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Acustica de Edifícios e Controle Do Ruido PDF
Acustica de Edifícios e Controle Do Ruido PDF
E CONTROLO DE RUÍDO
Dezembro 2008
Autor:
Diogo Mateus
(Professor Aux. FCTUC)
Índice Pág.
1.1 Introdução
Com o crescente aumento das preocupações relativas à qualidade de vida, e com a elevação
dos níveis de ruído, em especial nos grandes centros urbanos, o problema da poluição sonora
e da protecção acústica dos edifícios tem vindo a ganhar destaque nos últimos tempos. De
uma forma genérica, a minimização dos efeitos negativos do ruído pode ser conseguida
através da redução dos níveis de ruído emitidos, do tratamento nos meios de transmissão,
e/ou, em casos extremos, sobretudo na área do ruído ocupacional (locais de trabalho), da
protecção directa dos receptores. Neste contexto, têm vindo a ser publicadas, nos últimos
tempos, Directivas e Normas Europeias que chegam ao nosso país a um ritmo crescente, e
que têm contribuído para o aparecimento de novos diplomas legais sobre prevenção e controlo
do ruído e sobre o conforto acústico no interior dos edifícios, designadamente o Regulamento
Geral do Ruído (RGR) e o Regulamento dos Requisitos Acústicos dos Edifícios (RRAE).
Neste contexto, são apresentados no presente documento, ao longo dos seus 5 capítulos, os
aspectos gerais considerados mais relevantes no domínio da acústica e do controlo de ruído,
essencialmente aplicados aos edifícios.
No capítulo 1, para além desta nota introdutória, são apresentados conceitos e noções gerais,
importantes para melhor compreensão dos capítulos seguintes.
O capítulo 2, o mais extenso deste documento, centra-se sobretudo na acústica aplicada aos
edifícios, apresentando algumas metodologias de cálculo, aplicáveis nomeadamente em
projecto, para cada uma das áreas ou sub áreas intervenientes.
A acústica é a ciência que se dedica ao estudo do som e/ou do ruído, à sua propagação, em
meio gasoso, líquido ou sólido, e às suas inter-relações com o ser humano [1, 2, 3, 4]. O som
e/ou o ruído pode definir-se como qualquer variação de pressão atmosférica que o ouvido
humano pode captar (ver Figura 1). A distinção entre som e ruído é subjectiva, não depende
apenas da frequência e da amplitude, sendo, no entanto, o som associado a sensações
agradáveis (música e voz) e o ruído associado a sensações indesejáveis.
pressão
som / ruído
tempo
Figura 1 – Variação de pressão produzida por uma fonte sonora (som ou ruído).
A gama audível representa a variação em frequência em que o ouvido humano é sensível (ver
Figura 2), e varia sensivelmente entre 20 Hz e 20 kHz e em amplitude entre uma pressão
mínima de 20 µPa e uma pressão máxima (limite de dor) de cerca de 20 Pa. Contudo, a
aptidão do ouvido para a captação das ondas sonoras é variável tanto em frequência como em
amplitude. Para frequências muito baixas e para frequências muito elevadas, a sensibilidade
auditiva diminui consideravelmente (ver Figura 3).
20 Hz 20 000 Hz Frequência
A utilização de uma escala linear, em Pascal, para caracterizar a amplitude do sinal, com uma
variação de 1 milhão de vezes, entre o valor mínimo e o valor máximo, é pouco prática e pouco
representativa da resposta do ouvido humano, tornando-se muito mais vantajoso e mais
realista a utilização de uma escala logarítmica, de nível de pressão sonora em decibel (dB). O
nível de pressão sonora em dB, ou simplesmente nível sonoro, é então obtido através da
multiplicação por dez do logaritmo da relação entre os quadrados da pressão sonora de análise
e de referência (correspondente ao limiar de audição, de 20x10-6Pa).
Limiar de dor
Música
Palavra
Limiar de audição
Tal como em relação à amplitude do som, o ouvido humano também não responde de forma
linear em relação às variações em frequência. Por exemplo, para o ouvido humano a diferença
entre um som de 250 Hz e um de 125 Hz é próxima da diferença entre um som de 2000 Hz e
um de 1000 Hz. Desta forma surge a representação, em termos de frequência, em forma de
oitavas, como acontece na representação em frequência do gráfico da Figura anterior. Nestas
bandas por oitavas, o limite superior de cada banda de frequência é aproximadamente o dobro
da frequência do respectivo limite inferior, sendo habitualmente associada a banda de oitava à
sua frequência central, dada pela raiz quadrada do produto dos dois limites. Para além das
bandas de oitava podem ainda definir-se partições em bandas de 1/n de oitava, sendo a
partição mais usual a de 1/3 de oitava.
avaliação em dB(A) está longe de traduzir a verdadeira sensação do ouvido humano, com a
agravante de favorecer significativamente o resultado final. Para níveis sonoros baixos, da
ordem de 40 dB, a curva A passa a conduzir a resultados mais realistas.
No caso geral, considerando n níveis sonoros L1, L2, ..., Ln, o nível sonoro global será dado
por:
n
L1+ 2+...+ n = 10 Log ∑10 ( Li / 10 ) (1)
1
No caso inverso, considerando que se pretende saber o nível sonoro provocado apenas por
uma fonte (ou conjunto de fontes) quando se conhecem os níveis global e parcial resultantes
da emissão de totalidade das fontes sonoras com excepção daquela que é desconhecida, o
cálculo pode ser efectuado recorrendo à seguinte equação:
(
Lm = 10 Log 10( Lm+ n / 10 ) − 10( Ln / 10 ) ) (2)
As ondas sonoras são captadas pelo ouvido externo (através da vibração do tímpano) e
transmitidas pelo ouvido médio (por um sistema de alavancas) ao ouvido interno. Este último
funciona como um transdutor que transforma as vibrações mecânicas em impulsos nervosos
que são transmitidos ao cérebro para processamento e interpretação no centro auditivo. Sinais
sonoros de longa duração são interpretados pelo ouvido humano com intensidade semelhante
à intensidade real do sinal. Sinais de muito curta duração, do tipo impulsivo, quase não são
perceptíveis pelo ouvido humano, mas, no entanto, quando possuem elevadas amplitudes,
podem causar trauma auditivo, agravado pelo facto de serem tão rápidos que podem não
permitir a activação do sistema de defesa do ouvido humano. Os sinais com variação menos
acentuada, mesmo em ambiente muito ruidoso, permitem normalmente a activação do sistema
de defesa do ouvido humano, provocando uma diminuição temporária da audição, que será
posteriormente recuperada.
A duração mínima do intervalo de medição deve então ser função da variabilidade temporal
dos níveis sonoros. Em função desta variabilidade podem considerar-se quatro tipos de ruídos:
contínuo ou estacionário, como pode acontecer por exemplo, com o funcionamento de um
aparelho de ar condicionado (Figura 6); intermitente, com vários patamares, do tipo pára
arranca (Figura 7); impulsivo, com picos de curta duração intercalados com níveis sonoros
significativamente inferiores durante intervalos mais alargados de tempo (Figura 8); e flutuante
aleatório, como acontece na maioria das situações, onde a variação dos níveis sonoros é
elevada e aleatória (Figura 9). No primeiro caso, a caracterização do ruído pode ser efectuada
recorrendo a amostras de curta duração. No segundo e terceiro caso, as amostras devem ser
mais prolongadas no tempo, mas se forem conhecidos os ritmos de funcionamento das fontes
de ruído, a caracterização do ruído também pode ser efectuada através de amostragens cujo o
intervalo de tempo de medição acumulado é muito inferior ao período de caracterização. No
quarto caso, a caracterização pode ser tornar-se muito mais difícil, podendo, no limite, justificar
a medição em contínuo durante todo o intervalo de referência a caracterizar.
T t (s) T t (s)
Para além da caracterização do ruído ao longo do tempo, numa grande parte das aplicações,
interessa caracterizar o som e/ou o ruído no domínio da frequência, por exemplo, em bandas
de oitava ou de 1/3 de oitava. Neste domínio, podem obter-se espectros de ruído quase
constantes em frequência, ricos em baixas frequências (Figura 10), ricos em médias ou altas
frequências. Qualquer um destes tipos de espectros, pode ainda apresentar características
tonais [7], quando existem bandas estreitas de frequência bastante pronunciadas relativamente
às bandas adjacentes (Figura 10).
dB(A)
Mesmo nas situações mais simples de caracterizar, com ruído contínuo, existem sempre
variações ao longo do tempo que se revelam no sinal adquirido através de quebras e picos. De
modo a simplificar a caracterização de ruído podem ser utilizados indicadores de ruído, que
conduzem a um valor único, mesmo para situações de grande variabilidade dos níveis sonoros
ao longo do tempo. Estes indicadores podem ser obtidos directamente através dos
equipamentos de medição sonora (Figura 11), nomeadamente sonómetros e/ou analisadores
integradores com análise em frequência (equipamentos habitualmente utilizados em medições
acústicas). Estes equipamentos permitem a obtenção de níveis sonoros quer em dB quer em
dB(A), ou até mesmo noutra ponderação, nomeadamente segundo a curva B ou C.
a) b) c)
Figura 11 – Exemplo de equipamentos possíveis de utilizar em medições
acústicas (a e b) e de vibrações (b e c)
O valor médio de LAeq pode ser obtido directamente através do equipamento de medição,
mas também pode ser determinado a partir dos vários valores parciais no domínio do tempo
(Eq. 3) ou através do espectro em frequência (Eq. 4).
1
LAeq = 10 log ∑ ∆t i .10 ( Li 10 ) (3)
T
(
LAeq = 10 log ∑ 10
(L fk 10 )
) (4)
O ruído produzido por uma fonte, que é independente da envolvente onde se propaga a
energia sonora, pode ser caracterizado através do parâmetro potência sonora (em Watt) ou, de
forma mais prática através do nível de potência sonora (em dB). A pressão sonora, num
determinado ponto, para além de depender das características da(s) fonte(s), depende das
características da evolvente, nomeadamente de absorção, de reflexão e de transmissão para
outros locais (Figura 12).
Numa fonte linear ou cilíndrica, a propagação realiza-se num plano perpendicular à fonte
segundo circunferências que crescem de perímetro de forma proporcional ao raio, originando
uma diminuição no nível sonoro de 3 dB sempre que se aumenta a distância à fonte para o
dobro. Uma via de tráfego intenso, como se ilustra na Figura 14, pode aproximar-se a uma
fonte cilíndrica (neste caso com propagação sonora hemicilíndrica).
25m
120dB(A)
50m
100m
114dB(A)
108dB(A)
A fonte plana é a fonte menos usual, de entre as três, sendo aquela em que a frente de onda
apresenta uma área constante com o aumento da distância à fonte, resultando um nível sonoro
constante independentemente da distância à fonte. Uma fonte pontual no interior de um túnel
com superfícies envolventes muito reflectoras pode aproximar-se de fonte plana.
