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Anotações sobre Topologia da Reta.


Rodrigo Carlos Silva de Lima

rodrigo.uff.math@gmail.com

1
Sumário

1 Topologia na reta 4
1.1 Conjuntos Abertos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.1.1 Estrutura de abertos da reta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.1.2 intA ∪ intB ⊂ int(A ∪ B). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.1.3 int(A ∩ B) = int(A) ∩ int(B). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.1.4 Caracterização de abertos por meio de sequências . . . . . . . . . 15
1.1.5 Caracterização de sequências por meio de abertos . . . . . . . . . 16
1.1.6 A aberto implica x + A aberto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.1.7 B aberto implica A + B aberto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.2 Fronteira de um conjunto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.3 Conjuntos fechados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.3.1 Ponto de aderência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.3.2 A = A ∪ ∂A. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
1.3.3 A = ∂A ∪ int(A). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.3.4 A ∪ B = A ∪ B. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
1.3.5 A ∩ B ⊂ A ∩ B. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
1.3.6 Conjuntos densos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
1.4 Cisão na reta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
1.5 Pontos de acumulação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
1.5.1 A=A∪A 0
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
1.5.2 A 0 = A 0. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
1.5.3 (X ∪ Y) 0 = X 0 ∪ Y 0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
1.5.4 Teorema de Bolzano-Weierstrass . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
1.6 Conjuntos compactos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

2
SUMÁRIO 3

1.6.1 Teorema de Borel -Lebesgue . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46


1.7 Exercı́cios resolvidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
1.8 Conjuntos de Cantor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
Capı́tulo 1

Topologia na reta

1.1 Conjuntos Abertos

m Definição 1 (Pontos interiores). Seja A ⊂ R um conjunto, um ponto x de A


é dito ser ponto interior de A quando:

1. Existe um intervalo aberto (a, b) tal que x ∈ (a, b)

2. (a, b) ⊂ A.

b Propriedade 1. Se x é ponto interior de A então x ∈ A.

ê Demonstração. Existe (a, b) tal que x ∈ (a, b) ⊂ A logo x ∈ A.

b Propriedade 2. Todo intervalo aberto contendo um ponto a contém um


intervalo do tipo (a − ε, a + ε) para algum ε.

ê Demonstração. Seja (c, b) o intervalo que contém a, podemos tomar ε tal


que
c < a − ε e a + ε < b, isto é ε < a − c e ε < b − a

daı́ (a − ε, a + ε) ⊂ (c, b).

4
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 5

b Propriedade 3. x é ponto interior de A ⇔ existe  > 0 tal que (x−, x+) ⊂


A.

ê Demonstração. Se existe ε > 0 tal que (x − ε, x + ε) ⊂ A então x é ponto


interior, pois x ∈ (x − ε, x + ε), podemos tomar a = x − ε e b = x + ε, tem-se
x ∈ (a, b) ⊂ A.
Se x é ponto interior de A, existem a e b tais que x ∈ (a, b) ⊂ A, mas todo
intervalo do tipo (a, b) que contém x possui um intervalo do tipo (x − ε, x + ε) para
algum ε.

m Definição 2 (Interior). O conjunto dos pontos x ∈ A que são interiores a A


será chamado de interior do conjunto A e denotado por int(A).

m Definição 3 (Vizinhança de um ponto ). Se a ∈ int(A) então o conjunto A


será chamado vizinhança do ponto a.

m Definição 4 (Conjunto Aberto). Um subconjunto A ⊂ R chama-se aberto


quando todos seus pontos são pontos interiores, int(A) = A.

m Definição 5 (Conjunto totalmente desconexo). Um conjunto A é dito ser


totalmente desconexo quando vale intA = ∅.
Conjuntos

abertos são

$ Corolário 1. Todo intervalo da forma (a, b) é aberto, onde a, b ∈ R. Tomando


conjuntos

um ponto qualquer x ∈ (a, b), a primeira e a segunda condição de x ser ponto


gordinhos.

interior já são verificadas.


CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 6

b Propriedade 4. O intervalo [a, b] = A não é aberto.

ê Demonstração. a não é ponto interior de A pois para todo ε > 0 não ocorre

(a − ε, a + ε) ⊂ [a, b].

Da mesma maneira b não é ponto interior de A, pois ∀ ε > 0 não ocorre de


(b − ε, b + ε) ⊂ [a, b].

$ Corolário 2. Os intervalos [a, b), (a, b] também não são conjuntos abertos
pois, no primeiro caso a não é ponto interior e no segundo b não é ponto interior.

$ Corolário 3. Um intervalo é um conjunto aberto ⇔ o intervalo for do tipoa


(a, b), isto é, o intervalo chamado de intervalo aberto, pois em outros tipos de
intervalos existem pontos que não são pontos interiores.
a
Considere que a ou b possam ser infinitos, por exemplo, a = −∞, b = ∞

1.1.1 Estrutura de abertos da reta

b Propriedade 5. Seja (Ik )k∈L uma famı́lia de intervalos abertos, todos con-
[
tendo o ponto p ∈ R. Então I = Ik é um intervalo aberto.
k∈L

ê Demonstração. Cada Ik é um intervalor aberto, logo para cada k ∈ L, existem


ak e bk reais, bk ≥ ak , tais que Ik = (ak , bk ). Temos então as famı́lias de números
reais (ak )k∈L , (bk )k∈L .

1. Vale sempre que ak < bj para cada k, j ∈ L, pois ak < p < bj .

2. Se tomamos a = inf {ak , k ∈ L} e b = sup{bk , k ∈ L}, temos que a < b, pode ser
que a = −∞ e b = ∞. Temos que

(ak , bk ) ⊂ (a, b), pois a ≥ ak , bk ≤ b.


[
3. Afirmamos que (a, b) = Ik . Vamos provar duas inclusões.
k∈L
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 7

[
• Ik ⊂ (a, b), pois Ik = (ak , bk ) ⊂ (a, b), logo a propriedade continua
k∈L
válida para união
[ [
Ik ⊂ (a, b) = (a, b).
k∈L k∈L

• Reciprocamente se x ∈ (a, b), então existem k1 , k2 tais que ak1 < x < bk2 . Se
vale x < bk1 temos que x ∈ (ak1 , bk1 ). Se vale x ≥ bk1 , então x ≥ bk1 ≥ ak2 ,
de onde segue que bk2 > x > ak2 logo x ∈ Ik2 .
[ [
Em qualquer um desses casos segue que x ∈ Ik . Daı́ (a, b) ⊂ Ik , o
k∈L k∈L
que termina a demonstração.

F Teorema 1 (Estruturas de abertos da reta). Todo subsconjunto aberto A de R


se exprime de modo único, como união enumerável de intervalos abertos dois a
dois disjuntos.

ê Demonstração.
Para cada x ∈ A, seja
[
Ix = I sendo I intervalo .
x∈I,I⊂A

Pelo resultado anterior Ix é o maior intervalo aberto que contém x e está contido em
A.

1. Dados x, y ∈ A, tem-se que Ix = Iy ou Ix ∩ Iy = ∅, pois se existe algum z ∈ Ix ∩ Iy


então I = Ix ∪ Iy é um intervalo contendo x e contido em A daı́ I ⊂ Ix , Iy = Ix .
Temos que
[
A= Ix ,
x∈A

pois cada Ix ⊂ A, ∀ x ∈ A.

2. Concluı́mos que: todo conjunto aberto A de R pode ser decomposto como união
de intervalos abertos dois a dois disjuntos. Cada conjunto Ix vamos chamar de
intervalos componentes de A.

3. A coleção dos intervalos componentes de A é enumerável. Em cada componente


Ix escolhemos um número racional r(Ix ). A função r : {Ix }x∈A → Q é injetiva,
| {z }
:=B
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 8

pois Ix 6= Iy implica Ix ∩ Iy = ∅ e daı́ r(Ix ) 6= r(Iy ). Como Q é enumerável segue


que B é enumerável.
[ [
4. Unicidade. Suponha A = Ix = Jx . Jm = (am , bm ), logo vale am , bm ∈
/ A.
Se fosse am ∈ A terı́amos am ∈ Jp = (ap , bp ) para algum Jp 6= Jm , tomando
b = min{bm , bp } terı́amos

Jm ∩ Jp ⊃ (am , b
|{z} ).
bp ou bm
Absurdo!. Para cada m e x ∈ Jm , Jm é o maior intervalo aberto que contém
x e está contido em A, pois se houvesse um intervalo maior (l, q) ⊂ A com
(am , bm ) ∈ (l, q) então am ∈ A e daı́ terı́amos um absurdo. Portanto Jm = Ix .

b Propriedade 6. int(A) ⊂ A .

ê Demonstração. Seja x ∈ int(A) então x é ponto interior de A de onde segue


x ∈ A.

b Propriedade 7. Se A ⊂ B então int(A) ⊂ int(B).

ê Demonstração. Seja x um elemento qualquer de intA, vamos mostrar que

x ∈ int(B)

, x ∈ int(A) significa que existe ε > 0 tal que (x − ε, x + ε) ⊂ A mas como A ⊂ B


segue que (x − ε, x + ε) ⊂ B, logo x é ponto interior de B.

$ Corolário 4. Se A possui algum ponto interior, ele deve conter pelo menos
um intervalo aberto, logo é infinito. Assim se A é um conjunto finito não tem
pontos interiores,
intA = ∅.

Como todo intervalo aberto é um conjunto não enumerável, se int(A) 6= ∅ então A


é não enumerável. Porém a reciproca é falsa, dado um conjunto não enumerável
é possı́vel que seu interior seja vazio, como por exemplos os número irracionais
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 9

no intervalo (0, 1), ele não pode conter pontos interiores pois todo intervalo aberto
contém números racionais. Se A é enumerável então int(A) = ∅.

b Propriedade 8.
int[a, b] = (a, b)

ê Demonstração. Já mostramos que a e b não são pontos interiores, agora o


conjunto [a, b] − {a, b} = (a, b) e todo ponto do intervalo aberto (a, b) é interior a
[a, b] pois seja x ∈ (a, b) então (a, b) ⊂ [a, b] logo é ponto interior.

$ Corolário 5.
int[a, b) = (a, b)

$ Corolário 6.
int(a, b] = (a, b)

b Propriedade 9. A = (−∞, b) é aberto.

ê Demonstração. Seja x ∈ A tomando a < x então x ∈ (a, b) ⊂ (−∞, b) logo


A é aberto.

b Propriedade 10. A = (a, ∞) é aberto.

ê Demonstração. Seja x ∈ A, tome b ∈ A tal que b > x, então x ∈ (a, b) ⊂


(a, ∞), logo é aberto.

b Propriedade 11.
int[c, ∞) = (c, ∞)

ê Demonstração. c não é ponto interior, o conjunto [c, ∞) − {c} = (c, ∞) é


aberto, seja x ∈ (c, ∞) então x ∈ (a, b) com b > x e (a, b) ⊂ [c, ∞), logo todo ponto
de (c, ∞) é interior de [c, ∞).
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 10

b Propriedade 12.
int(−∞, c] = (−∞, c).

ê Demonstração. c não é ponto interior, mas todo ponto x ∈ (−∞, c) é ponto


interior pois, tome b < x, então x ∈ (b, c) e (b, c) ⊂ (−∞, c].

Z Exemplo 1. int(Q) = ∅, int(Z) = ∅ e int(N) = ∅ pois são enumeráveis.


int(R − Q) = ∅ pois todo intervalo contém números reais.

Z Exemplo 2. Podemos ter dois conjunto X e Y tais que


int(X ∪ Y) 6= int(X) ∪ int(Y)?

