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INSTITUTO FEDERAL GOIANO – CAMPUS CERES

LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS


FRANCIELE DINIZ DE JESUS

ANIMAIS SILVESTRES MANTIDOS COMO ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO NO


MUNICÍPIO DE CERES, GO

CERES-GO
2016
FRANCIELE DINIZ DE JESUS

ANIMAIS SILVESTRES MANTIDOS COMO ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO NO


MUNICÍPIO DE CERES, GO

Trabalho de curso apresentado ao curso


de Licenciatura em Ciências Biológicas do
Instituto Federal Goiano – Campus Ceres,
como requisito parcial para a obtenção do
título de licenciada em Ciências Biológicas,
sob orientação da professora Dra. Heloisa
Baleroni Rodrigues de Godoy

CERES-GO

2016
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho de conclusão da


graduação aos meus pais, irmão, namorado,
familiares, e amigos que de muitas formas me
incentivaram e ajudaram para que fosse
possível a concretização deste trabalho.
AGRADECIMENTOS

Á Deus que com a sua imensa bondade me abençoou sempre e me fez forte
em todos os momentos.
Agradeço aos meus avôs, Francisco (in memoriam) e Antônio que mesmo
sendo analfabetos sempre me incentivaram a estudar, esse incentivo não era apenas
por palavras, mas com expressões de felicidades de quando eu lia ou escrevia algo e
mostrava para eles.
Agradeço aos meus pais, Joaquim e Abadia, por estarem sempre do meu lado
me mostrando que com determinação e fé sempre alcançaremos os nossos sonhos
sejam eles quais forem.
Agradeço ao meu irmão Tiago e a minha prima/irmã Karol que sempre me
incentivaram a buscar mais conhecimento e me tornar uma pessoa melhor.
Agradeço ao meu namorado Everthon que com toda certeza foi o que mais
sofreu com os meus estresses da Faculdade, mas que sempre permaneceu do meu
lado, com suas palavras de otimismo.
Agradeço aos meus colegas de classe e com certeza futuros excelentes
profissionais.
Não poderia deixar de agradecer as minhas Marias, Bianca e Tiessa que nos
momentos de tristezas e alegrias da Faculdade estiveram do meu lado me apoiando
e incentivando a ser melhor sempre.
Agradeço também aos amigos que a Faculdade me deu, Cheila, Cintia,
Willians, Ramon e Milton, obrigado por tudo.
Agradeço aos professores que desempenharam com dedicação as aulas
ministradas.
Agradeço à minha querida e admirável orientadora, Heloisa Baleroni Rodrigues
de Godoy, que com paciência e uma palavra de apoio sempre me apoiou e confiou no
meu potencial.
"Precisamos dar um sentido humano às
nossas construções. E, quando o amor o
dinheiro, o sucesso nos estiver deixando
cegos, saibamos fazer pausas para olhar
os lírios do campo e as aves do céu(...)"

Érico Veríssimo
RESUMO

Informações relativas à manutenção de animais silvestres como animais de


estimação, os chamados “pets” nas residências brasileiras, é pouco frequente, o que
pode remeter à pequena importância que é dada a este tipo de problemática, que é
oriunda do comércio ilegal de animais silvestres. Buscando-se abordar a temática do
comércio ilegal de animais silvestres, foi aplicado um questionário em duzentas
residências no município de Ceres-GO sorteadas aleatoriamente buscando-se obter
informações sobre a frequência e as condições físicas e de bem-estar dos espécimes
de animais da fauna silvestre brasileira mantidos em cativeiros nas residências no
município. Após o levantamento, realizou-se um projeto de Educação Ambiental em
três escolas de ensino fundamental (6º ao 9º ano) da rede pública estadual. A
intervenção foi realizada por meio de palestras, vídeos e um jogo de tabuleiro
aplicados aos alunos, buscando levar informações sobre o tema, que é raramente
discutido pela sociedade brasileira e que por ser alheia ao fato, apenas contribui em
permitir que seja disseminado a cada dia. O que mais influência a procura e a venda
de animais silvestres para serem mantidos como animais “pets” no município de Ceres
– GO é a baixa renda e a falta de escolaridade. Foram encontrados apenas seis
espécimes da fauna brasileira nas residências amostradas e os animais encontrados
não tiveram mantidas as condições de bem-estar asseguradas, já que estavam
expostos a uma dieta de baixo valor nutricional, limitação de espaço para locomoção,
conforto térmico inadequado e isolamento. Nas palestras realizadas, o que mais
impactou os alunos foram os relatos de maus – tratos que os animais sofrem durante
todo o processo, que engloba captura, transporte e destinação. Foi relatado pela
maioria dos alunos o desconhecimento sobre a temática, o que evidencia o quanto é
importante que as escolas trabalhem educação ambiental para que se possa
conscientizar a população sobre temas poucos mencionados na sociedade.
Palavras-chave: Biodiversidade. Bem-estar animal. Conscientização. Pets
ABSTRACT

Information concerning the maintenance of wild animals as pets in the brazilian


residences, is infrequent, which may refer to the little importance given to this type of
problem, which is derived from the illegal wildlife trade. Seeking to address this issue,
the question of illegal trade of wild animals, a questionnaire was applied in two hundred
homes in Ceres-GO municipality, randomly selected, seeking to obtain information on
the frequency and physical condition and well-being of the specimens animals of the
Brazilian wildlife kept in captivity in homes. After this survey, there was an
Environmental Education project in primary schools (6th to 9th grade) of the public
schools. The intervention was conducted through lectures, videos and a board game
applied to students, seeking to bring information on the subject that is rarely discussed
by brazilian society and to be importless to the fact only contributes allow it to be
disseminated to each day. What more influence demand and sale of wild animals to
be kept like pets in Ceres-GO municipality is the low income and lack of education.
They found only six specimens of brazilian fauna in the sampled residences and
animals found not have kept the welfare conditions guaranteed, since they were
exposed to a low nutritional value diet, limiting room for locomotion, inadequate thermal
comfort and isolation. Held talks in three state’s schools of primary education II (6th to
9th grade), where lectures quite caught the attention of students, mainly the
mistreatment that animals suffer. It is clear how important it is that schools work
environmental education so that population can raise awareness about the few issues
mentioned in society.
Keywords: Biodiversity. Animal welfare. Awareness. Pets
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: As Rotas do Tráfico de Animais Silvestres no Brasil ....................................15