Diminuição da
temperatura em
altura Vento
Aumento da
temperatura em S S
altura S
Zona de sombra
Na prática a maioria das salas não são nem reverberantes nem anecoicas, mas sim
caracterizadas por modelos intermédios. Normalmente num recinto fechado de grandes
dimensões, com uma fonte sonora no seu interior, é possível distinguir-se três tipos de campos
sonoros: campo próximo, na zona adjacente à fonte sonora, onde se registam variações
significativas dos níveis sonoros em posições próximas; campo livre, numa zona intermédia
entre a fonte sonora e a superfície envolvente, onde para uma fonte pontual se regista uma
diminuição do nível sonoro em cerca de 6 dB sempre que a distância à fonte aumenta para o
dobro; e campo reverberante, na zona mais afastada da fonte, onde a diminuição do nível
sonoro com o aumento da distância à fonte é muito reduzida, podendo em casos limites
apresentar valores negativos.
De uma forma geral, a minimização dos efeitos negativos do ruído pode ser conseguida
através da redução dos níveis de ruído emitidos, do tratamento nos meios de transmissão e/ou,
em casos extremos, através da protecção directamente nos receptores (aplicável normalmente
em locais de trabalho). Contudo, e no que se refere à acústica aplicada a edifícios, é sobretudo
ao nível dos meios de transmissão, restringindo o campo de propagação, que surgem as
principais possibilidades de actuação.
Esta caracterização, pode ser efectuada conduzida de três formas distintas: uma mais rigorosa
e mais trabalhosa baseada na teoria ondulatória, a partir da qual se podem determinar, entre
outros aspectos, as frequências próprias de vibração de espaços fechados, que determinam a
forma da propagação sonora; uma segunda baseada na teoria geométrica dos espaços, que
introduz grandes simplificações e que geralmente só é válida para frequências muito altas ou
para espaços de grandes dimensões, onde quase não existe o campo difuso; e uma terceira
forma, também simplificada, baseada na teoria estatística, que pode ser aplicada à maioria dos
locais fechados, mas que nem sempre conduz a resultados muito exactos, sobretudo para
frequências muito baixas e para recintos de geometria irregular e/ou com grande
heterogeneidade nas características de absorção sonora da envolvente e recheio existente.
O som ao propagar-se no interior de um espaço fechado sofre reflexões sucessivas.
Dependendo da forma e dimensões geométricas dos elementos da envolvente, bem como das
condições fronteira ao longo de toda a envolvente, pode ocorrer formação de ondas
estacionárias (modos próprios de vibração), condicionando fortemente a propagação nas
frequências associadas a estes modos. Considere-se uma sala de forma paralelepipédica, com
dimensões L x , L y e L z , a equação de equilíbrio que rege a propagação das ondas de pressão
sonora numa sala (equação de Helmothz), conduz às frequências próprias de vibração dadas
por:
c n2 m2 k 2
f nmk = + + (5)
2 L2x L2y L2z
A excitação dos vários modos de vibração vai depender contudo da existência de energia da
fonte nas frequências próprias de vibração, bem como da posição da fonte no interior do
compartimento. Uma fonte sonora pontual localizada no centro de uma sala paralelepipédica,
apenas excita os modos de vibração axissimétricos. A resposta final pode ser obtida
considerando a participação dos vários modos de vibração. Contudo, a participação dos
primeiros modos é, em geral, condicionante [10].
Numa sala com geometria não paralelepipédica, a determinação dos modos próprios de
vibração exige a aplicação de métodos de cálculo mais complexos, por exemplo, através de
elementos finitos ou de elementos de fronteira.
Partindo do princípio que a existência dos modos próprios de vibração é inevitável, podendo no
entanto ser minimizada, por exemplo, através de geometrias não paralelepipédicas, a forma de
evitar a concentração de “picos“ de energia sonora em bandas estreitas de frequência poderá
ser conseguida para uma relação entre dimensões da sala (largura, comprimento e altura)
significativamente diferente de 1. Apesar do número de modos de vibração ser ilimitado, a partir
de uma determinada frequência a densidade de modos próprios e o número de reflexões
associado é tão elevado que o seu cálculo não tem interesse. A determinação da frequência
limite, a partir da qual a influência dos modos próprios de vibração é praticamente nula, pode
ser efectuada a partir da seguinte fórmula empírica [11]:
Tmed
f max = 1849 (6)
V
onde Tmed é o tempo de reverberação médio (entre as bandas de oitava de 500 e 1000 Hz) da
3
sala (s) e V o volume do recinto (m ).
Por exemplo, para uma sala com 100 m3 de volume e um tempo de reverberação de 1s, o valor
de f max é de 185 Hz.
60 dB
inferior a 60 dB (em geral 20 ou 30 dB), e extrapolar o respectivo valor para 60 dB (ver Figura
18).
75
Referência (L=L0-5dB)
T(t) (dB) 50
25
0 1 2 3 4 5
Tempo (s)
0.16V
Tr = (7)
∑ S iα i
onde V é o volume do recinto; Si é a área do material i, pertencente à envolvente do
espaço; e α i é o coeficiente de absorção do material (que corresponde à razão entre a
energia sonora absorvida e a energia sonora total incidente no material, e que varia
normalmente em frequência).
De uma forma geral, o estudo das condições acústicas no interior de um recinto fechado,
quando exigido ou recomendado, têm como objectivo principal a obtenção de um ambiente
sonoro com qualidade acústica, ajustado à utilização do espaço. Existem, contudo situações,
onde este estudo visa apenas a redução dos níveis de ruído provocados pela presença de
pessoas e/ou equipamentos no interior dos recintos. Neste caso, o estudo pode simplificar-se
bastante, já que mais importante que a qualidade sonora é a minimização do tempo de
reverberação, que habitualmente é conseguido com a aplicação de materiais e/ou elementos
com elevada absorção sonora junto dos locais onde a produção e/ou transmissão de ruídos é
maior.
Considera-se que o ruído de fundo é todo aquele ruído que existe no interior de um recinto,
quando naquele local não se desenvolve qualquer tipo de actividade. Este tipo de ruído pode
ter diversos tipos de origens, podendo resultar do sistema de climatização, de instalações
eléctricas e/ou hidráulicas, ou até mesmo de ruídos provenientes do exterior do espaço em
análise (dentro e fora do edifício).
De uma forma geral, o tempo de reverberação óptimo (adequado) de uma sala depende
fundamentalmente do seu volume e do fim a que se destina. Por exemplo, para uma sala
destinada a conferências o tempo de reverberação deverá ser baixo, de modo a que a
conversação se torne inteligível, sem produzir fadiga no orador e nos ouvintes. Pelo contrário,
uma sala de espectáculos destinada a concertos de música sinfónica, deverá apresentar um
tempo de reverberação elevado (ver Figura 19). O tempo óptimo de reverberação deve variar
também com a frequência do som. Para frequências baixas são admissíveis tempos de
reverberação mais elevados, enquanto que para frequências altas o tempo óptimo de
reverberação deve ser mais baixo. Por outro lado, com o aumento do volume do recinto
também é conveniente que o tempo de reverberação óptimo aumente (normalmente este
crescimento é função da raiz cúbica do volume do recinto).
Tr (500Hz)
(seg)
stra
3.0
e orque
d
reja ica
d e ig ra mus
sic a s pa
Mu n certo igeir
a
a d e co u si ca l
Sal para
m
nc e rtos a
2.0 de c
o
certo
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Sala c o n d eo
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Estu ê nci
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Sala a de
Sa l
1.0 Auditório
ádio
de r
di o
de te levisão
Estu Estudio
Figura 19 - Tempos “óptimos” de reverberação, a 500 Hz, para diferentes tipos de utilizações.
Para espaços com múltiplas funções, como no caso de salas polivalentes e, de uma forma
geral, nas salas de espectáculos, onde o mesmo recinto pode ser utilizado para situações
extremas como o teatro, onde se exigem características de reverberação muito baixas
(absorção elevada), e a música sinfónica, onde deve ser privilegiada a reverberação da sala
(baixa absorção sonora), a obtenção de uma elevada qualidade acústica do espaço passa
normalmente pela utilização de dispositivos de acústica variável, tornando mais complexo o
estudo de condicionamento acústico interior.
Em termos práticos, uma adequada distribuição de som no interior de um recinto é aquela que
minimiza as variações dos níveis sonoros tendo em atenção os tempos de reverberação
aconselháveis e evitando a formação de fenómenos de reflexão desagradáveis, como são
exemplo os ecos múltiplos (ou flutuantes), os ecos e a focalização de ondas sonoras (ver
Figura 20). É de referir que uma diminuição no tempo de reverberação conduz a uma maior
diferença entre os níveis sonoros verificados nos vários pontos do recinto. Contudo, no caso da
utilização de sistema de amplificação de som, é possível reduzir os tempos de reverberação
sem que se verifique uma variação exagerada nos níveis sonoros no interior do recinto.
Uma das disposições mais importantes que influencia de forma significativa a inteligibilidade
dos sons, ou das palavras, é a possibilidade de ocorrência de fenómenos de reflexão
indesejáveis com são os ecos múltiplos (flutuantes), os ecos e a focalização de ondas [11].
A ocorrência de ecos múltiplos (ou flutuantes) consiste na repetição múltipla, com intervalos de
tempo muito pequenos, do som gerado por uma fonte sonora, e aparece quando esta se situa
entre duas superfícies paralelas reflectoras, não muito afastadas. Quando as repetições de
som, resultantes das reflexões, se apresentam intervaladas de cerca de 50 mseg. o ouvido
humano tem, em geral, capacidade para distinguir duas reflexões sucessivas e, neste caso,
este fenómeno é designado de eco. Contudo, para ocorrência do eco não é necessária a
repetição múltipla do som. De uma forma geral, a formação do eco ocorre sempre que existam
superfícies reflectoras que possibilitem que o trajecto total indirecto da propagação do som,
desde a fonte passando pelas reflexões na superfície da envolvente e chegando ao receptor,
seja superior em pelo menos 17 m em relação à trajectória directa entre a fonte e o receptor.
T30 – Tempo de reverberação calculado com base no decaimento de energia sonora entre -5dB e -35 dB,
e extrapolado para 60 dB de decaimento (ou simplesmente Tr). A legislação em vigor no nosso país
considera ainda um parâmetro tempo de reverberação médio T, que é calculado a partir da média
aritmética entre os valores de T30 (ou Tr) nas bandas de oitava de 500, 1000 e 2000 Hz.
EDT - Tempo de reverberação mais cedo, determinado para os primeiros 10 dB de decaimento do som,
mas também extrapolado para um decaimento de 60dB. Este parâmetro é comparável com o T30,
permitindo estimar a relação entre a energia sonora resultante, imediatamente após o som ser emitido e a
energia global. Este parâmetro permite avaliar o efeito das primeiras reflexões, que são as mais
percepcionadas pelos ouvintes.
