Você está na página 1de 3

A ordem do discurso: aula inaugural do College de France, pronunciada em 2

de dezembro de 1970

Michel Foucault

Fichamento

Patrick Bastos

O discurso proferido pelos sujeitos não é fundado nestes, se não, já o preexiste


no lastro da história da linguagem e dos discursos. Desta forma, os sujeitos são
apenas pontos que dão vazão aos discursos que não se limitam ao campo
subjetivo.

O poder presente nos discursos emana não dos sujeitos, mas das instituições
as quais o moldam.

O desejo e as instituições se dirigem aos discursos, a partir de lados opostos,


contidos nas inquietações que habitam os sujeitos: diante do tempo, da morte,
dos perigos, das lutas, dos poderes, dominação, etc.

...

A produção do discurso não é livre e possui modulações, imposições,


“procedimentos de exclusão. Um deles é a interdição: não se pode dizer de
tudo a todo momento, em qualquer circunstância.

(O discurso é marcado pelo desejo e pelo poder.)

Outra interdição é a rejeição e separação, que são aquelas direcionadas ao


louco. O discurso do louco ou é, desde a Idade Média, considerado nulo em
nossa sociedade, caindo assim, no vazio; ou é utilizada como parâmetro de
separação da razão, e diferentemente valorada de acordo com o contexto
histórico.

A terceira é a oposição entre verdadeiro e falso. Todavia a separação que


ocorre entre estas classificações se dá, se não de forma arbitrária, se
apegando em contingências históricas, e não em formas essenciais aistóricas
de Verdade. Sedo assim, se mantêm ou se reconduzem de acordo com as
pressões das instituições e por vezes, através da violência.

Na Grécia Antiga do século VI, a verdade de um discurso estava contida nos


sujeitos que detinham o poder para tal, somada às formas ritualísticas que
deveriam acompanhá-lo. Um século depois, entretanto, a verdade passa a
residir no conteúdo do discurso, no enunciado e não naqueles outros
elementos – a filosofia sobrepuja a sofisma.

“Essa divisão histórica deu sem dúvida sua forma geral â nossa forma de
saber. Mas não cessou, contudo, de se deslocar”, no decorrer da história e a
partir da formação das instituições, a vontade de saber tem variado seu
escopo.

Dos sistemas de exclusão, a vontade de verdade é a que mais se fortaleceu,


sendo, inclusive os outros dois sistemas (já enfraquecidos) pautados por ela.
Atravessando, assim, as instituições e justificando o saber.

A força da vontade de verdade reside em mascarar o chamado discurso


verdadeiro com o emplastro da verdade, minando assim a possibilidade de
observar o que estes discursos possuem de excludentes, ou seja, de que forma
o poder o atravessa – uma vez que, não mais é o poder do enunciador que dá
veracidade ao discurso, e nem o desejo, mas sim seu próprio enunciado; o que
não o redime de ser atravessado pelo poder e provocar interdições.

...

Há também interdições ou exclusões que não partem de fora pra dentro, mas
sim endógenas do próprio discurso – que conjuram os acasos das aparições
discursivas. Um deles é o comentário. Há em todas as sociedades, grandes
narrativas, fórmulas fundamentais, textos tradicionais, que são repetidos e
ritualizados, e há o que se diz destes textos, que é o comentário: uma ação
articulada que pode ser restritiva, modeladora, criativa, “com a condição de que
o texto mesmo seja dito e de certo modo realizado”.

Outro princípio que se segue (e se intercala ao anterior) é o autor. Vale notar


que a figura do autor não é aquela que funda o discurso, mas sim a que o
organiza e o enuncia. O significado de autor muda conforme o contexto formal
e histórico: antes do advento da ciência moderna, o autor era indispensável,
pois era um “indicador de verdade”, enquanto que, isto enfraquece a partir do
séc. XVII, pois o autor não mais está imbuído da verdade, esta aparece no
próprio enunciado e sua relação com o paradigma científico. Já na literatura, o
autor se fortalece historicamente, passando a ter cada vez mais importância,
como aquele que detém a verdade sobre o discurso literário produzido.

O terceiro ponto de exclusão se opõe aos dois anteriores: a disciplina. Se opõe


ao autor pois seus elementos sistemáticos são anônimos, não admitem o posto
da subjetividade como diretriz. E se opõe ao comentário porque não se trata da
repetição de um discurso, mas sim da possibilidade de produção de novos
discursos a partir dela.

A disciplina não é constituída de um princípio sistemático carregado de


verdades sobre o assunto ao qual ela se refere. Ela é constituída de acertos e
erros, mas que demonstram o máximo de eficácia que se tem construída
historicamente dentro do campo em questão.

A disciplina contém os discursos que se adéquam aos pressupostos que estão


predispostos em sua formatação atual: “...uma proposição deve preencher
exigências complexas e pesadas para poder pertencer ao conjunto de uma
disciplina;” Assim, há de haver acertos rejeitados e erros disciplinados.

...

O terceiro grupo de restrições é sobre aquelas que excluem ou aderem


sujeitos. A mais superficial delas é o ritual. O ritual define a qualificação do
indivíduo que fala, nele estão contidos os gestos, a postura, comportamento,
circunstâncias e os signos concernentes ao discurso específico que o
acompanha.

O segundo são “as sociedades de discurso”. Embora se apresentem hoje mais


difusas, ainda existem, são aquelas que delimitam regimes próprios, permitem
pouca divulgação e permuta, buscando, mais ou menos, a manutenção de
seus discursos dentro de suas fronteiras.

A doutrina caminha em oposição a isto. Há entretanto, o controle dos


discursos, dos sujeitos e dos enunciados. Seus enunciados têm de estar
ligados aos discursos previamente delimitados pela doutrina

Você também pode gostar