Figura 2. Papagaio - Moleiro (Amazona farinosa) ......................................................26

Figura 3. Papagaio-Verdadeiro brasileiro (Amazona aestiva) ....................................26


Figura 4. Jabuti Piranga (Geochelone carbonaria) .....................................................27

Figura 5. Jabuti Piranga (Geochelone carbonaria) .....................................................28


Figura 6. Palestra .......................................................................................................30
Figura 7.Jogo de Tabuleiro .........................................................................................30
Figura 8. Questionário ........................................................................................................31
SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO .................................................................................................. 10

2.OBJETIVOS ...................................................................................................... 12

3. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................ 13

3.1 Legislação .............................................................................................. 13

3.2 Rotas do Tráfico de Animais .................................................................. 14

3.3 Fiscalização ............................................................................................ 16

3.4 Animais silvestres usados como domésticos ......................................... 17

3.5 Bem estar ............................................................................................... 18

3.6 Educação ambiental ............................................................................... 19

4. MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................... 21

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................... 23

6.CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 32

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 33

APÊNDICES
1. INTRODUÇÃO

De acordo com o artigo 1º da Lei nº 5.197, de 3 de janeiro de 1967,

“Os animais de quaisquer espécies em qualquer fase do seu


desenvolvimento e que vivem naturalmente fora do cativeiro, constituindo a
fauna silvestre, bem como seus ninhos, abrigos e criadouros naturais são
propriedades do Estado, sendo proibida a sua utilização, perseguição,
destruição, caça ou apanha” (BRASIL, 1967).

O Brasil é considerado como um dos países de maior diversidade do mundo,


calculando-se que tenha 8.200 espécies descritas de vertebrados, sendo 713
mamíferos, 1.826 aves, 721 répteis, 875 anfíbios e aproximadamente 4.100 peixes
(2.800 peixes continentais e 1.300 marinhos) (PERES et al., 2011).

O Brasil é um pais rico em espécies de animais, tendo aproximadamente 10%


das espécies de todo o planeta, e esse abastamento faz com que a população imagine
que essa riqueza não irá acabar, e os mesmos caçam predatoriamente, tendo o tráfico
de animais uma das principais atividades predatórias (PEREIRA 2002).

O comércio ilegal de animais silvestres é a terceira atividade ilegal que


movimenta em torno de US$ 10 bilhões por ano em todo o mundo, sendo superada
apenas pelo narcotráfico e o tráfico de armas (GOMES e OLIVEIRA, 2012).

No Brasil, a caça e o comércio predatório e indiscriminado da fauna silvestre


são práticas antigas, que passaram a ser ilegais no ano de 1967, pois até então não
havia legislação que proibisse essas atividades (RENCTAS, 2003). No entanto, não
foram dadas alternativas econômicas às pessoas que até então viviam desse
comércio e que da noite para o dia caíram na marginalidade. Como consequência,
surgiu um comércio clandestino (MARQUES e MENEGHETI, 1982). Começa a partir
daí a história do comércio ilegal da fauna silvestre brasileira (RENCTAS, 2003).

Os países em desenvolvimento são os principais fornecedores de vida silvestre,


com parte de suas populações sobrevivendo dessa atividade (HEMLEY e FULLER,
1994), entre estes, o Brasil. A maioria dos animais silvestres comercializados
ilegalmente é proveniente das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, sendo
escoada para as regiões Sul e Sudeste, pelas rodovias federais (RENCTAS, 1999).

10
Segundo DESTRO et al. (2012), uma das recomendações para diminuir os
impactos do comércio ilegal, inclui a educação em escala comunitária e o
fortalecimento dos moradores locais para a valorização da vida silvestre. Neste
contexto, a inserção de ações educativas nas escolas valendo-se da Educação
Ambiental tenta alcançar um público que é passível de mudanças.

Poucos são os dados disponíveis sobre o número de animais usados como


animais de estimação pela população brasileira, assim como no Estado de Goiás,
citando-se BASTOS et al., (2008) e PETTER (2012). Pretende-se com este trabalho
obter informações relevantes sobre o número e espécies de animais silvestres usados
como animais de estimação, assim como as situações em que esses animais se
encontram, aumentando as informações sobre esta prática que com certeza reflete
culturalmente a visão da nossa população quanto aos assuntos ambientais e iniciar
um programa de educação ambiental nas escolas buscando-se atingir um público que
poderá ser disseminador de mudanças comportamentais nas próximas gerações.

11
2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral:

Realizar o levantamento da população de animais silvestres usados como


animais de estimação no município de Ceres, GO.

2.2 Objetivos Específicos:

 Realizar o levantamento da posse de animais silvestres como animais de


estimação nas residências do município de Ceres, GO;
 Identificar as espécies silvestres mantidas como animais de estimação nas
residências do município de Ceres, GO;
 Identificar o perfil socioeconômico dos mantenedores de espécies silvestres
nas residências do município de Ceres, GO;
 Averiguar as condições de cativeiro em que são mantidos os espécimes nas
residências;
 Relacionar as condições de cativeiro com as necessidades de bem-estar
das espécies mantidas como animais de estimação nas residências;
 Realizar ações de Educação Ambiental nas escolas da rede de ensino
pública visando a conscientização sobre a problemática do comércio ilegal.