Sim, basta tomar X = [a, b] e Y = [b, c] temos que intX = (a, b), intY = (b, c) e
que X ∪ Y = [a, c] segue que int(X ∪ Y) = (a, c) que é diferente de (a, b) ∪ (b, c).
Em especial tomando A = (0, 1] e B = [1, 2) vale que int(A ∪ B) = (0, 2) 6=
intA ∪ intB = (0, 1) ∪ (1, 2).

b Propriedade 13. O conjunto vazio é aberto.

ê Demonstração. Suponha que o conjunto vazio não seja aberto, então existiria
nele um ponto que não é interior, o que é absurdo pois o vazio não contém pontos.

b Propriedade 14. A reta R = (−∞, ∞) é um conjunto aberto.

ê Demonstração. Seja x ∈ R, então existem a e b tais que x ∈ (a, b) e (a, b) ⊂ R


então R é aberto.

Z Exemplo 3. Um intervalo é aberto sse é um intervalo aberto. Q, Z, N ou


conjunto enumeráveis não são abertos. Qualquer conjunto de números irracionais
não é aberto.
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 11

b Propriedade 15. Se A1 e A2 são abertos então A1 ∩ A2 é aberto.

ê Demonstração. Se um deles é vazio a interseção é vazia, logo aberta. Se um


deles é R digamos A1 então R ∩ A2 = A2 que é aberto.
Seja x ∈ A1 ∩A2 então x ∈ A1 e x ∈ A2 , como A1 e A2 são abertos existe (a, b) ⊂ A1
tal que x ∈ (a, b) e existe (c, d) ⊂ A2 tal que x ∈ (c, d). Tomamos t tal que

t < x, a < t e c < t

ainda t < b pois t < x < b e também t < d, pois t < x < d tomamos também u tal
que
x < u, u < b e u < d
de onde segue que a < u pois a < x < u e c < u pois c < x < u, logo x ∈ (t, u) e
(t, u) ⊂ (a, b) e (t, u) ⊂ (c, d) daı́ (t, u) ⊂ A1 ∩ A2 e x ∈ (t, u) logo A1 ∩ A2 é aberto.

b Propriedade 16. Toda interseção finita de abertos é um conjunto aberto.

ê Demonstração. Sejam Ak conjuntos abertos para todo k natural, vamos


n
\
provar que Ak é aberto para todo n > 1 natural. Provamos por indução sobre n,
k=1
para n = 2 temos
2
\
Ak = A1 ∩ A2
k=1
n
\
que é aberto pela propriedade anterior. Suponha validade para n, Ak aberto, vamos
k=1
provar que
\1
n+
Ak
k=1
é aberto. Tem-se que
\1
n+ n
\
Ak = ( Ak ) ∩ An
k=1 k=1
n
\
como Ak é um conjunto, digamos B, é e aberto por hipótese de indução e An
k=1
\1
n+
também é aberto, segue pela propriedade anterior que B ∩ An é aberto, logo Ak e
k=1
n
\
Ak é aberto para todo n natural.
k=1
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 12

b Propriedade 17. A união arbitrária de conjuntos abertos é um conjunto


aberto.

ê Demonstração. Seja
[
A= Ak
k∈B

onde cada Bk com k ∈ B seja aberto. Seja x ∈ A então x ∈ As para algum s, como
As é aberto, existe um intervalo (a, b) tal que x ∈ (a, b) e (a, b) ⊂ As ⊂ A, logo A é
aberto.

Z Exemplo 4. A interseção de um número infinito de aberto pode não ser


1 1
aberta, por exemplo, conjuntos da forma Ak = (− , )
k k

\
Ak = {0}
k=1

1 1
e {0} não é aberto. Em geral se Bk = (a − , b + ) são abertos porém
n n

\
Bk = [a, b]
k=1

em que [a, b] não é aberto.

b Propriedade 18. Seja F um conjunto finito , então seu complementar R − F


é aberto.

ê Demonstração. Se F é vazio então R − F = R que é aberto. Se F não é vazio


ele possui um número n > 0 natural de elementos,podemos tomar uma enumeração
xk crescente de seus elementos F = {xk , k ∈ In } e escrevemos

[2
n−
R − F = (−∞, x1 ) ∪ ( (xk , xk+1 )) ∪ (xn , ∞)
k=2

Como a união de abertos é aberta segue o resultado.


CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 13

b Propriedade 19. R − Z é aberto.

ê Demonstração. Podemos escrever R − Z como



[
R−Z= (k, k + 1)
k=−∞

que é uma união de abertos, logo é um conjunto aberto.

b Propriedade 20. Todo conjunto aberto é reunião de intervalos abertos.

ê Demonstração.
Seja x um elemento qualquer de A, por ele ser aberto existe um intervalo aberto
Ax tal que x ∈ Ax e Ax ⊂ A, temos
[ [
{x} = A e Ax ⊂ A
x∈A x∈A

além disso
[ [
{x} ⊂ Ax
x∈A x∈A
logo
[
A⊂ Ax
x∈A
de onde segue
[
Ax = A.
x∈A

b Propriedade 21. Seja (Ak )k∈L uma famı́lia de intervalos abertos tais que
[
p ∈ Ak , então A = Ak é um intervalo aberto.
k∈L

ê Demonstração. Para todo k ∈ L seja Ak = (ak , bk ), vale que ak < p < bs ∀ k, s


e daı́ ak < bs , sejam a = inf {ak } e b = sup{bk }, vamos mostrar que
[
(a, b) = Ak
k∈L

como vale a ≤ ak e bk ≤ b então (ak , bk ) ⊂ (a, b) e daı́


[
Ak ⊂ (a, b).
k∈L
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 14

[
Agora vamos mostrar que (a, b) ⊂ Ak . Existem três possibilidades para x em
k∈L
relação a p

• x = p então x ∈ Ak ∀ k

• x > p, então existe bk tal que x ∈ (ak , bk )

• x < p, então existe ak tal que x ∈ (ak , bk ). Em qualquer dos casos vale a
[ [
inclusão e daı́ (a, b) ⊂ Ak implicando Ak .
k∈L k∈L

b Propriedade 22 (Estrutura de abertos da reta). Todo subconjunto aberto


A ⊂ R se exprime de modo único como uma reunião enumerável de intervalos
abertos, dois a dois disjuntos.

$ Corolário 7. Seja I é um intervalo aberto, se I = A∪B, onde A e B são abertos


[
disjuntos, então um desses conjuntos é I e o outro é vazio. Pois se não A = Ak ,
[ [ [
B = Bk uniões como intervalos abertos , daı́ I = Bk ∪ Ak contrariando
unicidade de I, logo um deles deve ser I e o outro vazio.

b Propriedade 23. Se (x − ε, x + ε) ⊂ A então (x − ε, x + ε) ⊂ intA.

ê Demonstração. Queremos mostrar que um ponto y ∈ (x − ε, x + ε) arbitrário


é ponto interior de A , daı́ seguindo que todo intervalo (x − ε, x + ε) é subconjunto
de intA. Como y ∈ (x − ε, x + ε) então vale x − ε < y e y < x + ε, podemos
tomar um número real δ > 0 tal que x − ε < y − δ e y + δ < x + ε, daı́ cada
(y − δ, y + δ) ⊂ (x − ε, x + ε), y é ponto interior de (x − ε, x + ε) ⊂ A, logo y é ponto
interior de A o que implica que (x − ε, x + ε) ⊂ intA.

b Propriedade 24 (Idempotência de int). Vale int (int(A)) = int(A).

ê Demonstração. Temos que int (intA) ⊂ int(A), vamos mostrar agora que
int(A) ⊂ int( int(A)).
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 15

Dado x ∈ int(A) existe ε > 0 tal que (x−ε, x+ε) ⊂ A logo (x−ε, x+ε) ⊂ intA = B
, então x ∈ int(B) = int( int(A)), o que mostra a proposição.

1.1.2 intA ∪ intB ⊂ int(A ∪ B).

b Propriedade 25. Vale

intA ∪ intB ⊂ int(A ∪ B).

ê Demonstração. Seja x ∈ intA então existe ε > 0 tal que (x − ε, x + ε) ∈ A


logo (x − ε, x + ε) ⊂ A ∪ B e (x − ε, x + ε) ⊂ int(A ∪ B) o mesmo para B, logo vale
intA ∪ intB ⊂ int(A ∪ B).

1.1.3 int(A ∩ B) = int(A) ∩ int(B).

b Propriedade 26.

int(A ∩ B) = int(A) ∩ int(B).

ê Demonstração. Primeiro vamos mostrar que int(A ∩ B) ⊂ int(A) ∩ int(B). Se


x ∈ int(A ∩ B) então existe ε > 0 tal que (x − ε, x + ε) ⊂ (A ∩ B) daı́ (x − ε, x + ε) ⊂ A
e (x − ε, x + ε) ⊂ B , o que implica que (x − ε, x + ε) ⊂ intA e (x − ε, x + ε) ⊂ intB ,
provando a primeira parte.
Vamos mostrar agora que intA ∩ intB ⊂ int(A ∩ B). Dado x ∈ intA ∩ intB,
sabemos que tal conjunto é aberto por ser intersecção de abertos, logo existe ε > 0
tal que (x − ε, x + ε) ⊂ intA ∩ intB daı́ (x − ε, x + ε) ⊂ intA e (x − ε, x + ε) ⊂ intB,
logo (x − ε, x + ε) ∈ A, B provando o resultado.

b Propriedade 27. intA e int(R \ A) são disjuntos.

ê Demonstração. Temos que intA ⊂ A e int(R \ A) ⊂ (R \ A) e os conjuntos


são disjuntos.

1.1.4 Caracterização de abertos por meio de sequências


CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 16

b Propriedade 28 (Caracterização de abertos por meio de sequências). Seja


A ⊂ R. A é aberto ⇔ ∀ (xn ) com lim xn = a ∈ A,

∃n0 ∈ N | n > n0 ⇒ xn ∈ A

então A é aberto. Em outras palavras A é aberto ⇔ ∀ (xn ) com lim xn = a ∈ A


se verifica xn ∈ A para n suficientemente grande.

ê Demonstração. ⇒).
Suponha A aberto, com a ∈ A logo existe ε > 0 tal que (a − ε, a + ε) ⊂ A e por
lim xn = a existe n0 ∈ N tal que n > n0 implica xn ∈ (a − ε, a + ε) logo xn ∈ A.
⇐). Vamos usar a contrapositiva que no caso diz: Se A não é aberto então
existe (xn ) com lim xn = a ∈ A e xn ∈
/ A. Lembrando que a contrapositiva de
p ⇒ q é v q ⇒v p, (onde v é o sı́mbolo para negação da proposição) sendo
proposições equivalentes, as vezes é muito mais simples provar a contrapositiva do
que a proposição diretamente.
Se A não é aberto, existe a ∈ A tal que a não é ponto interior de A, assim ∀ ε > 0
, (a − ε, a + ε) ∩ (R \ A) 6= ∅, então podemos tomar uma sequência (xn ) em R \ A que
converge para a ∈ A.

1.1.5 Caracterização de sequências por meio de abertos

b Propriedade 29 (Caracterização de sequências por meio de abertos). lim xn =


a ⇔ ∀ aberto A com a ∈ A existe n0 ∈ N tal que n > n0 implica xn ∈ A.

ê Demonstração.
⇒).
Seja A um aberto com a ∈ A, então existe ε > 0 tal que (a − ε, a + ε) ⊂ A e por
lim xn = a existe n0 ∈ N | n > n0 tem-se xn ∈ (a − ε, a + ε), logo xn ∈ A.
⇐).
Supondo que ∀ aberto A com a ∈ A existe n0 ∈ N tal que n > n0 implica xn ∈ A,
então em especial para todo ε > 0 podemos tomar o aberto A = (a − ε, a + ε) e tem-se
lim xn = a pela definição de limite.
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 17

1.1.6 A aberto implica x + A aberto.

b Propriedade 30. Se A é aberto e x ∈ R então x + A = {x + a , a ∈ A} é aberto


.

