MONETÁRIA

Monografia submetida ao Curso de Direito


das Faculdades Metropolitanas Unidas
como parte dos requisitos necessários
para a obtenção do título de Bacharel em
Direito, sob a orientação da Profª Drª
Janaina Thais Daniel Varalli.

SÃO PAULO
2018
3

FOLHA DE APROVAÇÃO

Monografia submetida ao Curso de Direito das Faculdades Metropolitanas


Unidas como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Bacharel
em Direito, sob a orientação da Profª Drª Janaina Thais Daniel Varalli.

Aprovado em: ____/____/_____

Nota: ______

BANCA EXAMINADORA:

Professor Orientador:

Janaina Thais Daniel Varalli

Professor Arguidor:

Professor Arguidor:
4

A dispetto degli avari


qui si coniano i contanti.
Se arte vera è il far denari,
L'arte nostra egual non há.
Che dobloni lampeggianti!
Che superbi colonnati!
Falsi e veri mescolati
Correran per la cità.
E la mano che li fabrica,
Qui sotterra nel mistero,
Illudendo ogni pensiero,
Sempre arcano resterà.
5

[A despeito dos avaros


que se cunham as moedas.
Se arte vera é o fazer dinheiro,
A nossa arte igual não há.
Que dobrões lampejantes!
Que soberbas colunatas!
Falsas e verdadeiras misturadas
Correm pela cidade.
E a mão que as fabrica,
Aqui coberta pelo mistério
Iludindo qualquer pensamento
Sempre arcano permanecerá.]a

a
Poesia de Jacopo Ferretti em: Os fabricantes de moedas falsas. Lisboa, Tip. De Elias José da
Costa Sanches, 1852.
6

AGRADECIMENTOS

Nenhum trabalho é feito por uma só pessoa. E isso não poderia ser diferente
no presente trabalho, que só foi possível ser concluído graças a ajuda e o apoio de
diversas pessoas.
O apoio mais importante, não só para a conclusão desse trabalho, mas para a
minha vida, é o que recebo da minha família. Em especial meus pais e meu irmão,
que sem o suporte irrestrito deles eu não conseguiria alcançar a maioria das minhas
realizações e não poderia continuar buscando sempre mais.
Durante minha caminhada universitária tive a oportunidade de conhecer
dezenas de professores, os quais sou eternamente grato pelos conhecimentos que
foram capazes de me transmitir, auxiliando no meu desenvolvimento acadêmico e
profissional. Mas, não posso deixar de destacar três professores que, além de
mestres, tornaram-se amigos e são a minha fonte de inspiração para o futuro.
Agradeço ao Profº Drº Wanderley Andrade da Costa Lima, por ser um ombro amigo
o qual eu sei que poderei contar durante toda a minha vida. A Profª Leticia Costa,
minha primeira orientadora, a qual me fez compreender o Direito Penal e passar a
amá-lo, além de ser a responsável por me apresentar a Profª Drª Janaina. E por fim,
mas não menos importante, a Profª Drª Janaina Thais Daniel Varalli, minha
orientadora e pessoa responsável por me dar forças para a conclusão do último
período da faculdade. Mesmo nos conhecendo a tão pouco tempo, tenho o
sentimento de que fomos amigos a vida inteira.
Agradeço a Sociedade Numismática Brasileira, em especial seu Presidente
Gilberto Fernando Tenor, por toda a ajuda desprendida durante a elaboração desse
trabalho. Fornecendo dados e livros essenciais para que fosse possível elucidar
todas as informações trazidas.
E, enfim, as pessoas que estão sempre presentes na minha vida e que me
dão o suporte para eu consiga dar o meu máximo em tudo que eu faço.
Representadas pela Nathalya Ferreira de Melo, o presente que a faculdade me deu;
Wilton da Silva, que sempre me instiga a buscar mais e Abílio Antunes Neto,
parceiro de negócios e da vida.
7

RESUMO

Este trabalho analisa o crime de falsificação monetária ocorrido no Brasil desde o


seu descobrimento até os dias atuais. Abrangendo um intervalo de mais de 500
anos da história brasileira. Busca apresentar as principais disposições legais criadas
durante esse período, demonstrando as circunstâncias sociais, políticas e
econômicas que permitiram tal crime continuar sendo praticado. Além disso, objetiva
identificar os esforços desprendidos pelos governos em oposição a essas práticas.
Na construção dessa análise, articulam-se quatro diferentes eixos analíticos,
divididos por períodos históricos: Colônia; Reino Unido de Portugal, Brasil e
Algarves; Império e República. Trazendo em cada período a estrutura judiciária e
histórica, as leis editadas e os relatos de época.

Palavras chaves: moeda falsa; falsificação; meio circulante; impunidade; política


monetária; direito penal; história; numismática.
8

ABSTRACT

This work looks at the money counterfeiting crime occurred in Brazil since its
discovery to the present day. Covering an interval of more than 500 years of Brazilian
history. It seeks to present the main legal provisions created during this period,
demonstrating the social, political and economic circumstances that allowed such
crime to continue. In addition, it aims to identify the efforts made by governments in
opposition to these practices. In the construction of this analysis, four different
analytical axes are articulated, divided by historical periods: Colony; United Kingdom
of Portugal, Brazil and Algarves; Empire and Republic. Bringing in each period the
judicial and historical structure, laws enacted and reports of the time.

Key words: counterfeit currency, falsification, monetary system, impunity, monetary


policy, criminal law, history, numismatic.
9

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO…………………………………………………………………………..10
1. FALSIFICAÇÃO MONETÁRIA NO BRASIL COLÔNIA...................................12
1.1. A ESTRUTURA JUDICIÁRIA COLONIAL..................................................12
1.2. LEIS COLONIAIS........................................................................................13
1.3. TESTEMUNHOS DE ÉPOCA.....................................................................17
1.4. O PRIMEIRO CRIME DE MOEDA FALSA JULGADO NO
BRASIL.........................................................................................................20
2. FALSIFICAÇÃO MONETÁRIA NO REINO UNIDO DE PORTUGAL, BRASIL E
ALGARVES.......................................................................................................23
2.1. CONTEXTO HISTÓRICO..........................................................................23
2.2. LEIS...........................................................................................................24
2.3. RELATOS DOCUMENTADOS..................................................................27
3. FALSIFICAÇÃO MONETÁRIA NO IMPÉRIO DO BRASIL..............................29
3.1. A ESTRUTURA JUDICIÁRIA IMPERIAL...................................................29
3.2. LEIS IMPERIAIS........................................................................................30
3.3. DADOS HISTÓRICOS...............................................................................50
4. FALSIFICAÇÃO MONETÁRIA NA ERA REPUBLICANA................................56
4.1. APLICAÇÃO DAS LEIS NA REPÚBLICA..................................................56
4.2. LEIS REPUBLICANAS..............................................................................58
4.3. ANÁLISE DOUTRINÁRIA E JURÍDICA DO ARTIGO 289 DO CÓDIGO
PENAL DE 1940...........................................................................................61
4.3.1. Da moeda falsa e o estelionato...............................................64
4.3.2. Do princípio da insignificância...............................................65
4.4. CASOS CONCRETOS..........................................................................67
CONCLUSÃO....................................................................................................71
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................73
10

INTRODUÇÃO

O presente trabalho busca tratar da evolução da legislação brasileira no


combate à falsificação monetária, analisando desde as nossas leis coloniais, até o
art. 289 do Código Penal vigente.
A falsificação monetária é uma prática tão antiga quanto à própria criação da
moeda como meio de pagamento, que ocorreu quando foi substituído o sistema de
escambo (troca de mercadorias), por um meio no qual se atribuiu valor a um
―pedaço‖ de metal, para que através desse fossem realizadas as operações
comerciais. Desde essa troca o Estado se encarregou de comandar e monopolizar
essa emissão e, consequentemente, o combate a tal crime também se tornou um
interesse estatal.
O meio circulante brasileiro sempre foi um grande problema para os
governantes. Mesmo antes do príncipe regente D. João vir para o Brasil, fugindo de
Napoleão, em 1808, o crime de moeda falsa era amplamente praticado por aqui e já
se acumulavam as tentativas de conter o derrame de moedas falsas.
Diversos condenados por crimes praticados na metrópole, quando não
condenados com a pena capital, eram degredados para as colônias, como era o
Brasil na época. Aqui encontravam facilidades para poder voltar a colocar em prática
seus crimes, entre eles o de falsificação de moedas.
Os transtornos ocasionados pela falsificação foram tão grandes que acabou
por se tornar um problema internacional, visto que grande quantidade dessas
moedas desembarcava no Brasil, vindas do estrangeiro, escondidas em caixas e
barris de mercadorias diversas.
O governo teve de tomar medidas extremas, como celebrar tratados e enviar
cartas a governantes e soberanos de nações estrangeiras, comunicando sobre o
que estava ocorrendo e pedindo providências em relação aos crimes que estavam
sendo cometidos por seus cidadãos e súditos.
Tal crime continuou sendo praticado durante toda a história do Brasil e segue
sendo executado em larga escala até os dias atuais. Devido a esses fatos, os
governos tentaram de maneira enérgica combatê-lo, editando leis, decretos, alvarás
e celebrando diversos tratados internacionais.
11

Porém todas essas medidas não foram suficientes para acabar com essa
prática. Entretanto, não faltaram tentativas, como pode ser observado na leitura do
presente trabalho, que traçará um paralelo entre o crime de falsificação monetária e
a própria evolução da legislação brasileira como um todo.
12

1. FALSIFICAÇÃO MONETÁRIA NO BRASIL COLÔNIA

1.1. A ESTRUTURA JUDICIÁRIA COLONIAL

O período colonial Brasileiro, ou seja, aquele em que fomos colônia de


Portugal, é o maior período de nossa história pós ―descobrimento‖. Inicia-se com a
chegada dos portugueses no Brasil, em 1500, e se estende até 1815. Porém a
colonização do Brasil só se inicia, efetivamente, em 1532, na Vila de São Vicente, no
litoral paulista.
É importante destacar que durante esse período as leis que regiam a Colônia
Brasileira eram advindas de Portugal. Não eram leis feitas para as colônias, seja a
Brasileira ou outras que Portugal possuía na época, mas sim leis portuguesas com
aplicação em todos os seus territórios. A estrutura jurídica portuguesa não era algo
simples, mas complexa. Carlos Alberto Carrillo ilustra como essa estrutura era
formada:
Três grandes compilações formavam a estrutura jurídica portuguesa. O
primeiro a ordenar uma codificação foi D. João I, que reinou de 1385 a
1433. A elaboração atravessou o reinado de D. Duarte, a regência de D.
Leonor, sendo promulgadas pelo recém-coroado Afonso V, que, apesar de
nada ter contribuído para a obra, deu-lhe nome: Ordenações Afonsinas, que
vigoraram de 1446 a 1521, ano em que D. Manoel promulgou a que levou
seu nome: Ordenações Manuelinas, fruto da revisão das Afonsinas e da
recompilação das leis extravagantes. Depois das Manuelinas, Duarte Nunes
de Leão recompilou novas leis extravagantes, até 1569, publicação muito
conhecida por Código Sebastiânico, apesar de não ter havido participação
ativa de D. Sebastião. Uma nova revisão das Ordenações foi encomendada
pelo rei Filipe II a grupo de juristas chefiado por Damião de Aguiar, que as
apresentou e obteve aprovação, em 1595, somente impressa e entrada em
2
vigor em 1605 com o nome de Ordenações Filipinas.

As Ordenações portuguesas eram, portanto, aplicadas no Brasil. Porém a sua


aplicação muitas vezes ocasionava conflitos, visto que eram Ordenações feitas para
Portugal, e que acabava gerando a necessidade de adaptações, devido às
diferenças culturais e a dificuldade de aplicação nessas colônias 3.

2
CARRILLO, Carlos Alberto. Memória da Justiça Brasileira. Salvador: Tribunal de Justiça, 1997.
3
CEZARIO, Leandro Fazollo. A estrutura judicial no Brasil Colonial: criação, ordenação e
implementação. Boletim Jurídico, Uberaba/MG, a. 9, no 585. Disponível em:
<https://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/artigo/2045/a-estrutura-judicial-brasil-colonial-criacao-
ordenacao-implementacao> Acesso em: 3 nov. 2018.
13

1.2. LEIS COLONIAIS

Após abranger o contexto histórico da aplicação das leis no Brasil durante o


período colonial, vamos apresentar as principais previsões relacionadas ao tema de
nosso estudo, que é moeda falsa. Nas Ordenações Afonsinas, em seu livro 5º, no
título V, intitulado ―Dos que fazem moeda falsa‖, traz a previsão de tal crime e sua
punição:

El Rey Dom Affonso, o quarto de muita louvada memória em seu tempo fez
ley em essa forma que se segue.
Se o nosso moedeiro, ou outro, moeda falsa fizerem, e dele forem vencidos,
4
talhem-lhe os pés e as mãos, e percam quanto ouverem .

Nas Ordenações Manuelinas, em seu livro 5º, no título VI, intitulado ―Dos que
fazem moeda falsa, ou a despendem, ou a cerceam. E do Ourivez que faz alguma
falsidade em suas obras‖, previam-se penas graves a quem cometesse tal delito,
como se observa abaixo:

Moeda falsa é cousa muito prejudicial na Republica, e portanto merecem


ser gravemente punido os que nisso forem culpados, pelo qual mandamos
que todo aquelle, que falsa moeda fizer, ou a isso der favor, ajuda ou
conselho, ou for dello sabedor, e o não descobrir, morra morte natural de
5
fogo, e todos os seus bens sejam confiscados para a Coroa do Reino.

Neste mesmo título é definido o que a coroa considera como moeda falsa:

E declaramos, moeda falsa he toda aquella, que não he feita per nosso
mandado, em qualquer maneira que se faça, ainda que seja feita daquella
materia e forma, de que é feita a nossa verdadeira moeda, que se faz por
nossa mandado; porque, segundo Direito e razão, ao Rei, ou Príncipe da
Terra somente pertence faze-la, e a outro algum não, de qualquer
6
dignidade, e preeminência que seja.

4
COIMBRA, Instituto de História e Teoria das Ideias da Faculdade de Letras. Ordenações
Afonsinas. Disponível em: <http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/afonsinas/>. Acesso em: 12. Ago. 2018.
5
COIMBRA, Instituto de História e Teoria das Ideias da Faculdade de Letras. Ordenações
Manuelinas. Disponível em: <http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/manuelinas/> Acesso em: 12. Ago. 2018
6
Ibidem.
14

Nas Ordenações Filipinas, também em seu livro 5º, no título XII, dispunha:

Moeda falsa he toda aquella, que não he feita per mandado do Rei, em
qualquer maneira que se faça, ainda que seja feita daquella materia e
forma, de que se faz a verdadeira moeda, que o Rei manda fazer: porque
conforme a Direito ao Rei somente pertence faze-la, e a outro algum não,
de qualquer dignidade que seja. E por moeda falsa ser cousa muito
prejudicial na Republica, e merecem ser gravemente castigados os que
nisso forem culpados, mandamos que todo aquelle, que moeda falsa fizer,
ou a isso der favor, ajuda ou conselho, ou for dello sabedor, e o não
descobrir, morra morte natural de fogo, e todos os seus bens sejam
7
confiscados para a Coroa do Reino .

Conforme se observa pelo endurecimento da pena prevista nas Ordenações


Afonsinas, de mutilação de pés e mãos, para morte pelo fogo nas Ordenações
Manuelinas e Filipinas, o crime de falsificação monetária era um crime considerado
gravíssimo, por lesar a economia da Coroa, era punido com a punição máxima na
época, que era a pena de morte por fogo. Além da punição prevista em cada
Ordenação, todas elas previam, cumulativamente, a pena de perda de bens e
valores para a Coroa. Como uma maneira de compensar os valores perdidos pela
falsificação.
O Conselheiro Batista Pereira ofereceu caracterização do direito penal das
Ordenações Manuelinas e Filipinas em relação às penas de morte, que as definiu
como:
A pena de morte natural era agravada pelo modo cruel de sua inflição;
certos criminosos, como os bígamos, os incestuosos, os adúlteros, os
moedeiros falsos eram queimados vivos e feitos em pó, para que nunca de
8
seu corpo e sepultura se pudesse haver memória .

Todas essas punições eram uma maneira de tentar barrar tal crime, já que os
itens de segurança monetário no século XVII eram quase inexistentes, sendo tais
moedas cunhadas de maneira muito arcaica e facilmente reproduzidas. Sendo difícil

7
COIMBRA, Instituto de História e Teoria das Ideias da Faculdade de Letras. Ordenações Filipinas.
Disponível em: <http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/filipinas/ordenacoes.htm>. 12. Ago. 2018
8
TINÔCO, Antonio Luiz Ferreira. Código Criminal do Imperio do Brazil annotado. Edição fac-
similada da 1ª edição de 1830. Brasília: Senado Federal, 2003. (Coleção história do direito brasileiro.
Direito penal; 1). Disponível em:
<https://bdjur.stj.jus.br/jspui/bitstream/2011/63206/codigo_criminal_imperio.pdf>. Acesso em 08 out.
2018.
15

para uma população sem conhecimento aprofundado de seu dinheiro distinguir uma
peça verdadeira de uma peça falsa, fazendo com que tais moedas entrassem
facilmente em circulação, ocasionando uma grande perda para a Coroa.
Tais ordenações foram aplicadas durante todo o período em que o Brasil foi
colônia de Portugal. A primeira expedição colonizadora do Brasil chegou em 1530,
chefiada por Martin Afonso de Souza. Na época de tal expedição a Ordenação
vigente era a Ordenação Manuelina, portanto, na colônia brasileira a punição vigente
para o crime de moeda falsa era a morte por fogo, prevista nas duas Ordenações
que vigoraram nesse período.
Além das Ordenações, o Rei governava através de Alvarás Régios e
Decretos. Abaixo alguns dos principais Alvarás e Decretos que possuíam alguma
disposição referente ao crime de moeda falsa. O período compreendido de estudo
desses Alvarás e Decretos se inicia em 1808, pois é a partir dessa data que é
possível consultar no site da Câmara dos Deputados a legislação brasileira.
O Alvará de 12 de outubro de 1808, no qual traz a ordem para circular na
Capitania de Minas Gerais os pesos espanhóis depois de marcados e dá
providencias sobre o troco do ouro em pó, também dispõe sobre as moedas falsas e
equipara certas condutas à da falsificação monetária, como pode ser observado nos
excertos a seguir:

(...) querendo outrosim precaver os males que desgraçadamente a cobiça


humana possa causar com a introdução de moeda falsa; sou servido
determinar o seguinte:
(...)IV. Nos registros da Capitania de Minas Geraes se não dará entrada ou
sahída aos ditos pesos, nem aos marcados com o cunho de minhas reaes
armas que sómente devem correr como moeda provincial na dita Capitania
e dentro do espaço terminado pelos Registos, ficando incursa no crime de
moeda falsa toda a pessoa que pretender passar taes pesos pelos ditos
9
Registos .

Já o Alvará de criação do Banco do Brasil, também de 12 de outubro de 1808


traz junto com a ordem de criação do Banco o ―Estatuto para o Banco Público‖ que
em seu artigo XXIII inclui mais condutas criminosas referentes à falsificação
monetária, que deixa de ser somente a falsificação de moedas:

9
BRASIL. Senado Federal. Legislação do Império. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio>. Acesso em 15. Ago. 2018.
16

Art. XXIII. Os falsificadores de letras, bilhetes, cedulas, firmas ou mandatos


10
do Banco serão castigados como os delinquentes de moeda falsa .

Para se entender a gravidade com a qual a Coroa tratava o crime de


falsificação monetária, em 1810, por razão do casamento da Princesa D. Maria
Thereza, o Rei concedeu perdão a diversos criminosos que estavam presos,
excluídos desse perdão, entre outros crimes, estava o da moeda falsa.

DECRETO - DE 22 DE OUTUBRO DE 1810


Concede perdão aos criminosos presos

Achando-se felizmente concluido o matrimonío da Princeza D. Maria


Thereza, minha muito amada e prezada filha, com o Infanto D. Pedro
Carlos, meu muito amado e presado sobrinho, e filho do Infante de
Hespanha D. Gabriel e da Infante D. Marianna Victoria, minha muito amada
e prezada irmã; e desejando eu por tão plausivel occasíão corresponder em
tudo o que for justo ao zelo e amor que todos os meus vassallos, e
particularmente os moradores desta Cidade do Rio de Janeiro, mostram ao
meu real serviço nas demonstrações de contentamento destas felicidades; á
maneira do que, em outras semelhantes occasiões de alegria publica, tem
já passado a ser um costume fundado em direito: hei por bem fazer mercê
aos presos, que se acharem por cansas crimes, não só nas Cadeias
publicas do Districto da Relação desta Cidade do Rio de Janeiro. e nas
Cadeias da Relação da Cidade da Bahia e seu respectivo Districto, mas
também nas Cadêas do todas as Comarcas deste Estado do Brazil, de lhes
perdoar livremente por esta vez (não tendo elles mais partes que a Justiça)
todos e quaesquer crimes pelos quais estiverem presos, à excepção dos
seguintes, que pela gravidade delles, e pelo que convem ao serviço de
Deus e bem da Republica, se não devem isentar das penas das leis; a
11
saber; (...) moeda falsa; (...) .