12
3.REVISÃO DE LITERATURA

Mundialmente, o Brasil é conhecido pela sua enorme biodiversidade e há olhos


pouco atentos, esta biodiversidade pode parecer não ter fim. Mas fatores como a
destruição de habitat das espécies, causados por desmatamentos e queimadas, por
exemplo, sempre são citados como impactadores da biodiversidade brasileira. Porém,
outro fator de grande importância, ameaça nossa fauna- o comércio ilegal de animais
silvestres- relativamente negligenciado pelas autoridades, pela mídia e pelo sistema
de ensino que pouco aborda esta problemática nas escolas, de forma transversal.

Segundo a Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres


(RENCTAS) basicamente, são três as modalidades do comércio ilegal: 1. Animais
para colecionadores particulares e zoológicos, que talvez seja o mais cruel dos tipos
de tráfico da vida selvagem, pois prioriza principalmente as espécies mais
ameaçadas, já que quanto mais raro for o animal, maior é o seu valor de mercado; 2.
Animais para fins científicos (biopirataria), neste grupo encontram-se as espécies que
fornecem substâncias químicas, que servem como base para a pesquisa e produção
de medicamentos e 3. Animais para petshop, considerada a modalidade que mais
incentiva o tráfico de animais silvestres no Brasil e devido a grande procura, quase
todas as espécies da fauna brasileira estão incluídas nessa categoria (RENCTAS,
2003).

De acordo com LOPES (2001), em função dos incentivos financeiros oferecidos


pelo mercado ilegal, o destino do animal selvagem passou a ser, também, o de
reforçar a renda familiar, já que grande parte dos apanhadores de animais na
natureza, são pessoas de baixa renda.

3.1 Legislação

A fauna silvestre brasileira possui a maior diversidade de espécie, sendo então


o alvo primordial dos traficantes de animais silvestres.

A atividade ilegal de tráfico de animais silvestres está prescrita, na Lei 9.605/98


popularmente conhecida como Lei do Meio Ambiente, no art. 29 diz:
Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna
silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou
13
autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida: Pena
- detenção de seis meses a um ano, e multa (BRASIL, 1998).

Após o surgimento dessa lei, qualquer ato contra o bem-estar da fauna


começou a ser considerado crime, sendo então proibida a venda de animais silvestres,
ficando permitida apenas para criadouros legalizados, a comercialização desses
animais.
Em 1973, foi criada Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies
da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção (CITES) que é uma
conferência em que se debate sobre espécies da fauna e flora silvestres que estão
com riscos de serem aniquiladas, tendo como finalidade apresentar ideias e formas
de se controlar o comercio ilegal da fauna silvestres e seus produtos no mercado
internacional (RENCTAS, 2001).
Os animais da fauna silvestre brasileira despertam muito o interesse dos
compradores internacionais, e por isso é importante o Brasil participar dessas
convenções.
A Lei 5.197/67 regulamentava que qualquer indivíduo que fosse pego com
animais silvestres ilegalmente, era preso sem direito a fiança, mas a Lei 9.605/98
alterou essa punição condenando o indivíduo pego por crime de porte de animais
silvestres a pagar uma fiança e responder ao processo em liberdade (PEREIRA 2002).
CALHAU, (2006) diz que o tráfico de animais silvestres possui coincidência com
o tráfico de drogas, onde ambos os traficantes demoram a serem punidos e serve de
assistência para a lavagem de dinheiro e a justiça é a falha. O tráfico de animais e de
drogas atendem vários tipos de consumidores onde se tem compradores de poder
aquisitivo alto e os de poder aquisitivo menor.
O tráfico de animais silvestres é tratado com pouca importância pelas
autoridades, tendo mais atenção o tráfico de drogas e armas. Falta para as nossas
autoridades a percepção do desastre ambiental que o tráfico de animais pode trazer
para a natureza (RENCTAS 2001).

3.2 Rotas do Tráfico de Animais

O comércio ilegal chega a retirar cerca de 35 mil animais por ano das regiões
Norte e Centro–Oeste onde aproximadamente 60% desses animais continuam em
território nacional em regiões consumidoras (Sudeste e Sul) e 40% são destinados
14
para o mercado internacional. Esses animais são usados como domésticos por
colecionadores, e também por pesquisadores para fins científicos que é uma das
modalidades em que se usa os animais silvestres traficados e que movimenta muito
dinheiro. (SILVA, GUIA e FELIX, 2010).
Os principais meios de deslocamento são ônibus clandestinos e carros
particulares quando se refere ao tráfico nacional. Na figura 1, são mostrados as
principais rotas do comércio ilegal no país.

Figura 1. As Rotas do Tráfico de Animais Silvestres no Brasil.

Fonte: RENCTAS 2003

No Brasil as regiões que abastecem o tráfico de animais são as mais pobres,


tendo com o município de Milagres no estado da Bahia como um dos maiores
fornecedores de animais silvestres para o tráfico, sendo a que a maior parte da
população desse município vive dessa atividade ilegal, a venda dos animais ocorre
em feiras, lojas e na beira das rodovias. (MAGALHÃES,2002). A Rede Nacional de
Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (2001) mostra outras cidades que também
são grandes fornecedoras de animais silvestres para o tráfico, estão entre elas: Feira
de Santana, Vitória da Conquista, Curaçá (todas no Estado da Bahia), Belém (PA),
Cuiabá (MT), Recife (PE), Almenara (MG), Santarém (PA).
15
O estado do Rio de Janeiro é um grande centro de comercio ilegal de animais
silvestres, onde na Feira de Caxias se vende aproximadamente dois mil animais a
cada domingo. Em Feira de Santana, no estado da Bahia o comercio de animais
silvestres ocorre nas principais feiras e ruas da cidade (DIAS, 2000).
RENCTAS (2001), diz que a existência dessas feiras faz com que os indivíduos
tenham cada vez mais coragem para traficarem os animais, pois demonstram a falta
de punição para as pessoas que praticam esse crime.

