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FACULDADE DE DIREITO
BELO HORIZONTE
2020
JOÃO SILVA RODRIGUES ROSA
BELO HORIZONTE
2020
RESUMO
This study aims to analyze the understanding of the Court of Justice of Minas Gerais
(Tribunal de Justiça de Minas Gerais) regarding to the institution of the social function of
property, in the midst of irregularity in property insertions in Brazil and, also, due to the large
number of conflicts involving involved and possessors. According with the social function of
property as a fundamental duty which, for many, with a property right constraint,
comprehends its application may be valuable in understanding a Brazilian foundational issue.
To this end, all the judgments between January 1st, 2010, and December 31, 2018, which
discussed who should use the property or who would own the property, were analyzed. After
an analysis, the cases were categorized and were used as the Court's main thesis of
understanding, concluding that, mainly, the understanding or it is a social function of property
that is not applicable to specific cases, as well as its content, although balanced by some
parameters, is defined on a case by case basis.
Keywords: Property law. Possession and property. Social role or property. Aplication. Justice
Court of Minas Gerais.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO………………………....…..…..…………...…………......…………………5
CAPÍTULO 1 – APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DA
PROPRIEDADE PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MINAS GERAIS.….....…........16
1.1 Aplicação em ações possessórias…..……...……………......…...…...…...……………..16
1.2 Servidões administrativas e desapropriação……….............………………………….28
1.3 Titularidade do domínio: reivindicatórias e usucapião………….....………………....31
1.4 Outras………………………………………………………………………………….....41
2. CAPÍTULO 2 – ALGUNS RESULTADOS……..…………………............................….45
2.1 As aplicações da função social da propriedade em números………………………….45
2.2 A aplicação imediata da função social da propriedade pelo TJMG………………….47
2.3 A concretização do conceito de função social da propriedade pelo TJMG…………..51
CONCLUSÃO……………………………………………………………………………….55
REFERÊNCIAS……………..………………..…..……………..…………………..………57
ANEXOS: RELATÓRIOS DE PESQUISA...……....…………..…………..……………..66
2010……..…………..…………..……..………..………………………..…………………...66
2011…...……...…………………………………....………….…………..…………………..73
2012..…………………………………..…………..…………………..……………………...78
2013……….…………..………………………..………………………..……………………81
2014……….…………..…………..…………..………………………..…………..………....88
2015...………..………………………..………………………..…………..………………..106
2016……………..…………..…………..…………..…………..…………..……………….122
2017………….…………..…………..……..………….…………..………………………...132
2018………..………………………..………………………..………………………….…..139
REFERÊNCIAS ANEXOS………….………………………..…………..………………..151
5
INTRODUÇÃO
Estimamos que a área onde se aplica o CAR para imóveis rurais ocupa 502 milhões
de hectares. Este valor é 26% (104 milhões de hectares) maior do que os 398
milhões de hectares adotados como referência pelo SFB como área cadastrável. (…)
1
ÁVILA, Paulo Coelho; FERREIRA, Frederico Poley Martins. A insegurança da posse do solo urbano em
Minas Gerais. Urbe – Revista Brasileira de Gestão Urbana, v. 8, n. 02, 2016. Disponível em:
http://www2.pucpr.br/reol/pb/index.php/urbe?dd1=16075&dd99=view&dd98=pb. Acesso em 11/06/2018.
2
De acordo com o Serviço Florestal Brasileiro, “o Cadastro Ambiental Rural – CAR é um registro público
eletrônico de âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as
informações ambientais das propriedades e posses rurais referentes às Áreas de Preservação Permanente - APP,
de uso restrito, de Reserva Legal, de remanescentes de florestas e demais formas de vegetação nativa, e das áreas
consolidadas, compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e
combate ao desmatamento. <http://www.car.gov.br/#/sobre>.
3
IMAFLORA, KTH − ROYAL INSTITUTE OF TECHNOLOGY, GEOLAB – USP/ESALQ,
LAGESA/UFMG, OBSERVATÓRIO DO CÓDIGO FLORESTAL. Código Florestal: A Abrangência e os vazios
da CAR – quanto e quem falta. Sustentabilidade em Debate. Piracicaba/SP, v.n. 8, p. ago/2018.
6
4
FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Déficit Habitacional no Brasil em 2015. Belo Horizonte: 2018.