No Alvará de 10 de setembro de 1811, no qual o Rei Dom João manda


estabelecer nas Capitais do Governo e nas Capitanias dos domínios ultramarinos,
juntas para resolver aqueles negócios que antes se expediam pelo recurso à Mesa
do Desembargo do Paço.
Em uma das disposições permite se expedir perdões que eram concedidos
pelo Rei na Sexta-Feira Santa, desde que a parte haja pago a pena pecuniária 12.
Porém, novamente, o crime de falsificação monetária fica excluído dessa
possibilidade de perdão, entre outros crimes.
O Alvará de 13 de maio de 1812 manda criar um Tribunal de Relação na
cidade de São Luís da Capitania do Maranhão e entre outras disposições traz a

10
BRASIL. Senado Federal. Legislação do Império. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio> . Acesso em 15. Ago. 2018.
11
Ibidem.
12
Ibidem.
17

competência do Ouvidor Geral do Crime, que abarca o crime de falsificação


monetária, como pode ser visto a seguir:

I. Ao Ouvidor Geral do Crime pertence conhecer por acção nova de todos


os delictos que se commetterem na Cidade de S. Luiz do Maranhão, ou em
outro qualquer logar aonde a Relação estiver e quinze leguas ao redor,
procedendo-se por devassas e querellas ou por seu oficio ; e os feitos que
se processarom no seu Juizo, os despachará em Relação.
II. Nos crimes de traição, moeda falsa, falsidade, sodomia, tirada de presos
da cadeía, morte, resistencia á Justiça e todos os outros a que pela lei for
imposta a pena de morte natural, sendo commettidos na sobredita Cidade
ou em outro logar em que esteja a Relação, e quinze leguas ao redor, será
privativa do Ouvidor Geral do Crime a jurisdicção de proceder pelos modos
sobreditos: e em todos os outros casos, pelos quaes for imposta menor
pena, será sua jurisdicção cumulativa com os outros Ministros que dos
crimes puderem conhecer, de sorte que neste caso terá logar a prevenção
13
.

No mesmo Alvará, no título X, art, V, novamente, proíbe a concessão de


perdão ao crime de falsificação monetária pelas mesas do tribunal. A edição de tais
Alvarás e Decretos só reforça o empenho da Coroa no combate à falsificação
monetária. Crime esse que vinha acontecendo com grande frequência, como
podemos observar pelos relatos de época expostos no próximo título desse trabalho.

1.3. TESTEMUNHOS DA ÉPOCA

O século XVII foi marcado pela abundante circulação de moedas falsas. Tais
práticas já eram comuns na Europa, e no Brasil não poderia ser diferente. As
moedas eram cunhadas de maneira clandestina no Brasil e fora dele. Sendo
introduzidas aqui. A grande parte dessas moedas falsas tinham como procedência
outros países. Para os colonos, era um meio de suprir a falta de moeda na época,
sejam verdadeiras ou falsas, as moedas eram usadas. Mesmo com o risco de
punição14.
O primeiro grande exemplo de falsificação de moedas em grande escala no
Brasil é a Casa de Moeda Falsa do Paraopeba, fundição clandestina de moeda que

13
BRASIL. Senado Federal. Legislação do Império. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio>. Acesso em 15. Ago. 2018.
14
LEVY, M. B. (1983). Elementos para o estudo da circulação da moeda na economia
colonial. Estudos Econômicos, n. 13 (especial), p. 825-840.
18

teve seu funcionamento no decorrer do auge do Ciclo do Ouro no século XVIII na


antiga Capitania de Minas Gerais.
A estrutura era altamente fortificada com armamento bélico, com o objetivo
de protegê-la de forasteiros e vizinhos. Foi desativada ainda no século XVIII. O
maquinário usado tinha como origem equipamentos roubados de casas de fundição
oficiais. Sua localização era estratégica, nos contrafortes da vertente ocidental da
então chamada Serra do Paraopeba, escondida nos caminhos novos da Estrada
Real.
A casa da moeda clandestina deu origem ao atual topônimo da Serra da
Moeda, bem como ao município mineiro de Moeda. A fábrica tinha em seu quadro
de funcionários aproximadamente 100 homens das mais diferentes origens,
incluindo antigos funcionários da administração portuguesa na América. Era
comandada por Inácio de Souza Ferreira e funcionou por vários anos apoiada por
Dom Lourenço de Almeida, governador da capitania, no período de 1721 a 1732 15.
As moedas portuguesas utilizadas pelo Brasil no início de nossa colonização
eram largamente falsificadas, sendo introduzidas em Portugal e nas suas colônias,
como o Brasil, para circularem como boas.

Em novembro de 1563, chegou de Flandres ao porto da vila de Bayona, na


Galiza, uma nau chamada S. João, pertencente a Gaspar da Rocha e a
João Maciel, moradores na vila de Viana do Minho, na qual foram achados,
entre o carregamento, 11 barris de moeda de cobre, do valor de 5 Reaes,
cunhadas com as armas de Portugal e o tipo igual ao usado nas Casas de
moeda do Reino. Procedendo-se a investigações soube-se serem autores
desta falsificação dois portugueses, Gaspar Dias e Salvador da Palma, um
16
morador em Anvers e outro em Middelbourgh .

Na Carta Régia de 26 de outubro de 1733 o Rei escreve ao Conde de


Sabugosa comunicando a Carta Régia de 12-8-1732 ao Governo das Minas e a
resposta deste de 11 de fevereiro dando conta de que vários implicados no crime de
moeda falsa haviam passado para o sertão da Bahia com a fábrica, a fim de
continuar a moedagem, trabalhar nos diamantes e seguir para a Holanda, via África.

15
TÚLIO, Paula Regina Albertini. Falsários D’El Rei: Inácio de Souza Ferreira e a casa de moeda
falsa do Paraopeba. (Minas Gerais 1700-1734). 2005. Dissertação (Mestrado em História) –
Universidade Federal Fluminense, Niterói.
16
SOMBRA, Severino (1938). Historia monetaria do Brasil colonial: repertorio cronológico com
introdução, notas e carta monetária(PDF). [S.l.]: Oficinas gráficas da emp. Almanak Laemmert,
ltda.
19

Ordena Sua Majestade que o Conde tome todas as providências para prendê-
los, sequestrar-lhes os bens e remeter preso para Lisboa o principal culpado,
Antonio Pereira, antigo Abridor da Casa da Moeda do Rio de Janeiro, enviando, para
isso, uma Relação com os nomes de todos os implicados 17.
Em 1742 o Governo do Rio de Janeiro, na Junta convocada, a fim de adotar
providências contra a falsificação das moedas, expôs o seguinte:

Que principiando correr nesta cidade muitas moedas falsas de ouro de


quatro mil réis pelas mãos dos moradores que com sinceridade as haviam
recebido, sem refletirem na sua qualidade, e principalmente o Tesoureiro
geral que só de ir no dia de recebimento apresentou dezesseis que a sua
desconfiança fez levar à Casa da Moeda, e onde se reconheceram falsas, e
por tais se cortaram.
Convocou a Junta a fim de deliberar o que se julgasse mais útil. Todos
foram de parecer, que se mandasse lançar bando, para que toda a pessoa
que já tivesse das tais moedas de quatro mil réis fizesse exame nelas, como
em qualquer qualidade de moeda, e que reconhecendo não serem
legitimamente fabricadas as poderiam levar à Casa da Moeda desta cidade
no termo de um mês, na qual devia haver ordem, para se lhe fazerem os
verdadeiros exames, que convinham e que faltando-se a dar cumprimento
ao referido, no dito termo declarado, achando-se na mão de qualquer
18
pessoa das tais moedas falsas incorreriam na pena da Lei .

Em Ofício de 12 de julho de 1747, o Conde das Galvêas oficia ao Secretario


de Estado informando que "passa já de um ano, que se começaram a descobrir
nesta Cidade algumas moedas Provinciais falsas do valor de 4 mil reis, e pouco
mais de um mês depois, se viram correr outras moedas de 4$000 também falsas",
acerca das quais o Provedor da Casa da Moeda fez uma representação, juntando
também "copia da lei 29 de julho de 1746, que se publicou nesse Reino de que não
tínhamos noticia alguma". ―A vista dela — acrescenta o Conde — e de se tratar do
mesmo caso, que nos sucede aqui, logo assentei na determinação de se fazer
publicar e mandá-la observar nesta Capitania e em todas as Comarcas e mais terras
de sua jurisdição e dependência, porem como se tratava de matéria tão grave, e de
consequências tão importantes, não me parecendo tomar somente sobre mim a
resolução dela, chamei 6 Ministros, aos principais desta Relação, e propondo-lhes o
caso e a necessidade que havia de se tomar logo uma pronta providencia", todos
concordaram sobre a conveniência de se mandar "publicar nesta Capitania a mesma

17
SOMBRA, Severino (1938). Historia monetaria do Brasil colonial: repertorio cronológico com
introdução, notas e carta monetária(PDF). [S.l.]: Oficinas gráficas da emp. Almanak Laemmert,
ltda.
18
Ibidem.
20

lei que Sua Majestade mandou se observasse em Portugal". Mandou-se, então,


lavrar o Bando com a cópia da lei, o qual se remeteu junto, seguindo também
algumas moedas encontradas.
A respeito do que propôs o Provedor da Casa da Moeda sobre se mandar
arruar os Ourives, da Cidade, não foi tão fácil a sua execução, "quanto mais que
como estas moedas são vasadas em areia o que claramente se conhece não são os
Ourives que as fabricam os que tem lojas publicas, mas os que buscam logares
ocultos, que não faltam"19.
Em Ofício de 5 de junho de 1755 o Governo Interino comunica a Corte Real a
prisão na Comarca de Jacobina, de vários indivíduos acusados de moeda falsa 20.
Em Ofício de 7 de agosto de 1757, ao Desembargador Ouvidor Geral da
Relação da Bahia que examinou "os autos da devassa que tirou o Ouvidor que foi da
Comarca de Jacobina (Henrique Correia Lobato) da fábrica de moeda falsa, e
extravio do ouro em pó, que se descobriu no Continente daquela Comarca", e fez
remeter os 9 réus presos "com 54 moedas de ouro falsas de 6$400 cada uma",
ordena o Vice-Rei que "proponha em Relação estes feitos, visto que Sua Majestade
(lhe) ordenou em Provisão de 6 de Maio do corrente ano faça sentenciar estes Réus,
e lhe dê conta das execuções das sentenças, cujo teor remeterá a esta Secretaria
de Estado" 21.

1.4. O PRIMEIRO CRIME DE MOEDA FALSA JULGADO NO BRASIL

O 4º Ouvidor da Capitania do Espírito Santo foi o Desembargador Francisco


Sales Ribeiro, que tomou posse em 2 de dezembro de 1752. Após proceder com o
sequestro de algumas capitanias, por ordem régia, e incorporá-las à Capitania do
Espirito Santo, entre elas a vila de São Salvador, foi a essa vila em 1756, para, nos
termos da lei, proceder à correção nos cartórios. Suas ações levaram à prisão

19
SOMBRA, Severino (1938). Historia monetaria do Brasil colonial: repertorio cronológico com
introdução, notas e carta monetária(PDF). [S.l.]: Oficinas gráficas da emp. Almanak Laemmert,
ltda.
20
Ibidem.
21
Ibidem.
21

vadios e criminosos e examinou as Contas da Câmara, dos testamenteiros, capelas,


fazendo o sequestro dos bens de muitas pessoas 22.
Durante seu trabalho como Ouvidor, chegou ao seu conhecimento o
aparecimento na vila de moedas falsas. As moedas possuíam valor facial de 6.400
réis. Em 3 de março foi aberta rigorosa devassa, que só foi concluída em 10 de
junho de 1756. Os resultados da investigação foram da apuração da conduta
criminosa por parte do carmelita descalço Fr. Custódio de Jesus e dos ourives
Bernardo Pereira de Carvalho, parente do frade, e Antônio de Almeida Rabelo, os
quais em 18 do mesmo mês foram enviados, o primeiro ao Provincial do seu
convento e os dois últimos para as cadeias do Rio de Janeiro23.
Na carta que o Ouvidor comunicava os fatos ao Secretário do Estado, acusou
à Ordem do Carmo de Campos, ocasionando boatos a respeito do Fr. Custódio:

Nesta vila depois de encerrada a devassa, se tem espalhado que este


religioso se fora ordenar a Buenos Aires, com reverendas falsas e que
assistindo algum tempo na vila de São Pedro do Rio Grande do Sul, de lá
fugira com outro religioso do Carmo, por serem compreendidos no mesmo
24
delito de fabricarem moedas .

O Chanceler da Relação do Rio de Janeiro, no recebimento da devassa e dos


presos, levou ao conhecimento do Rei o ―gravíssimo crime‖ e pediu instruções de
como deveria proceder no julgamento dos acusados. Em carta de 29 de julho do
mesmo ano descreveu as moedas falsas apreendidas:

As moedas falsas tem a diminuição de húa oitava e 3 grãos de peso. São


muito diversas na forma conhecida e vasadas e formadas em cadinho de
25
ourives .

Em relação à dúvida sobre a jurisdição para conduzir o processo, relatou:

Como este crime é privativo do Juiz da Moeda, parece que não devem ser
sentenciados nesta Relação, pois este caso na América é de grande e
prejudiciais consequências e digno de ser julgado em Tribunal de mais

22
VASCONCELOS, Fernando Eustáquio de Souza. O papel moeda: falsificação, derrame. Revista
O Alferes. Minas Gerais, ano 6, n. 16, páginas 15-43, 1º trimestre de 1988. Disponível em:
<https://revista.policiamilitar.mg.gov.br/index.php/alferes/article/viewFile/473/451>. Acesso em: 1 nov.
2018.
23
Ibidem.
24
Ibidem.
25
Ibidem.
22

experiência que este que está ainda no seu principio e não tem ministros
que bastem. Dos 9 juízes que se compõem a Relação, um acha-se em
Sabará em comissão, outro morreu e os mais, raras vezes se juntam por
causa das moléstias. Melhor seria que fossem enviados com as suas culpas
para as cadeias do Limoeiro e para isso aguardo ordem de Vossa
26
Majestade .

Referindo-se ao Fr. Custódio de Jesus:

Esse frade, sem embargo da ordem de prisão, intimada pessoalmente, com


toda a eficácia do Governador José Freire de Andrade, na primeira função
27
que logo se seguira, viera cantar na igreja .

Ouvidos os Procuradores Régios, o Conselho Ultramarino decidiu que os réus


deveriam ser julgados pela Relação do Rio de Janeiro, no que concordou o
monarca, sendo o decreto expedido em 3 de março de 1757. Oito dias depois foi
enviada uma carta régia ao Provincial da Ordem do Carmo, recomendando o castigo
de Fr. Custódio, que só então foi recolhido à prisão, em resposta dada em 15 de
maio à Coroa pelo dito Provincial. Porém tal resposta não inspirou confiança e em 3
de agosto de 1760 foi solicitado que o Chanceler informasse se de fato esse,
carmelita tinha sido punido como merecia o seu grave delito28.
Os outros dois denunciados foram banidos para Angola, por sentença da
mesma Relação. Sendo esse o primeiro processo de moeda falsa julgado no Rio de
Janeiro, ou antes, no Brasil.

26
VASCONCELOS, Fernando Eustáquio de Souza. O papel moeda: falsificação, derrame. Revista
O Alferes. Minas Gerais, ano 6, n. 16, páginas 15-43, 1º trimestre de 1988. Disponível em:
<https://revista.policiamilitar.mg.gov.br/index.php/alferes/article/viewFile/473/451>. Acesso em: 1 nov.
2018.
27
Ibidem.
28
Ibidem.
23

2. FALSIFICAÇÃO MONETÁRIA NO REINO UNIDO DE PORTUGAL,


BRASIL E ALGARVES

2.1. CONTEXTO HISTÓRICO

O período histórico brasileiro conhecido como Reino Unido de Portugal,


Brasil e Algarves é o período que vai de 1815 até 1822. Em 1815, Dom João, o
Príncipe regente, eleva o Brasil de vice-reinado colonial à reino autônomo. Tal
elevação se deu devido à transferência da corte portuguesa para o Brasil em 1808.
Segundo Horacio Morero, a transferência foi resultado das investidas
napoleônicas contra Portugal, durante as Guerras Napoleônicas. Quando perdeu a
luta pelo mar com a Inglaterra (Batalha de Trafalgar em 1805), Napoleão decretou o
bloqueio continental em 1806, proibindo o comércio de qualquer país europeu com
os britânicos. Se acatava a medida, Portugal entrava em sérios problemas
comerciais, mas evitava a invasão de Napoleão29.
Em 1807 a situação se agravou quando o general nascido em Ajaccio
ordenou a Portugal que declarasse guerra à Inglaterra. Em Portugal governava o
príncipe regente Dom João, já que sua mãe, a Rainha Dona Maria I, sofria demência
mental e não governava desde 1792.
A corte portuguesa, imersa em uma encruzilhada, decidiu fugir para a sua
colônia mais rica, o Brasil. Assim, em 29 de novembro de 1807, uma esquadra de 36
navios com cerca de 10.000 pessoas, entre elas a família real, nobres e altos
funcionários, partiu de Lisboa escoltada por tropas inglesas. No dia seguinte, as
30
tropas francesas lideradas pelo general Junot invadiram Lisboa .
A elevação do status do Brasil, anos após a fuga da corte portuguesa
para o Brasil, foi uma maneira de resolver as controvérsias geradas pelo reino de
Portugal ter dois centros políticos: Lisboa, em Portugal, onde um interventor britânico
administrava, prestando contas ao Príncipe Regente e Rio de Janeiro, capital do
Brasil, onde se encontrava o príncipe.

29
MORERO, Horacio Hugo. Numismática e Metamorfose: O recunho dos patacões das
Províncias do Rio da Prata no Brasil: estudo, catalogação e estimativas das moedas pátrias
que foram utilizadas como base dos 960 réis. ed. traduzida para o português. Sociedade
Numismática Brasileira: São Paulo, 2018.
30
Ibidem.
24

O príncipe não era bem visto por governar o reino a partir de uma colônia.
Razão pela qual era necessária a elevação do status do Brasil. Conforme expõe
Luciano Athayde Chaves:

Até 1808, quando a família real deixou Portugal em direção ao Brasil, a


organização judiciária brasileira não apresentou mudanças dignas de nota.
No que se refere à organização judiciária após a vinda da família real, vários
órgãos foram criados, sendo o de maior relevo a Casa de Suplicação do
Brasil (1808), que passou a ser o tribunal mais elevado até então instituído
fora de Portugal. De outro lado, reforçando a estratégia de imposição do
poder central da Coroa, aumentou-se o número de ouvidores e de juízes de
31
fora .

2.2. LEIS

Durante a época em que fomos Reino Unido, a lei que nos regia eram as
Ordenações Filipinas. E como já vimos anteriormente, tais Ordenações previam o
crime de moeda falsa e o puniam com a pena de morte por fogo.
Nas Ordenações Filipinas, em seu livro 5º, no título XII, dispunha:

Moeda falsa he toda aquella, que não he feita per mandado do Rei, em
qualquer maneira que se faça, ainda que seja feita daquella matéria e
forma, de que se faz a verdadeira moeda, que o Rei manda fazer: porque
conforme a Direito ao Rei somente pertence fazê-la, e a outro algum não,
de qualquer dignidade que seja. E por moeda falsa ser cousa muito
prejudicial na Republica, e merecem ser gravemente castigados os que
nisso forem culpados, mandamos que todo aquelle, que moeda falsa fizer,
ou a isso der favor, ajuda ou conselho, ou for dello sabedor, e o não
descobrir, morra morte natural de fogo, e todos os seus bens sejam
32
confiscados para a Coroa do Reino .