3.3 Fiscalização

A utilização da expressão “tráfico de animais” que é utilizado tanto


popularmente, quanto nos órgãos de fiscalização, englobam todas as ações
relacionadas com essa atividade ilegal onde se enquadra, a captura, o transporte, a
comercialização, a compra e a guarda desses animais, seja ela para benefício
econômico ou não (NASSARO, 2010).
É existente no tráfico de animais silvestres várias estratégias para despistar a
fiscalização e as mais usadas são: o contrabando, falsificação de documentos e a
utilização de documentos legais na ocultação de mercadorias ilegais.
Existem ocorrências de que infratores estão instalados nos órgãos públicos de
fiscalização, o que faz com que essa verificação se torne mais falha ainda. A troca
excessiva de funcionários é outro problema já que se tem dificuldade para mapear as
redes criminosas e o local de atividade (HERNANDEZ e CARVALHO, 2006).
Embora se saiba que o tráfico de animais e manutenção de animais silvestres
são atividades ilegais, continuam sendo praticados em todo o Brasil.
Em uma feira-livre na cidade de Arapiraca no estado de Alagoas encontrou-se
grande diversidade de espécies de aves silvestres, onde se considerou cinco ordens,
12 famílias e 28 espécies (SILVA et al., 2015).
No Rio Grande do Sul, ARAUJO et al. (2010) calculou cerca de 1.120 aves
provenientes do tráfico de animais silvestres foram capturadas pelos fiscais
ambientais do EsReg/ IBAMA e 2ª Companhia Ambiental da Brigada Militar da Região
Central do Estado entre 2003 e 2005.
No estado de Goiás foi fiscalizado 193 municípios, onde se observou que os
principais lugares de apreensão da fauna silvestre comercializada ilegalmente é nos

16
municípios de Abadiânia, Alexânia, Aparecida de Goiânia, Aporé, Alvorada do Norte,
Itumbiara, Sanclerlândia, Uruaçu e Goiânia (IBAMA , 2001)
De acordo com o levantamento realizado junto aos órgãos ambientais no
município de Araguaína- TO, entre o período de março de 2007 até dezembro de
2009, foram registrados 602 animais que foram apreendidos, capturados, recolhidos
ou entregues voluntariamente, sendo: 6 Aracnídeos; 98 mamíferos; 92 répteis e 406
aves, representados principalmente por papagaios, curiós, canários da terra, tucanos,
araras, pássaros preto, periquitos, quatis, veados, jabutis, jibóias, capivaras,
tamanduás e felinos (SILVA et al., 2010).
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA), que é o órgão que possui entre as suas funções a de fiscalizar o tráfico de
animais silvestres, enfrenta graves problemas, na fiscalização do mesmo, já que o
território brasileiro é muito grande, seguido de uma escassez de profissionais
preparados e falta de investimento, faz com que o trabalho fique comprometido
(BASTOS et al.,2008).

Os animais apreendidos devem ser levados à Centros de Triagem - CETAS,


que prestam todos os cuidados necessários para dar o destino adequado aos
mesmos. O problema é que dos 32 Centros de Triagem no Brasil, apenas 16 estão
funcionando, só que com dificuldades financeiras, além de estarem superlotados e
sem possibilidades de receberem mais animais (RENCTAS 2001).

3.4 Animais silvestres usados como domésticos

Segundo Castro (2006) o crime ambiental mais comum é o que indivíduos


mantem animais da fauna silvestre em cativeiro. Essa manutenção na maioria das
vezes é para interesses financeiros, onde o mesmo vende esses animais para outras
pessoas ilegalmente, cometendo um crime.
É existente uma predileção de alguns grupos de animais para serem usados
como doméstico. Os principais grupos são as aves e entre elas, os psitacídeos e as
canoras por causa do canto, as serpentes, e repteis que são alvos por causa do
comportamento mais ameno (RENCTAS, 2001).
De acordo com Basto et al., 2008:
Em Goiás, os animais silvestres apreendidos são centralizados na
Superintendência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

17
Naturais Renováveis (IBAMA) sediada em Goiânia, onde o sistema de
registro das apreensões é organizado.
Há ainda o grupo dos colecionadores, onde os mesmos têm predileção pelas
aves, devido da beleza e abundância das cores de suas penas e diversidade de cantos
que a maioria dos indivíduos desse grupo entonam. Dados apresentados pelo IBAMA
mostram que durante os anos de 1999 a 2004, 85% dos animais traficados e
comercializados foram aves (RENCTAS, 2001). Ainda de acordo com o IBGE (2004),
os animais mais procurados pelo tráfico no Brasil são as aves, representado 82% de
um total de 36.370 espécimes de animais apreendidos nos anos de 1999 e 2000.
Existem leis específicas para o combate ao tráfico de animais silvestres, mas
esse tipo de atividade ilegal continua crescendo em nosso país, pois falta
conhecimento e informações para os órgãos de fiscalização que possuem dificuldade
na identificação dos animais apreendidos além de interesse da população em relação
aos problemas ocasionados na natureza pelo tráfico, mostrando então a necessidade
em se acompanhar e fiscalizar as principais rotas do tráfico, para que se possa
aumentar a quantidade de apreensões realizadas pelos órgãos responsáveis (SILVA,
GUIA e FELIX, 2010).