RASTI - Ìndice de transmissão rápida de linguagem, que utiliza uma escala que varia de 0 a 100% (ou de
0 a 1), onde o “0” corresponde a uma inteligibilidade nula enquanto que o valor “100” corresponde a uma
inteligibilidade perfeita (na prática ambas inatingíveis).
D50 – Definição: parâmetro determinado através da relação entre a energia registada nos primeiros 50
mseg (som directo e primeiras reflexões) e a energia total. Este valor é expresso em percentagem (ou
eventualmente numa escala de 0 a 1) e quanto maior for melhor será a inteligibilidade da palavra na sala.
De um modo geral, este valor deverá ser superior a 50%.
C80 - Claridade musical: parâmetro determinado através da relação entre a energia registada nos
primeiros 80 mseg e a energia registada após os 80 mseg. Uma sala soa de forma clara quando os sons
sucessivos e sons simultâneos são percebidos de forma distinta. A claridade é função da intensidade do
som directo, do tempo de reverberação e do intervalo entre a chegada do som directo e o primeiro som
reflectido. Por outro lado, a natureza da música que se executa numa sala poderá também conduzir a
sensações distintas no que respeita à claridade da sala.
LF – Eficiência Lateral (“Lateral Energy Fraction”), que corresponde à relação entre a energia que chega
lateralmente a um ouvinte, dentro dos primeiros 80 ms após a chegada do som directo (exclui o som
directo), e a energia recebida em todas as direcções no mesmo intervalo de tempo (som directo mais
primeiras reflexões).
G – Sonoridade G (“Strength Factor”), que corresponde á diferença entre o nível total de pressão sonora
produzido por uma fonte omnidireccional num determinado ponto de uma sala e o nível de pressão
sonora produzido pela mesma fonte situada em campo livre e medida a uma distância de 10m. Gmid
corresponde à média dos valores G nas bandas de oitava de 500 Hz e 1000 Hz.
BR – “Bass Ratio”, que corresponde à relação entre a soma dos T30 nas bandas de oitava de 125 Hz e
250 Hz e a soma dos T30 nas bandas de oitava de 500 Hz e 1000 Hz.
A – Área de absorção sonora equivalente média (entre 500, 1000 e 2000Hz), considerado habitualmente
como referência em alternativa ao tempo de reverberação T em espaços não delimitados, nomeadamente
átrios e corredores. A legislação em vigor no nosso país, para alguns casos em edifícios escolares e
2
hospitalares, prevê a caracterização com base num valor de A por m de piso, o que corresponde a dividir
o valor de A por a área de piso S (A/S).
A previsão destes e de outros possíveis parâmetros, na fase de projecto, pode ser efectuada
através de programas de cálculo, recorrendo à modelação numérica a 3D (ver Figuras 19 e
20). Com frequência estes programas permitem a previsão do comportamento acústico de
salas, baseado nos seguintes modelos:
• “Image Source Model – ISM” para cálculo dos detalhes dos reflectogramas;
• “Ray Tracing” a utilizar na previsão de parâmetros de qualidade sonora.
Figura 22 – Alguns resultados obtidos através da modelação indicada na Figura 21, nos vários receptores
considerados no palco, plateia e galerias do teatro.
F f
Fd
Ff
D d s
Dd
e 2
Dd - Transmissão directa Df
e -Transmissão directa através de "pontos fracos"
Df, Ff e Fd - Transmissão marginal através dos
elementos de compartimentação adjacentes
s - Transmissão indirecta (parasita)
Neste caso, a estimativa do isolamento global entre os dois compartimentos pode ser
efectuada com base na Norma EN 12354-1 [14], segundo a qual, a previsão do isolamento
sonoro entre espaços se efectua integrando a propagação sonora que ocorre pelas diferentes
caminhos de transmissão.
( − RDd ,w / 10 ) A m
A0
k n
∑ ∑ ∑10
( − Dn ,e , w / 10 )
R ' w = −10 Log 10
( − Dn , s , w / 10 ) ( − RFf , w / 10 )
+ 0 10 + 10 + +
SS SS
j =1 i =1 F = f =1
(8)
n n
∑10 ( − RDf , w / 10 )
+ ∑10 ( − RFd , w / 10 )
f =1 F =1
Figura 24 – Exemplo de cálculo do isolamento a sons aéreos entre dois compartimentos, considerando
um programa de cálculo disponível no mercado.
A avaliação do isolamento acústico a sons aéreos por via directa, tal como acontece para os
sons de percussão, pode ser efectuada com base em dois tipos de métodos: métodos de
previsão, aplicáveis normalmente na fase de projecto/concepção (ver ponto 2.3.2) e métodos
de medição, que podem ser realizados em laboratório ou In situ (ver ponto 2.3.1).
NOTA: Ao longo deste ponto 2.3 é efectuada referência aos parâmetros Dn,w e D2m,n,w, que
correspondem aos parâmetros utilizados pela legislação em vigor até 30/06/2008. A partir do
dia 1 de Julho de 2008, entra em vigor o novo Regulamento dos Requisitos Acústicos dos
Edifícios, e estes dois parâmetros são substituídos respectivamente por DnT,w e D2m,nT, w, que
podem ser determinados a partir dos anteriores através das seguintes expressões:
0,016V
DnT , w = Dn , w + 10 Log
T0
(9)
D 0,016V
= D + 10 Log
2 m , nT , w 2 m , n , w
T0
onde V representa o volume do compartimento receptor e T0 o tempo de reverberação de
referência, igual a 0,5 s, para situações correntes, ou igual a T, quando o requisito de tempo de
reverberação é aplicável.
A avaliação do isolamento acústico a sons aéreos por via experimental, pode recorrer a três
tipos de métodos distintos: o método da caracterização experimental, baseado nas normas ISO
ou EN (método ISO/CEN); o método da holografia acústica; e o método de intensimetria
sonora.
S Tr
R = L1 − L2 + 10 Log (10)
0.16 V
onde:
Câmara
receptora (2)
Câmara
emissora (1)
L1 L2
Tr
V
Provete de
ensaio
obtido através da mesma fórmula, mas com a área A0 em substituição de S, na equação (10).
Esta área A0 representa a área de absorção sonora de referência que, para compartimentos
de habitação ou com dimensões comparáveis, é considerada igual a 10m2 (que é também o
valor habitual para a área S entre câmaras de ensaio). Neste caso, o cálculo é efectuado a
partir da seguinte expressão:
A T
Dn = L1 − L2 + 10 Log 0 r (11)
0.16 V
substituído por L1, 2 m , que representa o nível médio de pressão sonora medido a 2m da fachada
A T
D2 m,n = L1, 2 m − L2 + 10 Log 0 r (12)
0.16 V
Com base nas normas referenciadas anteriormente, os ensaios são efectuados por bandas de
1/3 de oitava entre as frequências centrais 100 e 5000 Hz para as medições em laboratório, e
entre 100 e 3150 Hz para as medições In situ. Caso se pretenda a caracterização adicional em
baixas frequências, serão consideradas ainda as bandas com frequência central igual a 50, 63
e 80 Hz. Nas medições In situ, pode também ser incluída informação adicional em altas
frequências, nas bandas com frequência central igual a 4000 e 5000 Hz, de modo a permitir a
comparação com resultados laboratoriais. Apesar de ser dada preferência à análise por bandas
de 1/3 de oitava, nas medições In situ os ensaios podem ser realizados por bandas de oitava,
entre as frequências centrais de 125 e 2000 Hz, podendo incluir adicionalmente as bandas com
frequência central de 63 e/ou 4000 Hz.
dB
X+23
X+22 X+23 X+23 X+23 X+23
Rw, Dn,w ou X+18 X+20
X+21
X+19
D2m,n,w
X+15
10 dB
X+12
X+9
X+6
X+3
X
Figura 26 – Descrição convencional de referência para sons aéreos – de acordo com EN ISO 717-1.
dB
70
R, Dn ou D2m,n
60 X+23=58
C. referência
Rw, Dn,w ou X+18=53
-4
-5
D2m,n,w = 54dB -4 -6
-6
50
30
125 250 500 1000 2000 4000 Hz
às curvas de isolamento R , Dn ou D2 m , n .
-8
i2) -9 -9 -9 -9 -9 -9 -9 -9
o (L
-10 ban
o Ur
-11 -11
eg -12 -10 -10
rá f -13 -11 -13
de T -14 -12
í do -15 -13
e Ru -16
-15
-16
t ro d (Li1
) -15
E spec -18 osa -17 -18
-20 oR
-20 -21
-20
R uíd -19
o de
ectr
-23 -21
-25 Esp -23
-26
NOTA:Todos os níveis apresentados são em
-30 -29 dB(A) e o valor global de cada espectro é
igual a 0 dB(A), com excepção do espectro
-33 de Ruído Rosa se for considerado a gama
alargada de frequências entre 50 e 5000 Hz,
-36
onde o valor global é igual a 1 dB(A).
-40
-40
63 125 250 500 1000 2000 4000 Hz
nb ( Li1− Ri ) / 10
− 10 Log 10
∑ , para i ∈ [100,3150Hz] ou f ∈ [50,3150Hz]
R Rosa = i
(13)
nb ( Li1− Ri ) / 10
1 − 10 Log 10
i
∑ , para i ∈ [50,5000Hz]
nb
RTraf . = −10 Log ∑10 ( Li 2− Ri ) / 10 (14)
i
onde:
Li1 e Li 2 – valores obtidos dos espectros de Ruído Rosa e Ruído de Tráfego Urbano,
respectivamente (dB(A));
i a nb – variação da banda de frequência (de 1/3 de oitava), que varia habitualmente (e no
mínimo) entre as frequências centrais de 100 e 3150 Hz, podendo, adicionalmente, incluir baixas
frequências(bandas de 50, 63 e 80 Hz) e altas frequências (bandas de 4000 e 5000 Hz);
Ri – valores da curva de isolamento por cada banda de frequências (dB), que pode corresponder
às curvas R , Dn ou D2 m , n .
Em vez da utilização dos índices de Ruído Rosa e de Ruído de Tráfego Urbano são
normalmente utilizados dois termos de adaptação (designados respectivamente por C e Ctr )
indexados aos índices Rw , Dn,w ou D2 m,n, w , conforme previsto na norma EN ISO 717-1. Por
exemplo, com base na curva de isolamento apresentada na Figura 26, através das equações
(12) e (13) obtêm-se os índices de isolamento de 52.3 dB(A) e 48.9 dB(A), respectivamente,
para os espectros de Ruído Rosa e de Ruído de Tráfego Urbano, considerando a gama
“normal” entre as frequências centrais de 100 e 3150 Hz. Nestas condições, os termos de
adaptação são dados pela diferença entre o valor de Rw , Dn,w ou D2 m,n, w e o número
Caso se opte por um termo de adaptação para uma gama de frequências superior, para além
da determinação dos termos indicados anteriormente, são também indicados os termos de
adaptação correspondentes a essa gama alargada de frequência. Por exemplo, em vez da
representação de Rw (C ; Ctr ) , passaria a utilizar-se Rw (C ; Ctr ; C50−3150 ; Ctr50−3150 ) ou
50-5000 Hz.
