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5ª Semana Acadêmica de Filosofia

A CONSTRUÇÃO DO SUJEITO SOCIAL EM AXEL HONNETH:


eticidade pós-tradicional, reconhecimento cultural e liberdade social

Autores: Mestrando Elisandro


1
Desmarest de Souza ; Prof. Dr. Fernando
Danner (Orientador)2 e Prof Dr. Leno
Francisco Danner (Coorientador)3.

a) Introdução: O presente projeto de pesquisa, intitulado “A construção do


sujeito social em Axel Honneth: eticidade pós-tradicional, reconhecimento
cultural e liberdade social”, tem por objetivo desenvolver a relação entre
eticidade social, reconhecimento cultural e liberdade social em termos de
compreensão e de dinamização das sociedades democráticas, o que aponta
para a correlação inextricável entre socialização e subjetivação como um dos
eixos de análise básico do pensamento político contemporâneo e de Axel
Honneth em particular. Retomando o conceito de eticidade de Hegel e
elaborando-o desde a ideia de condição pós-tradicional própria ao pensamento
contemporâneo, Honneth quer mostrar que o desenvolvimento das sociedades
democráticas hodiernas, calcadas em uma perspectiva cultural e institucional
racionalizada, secularizada e profana, levou à centralidade das diferenças ou
da diversidade como núcleo antropológico básico das sociedades
contemporâneas e, portanto, eliminou a metafísica – aqui, perspectivas étnico-
raciais ou fundamentações essencialistas e naturalizadas – como fundamento
da democracia. Nesse sentido, Honneth procura insistir nas noções de
reconhecimento, de liberdade social e de Estado democrático de direito profano
como núcleos inultrapassáveis do pluralismo contemporâneo, que apontam
exatamente para o fato de que a construção do sujeito social, reflexivo e
autônomo, mas também integrado política e culturalmente na sociedade
democrática, depende de processos de socialização e de arranjos institucionais
capazes de (a) levar em conta a pluralidade sociocultural e de afirmá-la como
contexto de uma democracia, (b) garantir reflexividade e autonomia individuais,
(c) realizar direitos sociais e processos de reconhecimento amplos e,
finalmente, (d) fomentar uma cultura democrática que integre liberdade social e
cooperação sociopolítica. Em última instância, portanto, este projeto de
pesquisa desenvolverá a proposta de Honneth para a crise da democracia
contemporânea: em um contexto de privatização do espaço público, de retirada
do Estado relativamente à promoção do pluralismo e do civismo democráticos
e de ênfase na formação técnica como o núcleo da educação pública, a
reafirmação da liberdade social, isto é, da correlação de liberdade, igualdade
e/como reconhecimento e participação sociais, permite colocar a teoria política
1
Graduado em Filosofia (2019) e Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da
Fundação Universidade Federal de Rondônia. E-mail: elisandrosouza@gmail.com.
2
Doutorado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil (2011).
Professor Universitário da Fundação Universidade Federal de Rondônia, Brasil.
3
Doutorado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil (2011).
Professor Adjunto IV da Universidade Federal de Rondônia, Brasil.
democrática como uma perspectiva antifacista que promove o pluralismo, a
liberdade ampla, o reconhecimento e a justiça comuns, tudo isso por meio da
socialização democrática. Desde Sofrimento por indeterminação até Direito da
Liberdade, passando por Luta por Reconhecimento e Patologias da Liberdade,
Honneth delineia como sua problemática principal as lutas de grupos sociais
pelo reconhecimento. Por sua vez, ele irá mostrar que a luta, para além da
conquista da distribuição igualitária de renda, está assentada nas bandeiras do
respeito ao indivíduo e de afirmação dignidade da pessoa humana, bem como
no reconhecimento cultural ampliado. Em suas análises da sociedade de nossa
época, Honneth busca refletir sobre os fenômenos culturais e econômicos
próprios às sociedades democráticas, defendendo o argumento de que temos
que aprender a respeitar a singularidade de cada indivíduo e sua liberdade
individual; entretanto, como condição para isso, ele afirma que, para
alcançarmos e consolidarmos uma sociedade verdadeiramente normativa, ou
seja, marcada por um ideal de liberdade, justiça e cidadania, o sujeito social
deve procurar se pautar na liberdade social, desenvolvendo-a efetivamente.
Desta forma, é imprescindível que os sujeitos democráticos sejam capazes de
se reconhecer em si mesmo no outro em suas singularidades e ao mesmo
tempo naquilo que têm em comum, o que leva para o centro da teoria política a
socialização democrática, marcada pela igualdade, pelo reconhecimento e pela
liberdade. Com base nessa delimitação mínima, o presente projeto de pesquisa
apresenta os seguintes questionamentos orientadores. b) Objetivo Geral:
pensar a correlação de eticidade pós-tradicional, reconhecimento cultural e
liberdade social em Axel Honneth, defendendo que sua teoria do
reconhecimento, ao partir da ideia de que as sociedades democráticas
contemporâneas são marcadas pela constituição de uma cultura e de
instituições independentes de fundamentos essencialistas e naturalizados
(eticidade póstradicional), colocam como cerne de seus processos de
socialização e de subjetivação, bem como da consequente organização das
instituições, as noções de reconhecimento cultural e de liberdade social, isto é,
a profunda correlação e dependência de socialização e de subjetivação, em
que a vinculação social é o núcleo basilar não apenas para a construção das
identidades particulares, mas também e como condição disso para a afirmação
e a promoção do pluralismo, com a conseqüente solidificação da
independência e da sobreposição do Estado democrático de direito
