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As ações possessórias na perícia de engenharia


Alan Francisco Guimarães - e-mail alanfguimaraes@gmail.com
Auditoria, avaliações & perícias na engenharia
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Belém, PA, 05 de dezembro de 2017.

Resumo

O presente trabalho tem por objeto o estudo teórico das ações possessórias, também
conhecidas como intérditos possessórios na perícia de engenharia, através da abordagem dos
principais conceitos presentes no nosso ordenamento jurídico, assim como a analise de cada
fase do proccesso que regula este tipo de ações. Este estudo surgiu pela necessidade de ter
profissionais de engenharia com amplos conhecimentos jurídicos para atuar de forma
precisa nas perícias judicias que versam sobre ações possessórias. O entendimento jurídico
sobre o objeto e requisitos das ações possessórias trará laudos conclusivos para a resolução
do conflito ou lide trazida para a apreciação juridicional. Assim, o objetivo deste artigo visa
aperfeiçoar e enriquecer o conhecimento acadêmico a respeito das ações possessórias na
perícia de engenharia, permitindo ainda a análise das principais inovações trazidas pelo
Código de Processo Civil da lei nº 13.105 de 2015 sobre ações possessórias. Todo o processo
será elaborado através de levantamento da bibliografia pertinente ao assunto, buscadas e
pesquisadas em livros, trabalhos de autores renomados e internet, tendo como base o
referencial teórico de estudos já realizados sobre a Lei 13.105 de março de 2015 (NUNES e
SILVA, 2015). Tais pesquisas contribuem para um posicionamento plenamente fundamentado
por aquele que será responsável pela emissão do laudo pericial que resolverá a lide posta em
juízo. Conclui-se assim, que a junção do conhecimento jurídico com o conhecimento
específico do profissional de engenharia proporcionará aos litigantes em juízo uma clara e
objetiva apresentação dos fatos para resolução do conflito.

Palavras-chave: Ações possessórias. Ação de manutenção de posse. Ação de Reintegração de


posse. Interdito Probitório. Inovações do código processual civil.

1. Introdução

Com a finalidade de compreender o instituto das ações possessórias na perícia de engenharia,


serão abordados teoricamente os 3 (três) tipos de ações cabíveis, dentro do ordenamento
jurídico, que visam tutelar a proteção da posse daquele que a teve ameaçada e precisa para
tanto, da tutela jurisdicional e da intervenção do perito judicial em engenharia, que atuará de
forma imparcial para a solução do conflito.
Primeiramente, é importante esclarecer que as ações possessórias encontram-se definidas nos
artigos 554 e seguintes do código de processo civil, que foi publicado no diário oficial no dia
17 de março de 2015 e são elas: as ações de reintegração de posse, as ações de manutenção de
posse e interdito proibitório.
Quanto as ações possessórias podemos afirmar que, “A existência de três interditos distintos
decorre da necessidade de adequar as providências judiciais de tutela possessória às diferentes
hipóteses de violação da posse” (JÚNIOR, 2014:170).
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Segundo Braga (2014), considera-se ação possessória “aquela que visa a tutelar
o direito de posse (jus possessionis), posse com fundamento tão somente no seu exercício
(discute-se posse com base na própria posse) com fulcro na posse anterior ou atual que foi
turbada ou esbulhada, ou está ameaçada de o ser”.
Já segundo Monteiro (2011), “no direito brasileiro, o possuidor encontra meios eficazes a fim
de proteger seu direito real em relação a qualquer tipo de agressão a sua posse, esses
instrumentos são chamados interditos possessórios”.
Por fim, a EBRADI (2016) define como sendo ações possessórias “aquelas que visam a
assegurar a posse, independentemente de qual direito real tenha lhe dado causa. Tais direitos
reais são protegidos por meio das chamadas ações petitórias, ou seja, aquelas que têm a
propriedade ou outro direito real como fundamento”.
Assim, é possível observar que os diversos conceitos apresentados convergem para afirmar
que as ações possessórias são espécies que defendem claramente a posse, havendo ações
especificas para cada situação em que a posse seja ameaçada, turbada ou esbulhada.
Nesse particular é importante destacar que o esbulho se dá com a perda da posse da coisa por
parte do possuidor contra sua vontade, a turbação, por sua vez, ocorre quando por ato de
terceiro, de alguma maneira, este causa moléstia à posse, e a ameaça quando ainda não
ocorreu a moléstia à posse, existindo somente a ameaça iminente de esbulho ou turbação.
Portanto, será a partir desses conceitos que o profissional de engenharia poderá investigar e
esclarecer os fatos através de seus conhecimentos técnicos, verificando o estado do bem
periciado e apurando as causas que motivaram determinado evento, daí a importância desses
profissionais nesse tipo de ações.
A ABNT define pericia como a “atividade técnica realizada por profissional com qualificação
especifica, para averiguar e esclarecer fatos, verificar o estado de um bem, apurar as causas
que motivaram determinado evento, avaliar bens, seus custos, frutos ou direitos” (ABNT,
NBR 14653-1, 2001:6).
Veja-se, que o Código de Processo Civil define os peritos como auxiliares da Justiça,
nomeados entre os profissionais legalmente habilitados e os órgãos técnicos ou científicos
devidamente inscritos em cadastro mantido pelo tribunal ao qual o Juiz está vinculado.
Já a IBAPE/SP (2015:5), no seu glossário, apresenta o perito como sendo o “profissional
legalmente habilitado, idôneo e capacitado para realizar uma perícia”.
Sendo assim, podemos concluir que os exames, vistorias e avaliações realizadas pelo perito de
engenharia serão bem-sucedidos não só pelos conhecimentos técnicos que este profissional
possa aportar, bem como pelo vasto entendimento e conhecimento jurídico a respeito das
ações possessórias, o qual trará um Laudo pericial totalmente conclusivo, eficiente e
esclarecedor.