3.5 Bem estar

MOLENTO (2003) conceitua bem-estar animal como um estado completo de


saúde física e mental do animal, onde se pode constatar uma interação harmoniosa
entre o animal e o seu local de manutenção.

Pesquisas mostram que do início da atividade ilegal até seu final, a cada dez
animais traficados apenas um sobrevive. Isso acontece devido às condições
insatisfatórias e o estresse que os animais são submetidos desde a sua captura até a
comercialização e somente cerca de 0,45% desses animais que sobreviveram são
apreendidos pelos órgãos de fiscalização (RENCTAS, 2001).
A manutenção de animais silvestres em cativeiro domiciliar como animais de
estimação, em sua maioria não legalizados, tem sido bastante comum no Brasil,
embora seja considerada crime contra a fauna brasileira (IBAMA, 2006).

18
Estima-se que cerca de cinquenta milhões de animais silvestres vivem
aprisionados em jaulas e/ou gaiolas no Brasil e a maioria desses animais são
provenientes do tráfico (MOREIRA, 2002).
ZAGO (2008), informa que os animais silvestres que são criados em cativeiros
apresentam alterações no seu comportamento natural, ficando claro que quando se
mantem um animal silvestre em cativeiro, está sendo comprometidas habilidades
comportamentais desses animais, onde os mesmos podem perder capacidades
importantes.
Com o aumento de espécies silvestres que vem sendo criadas com animais de
estimação, acidentes que envolvem os animais silvestres e humanos vem
aumentando, isso pode acontecer por falta de conhecimento do mantenedor em
relação, ao manejo adequado para com o animal (BOSSO, 2013).

Para que realmente ocorra o bem-estar animal, os princípios das cinco


liberdades devem ser seguidos rotineiramente. Os princípios fundamentam-se nos
conceitos das cinco liberdades: (1) liberdade nutricional, se refere ao fornecimento e
a qualidade do alimento e da água, onde se considera a necessidade do animal; (2)
liberdade sanitária, que é a ausência de agressões e quando o animal se encontrar
doente o profissional adequado deve ser procurado; (3) liberdade ambiental,
considera a aptidão do espaço e das condições físicas do ambiente para a
manutenção dos animais;(4) liberdade comportamental é confrontação entre
comportamento natural e o comportamento que o animal demonstra no cativeiro , e
(5) liberdade psicológica que é à ausência de medo e estresse (MOLENTO, 2006).

3.6 Educação ambiental

No Brasil, a caça e o comércio predatório e indiscriminado da fauna silvestre


são práticas antigas, que passaram a ser ilegais no ano de 1967, pois até então não
havia legislação que proibisse essas atividades. (RENCTAS, 2003). No entanto, não
foram dadas alternativas econômicas às pessoas que até então viviam desse
comércio e que da noite para o dia caíram na marginalidade. Como consequência,
surgiu um comércio clandestino (MARQUES e MENEGHETI, 1982). Começa a partir
daí a história do comércio ilegal da fauna silvestre brasileira (RENCTAS, 2003).

19
É nos países subdesenvolvidos em que o comercio ilegal da fauna silvestre
mais é acometido, onde boa parte da população é pobre, e tem o tráfico de animais
silvestres como renda para o sustento da família. Então as campanhas de Educação
Ambiental realizadas pelo IBAMA e ONGS tentam esclarecer e conscientizar essa
população sobre os impactos que a fauna silvestre sofre com o tráfico de animais
(IBAMA 2001).
Sabe-se que é fundamental monitorar e coibir o tráfico de animais silvestres,
mais também é necessário que se desenvolva trabalhos educativos para que a
população seja informada sobre as consequências que o tráfico de animais silvestres
ocasiona para o meio ambiente (SILVA, GUIA e FELIX, 2010).
É necessário que essas campanhas retratem para a comunidade as
consequências que o tráfico de animais silvestres traz para o meio ambiente e também
esclarecer a ilegalidade de se capturar, transportar e comprar animais silvestres.
(CALOURO & LOPES 2000).
A Educação é o melhor caminho para que se possa modificar as atitudes e
pensamentos e consequentemente possibilitar que a população idealize uma forma
melhor de assimilar o que está acontecendo no mundo em que se vive, tendo os
mesmos a possibilidades de criar uma consciência ambiental. É a Educação
Ambiental que concede aos alunos imaginar e construir um mundo mais sustentável
(GUEDES, 2006).

20
4. MATERIAIS E MÉTODOS

A pesquisa foi realizada no município de Ceres, estado de Goiás, que possui


20.722 habitantes segundo o censo do IBGE de 2010. A metodologia inicial do
trabalho foi fundamentada na pesquisa de campo, para coleta de dados, utilizou-se
questionários investigativos (Apêndice 1) e o registro dos animais identificados por
fotografia. A pesquisa consistiu em visitas domiciliares na cidade de Ceres- GO, em
duzentas residências localizadas em 15 bairros (Quadro1), buscando-se fazer uma
distribuição proporcional de residências amostradas conforme o tamanho do bairro. A
coleta de dados foi aleatória com amostragem por conglomerados.

Quadro 1. Setores amostrados no levantamento de animais silvestres criados


como “pets”.

Setores Número de ruas Quantidade de


residências amostradas
Jardim Sorriso 6 18
Vila Pedrosa 5 14
Centro 4 10
Jardim Petrópolis 6 14
Setor Tropical 5 15
Vila Nova 4 12
Vila São Patrício 6 18
Setor Sara Ribeiro 3 10
São Francisco 4 15
Setor Boa Vista 3 11
Setor Andorinhas 5 16
Setor Boa Esperança 4 13
Vila Mutirão 4 15
Morada Verde 3 10
Setor Primavera 3 9

O questionário aplicado constou de duas partes distintas, sendo a primeira para


obtenção de dados sobre o perfil do criador (profissão, escolaridade, faixa etária,

21
naturalidade, tamanho da família, renda familiar) e a outra para a obtenção de dados
sobre a/s espécie/s mantida/s em cativeiro (espécies de interesse, cuidados na
criação, formas de captura e aquisição, procedência, tempo de manutenção no
cativeiro) a fim de se obter informações sobre o bem-estar desses animais no local.