Rosa e de Ruído de Tráfego Urbano podem considerar-se mais apropriados. Por exemplo, no
isolamento de fachada, em vez do parâmetro D2 m,n, w (obtido para um espectro de referência do
tipo ruído branco) o valor de D2 m,n,w + Ctr (índice de isolamento para um espectro tipo Ruído de
normalmente com maior emissão em baixas e médias frequências. Neste caso, de acordo com
a tabela A1 do anexo A3 da norma EN ISO 717-1, o espectro de Ruído de Tráfego Urbano
também se adapta normalmente a este tipo de fontes.
Tal como já referido, mesmo considerando apenas a via de transmissão directa, através do
elemento de separação comum a dois espaços adjacentes, o fenómeno de transmissão
envolve um elevado número de variáveis, apresentando-se como variáveis fundamentais a
massa do elemento, a frequência do som, o ângulo de incidência das ondas, a existência de
pontos fracos de isolamento, a rigidez, o amortecimento do elemento e, no caso de elementos
múltiplos, o número de painéis, as características de cada um deles e da sua separação [9, 19,
20, 21].
A descrição matemática dos fenómenos envolvidos no isolamento acústico resulta assim muito
complicada. Estes estudos são em geral realizados fazendo variar apenas um número limitado
de variáveis em jogo, nomeadamente a massa, a rigidez e o amortecimento interno dos
elementos de separação [9, 19]. Daqui resulta um conjunto de modelos simplificados de
previsão do isolamento, baseados, por exemplo, no método dos elementos finitos (FEM), no
método dos elementos de fronteira (BEM) e no método de análise estatística (SEA).
R = 20 Log ( fm) - 47 dB
(15)
Da análise da fórmula anterior (modelo inercial) verifica-se que o índice de redução sonora, ou
simplesmente o isolamento sonoro, aumenta de forma próxima da linear, com acréscimos de 6
dB por cada duplicação da massa por unidade de superfície do elemento ou por cada
duplicação da frequência do som. Esta variação segue uma lei, designada de Lei da Massa
Teórica ou Lei da Frequência Teórica.
Na Figura 29 é apresentado de forma esquemática o modelo proposto por Sharp [22] para
elementos simples isotrópicos que, para além da massa e da frequência, considera a
frequência crítica do elemento e o factor de perdas do elemento.
R
dB
C D
a
itav
ro
po
B
6d
va
ita
ro
po
9 dB
A
10 dB
O
B
A recta identificada com 6 dB por oitava corresponde ao modelo inercial e pode ser obtida
através da equação (15). O ponto B é função da frequência critica ( f c ), da massa ( m ) e do
A frequência crítica ( f c ) é a frequência de coincidência mais baixa que ocorre para uma onda
sonora incidente rasante à placa, e corresponde a:
c2 ρh c2 ρ (1 − υ 2 )
fc = ≈ 0.55
2π D h E (17)
Para alguns dos materiais mais frequentes na construção de edifícios, a frequência critica pode
também ser determinada a partir do Quadro 1 (valores correspondentes a 1 cm de espessura,
para x cm de espessura a frequência critica é dada pela relação entre o valor do quadro e x,
em cm).
Paredes de alvenaria
de tijolo 6.00 0.20 1200 0.01
base nesta nova curva em bandas de 1/3 de oitava, ou eventualmente de oitava, através do
procedimento indicado na Norma ISO 717-1, poderá então determinar-se o correspondente
valor de Rw . Refira-se, no entanto, que a curva de isolamento indicada na Figura 30, relativa a
uma parede simples em alvenaria de tijolo rebocada, foi obtida para η = 0.01 , o que origina
algum exagero nas quebras por efeito de coincidência. Para valores de η da ordem de 0.03 as
quebras por efeito de coincidência seriam significativamente inferiores, tal como se verifica
normalmente na prática, e o valor de Rw seria próximo de 47 dB. Este valor de 47 dB, será em
princípio superior ao real, devido sobretudo aos “pontos fracos” de isolamento que
normalmente existem numa parede de alvenaria de tijolo (juntas de argamassa mal
preenchidas, em especial as verticais e a última horizontal, adjacente à laje de tecto, e camada
de reboco relativamente fina), e que originam valores de isolamento muito inferiores aos
indicados, para altas frequências.
R 70
[dB]
Curva Conv. Referência [ISO 717-1]
M. Simplif. Sharp cal. p/ 1/24oit. e transformado em 1/3oit.
M. Simplif. Sharp
60 Parede de tijolo
Esp. total = 0.15m
3
ρ=1200kg/m
ν=0.20
E=6 GPa
η=0.01
50 Rw(C;Ctr)=43(-2;-5)dB
40
30 1 139 ( − R / 10 )
Ex. R 125 = −10 Log ∑10 fc ,
8 fc =114
com R 125 em 1/ 3 oitava e R fc em 1/ 24 oitava
20
100 1000
Freq. [Hz]
Figura 30 – Exemplo de aplicação do modelo de Sharp [22] a uma parede simples em alvenaria de tijolo
rebocada em ambas as faces - Traçado da curva de isolamento inicialmente para bandas
de 1/24 de oitava e posteriormente convertida em bandas de 1/3 de oitava.
Como alternativa a este modelo, mas bastante mais simplificado, é apresentado na Figura 31
um diagrama de variação do índice Rw em função da massa da divisória [23], admitindo que
esta é homogénea na sua constituição. A faixa de valores indicados no gráfico pretende
representar a dispersão normal de comportamento para diferentes divisórias com a mesma
massa por unidade de superfície.
Rw
dB
60
50
40
30
20
Apesar deste tipo de modelo, baseado apenas na massa do elemento, poder conduzir a
resultados de Rw significativamente diferentes dos valores reais para os elementos de
construção tradicionais no nosso país como, a alvenaria de tijolo e os elementos em betão, os
resultados globais obtidos deste modelo podem considerar-se satisfatórios (para o efeito,
considera-se habitualmente a linha média dentro da faixa de valores indicados no gráfico).
[24, 25], modelações analíticas, aplicáveis a elementos simples, duplos e múltiplos, com três ou
mais camadas, separados por caixas de ar ou em sanduíche.
A frequência de ressonância do conjunto das massas dos painéis e caixa(s) de ar (f0), num
elemento duplo, pode ser obtida, de forma simplificada, a partir da seguinte equação [26]:
1 1 1
f 0 ≈ 60 + (19)
d m1 m2
onde:
m1 e m2 são as massas por unidade de superfície dos elementos 1 e 2 (em kg/m2);
n.c
fn = (20)
2d
onde n é número inteiro positivo.
Com base na expressão anterior, é possível verificar que, para pequenas espessuras de caixa
de ar, as frequências de ressonância no interior da caixa de ar são elevadas. Por exemplo,
para uma caixa de ar de 5 cm de espessura, a frequência de cavidade mais baixa, f1 , é
próxima de 3400Hz. Para espessuras de caixa de ar superiores a 5cm, esta frequência de
ressonância adquire valores dentro da zona principal da gama audível (100 – 3150 Hz), o que
pode originar o aparecimento de quebras importantes de isolamento acústico. Para evitar estas
quebras, poderá recorrer-se à aplicação de material absorvente sonoro no interior da caixa de
ar ou eventualmente à diminuição da espessura da caixa de ar. Contudo, a diminuição da caixa
de ar, em especial para elementos leves, poderá não ser aconselhável já que origina um
aumento da frequência de ressonância do conjunto, conforme descrito no ponto anterior. Por
outro lado, no caso dos envidraçados também não é possível a colocação de material
absorvente entre os panos de vidro, mostrando-se, no entanto, vantajosa a aplicação deste
material no contorno da moldura (mais eficaz no caso de vidros duplos não paralelos).
Refira-se, no entanto, que para os casos de elementos de construção leves onde não é
possível a aplicação de material absorvente no interior da caixa de ar, as quebras globais de
isolamento sonoro provocadas pela ressonância na caixa de ar ( f n ) são geralmente inferiores
À semelhança com os elementos simples, Sharp [22] também propôs um modelo para
elementos duplos, cujo traçado da curva de isolamento sonoro se encontra representado na
Figura 32.
R
dB
B'
C'
Traçado do tipo X',
a
v
ita
B' e C' se X' > D
ro
po
dB
15
B
X' C
va
va
ta
ita
ro
oi
po
r
po
B
6d
dB
12
D
va
ita
ro
X
10 dB
po
dB
18
a
itav
A ro
po
B
6d
Com f c1 < f c2
Ponto A:
R A = 20 Log (m1 + m2) + 20 Log ( f 0 ) − 47 (21)
Ponto D:
55
fL = (22)
d
f
R D = R A + 60 Log L (23)
f0
Ponto B:
R A + 20 Log ( f c1 /f 0 ) − 6 (a )
m2 f c01.5
20 Log(m1 ) + 10 Log(b) + 30 Log(f ) + 20 Log 1 + − 78 (b)
c2
m1 f 0 .5
RB = c 2 (24)
20 Log(m1e) + 40 Log(f c 2 ) − 99 (c)
m2 f
20 Log(m1e) + 40 Log(f c 2 ) + 20 Log 1 +
c1
− 105 (d)
m1 f
c2
onde:
(a) – aplicável quando não existe material absorvente sonoro na caixa de ar;
(b) – separação entre painéis através de grelha de apoios, com o menor espaçamento = b (em m);
(c) – separação entre painéis através de linha de apoios, espaçados da distância e (em m);
(d) – separação entre painéis através de apoios pontuais, com o menor espaçamento = e (em m).
As expressões (b), (c) e (d) são aplicáveis se existir absorção sonora na caixa de ar. Se existir apenas apoio no
contorno, o valor de RB deverá sofrer um acréscimo (que para situações correntes se pode assumir de 4 dB).
Ponto C:
R + 6 + 10 Log(η2 ) para f c1 < f c 2
RC = B (25)
R B + 6 + 10 Log(η2 ) + 5 Log(η1 ) para f c1 = f c 2
No caso de elementos envidraçados, onde a solução de elemento triplo (três panos e duas
caixas de ar) é mais frequente, geralmente a opção por vidro triplo prende-se sobretudo com
questões de isolamento térmico. Apesar da solução de elemento triplo praticamente não
ocorrer em obras de raiz, esta solução acaba por começar a existir, motivada pela necessidade
de reforço de isolamento sonoro em elementos duplos já existentes. São exemplos, o reforço
R2 R1 R3
A2 A1 A3
No caso de uma separação composta por n elementos, cada um deles com um índice de
isolamento Rwi e uma área S i , o índice de isolamento global da separação Rw pode ser obtido
∑S i
Rw = 10 Log i
(26)
∑ S 10
i
i
( − Rwi / 10 )
Este procedimento de cálculo pode ser também aplicado separadamente para cada banda de
frequências, entrando com os valores de isolamento da curva Ri de cada elemento, de forma a
obter uma curva de isolamento global da separação, em vez de um único valor Rw . Para
obtidos na equação (26) deverá ser acrescida a parcela 10 Log ( A0 S ) , onde A0 é a área de
absorção sonora equivalente de referência (habitualmente de 10m2) e S é a área total da
separação.