ê Demonstração.[1-Critério de sequências] Seja (xn ) tal que lim xn = x + a ∈


x + A , vamos mostrar que xn ∈ x + A para todo n suficientemente grande, daı́ x + A
é aberto.
xn = x + yn com yn → a, daı́ como A é aberto, segue que yn ∈ A para n
suficientemente grande, o que implica xn = x + yn ∈ A para os mesmos valores de n,
logo x + A é aberto.
ê Demonstração.[2]

• Primeiro observamos que w ∈ x + A ⇔ w − x ∈ A.

⇒). Se w ∈ x + A então w = x + a para algum a ∈ A, logo w − x = a ∈ A.

⇐). Se w − x ∈ A existe a ∈ A tal que w − x = a logo w = x + a, daı́ segue


w ∈ x + A.

• Tomamos y ∈ x + A , vamos mostrar que y é ponto interior . Sabemos que


existe a ∈ A tal que y = x + a e a é ponto interior de A, logo existe ε > 0 tal
que
a − ε < t < a + ε ⇒ t ∈ A.

Seja w arbitrário tal que y−ε < w < y+ε , isto é, w ∈ (y−ε, y+ε), substituindo
y = x + a temos x + a − ε < w < x + a + ε, subtraindo x de ambos lados

a − ε < w − x < a + ε,

daı́ w − x ∈ A de onde segue w ∈ x + A, logo (y − ε, y + ε) ⊂ x + A.

1.1.7 B aberto implica A + B aberto.

b Propriedade 31. Definimos A + B = {a + b, a ∈ A , b ∈ B}. Se B é aberto


então A + B é aberto .

ê Demonstração.
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 18

Escrevemos
[
A+B= (a + B)
a∈A

como cada a + B é aberto então A + B é aberto por ser união de abertos.

b Propriedade 32. Se x 6= 0 e A é aberto então x.A = {x.a, a ∈ A} é aberto .

ê Demonstração. Utilizaremos o critério de sequências. Seja (xn ) com lim xn =


x.a ∈ xA, vamos mostrar que para n suficientemente grande xn ∈ xA, de onde tem-
se xA aberto. xn é da forma xyn onde yn → a ∈ A, como A é aberto segue que
para n suficientemente grande vale yn ∈ A, daı́ para os mesmos valores de n vale
xn = xyn ∈ xA como querı́amos demonstrar.

b Propriedade 33. Definimos A.B = {a.b, a ∈ A, b ∈ B} . Se A é aberto e B


qualquer tal que 0 ∈
/ A, B então A.B é aberto .

ê Demonstração. Escrevemos
[
A.B = a.B
a∈A

cada a.B é aberto, logo A.B é aberto.

1.2 Fronteira de um conjunto

m Definição 6 (Fronteira de um conjunto). Um ponto a ∈ R é dito ponto de


fronteira de um conjunto A ⊂ R sse ∀ ε > 0 (a − ε, a + ε) ∩ A 6= ∅ e (a − ε, a + ε) ∩
(R \ A) 6= ∅. Denotamos o conjunto dos pontos de fronteira do conjunto A como
∂A.
Observe que pela definição um ponto de fronteiro pode ser um ponto que não
pertence ao conjunto.
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 19

b Propriedade 34. Vale ∂A = ∂(R \ A).

ê Demonstração. A definições a ∈ ∂A e a ∈ (∂R\A) são iguais, pois no segundo


caso a ∈ R é ponto de fronteira de R \ A ⊂ R sse ∀ ε > 0 (a − ε, a + ε) ∩ (R \ A) 6= ∅ e
(a − ε, a + ε) ∩ (R \ (R \ A)) 6= ∅, mas R \ (R \ A) = A logo vale a igualdade.

b Propriedade 35. intA e ∂A são disjuntos.

ê Demonstração. Se a ∈ intA então existe ε > 0 tal que (a − ε, a + ε) ⊂ A daı́


não podemos ter a ∈ ∂A, pois nesse caso teria que existir y ∈ (a − ε, a + ε) tal que
/ A, o que é absurdo.
y∈
Se a ∈ ∂A então ∀ ε > 0 vale que (a − ε, a + ε) ∩ (R \ A) 6= ∅ logo a não pode ser
ponto interior de A.

$ Corolário 8. int(R \ A) e ∂A são disjuntos, pois int(R \ A) e ∂(R \ A) são


disjuntos e vale ∂(R \ A) = ∂A.

b Propriedade 36. Dado A ⊂ R vale que

R = int(A) ∪ int(R \ A) ∪ ∂A

onde a união é disjunta.

ê Demonstração. Já provamos que os três conjuntos não possuem elementos em


comum, agora vamos provar que um elemento real pertence a um desses conjuntos.
Dado x ∈ R e A ⊂ R vale uma das propriedades:

• Existe ε > 0 tal que (x − ε, x + ε) ⊂ A, daı́ x ∈ int(A). Caso contrário ∀ ε > 0


(x − ε, x + ε) * A e fica valendo uma das propriedades a seguir

• Existe ε > 0 tal que (x − ε, x + ε) ⊂ (R \ A) daı́ x ∈ int(R \ A) ou vale que

• ∀ ε > 0, (x − ε, x + ε) ∩ A 6= ∅ e ∀ ε > 0, (x − ε, x + ε) ∩ (R \ A) 6= ∅ , nessas


condições x ∈ ∂A.

Com isso concluı́mos que R ⊂ int(A) ∪ int(R \ A) ∪ ∂A e como int(A) ∪ int(R \


A) ∪ ∂A ⊂ R segue que R = int(A) ∪ int(R \ A) ∪ ∂A.
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 20

$ Corolário 9. Da identidade R = int(A) ∪ int(R \ A) ∪ ∂A segue que ∂A =


R \ (int(R \ A) ∪ intA).

b Propriedade 37. A é aberto ⇔ A ∩ ∂A = ∅.

ê Demonstração. ⇒. Se A é aberto, então intA = A com intA e ∂A disjuntos.


⇐. Supondo que A ∩ ∂A = ∅, então, dado a ∈ A vale a ∈ int(A) ∪ int(R \ A) ∪ ∂A,
não pode valer a ∈ ∂a ou a ∈ int(R \ A), daı́ forçosamente tem-se a ∈ int(A)
implicando A ⊂ int(A) logo A = intA e A é aberto.

b Propriedade 38. Dado A = [a, b] tem-se ∂A = {a, b}.

ê Demonstração. Os pontos de (a, b) não podem ser pontos de fronteira de


A pois são pontos interiores do conjunto, da mesma maneira os pontos de (b, ∞) e
(−∞, a) não podem ser pontos de fronteira pois são pontos de R \ A, daı́ segue que
∂A = {a, b}

Z Exemplo 5. Dado A = [0, 1] tem-se ∂A = {0, 1}.

Z Exemplo 6. Achar a fronteira do conjunto A = (0, 1) ∪ (1, 2). Tal conjunto é


aberto, então nenhum ponto desse conjunto pode pertencer a sua fronteira. Temos
R \ A = (−∞, 0] ∪ {1} ∪ [2, ∞), cujo interior é int(R \ A) = (−∞, 0) ∪ (2, ∞), logo a
fronteira é o que resta ∂A = {0, 1, 2}.

Z Exemplo 7. Nem sempre vale que A = intA ∪ ∂A, pois tomando A = (0, 1)
tem-se intA ∪ ∂A = [0, 1].

Z Exemplo 8. ∂Q = R pois intQ = ∅, int(R \ Q) = ∅, daı́ ∂Q = R.


CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 21

b Propriedade 39. Se ∂A = ∅ então A = R ou A = ∅

ê Demonstração. Sabendo a identidade R = intA ∪ ∂A ∪ int(R \ A) união


disjunta, sendo ∂A vazio segue R = intA ∪ int(R \ A) e sabendo que R é conexo isso
implica que A = R ou vazio.

b Propriedade 40. Se R \ A é aberto e intA = ∅ então ∂A = A.

ê Demonstração. Vale que int(R \ A) = (R \ A) e intA = ∅ logo

∂A = R \ (int(A) ∪ int(R \ A)) = R \ ((R \ A)) = A.

Z Exemplo 9. R \ Z é aberto, por ser reunião de abertos a além disso Z tem


interior vazio, daı́ ∂Z = Z.

$ Corolário 10. Se A é finito então ∂A = A, pois A não possui ponto interior


e R \ A é aberto.

1.3 Conjuntos fechados

1.3.1 Ponto de aderência

m Definição 7 (Ponto aderente). Dizemos que um ponto a é aderente a um


conjunto A ⊂ R quando a for limite de uma sequência de pontos xn ∈ A.

$ Corolário 11. Todo ponto a de A é aderente a A, basta tomar a sequência


constante xn = a mas pode-se ter a aderente a A sem que a ∈ A, por exemplo 0 é
1
aderente ao conjunto (0, 2), pois nele temos a sequência que converge para 0,
n
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 22

logo 0 aderente ao conjunto (0, 2).

b Propriedade 41. Um ponto a é aderente a um conjunto A ⊂ R ⇔ para todo


 > 0 tem-se A ∩ (a − , a + ) 6= ∅.

ê Demonstração. Se a é aderente ao conjunto A, temos uma sequência (xn ),


com xn ∈ A, tal que lim xn = a logo

∀ ε > 0, ∃n0 ∈ N | n > n0 ⇒ xn ∈ (a − ε, a + ε)

logo todo intervalo da forma (a − ε, a + ε) para ε > 0 possui algum ponto de A.


Suponha agora que ∀ ε > 0 temos A ∩ (a − ε, a + ε) 6= 0 então podemos tomar
1 1 1
uma sequência da valores para ε da forma . Como A ∩ (a − , a + ) 6= 0 existe
n n n
1 1 1 1
xn ∈ A tal que xn ∈ (a − , a + ) daı́ a − < xn < a + que por sanduiche segue
n n n n
lim xn = a, logo a é ponto aderente de A.
Temos que pela definição, todo ponto de acumulação é ponto aderente, pois um
ponto de acumulação a satisfaz ∀ ε > 0 [(a − , a + ) ∩ A] \ {a} 6= ∅, logo também
satisfaz o critério para ser ponto aderente, pois satisfaz A ∩ (a − , a + ) 6= ∅. Porém
um ponto aderente não é sempre ponto de acumulação, como por exemplo 1, 2, 3 = A,
o ponto a = 2 é ponto aderente, porém não é ponto de acumulação, pois
1 1
[(2 − , 2 + ) (1, 5 , 2, 5) ∩1, 2, 3] \ {2} = ∅.
2 2 | {z }

b Propriedade 42. Um ponto a é aderente a um conjunto A sse para todo


intervalo aberto I contendo a tem-se I ∩ A 6= ∅.

ê Demonstração. ⇒, usando a contrapositiva, se existe um intervalo aberto I


contendo a tal que I ∩ A = ∅ então a não é ponto aderente de A, pois I possui
intervalo do tipo (a − ε, a + ε) para algum ε, se a fosse aderente então I ∩ A teria que
ser diferente de vazio. ⇐ Se para todo intervalo aberto I contendo a, tem-se I∩A 6= ∅
então em especial para todo intervalo (a − ε, a + ε) com εtem-se A ∩ (a − ε, a + ε) 6= 0,
pois (a − ε, a + ε) é aberto e contém a, logo pela proposição anterior segue que a é
ponto interior de A.
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 23

$ Corolário 12. Um ponto a é aderente ao conjunto X sse para todo intervalo


aberto I contendo a tem-se I ∩ X 6= ∅.

b Propriedade 43. Seja A ⊂ R limitado inferiormente, então a = inf A é


aderente a A

ê Demonstração. Como a é ı́nfimo temos que a + ε para qualquer ε > 0 não é


cota inferior, logo existe x ∈ A tal que a − ε < a ≤ x < a + ε de onde segue

(a − ε, a + ε) ∩ A 6= ∅

logo a é aderente.

b Propriedade 44. Se A ⊂ R é limitado superiormente então a = sup A é


aderente a A.