5
CNJ. Justiça em números. Disponível em: <https://paineis.cnj.jus.br/QvAJAXZfc/opendoc.htm?
document=qvw_l%2FPainelCNJ.qvw&host=QVS>
%40neodimio03&anonymous=true&sheet=shResumoDespFT>. Acesso em: 19 de novembro de 2019.
7
O Código Civil de 2002 reproduz também esse dever no Livro Complementar,
Das Disposições Finais e Transitórias. Veja-se o disposto em seu artigo 2.035, parágrafo
único:
Art. 2.035. A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da
entrada em vigor deste Código, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no
art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos após a vigência deste Código, aos
preceitos dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes determinada
forma de execução.
Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem
pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social
da propriedade e dos contratos.
(destacado)6
A questão, contudo, diz respeito à aplicação deste princípio, bem como em
delimitar seu conteúdo, já que o próprio conceito de função social da propriedade, bem como
os critérios para aferição de seu cumprimento, carregam em seu bojo aquilo a que se chama de
conceitos jurídicos indeterminados7. Veja-se.
Judith Martins-Costa8, analisando, à época, o projeto de lei que originou o atual
Código Civil, bem percebeu a técnica legislativa de se usar cláusulas gerais, nas quais se
inclui a função social da propriedade. Conforme apontado pela autora, o que caracteriza tais
6
Nas palavras do Min. Celso de Mello, o instituto seria uma “hipoteca social1” que recai sobre o direito de
propriedade, já apontando o sentido de limitação ao direito de propriedade. (BRASIL. Supremo Tribunal
Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade n.º 2.213. Requerentes: Partido dos Trabalhadores e Confederação
Nacional dos Trabalhadores na Agricultura. Requerido: Presidente da República. Relator: Ministro Celso de
Mello. Brasília, 04 de abril de 2002.)
7
Entenda-se “conceitos indeterminados” na acepção exposta por Florivaldo Dutra de Araújo:
Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma
agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia
e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do
valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua
emissão, e cuja utilização será definida em lei. (…)
Art. 39. A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências
fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor, assegurando o
atendimento das necessidades dos cidadãos quanto à qualidade de vida, à justiça
social e ao desenvolvimento das atividades econômicas, respeitadas as diretrizes
previstas no art. 2o desta Lei.
11
PIRES, Lilian Regina Gabriel Moreira. Função social da propriedade urbana e o plano diretor. Belo Horizonte:
Fórum, 2007. P. 69.
12
No mesmo sentido:
13
ACCA, Thiago dos Santos. A jurisprudência do Tribunal de Justiça de São Paulo sobre função social da
propriedade: subsídios para uma discussão sobre as formas de ocupação do solo. Revista de Direito Imobiliário:
RDI, São Paulo, v. 39, n. 80, p. 167-190, jan./jun. 2016.
14
A parte inicial da pesquisa (levantamento e classificação dos acórdãos) seguiu integralmente a metodologia
empregada no estudo mencionado. O que não significa dizer que não possa ter havido nuances interpretativas
para a classificação dum acórdão de uma ou outra maneira.
11
A metodologia de tal estudo foi replicada aqui, com algumas diferenças.
Inicialmente, fez-se um levantamento de todos os acórdãos em cuja ementa consta-se os
termos “função social da propriedade”15 (com aspas duplas), colocando como critério, ainda,
os julgamentos ocorridos entre 1.º de janeiro de 2010 a 31 de dezembro de 2018:
O número total de acórdãos encontrados foi de 639 16. 209 em 2010, 140 em 2011,
79 em 2012, 43 em 2013, 49 em 2014, 35 em 2015, 25 em 2016, 28 em 2017 e 31 em 2018.
Os acórdãos foram divididos conforme tabela e gráfico abaixos17.
15
Considerou-se para tanto que a ementa de um acórdão traz os pontos mais importantes da decisão.
16
Foi encontrado apenas um acórdão em duplicidade. O número mais correto, portanto, seria de 638.
17
O critério da divisão foi o direito discutido no processo. Assim, se se discutiu, por exemplo, uma rescisão
contratual e houve pedido possessório, o julgado foi classificado em “outros”.