2. Ações Possessórias

De rigor é mister destacar que as ações possessórias, assim como já fora exposto, visam
tutelar o instituto da posse, e para isto o Código de Processo Civil, as coloca dentro dos
Procedimentos Especiais, determinando métodos de proteção, bem como formas de
reivindicação em caso de turbação, esbulho ou ameaça da posse.
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O Código de Processo Civil regula o tipo de procedimento a ser adotado dependendo do


cumprimento ou não do prazo determinado pela lei para reivindicação do direito de posse,
havendo entre a Jurisprudência e Doutrina Jurídica a diferenciação entre o que se denomina
“posse nova” ou de “força nova” e, “posse velha” ou de “força velha”, ou seja, quando a ação
for proposta dentro do ano e dia ou fora desse prazo.

Nesse sentido, Cassio Scarpinnella Bueno destaca que o procedimento especial, que dará mais
celeridade às reivindicações será aquele que:

reservado para os casos em que o pedido respectivo é formulado até o ano e dia da
turbação ou do esbulho descrito na petição inicial, a chamada posse nova. Depois
desse prazo o procedimento a ser observado, mesmo que visando a tutela
jurisdicional da posse (“posse velha”) é o comum. (art. 558). (BUENO,2016:535)
(grifo nosso)

Desse modo, nas ações de força nova, isto é, nas propostas dentro do prazo de ano e dia
contados da data da turbação ou do esbulho que versem sobre bem móvel ou imóvel, será
adotado o procedimento especial e, nas ações de força velha, o procedimento comum.

Cassio Scarpinnella Bueno ainda acrescenta, a respeito das ações possessórias e da petição
inicial, que:
A petição inicial, pode trazer, além do pedido de tutela jurisdicional da posse,
pedidos de pagamento de perdas e danos e de indenização dos frutos (art. 555, I e
II). O autor também poderá requerer a concessão de tutela apta a evitar nova
turbação ou esbulho e a imposição de medida necessária e adequada para evitar
nova turbação ou esbulho e para cumprir tutela provisória ou final (art. 555,
parágrafo único)

(...)