Um caso particular destes elementos compostos corresponde à situação em que uma pequena
parte da separação é constituída por elementos de fraco isolamento ou até mesmo pequenas
zonas abertas, originando transmissões sonoras elevadas através de “pontos fracos” e o
consequente aparecimento de quebras de isolamento. São exemplos correntes em edifícios, as
paredes com tubagens embutidas de grande secção, os dispositivos de ventilação, as caixas
de estores e os caixilhos em vãos envidraçados. Um outro exemplo, também frequente, onde
estas transmissões parasitas podem também condicionar fortemente o isolamento sonoro
ocorre nas paredes de alvenaria de tijolo, quando a camada de reboco é relativamente fina e
as juntas de assentamento do tijolo se encontram deficientemente preenchidas.
vedação de frinchas; uma terceira situação com o mesmo tipo de vidro inserido em caixilho de
correr de duas folhas, com fraca vedação de frinchas (tipo de caixilho correntemente utilizado
em edifícios de habitação); e finalmente uma quarta situação com o mesmo caixilho de correr
mal fechado, com uma frincha lateral com cerca de 2 mm de espessura.
40
30
R [dB]
20
0
100 200 500 1000 2000 5000
ou inversa, entre compartimentos do mesmo piso ou de baixo para cima. Relativamente aos
modelos de previsão, a situação de transmissão de baixo para cima ainda se encontra muito
pouco desenvolvida, sendo muitas vezes, na prática, tratada de forma muito grosseira ou
mesmo desprezada.
geralmente entre as frequências centrais de 100 e 3150 Hz. Posteriormente, a partir deste
conjunto de valores em frequência poderá ser obtido um valor único (índice L' nT , w , in situ, ou
medidos no compartimento receptor. A equação que permite obter o a curva L' nT é dada por:
T
L' nT = Li − 10 Log (27)
T0
dB
X X
L'Ln,w
nT ou X X X X X-2
X-1
L'n,w X-3 X-5
X-4
X-8
10 dB
X-11
X-14
X-17 X-20
dB
80
70 X -2 -3 -2 X
66 dB X-2
X-5
-2
60 -4
-6
-6
Para X=68 => Σ∆Li(-)/16=29 / 16 =1.81<2.0
Para X=69 => Σ∆Li(-)/16=37 / 16 =2.31>2.0 -4
50
=> X=68 =>
Ln,w ou L'n,w = X-2=66 dB X-20
L'nT = X − 2 = 66dB
40
125 250 500 1000 2000 4000 Hz
Figura 36 – Ajustamento da descrição convencional de referência
às curvas Ln ou L' n .
isolamento a sons de percussão em vigor no nosso país), a norma EN 12354-2 [35] propõe
dois tipos de modelos de cálculo: modelo detalhado e o modelo simplificado.
O modelo detalhado, tal como o próprio nome indica, é um modelo mais rigoroso, e mais
complexo, que permite determinar a transmissão de sons de percussão, quer para a situação
de percussão do elemento de separação directo, de cima para baixo entre dois compartimentos
adjacentes, quer para a situação em que a transmissão ocorre apenas por via lateral, através
da laje de piso percutida para os compartimento laterais (do mesmo piso ou do piso inferior). O
modelo simplificado, é muito fácil de ser utilizado, mas é aplicável apenas à situação de
percussão do elemento de separação directo, de cima para baixo. Neste último caso, de
acordo com a norma EN 12354-2, para lajes de betão armado (aligeiradas ou maciças –
conforme anexo B da norma EN 12354-2) o parâmetro L' nT , w pode ser determinado através da
seguinte expressão:
0,016V
L' nT , w = 169 − 35Log (m) − ∆Lw + K − 10 Log (28)
T0
em que m' é a massa superficial do pavimento (em kg/m2); ∆Lw é o índice de redução sonora
devido à existência de revestimento de piso (que é próximo de zero em pavimentos rígidos
directamente ligados à laje de suporte e pode apresentar valores da ordem de 20 dB, no caso
de pavimentos flutuantes ou de revestimentos flexíveis, fornecido pelo fabricante ou obtido pela
consulta de tabelas – ver Quadro 4); K é a correcção devido à ocorrência de transmissão
marginal, em dB, que pode ser obtida directamente da consulta da tabela 1 da norma EN
12354-2, apresentada no Quadro 3; V é o volume do compartimento receptor e T0 é o tempo
de reverberação de referência (igual a 0,5, para situações correntes, e igual a T, quando existe
requisito tempo de reverberação T aplicável).
Refira-se que, a norma EN 12354-2, em vez da constante 169, apresenta uma constante de
164, na Equação (28). Contudo, esta constante de 164 para os pavimentos mais usuais no
nosso país, conduz a resultados de L' nT , w cerca de 5 dB mais favoráveis do que os
100 1 0 0 0 0 0 0 0 0
150 1 1 0 0 0 0 0 0 0
200 2 1 1 0 0 0 0 0 0
250 2 1 1 1 0 0 0 0 0
300 3 2 1 1 1 0 0 0 0
350 3 2 1 1 1 1 0 0 0
400 4 2 2 1 1 1 1 0 0
450 4 3 2 2 1 1 1 1 1
500 4 3 2 2 1 1 1 1 1
600 5 4 3 2 2 1 1 1 1
700 5 4 3 3 2 2 1 1 1
800 6 4 4 3 2 2 2 1 1
900 6 5 4 3 3 2 2 2 2
∆Lw
Designação Características
(dB)
Com cerca de 3mm de espessura 17
Com cerca de 5mm de espessura 18
Alcatifa
Com cerca de 8mm de espessura 23
Revestimentos
Com cerca de 8mm sobre base de espuma 30
de piso
Vínilico de base Cerca de 2mm de camada de desgaste sobre membrana de
flexíveis 15
flexível polietileno reticulado com cerca de 1mm
Aglomerado de cortiça com cerca de 5mm de espessura 15
Cortiça
Madeira + Pavimento de madeira colado a manta resiliente em 21
borracha aglomerado de borracha com 4.5mm de espessura
Cerâmicos + Ladrilhos cerâmicos (7mm) + Aglomerado de cortiça de 6mm 14
Pavimentos cortiça
flutuantes Mármore + Placas de Mármore (20mm) + Aglomerado de cortiça de 6mm
14
cortiça
Parquet Parquet de madeira + Membrana de polietileno reticulado de
18
flutuante 3mm
Lajeta de betão armado com cerca de 4cm sobre membrana de
polietileno reticulado (de célula fechada) com 5mm de 19
espessura
Lajeta de betão armado com cerca de 4cm sobre membrana de
polietileno reticulado (de célula fechada) com 10mm de 21
espessura
Lajeta de betão Lajeta de betão armado com cerca de 4cm sobre manta
resiliente em aglomerado de borracha com 4.5mm de 22
espessura
Lajeta de betão armado com cerca de 4cm sobre manta
24
resiliente em aglomerado de borracha com 8mm de espessura
Lajeta de betão armado com cerca de 4cm sobre manta
27
resiliente em aglomerado de borracha com 15mm de espessura
Para as situações de transmissão de baixo para cima (transmissão marginal inversa de sons
de percussão), não existem metodologias de previsão consagradas na normalização em vigor
e os modelos de cálculo com possibilidade de ser aplicados são excessivamente complexos, e
nem sempre conduzem a resultados próximos dos reais. Na transmissão lateral, entre dois
compartimentos adjacentes do mesmo piso, apesar da norma EN 12354-2 incluir esta hipótese
no modelo detalhado, a previsão torna-se, por vezes, muito difícil de aplicar em projecto.
• Na situação em que a laje percutida é térrea, betonada sobre o solo e/ou camada de
base compactados, com revestimento rígido directamente ligado à laje, a transmissão
é fortemente atenuada, resultando normalmente valores de L' nT , w muito inferiores a
50 dB, quer na transmissão de baixo para cima, quer na transmissão lateral. Refira-se,
no entanto, que neste caso a dispersão de resultados experimentais é geralmente
elevada, pois depende, entre outras variáveis, da localização das fundações do edifício
de 7 a 15 dB.
é de esperar que na transmissão de baixo para cima o valor de L' nT , w se situe entre 52 a 60
dB.
L'nT = 55dB
10T( 2 )
LAeq ( 2) = LAeq(1) − Dn , w + 10 Log (29)
0.16V
( 2)
Considerando que o tempo de reverberação no compartimento receptor é igual ao tempo de
referência T0 , e admitindo que não existem características tonais nem impulsivas no sinal
seguinte expressão:
Caso do espaço emissor seja fechado, e de dimensões não muito elevadas, o valor de
LAeq(1) pode ser determinado, de forma simplificada, a partir da seguinte equação:
T(1)
LAeq(1) = LAW + 14 + 10 Log (31)
V
(1)
No caso de espaços emissores abertos para o exterior, o valor de LAeq(1) pode ser
D
LAeq (1) = LAW + 10 Log
(32)
4πd med
2
Nota:
Tal com já referido, a aplicação das equações 29 e 30 pressupõe que o espectro de ruído no
local emissor é próximo de ruído branco. Contudo, numa grande parte das situações este
espectro é rico em baixas frequências, sendo, neste caso, mais correcto efectuar o cálculo por
bandas de frequência, eventualmente em bandas de oitava entre as frequências centrais de 63
Hz e 8000 Hz (aplicação das Equação 29 para cada banda de frequências, determinando
posteriormente o valor de LAeq ( 2 ) , correspondente à soma logarítmica dos vários resultados
obtidos nas referidas bandas de frequência). Em alternativa, para espectros ricos em baixas
frequências, poderá ser utilizado, nas equações 29 e 30, o índice de isolamento para um
espectro de ruído de tráfego Dn , w + Ctr ou DnT , w + Ctr , em vez dos índices Dn , w ou DnT , w .
A transmissão sonora com origem em equipamentos, mas conduzida apenas pela vibração dos
elementos de construção em contacto com os equipamentos e com o local receptor, de uma
forma geral, pode ser controlada através da aplicação de apoios e/ou de plataformas
antivibratórias na base dos equipamentos e da aplicação de magas flexíveis nas condutas, que
evitem a transmissão de vibrações ao edifício. Neste caso, a previsão desta componente de
transmissão é extremamente difícil de prever em projecto, sendo, em geral, preferível aplicar
soluções que permitam assegurar que esta componente é desprezável.