13
Por função retórica, se entende os casos em que o TJMG apenas menciona a
função social da propriedade, sem qualquer aprofundamento no tema e sem que houvesse
qualquer utilidade argumentativa do instituto para a decisão. O termo função social da
propriedade, nesses casos, é irrelevante para a decisão.
Como fundamento legitimador, foram classificados os acórdãos em que a função
social da propriedade foi aprofundada ou teve alguma utilidade argumentativa legitimadora
para a decisão. Por aprofundamento se entende uma descrição do princípio (o que é cumprir
ou descumprir com a função social da propriedade), de que forma pode ser ele aplicado e
eventual consequência para o descumprimento do comando. Por qualidade argumentativa
legitimadora, entende-se os acórdãos em que a função social da propriedade aparecia como
finalidade ou justificativa de existência de determinada norma.
Nesse sentido, exemplo retirado do artigo já mencionado de Thiago Acca21:
21
Ibid, n.p.
22
Não se utilizou de nenhuma teoria sofisticada acerca da aplicação das normas jurídicas. O critério utilizado foi
simples e relacionado à função argumentativa que a função social da propriedade exerceu na decisão, tal qual
acima explanado.
23
Ibid, n.p.
14
Ap 531.997.4/0-00 : Nessa Ação Reivindicatória julgada parcialmente procedente,
apelam os autores para que seja reformada a sentença afastando a indenização por
benfeitorias construídas e a retenção delas pelos apelados. O Relator entende que no
caso as construções dos réus devem ser entendidas como benfeitorias com direito a
retenção, pois os proprietários agiram de maneira desidiosa em relação ao seu
imóvel, demorando quase oito anos para se manifestar definitivamente sobre o
esbulho, indicando ainda que:
“Além disso, se os apelados não tivessem utilizado o lote ele provavelmente estaria
destituído de qualquer função social, pois se os apelantes titubearam em repelir o
esbulho de sua posse, é forçoso reconhecer que eles não iriam conferir qualquer
destinação útil ao terreno. Dessa forma, os apelados, ao construírem residências -
como necessidade de moradia -, e uma simples oficina - como forma de subsistência
-, aumentaram o uso da coisa, tornando-a mais útil. Por isso, à luz do princípio da
função social da propriedade, disposto na Constituição Federal arts. 5.o, XXIII, e
170, III, deve-se reconhecer que com a construção das residências e da oficina
ocorreu o aumento da utilidade social do lote, devendo ser consideradas essas
construções como benfeitorias úteis, e não acessões. A interpretação supra privilegia
aqueles que utilizaram o imóvel de forma a confeccionar uma maior utilidade social
ao mesmo, em detrimento daqueles que o utilizam de forma abusiva, ou mesmo, dos
que o ignoram e não conferem nenhuma função que estabeleça mínimos benefícios à
sociedade em geral”
24
Foram feitos relatórios (anexos) de cada um dos julgados analisados, no qual se buscou fazer um breve (por
vezes brevíssimo) relato do caso e destacar os pontos mais importantes.
25
Ver sumário.
15
Ao final, foram feitas considerações gerais acerca das informações coletadas, bem
como impressões acerca do entendimento e aplicação da função social da propriedade pelo
Tribunal de Justiça de Minas Gerais.
16
CAPÍTULO 1 – A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DA
PROPRIEDADE PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MINAS GERAIS
Vê-se, pois, que para que se conceda a reintegração da posse, ou a manutenção nela,
é necessário que o autor comprove a sua posse e a turbação ou esbulho. A lei não faz
qualquer referência à necessidade de prova do cumprimento da função social da
propriedade para fins de proteção do possuidor turbado/esbulhado29.
26
Dentre os casos analisados.
27
Incluem-se aí as manutenções e reintegrações de posse, bem como os interditos proibitórios. Incluem-se
também as ações de imissão na posse.
28
BRASIL. TJMG. Agravo de Instrumento 1.0024.09.729583-6/001. Agravante: Ministério Público de Minas
Gerais. Agravado: Agropecuaria Adail Batista Coelho Filhos Ltda. Relator: Desembargador Francisco
Kupidlowski. Belo Horizonte/MG, 17 de junho de 2010. DJ: Belo Horizonte/MG, 02 de julho de 2010.