Recebida a petição inicial e estando devidamente instruída, o magistrado deferirá


sem a oitiva do réu mandado liminar de manutenção (se a hipótese for de turbação)
ou de reintegração (se a hipótese for de esbulho). Não havendo elementos
suficientes, o autor e o réu serão citados para o que é chamado de “audiência de
justificação”, na qual serão colhidas provas tendentes à expedição do mandado
liminar de manutenção ou de reintegração (arts. 562, caput, e 563). (BUENO,
2016:535)

A respeito disso Caio Mário da Silva Pereira, explica que:

(...) A existência destas ações, com caráter próprio e rito especial, que de modo
geral todos os sistemas adotam, inspira-se no objetivo de resolver rapidamente a
questão originada do rompimento antijurídico da relação estabelecida pelo poder
sobre a coisa, sem necessidade de debater a fundo a relação dominial (...)
(PEREIRA, 2007:53)

Já, nas palavras de Elpídio Donizetti (2017:969) podemos observar ainda, quanto ao
procedimento das ações possessórias, que a especialização do procedimento que regula as
ações possessórias encontra-se na possibilidade de se deferir medida liminar.

Assim, temos que, para as ações de força nova, promovidas dentro de ano e dia, será cabível o
deferimento de proteção liminar, sendo o procedimento adequado o especial e, no caso de ser
concedido ou não o mandado liminar, o autor promoverá, nos cinco dias subsequentes, a
citação do réu para contestar a ação, seguindo-se após o procedimento comum.
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Sendo importante destacar ainda que na hipótese de ser impossível a prova documental
daqueles requisitos necessários para o deferimento da proteção liminar previstas no art. 561
do Código de Processo Civil, o art. 562 do mesmo Código, prevê para tanto a designação de
audiência de justificação, ocasião na qual serão colhidas através de prova oral os fatos
alegados e sustentados na petição inicial.

Outro destaque importante dentro das ações possessórias é a chamada fungibilidade, pois
embora cada violação da posse encontra-se regulamentada com um tipo de ação própria, na
pratica jurídica pode ocorrer que não seja tão simples distinguir qual foi a agressão que
ocorreu, motivo pelo qual o legislador permitiu no art. 554 do Código de Processo Civil que o
Juiz conheça da petição inicial, podendo julgar uma ação pela outra.

Art. 554. A propositura da ação possessória em vez de outra não obstará a que o
juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos
pressupostos estejam provados.

Nesse sentido, Cassio Scarpinnella Bueno exemplifica, destacando que:

(...) O que pode ocorrer, destarte, é que a petição inicial descreva, para o Estado-
juiz, uma situação de mera ameaça a direito e que seja formulado,
consequentemente, pedido de expedição do mandado a que se refere o art. 567 e
que, pelo passar do tempo, mesmo que breve, entre a apresentação da petição
inicial e a análise do pedido a ser feita pelo magistrado, a ameaça tenha se
transformado, no plano fático, em lesão. Nem por isso, contudo, haverá necessidade
de emendas ou de qualquer outra formalidade no plano do processo. A ordem do
magistrado deverá proteger a posse, tida como digna de tal proteção, mesmo que a
ameaça tenha se convertido em lesão ou vice-versa. (BUENO, 2016:534)

Podemos ainda, destacar também, o caráter dúplice da ação possessória que permite a
cumulação de pedidos no art. 556 do Código de Processo Civil, sendo, portanto, licito ao réu
na contestação alegar que foi ofendido em sua posse e ajuizar além da proteção possessória a
indenização pelos prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometidos pelo autor.

Inclusive, Elpídio Donizetti (2017:969), explica que essa natureza dúplice das ações
possessórias é claramente imposta por lei e se reveste de caráter excepcional, podendo-se
concluir que o art. 556 do Código de Processo Civil, prevê de forma taxativa as possibilidades
de pedido contraposto a ser formulado pelo réu, em sede de contestação.

Veja-se a respeito, os fluxogramas abaixo de Humberto Theodoro Junior (2014:195-196)


professor e desembargador aposentado do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais,
que exemplificam de forma didática e completa o procedimento adotado para os casos de ação
de “força nova” e ação de “força velha”, desde a petição inicial; a concessão de medida
liminar e ou audiência de justificação; citação do réu; contestação ou revelia e, prolação da
sentença.
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Fluxograma 1 – Ação de Força Nova – Reintegração e Manutenção de Posse.


Fonte: Adaptado de Júnior (2014)
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Fluxograma 2 – Ação de Força Velha – Reintegração e Manutenção de Posse.