Finalmente, em relação à radiação através do interior das condutas, que é em geral a mais
relevante quando o local de instalação dos equipamentos se encontra acusticamente
controlado (em termos de isolamento a sons aéreos e de vibrações), podem ser adoptadas as
metodologias apresentadas nas publicações “Handbook of Noise Control” [19] e “La Pratique
de L’Isolation Acoustique des Batiments” [37], através da seguinte expressão:
D 4
LAeq ( 2 ) = (LAW − A1 − A2 − A3 − A4 ) + 10 Log + − A5 (33)
4π d
2
R
onde,
LAW - nível de potência sonora dos equipamentos, radiada para o interior das condutas;
A1 – Atenuação por absorção sonora das paredes interiores da tubagem;
A2 – Atenuação sonora resultante de mudanças de direcção;
A3 – Atenuação sonora resultante de derivações e/ou alteração de secção;
A4 – Atenuação sonora devida à reflexão terminal (fim de circuito);
A5 – Atenuação sonora adicional resultante da aplicação de atenuadores sonoros;
D – coeficiente de direccionalidade (considerado normalmente igual a 2);
R – constante de absorção acústica do compartimento receptor (em espaços abertos 4/R=0;
em espaços fechados R = ∑ S i α i /(1 − α med ) );
d – distância entre a extremidade da conduta e o ponto onde se pretende avaliar LAeq( 2 ) .
deverá contemplar então pelo menos os dois caminhos de transmissão ruído aéreo. Ou seja,
deverá proceder-se à soma logarítmica dos valores obtidos respectivamente nas Eq. 29 e 33.
Quadro 5 – Curvas NC e valores de LAeq, dos níveis de ruído de fundo, recomendados [11].
dB
85
75 NC70
NC65
65
NC60
NC55
55
NC50
45 NC45
NC40
35 Exemplo NC35
NC35
25
NC30
NC25
15
NC20
5 NC15
De uma forma geral, a previsão dos níveis de ruído propagados no exterior pode recorrer a
uma grande diversidade de modelos de cálculo. Alguns destes modelos são bastante simples,
mas apenas com possibilidade de poderem ser utilizados em situações limitadas e/ou quando o
rigor pretendido não é significativo. Outros métodos podem ser utilizados em cenários menos
restritivos, mas requerem meios de cálculo mais elaborados. A escolha de cada um destes
métodos deve basear-se no tipo de estudo pretendido, com relevância para as características e
condicionantes do espaço em estudo (topografia do local, localização e características das
fontes de ruído e dos receptores, obstáculos existentes entre as fontes e os receptores, etc.).
Existem modelos de análise, cuja resolução recorre às mais variadas técnicas numéricas, tais
como o método das diferenças finitas, o método dos elementos finitos e o método dos
elementos fronteira.
Alguns destes modelos de análise admitem muitas simplificações, como são exemplo a
consideração da ausência de vento, a adopção de fontes lineares ou a consideração de
Outra das técnicas de análise que se revela cada vez mais importante, sobretudo em estudos
onde ao grau de exigência bem como o número de variáveis em jogo é muito elevado, consiste
na utilização de modelos reduzidos onde se simulam vários cenários possíveis e se adquirem
resultados que posteriormente podem permitir avaliar de forma rigorosa a situação real.
Para situações específicas, ou quando o rigor pretendido com o cálculo não é elevado, a
previsão da transmissão sonora pode ser efectuada considerando os modelos de fonte pontual
ou de fonte linear, aos quais podem ser aplicados correcções adicionais, de modo a contemplar
a situação real existente, nomeadamente a atenuação devida à divergência geométrica,
atenuação por efeito de barreira, a dissipação por atrito com o ar, a influência do vento, a
variação de temperatura e a propagação próxima da superfície do solo. Estas correcções
podem ser obtidas a partir da consulta de ábacos [38]. Nestes casos deve também ser
consultada a norma NP 4361-2 de 2001.
Figura 39 – Exemplo de situação onde os níveis sonoros dependem simultaneamente de quatro tipo de
fontes distintas: ruído “industrial”; tráfego rodoviário; tráfego ferroviário; e tráfego aéreo.
Para o caso do ruído de tráfego rodoviário e ferroviário, e eventualmente para outro tipo de
fontes de ruído a pequena altura relativamente ao solo, a redução dos níveis de ruído pode ser
conseguida através da implantação de obstáculos (por exemplo barreiras acústicas naturais ou
artificiais) entre a fonte e o receptor (Figura 40). De acordo com a Figura 40, apesar do ponto
receptor não ser possível observar a fonte de ruído, mesmo que a barreira seja muito espessa
e pesada (conferindo um isolamento sonoro muito elevado), a atenuação conferida pela
barreira normalmente não vai muito para além de 10 dB(A), devido à transmissão por difracção,
sobre a crista da barreira.
A
Atenuação em difracção pura - δ
δ=função(FA + AR - FR)
Receptor
(R)
Fonte Barreira infinitamente longa
(F)
barreira contínua de comprimento infinito, e uma segunda que admite uma correcção dos
resultados da fase anterior em função do comprimento da barreira.
Refira-se que, o efeito de barreira acústica não obriga a que haja uma barreira efectiva (muro)
entre a fonte e o receptor. Por exemplo, no caso de uma via de tráfego, este efeito pode ser
conseguido através da implantação da via em zona de escavação, através da criação de
taludes de aterro, entre a via e o receptor, ou através da construção de edifícios “não
sensíveis” entre a via e o receptor ou o edifício a proteger (Figuras 39 e 40).
Figura 42 – Efeito de barreira acústica criado por um edifício entre a via e o receptor.
Como complemento a este regulamento, de carácter geral, destacam-se mais sete documentos
legais específicos, actualmente em vigor:
• Regulamento de Requisitos Acústicos dos Edifícios (RRAE), aprovado inicialmente pelo
Dec. Lei n.º 129/2002 de 11 de Maio e alterado pelo Dec. Lei n.º 96/2008 de 9 de Junho,
onde se estabelecem os requisitos acústicos dos edifícios, com vista à melhoria das
condições de qualidade acústica dos edifícios.
• Decreto-Lei n.º 146/2006, de 31 de Julho, relativo à avaliação e gestão do ruído
ambiente, que transpõe para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 2002/49/CE, do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 25 de Junho.
• Regulamento das Emissões Sonoras de Equipamento para Utilização no Exterior
(RESEUE), relativo ao controlo sonoro dos equipamentos para utilização no exterior (fora
dos edifícios), aprovado pelo Dec. Lei n.º 76/2002 de 26 de Março e alterado pelo Dec.
Lei n.º 221/2006 de 8 de Novembro.
• Decreto-Lei n.º 182/2006, de 6 de Setembro, relativo à exposição ao ruído em locais de
trabalho (ruído ocupacional), que visam a protecção dos trabalhadores contra os riscos
da exposição ao ruído durante o trabalho. Este Decreto-Lei transpõe para a ordem
jurídica interna a Directiva n.º 2003/10/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 6
de Fevereiro, relativa às prescrições mínimas de segurança e saúde em matéria de
exposição dos trabalhadores aos riscos devidos ao ruído.
• Decreto-Lei n.º 46/2006, de 24 de Fevereiro, relativo à exposição a vibrações em locais
de trabalho, que transpõe para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 2002/44/CE, do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 25 de Junho, relativa às prescrições de
O RGR não prejudica o disposto em legislação especial, nomeadamente sobre ruído nos locais
de trabalho, certificação acústica de aeronaves, emissões sonoras de veículos rodoviários a
motor e de equipamentos para utilização no exterior e sistemas sonoros de alarme.
De acordo com o artigo 11º, os valores limite de exposição admissíveis no exterior são:
Zonas mistas:
• Lden < 65 dB(A);
• Ln < 55 dB(A).
Zonas sensíveis:
• Lden < 55 dB(A);
• Ln < 45 dB(A).
Mas se já existir uma grande infra-estrutura de transporte, os limites são iguais aos de zona
mista. Se já existir projectada uma grande infra-estrutura de transporte aéreo, os limites
são também iguais aos de zona mista. Se já existir projectada uma grande infra-estrutura
de transporte que não aéreo, os limites são: Lden < 60 dB(A) e Ln < 50 dB(A).
Os receptores sensíveis isolados não integrados em zonas classificadas, por estarem
localizados fora de perímetros urbanos, são equiparados, em função usos existentes na
sua proximidade, a zonas sensíveis ou mistas, para efeitos de aplicação dos
correspondentes valores limite indicados anteriormente.
Ln é o indicador de ruído nocturno e representa o nível sonoro médio de longa duração (um ano),
conforme definido na Norma NP 1730-1:1996, ou na versão actualizada.
Lden é o indicador de ruído diurno-entardecer-nocturno associado ao incómodo global, de longa
duração (um ano), que depende dos indicadores Ln (de ruído nocturno), Le (de ruído do entardecer) e
Ld (de ruído diurno).
Zona sensível é a área definida em plano municipal de ordenamento do território como vocacionada
para uso habitacional, ou para escolas, hospitais ou similares, ou espaços de lazer, existentes ou
previstos, podendo conter pequenas unidades de comércio e de serviços destinadas a servir a
população local, tais como cafés e outros estabelecimentos de restauração, papelarias e outros
estabelecimentos de comércio tradicional, sem funcionamento no período nocturno (das 23 às 7 horas).
Zona mista é a área definida em plano municipal de ordenamento do território, cuja ocupação seja
afecta a outros usos, existentes ou previstos, para além dos referidos na definição de zona sensível.
De acordo com o Anexo I do RGR o nível de avaliação LAr, que permite avaliar o critério de
incomodidade, deverá ser corrigido de acordo com as características tonais ou impulsivas do
ruído particular, de acordo com a seguinte expressão:
LAr = LAeq(ra) + K1 + K2
Onde,
K1 é a correcção tonal, e assume os valores de 3 ou de 0 consoante existam ou não
características tonais do espectro de ruído medido. Estas características tonais existem
quando o nível sonoro numa banda de 1/3 de oitava excede o das adjacentes em 5 ou
mais dB (normalmente considera-se o espectro em dB(A) na gama entre as frequências
centrais de 50 Hz e 8000 Hz).
K2 é a correcção impulsiva, e assume também os valores de 3 ou de 0, consoante
existam ou não características impulsivas do ruído medido. Estas características
impulsivas existem quando a diferença entre o LAeq(ra) medido em simultâneo com
característica “impulsiva” e “rápida” for superior a 6 dB(A).
LAeq(ra) – LAeq do ruído ambiente: Ruído ambiente: ruído global medido durante a
ocorrência do ruído particular em estudo, devido ao conjunto das fontes sonoras que
fazem parte da vizinhança próxima ou longínqua do local considerado, incluindo a fonte
em estudo. O LAeq(rr), anteriormente indicado, corresponde ao LAeq do ruído residual:
ruído ambiente ao qual se suprimem um ou mais ruídos particulares. É também
vulgarmente designado por ruído de fundo.