ê Demonstração. Para todo ε > 0, temos que a − ε não é cota inferior, logo
existe x ∈ A tal que a − ε < x ≤ a < a + ε, assim

A ∩ (a − ε, a + ε) 6= ∅

assim a é aderente.

m Definição 8 (Fecho). Chamaremos de fecho conjunto A ao conjunto formado


pelos pontos aderentes a A e denotaremos por A.

1.3.2 A = A ∪ ∂A.

b Propriedade 45. Vale A = A ∪ ∂A.

ê Demonstração. Iremos mostrar inicialmente que A ⊂ A ∪ ∂A.


Se x ∈ A então x ∈ A ∪ ∂A. Caso x ∈
/ A e x ∈ A então existe uma sequência
(xn ) em a tal que lim xn = a, ∀ ε > 0 existe n0 ∈ N tal que para n > n0 tem-se
xn ∈ (a−ε, a+ε), logo nessas condições (a−ε, a+ε)∩A 6= ∅ e (a−ε, a+ε)∩(R\A) 6= ∅,
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 24

pois a ∈
/ A e a ∈ (a − ε, a + ε), então temos pelo menos esse elemento no conjunto,
implicando pela definição que x ∈ ∂A.
Agora A ∪ ∂A ⊂ A, basta mostrar que ∂A ⊂ A, pois já sabemos que A ⊂ A.
Dado a ∈ ∂A então para todo ε > 0 (a − ε, a + ε) ∩ A 6= ∅, logo podemos tomar uma
sequência de pontos em A que converge para a, daı́ a ∈ A.

b Propriedade / A ⇔ a ∈ int(R \ A).


46. a ∈

ê Demonstração. ⇒.Se a ∈
/ A existe ε > 0 tal que (a − ε, a + ε) ∩ A = ∅, daı́
todo x ∈ (a − ε, a + ε) não pertence a A logo pertence a R \ A, então a ∈ int(R \ A).
⇐ . Se a ∈ int(R \ A) então existe ε > 0 tal que (a − ε, a + ε) ⊂ (R \ A), logo existe
/ A.
ε > 0 tal que (a − ε, a + ε) ∩ A = ∅ portanto a ∈

$ Corolário 13. (R \ A) = int(R \ A). Pois a ∈/ A ⇔ a ∈ int(R \ A) .


Concluı́mos então que R \ A é um conjunto aberto.

1.3.3 A = ∂A ∪ int(A).

b Propriedade 47. Vale que

A = ∂A ∪ int(A).

ê Demonstração. Temos que R = intA ∪ ∂A ∪ int(R \ A) e R \ A = int(R \ A),


daı́ segue
A = ∂A ∪ int(A).

b Propriedade 48. Vale que R \ int(A) = R \ A.

ê Demonstração. Temos que R = int(A) ∪ int(R \ A) ∪ ∂A daı́

R \ int(A) = int(R \ A) ∪ ∂A = int(R \ A) ∪ ∂(R \ A) = (R \ A).


CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 25

b Propriedade 49. O fecho do intervalo aberto (a, b) é o intervalo fechado


[a, b].

ê Demonstração. Para todo ε > 0 temos a ∈ (a − ε, a + ε) tem-se ainda que

(a − ε, a + ε) ∩ (a, b) 6= ∅

o mesmo para o ponto b, b ∈ (b − ε, b + ε) e

(b − ε, b + ε) ∩ (a, b) 6= ∅

portanto a e b são pontos aderentes ao intervalo (a, b). Além disso se xn ∈ A, não
podemos ter lim xn > b ou lim xn < a, pois caso contrário terı́amos valores de n tais
que xn > b e xn < a o que não acontece pois xn ∈ (a, b).

b Propriedade 50. Temos que A ⊂ A.

ê Demonstração. Seja um ponto qualquer a ∈ A, podemos tomar a sequência


constante com termo definido xn = a, logo a ∈ A, implicando que A ⊂ A.

b Propriedade 51. Se A ⊂ B então A ⊂ B.

ê Demonstração. Seja a ∈ A então existe uma sequência de pontos de A


tais que lim xn = a, porém os pontos de A são também pontos de B, logo temos a
sequência de pontos de B, tais que lim xn = a, assim a ∈ B.

1.3.4 A ∪ B = A ∪ B.

b Propriedade 52. Vale que

A ∪ B = A ∪ B.

ê Demonstração. Vamos mostrar inicialmente que A ∪ B ⊂ A ∪ B.


De A ⊂ A ∪ B e B ⊂ A ∪ B segue que A ⊂ A ∪ B e B ⊂ A ∪ B daı́ A ∪ B ⊂ A ∪ B.
Agora mostramos que A ∪ B ⊂ A ∪ B. Seja x ∈ A ∪ B, então existe uma sequência
(xn ) ∈ A ∪ B tal que lim xn = x, tal sequência possui um número infinito de elementos
em A ou B, logo podemos tomar uma sequência (yn ) em A ou B tal que lim yn = x ∈
A ∪ B o que prova o que desejamos.
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 26

1.3.5 A ∩ B ⊂ A ∩ B.

b Propriedade 53. Vale que A ∩ B ⊂ A ∩ B.

ê Demonstração. Tem-se que A ∩ B ⊂ A e A ∩ B ⊂ B , logo A ∩ B ⊂ A e


A ∩ B ⊂ B de onde segue A ∩ B ⊂ A ∩ B.

Z Exemplo 10. Podemos ter conjuntos X e Y tais que


X ∩ Y 6= X ∩ Y?

Sim, basta tomar X = (a, b) e Y = (b, c), temos que X = [a, b] , Y = [b, c] ,
X ∩ Y = {b} e X ∩ Y = ∅ de onde X ∩ Y = ∅ , logo são diferentes.

m Definição 9 (Conjunto fechado). A é um conjunto fechado sse A = A. Assim


A é fechado sse todo ponto aderente a A pertence a A.

b Propriedade 54. A é fechado se , e somente se, ∂A ⊂ A.

ê Demonstração. Se A é fechado então A = A, usando a identidade A = A∪∂A,


segue que A ∪ ∂A = A logo deve valer ∂A ⊂ A.
Suponha agora que ∂A ⊂ A então

A ∪ ∂A = A = A

logo A é fechado.

$ Corolário 14. Seja A um conjunto não vazio, limitado e fechado . Ele possui
supremo a e ı́nfimo b , como o supremo e ı́nfimo são pontos aderentes e ele é
fechado então a, b ∈ A.
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 27

$ Corolário 15. Para que A seja fechado é necessário e suficiente que para toda
sequência com termos xn ∈ A e lim xn = a, então a ∈ A.

b Propriedade 55. Todo conjunto reduzido a um elemento é fechado.

ê Demonstração. Seja A = {a}, entãa única possibilidade de sequência em A é


tomar xn = a, que é convergente, logo o fecho de A é A = {a}, A = A logo o conjunto
é fechado.

b Propriedade 56. Todo intervalo fechado é um conjunto fechado.

ê Demonstração. Seja o intervalo A = [a, b] então cada ponto de A é aderente


a A, pois para cada c ∈ A tomamos a sequência de termo xn = c, além disso não
podemos ter sequência com elementos de A tais que lim xn > b ou lim xn < a, assim
é fechado.

b Propriedade 57. R e fechado.

ê Demonstração. Nenhuma sequência de R pode convergir para um número


que não seja real, por definição e cada ponto de R é aderente pelo argumento da
sequência constante.

b Propriedade 58. ∅ é fechado.

ê Demonstração. Ele não seria fechado se fosse possı́vel tomar uma sequência
de elementos nele e convergir para um elemento que não pertence a ele, mas no caso
não podemos tomar sequências com elementos do conjunto vazio, pois ele não possui
elementos, logo ele é fechado.

m Definição 10. Seja A um subconjunto dos reais, usaremos a notação CA


para simbolizar R \ A, chamaremos de complementar do conjunto.
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 28

b Propriedade 59. F é fechado sse CF é aberto, A é aberto sse CA é fechado.

b Propriedade 60. A união finita de fechados é um conjunto fechado. A


interseção arbitrária de fechados é um conjunto fechado.

Z Exemplo 11. A união arbitrária de conjuntos fechados pode não ser fechada.
Por exemplo, um aberto A pode ser escrito como união dos seus pontos.

b Propriedade 61 (Idempotência).

X = X.

int int(A) = int(A).

ê Demonstração.

Z Exemplo 12. Todo conjunto finito é fechado, pois seu complementar é aberto.
Existem conjuntos que não são fechados nem abertos, como Q, R. R e ∅ são os
únicos conjuntos que são fechados e abertos.

b Propriedade 62. Seja A um aberto e F um fechado, então A \ F é aberto.

ê Demonstração. Se A \ F é vazio, então é aberto. Se não, existe x ∈ A \ F


logo x ∈ A, como A é aberto, existe ε1 > 0 tal que (x − ε1 , x + ε1 ) ⊂ A e como
/ F que é fechado, então ele não pertence ao fecho, daı́ existe ε2 > 0 tal que
x ∈
(x − ε2 , x + ε2 ) ∩ F = ∅, tomando ε < min{ε1 , ε2 } segue que (x − ε, x + ε) ⊂ A e nenhum
ponto desse intervalo pertence a F, daı́ (x − ε, x + ε) ⊂ A \ F, logo o conjunto é aberto.
Podemos escrever F \ A como

F \ A = (R \ A) ∩ F
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 29

tal conjunto é então fechado, da mesma maneira

A \ F = (R \ F) ∩ A

logo A \ F é aberto.

Z Exemplo 13. Se A é aberto então A \ {a} é aberto, pois {a} é fechado.

b Propriedade 63. Dado A ⊂ R então

R \ intA = R \ A

R \ A = int(R \ A).

ê Demonstração. Temos as identidades

R = intA ∪ ∂A ∪ int(R \ A)

A = intA ∪ ∂A

ambas uniões disjuntas


∂A = ∂(R \ A)

daı́
R = intA ∩ R \ A ⇒ R \ intA = R \ A

da mesma maneira temos


R \ A = int(R \ A).

b Propriedade 64. Seja F é fechado e A ⊂ F então A ⊂ F.

ê Demonstração. Seja a ∈ A


a∈A⇒a∈F
/ A, daı́ existe (xn ) em A( logo (xn ) em F) tal que lim xn = a, logo a ∈ F pois F é fechado .
a∈
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 30

b Propriedade 65. Dada uma sequência (xn ) o fecho de X = {xn , n ∈ N} é


X = X ∪ A onde A é o conjunto dos valores de aderência de (xn ).

ê Demonstração. Inicialmente podemos perceber que X ∪ A ⊂ X pois X ⊂ X e


A ⊂ X, esse último pois é formado pelo limite de subsequências de X, que definem
de modo natural sequências.
Agora iremos mostrar que X ⊂ X ∪ A. Se x ∈ X então x ∈ A ∪ X. Se x ∈ X \ X então
vamos mostrar que x ∈ A, isto é, existe uma subsequência de termos de (xn ) que
converge para x. x ∈ X \ X implica que todo intervalo (x − ε, x + ε) possui elementos
de X distintos de x, isto é, possui termos xn da sequência.
Definimos indutivamente n1 = min{n ∈ N | |xn − a| < 1} supondo definidos de
1
n1 até nk definimos nk+1 = min{n ∈ N \ {n1 , · · · , nk } | |xn − a| < }, daı́ (xnk ) é
k+1
subsequência de (xn ) e converge para a, logo a ∈ A.

