Você está na página 1de 4

“...— necessitamos renovar ideais, imprimir novo impulso à nossa voliçâo enfraquecida.

O passado
vai longe e faz-se imprescindível arregimentar tôdas as fôrças para as lutas que vêm perto. A
providência misericordiosa do Todo-Poderoso nos concede ensanchas de novas experiências na Terra.
Meditemos em nossas quedas dolorosas no redemoinho das paixões do mundo e firmemo-nos nos
santos propósitos de triunfo. Quantos anos temos perdido em amaríssimos sofrimentos, no plano dos
remôrsos devastadores?... Recordemos as angústias da via expiatória e agradeçamos a Deus o ensejo
de voltar às tarefas purificadoras. Esqueçamos a vaidade que nos envileceu o coração; a ambição
e o egoísmo que nos torturam a alma ingrata, e preparemo-nos para as experiências justas e
necessárias.” (Trecho do livro Renúncia, cap. 1 da primeira parte)

O trecho nos oferece as palavras de uma voz do mundo espiritual, um espírito que sabia de suas falhas
passadas e olhava para frente, com dor mas também com esperança.

Em geral, quando pensamos na vida no mundo espiritual, pensamos para onde iremos quando
desencarnarmos, no entanto, o texto nos convida a refletir um pouco sobre o ontem. Quem éramos¿
Quais as faltas que carregamos em nosso íntimo, em nossa consciência¿ Qual a bagagem que nosso
espírito imortal traz¿

Hoje, temos a benção do esquecimento, estando encarnados, porém, o espírito que proferiu estas
palavras estava desencarnado, lembrava-se de que outrora havia andado em desalinho com as leis
divinas e isso o fazia a conclamar a todos os que o ouviam para o ato de preparar-se, eis que a
próxima vida seria de “experiências justas e necessárias”.

No livro Religião dos Espíritos, Emmanuel nos oferece um rico texto, explicando-nos quanto à
questão do esquecimento.

Religião dos Espíritos — Emmanuel

Esquecimento e reencarnação

Examinando o esquecimento temporário do pretérito, no campo físico, importa considerar cada


existência por estágio de serviço em que a alma readquire, no mundo, o aprendizado que lhe
compete.

Surgindo semelhante período, entre o berço que lhe configura o início e o túmulo que lhe demarca a
cessação, é justo aceitar-lhe o caráter acidental, não obstante se lhe reconheça a vinculação à vida
eterna.

É forçoso, então, ponderar o impositivo de recurso e aproveitamento, tanto quanto, nas aplicações
da força elétrica, é preciso atender ao problema de carga e condução.

Encetando uma nova existência corpórea, para determinado efeito, a criatura recebe, desse modo,
implementos cerebrais completamente novos, no domínio das energias físicas, e, para que se lhe
adormeça a memória, funciona a hipnose natural como recurso básico, de vez que, em muitas
ocasiões, dorme em pesada letargia, muito tempo antes de acolher-se ao abrigo materno. Na
melhor das hipóteses, quando desfruta grande atividade mental nas esferas superiores, só é
compelida ao sono, relativamente profundo, enquanto perdure a vida fetal. Em ambos os casos, há
prostração psíquica nos primeiros sete anos de tenra instrumentação fisiológica dos encarnados,
tempo em que se lhes reaviva a experiência terrestre.
Temos, assim, mais ou menos três mil dias de sono induzido ou hipnose terapêutica, a
estabelecerem enormes alterações nos veículos de exteriorização do Espírito, as quais, acrescidas
às consequências dos fenômenos naturais de restringimento do corpo espiritual, no refúgio uterino,
motivam o entorpecimento das recordações do passado, para que se alivie a mente na direção de
novas conquistas. E, como todo esse tempo é ocupado em prover-se a criança de novos conceitos e
pensamentos acerca de si própria, é compreensível que toda criatura sobrenade na adolescência,
como alguém que fosse longamente hipnotizado para fins edificantes, acordando, gradativamente, na
situação transformada em que a vida lhe propõe a continuidade do serviço devido à regeneração ou
à evolução clara e simples.

E isso, na essência, é o que verdadeiramente acontece, porque, pouco a pouco, o Espírito


reencarnado retoma a herança de si mesmo, na estrutura psicológica do destino, reavendo o
patrimônio das realizações e das dívidas que acumulou, a se lhe regravarem no ser, em forma de
tendências inatas, e reencontrando as pessoas e as circunstâncias, as simpatias e as aversões, as
vantagens e as dificuldades, com as quais se ache afinizado ou comprometido.

Transfigurou-se, então, a ribalta, mas a peça continua.

A moldura social ou doméstica, muitas vezes, é diferente, mas, no quadro do trabalho e da luta, a
consciência é a mesma, com a obrigação de aprimorar-se, ante a bênção de Deus, para a luz da
imortalidade.

Emmannuel nos explica que, em nova vida corpórea, nosso passado fica “entorpecido”, como que
paralisado, adormecido, com o fim de aliviar a mente na direção de novas conquistas.