Aos valores limites da diferença entre LAr e LAeq(rr) estabelecidos no artigo 13º (5 dB(A) no
período diurno, 4 dB(A) no período do entardecer e 3 dB(A) no período nocturno), deverá ser
adicionado o valor D indicado no Quadro seguinte, em função da duração acumulada de
ocorrência do ruído particular:
De acordo com o nº 3 do artigo 12º, ao projecto acústico, também designado por projecto de
condicionamento acústico, aplica-se o Regulamento dos Requisitos Acústicos dos Edifícios,
aprovado pelo Decreto-Lei nº 129/2002, de 11 de Maio.
De acordo os nos 8 e 9 do artigo 13º, quando uma actividade não esteja sujeita a avaliação de
impacte ambiental, a verificação do cumprimento dos valores limites de exposição e do critério
de incomodidade é da competência da entidade coordenadora do licenciamento e é efectuada
no âmbito do respectivo procedimento de licenciamento, autorização de instalação ou de
alteração de actividades ruidosas permanentes. Para o efeito, o interessado deve apresentar à
entidade coordenadora do licenciamento uma avaliação acústica.
NOTA:
A 11 de Março de 2008, a Portaria Nº 232/2008, que saiu na sequência das alterações ao Dec.
Lei n.º 555/99 de 16/12, veio enunciar quais os elementos que devem instruir os pedidos de
realização de operações urbanísticas, nomeadamente os elementos relacionados com a
acústica e o controlo de ruído. Segundo esta portaria, e nesta área da acústica e controlo de
ruído, os elementos a entregar em processos de licenciamento são os seguintes:
• Em Informação prévia de operações de loteamento (fora de Planos de Pormenor),
Informação prévia em obras de urbanização e licenciamento de operações de
loteamento, deve ser entregue um estudo que inclua:
o Caracterização da actual situação de ruído (medições de ruído ambiente);
o Previsão de ruído futura após concretizado o loteamento;
o Demonstração do cumprimento do Regulamento Geral do Ruído (caso não se
verifique, deverão ser indicadas medidas de minimização que permitam o
cumprimento).
• Em informação prévia de obras de edificação (se incluir ocupação sensível), deverá ser
entregue um extracto de mapa de ruído ou de plano municipal de ordenamento do
território com classificação acústica. Se não existir, devem ser realizadas medições de
ruído ambiente no exterior e entregue o correspondente relatório.
• No licenciamento de obras de edificação, deverá ser entregue, juntamente com os
restantes projectos de especialidade, um Projecto Acústico.
• Na autorização de utilização e alteração de utilização, com vista à obtenção da licença
de utilização e/ou de habitabilidade, deverá ser apresentada uma avaliação acústica,
que demonstre o cumprimento dos requisitos acústicos aplicáveis (através de ensaios
acústicos e/ou de ruído).
O Regulamento dos Requisitos Acústicos dos Edifícios (RRAE – inicialmente aprovado pelo
Dec. Lei n.º 129/2002 de 11/05 e alterado pelo Dec. Lei n.º 96/2008 de 09/06), visa regular a
vertente do conforto acústico no âmbito do regime da edificação, e, consequentemente,
contribuir para a melhoria da qualidade do ambiente acústico e para o bem-estar e saúde das
populações. Este Regulamento tem como princípios orientadores a harmonização, à luz da
normalização europeia, das grandezas características do desempenho acústico dos edifícios e
respectivos índices e a quantificação dos requisitos, atendendo, simultaneamente, quer à
satisfação das exigências funcionais de qualidade dos edifícios quer à contenção de custos
inerentes à execução das soluções necessárias à sua verificação.
O RRAE aplica-se aos seguintes tipos de edifícios, em função dos usos a que os mesmos se
destinam:
a) Edifícios habitacionais e mistos, e unidades hoteleiras;
b) Edifícios comerciais e de serviços, e partes similares em edifícios industriais;
c) Edifícios escolares e similares, e de investigação;
d) Edifícios hospitalares e similares;
e) Recintos desportivos;
f) Estações de transporte de passageiros;
g) Auditórios e salas.
Acústica de Edifícios e Controlo de Ruído Pág. 58
Capítulo 3 – Aspectos Legais e Normativos / Equipamentos de Medição
Nos Quadros 7 a 13 são apresentados de forma resumida os requisitos acústicos exigidos nos
diferentes tipos de edifícios, objecto de aplicação, de acordo com o RRAE.
Quadro 9 - Requisitos acústicos exigidos em edifícios escolares e similares, e de Investigação (Art. 7º do RRAE).
Ref. Elemento / local Mínimo Regulamentar
1a) Entre o exterior e os compartimentos D2m,nT,w + (C;Ctr)> 28 dB – em zonas sensíveis reguladas pela
receptores * alínea b) do n.º1 do art. 11 do RGR
D2m,nT,w + (C;Ctr)> 33 dB – em zonas mistas ou zonas sensíveis
reguladas pelas alíneas c), d) e e) do n.º1 do art. 11 do RGR
C ou Ctr , somados a D2m,nT,w, quando área translúcida superior a
60% do elemento de fachada (função do tipo de ruído dominante na
emissão).
1c) Em compartimentos receptores *, proveniente L’nT,w < 60 dB se o local emissor for corredor de grande circulação,
de outros locais do edifício ginásio, refeitório ou oficina
L’nT,w < 65 dB se o local emissor for salas de aula, berçário ou salas
polivalentes
1d) Tempo de reverberação médio (entre 500, T < 0.15xV1/3 [s] em salas de aula, salas polivalentes, bibliotecas,
1000 e 2000Hz), T, com mobiliário e sem refeitórios e ginásios
ocupação
1e) Área de absorção sonora equivalente média A > 0.25xSplanta
(entre 500, 1000 e 2000Hz), A, em átrios e
corredores de grande circulação:
1f) Em compartimentos receptores * o valor de Bibliotecas
LAr,nT do ruído particular de equipamentos do LAr,nT < 35dB(A) se o funcionamento for intermitente
edifício deve ser: LAr,nT < 30 dB(A) se o funcionamento for contínuo
Restantes compartimentos receptores *
LAr,nT < 40dB(A) se o funcionamento for intermitente
LAr,nT < 35 dB(A) se o funcionamento for contínuo
1b) Locais de recepção Salas de aula (incluindo
- musical), de Bibliotecas e gabinetes Salas polivalentes e
Locais de emissão professores, médicos Berçários
administrativas
1b) Salas de aula, de professores, administrativas DnT,w > 45 dB DnT,w > 45 dB DnT,w > 45 dB
1b) Salas de aula musical, salas polivalentes, DnT,w > 55 dB DnT,w > 58 dB DnT,w > 50 dB
refeitórios, ginásios e oficinas
1b) Berçários DnT,w > 53 dB DnT,w > 55 dB DnT,w > 48 dB
1b) Corredores de grande circulação DnT,w > 30 dB DnT,w > 35 dB DnT,w > 30 dB
+15dB se não existir +15dB se não existir +15dB se não existir
porta porta porta
4e5 Nas avaliações in situ destinadas a verificar o + 3 dB para D2m,nT,w e para DnT,w
cumprimento dos requisitos deve considerar- - 3 dB/dB(A) para L’nT,w e LAr,nT
se: - 25% para T
* - Compartimentos receptores - Salas de aula, de professores, administrativas, polivalentes e berçários, gabinetes
médicos e bibliotecas
Quadro 13 - Requisitos acústicos exigidos em Auditórios e Salas (conferência, polivalentes e/ou cinema)
(Art. 10º -A do RRAE).
3.4. Normalização
Para obtenção das curvas de isolamento em frequência por bandas de 1/1 ou 1/3 de
oitava (medições):
• EN ISO 140-3:1995 - Acoustics. Measurement of soud insulation in buildings and a
building elements. Part 3: Laboratory measurements of airborne sound insulation of
building elements (ISO 140-3:1995);
• NP EN ISO 140-4:2000 - Acústica. Medição do isolamento sonoro de edifícios e de
elementos de construção. Parte 4: Medição in situ do isolamento sonoro a sons
aéreos entre compartimentos (ISO 140-4:1998);
• NP EN ISO 140-5:2000 - Acústica. Medição do isolamento sonoro de edifícios e de
elementos de construção. Parte 5: Medição, in situ, do isolamento sonoro a sons
aéreos de fachadas e de elementos de fachada (ISO 140-5:1998);
• NP EN ISO 140-6:2000 - Acústica. Medição do isolamento sonoro de edifícios e de
elementos de construção. Parte 6: Medição, em laboratório, do isolamento sonoro
de pavimentos a sons de percussão (ISO 140-6:1998);
Para o btenção dos índices globais de isolamento (valor único) a partir das curvas em
frequência:
• EN ISO 717-1:1996 - Acoustics. Rating of sound insulation in buildings and of
building elements. Part 1: Airborne sound (ISO 717-1:1996);
• EN ISO 717-2:1996 - Acoustics. Rating of sound insulation in buildings and of
building elements. Part 2: Impact sound (ISO 717-2:1996).
A gama de equipamentos existentes no mercado com capacidade para medições de som e/ou
de vibrações é bastante variável, quer em capacidades de aquisição e de processamento, quer
em custo de aquisição. De uma forma geral, e apesar das grandes diferenças, todos estes
aparelhos são constituídos por três partes essenciais:
Entre os aparelhos de medição sonora distinguem-se aqueles que medem pressões sonoras,
nomeadamente os sonómetros (Figura 43) e os dosímetros (Figura 44), e aqueles que medem
intensidades sonoras (sondas de intensidade – Figura 45). Alguns destes aparelhos permitem
visualizar em tempo real o espectro em frequência, por partições de bandas de oitava, para
cada um destes três tipos de medições (analisadores – Figura 43). Existem também aparelhos
que permitem em simultâneo medir pressões, intensidades e vibrações mecânicas
(analisadores com multicanais – Figura 46 e 41a ). Na Figura 47, é apresentado um exemplo
de aplicação onde se recorre à medição simultânea, através de um conjunto de microfones
ligados a um sistema de aquisição com multicanais, para avaliação de potência sonora de
equipamentos em câmara anecoica ou surda.
a) b)
Figura 43 – Sonómetros e/ou analisadores (o da esquerda com dois canais) em tempo real
(nos domínios da frequência e do tempo).
Figura 47 – Exemplo de aplicação com a aquisição em simultâneo de níveis sonoros em vários pontos
(para avaliação de potência sonora de equipamentos em câmara anecoica ou surda).