$ Corolário 16. Se (xn ) converge, então o único valor de aderência de (xn ) é


lim xn = a, portanto
X = X ∪ {a}.

b Propriedade 66. O conjunto A dos valores de aderência de uma sequência


(xn ) é fechado.

ê Demonstração. Temos que mostrar que A = A. Já sabemos que vale A ⊂ A,


falta mostrar que A ⊂ A . Se a ∈ A então a ∈ A, vamos demonstrar a contrapositiva
que é se a ∈ / A.
/ A então a ∈
Se a ∈
/ A então existe ε > 0 tal que (a − ε, a + ε) não possui elementos de (xn )
daı́ não pode valer a ∈ A.

Z Exemplo 14. Dê um exemplo de uma sequência decrescente de conjuntos



\
fechados não vazios Fk ⊂ Fk+1 tal que Fk = ∅.
k=1
Perceba que os conjuntos não podem ser intervalos fechados do tipo [a, b],
pois nesse caso irı́amos cair no caso do teorema de intervalos encaixados e nesse
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 31

caso a intersecção não seria vazia. Sabendo disso tomamos Fk = [k, ∞), não pode
/ [k, ∞).
existir x nessa intersecção, pois dado x real, existe k > x e daı́ x ∈

Z Exemplo 15. Dê um exemplo de uma sequência decrescente de conjuntos



\
limitados não vazios Lk ⊂ Lk+1 tal que Lk = ∅.
k=1
1
Nesse caso escolhemos Lk = (0, ), nenhum número pode pertencer a intersecção
k
1
pois dado x existe k tal que < x e daı́ x não pode pertencer ao conjunto LK ,
k
assim também não pertence a intersecção .

b Propriedade 67. Sejam A e B conjuntos fechados disjuntos tais que A∪B = I


um intervalo fechado, então A ou B são vazios.

ê Demonstração. Primeiro observamos que o complementar de um intervalo


fechado é união de no máximo dois intervalos abertos

R \ [a, b] = (−∞, a) ∪ (b, ∞)

R \ [a, ∞) = (−∞, a)

R \ (−∞, a] = (a, ∞).

Vale
R \ I = R \ (A ∪ B) = (R \ A) ∩ (R \ B)

se R = I um

1.3.6 Conjuntos densos

m Definição 11 (Conjuntos densos). Sejam A e B conjuntos de números reais,


com A ⊂ B. Diremos que A é denso em B quando A = B.
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 32

Z Exemplo 16. Q é denso em R. R \ Q é denso em R.


Conjuntos densos

são conjuntos
F Teorema 2. Todo conjunto X de números reais contém um subconjunto enu-
grudentos.
merável A, denso em X.

b Propriedade 68. Sejam A aberto denso e B denso em R, então A ∩ B é denso


em R.
Conjuntos abertos

ê Demonstração.
e densos são
Vamos mostrar que dado a ∈ R arbitrário então vale que para todo ε > 0 o
conjun-
conjunto (a − ε, α + ε) possui elementos de A ∩ B. Como A é denso em R vale que
tos grudentos e
A é denso em (a − ε, α + ε), daı́ existe y ∈ A tal que y ∈ (a − ε, α + ε). Por A ser
aberto, existe ε1 > 0 tal que (y − ε1 , y + ε1 ) ⊂ A e (y − ε1 , y + ε1 ) ⊂ (a − ε, α + ε). B gordinhos.

é denso em R, logo também denso em (y − ε1 , y + ε1 ) então o intervalo (a − ε, α + ε)


possui pontos de A e de B.

$ Corolário 17. Se A eB são abertos densos em R, então A∩B é aberto denso em


R, pois a interseção de abertos é um aberto e pela propriedade anterior sabemos
que é densa.

b Propriedade 69. A é denso em R ⇔ int(R \ A) é vazio.

ê Demonstração.
⇒). Vale que A = int(A) ∪ ∂A = R e R = intA ∪ ∂A ∪ int(R \ A) como a união é
disjunta, segue que int(R \ A) = ∅.
⇒).
Se int(R \ A) é vazio então

R = intA ∪ ∂A ∪ int(R \ A) = intA ∪ ∂A = A

como A = R então A é denso em R.


CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 33

b Propriedade 70. Se intA = ∅ então R \ A é denso em R.

/ int(A) então ∀ ε > 0 (a − ε, a + ε) ∩ (R \ A) 6= ∅,


ê Demonstração. ∀ a ∈ R, a ∈
daı́ R \ A é denso em R.

b Propriedade 71. Seja G 6= {0} um grupo aditivo de R, então vale uma das
possibilidades

1. Existe t tal que G = tZ , isto é, G é formado pelos múltiplos inteiros de t.

2. G é denso em R.

ê Demonstração.
G 6= {0} possui elemento positivo, pois dado a 6= 0 ∈ G, −a ∈ G, por ser grupo , e
temos que a ou −a é positivo. Sejam G+ = {x ∈ G | x > 0} e t = inf G+ .

1. Se t > 0 vamos mostrar que vale t ∈ G. Suponha por absurdo que não. Existe
y ∈ G tal que
t < y < 2t,

pois 2t não é a maior cota inferior, por isso existe y entre t e 2t, subtraindo t
de ambos lados nessa desigualdade tem-se

0 < y − t < t.

Como y também não é maior cota inferior de G, existe z ∈ G tal que

t < z < y < 2t

então z < y ⇒ y − z > 0 , de t < z temos −z < −t de y < 2t tem-se


y − z < 2t − z < 2t − t = t por isso

0 < y − z < t,

como y, z ∈ G então y − z ∈ G um elemento menor que o ı́nfimo do conjunto t


o que é absurdo logo t ∈ G e por ser grupo tZ ⊂ G.

Iremos mostrar agora a outra inclusão G ⊂ tZ. Suponha que existe x ∈ G \ tZ


então existe n natural tal que
x
n< < n + 1 ⇒ nt < x < nt + t,
t
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 34

como x, nt ∈ G segue x−nt ∈ G e subtraindo nt de ambos lados da desigualdade


anterior temos
0 < x − nt < t,

chegando mais uma vez em uma contradição pois terı́amos um elemento menor
que o ı́nfimo do conjunto. Portanto G ⊂ tZ e tZ ⊂ G logo G = tZ.

2. Se t = 0 então G é denso pois dado x ∈ R arbitrário e ε > 0 temos y ∈ G tal


que 0 < y < ε. Se x = my para algum m nada precisamos demonstrar, se não,
existe m tal que
x
m< < m + 1 ⇒ my < x < my + y ⇒
y
subtraindo my de ambos lados 0 < x − my < y < ε, my ∈ G logo G é denso
em R.

1.4 Cisão na reta

m Definição 12 (Cisão). Dado um conjunto A ⊂ R, dizemos que uma cisão do


conjunto A é uma decomposição A = B ∪ C onde B ∩ C = ∅ e C ∩ B = ∅.

m Definição 13 (Cisão trivial). Tomando B = A e C = ∅ temos uma cisão


chamada trivial.

b Propriedade 72. Se A é aberto e A = B ∪ C é uma cisão de A, então C e B


são abertos.

ê Demonstração. Vale B ∩ C = ∅ e C ∩ B = ∅. Seja x ∈ A e x ∈ B, por


A ser aberto, sabemos que existe ε > 0 tal que (x − ε, x + ε) ⊂ A. Se tivéssemos
∀ r > 0 (x − r, x + r) ∩ C 6= ∅ então terı́amos uma sequência em C convergindo para
x e daı́ x ∈ C o que contraria C ∩ B = ∅, então deve existir um ε1 > 0 tal que
(x − ε1 , x + ε1 ) ∩ C = ∅, daı́ temos (x − ε2 , x + ε2 ) ⊂ B, logo B é aberto. De maneira
semelhante para A.
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 35

b Propriedade 73. Seja A = B ∪ C cisão com A fechado, então B e C são


fechados.

ê Demonstração.
Seja x ∈ B então x ∈ A, pois A é fechado. Por B ∩ C = ∅ segue que x ∈
/ C, daı́
forçosamente tem-se x ∈ B. De maneira análoga para C.

1.5 Pontos de acumulação

m Definição 14 (Ponto de acumulação). Seja A ⊂ R. Um número a ∈ R chama-


se ponto de acumulação do conjunto A quando ∀ ε > 0 (a − , a + ) ∩ A \ {a} 6= ∅
.
Ponto de acumulação também é chamado de ponto limite.

b Propriedade 74. Todo conjunto A não enumerável em R possui ponto de


acumulação.

ê Demonstração. Dividimos a reta em intervalos do tipo [n, n + 1) com n ∈ Z.


Esses conjuntos não podem ter finitos pontos de A, pois se não A seria enumerável,
então um desses conjuntos deve ter uma quantidade infinita de pontos, quantidade
não enumerável, portanto temos infinitos pontos em um conjunto limitado e daı́
temos ponto de acumulação.

m Definição 15 (Conjunto derivado). O conjunto dos pontos de acumulação


de A será representado por A 0 e chamado conjunto derivado de A.

m Definição 16 (Conjunto perfeito). Um conjunto A é dito perfeito quando


vale A = A 0 , isto é, vale A ⊂ A 0 e A 0 ⊂ A. Um conjunto perfeito é fechado e não
possui pontos isolados, pois todos seus pontos são de acumulação.
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 36

Z Exemplo 17. Um conjunto fechado não necessariamente é perfeito, como


1
A = { , n ∈ N} ∪ {0} que é fechado e A 0 = {0} 6= A.
n

Z Exemplo 18. Pode valer A ⊂ A 0


e A 0 6= A, por exemplo A = (0, 1), então
A 0 = [0, 1], logo temos A ⊂ A 0 mas A 0 6= A.

1
Z Exemplo 19. Pode valer também A 0
⊂ A e A 6= A 0 . Basta tomar A = {
n
n∈
N} ∪ {0} , logo A 0 = {0} ⊂ A, mas A 0 6= A.

b Propriedade 75. A definição de pontos de acumulação é equivalente a


condição de que todo intervalo aberto contendo a possui uma infinidade de ele-
mentos de A \ {a}.

m Definição 17 (Ponto de acumulação à direita). Um ponto a é dito ponto de


acumulação à direita de A, quando vale ∀ ε > 0, A ∩ (a, a + ε) 6= ∅, nesse caso
denotamos a ∈ A+0 .

m Definição 18 (Ponto de acumulação à esquerda). Um ponto a é dito ponto


de acumulação à esquerda de A, quando vale ∀ ε > 0, A ∩ (a − ε, a) 6= ∅, nesse
caso denotamos a ∈ A−0 .

b Propriedade 76. a ∈ A+0 (a ∈ A−0 ) ⇔ existe (xn ) em A decrescente (crescente)


com lim xn = a.

ê Demonstração. ⇒). Se a ∈ A+0 então existe sequência de termos zn > a com


lim zn = a, daı́ podemos tomar uma subsequência (xn ) de (zn ) que seja decrescente e
lim xn = a.
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 37

⇐). Se existe (xn ) decrescente com lim xn = a então por definição ∀ ε > 0
A ∩ (a, a + ε) 6= ∅ e daı́ a é ponto de acumulação à direita.
De maneira similar, só trocando as palavras na argumentação acima se prova o
caso para pontos de acumulação à esquerda.
⇒). Se a ∈ A−0 então existe sequência de termos zn < a com lim zn = a, daı́
podemos tomar uma subsequência (xn ) de (zn ) que seja crescente e lim xn = a.
⇐). Se existe (xn ) crescente com lim xn = a então por definição ∀ ε > 0 A ∩ (a −
ε, a) 6= ∅ e daı́ a é ponto de acumulação à esquerda.