Os dados coletados foram organizados e analisados por frequência e algumas


variáveis foram analisadas usando o programa estatístico ASSISTAT, onde fez
análise de variância e correlação usando o Teste t.

Após o levantamento foram desenvolvidas nas escolas de Ensino Fundamental


em turmas do 6º ao 9º ano da rede pública de ensino do município, ações
socioeducativas com o uso de palestras, vídeos e jogo didático (jogo de tabuleiro em
que se tinha imagem de maus-tratos e conscientização) que trataram sobre o tema,
buscando sensibilizar o público sobre o problema do comércio ilegal de animais e
alertar quanto ao hábito de manter animais silvestres em domicílios. Também aplicou-
se um questionário para os alunos que participaram das palestras para relatar o que
mais chamou a atenção deles nas palestras e no jogo.
Para que se pudesse aplicar os questionários e fazer a conscientização nas
escolas o trabalho foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa e assim aprovado
a sua realização (Apêndice 2).

22
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Apenas 2% das residências amostradas possuíam animais silvestres, sendo


encontrados apenas seis animais –, dois jabutis e dois papagaios.

Constata-se no Brasil que o tráfico de animais silvestres tem uma predisposição


em todas as regiões do país, mas cada região tem uma atividade predominante, onde
as regiões Norte, Nordeste e Centro – Oeste, são os locais onde mais se realiza a
captura dos animais, a região Sul o local de maior passagem e a Região Sudeste a
principal região que se compra e vende os animais traficados (LOPES, 2003).

Considerando que a característica do estado de Goiás quanto ao comércio


ilegal de animais silvestres é de servir como centro de captura (LOPES, 2003), pode-
se considerar que caso haja animais retirados da natureza na região, estes não
permanecem com frequência no local foco desta pesquisa.

Dos animais encontrados, constatou-se que muitos foram retirados da natureza


ou “apareceram” na residência (Quadro 1), o que diz que mesmo com o baixo índice
de animais encontrados, o hábito de se retirar o animal sem conhecer os impactos
que isso gera ao animal e ao ecossistema, é um fato real.

Quadro 2: Condições de cativeiro dos animais silvestres criados como “pets”


nas residências do município de Ceres-GO.

Animais Dieta Frequência Local de Como foi adquirido


Silvestres/ N Alimentar permanência

Papagaio Grãos de Arroz 2 vezes ao dia Solto no Apareceu na


(Amazona Quintal residência
aestiva),
(Amazona
farinosa) / 2

Jabuti Piranga Frutas e 2 vezes ao dia Solto no Foi retirado da


Verduras Quintal natureza pelo
(Geochelone
mantenedor
carbonária) / 2

23
Pressupõem-se que por ano, 4 milhões de aves são comercializadas
ilicitamente, onde 70% delas são comercializadas dentro do país principalmente na
região Sudeste e os 30% restantes são exportadas ilegalmente. Pequena parte das
aves são apreendidas e menos ainda devolvidas na natureza, já que as mesmas não
possuem condições de voltarem ao seu habitat (RIBEIRO e SILVA, 2008).

Em relação a Classe Reptilia o que mais seduz tanto traficantes quanto os


consumidores é a pele desses animais, sendo o seu couro julgado nobre tendo um
valor considerável no mercado, o que resulta em um grande lucro financeiro, mas
também estão sendo bastantes procurados para serem mantidos como animais de
estimação (RENCTAS, 2001).

Papagaio-Moleiro (Amazona farinosa- Figura 4) e o Papagaio-Verdadeiro


brasileiro (Amazona aestiva- Figura 5), são animais adaptados em ambientes amplos
para que possam se locomover de forma ilimitada, possuem um parceiro para toda
vida – monogamia- e quando os mesmos permanecem em residências não possuem
companheiro e isso pode causar um estresse muito grande. A dieta tem como base
sementes que podem variar entre aveia, arroz integral, linhaça, painço, milho,
possuem uma vida longa e se reproduzem tardiamente (SICK, 1997). Os animais
encontrados estavam isolados de outros de sua espécie, o que não garante a uma
situação de bem-estar, além de ficarem presos em gaiolas.

Figura 2. Papagaio - Moleiro (Amazona farinosa) – residência 1

Fonte: Arquivo Pessoal

24
Figura 3. Papagaio-Verdadeiro brasileiro (Amazona aestiva) -residência 2

Fonte: Arquivo Pessoal

Percebeu-se que a dieta das aves estava restrita a apenas um item alimentar
–grãos-de-arroz para os papagaios. Esse fato certamente compromete o balanço
nutricional dos animais que se estivessem na natureza, estariam em busca de uma
enorme variedade alimentar para suprir suas demandas nutricionais e que em
cativeiro, deve ser garantida com variedade de alimentos e não um item alimentar,
apenas, tendo então a sua liberdade nutricional impedida.

Outro animal que foi encontrado no município de Ceres foi o Jabuti Piranga
(Geochelone carbonaria) (Figuras 6 e 7), onde o mesmo foi retirado da natureza pelo
mantenedor e permanece solto no quintal. O Jabuti Piranga possui uma dieta baseada
em gramíneas, frutas, folhas, pequenos animais, sendo então onívoro (ZAGO, 2011).