29
BRASIL. TJMG. Apelação cível 1.0024.08.237146-9/002. Apelante: Movimento Sem-Terra e outros. Apelante
adesivo: MPMG. Apelado: Edson Rodrigues da Silva. Relator: Des. Alexandre Santiago. Belo Horizonte, 23 de
março de 2014. DJ: Belo Horizonte, 31 de março de 2014
17
Os casos em que a função social da propriedade foi assim afastada, de plano,
foram classificados como função retórica. Não merecem nenhum comentário, já que o
argumento é o da estrita legalidade. Perfazem o número de 20 acórdãos.
Muito mais vezes o Tribunal teve uma atenção maior com a matéria. Apesar de
não utilizar o cumprimento da função social da propriedade como critério para deferir ou
indeferir o pedido, o TJMG trouxe justificativas para que um eventual descumprimento da
função social da propriedade não acarretasse em indeferimento do pedido de tutela
possessória.
Os principais argumentos giraram em torno da vedação à autotutela, ofensa ao
princípio do devido processo legal e perturbação da paz social.
Os argumentos se conectam. A lógica é que, conforme a Constituição, o
descumprimento da função social da propriedade é pressuposto para a desapropriação para
fins de reforma agrária. Assim, (i) as invasões coletivas seriam uma forma de tentar a reforma
agrária “mediante o uso de sua própria força e de suas próprias razões30”. (ii) Isso seria uma
violação ao princípio do devido processo legal, na medida em que a desapropriação prevê
procedimento próprio para se concretizar, e (iii) as invasões seriam um atentado contra a paz
social, finalidade que as ações possessórias pretendem garantir, sendo vedado, portanto, o
esbulho sob qualquer justificativa. Veja-se os seguintes excertos de julgados:
30
BRASIL TJMG. Agravo de Instrumento 1.0024.10.122427-7/001. Agravante: Ministério Público de Minas
Gerais. Agravado: Espólio de Durval Spada Vito e outros. Relatora: Desembargadora Márcia de Paoli Balbino.
Belo Horizonte/MG, 30 de setembro de 2010. DJ: Belo Horizonte/MG, 14 de outubro de 2010
31
BRASIL. TJMG. Agravo de Instrumento 1.0024.10.122427-7/001. Agravante: Ministério Público de Minas
Gerais. Agravado: Espólio de Durval Spada Vito e outros. Relatora: Desembargadora Márcia de Paoli Balbino.
Belo Horizonte/MG, 30 de setembro de 2010. DJ: Belo Horizonte/MG, 14 de outubro de 2010
18
Assim, a princípio, impor ao possuidor a comprovação do cumprimento da função
social para fins de proteção possessória seria legitimar a ação arbitrária do referido
grupo, a qual deve ser prontamente rechaçada pelo Judiciário, sob pena de se ferir o
Estado de Direito e instaurar a desordem, a prevalência da força e o retrocesso.32
32
BRASIL. TJMG. Agravo de Instrumento 1.0024.10.157867-2/001. Agravante: Ministério Público de Minas
Gerais. Agravado: Ilias Antônio de Oliveira e outros. Relatora: Desembargadora Márcia de Paoli Balbino. Belo
Horizonte/MG, 28 de outubro de 2010. DJ: Belo Horizonte/MG, 24 de novembro de 2010
33
BRASIL. TJMG. Apelação cível 1.0024.09.566641-8/004. Apelante: Manoel Soares Freires Jonas e outros.
Apelado: José Luís Pereira dos Santos. Relator: Des. Wanderley Paiva. Belo Horizonte, 30 de setembro de 2015.
DJ: 05 de outubro de 2015.
34
BRASIL TJMG. Apelação cível 1.0000.18.012324-2/001. Apelante: Defensoria Pública do Estado de Minas
Gerais. Apelado: Celulose Nipo Brasileira S/A CENIBRA. Relator: Des. Otávio Portes. Belo Horizonte, 14 de
novembro de 2018. DJ: 19 de novembro de 2018
35
JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de direito processual civil. 52.ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018. P.
140.
36
CHAVES, Cristiano; e ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil. 11.ª ed. São Paulo: Atlas, 2015. P. 73.
19
Esse posicionamento do Tribunal é majoritário mas não é unânime. Em algumas
(poucas) oportunidades o tribunal considerou sim a função social como critério de julgamento
em ações possessórias. A posição aparece também em votos vencidos (ver anexos).