O alto custo de manutenção da corte portuguesa no Brasil fez com que o


Príncipe regente tomasse diversas medidas de caráter monetário. As principais
foram a criação do Banco do Brasil, o 1º da América do Sul e o 4º do mundo e o

31
CHAVES, Luciano Athayde. O Poder Judiciário Brasileiro na Colônia e no Império:
(Des)Centralização, Independência e Autonomia. Revista da AJURIS – Porto Alegre, v. 44, n. 143,
Dezembro, 2017.
32
COIMBRA, Instituto de História e Teoria das Ideias da Faculdade de Letras. Ordenações Filipinas.
Disponível em: <http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/filipinas/ordenacoes.htm>. 12. Ago. 2018
25

recunho, ou seja, cunhar em cima, de moedas espanholas que aqui circulavam em


grande quantidade.
Adquiridas inicialmente por 750 réis, tinham seu valor aumentado para 960
réis. Para dar mais força a este mecanismo, a circulação de moeda estrangeira
33
utilizada para as transações comerciais se restringiu primeiro e se proibiu depois .
Por estas medidas, mais do que nunca, era necessário o combate à
falsificação monetária, visto que a cunhagem de moedas passava a ser agora uma
das principais fontes de renda para a Coroa Portuguesa. Sendo tal crime um sério
problema para a arrecadação de fundos que tinha como objetivo a manutenção da
numerosa corte que agora se alojava no Brasil. No período compreendido pelo
Reino de Portugal, Brasil e Algarves, o Rei também governava por Alvarás e
Decretos.
No Decreto de 15 de Novembro de 1817 o Rei concedia perdão aos presos
das cadeias de todas as comarcas do Brasil, com exceções. Novamente a prática de
negar perdão aos presos por falsificação monetária usada na Colônia, continuava a
ser aplicada no Reino Unido. Fato esse que continua demonstrando a preocupação
da Coroa com tal crime. Como pode ser lido abaixo:

Tendo felizmente chegado a esta Côrte a Princeza Real do Reino Unido de


Portugal, Brazil e Algarves, D. Carolina Jozefa Leopoldina, minha muito
amada e presada nora; e desejando eu por tão plausivel occasião
corresponder em tudo o que fôr justo ao zelo e amor que todos os meus
vassallos, e particularmente os moradores desta Cidade do Rio de Janeiro,
mostram ao meu real serviço nas demonstrações de contentamento e
festejo por tão faustissimo motivo, á maneira do que em outras semelhantes
occasiões de alegria publica tem já passado a ser um costume fundado em
direito : Hei por bem fazer mercê aos presos que se acharem por causas
crimes, não só nas Cadeias publicas do Districto da Relação desta Cidade e
nas Cadeias da Relação da Cidade da Bahia e seu respectivo Districto, mas
tambem nas Cadeias de todas as Comarcas do Brazil, de lhes perdoar
livremente por esta vez (não tendo elles mais partes que a justiça) todos e
quaesquer crimes, pelos quaes estiverem presos, à excepção dos
seguintes, que pella gravidade delles e pelo que convem ao serviço de
Deus e bem da Republica, se não devem isentar das penas da lei ; a saber:
34
(...), moeda falsa, (...) .

33
MORERO, Horacio Hugo. Numismática e Metamorfose: O recunho dos patacões das
Províncias do Rio da Prata no Brasil: estudo, catalogação e estimativas das moedas pátrias
que foram utilizadas como base dos 960 réis. ed. traduzida para o português. Sociedade
Numismática Brasileira: São Paulo, 2018.
34
BRASIL. Senado Federal. Legislação do Império. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio> . Acesso em 15. Ago. 2018.
26

Em 20 de março de 1816 faleceu a rainha Dona Maria, abrindo caminho para


o regente, o futuro D. João VI de Portugal assumir o trono. Mas embora passasse a
governar como rei no dia 20, sua sagração não se realizou de imediato, sendo
aclamado somente em 6 de fevereiro de 1818, com grandes festividades35.
Em razão da sua coroação, no mesmo dia editou um Decreto, novamente,
concedendo perdão aos presos que se encontrassem nas cadeias públicas, e
novamente, tal perdão não recaia sobre o crime de falsificação monetária. Como fica
bem explicito no trecho extraído do Decreto:

Sendo muito próprio do paternal amor com que tenho regido e rejo os meus
vassalos, que neste faustíssimo dia da minha coroação e solemne
exaltação ao throno dos meus Reinos, eu faço experimentar os effeitos da
minha real clemencia e piedade, quando for compatível com a equidade e
justiça, aquelles que transgrediram as leis e se acham incursos em as suas
penas: hei por bem fazer mercê aos presos que se acharem por causas
crimes, não só nas cadeias publicas do Districto da Casa da Suplicação, e
dos das Relações da Bahia e Maranhão, mas também nas cadeias de todas
as Comarcas deste Reino do Brazil, de lhes perdoar livremente por esta
vez, (não tendo elles mais partes que a justiça) todos e quaesquer crimes
pelos quaes estiverem presos, à exceção dos seguintes, que, pela
gravidade delles, e pelo que convem ao serviço de Deus e bem da
Republica, se não devem isentar das penas da lei, a saber: (...), moeda
36
falsa, (...) .

O Alvará de 25 de maio de 1818 criava na Capitania de Goiás uma Junta


para decidir alguns negócios da competência do Desembargo do Paço, permitindo,
entre outras coisas, a concessão dos perdões da Sexta-Feira Santa, mas
novamente o Rei nega a possibilidade desse perdão ser dado aos criminosos
condenados por falsificação monetária37. Reforçando a gravidade de tal crime aos
olhos do Rei.
Através do Decreto de 11 de junho de 1819, o Rei concede perdão aos
presos detidos nas cadeias do reino, com exceções a alguns crimes. E como de
praxe, o crime de falsificação monetária fica de fora do perdão real.

35
SERRÃO, Joaquim Veríssimo. História de Portugal, vol. V, p. 42-43, Editorial Verbo, Lisboa, 2.ª
ed.
36
BRASIL. Senado Federal. Legislação do Império. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio> . Acesso em 15. Ago. 2018.
37
Ibidem.
27

Tendo a Divina Providencia abençoado estes Reinos com o feliz nascimento


da Princeza da Beira, D. Maria da Gloria, minha muito amada e prezada
neta: e querendo eu que por tão fausto motivo participem tambem deste
incomparavel favor, e dos effeitos da minha real piedade, quanto fôr
compatível com a justiça, aquelles meus vassallos, que tiveram a desgraça
de commetter crimes: Hei por bem fazer mercê aos presos, que se acharem
por causas crimes, não só nas Cádeias publicas do Districto da Casa da
Supplicação desta Cidade, e nas Cadeias da Relação da Cidade da Bahia e
seu respectivo Districto, mas tambem nas Cadeias de todas as Comarcas
deste Reino do Brazil, de lhes perdoar livremente por esta vez (não tendo
elles mais partes que a Justiça) todos e quaesquer crimes, pelos quaes
estiverem presos, á excepção dos seguintes, que, pela gravidade delles, e
pelo que convém ao serviço de Deus e bem da, Republica, se não devem
38
isentar das penas das leis, a saber: (...), moeda falsa, (...) .

Em mais duas ocasiões de perdão real aos presos que se encontravam nas
cadeias do reino, os condenados pelo crime de moeda falsa foram excluídos,
encerrando assim o período compreendido pelo Reino Unido e que foi duro na
aplicação das penas previstas a tal crime, não permitindo em nenhum momento o
seu perdão.

2.2. RELATOS DOCUMENTADOS

A seguir serão expostos alguns relatos documentados sobre o crime de


moeda falsa cometidos durante o Reino Unido.
No Ofício de 18 de Março de 1815, o Governador de Minas Gerais escreve ao
Marquez de Aguiar acerca dos extravios do quinto e falsificação das barras de ouro,
apontando os resultados contraproducentes da Carta Regia de 25-9-1811.
Diz ele que "não se atreve a propor o estabelecimento de uma Casa da
Moeda nesta Capitania, providencia já em outro tempo projetada; porem a medida
de se estabelecer aqui um fundo proporcionado de moeda de ouro ao seu (meu) ver
é de toda importância no presente estado de cousas".
Esse capital, escreve o Governador, serviria para os trocos das barras
fundidas nas Intendências, por conta dos particulares, o que representa grande
vantagem, pois os negociantes fazendo suas remessas em dinheiro corrente, seria
evitado o atual extravio das barras assim como a demora prejudicial que eles sofrem
na Casa da Moeda do Rio e que os induz ao contrabando. A medida proposta ainda

38
BRASIL. Senado Federal. Legislação do Império. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio> . Acesso em 15. Ago. 2018.
28

mais se impõe quando aparecem agora novas maneiras de falsificação da moeda e


uma imensidade de Bilhetes falsos dificilmente reconhecidos39.
O oficio de 17-11-1819 remetera a planta ―da maquina de cunhar que se devia
levantar na casa que fora da fundição". Havendo os negociantes de São Paulo
solicitado "providencias para acautelar a falsificação da moeda de cobre e prata de
giro interior da Capitania, marcada a punção", determinara-se, por Provisão de 20 de
setembro de 1819 que a Junta da Fazenda enviasse para a casa de fundição toda a
moeda dessa natureza que existisse e fosse sendo recebida, para ser inteiramente
recunhada, remetendo-a ao Real Erário, no caso de falta de maquinas, etc. Apesar
de toda a boa vontade, não foi possível levar a efeito o cunho em São Paulo por falta
do indispensável maquinário40.
O Decreto de 4-7-1818, a Carta Regia de 2-9-1818, e as Provisões de 3-9-
1818 e 19-12-1819 haviam estabelecido em Minas, Caixas filiais do Banco do Brasil
para a compra do ouro em pó e em barras. Tinham elas instruções secretas para
adquirir o ouro extraviado das Casas de Permuta.
Em 1820, estabeleceu-se em Vila Rica um Banco filial do estabelecido na
Corte, superintendendo o serviço de compra do ouro. Seus compradores
espalhando-se pela Capitania, facilitaram muito o extravio, mas em compensação
introduzindo na circulação uma grande quantidade de pequenas moedas, aliviaram a
situação monetária que estava comprometida com a abundância do papel moeda
falso41.
Tais relatos reforçam a necessidade da criação de Decretos e Alvarás para
tentar se conter o crime de moeda falsa, que continuou sendo cometido
excessivamente pelos delinquentes.

39
SOMBRA, Severino (1938). Historia monetaria do Brasil colonial: repertorio cronológico com
introdução, notas e carta monetária(PDF). [S.l.]: Oficinas gráficas da emp. Almanak Laemmert,
ltda.
40
Ibidem.
41
Ibidem.
29

3. FALSIFICAÇÃO MONETÁRIA NO IMPÉRIO DO BRASIL

3.1. A ESTRUTURA JUDICIÁRIA IMPERIAL

O Império do Brasil tem início com a declaração de independência


proclamada por Dom Pedro I em 1822 e se estende até 1889. Com a declaração de
independência o Brasil se desmembra do Reio de Portugal, Brasil e Algarves
tornando-se um Império independente governado por Dom Pedro I.
Nos dizeres de Ives Gandra da Silva Martins Filho:

Declarada a independência, instala-se o Império do Brasil, com forma e


regime de governo amalgamados pela primeira Constituição outorgada em
1824. O acúmulo de debates constitucionais no país, observado na atuação
brasileira nas Cortes portuguesas de 1821, reverbera na arquitetura da
organização política do novo Estado, que adota um regime de monarquia
constitucional, com a divisão política em quatro poderes: Legislativo,
Executivo, Judicial e Moderador (arts. 3º e 9º da Constituição de 1824), e
que devem guardar harmonia entre si como ―princípio conservador dos
42
direitos dos cidadãos‖ (art. 9º) .

A Constituição de 1824 fixou composição do Poder Judicial, que seria


integrado por juízes e jurados para decidirem tanto casos cíveis como criminais,
assentando, ainda, que ―os jurados [se] pronunciam sobre o fato e os juízes aplicam
a lei‖, em nítida inspiração do modelo saxônico (juízes de fato e de direito) 43.
Na teoria do Estado Imperial, o Poder Moderador era considerado um poder
neutro, régio, ―a chave de toda a organização política‖ (art. 98) e delegado
exclusivamente ao Imperador, de modo que cabia, efetivamente, aos demais
poderes o encargo de cuidar de ―interesses seccionais ou de paixões da hora‖44.
A extensão e profundidade das faculdades concedidas ao Imperador foram
consideradas por Tobias Barreto como o maior dos problemas do direito público
brasileiro àquele tempo 45.
O Código de Processo Criminal de 1832 promoveu uma grande mudança na
organização judiciária do país. Foram extintas as ouvidorias, os juízes de fora e os

42
MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Evolução Histórica da Estrutura Judiciária Brasileira.
Revista Jurídica Virtual, Brasília, v. 1, n. 5, set. 1999.
43
MATHIAS, Carlos Fernando. Notas para uma história do Judiciário no Brasil. Brasília: Fundação
Alexandre de Gusmão, 2009. p. 140.
44
TORRES, João Camillo de Oliveira. A democracia coroada. Petrópolis: Vozes, 1964. p. 80.
45
BARRETO, Tobias. Estudos de direito. Campinas: Bookseller, 2000. p. 375.
30

juízes ordinários, estabelecendo que a justiça criminal fosse executada por


intermédio dos juízes de paz (nos distritos), do juiz municipal e do conselho de
jurados (nos termos), e de um juiz de direito (nas comarcas), sendo que, nas mais
populosas, poderia haver até três, sendo um deles o chefe de polícia 46.

3.2. LEIS IMPERIAIS

A seguir abordaremos de forma extensiva as disposições legais que entraram


em vigor durante o Império do Brasil.
O Código Criminal do Império de 1830, promulgado por Dom Pedro I, no
Título VI, denominado ―Dos crimes contra o Thesouro Publico, e propriedade
publica‖, no Capítulo II, versa sobre moeda falsa e suas disposições são as
seguintes:

Art. 173. Fabricar moeda sem autoridade legitima, ainda que seja feita
daquella materia, e com aquella fórma, de que se faz, e que tem a
verdadeira, e ainda que tenha o seu verdadeiro, e legitimo peso, e valor
intrinseco.
Penas - de prisão com trabalho, por um a quatro annos, e de multa
correspondente á terça parte do tempo, além da perda da moeda achada, e
dos objectos destinados ao fabrico.
Se a moeda não fôr fabricada da materia, ou com o peso legal.
Penas - de prisão com trabalho, por dous a oito annos, e de multa
correspondente á metade do tempo, além da perda sobredita.
Art. 174. Fabricar, ou falsificar qualquer papel de credito, que se receba nas
estações publicas, como moeda; ou introduzir a moeda falsa, fabricada em
paiz estrangeiro.
Penas - de prisão com trabalho por dous a oito annos, e de multa
47
correspondente á metade do tempo, além da perda sobredita .

Na Carta de Lei de 6 de Junho de 1826, na qual ratificava o tratado de


amizade, comércio e navegação entre o Império do Brasil e a França, em seu Artigo
VIII, tratava sobre o crime de falsificação monetária. Conforme disposto a seguir:

Artigo VIII- Os indivíduos accusados dos crimes de alta traição, falsidade, e


falsificação de moeda, ou de papel que a represente, nos Estados de uma
das Altas Partes Contractantes, não serão admittidos, nem receberão

46
LEAL, Vitor Nunes. Coronelismo, enxada e voto. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 181.
47
BRASIL. Senado Federal. Legislação do Império. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio> . Acesso em 15. Ago. 2018.
31

protecção nos Estados da outra. E para que esta estipulação possa ter a
mais completa execução, cada um dos dous Soberanos se obriga a fazer
com que as pessoas assim accusadas sejam expulsas dos seus respectivos
48
Estados, logo que o outro assim o requerer .

Pela Carta de Lei de 18 de abril de 1828, ratificando o tratado de amizade,


comércio e navegação entre o Império do Brasil e o Reino da Prússia, em seu Artigo
IV, novamente o compromisso para combate à falsificação monetária é afirmado,
nos mesmos termos presentes no tratado de amizade com a França:

Artigo IV- Os indivíduos accusados nos Estados de uma das Altas partes
contractantes dos crimes de alta traição, felonia, fabricação de moeda falsa,
ou de papel que a represente, não receberão protecção nos Estados da
outra, antes pelo contrario serão delles expulsos, logo que assim o fôr
49
requerido pelo Governo respectivo .

No Decreto de 17 de julho de 1828, o Rei D. Pedro I permite a exportação de


moeda de cobre para a Província da Bahia, em razão da grande quantidade de
moedas falsas que foram recolhidas nessa província. Como pode ser lido pelo teor
do decreto:
Permitte a exportação para a Provincia da Bahia da moeda de cobre até a
quantia de mil contos.
Sendo-me presente a extraordinária falta que ha na Provincia da Bahia de
moeda de cobre legal para occorrer às transacções mais ordinárias da vida
pelo resgate da enorme somma de moeda falsa, que infelizmente circulava
na dita Provincia: Hei por bem, Querendo obviar a quaesquer
acontecimentos, que uma semelhante falta poderia occasionar, permittir a
exportação para aquella Provincia sómente até a quantia de 1.000:000$000,
sem embargo das disposições do Decreto de 3 de março do anno próximo
50
passado em contrario .

A Decisão do Governo N. 107 – Fazenda – Em 31 de julho de 1826, versa


sobre o recebimento de moeda falsa pelas Estações Públicas e sua existência em
cofre quando recebidas. E dispõe os seguintes procedimentos:

48
BRASIL. Senado Federal. Legislação do Império. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio> . Acesso em 15. Ago. 2018.
49
Ibidem.
50
Ibidem.
32

O Visconde de Baependy, do Conselho de Estado de Sua Magestade


Imperial, Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Fazenda e
Presidente do Thesouro Nacional: Faço saber á Junta da Fazenda da
província de ..... que Sua Magestade o Imperador Ha por bem determinar
que a dita junta expeça as convenientes ordens, para que em nenhuma das
Estações Publicas se receba, em pagamento do que se dever á Fazenda
Nacional, moeda alguma que seja falsa, assim como que em caso algum
façam pagamentos em taes moedas falsas aos credores do Estado, com
pena de responsabilidade dos tesoureiros, almoxarifes, recebedores e
pagadores que o contrario praticarem: outrosim, que, no caso não esperado
de haver entrado nos cofres públicos alguma moeda falsa (o que a junta
deve logo examinar, mandando lavrar termo do que se achar), seja toda
esta moeda enviada ao sobredito Thesouro, para ser substituída por moeda
legal e verdadeira; e, finalmente, que, no caso também de haver ainda
alguma moeda carimbada ou marcada por puncção, seja esta do mesmo
modo remettida ao dito Thesouro, afim de ser recunhada. O que se participa
51
á mesma junta para sua intelligencia e execução .

A Decisão do Governo N. 38 – Fazenda – Em 3 de março de 1828,


recomenda toda a vigilância no recebimento da moeda falsa de cobre e na execução
das leis existentes contra os falsificadores. Com o seguinte texto:

Illm. E Exm. Sr. – Sua Magestade o Imperador, attendendo á necessidade


de prevenir que nessa província, se introduza, ou fabrique e circule, moeda
falsa de cobre, a exemplo da da Bahia, onde, tendo apparecido este mal, e
sendo criminosamente tolerado, até nas repartições publicas, foi mister que
o Estado fizesse o doloroso sacrifício de resgatar toda a moeda de cobre
em circulação: Manda que V. Ex. tenha toda a vigilância, e ponha todo o
seu esmero em fazer executar na província a que preside, as leis existentes
contra os fabricadores de moeda falsa, vigiando cuidadosamente em que
não seja admittida, e recebida tal moeda, no caso de apparecer, em estação
alguma publica na conformidade da Provisão de 3 de agosto de 1826, e da
que hoje se dirige á Junta de Fazenda, recommendando efficazmente o
immeditado confisco, e destruição de qualquer moeda que se achar
evidentemente suspeita de falsidade, e tomando, á vista das leis geraes e
regulamentos policiaes, e em presença das circumstancias locaes e
peculiares da mesma província, todas e quaesquer medidas que julgar
necessárias para remover ou prevenir o mal acima citado. O que participo a
52
V. Ex. para sua intelligencia e execução .