Necessitamos desta trégua interior.

Nossas culpas e faltas passadas se acumulam em nosso mundo íntimo e não raro, no plano espiritual,
nos causam profundas dores e arrependimentos. E esta “pausa” é de refazimento, de alívio, a fim de
que, um pouco mais equilibrados, possamos buscar nesta nova oportunidade melhores rumos,
melhores atitudes, melhores vivências.

Até pouco tempo, não tínhamos um conhecimento tão profundo de como se dava esse processo de ir e
vir. A doutrina espírita vem inaugurar uma nova era para a humanidade, apresenta-nos a verdade das
diversas vidas, ensinando-nos que estamos aqui com um propósito de trabalho e aprimoramento.

Muitos vivem, ainda, com o sentimento de culpa muito forte, atravessam a existência sem usufruir da
benção do esquecimento, mantendo a postura sombria e taciturna de outrora.

Somos imperfeitos. Falhamos, sem dúvida alguma. Deus nos fez assim e Ele nunca nos pediu
perfeição, o que Ele nos pede é trabalho, é atitude, é seguir em frente sempre, buscando a cada dia
melhorar-se no bem e no amor. E até, por misericórdia, nos oferece estas “pausas” em nossas dores e
angústias, que chamamos de encarnação.

Sob esta perspectiva precisamos, então, olhar para a nossa existência com um largo sorriso e com
imensa gratidão. Como é bom estar vivo! Como é bom acordar a cada manhã com novas
oportunidades!

Há quem anseie pela vida no mundo espiritual. Certamente, espíritos em condição mais adiantada
sentem saudades de casa e dos que lhe são afim. No entanto, para nós outros, que ainda carecemos das
provas e expiações para aprimorar nosso espírito orgulhoso e egoísta, a encarnação é tal qual um
oases em meio ao deserto.

Emmanuel nos oferece importante lição sobre esta questão.

Escrínio de luz — Emmanuel

Ontem no hoje

Não rogues prodígios à memória cerebral, a fim de que penetres o domínio do passado, de modo a
conhecer a bagagem das próprias dívidas.

Recordar pormenores das defecções e deserções a que empenhávamos ontem os melhores recursos
da vida, seria encarcerar-nos hoje em feridas e sombras, sem capacidade de esperança e de
movimento.

Ainda assim, nas linhas do olvido temporário, em que a Misericórdia do Senhor te situa,
valorizando-te a oportunidade de recapitular e redimir, pagar e reaprender, podes refletir no
pretérito, baseando ilações e raciocínios nas circunstâncias que te rodeiam.

O berço é marco de reinício.

O templo doméstico é oficina salvadora em que retomamos o trabalho interrompido e as lutas que
nos cercam falam sem palavras da natureza de nossos erros e compromissos.

A enfermidade no corpo físico referir-se-á a ruinosos excessos que precisamos retificar, e a


inibição da inteligência, na dificuldade e no pauperismo, é lembrança do abuso intelectual que nos
reclama o serviço da corrigenda.

A aflição na equipe familiar reporta-se aos sacrifícios edificantes que devemos aos desafetos
antigos; e os impedimentos no trabalho profissional recordam nossa desídia e relaxamento de
outrora, solicitando-nos tolerância e fidelidade na obrigação a cumprir.

A dor prolongada é advertência contra nossas distrações sistemáticas e a incompreensão social,


quase sempre, é o caminho em que se nos regenerará por intermédio de lágrimas sucessivas, a
consciência culpada.

Na tela das circunstâncias de agora, é possível auscultar as causas de nossas amarguras e


expiações, no presente, bastando que o nosso espírito se incline com humildade ao entendimento da
Lei.

Recordemos o Evangelho do Cristo quando nos diz que “o amor cobre a multidão de nossas
faltas” e, servindo aos outros, na lavoura do progresso e do aperfeiçoamento incessante, baniremos
hoje as trevas de ontem para que o nosso amanhã fulgure, sublime, em sublime vitória de paz e luz.

Como diz a canção: “seja o amor nossa bandeira de luz...”, eis o convite que a lição nos oferece mais
uma vez. Caminhar com a luz do amor do Cristo a nos guiar, amor a Deus, ao próximo e a si mesmo,
permitindo-nos encontrar nesta jornada a paz do dever cumprida, a serenidade para as provas e
expiações que necessitamos e a esperança de tudo o que nos acontece está sob a égide de um Deus
amoroso e misericordioso.
Deixemos a culpa e a dor de outrora anestesiados por ora, estamos sob a guarda de espíritos amorosos
que torcem para o nosso êxito e trabalham incansavelmente pelo nosso êxito. Usemos as ferramentas
do trabalho no bem aproveitando esta vida por precioso presente, concedido por Deus, Nosso Pai.

Um fraterno abraço e até o próximo estudo.

Campo Grande – MS, novembro de 2019.

Candice Günther

Você também pode gostar