Fonte: Adaptado de Júnior (2014)
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2.1. Ação de Manutenção da Posse

Na ação de Manutenção da Posse, o possuidor utiliza-se da via judicial para afastar a turbação
que está sofrendo de forma parcial, ou seja, que não lhe impede o exercício da posse e no qual
o possuidor ingressará com esse tipo de ação com o único e exclusivo fim de se manter na
posse.

De acordo com o Código de Processo Civil, existem uma série de requisitos que deverão ser
cumpridos no momento da ação, os quais encontram-se dispostos nos artigos 560 e 561, que
assim dispõem:

Art. 560. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação e
reintegrado em caso de esbulho.

Art. 561. Incumbe ao autor provar:


I – a sua posse;
II – a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
III – a data da turbação ou do esbulho;
IV – a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, ou a perda
da posse, na ação de reintegração

Para Calil da Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, a manutenção da posse é


definida como:

a ação adequada para a tutela da posse contra a turbação. É a ação do possuidor


direto que fica impossibilitado de exercer tranquilamente a sua posse por ato de
outrem.
Assim, quando não houver perda da posse, mas apenas uma limitação, a ação
cabível será de manutenção de posse. (EMERJ, 2012:132)

Segundo, Antônio Carlos Marcato (2007:158) “a ação de manutenção tem por finalidade a
obtenção de provimento jurisdicional que faça cessar a turbação, restaurando o livre exercício
da posse”.

Ainda, de acordo com o Caio Mario da Silva Pereira a manutenção da posse é conhecida
como:

(...) os interditos retinendae possessionis, com finalidade defensiva típica. O


possuidor sofrendo embaraço no exercício de sua condição, mas sem perdê-la,
postula ao Juiz que lhe espeça mandato de manutenção, provando a existência da
posse, e a moléstia. Não se vai discutir a qualidade do direito do turbador, sem a
natureza ou profundidade do dano, porem o fato em si, perturbador da posse. Por
isso é que o interdito retinendae, tais sejam as circunstancias, pode ser concedido
contra o malfeitor, contra o que se supõe fundado em direito, e até mesmo contra o
proprietário da coisa. (PEREIRA, 2012:67)

Seu objetivo é fazer cessar o ato do turbador, que molesta o exercício da posse, sem com tudo
eliminar a própria posse.

2.2. Ação de Reintegração da Posse

A ação de reintegração de posse, assim como a ação de manutenção de posse encontram-se


regulamentadas na mesma seção do Código de Processo Civil, a partir do art. 560, podendo-se
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afirmar que a ação de reintegração de posse é um tipo de ação que somente ocorrerá quando
se der o esbulho, ou seja, perda total ou parcial da posse. Vejamos:

Art. 560. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação e
reintegrado em caso de esbulho.

E assim é o entendimento de Silvio Salvo Venosa (2015:158), “ocorrendo esbulho, a ação é


de reintegração de posse”.

Por outro lado, Maria Helena Diniz (2015:104), acrescenta que “A ação de reintegração de
posse é a movida pelo esbulhado a fim de recuperar posse perdida em razão da violência,
clandestinidade, ou precariedade e ainda pleitear indenização por perdas e danos”.

Ainda de acordo Antônio Carlos Macato (2007:158) “na reintegração busca-se restabelecer o
estado anterior desfeito pela ofensa, ou seja, restabelecer o direito do legitimo possuidor sobre
a coisa possuída”.

Veja-se que o Código de Processo Civil no art. 561, impõe também uma série de requisitos ao
autor que mover este tipo de ação possessória:

Art. 561. Incumbe ao autor provar:

I – a sua posse;

II – a turbação ou esbulho praticado pelo réu;

III – a data da turbação ou do esbulho;

IV – a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção da posse, ou


a perda da posse, na ação de reintegração.

De modo que é possível observar que entre a ação de manutenção e reintegração de posse, o
que irá determinar o tipo de ação será a intensidade da agressão.

2.3. Interdito proibitório

No interdito proibitório a ameaça de turbação ou esbulho é sempre atual e contínua, no


sentido de que ainda não foi concretizada, razão pela qual a ação será necessariamente de
força nova e por conseguinte, o seu procedimento será especial.