A Decisão do Governo N. 93 – Fazenda – Em 19 de julho de 1828, nos traz


em seu texto os procedimentos para reinserção das moedas de cobre no meio
circulante na Província da Bahia, província essa que foi a que mais sofreu com a
falsificação monetária, e por Previsão de 24 de dezembro de 1827 havia mandado

51
BRASIL. Senado Federal. Legislação do Império. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio> . Acesso em 15. Ago. 2018.
52
Ibidem.
33

cessar a circulação da moeda, dada a grande quantidade de moedas falsas que


circulavam. O inteiro teor da decisão é o seguinte:

José Bernardino Baptista Pereira, do Conselho de Sua Magestade Imperial,


Ministro e Secretário de Estado dos Negocios da Fazenda e Presidente do
Thesouro Naconal: Faço saber á Junta da Fazenda da Provincia da Bahia
que Sua Magestade o Imperador Ha por bem ordenar o seguinte: 1º que
ponha em circulação, a moeda boa de cobre recolhida, que for do mesmo
cunho, valor e typo do desta Côrte, e vá procedendo nesta operação com o
maior cuidado, e debaixo da mais restricta vigilância, enviando a que,
supposto legal, é de differente cunho, fundindo a que fôr falsa, a fim de se
poder tirar della algum proveito; 2º que ponha em actividade a Casa da
Moeda, cunhando com o mesmo valor, cunho e typo do desta cidade,
propondo as faltas que para isso houverem; 3º que deve estar na
intelligencia de que as apólices emitidas são verdadeiramente moeda, que
deve ser amortizada, conforme a lei, ficando sem vigor a Provisão de 24 de
dezembro de 1827, na parte somente que respeita a separação do computo
na recepção dellas; 4º que liquide quanto antes a divida passavia para se
poder crear a caixa filial; 5º, finalmente, que a Junta fique na intelligencia da
responsabilidade que lhe é inherente, pela parte que lhe pertence, no caso
que se illuda a lei e, se dê lugar a emissão de moeda falsa. O que se lhe
53
participa para sua intelligencia e fiel execução .

Na Decisão do Governo N. 96 – Justiça –Em 22 de julho de 1828, aprova os


atos do Presidente da Bahia contra as maquinações dos inimigos do sistema
constitucional e recomenda o emprego de meios energéticos para a descoberta dos
facciosos e dos fabricadores de moeda falsa. Conforme pode ser lido a seguir:

Illm. E Exm. Sr. – Foi presente a Sua Magestade o Imperador o officio que
V. Ex. me dirigiu com data do 1º do corrente, acompanhado por copia uma
informação do Desembargador Ouvidor Geral do Crime, e documentos a
elles juntos, participando o procedimento que ahi se teve para occorrer com
remédio opportuno ás machinações, que uma facção de inimigos do actual
systema de governo monarchico constitucional, estava tramando, e se
propunha levar a effeito: e como em todo o procedimento por V. Ex.
communicado a este respeito se veja, que a lei foi guardada, o mal atalhado
ao nascer, e a tranquillidade publica posta em segurança: Houve o mesmo
Augusto Senhor por bem achar achar dignos de sua imperial approvação
todos os actos desse governo e mais encarregados da tranquillidade publica
dessa cidade por V. Ex. participados. E bem que á vista dos documentos
que foram encontrados em poder de um dos cabeças da desordem, e das
declarações feitas por alguns dos cumplices, se veja que nada deve temer
de quaesquer tentativas, que os facciosos possam intentar contra o systema
constitucional estabelecido, não só porque todos os bons brazileiros o
querem e defendem, mas mesmo porque se não contam entre elles, senão
indivíduos, que têm chamado sobre si a publica indignação dos homens
bons por sua péssima conducta, e antigos crimes; que se tivessem sido

53
BRASIL. Senado Federal. Legislação do Império. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio> . Acesso em 15. Ago. 2018.
34

punidos como mereciam, não seriam agora repetidos: desejando Sua


Magestade o Imperador, que não seja perturbada a tranquillidade dessa
província, que sempre permaneceu leal, e tantas provas tem dado de só
querer o systema de governo estabelecido; por um punhado de homens
despresiveis, e sem força, o que só poderá acontecer por falta de vigilância
das autoridades, que os devem conhecer e processar, Ha o mesmo
Augusto Senhor por bem mandar recommendar a V. Ex. toda a maior
diligencia possível, e o emprego de todos os meios ao seu alcance
compatíveis com as leis, para se poder chegar ao descobrimento de todas
as pessoas complicadas em tão criminosa facção, para que sendo julgadas,
como merecerem, expiem com a pena os seus crimes e deixem gosar em
paz aos cidadãos tranquillos os benefícios que o governo constitucional lhes
afinça.
Sobre o outro artigo de seu officio relativo ás providencias que solicita sobre
o mal das faltas de cobre, cumpre-me dizer a V. Ex. que estas lhe serão
enviadas nesta occasião pela Repartição da Fazenda: devendo eu só
acrescentar a este respeito que Sua Magestade o Imperador tem visto com
muita estranhesa a impunidade, com que públicos fabricadores de moeda
falsa têm espalhado mais de cinco milhões de cobre nessa província, na
presença de um Presidente, de uma Relação e de muitos Magistrados
territoriaes, sem que até hoje tenha apparecido um procedimento forte
punindo os crimes, que acredite o zelo e integridade de tantas autoridades a
quem pela lei incumbia proceder contra os autores de um crime de
consequências tão funestas: o que o mesmo Augusto Senhor manda
communicar a V. Ex., para sua intelligencia e para assim o fazer constar
que esta advertência seja sufficiente para despertar o zelo, e actividade de
54
V. Ex., e das mais autoridades, a quem o caso diz respeito .

No Decreto de 8 de janeiro de 1833, é criada uma comissão incumbida de


discutir os meios de remover os inconvenientes do estado atual do meio circulante.
Como pode ser lido a seguir:

A Regencia, em Nome do Imperador o Senhor D. Pedro II, Havendo


convocado extraordinariamente a Assembléa Geral Legislativa, a fim de
solicitar della medidas legislativas, que removam com a possível brevidade
os inconvenientes progressivos do actual estado do meio circulante, cujos
perniciosos effeitos se fazem hoje sentir em todo o Império, mórmente pela
falsificação da moeda de cobre: e desejando oferecer aos Representantes
da Nação dados seguros sobre que marchem em questão de tal magnitude:
Ha por bem Crear uma commissão de pessoas entendidas em assumptos
de tal natureza, incumbida de discutir os meios mais promptos e efficazes
de curar o mal em questão, cujos membros são designados na relação que
com este baixa assignada por Candido José de Araujo Vianna, do Conselho
de Sua Magestade o Imperador, Ministro e Secretario de Estado dos
Negocios da Fazenda, e Presidente do Tribunal do Thesouro Publico
55
Nacional, que assim o fará executar com os despachos necessários .

54
BRASIL. Senado Federal. Legislação do Império. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio> . Acesso em 15. Ago. 2018.
55
Ibidem.
35

O Decreto de 4 de novembro de 1835 traz o regulamento para execução da


Lei de 6 de outubro de 1835, e no seu artigo 59 dá providencias do que deve ser
feito no caso de ser encontrada moeda falsa durante o troco da moeda de cobre:

Art. 59. A moeda de cobre, levada ao troco será examinada, e sendo legal
será paga aos portadores pelo seu valor nominal (descontados 5%), em
notas e cobre punçado, não excedendo este a metade; e a que fôr
reconhecida falsa se lhe dará um corte quanto baste para mais não correr
56
como moeda, e se entregará ao portador sem desconto algum .

A Lei de 29 de novembro de 1832, promulga o Código do Processo Criminal


de primeira instancia com disposição provisória acerca da administração da Justiça
Civil, em seu artigo 189, parágrafo 3º, permite a concessão de mandados de busca
para apreender instrumentos de falsificação e moeda falsa.

Art. 189. Conceder-se-ha mandados de busca:


§3º. Para apprehender instrumentos de falsificação, moeda falsa, ou outros
57
objectos falsificados de qualquer natureza que sejam .

A Lei N. 52 de 3 de outubro de 1833, manda substituir a moeda de cobre em


circulação e estabelece o modo de fazer-se esta operação. Nos artigos 6, 7, 8 e 9
dispõe sobre as providencias a serem tomadas no caso de moeda falsa.

Art. 6. A moeda de cobre falsa será cortada, e entregue a quem pertencer.


Art. 7. Julgar-se-ha falsa, e como tal sujeita a todas as disposições a
respeito, a moeda de cobre que fór visivelmente imperfeita em seu cunho,
ou que tiver de menos a oitava parte do peso, com que foi legalmente
emittida nas differentes Províncias.
Art. 8. Os fabricadores, e introductores de moeda falsa, serão punidos pela
primeira vez com a pena de galés para a Ilha de Fernando pelo duplo do
tempo de prisão, que no Codigo Criminal está designada para cada um
destes crimes; e nas reincidencias serão punidos com galés perpetuas para
a mesma Ilha, além do dobro da multa.
Art. 9. Na mesma pena incorrerão os fabricadores, introductores e
falsificadores de notas, cautelas, cedulas, e papeis fiduciarios da Nação, ou
58
do Banco, de qualquer qualidade e denominação que sejam .

56
BRASIL. Senado Federal. Legislação do Império. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio> . Acesso em 15. Ago. 2018.
57
Ibidem.
58
Ibidem.
36

A decisão do Governo N. 8 – Fazenda – Em 3 de janeiro de 1832, proíbe a


entrada de moeda de cobre do cunho nacional, vinda de qualquer parte de fora do
Império, como uma maneira de combater a entrada de moeda falsa no Brasil. Como
se lê:
Illm. E Exm. Sr. – Chegando ao conhecimento da Regencia, em Nome do
Imperador, por officio do Presidente da Provincia do Rio Grande de S.
Pedro do Sul, de 26 de Setembro do anno proximo passado, haverem-se
introduzido por differentes pontos da mesma Província avultadas sommas
de moeda do cobre de cunho do Imperio vindas dos Estados vizinhos; e
convindo acautelar a introducção da moeda falsa em prejuízo das
transacções commerciaes, e da Fazenda, como tem já acontecido, sendo
assaz custoso extremala da verdadeira: Determina a mesma Regencia que
V. Ex. tome as precisas medidas para que não se admittam nessa Província
as ditas moedas de cobre do cunho nacional vindas de qualquer parte de
fóra do Império. O que se ha por muito recommendado a V. Ex. para sua
59
devida execução .

A Decisão do Governo N. 122 – Fazenda – Em 30 de março de 1832, manda


cumprir não obstante o julgamento do poder judiciário (Aviso de 3 de janeiro de
1832), que proíbe introdução da moeda de cobre de cunho nacional.

Bernardo Pereira de Vasconcellos, Presidente do Tribunal do Thesouro


Publico Nacional, deliberou em sessão do mesmo Tribunal, que não
obstante o julgamento do Poder Judiciario contra a apprehensão da moeda
de cobre do cunho nacional vinda de fora do Império, como acaba de
succeder com uma tomadia feita na Provincia de S. Paulo, cumpre que os
Presidentes das Provincias do Império façam cumprir exactamente o Aviso
de 3 de janeiro deste anno, que prohibe a sua introducção, fazendo-a
reexportar com fiança de apresentar documento, pelo qual conste ter
desembarcado em porto, que não pertença ao Imperio. O que participa ao
60
Presidente da Provincia de ...... para sua intelligencia e inteira execução .

A Decisão do Governo N. 36 – Fazenda – Em 30 de janeiro de 1833,


determina que na Alfândega da Corte não se dê despacho a moeda de cobre, senão
depois de examinada e declarada verdadeira pela Casa da Moeda.

Fique V. S. na intelligencia, de que não deve dar despacho a moeda alguma


de cobre, que entrar na Alfandega sem ter sido examinada, e declarada
verdadeira na Casa da Moeda, e que cumpre empregar toda a vigilancia na
fiscalisação das embarcações, sem exceptuar os Paquetes, alguns dos
quaes, segundo consta, têm sido conductores de moeda de cobre das
61
Províncias do Norte, onde quais toda a que gira é falsa .

59
BRASIL. Senado Federal. Legislação do Império. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio> . Acesso em 15. Ago. 2018.
60
Ibidem.
61
Ibidem.
37

A Decisão do Governo N. 50 – Fazenda – Em 4 de fevereiro de 1833, manda


cortar a moeda de cobre reconhecida falsa e regula o exame e despacho da mesma
moeda importada.

O Provedor interino da Casa da Moeda desta Corte fique na intelligencia, de


que logo que pelo exame a que se proceder na moeda de cobre, em
conformidade das ordens expedidas em 30 do passado se reconheçam
falsas, immediatamente sejam cortadas em presença das partes, e fazendo-
se todos os assentos, e declarações que forem necessárias. Outrosim, que
nesta data se expediu ordem a alfandega para que apenas cheguem
embarcações, em que venha tal moeda, lhe faça participação, e não dê
ordem para desembarque, sem que lhe apresente algum empregado dessa
casa, autorizado para acompanhar a moeda a essa casa, onde será
62
entregue aos proprietários depois de examinada .

A Decisão do Governo N. 72 – Justiça – Em 12 de fevereiro de 1833, dá


providência sobre os africanos e a moeda de cobre falsa, de que se fez apreensão
na Província de Pernambuco.

Illm. e Exm. Sr.- Acabo de receber o officio de V. Ex. datado de 23 do mez


antecedente, dando parte da apprehensão que se tem feito de africanos
novamente introduzidos nessa Província, bem como de trinta contos de réis
em moeda de cobre cunhada nos Estados Unidos da America, de qual
remetteu quatro para amostra; e tendo levado ao conhecimento da
Regencia o sobredito officio, ficou ella inteirada do seu conteúdo, e manda
em Nome do Imperador o Senhor D. Pedro II. responder a V. Ex. , quanto
aos escravos, que não se tendo podido ainda contractar com as autoridades
africanas, conforme determina o art. 2. o da Lei de 7 de Novembro de 1831,
para darem asylo aos que forem reexportados daqui em conformidade do
disposto nella, V. Ex. deve fazer reenviar os que forem apprehendidos para
os portos d'onde tiverem vindo, ou para o lugar da Africa que for mais
commodo: e respeito á moeda de cobre, que toda aquella, que fôr tomada
como falsa e assim reconhecida, não póde ser convertida em favor dos
apprehensores, nem de pessoa alguma, visto que tal moeda não deve ser
admittida na circulação, antes deverá ser inutilisada, e guardada na
63
Thesouraria dessa Província .

A Decisão do Governo N. 94 – Fazenda – Em 21 de fevereiro de 1833, proíbe


o recebimento nas repartições publicas da moeda de cobre falsa denominada xem-
xem e manda acautelar a introdução da moeda de cobre por importação.

62
BRASIL. Senado Federal. Legislação do Império. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio> . Acesso em 15. Ago. 2018.
63
Ibidem.
38

Candido José de Araujo Vianna, Presidente do Tribunal do Thesouro


Publico Nacional, deliberou em sessão do mesmo Tribunal approvar as
deliberações que tomou o Presidente da Província do Maranhão em
Conselho, e constam de seu officio de 18 de dezembro passado sob N. 10,
de ordenar que nas Estações Publicas se não recebesse a moeda de cobre
falsa denominada Xem-xem, nem a isso fosse constrangida pessoa alguma,
com o que se tranquillizára o povo bastante agitado com a circulação de tal
moeda, na qual encontrava tropêços no fornecimento de suas precisões por
não se saber haver na escolha da moeda verdadeira e da falsa ; e bem
assim de conservar constantemente um Cuter pertencente ao Arsenal
prompto para vigiar os navios que fundeiam fóra da barra para evitar a
introducção de moeda falsa estrangeira, sem que desta providencia se
seguisse augmento de despeza pelas razões expendidas em o dito officio.
64
O que participa ao mesmo Presidente para sua intelligencia .

A Decisão do Governo N. 567 – Fazenda – Em 30 de setembro de 1833,


define a moeda de cobre falsa.

Candido José de Araujo Vianna, Presidente do Tribunal do Thesouro


Publico Nacional, faz saber que só se entenderá por moeda falsa de cobre
aquella que fôr visivelmente imperfeita em seu cunho, ou que tiver de
menos a oitava parte do peso legal, isto é, a moeda de 80 réis que tiver
menos de 7 oitavas, a de 40 que tiver menos de 3 ½ oitavas, a de 20 réis
que tiver menos de 1 ¾ oitavas, e a de 10 réis que tiver menos de 63
65
grãos .

A Decisão do Governo N. 100 – Fazenda – Em 11 de abril de 1835, fala sobre


o procedimento que cumpre haver com a apresentação de notas ou cédulas falsas
nas Repartições.
O Administrador interino da Recebedoria do Municipio desta Côrte fique na
intelligencia, em resposta ao seu officio de 8 do corrente, de que quando se
apresentarem nessa Estação bilhetes do Banco ou cédulas falsas ou
falsificadas, deverá fazer a apprehensão por termo escripto pelo Escrivão
da Administração, ou quem suas vezes fizer, assignado pelo apresentante e
duas testemunhas, com todas as declarações relativas ao dia, hora, e lugar
da apresentação, a pessoa do apresentante, e as razões da suspeita da dita
falsidade, ou falsificação; o qual termo assim lavrado deverá remetter-se,
juntamente com os bilhetes ou cédulas, ao Juiz de Paz do districto, indo o
apresentante em custodia para se proceder aos termos legaes da formação
da culpa. O que cumprirá, fazendo previamente dar publicidade a esta
ordem, para prevenir o delicto, e não haver occasião para tal procedimento
66
.

64
BRASIL. Senado Federal. Legislação do Império. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio> . Acesso em 15. Ago. 2018.
65
Ibidem.
66
Ibidem.
39

A Decisão do Governo N. 320 – Fazenda – Em 31 de maio de 1836, em


virtude da ameaça de aparecimento de cédulas falsas vindas do estrangeiro, revoga
o prazo inicialmente estipulado para substituição das cédulas na Província do Rio de
Janeiro.

Illm. e Exm. Sr. - Faltando sómente por substituir a somma de 122:000$ das
cedulas emittidas nesta Província e cumprindo accelerar esta operação por
constar ao Governo que se pretende introduzir do estrangeiro uma porção
de cedulas falsas principalmente dos valores de 100$ e 20$, nesta data
tenho revogado a Portaria de 15 de Abril findo, em que havia marcado o dia
31 de Outubro proximo futuro para até elle ultimar-se a referida substituição,
e fixado o 31 de Agosto para o indicado fim; devendo-se dessa data em
diante fazer o desconto de 10 % mensaes na fórma do art. 5º da Lei de 6 de
Outubro de 1835: o que communico a V. Ex. para que haja de mandar
67
proceder aos annuncios necessarios .

A Decisão do Governo N. 372 – Fazenda – Em 4 de julho de 1836, manda


circular uma nota dos sinais que distinguem as cédulas falsas de 100$000 das
autênticas.

Manoel do Nascimento Castro e Silva, Presidente do Tribunal do Thesouro


Publico Nacional, remette ao Sr. Inspector da Thesouraria da Provincia de
....... a inclusa nota dos signaes particulares por que se distinguem as
cédulas de 100$000 falsas que consta se imprimirão em Paris, e se
pretende introduzir no Império, se não estão já em circulação; a fim de que
lhe dê toda a publicidade, e ordena que na substituição das cédulas pelas
notas do novo padrão se principie pelas cédulas de 100$000 e pelas de
20$000 de que há já sciencia de falsificação passando depois aos
conhecimentos e finalmente áquelle papel, cuja circulação reconheça ser
mais perigosa: o que o mesmo Sr. Inspetor cumprirá.

DIFFERENÇAS MAIS SALIENTES ACHADAS NAS CEDULAS FALSAS DE


100$000 EM RELAÇÃO AS VERDADEIRAS

Maior largura e comprimento


Menor altura nos algarismos grandes no centro das cédulas
Falta de assento agudo sobre o – a – da palavra será
Menor altura da Coroa sobre o escudo
Maior distancia entre o laço que prende os troncos dos ramos do café ao
fumo, da legenda por baixo das armas
O papel menos encorpado, e de consistência menos flexível de que o papel
em que se estamparão as cédulas da primeira remessa a todas as
Provincias, e que não tinhão a marca d’agua em forma de xadrez como as
68
das remessas que se seguirão .

67
BRASIL. Senado Federal. Legislação do Império. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio> . Acesso em 15. Ago. 2018.
68
Ibidem.
40

A Decisão do Governo N. 40 – Fazenda – Em 17 de janeiro de 1837, manda


recolher as notas do extinto banco, nos valores de 1$ a 50$, marcando o dia 1º de
Fevereiro para ter princípio a substituição.

Sendo de todos sabido que na circulação gyrão notas falsas, e falsificadas


do extincto Banco, dos valores de hum a cincoenta mil réis, inclusive, e
convindo quanto antes faze-las substituir da maneira em que já se praticou
com as de trezentos mil réis: o Sr. Director da substituição fará constar por
editaes, e annuncios repetidos nos Jornaes, que se vai proceder á
substituição dos sobreditos valores de hum a cincoenta mil réis, a qual
69
deverá ter principio no dia 1º de Fevereiro .