Z Exemplo 20. Se X = {1/n, n ∈ N} então X 0


= {0}, X não é fechado.

1.5.1 A = A ∪ A 0

b Propriedade 77. Dado A ⊂ R então A ⊂ A ∪ A 0 .

ê Demonstração. Se a ∈ A então

a ∈ A ⇒ a ∈ A ∪ A0
/ A, daı́ existe (xn ) em A \ {a} tal que lim xn = a, logo a ∈ A 0 .
a∈

$ Corolário 18. Temos que A ∪ A 0 ⊂ A logo

A = A ∪ A 0.

b Propriedade 78. A é fechado se, e somente se, A 0 ⊂ A.

ê Demonstração. ⇒. Se A é fechado vale A = A daı́ A = A ∪ A 0 , que implica


A 0 ⊂ A. ⇐. Da mesma maneira se A 0 ⊂ A então A = A ∪ A 0 = A logo A é fechado.

$ Corolário 19. Se A é perfeito então é fechado, pois vale A = A 0 e A =


A ∪ A 0 = A ∪ A = A, portanto A é fechado.
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 38

m Definição 19 (Ponto isolado). Um ponto a ∈ X que não é ponto de


acumulação de X é chamado de ponto isolado de X.

m Definição 20 (Conjunto discreto). Um conjunto A é dito discreto quando


todos os seus pontos são isolados.

b Propriedade 79. Se A é discreto então para cada x, y ∈ A existem intervalos


abertos Ix , Iy de centro x, y respectivamente tais que se x 6= y então Ix ∩ Iy 6= ∅,
isto é, podemos tomar intervalos de centro x e y respectivamente, tais que eles
sejam disjuntos em R ( não possuam elementos em comum de R).

ê Demonstração.
Para cada x ∈ A existe ex > 0 tal que (x − εx , x + εx ) ∩ {x}. Definimos para cada x,
εx εx
Ix = (x − , x + ).Tomando x 6= y ∈ A podemos supor εx ≤ εy . Se z ∈ Ix ∩ Iy então
2 2
εx εy
z ∈ Ix e z ∈ Iy , logo |z − x| ≤ , |z − y| ≤ daı́
2 2
εx εy εy εy
|x − y| ≤ |z − y| + |z − x| ≤ + ≤ + = εy
2 2 2 2
daı́ irı́amos concluir que x ∈ Iy , o que é absurdo pois Iy contém um único ponto de
A, que é y, logo podemos tomar intervalos disjuntos como querı́amos demonstrar.

b Propriedade 80. Se A é discreto então A é enumerável.

ê Demonstração. Pelo resultado anterior vimos que podemos para cada x, y ∈ A


escolher intervalos centrados em x, y denotados por Ix , Iy respectivamente tais que
[ [
Ix ∩ Iy = ∅, então A ⊂ Ix , sendo que Ix é enumerável por ser reunião de
x∈A x∈A
intervalos não degenerados dois a dois disjuntos, portanto seu subconjunto A também
é enumerável.

b Propriedade 81. Se A é não enumerável então A 0 6= ∅ , isto é, se A é não


CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 39

enumerável então A possui ponto de acumulação.

ê Demonstração. Usamos a contrapositiva que é : se A 0 = ∅ (daı́ A não possui


pontos de acumulação, logo todos seus pontos são isolados) então A é enumerável,
porém essa proposição já foi demonstrada.

$ Corolário 20. Seja F ⊂ R não vazio tal que F 0 = F então F é não enumerável.
(provar)

$ Corolário 21. Todo conjunto fechado, enumerável e não vazio possui algum
ponto isolado.

Z Exemplo 21. Exemplos de conjuntos X e Y tais que X 0


6= X e Y 0 = Y . Se X
é um conjunto finito não vazio temos X 0 6= X . Podemos tomar Y = [a, b].

Z Exemplo 22. Dar um exemplo de conjunto A, fechado, não limitado em


que todos seus pontos sejam pontos isolados. O conjunto Z dos números inteiros
satisfaz essa propriedade.

1.5.2 A 0 = A 0 .

b Propriedade 82. A 0 é fechado.

ê Demonstração.[1] Vamos mostrar que R \ A 0 é aberto, então A 0 é fechado.


Seja a ∈ R \ A 0 então a ∈
/ A 0 portanto existe ε > 0 tal que (a − ε, a + ε) ∩ A \ {a} = ∅
logo (a − ε, a + ε) ∩ A 0 = ∅ que implica (a − ε, a = ε) ⊂ R \ A 0 , logo R \ A 0 é aberto.
ê Demonstração.[2] Vale em geral que B ⊂ B, o mesmo vale tomando B = A 0 ,
falta mostrar então que A 0 ⊂ A 0 .
Tomamos a ∈ A 0 , logo existe uma sequência (xn ) em A 0 tal que lim xn = a,
por definição temos que ∀ ε > 0, ∃n0 ∈ N tal que n > n0 tem-se xn ∈ (a − ε, a +
ε) \ {a}, como cada xn é ponto de acumulação de A, então existem termos yn ∈ A
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 40

arbitrariamente próximos de xn , logo existem termos yn em (a − ε, a + ε) \ {a} com ε


arbitrário, sendo assim podemos construir uma sequência (yn ) que converge para a,
portanto a ∈ A 0

Z Exemplo 23. Sejam A um conjunto aberto e F um conjunto fechado não


vazios e diferentes de R, as afirmações abaixo são verdadeiras ou falsas? No caso
de verdadeira demonstrar, no caso de falsa dar um contra exemplo.
A ∪ F é fechado. Falsa, tome por exemplo A = (−3, 3) e F = [−1, 1] sua união
é o conjunto A que é aberto.
A ∩ F é aberto. Falso, tome por exemplo A = (−3, 3) e F = [−1, 1] sua interseção
é F = [−1, 1].
A ∩ F é fechado. Falso, tome por exemplo A = (−1, 1) e F = [−3, 3] sua
interseção é o conjunto A = (−1, 1).
A ∪ F é aberto. Falso, tome por exemplo A = (−1, 1) e F = [−3, 3] A união é F.
F − A é aberto. Falso, tome F = [−1, 1] e A = (−1, 1), temos F − A = {1, −1} que
é fechado.
A − F é aberto. Verdadeiro, pois temos A − F = A ∩ (R − F) que é interseção de
dois abertos. Da mesma maneira temos que F−A é fechado pois F−A = F∩(R−A)
que é interseção de fechados.

b Propriedade 83. Seja a ∈ A 0 então existem (xn ) ou (yn ) em A, crescentes


ou decrescentes respectivamente tais que lim xn = lim yn = a.

ê Demonstração.
1 1
Sejam An = (a − , a) e Bn = (a, a + ), como a ∈ A 0 então um desses conjunto
n n
possui infinitos elementos de A, se An é infinito podemos definir (xn ) em crescente
com lim xn = a caso contrário definimos (yn ) decrescente, ambos com limite a

1.5.3 (X ∪ Y) 0 = X 0 ∪ Y 0 .
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 41

b Propriedade 84. Vale que

(X ∪ Y) 0 = X 0 ∪ Y 0 .

ê Demonstração.
(X ∪ Y) 0 ⊂ X 0 ∪ Y 0 . Tome t ∈ (X ∪ Y) 0 , logo existe uma sequência (xn ) em (X ∪ Y) \ {t}
tal que lim xn = t. Se X possui um número finito de termos de (xn ) então Y possui um
número infinito de termos de (xn ) e vale t ∈ Y 0 . Se cada um deles possui um número
infinito de termos de (xn ) então ainda vale que t ∈ Y 0 , pois temos subsequência
de (xn ) em Y , como a subsequência de uma sequência convergente é convergente e
converge para o mesmo limite então segue o resultado .
X 0 ∪ Y 0 ⊂ (X ∪ Y) 0 . Tome t ∈ X 0 ∪ Y 0 daı́ t ∈ X 0 ou t ∈ Y 0 , supondo sem perda de
generalidade que t ∈ X 0 existe uma sequência (xn ) em X \ {t} tal que lim xn = t logo
(xn ) ∈ (X ∪ Y) \ {t} implicando t ∈ (X ∪ Y) 0 .

$ Corolário 22.
n
[ n
[
0
( Ak ) = Ak0 .
k=1 k=1

1.5.4 Teorema de Bolzano-Weierstrass


F Teorema 3 (Teorema de Bolzano-Weierstrass). Todo conjunto infinito A ⊂ R,
limitado, possui ponto de acumulação.

ê Demonstração. A é limitado, por isso está contido num intervalo [a, b].
Seja B = {x ∈ R | A ∩ (x, +∞) é infinito}. B é não vazio pois a ∈ B, além disso é
limitado superiormente por b, logo ele possui supremo que chamaremos de c. Como
c é supremo de B vale que para qualquer ε > 0 existe a ∈ B tal que c − ε < a ≤ c
e não existe uma infinidade de elementos de A a direita de c + ε, pois se não
ele pertenceria ao conjunto B e c não seria o supremo. Daı́ segue que existe uma
infinidade de elementos de A no intervalo (c − ε, c + ε), implicando que c é ponto de
acumulação de A.
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 42

b Propriedade 85. Se A é não enumerável então A 0 6= ∅.


[
ê Demonstração. Podemos escrever R = [n, n+1) como união disjunta, então
[ n∈Z
A= [n, n + 1) ∩ A, se todo conjunto [n, n + 1) for finito então A será enumerável,
n∈Z
por ser reunião enumerável de conjuntos enumeráveis. Então deve existir n tal que
[n, n + 1) seja não enumerável (logo infinito), sendo um conjunto limitado, segue que
possui algum ponto de acumulação.

$ Corolário 23. Se A possui apenas pontos isolados então A é enumerável. Essa


proposição é verdadeira pois é a contrapositiva da proposição anterior, se A 0 = ∅
então A é enumerável.

1.6 Conjuntos compactos

m Definição 21 (Conjunto compacto). Um conjunto F é compacto sse é limitado


e fechado.

b Propriedade 86. Todo conjunto A 6= ∅ compacto tem sup A = b ∈ A.

ê Demonstração. Como A é compacto então A é limitado , sendo não vazio


possui supremo, então existe sup A = b. A é fechado e ∀ ε > 0 (b − ε, b + ε) ∩ A 6= ∅,
logo b ∈ A.

b Propriedade 87. Da mesma maneira, todo conjunto A 6= ∅ compacto tem


inf A = a ∈ A.

ê Demonstração. Como A é compacto então A é limitado , sendo não vazio


possui ı́nfimo, então existe inf A = a. A é fechado e ∀ ε > 0 (a − ε, a + ε) ∩ A 6= ∅,
logo a ∈ A.
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 43

$ Corolário 24. Dado A compacto como inf A ∈ A e sup A ∈ A, seque que A


possui máximo e mı́nimo.

b Propriedade 88. Se uma sequência (xn ) for limitada então seu conjunto de
pontos de aderência é compacto.

ê Demonstração. Já vimos que A é fechado, agora se (xn ) for limitada então
A é limitado, sendo limitado e fechado é compacto.
Nessas condições A possui elemento mı́nimo e elemento máximo. o Mı́nimo de A
é denotado como lim inf xn e o elemento máximo de A é denotado como lim sup xn .

b Propriedade 89. A é compacto ⇔ qualquer (xn ) em A possui subsequência


que converge para um ponto de A.