Foram 07 o número de casos em que o TJMG entendeu que o cumprimento da
função social da propriedade é critério para avaliação do provimento ou não do pedido
possessório. Três deles serão analisados no corpo do texto, os demais podem ser conferidos
nos anexos.
O primeiro deles é a Apelação Cível n.º 1.0024.05.824716-4/00237.
O caso é de conflito multitudinário possessório sobre imóvel rural. Cerca de 400
famílias haviam ocupado uma fazenda. Em sua defesa, alegaram que a propriedade
descumpria com a função social, na medida em que
causa a degradação do meio ambiente, já que extrai cascalho e utiliza água pública
para fim econômico privado, sem autorização dos respectivos órgãos ambientais.
Nos termos do art. 927 do CPC, na ação de reintegração de posse, cumpre ao autor
provar tão-somente a posse anterior do bem, o esbulho praticado pelo réu e a perda
da posse após a prática do esbulho.
Porém, para que se decida o presente processo, não é possível limitar-se a questão ao
juízo possessório, impondo-se considerar os princípios da eticidade e da função
social da propriedade, ainda que a Apelada tenha ficado privada da utilização do seu
imóvel.
Registra-se que a Agravante não nega a posse anterior dos Agravados sobre a área
ocupada e, também, não impugna a ocorrência de turbação ou esbulho praticado há
38
BRASIL. TJMG. Agravo de instrumento n.° 1.0017.12.008710-5/002. Agravante: Associação Rural do
Assentamento Princesa do Vale. Agravado: Erica Gomes Figueiredo e outros. Relator: Des. Manoel dos Reis
Morais. Belo Horizonte, 05 de setembro de 2017. DJ: 15 de setembro de 2017.
21
menos de ano e dia do ajuizamento da ação. O recurso visa a suspensão da ordem de
reintegração até que o Poder Público seja oficiado para manifestar interesse na área,
dada a "desobediência no cumprimento da função social da propriedade
Por outro, cabe ao Juízo a quo, após dilação probatória, decidir sobre a necessidade
de intimação dos Órgãos Públicos sobre eventual interesse na área objeto da lide, o
alegado descumprimento da função social da propriedade e os interesses públicos
sociais envolvidos no conflito.
39
BRASIL. TJMG. Apelação Cível 1.0699.08.082305-6/002. Apelante: José Moreira e outros. Apelado: Luiz
Fernando Santiago e outros. Relator: Desembargador Rogério Medeiros. Belo Horizonte/MG, 25 de fevereiro de
2010. DJ: Belo Horizonte/MG, 13 de abril de 2010.
22
Trechos da prova oral colhida, acima transcritos, estão a indicar posse longa,
contínua, mansa e pacífica dos apelantes, que remonta a seus ancestrais. Ali residem
com suas famílias e laboram, como pequenos agricultores, em prol do sustento de
todos. Não há falar-se, dessarte, em posse injusta.
40
O voto deste caso é composto praticamente por excertos de julgados e doutrina. O TJMG pronunciou-se muito
pouco com as próprias palavras.
41
DIDIER JR, Fredie. A função social da propriedade e a tutela processual da posse. In: Rede LFG, p. 14.
Disponível em: <http://www.direito.mppr.mp.br/arquivos/File/Politica_Agraria/3diderjrfuncaosocial.pdf>.
Acesso em out 2019.
42
A conclusão tem como base a premissa de que, para o autor, a tutela possessória se justifica na medida em que
(i) busca tutelar o aparente titular do domínio, e (ii) proteger aquele que exerce poder de fato sobre a coisa,
“protegendo aquele que explora economicamente a coisa” (Ibidem, p. 11). Assim, se
a tutela processual da posse serve à tutela do titular do domínio, se esse domínio não
é digno de proteção jurídica, porquanto em desacordo com o “modelo constitucional
do direito de propriedade”, não poderá receber proteção o instrumento de realização
desse mesmo direito: a posse. (Ibidem, p. 13)
43
FACHIN, Luiz Edson. “O estatuto constitucional da proteção possessória”. Leituras complementares de
Direito Civil. Cristiano Chaves de Farias (coord.). Salvador: Editora JUS PODIVM, 2007, p. 271.
23
Quando os conflitos envolveram imóvel público, as concepções do TJMG acerca
da aplicação da função social da propriedade ou abordou outros aspectos, ou foi até mesmo
oposta às exaradas em conflitos envolvendo privados.