A Decisão do Governo N. 29 – Fazenda – Em 12 de fevereiro de 1838, dá


providências para dificultar a falsificação dos bilhetes do Tesouro.

O Sr. Thesoureiro Geral do Thesouro faça escrever no centro de cada


Bilhete do Thesouro, que d'hoje em diante emittir, em linha perpendicular
sobre o sello Imperial, começando debaixo para cima, e em letra bastarda ,
o valor do mesmo Bilhete; e outrosim em igual direcção faça escrever em
70
algarismo o mesmo valor .

O Decreto Nº 562 de 2 de julho de 1850, marca os crimes que devem ser


processados pelos Juízes Municipais e julgados pelos Juízes de Direito. Entre eles o
de moeda falsa.

Hei por bem Sanccionar, e Mandar que se execute a Resolução seguinte da


Assembléa Geral Legislativa

Art. 1º- Serão processados pelos Juizes Municipaes até a pronuncia


inclusivamente, e julgados pelos Juizes de Direito, os seguintes crimes:
71
§1º. Moeda falsa. (...) .

69
BRASIL. Senado Federal. Legislação do Império. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio> . Acesso em 15. Ago. 2018.
70
Ibidem.
71
Ibidem.
41

A Lei Nº 602 de 19 de setembro de 1850, dá nova organização a Guarda


Nacional do Império. E no artigo 66 dispõe que o oficial terá baixa do posto, entre
outras coisas, caso tenha sido condenado pelo crime de falsificação monetária.

Art. 66. O Official terá baixa do posto:


§1º. Quando for condemnado por sentença da Autoridade Civil passada em
Julgado por crimes contra a lndependencia, Integridade e Dignidade da
Nação, contra a Constituição do lmpério, e fórma do seu Governo, contra o
Chefe do mesmo Governo, e contra o livre exercício dos Poderes Políticos;
pelos de conspiração, rebelião, sedição, insurreição, homicidio, falsidade,
moeda falsa, resistencia, tirada de presos do poder da Justiça,
arrombamento de cadêas, peita, suborno, irregularidade de conducta, furto,
banca-rota fraudulenta, roubo, e fabrico de instrumentos para roubar; ou por
algum outro que o sujeite á pena de galés por qualquer tempo, ou á de
72
prisão por dous ou mais annos .

O Decreto Nº 1707 de 29 de dezembro de 1855, promulga a Convenção


celebrada entre o Brasil e Portugal para punir e reprimir o crime de moeda falsa. E
suas principais disposições são as seguintes:

Tendo-se concluido e assignado em Lisboa, aos 12 dias do mez de Janeiro


do corrente anno, com o Governo de Sua Magestade Fidelissima, huma
Convenção para reprimir e punir o crime de falsificação de moeda e papeis
de credito com curso legal nos dous Paizes, quando praticado no territorio
do outro; Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador.

Art. 1º. Todo aquelle que commetter em territorio Portuguez alguns dos
crimes declarados no Capitulo 6º Secção 1º Arts. 206, 207, 208, 209, 210 e
211 do Codigo Penal Portuguez, promulgado por Decreto de 10 de
Dezembro de 1852, falsificando moeda metallica que tenha curso legal no
lmperio do Brasil, passando ou introduzindo moeda assim falsificada, ou
expondo-a á venda, será punido segundo as regras e com as penas
estabelecidas para taes crimes nos referidos Artigos relativos á falsificação
de moeda metallica portugueza.

Art. 3º. Reciprocamente todo aquelle que no territorio do Brasil commetter a


respeito da moeda que tenha curso legal em Portugal, ou de titulos ao
portador, autorisados por Lei Portugueza, alguns dos crimes enumerados
nos Artigos antecedentes da presente Convenção, será punido segundo as
regras e com as penas que as Leis do Imperio do Brasil estabelecem para a
punição desses crimes commettidos a respeito de moeda que tenha curso
legal no Brasil, e dos titulos de que trata o Art. 2º desta mesma Convenção
autorisados por Lei Brasileira.

72
BRASIL. Senado Federal. Legislação do Império. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio> . Acesso em 15. Ago. 2018.
42

Art. 5º. As duas altas Partes contractantes tomarão cada huma por si, ou á
requisição dos Agentes Diplomaticos ou Consulares da outra, todas as
medidas administrativas que forem necessarias para obstar a taes crimes,
como se achão especificados nos seus respectivos Codigos; e bem assim
para perseguir, fazer processar, e punir os criminosos, quando tenha sido
73
impossivel prevenir a perpetração dos mesmos crimes .

O Decreto Nº 1914 de 28 de março de 1857 e que trata sobre disposições


alfandegárias, não permite agenciar negócios nas Alfandegas, entre outros, os
condenados por crime de moeda falsa.

Art. 53. Não serão admittidos a agenciar negocios nas Alfandegas:


(,,,)

§2º. Os que em qualquer tempo tiverem sido convencidos, de crime de


74
contrabando, roubo, furto, estellionato, ou moeda falsa .

O Decreto Nº 2350 de 5 de fevereiro de 1859, reforma a Secretaria de Estado


dos Negócios da Justiça, traz como causa de demissão, mesmo do empregado com
mais de 10 anos de serviço, aquele condenado pelo crime de moeda falsa.

Art. 22. São causas de demissão, ainda que o empregado tenha mais de 10
annos de serviço:

§1º. A pronuncia definitiva nos crimes de peita, falsidade, moeda falsa,


75
peculato, furto, roubo, homicídio, estellionato e irregularidade de conducta .

O Decreto Nº 2537 de 2 de março de 1860, manda observar o regulamento da


Casa da Moeda, no qual incumbe ao Provedor julgar a veracidade das moedas e
traz como obrigação comum a todos os empregados o combate à falsificação
monetária.
Art. 30. Ao Provedor incumbe:

(...)

73
BRASIL. Senado Federal. Legislação do Império. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio> . Acesso em 15. Ago. 2018.
74
Ibidem.
75
Ibidem.
43

§20. Julgar sem recurso, com os peritos da Casa da veracidade ou


falsidade da moeda e das matrizes e chapas, fazendo registrar, e levando a
sua decisão ao conhecimento do Ministro da Fazenda, e da autoridade a
quem competir; bem como mandar trocar a moeda, que estiver desfalcada
nos termos do artigo 33da Lei Nº 628 de 17 de Setembro de 1851.

(...)

§36. Ordenar a detenção de qualquer pessoa que fôr encontrada dentro do


edificio da Casa da Moeda em flagrante delicto, ou commetendo fraude, ou
outro qualquer crime ou acto, que prejudique a policia da Casa, e a
conservação de seu material; mandando lavrar auto do occorrido, que
remetterá com o delinquente á autoridade competente.

(...)

Art. 42. São obrigações communs a todos os Empregados, Mestres,


Praticantes, operarios, e serventes da Casa da Moeda:

(...)

§4º. Vigiar sobre a falsificação da moeda, sua emissão e circulação; e bem


assim sobre chapas, cunhos, punções e sellos falsos ou contrafeitos,
machinas de cunhar ou de transportar, dando parte de sua existencia ao
Provedor.

(...)

Art 95. Ficão prohibidas fóra da Casa da Moeda, ou da immediata


inspecção do Ministro da Fazenda, as machinas de cunhar, e de transportar
76
gravuras sob as penas que a lei impõe ao fabrico de moeda falsa .

A Decisão do Governo N 18 – Fazenda – Em 19 de janeiro de 1858, ordena a


substituição das notas de 20$, da 3ª Estampa, por terem aparecidas falsas.

Bernardo de Souza Franco, Presidente do Tribunal do Thesouro Nacional,


tendo resolvido a substituição das notas do Tesouro. do valor de vinte mil
réis, da terceira estampa, papel amarello, em cuja classe tem apparecido
falsas, ordena aos Srs. Inspectores das Thesourarias de Fazenda que,
fazendo publicar esta resolução por annuncios nos periodicos da Província,
e por editaes afixados em todos os municipios, empregando nella os saldos
disponiveis das mesmas Thesourias, remettendo ao Thesouro, depois de
inutilisadas na fórma das Ordens, as notas que se houverem substituído até
o fim de Março do corrente anno ,- e continuando a fazer taes remessas
77
d'ahi em diante no fim de cada dous mezes .

76
BRASIL. Senado Federal. Legislação do Império. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio> . Acesso em 15. Ago. 2018.
77
Ibidem.
44

O Decreto Nº 4912 de 27 de março de 1872, promulga o tratado para a


entrega de criminosos e desertores entre o Império do Brasil e a República do
Paraguai. No artigo 2º prevê a extradição para o crime de falsificação monetária.

Art. 2º- A extradição será concedida pelas seguintes infracções ás leis


penaes:

(...)

§11º. Falsificação ou alteração de moeda, introducção ou emissão


78
fraudulenta de moeda falsa .

O Decreto Nº 4978 de 12 de junho de 1872 promulga o tratado de extradição


entre o Império do Brasil e Reino da Espanha. No artigo 3º elenca o crime de
falsificação monetária como causa de extradição. Conforme pode ser lido:

Art. 3º- A extradição deverá realizar-se a respeito dos indivíduos accusados


ou condemnados como autores ou complices dos seguintes crimes:

(...)

§9.° Falsificação, alteração, importação, introducção e emissão de moeda e


papeis de credito com curso legal nos dous paises; fabrico, importação,
venda e uso de instrumentos com o fim de fazer dinheiro falso, apólices ou
quaesquer outros títulos da divida publica, nota dos bancos ou quaesquer
papeis dos que circulam como se fossem moeda; falsificação de actos
soberanos, sellos do Correio, estampilhas, sinetes, carimbo, cunhos e
quaesquer outros sellos do Estado e uso, importação e venda desses
objectos; falsificação de escripturas publicas ou particulares, letras de
79
cambio e outros títulos do commercio e uso desses papeis falsificados .

O Decreto Nº 5160 de 4 de dezembro de 1872 promulga o tratado de


extradição entre o Império do Brasil e a República Argentina. No artigo 2º elenca o
crime de falsificação monetária como causa de extradição. Como pode ser
observado:
Art. 2º- A extradição deverá realizar-se a respeito dos indivíduos accusados
ou condemnados como autores ou complices dos seguintes crimes:

(...)

78
BRASIL. Senado Federal. Legislação do Império. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio> . Acesso em 15. Ago. 2018.
79
Ibidem.
45

§8.° Falsificação, alteração, importação, introducção e emissão de moeda e


papeis de credito com curso legal nos dous paises; fabrico, importação,
venda e uso de instrumentos com o fim de fazer dinheiro falso, apólices ou
quaesquer outros títulos da divida publica, nota dos bancos ou quaesquer
papeis dos que circulam como se fossem moeda; falsificação de actos
soberanos, sellos do Correio, estampilhas, sinetes, carimbo, cunhos e
quaesquer outros sellos do Estado e uso, importação e venda desses
objectos; falsificação de escripturas publicas ou particulares, letras de
80
cambio e outros títulos do commercio e uso desses papeis falsificados .

O Decreto Nº 5263 de 19 de abril de 1873, promulga o Tratado de Extradição


celebrado em 10 de junho de 1872 entre o Brasil e Portugal. No artigo 5º elenca o
crime de falsificação monetária como causa de extradição. Conforme pode ser lido:

Art. 5º- A extradição deverá realizar-se a respeito dos indivíduos accusados


ou condemnados como autores ou complices dos seguintes crimes:

(...)

§10º. Fabrico, importação, venda e uso de instrumentos com o fim de fazer


moeda falsa, apolices ou quaisquer outros titulos de divida publica, notas de
bancos ou quaesquer papeis dos que circulam como si fossem moeda,
falsificação de diplomas e documentos officiaes, sellos, estampilhas do
correio, carimbos, cunhos e quaesquer outros sellos do Estado; uso,
importação e venda desses objectos falsificados; falsificação de escripturas
publicas ou particulares, letras de cambio e outros títulos de commercio e
81
uso desses papeis falsificados .

O Decreto Nº 5264 de 19 de abril de 1873, promulga o Tratado de Extradição


celebrado em 13 de novembro de 1872 entre o Brasil e a Grã-Bretanha. No artigo 2º
elenca o crime de falsificação monetária como causa de extradição. Conforme pode
ser lido:
Art. 2º- Os crimes pelos quaes se deverá conceder a extradição são os
seguintes:

(...)

§3º. Fabricação illegal, contrafacção ou falsificação de moeda: emittir ou


82
introduzir na circulação moeda contrafeita ou falsificada. ‖

80
BRASIL. Senado Federal. Legislação do Império. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio> . Acesso em 15. Ago. 2018.
81
Ibidem.
82
Ibidem.
46

O Decreto Nº 5274 de 3 de maio de 1873, promulga o Tratado de Extradição


celebrado em 12 de novembro de 1872 entre o Brasil e o Reino da Itália. No artigo 3º
elenca o crime de falsificação monetária como causa de extradição. Conforme pode
ser lido:
Art. 3º- A extradição será concedida pelos crimes ou delictos seguintes:

(...)

§9º. Contrafacção ou alteracão de moeda, cedulas ou obrigações do


Estado, bilhetes de banco ou qualquer outro papel de credito equivalente a
moeda; introducção, emissão e uso doloso dos ditos valores falsos ou
falsificados ; falsificação de actos soberanos, sellos do Correio, estampilhas,
carimbos, cunhos e quaesquer outros sellos do Estado; e uso doloso
desses documentos e objectos falsificados; falsificação de escriptura publica
ou particular, letras de cambio e outros effeitos commerciais e uso doloso
83
desses papeis falsificados .

A Decisão do Governo N 204 – Fazenda – Em 15 de junho de 1874, ordena


as Tesourarias que publiquem na imprensa o termo do exame feito pela Caixa de
Amortização de uma nota falsa de 1$000.

O Visconde do Rio Branco, Presidente do Tribunal e do Thesouro Nacional,


ordena aos Srs. Inspectores das Thesourariasda Fazenda que façam
publicar pela imprensa o termo de exame feito na Caixa de Amortização em
uma nota falsa de 1$000, apprehendida na Provincia de S. Pedro do Rio
Grande do Sul, o qual vem transcripto na 4ª coluna, 3ª página, do Diario
Official nº 145 de 13 do corrente mez, afim de que se proceda na fórma da
lei contra os introductores e falsificadores de taes notas, si forem
84
conhecidos .

A Lei Nº 2615 de 4 de agosto de 1875, providencia sobre o processo e


julgamento de crimes que forem cometidos em país estrangeiro contra o Brasil e os
brasileiros.

Art.1º. Poderão ser processados, ainda que ausentes do Imperio, e julgados


quando forem presentes, ou por terem regressado expontaneamente, ou
por extradicção conseguida para esse fim, os brazileiros que em paiz
estrangeiro perpetrarem algum dos crimes previsto pelo Codigo Criminal:

83
BRASIL. Senado Federal. Legislação do Império. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio> . Acesso em 15. Ago. 2018.
84
Ibidem.
47

(...)

§4º. Moeda falsa e falsificação de títulos publicos ou bilhetes de Banco


85
autorizados pelo Governo .

O Decreto Nº 6946 de 25 de junho de 1878, promulga o tratado de extradição


de criminosos celebrado entre o Brasil e a Alemanha em 17 de setembro de 1877.
Novamente elencando o crime de falsificar dinheiro como uma das causas.

Art. 1º- As altas partes contractantes obrigam-se á recíproca entrega de


todos os indivíduos que, nos casos previstos pelas clausulas do presente
tratado, tiverem sido, no territorio da parte reclamante, condemnados ou
pronunciados, ou contra os quaes houver mandado de prisão expedido por
autoridade competente, como autores ou complices de algum dos crimes ou
delictos abaixo indicados.

(...)

§12º. Falsificação ou alteração de moeda, introducção ou emissão


86
fraudulenta de moeda falsa ou adulterada .

A Decisão do Governo N. 508 – Justiça – Em 25 de setembro de 1879, versa


sobre a falsificação de moeda estrangeira no Brasil e no estrangeiro por nacional
que regressa ao Império.

Illm. e Exm. Sr. -Com Aviso de 15 de Março ultimo pediu V. Ex. solução dos
dous quesitos seguintes formulados pela Legação da Belgica, a respeito da
punição do fabrico de moeda estrangeira ainda no caso de ter a mesma
denominação e o mesmo peso das desse Estado estrangeiro:- 1º As leis
penaes punem o fabrico de moeda estrangeira quando commettido no
Brazil?- 2º E punem o mesmo crime, quando praticado em paiz estrangeiro
por nacional, que posteriormente vem refugiar-se no lmperio?
Em resposta declaro a V. Ex. :
Quanto ao1º que, segundo a Jurisprudencia dos nossos Tribunaes, o art.
173 do Codigo Criminal é applicavel aos que no Imperio fabricam moeda
falsa estrangeira. Quanto ao 2º que, nos termos do art. 4º do decreto n.
6734 de 8 de Junho de 1878 e artigo respectivo da lei, o nacional que fóra
do paiz, houver falsificado moeda estrangeira e voltar ao Imperio, póde ser
87
processado e punido conforme a lei brazileira .

85
BRASIL. Senado Federal. Legislação do Império. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio> . Acesso em 15. Ago. 2018.
86
Ibidem.
87
Ibidem.
48

O Decreto Nº 8296 de 29 de outubro de 1881, promulga o tratado de


extradição de criminosos entre o Brasil e os Países Baixos em 1 de junho de 1881.
No artigo 1 traz o crime de moeda falsa como possibilidade de extradição.

Artigo 1- O Governo Brazileiro e o Governo dos Paizes-Baixos


comprometem-se a entregar reciprocamente, de conformidade com as
regras estabelecidas pelos artigos seguintes, exceptuados seus nacionaes,
os indivíduos condemnados, accusados ou pronunciados por algum dos
crimes ou delictos adiante mencionados, commetidos fora do territorio da
parte requerida:

(...)

§8º. Contrafacção, falsificação ou alteração de moeda, omissão ou


introducção na circulação, ou participação dolosa na emissão de moeda
88
contrafeita, falsificada ou alterada .

O Decreto Nº 9266 de 23 de agosto de 1884, promulga a Convenção


celebrada entre o Brasil e a Áustria-Hungria em 21 de maio de 1883 para a
extradição de criminosos. Elencando a falsificação monetária como crime passível
de extradição em seu artigo 3º.

Art 3. A extradição será concedida por motivo dos actos puniveis abaixo
indicados, a saber:

(...)

§7º. adulteração ou falsificação de moedas, de consignações ou obrigações


do Estado, de bilhetes do Banco ou de outros bilhetes de credito publico,
que circulem como moeda; introducção, emissão, assim como o uso doloso
desses valores adulterados ou falsificados; falsificação e adulteração de
documentos officiaes, de sellos do Correio, de sellos, carimbos e quaesquer
marcas do Estado; uso doloso desses objectos falsificados ou
89
adulterados .

O Decreto Nº 9356 de 10 de janeiro de 1885, dá novo regulamento para o


Presídio de Fernando de Noronha e entre as disposições, versa sobre os
condenados pelo crime de falsificação monetária:

88
BRASIL. Senado Federal. Legislação do Império. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio> . Acesso em 15. Ago. 2018.
89
Ibidem.
49

Art. 1º. Para o Presidio de Fernando de Noronha só serão remettidos, afim


de nelle cumprirem sentença, precedendo autorização do Governo Imperial
(Avisos ns. 479 e 564 de1º de Outubro, de 19 de novembro de 1880, e 13
de janeiro de 1881):

§1º- I. Os condemnados por fabricação e introducção de moeda falsa.


II. Os condemnados por fabricação, introducção, falsificação de notas,
cautelas, cédulas e papeis fiduciários da Nação ou do Banco, de qualquer
qualidade e denominação que sejam. (Lei n. 52 de 3 de outubro de 1833.
90
Arts 8º e 9º) .

O Decreto Nº 9370 de 11 de fevereiro de 1885, dá novo regulamento á Caixa


de Amortização e em seu artigo 133 descreve o procedimento para ser tomado no
caso de falsificação monetária.

Art 133. As notas falsas ou falsificadas, apresentadas ao troco, serão de


igual modo inutilisadas com a marca indicativa, e entregues ás partes,
quando se entender que não devam ir á autoridade policial.
Si for caso de intervenção da Policia, lavrar-se- ha termo, assignado pelo
Chefe da secção do papel-moeda, pelo fiel encarregado do troco o pelo
91
portador da nota .