Antônio Carlos Marcato (2007:163) destaca, nesse particular que “enquanto as ações de
manutenção e de reintegração tem por escopo a obtenção de provimento jurisdicional que
ponham fim, respectivamente, à turbação ou ao esbulho, o interdito proibitório, caracteriza-se
pela sua natureza preventiva”.

Ainda, na visão de Antônio Carlos Marcato (2007:162) este acrescenta que “a concessão de
mandado proibitório implica necessariamente o reconhecimento, pelo Juiz, da pertinência do
justo receio demonstrado pelo autor em ver sua posse na iminência de ser molestada pelo réu”
e que esse mandado proibitório tem natureza mandamental, sendo dotado de auto-
executoriedade, motivo pelo qual o descumprimento por parte do réu, implicará em pena
pecuniária.
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Ou seja, ao réu será imposto coercitivamente uma sanção arbitrada pelo Juiz, que poderá ser
diária, em caso de não obedecer a ordem proibitória expedida pelo magistrado.

Confira-se, a respeito o fluxograma ilustrativo do procedimento a ser adotado no Interdito


proibitório, pelo Professor e Desembargador aposentado Humberto Theodoro Junior
(2014:197), que traz novamente de forma objetiva e didática todas as fases compreendidas na
Ação de Interdito proibitório desde a peça inicial; citação com a respectiva aplicação da
multa; contestação ou revelia e, Sentença.

Fluxograma 3 – Interdito Proibitório.


Fonte: Adaptado de Júnior (2014)
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2.4. Da competência para a propositura das Ações Possessórias

No tocante à competência para à propositura das ações possessórias, o Código de Processo


Civil, as equipara às ações fundadas em direito real, motivo pelo qual a ação deve ser
proposta tão somente perante o foro da situação do bem.

Dessa forma, Misael Montenegro Filho (2008:39), esclarece que “A competência para o
processamento e julgamento da ação possessória é absoluta, não podendo ser modificada
pelas partes envolvidas no litigio, decorrendo de caráter cogente”, de modo que não pode ser
alterada pela vontade das partes.

2.5 Da legitimidade ativa e passiva nas ações possessórias.

De acordo com a legislação são legítimos para propor ação possessória tanto aquele que
detém a posse, quanto a pessoa que foi privada da posse.

A respeito, Humberto Theodoro Junior destaca quanto à legitimidade ativa que:

Quem detém, de fato, o exercício de algum dos poderes do domínio é, juridicamente,


possuidor, e, como tal, tem legitimidade para propor ação possessória sempre que
temer ou sofrer moléstia em sua posse (Cód. Civil de 1916, arts. 485 e 499; CC de
2002, arts. 1.196 e1.210).”

Não tem essa legitimidade aquele que detém a coisa em situação de dependência ao
comando de outrem, ou seja, o fâmulo da posse, que somente a conserva em nome
do verdadeiro possuidor e em cumprimento de ordens ou instruções suas (Cód. Civ.
de 1916, art.487; CC de 2002, art. 1.198).

Da mesma forma, não é possuidor e, pois, carece de legitimidade para os interditos,


o simples detentor, que ocupa a coisa alheia por mera permissão ou tolerância do
verdadeiro possuidor (Cód. Civ. de 1916, art. 497; CC de 2002, art. 1.208).
(JUNIOR, 2014:171)

Por outro lado, com relação à legitimidade passiva Humberto Theodoro Junior explica que:

Réu, na ação possessória, é o agente do ato representativo da moléstia à posse do