25
Figura 4. Jabuti Piranga ( Geochelone carbonaria) - residência 4

Fonte: Arquivo Pessoal

Figura 5. Jabuti Piranga ( Geochelone carbonaria) – residência 5

Fonte: Arquivo Pessoal

Os mantenedores dos jabutis relataram que a captura foi por uma crença em
que o mesmo “cura” doenças respiratórias. Os espécimes foram adquiridos filhotes, e
a dieta desses animais está limitada em folhas e frutas comprometendo o balanço

26
nutricional, pois se estivesse na natureza estaria à procura de outros itens da sua dieta
e a falta de árvores no local pode afetar a temperatura ideal para os jabutis.

Ao realizar-se um balanço das condições bem-estar dos animais no cativeiro


encontrados durante o período da pesquisa, percebeu-se que os mantenedores
julgam estarem garantindo as condições adequadas para o bem-estar dos espécimes.
Porém, ficou evidenciado muitos problemas que comprometem o bem-estar dos
mesmos, como alimentação inadequada, o pequeno local de permanecia, pouca ou
nenhuma arborização para garantir conforto térmico aos animais e a ausência de
parceiros que podem levar o animal ao estresse.

Em uma visita em uma residência, ao responder o questionário, um indivíduo


relatou que não seria encontrado animais silvestres no município. Ao ser indagado o
porquê, o mesmo informou que era traficante de animais e que o poder aquisitivo da
população era pequeno para adquirirem os animais silvestres que são capturados na
região, e concluiu dizendo que esses animais são vendidos para outros indivíduos que
posteriormente serão entregues aos mantenedores.

Quando analisadas as condições socioeconômicas dos entrevistados, pode-se


constatar que há uma relação inversa (p <0.01; r = -0,2145) entre o nível de
escolaridade/renda mensal com a preferência em se manter animais silvestres, ou
seja as pessoas que mantém animais silvestres como “pets” possuem renda mensal
e escolaridade mais baixas.

O comércio ilegal de animais silvestres tem maior ocorrência nos países


subdesenvolvidos, sendo a população desses países pobres e onde geralmente o
tráfico de animais é a forma de sustento da família. Esses indivíduos comumente
possuem pouca escolaridade, onde falta informações sobre o tráfico de animais e é
aí que entra a conscientização através da Educação Ambiental, podendo ser realizada
em espaços formais ou não-formais, esclarecendo para essas populações a gravidade
que é o tráfico de animais (IBAMA 2001).

O comércio ilegal de animais silvestres está associado a problemas culturais


e de educação, pobreza, falta de opções econômicas, desejo de lucro fácil e
rápido, status e satisfação pessoal de manter animais silvestres como
animais de estimação (RENCTAS 2002).

27
A ausência em se trabalhar Educação Ambiental nas escolas públicas e
particulares do Brasil, faz com que os principais fornecedores sejam pessoas sem
informações quanto as consequências do tráfico de animais, ou a retirada de alguma
espécie da natureza, já que muitos acreditam que a natureza é uma fonte inesgotável
(ROCHA 1995), mostrando o quanto a falta de escolaridade e informação faz com que
o tráfico de animais silvestres só aumente no nosso país.

Para que posteriormente pudesse realizar uma sensibilização sobre o tráfico


de animais, foi elaborado uma palestra com imagens e vídeos sobre o tráfico de
animais silvestres e os maus tratos que esses animais sofrem durante o tráfico (Figura
8). Usou se um jogo de tabuleiro (Figura 9), confeccionado em madeira e com imagens
que viesse sensibilizar os alunos sobre o tema. O material usado na palestra e o jogo
de tabuleiro foram adquiridos no Portal do Professor, no endereço
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/recursos.html?busca=trafico+de+animais.

Afim de se ter informações do que os alunos compreenderam com a palestra


e o jogo no final foi pedido para que os alunos escrevessem o que tinham assimilado
(Figura 10). A apresentação da palestra foi realizada em onze turmas do ensino
fundamental II (6º ao 9º ano) de três escolas da rede pública de ensino, totalizando
233 crianças e adolescentes.

Figura 6. Palestra

Fonte: Arquivo Pessoal


28
Figura 7.Jogo de Tabuleiro

Fonte: Arquivo Pessoal

Figura 8. Questionário

Fonte: Arquivo Pessoal

29
Observou-se que cerca de 85% dessas crianças e adolescentes nunca tinham
ouvido falar sobre tráfico de animais silvestres.

As informações que mais os impactaram foram os maus tratos sofridos pelos


animais, a quantidade de animais que morrem durante o tráfico e o quanto um
traficante pode estar perto deles sem eles saberem. Houve uma grande interação dos
alunos, onde eles questionavam se no município de Ceres-Go realmente tinha tráfico
de animais silvestres. Com o decorrer da apresentação percebeu–se o quanto eles
ficavam indignados com os maus-tratos que os animais sofriam, e que começaram a
perceber a importância de entenderem sobre tráfico de animais silvestres.

Das 233 crianças e adolescentes que participaram da palestra 52% relataram


no questionário que o mais impactante foram os maus-tratos que os animais sofrem
durante o tráfico; 36% disseram que o mais chamou atenção foi que um traficante de
animais pode estar muito próximo deles, e os 12% restante se preocuparam com as
consequências que o tráfico de animais pode trazer para o meio ambiente.

Aluno 1: “Eu entendi que não devemos manter animais silvestres presos em
casa e nem permitir o tráfico deles, pois prejudica a cadeia alimentar e causa
extinções”.

A lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, institui a Política Nacional de Educação


Ambiental no capítulo I, Art. I conceitua que:

Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o


indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio
ambiente, bem como de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de
vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999).