A Decisão do Governo N. 12 de 11 de março de 1886 versa sobre a


concessão de habeas corpus no caso de preso por moeda falsa.

Illm. e Exm.Sr.- Recommendo a V. Ex., em resposta ao officio n. 64 de 26


do mez findo, que faça o Chefe de Policia prosseguir nas diligencias para a
instaurarão do processo dos indivíduos implicados no crime de moeda falsa,
promovendo a prisão dos mesmos depois da pronuncia: visto que a
concessão de habeas corpus não põe termo ao processo nem obsta a
qualquer procedimento judicial que possa ter no Juizo competente, como é
92
expresso no art. 18 §7º, da Lei n. 2033 de 20 de Setembro de1871 .

O Decreto Nº 9912 de 26 de março de 1888, reforma os Correios do Império e


traz como causa de demissão os funcionários que tenham sido condenados pelo
crime de moeda falsa.

90
BRASIL. Senado Federal. Legislação do Império. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio> . Acesso em 15. Ago. 2018.
91
Ibidem.
92
Ibidem.
50

Art. 190. São causas de demissão:


§1º. A condemnação nos crimes de prevaricação, peita, suborno,
93
concussão, falsidade, peculato, moeda falsa, furto, roubo e homicídio .

O Decreto Nº 10144 de 5 de janeiro de 1889, regula a execução do Decreto n.


3403 de 24 de novembro de 1888 sobre os Bancos de Emissão.

Art. 34. Apparecendo na circulação bilhetes falsos, a Junta ordenará a


substituição da estampa que será efectuada pelas companhias nos termos
do artigo antecedente e no prazo de seis mezes.

Art. 61. A falsificação de bilhetes ao portador e á vista, convertiveis em


moeda corrente do Imperio, e a introducção dos falsificados, serão punidas
94
com as penas comminadas pelo direito vigente ao crime e moeda falsa .

Conforme pode ser observado, inúmeras disposições legais foram editadas


na tentativa de o governo imperial conter o mal da moeda falsa que assolava o país.

3.3. DADOS HISTÓRICOS

Abaixo iremos trazer dados históricos de relatos envolvendo o crime de


falsificação monetária. Devido à grande quantidade de relatos, foram selecionados
alguns que constam em documentos oficiais do Governo, com o fim de exemplificar
a situação que se encontrava o Império do Brasil no que se relaciona a tal crime que
é o objeto desse trabalho.
O presidente da província do Grão-Pará, Bernando José da Gama,
encaminha uma Representação do Conselho Geral da Província do Pará, datada a 9
de fevereiro de 1832, sobre objetos relativos à moeda de cobre falsa e depreciada
em circulação na mesma província.

93
BRASIL. Senado Federal. Legislação do Império. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio> . Acesso em 15. Ago. 2018.
94
Ibidem.
51

Neste estado precário e degradante do crédito nacional é com igualdade


garantida pela constituição do império e pelo zelo da Fazenda Pública, que
este Conselho Geral deve esperar esta pronta providência do poder
legislativo, a fim de poder acabar com aquele pernicioso mal da moeda falsa
circulante nesta província, fazendo e extensiva a essa a resolução de 27 de
novembro de 1827, pela maneira seguinte:

Art. 1° - Que o Governo seja autorizado a mandar trocar toda moeda de


cobre falsa e depreciada que circular na província do Pará.

Art. 2° - Que o troco se faça por moeda de cobre da que há cunhada na


Capital do Império e por cédulas emitidas pelo Tesouro para cujo fim se
remeterá pelo mesmo Tesouro a quantia de duzentos contos de réis em
moedas de cobre, seiscentos contos em apólices para realizar-se o troco a
saber do cobre que houver na Capital desta província em quinze dias e do
mais que houver pelo interior no próximo prazo de dois meses que se deve
publicar seis dias depois de nesta província chegar esta medida, findo o
qual prazo ficará sem valor e sem recebimento toda a moeda falsa e
depreciada que aparecer e se procederá criminalmente contra os que a
introduzirem devendo estender-se este prazo para a comarca do Rio Negro
95
será aplicável depois de lá ser publicada esta medida .

Saturnino de Pádua, no seu livro, faz referência a um parecer do numismata


Antonio Augusto de Almeida, que segundo ele afirma ter documentos
comprobatórios da moeda de 80 réis 1825P terem sido cunhadas fora do Brasil e
apreendidas em Pernambuco, no momento que os falsificadores tentavam introduzir
essas moedas por meio de contrabando.
Saturnino completa o parecer dizendo que uma pequena parte das moedas
haviam entrado em circulação e pela semelhança de desenho com as moedas
cunhadas em São Paulo, haviam sido classificadas pelo numismata Julius Meili
como sendo moedas oficiais cunhadas nessa província, porém, afirma que as
moedas são efetivamente falsas e foram introduzidas em Pernambuco, em barris de
pregos e ferragens, de procedência dos portos de Jersey e Guernesey, conforme se
depreende da ordem n. 65 do Thesouro do Império à Junta da Província e datada de
28 de Julho de 1826 96.
Para exemplificar a ordem citada na discussão entre os dois numismatas,
trazemos o seu inteiro teor:

95
GOMES, Edil; BERTAPELI, Rogerio. 1825P: moedas para salvar a Província do Grão-Pará.
Autores: Edil Gomes, Rogério Bertapeli. Sociedade Numismática Brasileira: São Paulo, 2018.
96
Ibidem.
52

PROVISÃO de 28.7.1826
O Visconde de Baependy, etc. – Faço saber à Junta da Fazenda Pública da
Província do Maranhão, que tendo-se recebido aviso de que se pretendia
mandar para os portes do Brazil moeda falsa de prata e cobre de alguns
portos estrangeiros, oculta em barris de pregaria e ferragens: Há o mesmo
A.S. por bem mandar prevenir essa Junta, para evitar tão atroz delicto,
expedindo as convenientes ordens ao Juiz dessa Alfandega, procedendo-se
ao mais escrupuloso exame em todos e quaisquer navios estrangeiros, e
particularmente nos que vem das Ilhas de Jersey e Guernesey, para se
apprehender as moedas falsas que possão trazer, e ainda mesmo o cobre
97
cortado em chapas, que só pode servir para se cunhar em moeda .

Na sessão da Câmara dos Deputados de 29 de agosto de 1829 o sr. José


Lino, havia advertido sobre as moedas falsas, apresentou um requerimento à
Câmara dos Deputados, reclamando providências contra o cobre falso que
abundava na Província do Pará:

Há cinco annos, que se tem tratado de remediar este negocio do cobre, eu


fui o primeiro que fallei sobre este remedio de tão grande mal; porém elle
tem continuado, e os autores de moeda falsa tem ido em augmento, e o
98
Governo é o culpado de tudo isto .

Em 1830, em sessão de 8 de outubro, através de uma comissão incluindo a


cooperação de negociantes para se inibir a circulação do cobre falso no meio
circulante:
(...)
..tal é a introdução fraudulenta em nossos mercados de uma enorme
quantidade moeda falsa de cobre, sobretudo nas provincias do norte, onde
a especulação estrangeira e a immoralidade de alguns nacionaes tem
99
extraordinariamente alimentado tão escandaloso abuso .

A situação da Província do Grã-Pará era desesperadora, devido ao grande


derrame de moedas falsas de cobre. O presidente da Província Machado de
Oliveira, em seu relatório apresentado, perante o Conselho Geral do Governo, ao
findar o exercício de 1833, apresenta:

97
GOMES, Edil; BERTAPELI, Rogerio. 1825P: moedas para salvar a Província do Grão-Pará.
Autores: Edil Gomes, Rogério Bertapeli. Sociedade Numismática Brasileira: São Paulo, 2018.
98
Ibidem.
99
Ibidem.
53

Ainda o flagelo da moeda falsa de cobre continua com seus perniciosos


estragos sobre o acanhado comércio desta província, não tendo podido
obstar a sua furtiva introdução, por maiores esforços que nisso tenha
empregado, estando ultimamente convencido de que ela se fabrica dentro
da província, onde os falsários podem ousadamente calcular e estabelecer
tão infame tráfico, porque contam com a impunidade, e é fama que com
eles são coniventes algumas autoridades locais. A mal tão grave não tem
podido valer remédios tão tênues e precários que por vezes têm sido
aplicados; antes fazem manifestar e conhecer a sua enormidade. Só
alguma medida legislativa poderá curá-lo; e queiram os céus não venha
100
tarde .

As províncias mais afastadas da Capital eram as que mais sofriam com o


crime de moeda falsa. Sem dúvidas uma das províncias mais afetadas durante toda
a história brasileira, foi a Província da Bahia. Alexander Trettin (2010) nos traz uma
análise do que ocorreu nesta província em particular:

Na Bahia, a partir de 1826, o governo provincial, representante do poder do


Imperador, se viu forçado pelas circunstancias a dar livre curso as moedas
falsas de cobre. Demonstrando claramente sua incapacidade de impor o
monopólio sobre o sistema monetário e de reprimir efetivamente a produção
das moedas falsas que inundavam a praça comercial da Província. Numa
curiosa inversão, o Estado, ao invés de coibir a circulação de moedas
falsas, passou a aceita-las. Tal aceitação significava um endosso, mesmo
que indireto, para as moedas falsas. A ineficácia do governo em reprimir a
produção de moedas falsas na Bahia e também em outras províncias,
somada ao incremento constante e excessivo das emissões de moedas de
cobre pelo próprio governo, possibilitaram a gradativa inserção de moedas
de cobre e cédulas falsificadas em todo o Império. Sabe-se que a
problemática da falsificação na Bahia persistiu ate a década de 1850, pelo
101
menos .

Quando ocorria a apreensão de cobre ilegal ou de material para a cunhagem


de moedas, as autoridades policiais da província eram orientadas a enviar o material
para a Casa da Moeda, para que fosse analisado. Na Casa da Moeda, os técnicos
davam um parecer acerca do material enviado. Em 20 e 22 de setembro de 1825 foi
expedido laudo técnico acerca de duas apreensões de cobre destinado à
falsificação. Na primeira apreensão foram confiscados dois barris. Cada um com três
chapas, além de 29.264 discos de cobre.
Na segunda foram enviados para os técnicos dezessete sacos contendo
41.865 discos de cobre e 51 moedas de 80 réis. O laudo técnico apontou que os

100
MARTINS, Álvaro. Moedas para a revolução do povo: a solução cabana para o meio
circulante. Belém: Imprensa Oficial do Estado, 2012.
101
TRETTIN, Alexander. O derrame de moedas falsas de cobre na Bahia (1823-1829) /Alexander
Trettin. – Salvador: UFBA / FFCH-PPGH, 2010.
54

discos eram do diâmetro das moedas de 40 réis vigentes, perfeitamente cortados, o


que, ainda segundo os peritos, indicava proveniência estrangeira. Das moedas já
cunhadas de 80 réis, 37 eram falsas e 14 verdadeiras. Os discos poderiam ter sido
transformados em 71.129 moedas102.
Há ainda o relato do cumprimento de um mandado judicial de prisão em 1827,
no qual um juiz ordinário de Ilhéus, um escrivão, dois meirinhos, o tenente-coronel
do batalhão e mais 20 milicianos foram à busca de criminosos implicados no crime
de moeda falsa. Foram feitas buscas na fazenda dos réus e não foram encontrados.
Então a busca passou a ser feita nas matas ao redor das casas e foi encontrado um
atalho aberto na mata a golpes de facão.
Os oficiais seguiram os rastros e não muito distante foram encontrados dois
caixotes de madeira e duas barricas vazias. Algumas marcas na vegetação
apontavam que algo havia sido conduzido por ali. Em uma distância de trezentos a
quatrocentos passos da fazenda, foram avistadas três casas cobertas de palha. No
riacho que beirava as casas, foram encontrados três homens, que lavavam alguns
ferros. Avistando a chegada dos agentes, os três fugiram atravessando o riacho e
desaparecendo na mata. Dentro das casas, foi encontrada uma das mais completas
fabricas de cunhar moedas falsas que se tem noticia na Bahia durante o Império 103.
O historiador baiano Renato Berbert de Castro, em seu livro, nos diz que
pouco depois de assumir a Província da Bahia, em 11 de outubro de 1827, José
Egídio Gordilho de Barbuda, ficou espantado com a quantidade de moeda de cobre
falsa que se encontrava em circulação, tão grande que escrevendo a D. Pedro I,
observou que quando veio governar a Bahia, pensava que ia encontrar algumas
moedas falsas circulando no meio das verdadeiras. Mas nela chegando, logo
verificou que sucedia exatamente o contrário: existia um pequeno número de
moedas verdadeiras girando entre uma quantidade incomensurável de moedas
falsas 104.
Através da leitura dos relatos feitos pelas autoridades da época, percebe-se
como o crime de falsificação de moedas era um crime que trazia muitos prejuízos

102
TRETTIN, Alexander. O derrame de moedas falsas de cobre na Bahia (1823-1829) /Alexander
Trettin. – Salvador: UFBA / FFCH-PPGH, 2010.
103
Ibidem.
104
CASTRO, Renato Berbert de. O fechamento da Casa da Moeda da Bahia e o 80 réis de 1831B.
Bahia: Gov. do Est. da Bahia/Sec. De Cultura e Turismo/Conselho Estadual de Cultura, 1996
55

para o Governo, em virtude da enorme quantidade de moedas falsas que corriam no


meio circulante e se misturavam, quase que imperceptivelmente, às moedas boas.
Para a população da época era muito difícil fazer a diferenciação da moeda
oficial de uma moeda falsa, visto que devido à circulação de dezenas de modelos
diferentes de moedas ao mesmo tempo, não havia um conhecimento aprofundado
do desenho que as peças deveriam apresentar e que, eventualmente, poderiam
ajudar na identificação das peças falsificadas. Mesmo com o forte empenho do
Imperador e de seus súditos em reprimir o crime de moeda falsa, não foi possível
chegar nem perto do que seria o ideal para o Império. Ficando o governo, como no
caso da Província da Bahia, submetido aos efeitos da atuação assaz dos
falsificadores.
56

4. FALSIFICAÇÃO MONETÁRIA NA ERA REPUBLICANA

4.1. APLICAÇÃO DAS LEIS NA REPÚBLICA

O período republicano brasileiro tem início com o fim do Império do Brasil em


1889 e perdura até os dias de hoje. O golpe militar de 15 de novembro de 1889
depôs Dom Pedro II e proclamou a República do Brasil pelo Marechal Deodoro da
Fonseca.
O Brasil foi nomeado de Estados Unidos do Brasil, o mesmo nome da
constituição de 1891, também promulgada nesse período. Historicamente esse
período é denominado de República da Espada, já que o comando do Brasil ficou na
mão dos militares, apoiados pelo setor republicano da sociedade. Possuindo um viés
mais centralizador do poder, devido aos temores da volta da Monarquia e da divisão
do Brasil105.
Em relação a primeira Constituição Republicana, sua principal característica
foi a instituição da Justiça Federal para julgar as causas em que a União figurava
como parte, estabelecendo assim a dualidade da Justiça Comum. Outra
característica importante foi a disposição de que as questões de natureza
constitucional seriam agora de competência dos juízes federais, inaugurando no
ordenamento jurídico brasileiro o controle difuso de constitucionalidade, no qual os
juízes poderiam declarar a inconstitucionalidade das leis nos casos concretos 106.
O Código Criminal da República, editado em 11 de outubro de 1890,
apresentava diversas falhas, devido à pressa para sua edição. Porém foi um avanço
para a legislação penal da época, visto que, além de não mais condenar com pena
de morte, inovou com a previsão do regime penitenciário de caráter correcional. Mas
devido a sua má sistematização, entre outros defeitos, veio a necessidade de
modificá-lo.
Surgiram várias leis para remenda-lo, que pela quantidade grande, geraram
problemas e incerteza na sua aplicação. Restando então ao desembargador Vicente
Piragibe a missão de consolidar essas leis extravagantes. Através do Decreto nº

105
FAUSTO, Boris. História do Brasil, EDUSP, 2012
106
MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Evolução Histórica da Estrutura Judiciária Brasileira.
Revista Jurídica Virtual, Brasília, v. 1, n. 5, set. 1999.
57

22.213 de dezembro de 1932 surgiu a denominada Consolidação das Leis Penais de


Piragibe, vigorando até 1940. Atuando de maneira precária como o Estatuto Penal
Brasileiro107.
A Constituição de 1934 adotou grandes alterações no sistema de controle de
constitucionalidade no Brasil. Manteve algumas disposições da Constituição de
1891, mas inovou determinando que a declaração de inconstitucionalidade passaria
a poder ser declarada somente pela maioria dos membros dos tribunais. Também
adotou a competência do Senado Federal para a suspensão da execução de
qualquer lei ou ato inconstitucional que tenha sido declarado pelo Poder Judiciário.
Passou a prever a figura da representação interventiva para fins de intervenção
federal nos Estados.
Já a Constituição imposta por Getúlio Vargas em 1937, decorrente do
fechamento do Congresso para a instituição do ―Estado Novo‖, trouxe em seu corpo
grandes alterações em relação ao Poder Judiciário, já que extinguiu a Justiça
Federal e a Justiça Eleitoral. Revelando-se um retrocesso também no que concerne
ao controle de constitucionalidade. Ficando esse controle somente no papel, já que
108
a estrutura legal tinha como objetivo legitimar o governo de Vargas .
Um novo Código Penal foi promulgado em 1940, passando a vigorar em
1942, juntamente com o Código de Processo Penal. Considerado pela doutrina
como uma legislação eclética, fazendo uma conciliação entre os postulados das
Escolas Clássicas e Positiva, se valendo do que havia de melhor nas legislações
modernas de orientação liberal. Apesar de suas imperfeições é uma obra harmônica,
baseando-se nas mais modernas ideias doutrinárias. Divergindo, e muito, do Código
Criminal de 1890 109.
Em 1946 passou a vigorar a Constituição democrática, restabelecendo a
Justiça Federal e a Justiça Eleitoral, trouxe também para o pleito do Poder
Judiciário, a Justiça do Trabalho. Na seara do controle de constitucionalidade das
leis, instituiu a ação direta de inconstitucionalidade contra lei em tese, passando a
adotar também o controle concentrado. Em contrapartida, em 1967, fruto da ditadura

107
DUARTE, Maércio Falcão. Evolução histórica do Direito Penal. Revista Jus Navigandi, ISSN
1518-4862, Teresina, ano 4, n. 34, 1 ago. 1999. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/932>.
Acesso em: 4 nov. 2018.
108
MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Evolução Histórica da Estrutura Judiciária Brasileira.
Revista Jurídica Virtual, Brasília, v. 1, n. 5, set. 1999.
109
Ibidem.
58

militar imposta em 1964, passou a vigorar uma Constituição autoritária. Os Atos


Institucionais representaram grande retrocesso à evolução brasileira.
O Ato Institucional nº 5, de 1968, que conferiu ao Chefe do Poder Executivo
Federal poderes quase ilimitados, permitiu que pudesse demitir, remover, aposentar
ou colocar em disponibilidade os magistrados, sendo suspensas as garantias
constitucionais da vitaliciedade e inamovibilidade110.
Durante a ditadura militar um novo Código Penal entra em vigência, no ano de
1969, porém após sua vigência ser adiada sucessivamente e ser modificado
substancialmente em 1973, fruto de críticas acerbadas ao seu conteúdo, foi
revogado em 1978111.
Nesse ano comemoramos 30 anos da Constituição Cidadã de 1988.
Conforme está disposto no site da Câmara dos Deputados, essa Constituição
tornou-se o maior símbolo do processo de redemocratização do Brasil. Passados 21
anos de ditadura militar, o povo brasileiro era agraciado com uma Constituição que
lhes assegurava a liberdade de pensamento. Além de serem criados mecanismos
para evitar abusos de poder do Estado.

4.2. LEIS REPUBLICANAS

Assim como ocorreu durante os outros períodos históricos brasileiros, os


governos republicanos também se preocuparam (e se preocupam até os dias atuais)
em combater o crime de moeda falsa. Dessa forma, diversas leis foram editadas,
além de um importante tratado internacional ter sido ratificado.
O Código Penal dos Estados Unidos do Brasil (Decreto 847 de 11 de
Novembro de 1890), classifica o crime de falsificação monetária como um crime
contra a fé pública. E no seu artigo 239 estabelece:

Art. 239 - Fabricar, sem autoridade legítima, moeda feita de idêntica


matéria, com a mesma forma, peso e valor intrínseco da verdadeira;

110
MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Evolução Histórica da Estrutura Judiciária Brasileira.
Revista Jurídica Virtual, Brasília, v. 1, n. 5, set. 1999.
111
DUARTE, Maércio Falcão. Evolução histórica do Direito Penal. Revista Jus Navigandi, ISSN
1518-4862, Teresina, ano 4, n. 34, 1 ago. 1999. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/932>.
Acesso em: 4 nov. 2018.
59

fabricar, do mesmo modo, moeda estrangeira que tiver curso legal ou


112
convencional dentro do paiz .