relativamente às comunidades morais particulares. c) Metodologia: o método
utilizado é analítico-interpretativo das principiais obras de Axel Honneth,
começando com Sofrimento de Indeterminação: Uma Reatualização da
Filosofia do Direito de Hegel; Luta por Reconhecimento: A Gramática Moral dos
Conflitos Sociais; O Direito da Liberdade e Patologia de la libertad. Além disso,
examinaremos livros e artigos de seus comentadores, de modo a melhor
compreender o alcance e os limites da teoria crítica honnethiana. d)
Resultados: com efeito, pela leitura das obras Luta por Reconhecimento,
Sofrimento de Indeterminação, A ideia de Socialismo e principalmente da obra
O Direito da Liberdade procurei, em um primeiro momento, analisar o
desenvolvimento da Teoria Critica da Justiça desenvolvida por Honneth,
especialmente a grande influência exercida pela teoria social de Georg W. F.
Hegel (1770-1831) em suas intuições e teses essenciais e, em um segundo
momento, mostrar quais foram as principais reatualizações da teoria crítica
empreendidos pelo filósofo frankfurtiano. Nestas obras, o nosso autor procura
mostrar a evolução da luta por reconhecimento no contexto social moderno,
uma vez que as práticas de valores ideais levam à formação da identidade do
sujeito e, além disso, à construção de uma sociedade mais solidária, que, por
sua vez, ao mesmo tempo em que se forma um sujeito social autônomo em
busca do bem-estar da comunidade, se preocupa com o bem-comum dos seus
membros. A teoria crítica de Honneth não está somente preocupada com a
distribuição de renda, ela procura superar as desigualdades sociais, bem como
se preocupar com a dignidade da pessoa e o respeito do individuo no contexto
social. Iremos primeiramente ver os conceitos de liberdade individual a saber:
liberdade negativa e a liberdade reflexiva, que são as liberdades monológicas
onde o indivíduo discute consigo mesmo o que é melhor para ele, sem
interferências internas ou externas. No segundo momento iremos analisar a
construção do sujeito social nas relações sociais de intersubjetividade e a
conquista da liberdade social. Em sua reconstrução da teoria critíca, Honneth
procura mostrar, nas condições sociais da existência das liberdades individuais,
representadas pela liberdade negativa e pela liberdade reflexiva, que o
indivíduo tem sim sua vontade e ela deve ser realizada; entretanto, essas
liberdades são superadas através da eticidade e do reconhecimento
intersubjetivo, na tomada de consciência de que esse indivíduo não está só no
mundo, e sim inserido em um contexto social mais amplo e complexo, no qual
ele participa e tem direitos e deveres que precisam ser respeitados. Este tipo
de liberdade é definido como liberdade social ou vontade coletiva. e)
Considerações finais: os escritos de Honneth se propõem a reatualizar a
teoria social de Hegel, mostrando a evolução de sua teoria crítica através da
luta pelo reconhecimento, no qual o indivíduo tende a reconhecer que o outro
possui aspirações à realização de suas vontades tal como ele. Nas esferas do
reconhecimento intersubjetivo, Honneth delineia a evolução do
reconhecimento, primeiramente, na esfera do amor e da amizade,
representada tanto pelas necessidades como pelas carências do indivíduo, de
forma que, através do reconhecimento intersubjetivo, ele possa desenvolver
uma relação de autoconfiança; em segundo lugar, pela sua particularidade no
direito, Honneth procura mostrar que, através das relações de mercado, a
pessoa pode evoluir e desenvolver suas habilidades, alcançando, assim, sua
autorrealização plena; a terceira e última esfera do reconhecimento
intersubjetivo é a esfera da solidariedade; pelo sua característica de
universalidade, o sujeito adquire sua autodeterminação. Em sua reconstrução
da teoria critíca, Honneth procura mostrar, nas condições sociais da existência
das liberdades individuais, representadas pela liberdade negativa e pela
liberdade reflexiva, que o indivíduo tem sim sua vontade e ela deve ser
realizada; entretanto, essas liberdades são superadas através da eticidade e
do reconhecimento intersubjetivo, na tomada de consciência de que esse
indivíduo não está só no mundo, e sim inserido em um contexto social mais
amplo e complexo, no qual ele participa e tem direitos e deveres que precisam
ser respeitados. Este tipo de liberdade é definido como liberdade social ou
vontade coletiva. Honneth mostra que a teoria crítica da sociedade está
preocupada com a superação das patologias sociais próprias de nossa
modernidade política, social, cultural, econômica; além disso, ele procura
mostrar como o reconhecimento intersubjetivo individual e social pode mudar a
forma como cada um trata seus pares, procurando, através de uma concepção
de justiça normativa, respeitar a liberdade de seus indivíduos, podendo, assim,
formar uma sociedade com mais dignidade e respeito à pessoa humana, de
modo que todos possam exercer seus direitos sociais de uma forma plena.
Nesse sentido, aos seus olhos, em cada esfera social há uma forma de
reconhecimento intersubjetivo de onde os indivíduos vão suprindo suas
carências. Em suma, a liberdade, a construção do sujeito social, o respeito da
particularidade da pessoa de direto, a universalidade do sujeito e a sua
autonomia – eis o que está no núcleo da teoria crítica do reconhecimento de
Honneth. Nas nossas sociedade liberais contemporâneas, a liberdade só
adquire legitimidade na medida em que é construída de forma dialógica; para
além do bem-estar do indivíduo, é a autorrealização da sociedade, através de
sua autodeterminação, que é o cerne da ação e da reflexão em termos de
justiça social, conclui Honneth.
Palvras-chave: Autonomia; Liberdade; Reconhecimento.

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