Um primeiro ponto a se destacar é acerca do que o Tribunal entende sobre a posse
exercida por Ente Público. Veja-se o seguinte excerto:
É certo que, se deve trazer à fiveleta a função social da propriedade na solução dos
conflitos possessórios, onde o conceito de posse não deve ficar limitado à simples
disponibilidade de uso do imóvel. Por isso é que, a prova do exercício de posse
como simples decorrência do domínio, não é admitida nem mesmo no âmbito dos
conflitos possessórios despidos de cunho social.46
44
BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0702.06.266588-1/001. 1.º Apelante: Município de Uberlândia. 2.º
Apelante: William Silva. Apelados: Município de Uberlândia e William Silva. Relator: Des. Belizário de
Lacerda. Belo Horizonte, 21 de janeiro de 2014. DJ: Belo Horizonte, 24 de janeiro de 2014.
45
Não se contabilizou o número de vezes que esse posicionamento ocorreu devido ao fato de ele não dizer
respeito (ao menos não diretamente) acerca da aplicação da função social da propriedade.
46
BRASIL. TJMG. Agravo de Instrumento n.º 1.0079.13.071478-9/001. Agravante: Lacerda dos Santos
Amorim. Agravada: CEASA/MG – Centrais de Abastecimento de Minas Gerais S/A. Interessados: Moradores da
Ocupação William Rosa. Relator: Luiz Carlos Gomes da Mata. Belo Horizonte, 13 de março de 2014. DJ: 21 de
março de 2014.
24
E não é outro o entendimento do próprio Supremo Tribunal Federal, a teor do que
prescreve a Súmula 340, enfática no sentido de que, desde a vigência do Código
Civil, os bens dominicais, como os demais bens públicos, não podem ser adquiridos
por usucapião.
Diante disso, tem-se que, nos casos possessórios envolvendo imóvel público,
muito da aplicabilidade da função social da propriedade esbarrou no “interesse público”. Os
casos classificados como função retórica foram 8. Como fundamento legitimador, 6.
Fundamento autoaplicável, 253.
Nos casos classificados como fundamento autoaplicável54, por sua vez, o debate
teve outro giro e se discutiu acerca da chamada “desapropriação judicial”55.
O caso foi uma ação de imissão na posse proposta pelo Estado de Minas Gerais
contra particular que habitava em terreno público desafetado. Em primeiro grau, o pedido de
imissão na posse foi indeferido, na medida em que se reconheceu a tese de defesa de que
cabível a desapropriação judicial em desfavor do Estado.
O instituto da desapropriação judicial está previsto no art. 1.228, §§3.º e 4.º, do
Código Civil, nos seguintes termos:
O Estado, por sua vez, argumentou que os bens públicos não estão sujeitos a
apossamento, bem como que o Código Civil não é aplicável a eles, na medida em que
possuem regime administrativo próprio.
Na decisão, o TJMG primeiro considerou as modernas limitações ao direito de
propriedade, baseadas na função social da propriedade, reconhecendo que a desapropriação
judicial se encontra neste âmbito:
56
Outros casos trataram também do descumprimento da função social da propriedade por parte da
Administração Pública. Serão abordados em momento oportuno.
28
1.2 Servidões administrativas e desapropriações
Todos esses casos foram classificados como função retórica, já que a função social
da propriedade não teve nenhum aprofundamento e nenhuma utilidade para embasar a
decisão59.
O único caso classificado como fundamento legitimador foi o agravo de
instrumento n.º 1.0461.10.000008-6/00160, interposto para reformar decisão que negou a
imissão provisória na posse por parte da Administração. A negação ocorreu porque:
“não houve demonstração de que a quantia depositada atende ao disposto no art. 15,
§ 1°, do Dec.-Lei 3365/41, tampouco a mesma se fez acompanhar por avaliação
técnica promovida por órgão independente”, o d. magistrado a quo houve por bem
resguardar “a apreciação do pedido de liminar à anuência do expropriado ou,
57
Talvez o fato justifique o fato de a função social da propriedade ter tão pouco aprofundamento nessas ações.
58
BRASIL. TJMG. Agravo de instrumento n.º 1.0166.18.001060-4/001. Agravante: Município de Cláudio.