A penas eram de ―prisão cellular por um a quatro anos, e de perder


para a Nação a moeda achada e os objetos destinados ao fabrico‖. No parágrafo
único, era previsto outro tipo:

Si a moeda for fabricada com diversa matéria ou sem o peso legal: Pena de
113
prisão cellular por dous a oito anos, além da perda sobredita

Em 20 de abril de 1929 foi firmado em Genebra a Convenção


Internacional para a Repressão da Moeda Falsa, sendo ratificado pelo Brasil em 14
de setembro de 1938, através do Decreto 3.074. A repressão à falsificação da
moeda e ao tráfico de moedas falsas no plano internacional tornou-se um
compromisso dos Estados signatários da Convenção 114.
A seguir extraímos as principais disposições que integram esse tão
importante tratado:

Artigo 3: Devem ser punidas como infrações de direito comum:


1º - Todos os atos fraudulentos de fabricação ou alteração de moeda,
qualquer que seja o meio empregado para atingir o resultado;
2º - A introdução dolosa de moeda falsa na circulação;
3º - Os atos destinados a pôr em circulação, introduzir no país, receber ou
obter moeda falsa, sabendo ser a mesma falsa;
4º - As tentativas dessas infrações e os atos de participação intencional;
5º - Os atos fraudulentos de fabricar, receber ou obter os instrumentos ou
outros objetos destinados por sua natureza, a fabricação de moeda falsa ou
a alteração das moedas.

(...)

Artigo 11: As moedas falsas, bem como os instrumentos e outros objetos,


designados no artigo 3, n. 5, devem ser apreendidos e confiscados. Essas
moedas, instrumentos e objetos devem, após o confisco, ser remetidos,
quando requisitados ao Governo ou ao banco de emissão de cujas moedas
se trate, com exceção dos comprovantes cuja conservação nos arquivos
criminais é imposta pela lei do país onde o processo se realize, e os
espécimes cuja remessa à repartição central, a que se refere o artigo 12,
parecer util. Em todo caso, todos esses objetos devem ser postos fora de
uso.

112
BRASIL. Câmara dos Deputados. Legislação da República. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/republica>. Acesso em: 18. Ago. 2018.
113
Ibidem.
114
PONCIANO, Vera Lúcia Feil. Crimes de moeda falsa. Curitiba: Juruá, 2000.
60

Artigo 12: Em cada país, as pesquisas em matéria de moeda falsa devem,


de acordo com a legislação nacional, ser organizadas por uma repartição
central.
Essa repartição central deve ter estreito contato:
Com as organizações de emissão;
Com as autoridades policiais do interior do país;
Com as repartições centrais dos outros países.
Essa mesma repartição deve centralizar, em cada país, todas as
informações que possam facilitar as pesquizas, a prevenção e a repressão
da moeda falsa.

(...)

Artigo 14: Cada repartição central, nos limites em que julgar util, deverá
enviar às repartições centrais dos outros países uma coleção de especimes
autênticos, inutilizados, de moedas do seu país.
Dentro dos mesmos limítes, deverá notificar, regularmente, as repartições
centrais estrangeiras, dando-lhes todas as informações necessárias:
a) As novas emissões de moedas efetuadas em seu país;
b) A retirada de circulação e a prestação de moedas.
Salvo nos casos de interesse puramente local, cada repartição central, nos
limítes que julgar conveniente, deverá notificar as repartições centrais
estrangeiras;
1º - As descobertas de moedas falsas. A notificação de falsificação de notas
bancárias ou do Estado será acompanhada de descrição técnica das
falsificações, fornecida exclusivamente pelo organismo emissor cuja notas
foram falsificadas; será enviada uma reprodução fotográfica ou, se possível,
um exemplar da nota falsa. Em casos urgentes, um aviso e uma descrição
sumária poderão ser discretamente enviados, pelas autoridades policiais, às
repartições centrais interessadas, sem prejuizo do aviso e da descrição
técnica acima referidos;
2º - As pesquisas, perseguições, prisões, condenações, expulsões de
moedeiros falsos, bem como eventualmente suas mudanças e todas as
informações uteis, principalmente, os sinais, impressões digitais e
fotografias dos moedeiros falsos;
3º - Informações minuciosas sobre a descoberta da fabricação de moeda
falsa, indicando se essas descobertas permitiram apreender todas as
115
falsificações postas em circulação

Tal Convenção ratificada pelo Brasil não consta revogação expressa, sendo,
116
portanto, válida até hoje . Atualmente o crime de falsificação monetária está
descrito no artigo 289 do Código Penal (Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
1940).

115
BRASIL. Câmara dos Deputados. Legislação da República. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/republica>. Acesso em: 18. Ago. 2018.
116
BRASIL. Câmara dos Deputados. Decreto Lei nº3.074, DE 14 DE SETEMBRO DE 1938.
Promulga a Convenção Internacional para a repressão da moeda falsa, Protocolo e Protocolo
Facultativo, firmados em Genebra a 20 de abril de 1929. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-3074-14-setembro-1938-348839-
norma-pe.html>. Acesso em: 20. Ago. 2018.
61

TÍTULO X
DOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA
CAPÍTULO I
DA MOEDA FALSA

Art. 289 - Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel-


moeda de curso legal no país ou no estrangeiro:
Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa.
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa
ou exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz na
circulação moeda falsa.
§ 2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou
alterada, a restitui à circulação, depois de conhecer a falsidade, é punido
com detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
§ 3º - É punido com reclusão, de três a quinze anos, e multa, o funcionário
público ou diretor, gerente, ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite
ou autoriza a fabricação ou emissão:
I - de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei;
II - de papel-moeda em quantidade superior à autorizada.
§ 4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circular moeda, cuja
117
circulação não estava ainda autorizada .

Ainda, com o objetivo de manter a segurança da moeda, o Decreto-Lei nº


3.688 de 3 de outubro de 1941 (Lei das Contravenções Penais), em seu artigo 44,
dispõe sobre o uso como propaganda, de impressos ou objetos que pessoa
inexperiente ou rustica possa confundir com moeda.

Art. 44. Usar, como propaganda, de impresso ou objeto que pessoa


inexperiente ou rústica possa confundir com moeda:
118
Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis .

Adiante passaremos à análise do artigo 289 do Código Penal, objeto central


do presente trabalho.

4.2. ANÁLISE DOUTRINÁRIA E JURÍDICA DO ARTIGO 289 DO


CÓDIGO PENAL DE 1940

O delito de moeda falsa é um crime comum, tanto no que diz respeito ao


sujeito ativo quanto ao sujeito passivo; doloso (não havendo previsão para a
117
BRASIL. Câmara dos Deputados. Legislação da República. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/republica>. Acesso em: 18. Ago. 2018.
118
Ibidem.
62

modalidade de natureza culposa); comissivo (podendo, também, nos termos do art.


13, § 2º, do Código Penal, ser praticado via omissão imprópria, na hipótese de o
agente gozar do status de garantidor); de forma livre; instantâneo (nas modalidades
falsificar, fabricar, alterar, importar, exportar, adquirir, vender, trocar, ceder e
introduzir) e permanente (no que diz respeito à conduta de guardar);
monossubjetivo; plurissubsistente; não transeunte.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, não se exigindo nenhuma qualidade
ou condição especial. É quem falsifica a moeda, fabricando-a ou alterando-a. Já o
sujeito passivo é o Estado, bem como aquele que, no caso concreto, foi prejudicado
com a conduta praticada pelo sujeito ativo, podendo tratar-se tanto de pessoa física
quanto de pessoa jurídica.
No crime de moeda falsa o bem jurídico tutelado é a fé pública e em particular
a crença e a veracidade da circulação monetária. O conceito de fé pública não é
unanimidade na doutrina, podendo ser encontradas diversas definições para ele.
Carrara o define como ―uma fé que não provém dos sentidos, nem do juízo
individual, nem das simples afirmações de um indivíduo, mas da autoridade que a
impõe‖ 119.
Janaina Paschoal defende que pode ser mais claramente definida como a
confiança que tem os cidadãos na atuação do Estado, podendo esta estar se
manifestando em diferentes atos, como a emissão e circulação de moeda, a
identidade e qualificação das pessoas etc 120.
Criminalizar tal conduta leva a credibilidade na autenticidade da moeda e na
segurança de sua circulação. O dinheiro tem papel fundamental nas relações
comerciais, econômicas e sociais, e por tanto, o Estado deve protegê-lo, já que a
falsificação causa sérios danos às relações elencadas.
Falsificar, segundo Mirabe (2014), é: ―imitar, fazer passar por autentica moeda
121
que não o é‖ . A lei prevê duas espécies de falsificação: a fabricação e a
alteração.

119
CARRARA, Francesco. Programma dei Corso di diritto criminale. 5ª ed. Vol. I. Itália, Lucca:
1877.
120
PASCHOAL, Janaina Conceição. Direito Penal: Parte Geral. 2ª ed. São Paulo: Manole, 2015.
121
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal. volume3 : parte especial, arts. 235 a 361
do CP / Julio Fabbrini Mirabete, Renato N. Fabbriní. 28. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2014.
63

No dizer de Rogério Greco (2017), consiste em:

O núcleo falsificar tem o sentido de imitar o que é verdadeiro, tornando-o


parecido. A falsificação pode ocorrer por meio da fabricação ou da
alteração. A fabricação, também reconhecida por contrafação, consiste em
criar materialmente o objeto, que será utilizado como moeda metálica ou
papel-moeda, fazendo-o passar por verdadeiro; já na falsificação-alteração,
o agente se vale de uma moeda metálica ou de um papel-moeda já
existente, isto é, verdadeiro, e modifica-lhe o valor, a fim de que passe a
122
representar mais do que efetivamente vale .

Greco, no mesmo livro, também dispõe sobre a qualidade da falsificação:

Para que se possa falar em crime de falso, seja mediante contrafação ou


alteração, não é necessário que a falsificação seja uma ―obra de arte‖,
bastando que tenha qualidade suficiente para iludir as pessoas, imitando
123
moeda metálica ou papel-moeda .

Seguindo o já pactuado por outros códigos criminais, o Código Penal


Brasileiro também protege a moeda estrangeira, apesar de não possuir curso legal
no Brasil. Porém possui circulação comercial. A punição se dá ainda que ocorra fora
do território brasileiro, derivando do pactuado na adesão do Brasil à Convenção de
Genebra.
Os crimes previstos no artigo 289, violando a fé pública da União, seu
patrimônio e interesses, devem ser apreciados pela Justiça Comum Federal (RF
133/239). Ainda é da Justiça Federal (artigo 109, V, da CF) a competência para
instruir e julgar crimes de falsificação de moeda estrangeira, como ainda se vê da
leitura do artigo 3º da Convenção promulgada pelo Decreto nº 3.074, de 14 de
setembro de 1938. Por sua vez, a competência da Justiça Comum Estadual existirá
se o papel não tiver curso legal e a falsificação for apenas para fins numismáticos ou
mero elemento de fraude comercial ou estelionato (RT 444/414)124.

122
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial, volume III / Rogério Greco. – 14a ed.
Niterói, RJ: Impetus, 2017.
123
Ibidem.
124
ROMANO, Rogério Tadeu. Moeda falsa e outros crimes. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-
4862, Teresina, ano 20, n. 4310, 20 abr. 2015. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/32719>.
Acesso em: 13 out. 2018.
64

Como bem aponta Cezar Roberto Bitencourt (2012):

A falsificação não atenta somente contra os interesses do indivíduo, que


acredita na autenticidade da moeda, mas também contra os objetivos
superiores do Estado, que inclusive, tem o direito de emitir moeda e legislar
sobre o sistema monetário nacional. Protege, enfim, a autenticidade da
125
moeda nacional e a fé pública a ela relacionada .

4.2.1. Da moeda falsa e o estelionato

Para ser configurado o crime de falsificação monetária são necessários que


certos requisitos sejam preenchidos. Caso contrário, o crime é descaracterizado
para o crime de estelionato. Conforme pode ser extraído da ementa:

EMENTA: Para a configuração do crime de moeda falsa,


previsto no art. 289, parágrafo primeiro, do Código Penal, é
necessário que se evidencie a chamada imitatio veri, ou
seja, é preciso que a falsidade seja apta a enganar
terceiros, dada a semelhança da cédula falsa com a
verdadeira.‖ (STJ - CC: 117751 PR 2011/0141218-9, Relator:
Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, Data de Julgamento:
28/03/2012, S3 - TERCEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe
14/05/2012) (grifamos)

Conforme esclarece Fragoso, ―as falsificações grosseiras, capazes somente


de iludir os cegos, os simples e imaturos de mente, não constituem perigo para a fé
pública e não são puníveis como moeda falsa, mas, tão só, como estelionato, se for
126
o caso‖ . Merece destaque, ainda, a Súmula nº 73 do Superior Tribunal de
Justiça, que diz:
Súmula nº 73. A utilização de papel-moeda grosseiramente falsificado
configura, em tese, o crime de estelionato, de competência da Justiça
127
Estadual .

125
BITENCOURT, Cezar Roberto Tratado de direito penal, 4: parte especial : dos crimes contra a
dignidade sexual até dos crimes contra a fé pública / Cezar Roberto Bitencourt. – 6. ed. rev. e
ampl. – São Paulo : Saraiva, 2012.
126
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de direito penal – Parte especial, v. 2, p. 298.
127
BRASIL. Superior Tribunal Justiça. Súmula nº 73. A utilização de papel moeda
grosseiramento falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, da competência da
justiça estadual. Diário da Justiça da União, Brasília, 20 de abril 1993. Seção 3, p. 6.769.
65

O que pode ser confirmado com a ementa abaixo transcrita:

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA ENTRE AS


JUSTIÇAS ESTADUAL E FEDERAL. MOEDA FALSA. LAUDO
PERICIAL. FALSIFICAÇÃO GROSSEIRA. INCIDÊNCIA DA
SÚMULA Nº 73/STJ. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
ESTADUAL. Hipótese na qual o laudo pericial aponta a má
qualidade da moeda falsificada e as circunstâncias dos
autos indicam que ela não possui a capacidade de ludibriar
terceiros. ‘A utilização de papel moeda grosseiramente
falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, da
competência da Justiça Estadual’ (Súmula nº 73/STJ)‖ (STJ,
CC 135.301/PA, Rel. Min. Ericson Maranho, Des. convocado
do TJ-SP, S. 3, DJe 15/04/2015). (grifamos)

Segundo Greco, é importante destacar também que se o criminoso falsifica,


por exemplo, moeda de curso convencional ou moeda de coleção, também não é
considerada falsificação monetária, mas será configurado no delito de estelionato,
caso possam ser constatados os elementos necessários para reconhecimento do
art. 171 do Código Penal 128.

4.2.2. Do princípio da insignificância

Referente à aplicação do princípio da insignificância no crime objeto do


presente trabalho, o Supremo Tribunal Federal estabeleceu que é inaplicável, visto
que o bem jurídico tutelado é a fé pública. Sendo que tal bem é de caráter
supraindividual, indo, portanto, além dos interesses individuais, atingindo a
coletividade.

128
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial, volume III / Rogério Greco. – 14a ed.
Niterói, RJ: Impetus, 2017.
66

De acordo com Fernando Capez, "Segundo tal preceito, não cabe ao Direito
Penal preocupar-se com bagatelas, do mesmo modo que não podem ser admitidos
tipos incriminadores que descrevam condutas totalmente inofensivas ou incapazes
de lesar o bem jurídico." Ainda segundo o autor, o princípio não pode ser
considerado em termos abstratos: "Desse modo, o referido preceito deverá ser
129
verificado em cada caso concreto, de acordo com as suas especificidades ‖.
O Supremo Tribunal Federal tratou de um caso ocorrido em 2013 em Franco
da Rocha (SP), em que uma pessoa foi surpreendida por policiais militares com
quatro cédulas de R$50,00 falsas, que tentava colocar em circulação. No julgamento
de 1ª instância ele foi condenado à 3 anos de prisão, em regime aberto, pelo delito
previsto parágrafo 1º do artigo 289, do Código Penal (introduzir em circulação
moeda falsa), a qual foi substituída por duas penas restritivas de direito. A
Defensoria Pública União (DPU) interpôs apelação ao Tribunal Regional Federal da
3ª Região requerendo a aplicação do princípio da insignificância, mas o recurso foi
desprovido130.
Recorrendo ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), também foi rejeitada a tese
de aplicabilidade do princípio ao negar habeas corpus lá impetrado. No recurso ao
Supremo, a DPU reiterou o argumento de que a conduta do recorrente não pode ser
considerada como um ataque intolerável ao bem jurídico tutelado, não configurando
ofensa à fé pública, por não ter efetivamente perturbado o convívio social. Pediu,
assim, o trancamento da ação penal 131.
Ao analisar o caso, o ministro Luís Roberto Barroso negou provimento ao
Recurso Ordinário em Habeas Corpus (RHC) 107959, afirmando que o acórdão do
STJ ―está alinhado com a orientação do Supremo Tribunal Federal no sentido de
que não se aplica o princípio da insignificância a fatos caracterizadores do crime de
moeda falsa‖ e citou vários precedentes nesse sentido132.

129
CAPEZ, Fernando. Direito penal: parte geral. São Paulo: Saraiva, 2004.
130
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Princípio da insignificância é inaplicável a crime de
moeda falsa. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=277450>. Acesso em: 29. Ago.
2018.
131
Ibidem.
132
Ibidem.
67

4.4. CASOS CONCRETOS

Passaremos a análise de casos concretos ocorridos durante a Era Republica.


Tais casos servem para demonstrar a importância do combate ao crime de moeda
falsa, visto que, não obstante os esforços governamentais, tal crime segue sendo
praticado.
Elysio de Carvalho, antigo Diretor do Gabinete de Identificação e de
Estatística e Diretor da Escola de Polícia, em seu artigo para a Imprensa Nacional
de 1912, expõe que o crime de moeda falsa constituiu sempre, entre nós, uma
indústria inteligentemente organizada, muito rendosa e praticada em alta escala. E
que nos últimos tempos, a circulação de dinheiro falsificado tomou proporções
assustadoras, a julgar pelo resultado das apreensões efetuadas.
Na época da publicação, não havia dia em que a polícia não instaurasse
processo, que raramente deixava resultado positivo, para conhecer a procedência
de notas apreendidas. As cédulas, as pratas, os níqueis e as estampilhas
introduzidas fraudulentamente na circulação subiam a uma soma gigantesca. Raro
era o troco recebido nos armazéns, nos armarinhos, nos cafés, nas estações
ferroviárias e nos bondes que não trouxessem no meio uma cédula, uma prata ou
um níquel falso 133.
Fernando Vasconcelos, delegado da Polícia Federal, traz alguns casos
envolvendo o crime de moeda falsa na década de 80 e 90. Registra-se na região
norte do país, particularmente tendo como rota de penetração a calha do rio
Solimões, no Amazonas, o tráfico de moeda falsa, oriunda da Colômbia.
Significativas são as apreensões de notas falsas, como também de moeda norte-
americana, dólar, em diversos valores. Em Manaus, têm-se registrado grandes
apreensões. Costumeiramente, verificam-se apreensões de uma, duas ou três notas
passadas em casas noturnas, comerciais e lotéricas, que são detectadas por
ocasião do depósito bancário 134.