autor.
Há, porém, que se distinguir entre o que esbulha, turba ou ameaça a posse alheia
por iniciativa própria e o que o faz como preposto de outrem, como, por exemplo, o
empregado de um sítio que cumpre ordens do patrão de fechar a servidão de
passagem do vizinho.
Naturalmente, não teria sentido a reação contra o empregado, mesmo porque a
sentença não seria oponível ao verdadeiro causador do dano possessório, que é o
patrão. Caberá ao preposto, em semelhante conjuntura, revelar sua qualidade de
não possuidor e nomear o preponente à autoria, na forma do art. 62, para que,
dessa maneira, se corrija o polo passivo da relação processual.
Se, porém, a demanda foi intentada contra o possuidor direto, não haverá
ilegitimidade passiva, pois tanto ele como o possuidor indireto detêm a posse sobre
a coisa. O locatário, por exemplo, não pode nomear à autoria o locador, se terceiro
reclamar a posse do bem locado. Caber-lhe-á apenas o uso da denunciação da lide
para exigir do locador que defenda a posse que este lhe transmitiu e para
resguardar os direitos regressivos de ressarcimento, caso haja perda da causa
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possessória pelo litisdenunciante (art. 70, no II). (JUNIOR, 2014:172)

2.6. Da liminar e audiência de justificação previa.

O Código de Processo Civil, no seu artigo 562 determina que estando devidamente instruída a
petição inicial, ou seja, dentro dos termos previstos no art. 319 do CPC e com a devida prova
da posse e demonstração do justo receio de moléstia, o Juiz deferirá sem ouvir o réu, a
expedição de mandado liminar de manutenção (se for o caso de turbação) e de reintegração
(se for caso de esbulho) para o réu se abster de práticas de ameaça ou moléstia contra o
autor/possuidor com a aplicação de multa, em caso da decisão liminar ser violada ou
desrespeitada.

Com relação a audiência de justificação, é possível observar que o Código de Processo Civil
torna obrigatória esta audiência de justificação apenas para os casos de reintegração e
manutenção da posse.

Segundo Misael Montenegro Filho, esta audiência se aplica:

Quando o promovente não consegue provar por documentos, a data da efetiva


ocorrência da turbação ou esbulho, deve solicitar a designação da audiência de
justificação, o início do processo para que o magistrado colha os depoimentos das
testemunhas, que comparecem em juízo apenas para ratificar o preenchimento
desse requisito. (FILHO, 2008:65)

Assim, é possível verificar que o único objetivo da audiência de justificação segundo Misael
Montenegro Filho é o de demonstrar a data da ocorrência da turbação ou esbulho.

No entanto, este autor destaca que na referida audiência, o contraditório é limitado, pois
permite apenas a oitiva de testemunhas do autor, sendo o réu intimado tão somente para
“acompanhar os trabalhos, arguir incapacidade, o impedimento ou a suspeição da testemunha,
a ela formulando perguntas” (FILHO, 2008:65).

2.7 Da defesa do réu

A contestação, é uma espécie de defesa, na qual o réu pode e deve demonstrar que o autor que
promoveu a ação possessória, não preencheu os requisitos relacionados no art. 561 do CPC,
sendo por conseguinte, requerida a improcedência da ação e dos pedidos ou até mesmo a
extinção do processo sem resolução do mérito, haja vista ser a posse o fundamento da ação.

Nesse particular Misael Montenegro Filho (2008:121) destaca, quanto à defesa nas ações
possessórias que “a contestação oferecida no início da ação possessória deve observar o
princípio da eventualidade, exigindo do réu que articule toda a matéria de impugnação no
interior da contestação, não podendo fracionar a defesa”.

Com relação, à Revelia, que ocorre em caso do réu não apresentar defesa, cabe destacar que,
não acarretará necessariamente a presunção da veracidade dos fatos afirmados pelo autor e a
autorização para o julgamento antecipado da lide, podendo o Juiz, mesmo nesse caso, rejeitar
os pedidos da inicial em caso de constatar que o autor não preencheu os requisitos necessários
à proteção possessória.
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Quanto à citação ou intimação do réu, é importante destacar nas palavras de Elpídio Donizetti,
(2017:976) que caso este tenha sido citado para a audiência de justificação previa, “este
poderá apresentar resposta no prazo de 15 dias ou quedar-se inerte, hipótese em que se
aplicarão os efeitos da revelia”.

Por fim, considerando que as ações possessórias possuem natureza dúplice, Elpídio Donizetti
(2017:977) explica que o réu poderá, em sede de contestação, “demandar proteção possessória
e indenização pelos prejuízos resultantes da suposta moléstia perpetrada pelo autor”.

Assim, pelos tópicos analisados até aqui, nota-se que as ações possessórias manterão sempre
o seguinte procedimento, abaixo ilustrado, através do fluxograma elaborado por Antônio
Carlos Marcato (2007:165).