Agravado: Incorporação Imobiliária R.C.D. Ltda. Relator: Des. Bitencourt Marcondes. Belo Horizonte, 06 de
novembro de 2018. DJ: Belo Horizonte, 14 de novembro de 2018
59
Apontar um instituto jurídico como fundamento ou finalidade de outro sem, contudo, apresentar nenhuma
explicação, ainda que breve, não é suficiente para classificá-lo como fundamento legitimador.
60
BRASIL. TJMG. Agravo de instrumento n.º 1.0461.10.000008-6/001. Agravante: Município de Ouro Preto.
Agravado Carlos Kuenerz & Cia Ltda. Relator: Des. Leite Praça. Rel. para o acórdão: Peixoto Henriques. Belo
Horizonte, 24 de maio de 2011. DJ: Belo Horizonte, 08 de julho de 2011
29
havendo impugnação do preço, para momento posterior à realização da prova
pericial” (v. fl. 13-TJ).
61
BRASIL. TJMG. Reexame necessário/apelação cível n.º 1.0024.83.104572-9/001. Remetente: Juízo da 3.ª
Vara da Fazenda Pública e Autarquias da Comarca de Belo Horizonte. 1.º Apelante: Márcio de Castro Marques.
2.º Apelante: Estado de Minas Gerais. Márcio de Castro Marques, Estado de Minas Gerais, José Agostinho da
Silva e outros. Relator: Edgard Penna Amorim. Belo Horizonte, 25 de fevereiro de 2010. DJ: Belo Horizonte, 05
de maio de 2010)
62
Art. 26. No valor da indenização, que será contemporâneo da avaliação, não se incluirão os direitos de
terceiros contra o expropriado.
§ 1º Serão atendidas as benfeitorias necessárias feitas após a desapropriação; as úteis, quando feitas com
autorização do expropriante.
30
Não bastasse o asseverado alhures para concluir pela inaplicabilidade do art. 26 do
Decreto-lei n.º 3.365/41 no caso concreto, é de se ter em conta o princípio da função
social da propriedade, insculpido nos arts. 5º, XXIII, e 170, inc. III, da Constituição
da República, que se traduz no afastamento do cunho absoluto e incondicional do
direito de propriedade para adoção da concepção social, pela qual o titular daquele
direito está obrigado a utilizar o bem não somente segundo seus interesses e
conveniências pessoais, mas também em benefício da sociedade. (…)
Destarte, seja pela boa-fé dos requeridos, seja pela observância da função social da
propriedade, não há admitir que a letra fria da lei impeça os expropriados de
haverem, a guisa de indenização, a importância que investiram na área objeto da
declaração de utilidade pública.
63
A discussão acerca de indenizações por benfeitorias não diz respeito exatamente a quem deve possuir o imóvel
ou quem é dele proprietário. Contudo, a questão central do processo era essa, o que justifica sua análise.
31
1.3 Titularidade do domínio: reivindicatórias e usucapião64
Art. 65. O imóvel rural não é divisível em áreas de dimensão inferior à constitutiva
do módulo de propriedade rural.
1.
64
Excluídas as ações em que a titularidade do domínio apareceu apenas como tese de defesa. Excluídas, também,
as desapropriações. A única ação propondo o reconhecimento de concessão de uso para fins especiais de moradia
foi incluída.
65
Conexa a uma ação reivindicatória.
66
Desses 20, um dos casos na realidade é uma reivindicatória. Contudo, como a discussão girou em torno da tese
de defesa de usucapião, o caso foi incluído como usucapião. Item 10 do anexo referente aos julgados de 2011.
Além disso, o caso de declaração de concessão de uso especial para fins de moradia foi incluído dentre as
reivindicatórias.
67
Serão trabalhados no corpo do texto apenas os casos classificados como fundamento autoaplicável, na medida
em que não foi possível traçar uma linha de entendimento dos casos classificados de outra maneira, compondo-
se eles de entendimentos específicos e esparsos de algumas materias.
68
Quanto aos imóveis urbanos, nenhum caso foi analisado.
32
É irrefutável que o principal objetivo da usucapião constitucional rural é viabilizar,
por meio da propriedade familiar, a sobrevivência do trabalhador rural baseada na
exploração da terra. O maior desafio do instituto e que faz dele seu objetivo é a
harmonização de valores igualmente relevantes: a função social da propriedade, a
subsistência familiar e o progresso econômico.