133
CARVALHO, Elysio de. A falsificação de nossos valores circulantes. Imprensa Nacional. Rio
de Janeiro, 1912. Reproduzido no Boletim 66 da Sociedade Numismática Brasileira. São Paulo, p.49-
65, 2010.
134
VASCONCELOS, Fernando Eustáquio de Souza. O papel moeda: falsificação, derrame. Revista
O Alferes. Minas Gerais, ano 6, n. 16, páginas 15-43, 1º trimestre de 1988. Disponível em:
<https://revista.policiamilitar.mg.gov.br/index.php/alferes/article/viewFile/473/451>. Acesso em: 1 nov.
2018.
68

Nestes casos, o Departamento de Polícia Federal apreende a nota e procura


investigar preliminarmente a ocorrência, tomando a termo as declarações dos
elementos envolvidos. Certa feita, grande apreensão foi realizada, tendo início com
uma cédula de 500 cruzeiros passada em um posto de gasolina. O bombeiro, após
abastecer o veículo do cidadão, orientado pela proprietária do posto, teve o cuidado
de anotar a placa do carro, por precaução, pois é comum tentarem passar dinheiro
falso135.
Verificada a falsidade da nota, foi dada ciência à Polícia Federal do
Amazonas que, através do DETRAN, levantou o nome do proprietário. A partir daí,
até chegar à derrubada da quadrilha, foi um salto. Na penitenciária do Estado foram
recolhidos nove traficantes, após confessarem na polícia sua longa atuação
criminosa 136.
Caso pitoresco foi registrado anos antes, com repercussão no Estado do
Maranhão. Dois traficantes adquiriram uma partida de notas em Letícia e as
conduziram para Manaus, onde se utilizaram de uma mulher para que as notas
chegassem até a cidade de São Luís/MA. Assim, a jovem transportou as notas
presas ao corpo, visto estar trajando uma malha tipo ―colante‖. Viajou de avião pelo
aeroporto Eduardo Gomes, de Manaus.
Em São Luís/MA efetuou um pagamento, com notas falsas, de
aproximadamente 15.000,00 cruzados a um engenheiro, por serviços prestados, que
foi detido no banco ao efetuar o depósito em sua conta. A SR/MA, através do
engenheiro, chegou à jovem traficante e desta até seus comparsas, em Manaus,
onde, às 6:00 horas da manhã receberam de agentes federais o cordial bom dia e a
ordem de que franqueassem o prédio para busca, culminando em apreensão do
restante do dinheiro falso e ouviram a voz de prisão137.
É conhecido também um caso de falsificação de notas de quinhentos
cruzeiros bastante singular. O falsário xerocopiou diversas notas desse valor e as
coloriu com lápis de cera. Sempre à noite, com outros comparsas, percorria a zona
boêmia de Manaus efetuando pequenas despesas nos cabarés e pagando com as
citadas notas. Logrou relativo êxito, até ser preso e condenado. Gozando dos
135
VASCONCELOS, Fernando Eustáquio de Souza. O papel moeda: falsificação, derrame. Revista
O Alferes. Minas Gerais, ano 6, n. 16, páginas 15-43, 1º trimestre de 1988. Disponível em:
<https://revista.policiamilitar.mg.gov.br/index.php/alferes/article/viewFile/473/451>. Acesso em: 1 nov.
2018.
136
Ibidem.
137
Ibidem.
69

favores do indulto natalino, tem-se notícia que foi posto em liberdade e, saindo de
138
Manaus, tornou a aplicar o mesmo golpe em Brasília, onde foi novamente preso .
Segundo o delegado Vasconcelos, na polícia, quando presos, procuram
retardar ou desorientar os trabalhos investigatórios até receberem a pronta
assistência de advogados. Pertencem à classe média/alta e são bastante
ambiciosos 139.
Matéria publicada pela Revista da Associação Nacional dos Delegados de
Polícia Federal, no ano de 2007, trata sobre a falsificação monetária, e expõe
importantes dados, os quais foram possíveis extrair as constatações e informações
que trazemos adiante.
O trabalho conjunto da Polícia Federal e do Banco Central do Brasil tem
dificultado a vida dos criminosos. Já que desde a troca para o Real, milhões de
cédulas falsas têm sido tiradas de circulação. O aumento no número da incidência
desse crime pode ser explicado pela estabilidade monetária do Real 140.
Segundo dados extraídos da matéria, no ano de 1994, primeiro ano em que o
Real começou a circular, a falsificação era pequena. Tendo sido apreendidas 773
cédulas falsas. Porém, há o crescimento, ano a ano, no cometimento desse crime,
como mostram os números do Banco Central.
Em 1995 foram 35 mil notas; em 1996, 142 mil; em 1997, 222 mil; em 1998,
287 mil; em 1999, 382 mil; em 2000, 328 mil; em 2001, 380 mil; em 2002, 412 mil;
em 2003, 534 mil; em 2004, 487 mil; em 2005, 425 mil. No ano passado (revista
publicada em 2007), os números foram recorde: 603 mil cédulas falsas recolhidas,
num total de R$ 23,3 milhões141.
O principal alvo dos falsificadores são as cédulas de R$ 50, que representam
um total de 54,76% do total recolhido entre 2000 e 2007. O alvo secundário é a
cédula de R$ 10, com 30,2%. Na sequencia, vêm a nota de R$ 5, com 6,26% e a de
R$ 20, com 5,81%. A cédula de R$ 100, com apenas 0,16%, é a menos falsificada
142
.

138
Ibidem.
139
VASCONCELOS, Fernando Eustáquio de Souza. O papel moeda: falsificação, derrame. Revista
O Alferes. Minas Gerais, ano 6, n. 16, páginas 15-43, 1º trimestre de 1988. Disponível em:
<https://revista.policiamilitar.mg.gov.br/index.php/alferes/article/viewFile/473/451>. Acesso em: 1 nov.
2018.
140
PRISMA. Revista. Falsificação. Disponível em:
<http://www.adpf.org.br/adpf/imagens/revista/74_57.pdf>.Acesso em: 12. Out.2018.
141
Ibidem.
142
Ibidem.
70

Em contrapartida a falsificação de moedas teve seu auge em 2003, chegando


a soma de 171.988 unidades apreendidas. Mas desde então o número de
ocorrências vem diminuindo, totalizando somente 2.025 unidades apreendidas em
2006 143.
No ano de 2012 o Banco Central do Brasil e a Polícia Federal firmaram
novamente o acordo de cooperação para repreensão ao crime de falsificação
monetária. O objetivo de tal acordo foi a regulamentação da troca de conhecimentos
técnico e de informações entre essas entidades, com a finalidade de aprimorar o
combate a tal crime no Brasil.
Um primeiro acordo já havia sido assinado em 2006 e teve como resultado a
redução significativa da ocorrência de falsificação do meio circulante no país, que é
medida pelo indicador ―cédulas falsas por milhão em circulação‖ (PPM). O indicador
em 2006 era de 162 e em 2011 o indicador teve uma diminuição para 84. No plano
internacional esse indicador situa-se em 70 PPM nos países que usam o Euro como
moeda comum e na Inglaterra, em torno de 120 PPM144.
Somente no ano de 2018 a Polícia fechou duas fábricas de moedas falsas em
São Paulo. Durante abril e maio duas ―Casas da Moeda clandestinas‖ foram
descobertas e fechadas. Totalizando quase 10 pessoas presas nas duas operações.
As fábricas produziam moedas de R$ 0,50 e R$ 1,00 em larga escala145.
A estratégia de produzir moedas e não cédulas falsas é baseada no princípio
de que na maioria dos casos as pessoas que recebem moedas de troco, não
conferem, diferentemente das cédulas, que a grande maioria confere. Também tem
de ser levado em consideração que é mais difícil diferenciar uma moeda falsa de
uma cédula falsa, visto que as cédulas possuem diversos itens de segurança,
enquanto as moedas possuem um fabrico mais simples.

143
PRISMA. Revista. Falsificação. Disponível em:
<http://www.adpf.org.br/adpf/imagens/revista/74_57.pdf>.Acesso em: 12. Out.2018.
144
CENTRAL, Banco. Banco Central e Polícia Federal assinam Acordo de Cooperação para
combate à falsificação do Real. Disponível em:<.https://www.bcb.gov.br/pt-br/#!/c/notas/14542>.
Acesso em: 13. Set. 2018.
145
NEVES, Márcio. Casa da Moeda 2: Polícia fecha mais uma fábrica de moedas falsas em SP.
Disponível em:<https://noticias.r7.com/sao-paulo/casa-da-moeda-2-policia-fecha-mais-uma-fabrica-
de-moedas-falsas-em-sp-03052018>. Acesso em: 15. Set. 2018.
71

CONCLUSÃO

Pelo que se observa, a legislação brasileira é bastante severa no combate ao


crime de falsificação monetária. E não sem razão, haja vista que o bem jurídico
tutelado é a fé pública. E essa necessita de total proteção, em decorrência da
necessidade de se manter a ordem pública dos negócios e, evidentemente, a moeda
falsa descaracteriza o valor da moeda oficial, ocasionando sérios prejuízos para a
economia do país.
As punições aplicadas no período colonial e do Reino Unido foram a maneira
que o Coroa encontrou para tentar barrar tal crime, em decorrência da grande
quantidade de ocorrências envolvendo os falsários, inclusive com a criação de
verdadeiras ―casas da moeda clandestinas‖.
A ação dos falsificadores era salvaguardada pela ineficiência de controle do
meio circulante. O qual era composto por dezenas de moedas diferentes circulando
juntas e que não possuíam itens de segurança capazes de barrar essa ação.
Deve-se evidenciar que os cidadãos não possuíam conhecimento do dinheiro
que utilizavam em suas transações diárias, fazendo com que tais falsificações
entrassem facilmente em circulação, gerando grandes perdas para a Coroa.
Durante o período imperial os falsificadores encontraram terreno fértil para
colocar em prática seus crimes. Chegando ao momento que o governo se viu
obrigado a aceitar a circulação dessas moedas, devido a sua incapacidade de impor
o monopólio sobre o sistema monetário e de reprimir efetivamente tal crime.
Mesmo com o empenho do Imperador e de seus súditos para a repressão da
falsificação monetária, o que pode ser observado pela enorme quantidade de
disposições legais editadas, não se chegou nem perto do que o governo almejava.
Ficando o Brasil assolado por esse crime pernicioso até o final do Império.
Já na Era Republicana, com a uniformização do meio circulante, o combate
ao crime de moeda-falsa torna-se mais efetivo, se comparado ao que acontecia na
colônia e no Império. Na década de 30 foi ratificado importante tratado internacional
para a repressão da falsificação de moedas. Porém tais medidas não são 100%
efetivas, resultando na diminuição, mas não na extinção desse crime. Como pode
ser observado pelos números apresentados pelo Banco Central das apreensões
feitas.
72

Criminalizar tal conduta é necessário, já que leva a credibilidade na


autenticidade da moeda e na segurança de seu uso nas operações comerciais.
Tendo o dinheiro importante papel nessas relações comerciais, devendo o Estado,
portando, protegê-lo.
O crime de moeda falsa é um delito cuja prática é de grande complexidade,
sendo dificilmente realizado por um só criminoso, exigindo o concurso de dois, três
ou vários co-partícipes.
É importante destacar que para ser caracterizado esse crime, é necessário
que a ação do falsário no cometimento da fraude se aproxime o mais possível da
moeda autêntica, sendo, portanto, capaz de iludir o homem médio.
De tão importante que é o bem jurídico tutelado, não é possível aplicar o
princípio da insignificância nos casos de falsificação monetária, em decorrência de
que tal crime fere a coletividade. Devendo ser reprimido de maneira enérgica.
No que concerne à evolução da legislação brasileira no combate à falsificação
monetária, não há uma evolução quanto a dureza da aplicação das penas, mas sim
uma evolução humanista na aplicação dessas penas, passando de penas de morte
para penas de cárcere.
Mas não perdendo a importância na tentativa de combater os males
decorrentes da moeda falsa, que durante quase toda a nossa história trouxe
prejuízos para os governos e para a população, que ficou refém da ação dos
falsários.
73

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARRETO, Tobias. Estudos de direito. Campinas: Bookseller, 2000. p. 375.

BITENCOURT, Cezar Roberto Tratado de direito penal, 4: parte especial : dos


crimes contra a dignidade sexual até dos crimes contra a fé pública / Cezar
Roberto Bitencourt. – 6. ed. rev. e ampl. – São Paulo: Saraiva, 2012.

BRASIL. Câmara dos Deputados. Legislação da República. Disponível em:


<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/republica>. Acesso em:
18. Ago. 2018.

BRASIL. Câmara dos Deputados. Decreto Lei nº3.074, DE 14 DE SETEMBRO DE


1938. Promulga a Convenção Internacional para a repressão da moeda falsa,
Protocolo e Protocolo Facultativo, firmados em Genebra a 20 de abril de 1929.
Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-3074-
14-setembro-1938-348839-norma-pe.html>. Acesso em: 20. Ago. 2018.

BRASIL. Senado Federal. Legislação do Império. Disponível em:


<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio> . Acesso em
15. Ago. 2018.

BRASIL. Superior Tribunal Justiça. Súmula nº 73. A utilização de papel moeda


grosseiramento falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, da
competência da justiça estadual. Diário da Justiça da União, Brasília, 20 de abril
1993. Seção 3, p. 6.769.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Princípio da insignificância é inaplicável a


crime de moeda falsa. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=277450>.
Acesso em: 29. Ago. 2018.

CAPEZ, Fernando. Direito penal: parte geral. São Paulo: Saraiva, 2004.

CARRARA, Francesco. Programma dei Corso di diritto criminale. 5ª ed. Vol. I.


Itália, Lucca: 1877.

CARRILLO, Carlos Alberto. Memória da Justiça Brasileira. Salvador: Tribunal de


Justiça, 1997.

CARVALHO, Elysio de. A falsificação de nossos valores circulantes. Imprensa


Nacional. Rio de Janeiro, 1912. Reproduzido no Boletim 66 da Sociedade
Numismática Brasileira. São Paulo, p.49-65, 2010.

CASTRO, Renato Berbert de. O fechamento da Casa da Moeda da Bahia e o 80


réis de 1831B. Bahia: Gov. do Est. da Bahia/Sec. De Cultura e Turismo/Conselho
Estadual de Cultura, 1996
74

CENTRAL, Banco. Banco Central e Polícia Federal assinam Acordo de


Cooperação para combate à falsificação do Real. Disponível
em:<.https://www.bcb.gov.br/pt-br/#!/c/notas/14542>. Acesso em: 13. Set. 2018.

CEZARIO, Leandro Fazollo. A estrutura judicial no Brasil Colonial: criação,


ordenação e implementação. Boletim Jurídico, Uberaba/MG, a. 9, no 585.
Disponível em: <https://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/artigo/2045/a-estrutura-
judicial-brasil-colonial-criacao-ordenacao-implementacao> Acesso em: 3 nov. 2018.

CHAVES, Luciano Athayde. O Poder Judiciário Brasileiro na Colônia e no


Império: (Des)Centralização, Independência e Autonomia. Revista da AJURIS –
Porto Alegre, v. 44, n. 143, Dezembro, 2017.

COIMBRA, Instituto de História e Teoria das Ideias da Faculdade de Letras.


Ordenações Afonsinas. Disponível em: <http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/afonsinas/>.
Acesso em: 12. Ago. 2018.

COIMBRA, Instituto de História e Teoria das Ideias da Faculdade de Letras.


Ordenações Manuelinas. Disponível em:
<http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/manuelinas/> Acesso em: 12. Ago. 2018

COIMBRA, Instituto de História e Teoria das Ideias da Faculdade de Letras.


Ordenações Filipinas. Disponível em:
<http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/filipinas/ordenacoes.htm>. 12. Ago. 2018

DUARTE, Maércio Falcão. Evolução histórica do Direito Penal. Revista Jus


Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 4, n. 34, 1 ago. 1999. Disponível
em: <https://jus.com.br/artigos/932>. Acesso em: 4 nov. 2018.

FAUSTO, Boris. História do Brasil, EDUSP, 2012

FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de direito penal – Parte especial, v. 2, p. 298.

GOMES, Edil; BERTAPELI, Rogerio. 1825P: moedas para salvar a Província do


Grão-Pará. Autores: Edil Gomes, Rogério Bertapeli. São Paulo: Sociedade
Numismática Brasileira, 2018.

GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial, volume III / Rogério
Greco. – 14a ed. Niterói, RJ: Impetus, 2017.

LEAL, Vitor Nunes. Coronelismo, enxada e voto. São Paulo: Companhia das
Letras, 2012, p. 181.

LEVY, M. B. (1983). Elementos para o estudo da circulação da moeda na


economia colonial. Estudos Econômicos, n. 13 (especial), p. 825-840.

MALDONADO, Rodrigo. Carimbo de escudete: aplicado sobre moedas de cobre


conforme o Álvara de 18-4-1809. Brasil: MBA Editores, 2014.
75

MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Evolução Histórica da Estrutura


Judiciária Brasileira. Revista Jurídica Virtual, Brasília, v. 1, n. 5, set. 1999.

MARTINS, Álvaro. Moedas para a revolução do povo: a solução cabana para o


meio circulante. Belém: Imprensa Oficial do Estado, 2012.

MATHIAS, Carlos Fernando. Notas para uma história do Judiciário no Brasil.


Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2009. p. 140.

MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal. volume3 : parte especial,


arts. 235 a 361 do CP / Julio Fabbrini Mirabete, Renato N. Fabbriní. 28. ed. rev. e
atual. São Paulo: Atlas, 2014.

MORERO, Horacio Hugo. Numismática e Metamorfose: O recunho dos patacões


das Províncias do Rio da Prata no Brasil: estudo, catalogação e estimativas
das moedas pátrias que foram utilizadas como base dos 960 réis. ed. traduzida
para o português. Sociedade Numismática Brasileira: São Paulo, 2018.

NEVES, Márcio. Casa da Moeda 2: Polícia fecha mais uma fábrica de moedas
falsas em SP. Disponível em:<https://noticias.r7.com/sao-paulo/casa-da-moeda-2-
policia-fecha-mais-uma-fabrica-de-moedas-falsas-em-sp-03052018>. Acesso em:
15. Set. 2018.

ORESME, Nicole, Bishop, d.1382. Pequeno tratado da primeira invenção das


moedas (1355) / Nicole Oresme ; tradução de Marzia Terenzi Vicentini. Sobre a
moeda (1526) / Nicolau Copérnico ; tradução de Alessandro Henrique Poersch Rolim
de Moura. - Curitiba: Segesta, 2004.

PAGLIARINI, Fabio Femiano (organização). Carimbos brasileiros. São Paulo:


Sociedade Numismática Brasileira, 2014.

PASCHOAL, Janaina Conceição. Direito Penal: Parte Geral. 2ª ed. São Paulo:
Manole, 2015.

PONCIANO, Vera Lúcia Feil. Crimes de moeda falsa. Curitiba: Juruá, 2000.

PRISMA, Revista. Falsificação. Disponível em:


<http://www.adpf.org.br/adpf/imagens/revista/74_57.pdf>.Acesso em: 12. Out.2018.

PROBER, Kurt. Moedas falsas e falsificadas do Brasil. Rio de Janeiro: Instituto de


Artes Gráficas C. Mendes Junior, 1946.

ROMANO, Rogério Tadeu. Moeda falsa e outros crimes. Revista Jus Navigandi,
ISSN 1518-4862, Teresina, ano 20, n. 4310, 20 abr. 2015. Disponível
em: <https://jus.com.br/artigos/32719>. Acesso em: 13 out. 2018.

SERRÃO, Joaquim Veríssimo. História de Portugal, vol. V, p. 42-43, Editorial


Verbo, Lisboa, 2.ª ed.
76

SOMBRA, Severino (1938). Historia monetaria do Brasil colonial: repertorio


cronológico com introdução, notas e carta monetária(PDF). [S.l.]: Oficinas
gráficas da emp. Almanak Laemmert, ltda.
TINÔCO, Antonio Luiz Ferreira. Código Criminal do Imperio do Brazil annotado.
Edição fac-similada da 1ª edição de 1830. Brasília: Senado Federal, 2003. (Coleção
história do direito brasileiro. Direito penal ; 1). Disponível em:
<https://bdjur.stj.jus.br/jspui/bitstream/2011/63206/codigo_criminal_imperio.pdf>.
Acesso em 08 out. 2018.

TORRES, João Camillo de Oliveira. A democracia coroada. Petrópolis: Vozes,


1964. p. 80.

TRETTIN, Alexander. O derrame de moedas falsas de cobre na Bahia (1823-


1829) /Alexander Trettin. – Salvador: UFBA / FFCH-PPGH, 2010.

TÚLIO, Paula Regina Albertini. Falsários D’El Rei: Inácio de Souza Ferreira e a
casa de moeda falsa do Paraopeba. (Minas Gerais 1700-1734). 2005. Dissertação
(Mestrado em História) – Universidade Federal Fluminense, Niterói.

VASCONCELOS, Fernando Eustáquio de Souza. O papel moeda: falsificação,


derrame. Revista O Alferes. Minas Gerais, ano 6, n. 16, páginas 15-43, 1º trimestre
de 1988. Disponível em:
<https://revista.policiamilitar.mg.gov.br/index.php/alferes/article/viewFile/473/451>.
Acesso em: 1 nov. 2018.

WOLKMER, Antônio Carlos. Fundamentos da História do Direito. Belo Horizonte:


Del Rey, 2002.

Você também pode gostar