Aluno 2: “Eu entendi que não devemos traficar animais silvestres, além deles
sofrerem muito nós podemos tomar uma grande multa. Lembrando que falei que
prendi uma arara- azul, mas era brincadeira, eu moro na roça e lá tem várias araras,
nós colocamos mamão para elas comerem, mas não maltratamos elas. ”

Quando o Aluno 2 relatou que estava brincando quando disse que criava uma
arara-azul, foi por que no início da palestra ele começou dizendo que fez esse relato,
mas o mesmo ainda não sabia o quanto é grave manter um animal silvestre em casa
30
então o aluno quis se explicar quando foi pedido para dizerem o que tinham
compreendido da palestra.

Aluno 3: “Eu entendi o que é tráfico de animais silvestres, e agora sei que é
crime, as pessoas que fazem isso devem ser presas, pois além de traficar animais
maltratam eles. ”

Monitorar o tráfico de animais silvestres é fundamental, mas a conscientização


através de trabalhos educativos e informações para toda a população tem uma
importância muito grande. Essas informações têm que chegar nas crianças e
adolescentes da nossa sociedade pois são seres mais passiveis de mudança e
precisam entender a gravidade que é o tráfico de animais (SILVA, GUIA e FELIX,
2010).

31
6.CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar do estado de Goiás estar na rota do Tráfico de Animais Silvestres foram


encontrados apenas seis animais silvestres nas 200 residências visitadas no
município de Ceres. Aves e Reptilia foram as classes encontradas nas residências
visitadas, seguindo a literatura.

Em relação ao perfil do mantenedor de animais silvestres percebe-se que são


indivíduos com escolaridade e renda baixa, fazendo com que a ideia de se abordar
o tema tráfico de animais nas escolas e nas comunidades através da Educação
Ambiental ou de campanhas esclarecedoras tem extrema função em sensibilizar a
população sobre o tema proposto, já que grande parte das crianças que foram foco
do programa de sensibilização, nunca haviam sequer ouvido falar em comércio
ilegal de animais silvestres.

Os maiores problemas evidenciados quanto ao cativeiro foram em relação ao


pouco espaço em que os animais vivem com pouca ou nenhuma arborização, a
dieta com baixo valor nutricional e a ausência de parceiros para reprodução. Dessa
forma, contrastando a afirmação dos mantenedores que afirmaram manter os
animais em boas condições, os resultados mostraram o inverso.

32
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penais e administrativas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá
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37
APÊNDICES

APÊNDICE 1 – Questionário

38
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICAINSTITUTO FEDERAL


DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA GOIANO

QUESTIONÁRIO

1. Nome (opcional):
___________________________________________________________________

2. Profissão:
_________________________________________________________________________

3. Idade: ______________________

4. Renda mensal (individual ou familiar – discriminar): R$ _________________

5. Escolaridade: ( ) analfabeto ( ) 1º grau completo ( ) 1º grau incompleto ( ) 2º grau


incompleto ( ) 2º grau completo ( ) 3º grau ( ) superior incompleto ( ) superior
completo

6. Quanto tempo mora no local ou na região? __________________________________

7. Possui residência própria? ( ) sim ( ) não

8. Possui algum animal silvestre em casa: ( ) sim ( ) não caso seja não vá á
questão 20

9. Quantos? _______________

10. Quais? ________________________________________________________________

11. Desde quando?


__________________________________________________________

12. Macho ou fêmea? ________________________________________________________

13. Qual a alimentação fornecida a ele?__________________________________________

14. Quantas vezes ao dia? ________________________


39
15. Em que quantidade por vez? ____________________

16. O animal já adoeceu? ( ) sim ( ) não

17. Se sim, quantas vezes? ________________________

18. Levou-o a algum especialista? ( ) sim ( ) não

19. Algum animal chegou a morrer? ( ) sim ( ) não

20. Já possuiu algum animal doméstico em casa? ( ) sim ( ) não

21. Gosta de tê-los em casa? ( ) sim ( ) não

22. Por quê?


__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________

23. Acha que as condições que os mantém são boas? ( ) sim ( ) não

24- Por quê?


__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________

24. Como você adquiriu seu animal?


_____________________________________________________

25. Prefere comprar ou adotar?


_________________________________________________________

26. Conhece a procedência do animal? ( ) sim ( ) não


Qual:_________________

27. Chegou ainda jovem? ( ) sim ( ) não

28. Você pagou por ele? ( ) sim ( ) não Quanto? R$ ___________________

29. O animal fica preso ou você faz alguma coisa para impedir sua fuga?
__________________________________________________________________________

40
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________

30. Já aconteceu algum tipo de acidente entre o animal criado e algum morador da casa?

( ) sim ( ) não

31. Se sim, de que tipo? ( ) bicada ( ) danos materiais ( ) transmissão de doenças ( )


outro Qual?____________________________________________

32. O animal permanece durante o dia e/ou á noite em contato com as pessoas? ( ) sim
( ) não 33. Onde? ( ) solto no quintal ( ) preso em gaiolas no quintal ( ) preso em
gaiolas dentro de casa

34. O animal tem contato com outros animais? ( ) sim ( ) não

35. Quais?
__________________________________________________________________________

36. Há reclamações dos vizinhos quanto á barulho, danos materiais, bicadas ou alguma
denúncia?

( ) sim ( ) não
Quais:____________________________________________________________________

37. Os animais criados anteriormente, qual foi o destino? ( ) morreu ( ) fugiu ( ) roubado
( ) solto ( ) vendido ( ) trocado

38. Já abandonou algum animal? ( ) sim ( ) não


Porque?___________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________

39. Seu animal já se manifestou violento? ( ) sim ( ) não

40. Por qual motivo acha que isso aconteceu?


__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________

41
41. Quando acontecem ataques de animais silvestre, acha que a medida correta é o
sacrifício? Justifique.
__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________

42. Você sabe que não é permitido a permanência de animais silvestres em casa?

( ) sim ( ) não

43. Por que o mantém ?


__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________

42

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