Fluxograma 4 – Procedimento das ações possessórias


Fonte: Adaptado de Marcato (2007)
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2.8 Das inovações trazidas pelo Código de Processo Civil.

Segundo Cassio Scarpinnella Bueno (2016:536) o Código de Processo Civil de 2015


preocupado com a realidade do país, trouxe algumas mudanças significativas.

As primeiras correspondem aos parágrafos do art. 554 que determinam regras a serem
observadas na citação, em caso de figurar no polo passivo das ações possessórias grande
número de pessoas, afigurando no §1º que esta citação pessoal será feita com aqueles
ocupantes que forem encontrados no local e os demais através de citação por edital, sem
prejuízo de intimação do Ministério Público e da Defensoria Pública, em caso de envolver
pessoas em situação de hipossuficiência.

Ainda acrescenta-se nos §§2º e 3º do art. 554 do CPC que a citação do §1º será feita por
oficial de justiça uma única vez, citando-se por edital os que não forem encontrados, impondo
ao Juiz, o dever de dar ampla publicidade da existência da ação possessória e dos prazos
processuais, valendo-se da utilização de anúncios em jornal ou rádios locais, de publicação e
cartazes na região do conflito e de outros meios.

Outra novidade trazida pelo CPC de 2015 e destacada pelo Jurista Cassio Scarpinnella Bueno
encontra-se no art. 565, §5º, que abrange, excepcionalmente, o litigio sobre a propriedade do
imóvel, onde este destaca também que:

De acordo com o caput do dispositivo, no litigio coletivo pela posse do imóvel,


quando o esbulho ou a turbação afirmado na petição inicial houver ocorrido há
mais de ano e dia, o magistrado, antes de apreciar o pedido de concessão da
medida liminar, deverá designar audiência de mediação, a realizar-se em até trinta
dias. Desta audiência participarão o Ministério Público e a Defensoria Pública
sempre que houver parte beneficiaria da justiça gratuita (§2º). Também poderão ser
intimados da audiência os órgãos responsáveis pela política agraria e pela política
urbana da União, de Estado, do Distrito Federal ou do Município em que esteja
situada a aérea em litigio. Caberá a estas pessoas se manifestarem, ou não, seu
interesse no processo e a existência de possibilidade de solução para o conflito
(§4º). A audiência também será designada quando, após a concessão da proteção
liminar, ela não for cumprida no prazo de um ano (§1º). O §3º, por fim, autoriza
que o magistrado compareça à área objeto do litigio quando a sua presença se fizer
necessária à efetivação da tutela jurisdicional. (BUENO, 2016:537)

3. Conclusão

Tendo em vista os temas abordados, é possível perceber que apesar das ações possessórias ser
um tema muito pacificado entre os grandes doutrinadores Jurídicos estudados no decorrer do
trabalho, o assunto continua sendo de extrema relevância, pois como pode ser observado, o
Código de Processo Civil da Lei nº 13.105 de 2015 manteve quase na sua totalidade
disposições já contempladas no Código anterior, trazendo inovações importantes e necessárias
como as destacadas nos artigos 554 e 565.

Também é possível observar que através da análise de cada fase processual das diferentes
ações possessórias realizadas no decorrer do trabalho, permitiu uma maior compreensão do
início ao fim de cada etapa do processo, assim como da intervenção e o papel que cada parte
tem no referido processo.

De modo que o embasamento teórico demonstrado sobre o tema em estudo, permite aos
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auxiliares da Justiça, ou seja, peritos de engenharia, obter uma noção geral dos principais
institutos e características que regulam as ações possessórias, adquirindo pleno conhecimento
teórico que lhe permitirá elaborar laudos periciais coerentes e conclusivos com o objeto da
lide que requer do Judiciário a proteção possessória.

Referências
ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14653-1: Avaliação
de Bens – Parte 1 – Procedientos Gerais. Rio de Janeiro, 2001, p. 6.

BRAGA, Bruno Cesar Maciel. As ações possessórias e o fim da execução do domínio.


Conteudo Juridico, Brasilia-DF, 2014. Disponível em:<
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