ê Demonstração. ⇒). Se A é compacto, então A é fechado e limitado, por isso


toda sequência em A possui subsequência convergente, que deve convergir para um
ponto de A pois A é fechado.
⇐). Suponha agora que qualquer (xn ) em A possua subsequência que converge
para um ponto de A. Vamos mostrar que A é fechado e limitado. Mais uma vez
usaremos a contrapositiva. Se A não fosse limitado, poderı́amos encontrar sequência
(xn ) em A tal que |xn | > n, daı́ existiria subsequência que não converge, logo A deve
ser limitado. A deve ser fechado, pois caso contrário existiria (xn ) em A de tal forma
que lim xn = a ∈
/ A, como xn é convergente, toda subsequência dela também converge
para A, o que contraria a hipótese, então A é fechado.

b Propriedade 90. Dada uma sequência Ak ⊃ Ak+1 , k ∈ N de conjuntos


compactos não vazios, então existe a ∈ An ∀ n ∈ N.

ê Demonstração. Definimos a sequência (xn )|xn ∈ An ∀ n ∈ N. xn ∈ A1 , logo


existe subsequência (xnk )k em A1 tal que (xnk )k converge para um ponto a ∈ A1 .
Como para nk > n tem-se xnk ∈ An segue que temos subsequência em cada An que
converge para a, logo a ∈ An para todo n ∈ N.
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 44

m Definição 22 (Cobertura). Uma cobertura de um conjunto X é uma famı́lia


de conjuntos C, tais que
[
X⊂ Ck .

Uma subcobertura de C é uma subfamı́lia C 0 tal que

[
X⊂ Ck0 .

b Propriedade 91. Sejam A, B não vazios com A compacto e B fechado, então


existem x0 ∈ A e y0 ∈ B tais que |x0 − y0 | ≤ |x − y ∀ x ∈ A, y ∈ B.|

ê Demonstração. Seja C = {|x − y|, x ∈ A y ∈ B}, tal conjunto é limitado


inferiormente por 0. Sendo assim possui ı́nfimo. Seja a = inf C. Pelo fato de a ser
ı́nfimo de C existe sequência de elementos de C que converge para a, isso implica
que existem sequências xn ∈ A e yn ∈ B tais que lim |xn − yn | = a.
Como A é compacto, portanto limitado a sequência (xn ) possui subsequência con-
vergente, de modo que podemos admitir que (xn ) seja convergente (se não passamos
a uma subsequência), logo lim xn = a ∈ A pelo fato de A ser fechado.
Da desigualdade
|yn | ≤ |xn − yn | + |xn |

concluı́mos que (yn ) é limitada, logo possui subsequência convergente, tomando sua
subsequência convergente se necessário, tem-se que lim yn = y0 ∈ B, pelo fato de B
ser fechado. Dessas propriedades segue que

lim |yn − xn | = lim |x0 − y0 | = a

daı́ fica provado o resultado.

b Propriedade 92. Seja A compacto. Se A é discreto então A é finito. Lembre


que um conjunto discreto é aquele em que todos os seus pontos são isolados.

ê Demonstração. Suponha por absurdo que A é infinito, como A é limitado


existe uma sequência (xn ) de elementos de A tal que lim xn = a. Pelo fato de ser
fechado temos a ∈ A. Daı́ a não seria ponto isolado, o que contraria o enunciado.
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 45

Z Exemplo 24. Z é um conjunto fechado ilimitado em que todos seus pontos


1
são isolados. A = { | n ∈ N} é um conjunto limitado não fechado em que todos
n
os pontos são isolados. Perceba nesse último exemplo que existem termos do
conjunto arbitrariamente próximos, mesmo assim todos seus pontos são isolados,
tal conjunto admite ponto de acumulação 0, mas tal elemento não pertence ao
conjunto o conjunto não é fechado.

b Propriedade 93. Seja A compacto então os seguintes conjuntos também são


compactos

• S = {x + y, x, y ∈ A}

• D = {x − y, x, y ∈ A}

• P = {x.y, x, y ∈ A}

x
• Q = { , x, y ∈ A}
y

ê Demonstração. Primeiro vamos mostrar que tais conjuntos são limitados.


Como A é limitado então existe M > 0 tal que |x| ≤ M, ∀ x ∈ A.

• |x + y| ≤ |x| + |y| ≤ M + M = 2M daı́ S é limitado.

• |x − y| ≤ |x| + |y| ≤ 2M, portanto D é limitado.

• Vale |x| ≤ M e |y| ≤ M logo |x.y| = |x|.|y| ≤ M2 .

• Vale |x| ≤ M como 0 ∈


/ A e A é fechado então não existem termos arbitraria-
mente próximos de zero, logo existe c tal que vale 0 < c < |y| disso segue que
1 1 |x| M
< multiplicando pela primeira relação tem-se ≤ .
|y| c |y| c

Vamos mostrar que os conjuntos são fechados.

• S é fechado, tomamos (zn ) em S tal que lim zn = a vamos mostrar que a ∈ S.


zn = xn + yn , como A é compacto conseguimos uma subsequência de (xn )
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 46

que seja convergente, daı́ passando para a subsequência temos lim xn = x0 ,


lim xn +yn −xn = lim yn converge para y0 daı́ lim xn +yn = a = lim xn + lim yn =
x0 + y0 é a soma de dois elementos de A logo lim xn + yn converge para um
elemento de S. Esse argumento de passar a uma subsequência será usado nos
próximos itens sem ser mencionado novamente.

• D é fechado, tomamos (zn ) em D tal que lim zn = a vamos mostrar que a ∈ S.


zn = xn −yn , conseguimos xn convergente em A, daı́ lim xn −yn +xn = lim −yn =
−y0 , logo lim xn − yn = x0 − y0 ∈ D

• P é fechado lim xn .yn = a se um dos limites tende a zero o limite também tende
a zero, pois a outra sequência é limitada, pois tem termos no conjunto limitado
1
A. Seja então lim xn = x0 6= 0, lim xn .yn = lim yn = y0 , daı́ (yn ) converge e o
xn
limite do produto converge para um elemento de P.
xn
• Da mesma maneira que as anteriores, lim = a, (yn ) converge para um
yn
xn
elemento não nulo daı́ lim yn = x0 , portanto o limite do quociente converge
yn
para um elemento de Q.

1.6.1 Teorema de Borel -Lebesgue


[
F Teorema 4 (Borel-Lebesgue). Seja [a, b] ⊂ Ak , onde (Ak )k∈L é uma famı́lia
k∈L
de conjuntos abertos na reta. Então existe uma subfamı́lia finita (Ak )k∈B (onde B
[
é finito) tal que [a, b] ⊂ Ak .
k∈B

ê Demonstração.
[
Se [a, b] ⊂ Ak então para todo t ∈ [a, b] existe s ∈ L tal que t ∈ As , em especial
k∈L
existe existe As tal que a ∈ As .
Definimos
[
C = {x ∈ [a, b] | ∃B ⊂ L finito, com [a, x] ⊂ Ak }
k∈B

C é não vazio, pois a ∈ C, C também é limitado superiormente por b, logo ele possui
supremo ,sup C = t.. Como As (o aberto que contém a) é aberto, então existe δ > 0
tal que a + δ < b e [a, a + δ) ⊂ As , então todos os pontos desse intervalo pertencem
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 47

a C, [a, a + δ) ⊂ C. Se x ∈ C e a ≤ y < x então y ∈ C, pela própria definição do


conjunto. Logo C é um intervalo do tipo [a, t) ou [a, t]. Vale t ∈ C, pois temos t ≤ b,
existe k0 tal que t ∈ Ak0 como Ak0 é aberto, existe ε > 0 tal que (t − ε, t + ε) ⊂ Ak0 e
pela definição de sup, podemos encontrar x ∈ C tal que c − ε < x < t, mas temos
[
[a, x] ⊂ Ak
k∈V

(v finito)logo
[
[a, t] ⊂ A k ∪ A k0
k∈V

implicando que t ∈ C. Devemos ter t = b, pois se fosse t < b, existiria ε > 0 tal que
t + ε < b então pelo último argumento [a, t + ε) ⊂ C, que iria contrariar o fato de
t = sup C. Logo C = [a, b].

F Teorema 5 (Forma geral do teorema de Borel-Lebesgue). Seja F um compacto.


Toda cobertura C de F por meio de abertos admite uma subcobertura finita.

ê Demonstração. Como F é fechado e limitado, existe um intervalo [a, b] tal


que F ⊂ [a, b]. Definimos Ap = R \ F, então Ap é aberto (tal aberto Ap pode possuir
elementos do conjunto [a, b]) e vale
[
[a, b] ⊂ Ak ∪ Ap
k∈L

, pelo teorema anterior existe uma cobertura finita para [a, b], sobre um conjunto
finito V
[
[a, b] ⊂ Ak ∪ Ap
k∈V
[
como Ap não possui pontos de F, concluı́mos que F ⊂ Ak .
k∈V

b Propriedade 94. Se A1 e A2 são compactos então A1 ∪ A2 é compacto.


[
ê Demonstração.[1] Seja uma cobertura Bk = B para A1 ∪ A2 , como A1 ⊂
[ k∈L
Bk e A1 compacto, podemos extrair uma subcobertura finita da cobertura B, A1 ⊂
k∈L
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 48

n
[
Bk , da mesma maneira podemos extrair uma subcobertura finita para A2 , A2 ⊂
k=1
[m m
[ n
[ m
[
Bk , daı́ Bk = Bk ∪ Bk é uma subcobertura finita para a união.
k=n+1 k=1 k=1 k=n+1

b Propriedade 95. Reunião finita de compactos é um conjunto compacto.


n
[
ê Demonstração.[2] Seja A = Ak a reunião, como cada Ak é fechado tem-se
k=1
que A é fechado por ser reunião finita de fechados. Além disso o fato de cada Ak
ser limitado implica que A também é limitado, pois, cada Ak pertence a um intervalo
do tipo [ak , bk ], tomando a < ak ∀ k e b > bk ∀ k tem-se que Ak ⊂ [ak , bk ] ⊂ [a, b]
[n
daı́ A = Ak ⊂ [a, b] então A é limitado. Sendo limitado e fechado segue que A é
k=1
compacto.

b Propriedade 96. A intersecção arbitrária de compactos é um conjunto


compacto.
\
ê Demonstração. Seja A = Ak a intersecção arbitrária de compactos, como
k∈B
cada Ak é fechado a e intersecção arbitrária de fechados é fechado segue que A é
fechado, além disso A é limitado, pois dado t ∈ B, A ⊂ At , sendo A subconjunto de
um conjunto limitado implica que A é limitado. A é fechado e limitado, portanto é
compacto.

1.7 Exercı́cios resolvidos


1. Para cada um dos conjuntos abaixo, encontre o seu interior, o seu fecho e o
conjunto dos pontos de acumulação
1
(a) A = { | n ∈ N}. Por ser um conjunto enumerável seu interior é vazio. O
n
fecho do conjunto é A ∪ {0}, pois 0 é limite dos termos de A. O conjunto
derivado é A 0 = {0}.

(b) A = Q∩[1, 3]. A é enumerável, por isso seu interior é vazio. A = [1, 3] = A 0 .
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 49


[ k k k
(c) [− , ] = A. Podemos provar que A = (−1, 1), escrevemos =
k=1
k+1 k+1 k+1
k+1−1 1
=1− . Daı́ int(A) = A, A = [1, 0] = A 0 .
k+1 k+1
(d) {x ∈ R | x2 > 1} = A. Podemos mostrar que A = (−∞, −1) ∪ (1, ∞), logo
intA = A, A 0 = (−∞, −1] ∪ [1, ∞) = A.

[
(e) R \ Z = A. Podemos escrever A = (n, n + 1), como união de abertos,
n=1
então é um conjunto aberto e vale intA = A, A 0 = A = R.

(f) Z. É enumerável então seu interior é vazio. Seu fecho é ele mesmo , por
ser conjunto fechado. Por ser formado apenas por pontos isolados vale
Z 0 = ∅.