Para medições de ruído ambiente e para a acústica de edifícios, de acordo com a norma NP
1730, o equipamento de medição deve ser da classe 1, conforme especificado nas EN 61672 –
1 e EN 61260. Associado a cada uma dos equipamentos de medição deverá também existir um
calibrador da classe 1 (ver Figura 49), conforme especificado na EN 60942, com vista ao
eventual ajuste do equipamento de medição antes da execução de cada campanha de
medições, e à confirmação dos resultados das medições, a efectuar no final de cada campanha
de medições. De acordo com o Dec. Lei n.º 291/90 e a portaria n.º 1069/89, deve ser efectuado
o controlo metrológico destes equipamentos, que compreende quatro fases de controlo: a
aprovação do modelo por parte do Instituto Português da Qualidade (IPQ), que normalmente
fica a cargo dos fabricantes ou representantes da marca do equipamento; a verificação
primitiva (ou primeira verificação) do equipamento de medição e do calibrador, antes de entrar
ao serviço; a verificação/calibração periódica (anual); e, para situações excepcionais, a
verificação extraordinária. Estas três últimas verificações ficam normalmente a cargo do
proprietário do equipamento e são efectuadas em laboratório de calibração acreditado pelo
IPAC (Instituto Português de Acreditação, pertencente ao IPQ).
Figura 49 – Dois exemplos de calibradores de sonómetros e/ou de analisadores (para microfones de ½”).
Coluna dodecaédrica
Amplificador
Gerador de ruído
De uma forma geral, não é possível apontar materiais ou soluções que possibilitem um elevado
desempenho acústico simultaneamente nas áreas do condicionamento acústico interior, do
isolamento a sons aéreos e do isolamento a sons de percussão e/ou de vibrações. Mesmo
para cada uma destas áreas, o mesmo material pode apresentar desempenhos variáveis, em
função das condições de aplicação e da combinação com outros materiais. Por exemplo, a
aplicação de um painel sanduíche na separação entre duas salas adjacentes, quando aplicado
como único elemento de separação directo, pode conferir um índice Rw de 40 dB, mas se este
for aplicado como elemento de duplicação de uma parede já existente, o acréscimo introduzido
é substancialmente inferior, dependendo ainda das características da parede existente (este
acréscimo pode ser eventualmente da ordem de 15 dB, se a parede for muito aligeirada, mas
pode ser muito inferior, no caso de uma parede muito pesada).
Muitas vezes, erradamente, considera-se que por si só uma lã mineral ou uma espuma é um
excelente material de isolamento acústico. Na realidade, o que acontece é que estes materiais
conferem uma elevada absorção sonora, sobretudo em frequências elevadas, e quando
aplicados “à vista” podem diminuir substancialmente a reverberação de um espaço. No
entanto, para aplicações específicas, dependendo da forma de aplicação e da conjugação com
outros materiais, este tipo de materiais pode contribuir para um elevado isolamento sonoro a
sons aéreos ou eventualmente a sons de percussão. A aplicação de uma camada de lã
mineral, ou de outro material poroso ou fibroso, numa caixa de ar de pequenas espessura (por
exemplo 4 cm) de uma parede dupla, constituída por dois panos homogéneos e muito pesados,
pode introduzir um acréscimo de isolamento a sons aéreos quase desprezável. O mesmo já
não acontece quando se tratam de panos leves e, sobretudo, para caixas de ar de grande
espessura. Por exemplo, num elemento duplo com dois painéis de gesso cartonado, de 13mm
cada, separados de 48 mm, o valor de Rw é próximo de 37 dB, para a caixa de ar vazia, mas
passa para cerca de 46 dB, com a caixa preenchida com uma camada de lã de rocha [10].
De uma forma geral, todos os materiais absorvem energia sonora em maior ou em menor
quantidade. Entre os materiais com maior capacidade de absorção é habitual distinguirem-se
três grandes categorias de materiais absorventes: materiais porosos ou fibrosos, mais eficazes
em altas frequências (claramente acima dos 1000 Hz); ressoadores, normalmente mais
eficazes em frequências médias (sensivelmente entre 400 e os 1000 Hz); e as membranas,
que apresentam geralmente uma maior absorção sonora para baixas frequências.
São exemplos de materiais porosos ou fibrosos as lãs minerais (lã de rocha e lã de vidro), as
espumas poliuretano flexível, as mantas de fibras de poliéster, as alcatifas e os tecidos em
geral (Figura 52). Os ressoadores são constituídos por volumes de ar dentro de cavidades (tipo
garrafa) que interagem com o ar do recinto através de uma pequena abertura, do tipo gargalo.
Na prática, estes elementos são constituídos normalmente por painéis perfurados ou
ranhurados e por uma caixa de ar vazia. As membranas são constituídas por placas flexíveis, e
relativamente finas, separadas do elemento de suporte através de apoios (por exemplo um
tecto falso em gesso cartonado liso). De uma forma geral, o coeficiente de absorção sonoro
possível de obter através destes três tipos de materiais diminui progressivamente com a
diminuição da frequência do som. Ou seja, uma membrana, por mais eficiente que seja, não
permite normalmente coeficientes de absorção sonora acima de 0.6. Um material poroso ou
fibroso corrente proporciona normalmente coeficientes de absorção acima de 0.85.
Figura 53 – Painéis perfurados ou ranhurados em madeira para aplicação com caixa de ar parcialmente
preenchida com materiais porosos ou fibrosos.
Figura 54 – Painéis perfurados metálicos, blocos ranhurados de betão leve (poroso) e elementos
cerâmicos perfurados (com lã de rocha incorporada).
Laje de tecto
No Quadro 14 são apresentados os coeficientes de absorção sonora para alguns dos tipos de
materiais anteriormente referenciados.
Da análise do Quadro 14 é possível verificar que alguns materiais e/ou sistemas construtivos
apresentam, em algumas bandas de frequências, valores muito próximos de 1. Existem,
contudo, alguns materiais que ultrapassam mesmo o valor de 1, que é teoricamente o valor
limite. Este facto deve-se à forma e condições de determinação deste coeficiente de absorção
(em câmara reverberante utilizando a fórmula de cálculo de SABINE, deduzida para espaços
muito reverberantes, em campo difuso), que tendencialmente amplia os valores dos
coeficientes de absorção, em especial para coeficientes acima de 0.5. Por exemplo, numa
situação “real” da aplicação de um material e/ou sistema com um coeficiente de absorção de
0.9, numa sala de aulas ou num auditório, pode traduzir-se num “coeficiente efectivo” de 0.6 ou
0.7.
Tal como já referido, o isolamento sonoro entre dois espaços adjacentes para além de
depender do elemento de separação directo, depende dos elementos marginais e de eventuais
“pontos fracos de isolamento”. Mesmo na situação mais simples, onde a transmissão por vias
indirectas é desprezável, o isolamento sonoro não depende apenas do material que constitui o
elemento, mas também do processo de execução do elemento e da forma como este se
encontra interligado com os elementos adjacentes. Deste modo, os valores de isolamento
frequentemente apresentados em catálogos ou noutros documentos técnicos, tal como os
valores apresentados de seguida, devem ser encarados apenas como valores indicativos, e
válidos apenas para situações onde as transmissões indirectas são desprezáveis.
Na Figura 57 encontra-se esquematizada uma solução de tecto falso de reforço executada sob
a laje de tecto de um estabelecimento comercial, num edifício com habitação no piso superior.
Antes da execução do tecto falso, foram efectuadas medições acústicas, tendo resultado um
valor de Dn,w, entre o estabelecimento e um dos quartos sobrejacentes, de 48 dB. Após a
execução do tecto falso de reforço, para o qual se estimava um aumento no valor de Rw
próximo de 14 dB, foram novamente efectuadas medições acústicas, tendo resultado um valor
de Dn,w de 55 dB. Ou seja, dos 14 dB de acréscimo no tecto apenas foi possível aumentar 7
dB no valor de Dn,w. Neste caso, apenas uma das paredes laterais do estabelecimento se
encontrava alinhada com a parede do quarto, o que favoreceu o resultado.
Situação inicial
2BA 13
2BA 13
M ontante
+ Duplicação de Portas e Envidraçados
+ Tratamento Equipamentos e Condutas
O isolamento de sons de percussão e de vibrações, de uma forma geral, pode ser concretizado
recorrendo a dois tipos de actuações: através da aplicação de materiais flexíveis sobre os
elementos ou superfícies percutidas (por exemplo as alcatifas nos pisos); ou através da
interposição de materiais flexíveis entre o elemento percutido e o elemento de suporte (por
exemplo os parquet flutuantes).
Figura 60 – Lajeta flutuante com apoios discretos Figura 61 – Telas flexíveis para apoio de máquinas
em borracha (molas). ou para pavimentos flutuantes.
Para os pavimentos, onde normalmente as lajes de pisos são executadas em betão armado,
podem apontar-se três tipos de soluções correctivas: pavimentos flutuantes em madeira (Figura
62); revestimentos de piso flexíveis (vinílicos ou linóleos de base flexível, alcatifas e
revestimentos à base de aglomerados de cortiça); e lajetas flutuantes em betão (Figura 63),
sobre as quais será aplicado o revestimento de piso de acabamento. Para além destas
soluções, existem ainda muitas outras, mas ainda com pouca aplicação no nosso país,
nomeadamente a aplicação de revestimentos cerâmicos sobre membranas flexíveis em
aglomerado de borracha e/ou de cortiça (o que implica utilizar colas de assentamento flexíveis
e/ou mástiques).
Lajeta flutuante
Refira-se que, para lajetas flutuantes executadas in situ, muitas vezes mais importante que a
solução de base escolhida é o processo construtivo. Uma grande parte das situações de laje
flutuante, quando ensaiadas in situ, conduz a resultados muito fracos, praticamente iguais aos
que seriam obtidos com a solução tradicional de revestimento rígido directamente ligado à laje
de suporte ou ao enchimento da laje. Esta deficiência deve-se geralmente à ligação rígida, às
paredes envolventes, soleiras, pilares e, ainda que pontual, à própria laje de apoio. Para evitar
esta deficiência, devem ser utilizadas membranas com resistência adequada (de modo a não
rasgarem durante a execução), devem ser convenientemente seladas nas juntas (entre duas
camadas adjacentes) e devem subir cerca de 20 cm acima da base das paredes, de pilares,
atravessamento de tubagens e/ou de caixas de pavimento (se existirem), devendo apenas ser
cortadas após a aplicação do revestimento de piso, antes da aplicação do rodapé (se existir).
Para além das aplicações “diferenciadas” indicadas nos pontos 4.2 a 4.4, existem muitas
situações onde o controlo de ruído terá que recorrer a soluções e/ou sistemas mistos, que
permitam controlar simultaneamente a transmissão de ruído aéreo e de vibrações e a
reverberação.
A título de exemplo, são apresentados de seguida algumas soluções e/ou sistemas para
aplicações específicas.
Figura 66 – Aplicação de apoios antivibratórios específicos num elevador (na casa das máquinas, na
suspensão da cabine, nas guias e na própria cabine) [www.cdm.be].
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