2. Dê exemplos de conjuntos X e Y tais que:

(a) int(X∪Y) 6= (intX)∪(intY). Tome X = [0, 1] e Y = [1, 2], então X∪Y = [0, 2],
int(X ∪ Y) = (0, 2) , (intX) = (0, 1), (intY) = (1, 2) logo (intX) ∪ (intY) = ∅
logo

(b)

(c)

(d)

3.

4.

1.8 Conjuntos de Cantor

3k −1
2
[ 2t − 1 2t
m Definição 23 (Conjunto de Cantor). Seja Ik = ( k , k ) Cada Ik é um
3 3
t=1
conjunto aberto, pois é reunião de conjuntos abertos, observe que 3k − 1 é par logo
divisı́vel por 2, então faz sentido tal termo no limite superior da união. Definimos
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 50

o conjunto de Cantor K por



[
K = [0, 1] \ ( Ik ).
k=1

2t − 1 2t
Os intervalos ( , ) são chamados intervalos omitidos ou removidos do
3k 3k
2t 2t − 1
conjunto de cantor, observe que tais intervalos possuem comprimento k − k =
3 3
1 n
. Os pontos da forma m com n, m naturais m fixo e n variando de 1 até 3m − 1
3k 3
são chamados extremos dos intervalos omitidos.


[
$ Corolário 25. O conjunto de Cantor é compacto. Ele é fechado pois Ik é
k=1
aberto, por ser reunião de abertos e além disso é limitado por estar contido no
intervalo [0, 1].

b Propriedade 97. Extremos de intervalos omitidos não removidos por Ik não


são removidos por Is com s > k.

n
ê Demonstração. Extremos não removidos por Ik são da forma com n
3k
variando de 1 até 3k − 1, agora se s > k então Is não remove extremos da forma
n
com n variando de 1 até 3s − 1. Sendo s = k + p podemos tomar n da forma
3s
3p .m m
n = 3p .m com1 m variando de 1 até 3k − 1 dai esse valores dão origem a k+p = k
3 3
pontos extremos não removidos na k-ésima etapa que não são retirados em remoções
posteriores, então eles continuam no conjunto de Cantor.
Com isso que se algum extremo de Ik ainda não foi removido do conjunto até a
k-ésima remoção, então ele não será mais removido do conjunto.

1 2 2 1
Z Exemplo 25. I = ( , ), e são extremos não removidos por I1 então não
1
3 3 3 3
são removidos por nenhum outro Ik , logo são pontos que pertencem ao conjunto

1
Podemos tomar n dessa forma pois tal n assume valor no máximo quando m = 3k − 1 e daı́
3p (3k − 1) = 3k+p − 3p ≤ 3k+p − 1, que está no intervalo de variação de n
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 51

de Cantor.

Retirados do conjunto por I1


z }| {
1 2 1 4 5 6 7 8
I2 = ( , ) ∪ ( , )∪( , ) ∪( , )
9 9 3 9 9 9 9 9
1 2 7 8
Os extremos , , , e não foram removidos por I2 e não serão removidos
9 9 9 9
4 5
do conjunto por nenhum outro Ik , os extremos e não pertencem ao conjunto
9 9
de cantor, pois foram retirados por I1 .


b Propriedade
[
98. O conjunto A dos extremos dos intervalos removidos Ik
k=1
é enumerável .

ê Demonstração. Para cada k seja Ak o conjunto dos extremos de intervalos


de Ik , Ak é finito e vale

[
A= Ak
k=1

como A é união enumerável de conjuntos enumeráveis(finitos) então A é enumerável.

$ Corolário 26. O conjunto E dos extremos não removidos do conjunto de


cantor é enumerável, pois vale E ⊂ A, sendo E subconjunto de um conjunto
enumerável ele é enumerável.

b Propriedade 99. Ao ser removido o conjunto Ik sobram 2k intervalos fecha-


1
dos não removidos de comprimento k .
3
1
ê Demonstração. Por indução sobre k, para k = 1 sobram 2 intervalos [0, ]
3
2 3
e [ , ]. Suponha que ao retirar Ik sobrem 2k intervalos fechados não removidos,
3 3
vamos mostrar que ao retirar Ik+1 sobram 2k+1 .
1
Dividimos o intervalo [0, 1] em k+1 partes iguais, cada intervalo não remo-
3
vido fica dividido em 3 partes sendo que apenas um deles é removido por Ik+1 =
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 52

3k+1 −1
2
[ 2t − 1 2t 2t − 1
( k+1 , k+1 ), sendo aquele que começa com valor ı́mpar, da forma k+1 , sendo
3 3 3
t=1
assim em cada um dos 2k intervalos sobram 2 intervalos não removidos, no total
1
temos então 2k+1 intervalos não removidos de comprimento k+1 .
3

1
b Propriedade 100. Cada Ik remove 2k−1 intervalos de comprimento
3k
de
[0, 1].

ê Demonstração. Ik+1 remove apenas partes de intervalos não removidos por


Ik , como Ik não remove 2k , cada um desses intervalos não removidos tem sua parte
média removida por Ik+1 , sendo assim tal conjunto remove 2k intervalos de compri-
1
mento k+1 .
3

b Propriedade 101. O conjunto de cantor não possui pontos interiores.

1
ê Demonstração. Cada intervalo Ik remove 2k−1 intervalos de comprimento k .

3
[
Assim Ik remove um comprimento limite de
k=1

X

2k−1 1 X 2k

1 3
= = ( )=1
3k 3 3k 3 3−2
k=1 k=1

então não pode permanecer nenhum intervalo no conjunto de Cantor.

b Propriedade 102. Os elementos do conjunto de Cantor são os números


no intervalo [0, 1] cuja representação na base 3 só contém algarismos 0 e 2, não
possuindo algarismo 1 (Com exceção para números que tem representação finita e
possuem 1 no último algarismo, porém tal número pode ser substituı́do por uma
sequência infinita de algarismos 2)

ê Demonstração.
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 53

$ Corolário 27. O conjunto de Cantor é não enumerável, pois o conjunto das


sequências com dois elementos 0, 2 é não enumerável .

Z Exemplo 26. Quais são os números da forma n1 com 2 ≤ m ≤ 10, m natural,


que pertencem ao conjunto de Cantor?.
Os números que devemos analisar são

1 1 1 1 1 1 1 1 1
, , , , , , , , .
2 3 4 5 6 7 8 9 10
1 1
Já sabemos de antemão que e são elementos conjunto de Cantor pois são
3 9
extremos de intervalos que permanecem no conjunto após as remoções. Sabemos
1
que , não pertence ao conjunto de Cantor , pois ele pertence a um intervalo
2
1 2 1
removido ( , ). pertence ao conjunto de cantor pois temos sua representação
3 3 4
como
X∞
2 X

2 2 1 1
0, 02 = = = 1
=
3 2k 9 k 91− 9 4
k=1 k=1

lembrando que um traço em cima da parte decimal significa que tal parte se repete
na representação.
1 1 1 1
, , e não pertencem ao conjunto de Cantor , pois são elementos perten-
5 6 7 8
1 2
centes ao intervalo removido ( , ).
9 9
1
Agora vemos que pertence ao conjunto de cantor, pois ele pode ser repre-
10
sentado por

X

2 X∞
2 1 X 2

1 X 2

1 81 1 81 6 2 8 1
0, 0022 = + = + = + = + = = .
3 4k−1 34k 27 81k 81 81k 27 80 81 80 80 80 80 10
k=1 k=1 k=0 k=0

1 1 1 1
Então os números que pertencem ao conjunto de cantor são, , e . Os
3 4 9 10
1 1 1 1 1
números que não pertencem ao conjunto de cantor são , , , , .
2 5 6 7 8
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 54

Para determinar a expressão de um número entre 0 e 1 na base 3, pode-se usar


esse processo que mostramos abaixo por meio de um exemplo

1 X xk

=
2 3k
k=1

multiplicamos por 3
3 1 X xk ∞
= 1 + = x1 + 3
2 2 3k
k=2

logo x1 = 1, continuamos o processo para encontrar x2

1 X xk

=3
2 3k
k=2

multiplicamos por 3
3 1 X xk ∞
= 1 + = x2 + 9
2 2 3k
k=3

1
daı́ x2 = 1, nesse caso concluı́mos que = 0, 11 · · · , e concluı́mos de outra maneira
2
que ele não pertence ao conjunto de Cantor, por possuir algarismos 1 .

b Propriedade 103. Os extremos de intervalos removidos que pertencem ao


conjunto de Cantor, possuem representação finita na base 3. Da mesma maneira
se um número possui representação finita na base 3 e pertence ao conjunto de
Cantor então ele é extremo de um intervalo omitido.

ê Demonstração. Os extremos de intervalos removidos possuem representação


t Xn
xk
finita na base 3 pois são da forma s que pode ser expandido em com xk 0
3 3k
k=1
ou 2, que dá a sua representação na base 3.
Suponha agora que um número possui representação finita na base 3 e pertence
ao conjunto de Cantor, então ele é da forma

X
n
xk X
n
xk 3n−k 1 X
n
m
= = x k 3 n−k
=
3k 3n 3n 3n
k=1 k=1
|k=1 {z }
=m

então ele é extremo de um intervalo removido.


CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 55

b Propriedade 104. Os extremos dos intervalos removidos que pertencem ao


conjunto de Cantor são densos nele.

X

xk
ê Demonstração. Os elementos do conjunto de Cantor são da forma ,
3k
k=1
X
n
xk
onde cada xk assume valor 0 ou 2, como cada sn = nessas condições é extremo
3k
k=1
X

xk
de intervalo removido, segue que é limite de pontos de extremos, então tal
3k
k=1
conjunto é denso no conjunto de Cantor.

b Propriedade 105. Seja a ∈ (0, 1] então existem x > y ∈ K tais que y − x = a.

m
ê Demonstração. Dado a = n , existem x, y ∈ K tais que x − y = a, pois se
3
m
a = n é extremo de intervalo removido que pertence ao conjunto de Cantor, então
3
Xs
xk
tomamos y = 0 ∈ K e x = a. Caso contrário a = , podemos sempre arranjar
3k
k=1
y finito formado por algarismos xk sendo 0 ou 2 (ou no máximo o último algarismo
sendo 1) tal que a soma y + a também seja elemento do conjunto de cantor
por exemplo a = 0, 1212, tomamos y de forma conveniente para que a soma seja
um elemento do conjunto de cantor, escolhendo os algarismos que devem ser soma-
dos, nesse caso podemos tomar y = 0, 0020. (Falta provar isso de forma rigorosa!!!)
Definimos agora o conjunto D = {|x − y|, x, y ∈ K}, tal conjunto é limitado, pois
vale |x − y| ≤ |x| + |y| ≤ 1 + 1 = 2 por x e y serem elementos do conjunto de Cantor que
é limitado. Vamos agora mostrar que tal conjunto é fechado, seja (zn ) uma sequência
convergente nesse conjunto, vamos mostrar que o limite da sequência pertence ao
conjunto, lim zn = lim |xn − yn | = t ∈ D. Como o conjunto de Cantor é limitado
as sequências (xn ) e (yn ) são limitadas, logo possuem subsequências convergentes,
passando para estas subsequência denotando ainda por (xn ), (yn ) elas convergem
para elementos x0 , y0 no conjunto de cantor (pelo fato de tal conjunto ser fechado),
daı́ temos
lim zn = lim |xn − yn | = |x0 − y0 | = t

logo, existem x0 , y0 ∈ K tais que |x0 − y0 | = t limite de uma sequência arbitrária


m
de pontos de D, portanto D é fechado. O conjunto das frações do tipo a = n (que
3
CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA NA RETA 56

são elementos de D) é denso em [0, 1], disso seque também que D é denso [0, 1],
sendo conjunto fechado concluı́mos que D = [0, 1] logo para qualquer valor a ∈ (0, 1]
existem x, y no conjunto de Cantor, tais que y − x = a.

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