Por isso, penso que possibilitar a divisão do módulo rural em casos como o que ora
se apresenta vai ao encontro do espírito constitucional, contribuindo sobremaneira
para melhoria da qualidade de vida no campo, dando dignidade aos trabalhadores.
Permitir a usucapião de imóvel cuja área seja inferior ao módulo rural da região é
otimizar a distribuição de terras destinadas aos programas governamentais para o
apoio à atividade agrícola familiar.
(…)
Mutatis mutandis, aplica-se a mesma ratio ao caso concreto: de vez que a área
usucapienda serve tanto à moradia quanto à subsistência do Autor, a vedação à
prescrição aquisitiva em razão da dimensão da propriedade iria de encontro a
diversos valores constitucionais, notadamente o da função social da propriedade.69
(destacado)
2.70
69
BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0106.13.003997-2/001. Apelante: Antônio Correa Lopes. Relator: Des.
José Marcos Rodrigues Vieira. Belo Horizonte, 18 de maio de 2016. DJ: Belo Horizonte, 31 de maio de 2016
70
Neste ponto, a redação do voto do acórdão proferido no terceiro caso, apelação cível n.º 1.0142.17.001715-
6/002, é idêntica.
71
BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0142.15.003316-5/002. Apelante: Valdino Pio da Fonseca. Apelado:
Ministério Público de Minas Gerais. Relator: Des. Luiz Carlos Gomes da Mata. Data de julgamento: 23 de
agosto de 2018. DJ: 31 de agosto de 2018
72
Além desses 03 casos, há ainda mais dois semelhantes. O primeiro é a apelação cível n.º 1.0549.11.002837-
6/001, em que se tratou da possibilidade de se registrar imóvel urbano cuja área seja menor do que a prevista
para lotes urbanos. O caso pode ser conferido no item 02 do anexo referente aos julgados de 2013.
O segundo é a apelação cível n.º 1.0471.11.010614-6/001. Aqui, o TJMG avaliou a possibilidade de
usucapir imóvel que desatenda às normas de uso e ocupação do solo. O imóvel era fruto de loteamento ilegal, o
que tornava nulo o título aquisitivo. O TJMG entendeu pela possibilidade de se usucapir o imóvel,
fundamentando o posicionamento na função social da propriedade.
33
Além do posicionamento acima exposto, houve ainda três julgados envolvendo
usucapião que merecem ser trabalhados.
O primeiro é a apelação cível n.º 1.0114.08.090074-8/00173.
O caso é de usucapião especial urbana. A função social da propriedade foi usada
para fundamentar a decisão nos seguintes termos:
O caso é que o Estado de Minas Gerais entendeu que parte do imóvel que se
pretendeu usucapir era de sua propriedade. O título aquisitivo estadual datava do século XIX.
Foi realizada perícia e, de fato, parte do terreno era público, não tendo sido possível,
entretanto, precisar qual seria a porção exata de terreno público.
Ademais, os autores que pretenderam usucapir o terreno haviam construído
moradia de forma que o bem se tornou indivisível. Outrossim, moravam na área há mais de 35
anos, possuíam título aquisitivo e estavam de boa-fé.
Ainda acerca do imóvel, as certidões demonstravam que ele foi alienado diversas
vezes a partir de 1932, bem como que estava registrado em nome de particular.
O caso, assim, apresentou diversas particularidades que ensejaram a procedência
da usucapião, inobstante o imóvel fosse, em parte, de propriedade de Minas Gerais. A decisão
teve vários fundamentos, dentre eles a aplicação direta, isto é, não mediada por outro instituto,
da função social da propriedade. Veja-se:
(…)
Cumpre ressaltar que os bens formalmente públicos, ou seja, aqueles não afetados a
uma destinação pública específica, se encontram em situação incompatível com o
princípio da função social da propriedade, esculpido como garantia fundamental no
art. 5º, XXIII, da Carta Magna.
35
De tal modo, concluo que a existência do registro do imóvel em nome do réu, que
remonta ao ano de 1894, por si só, não impede o reconhecimento da usucapião,
visto que se trata de bem desafetado, ou seja, bem que deixou de ser público, não
possuindo mais qualquer essência de coisa pública há anos. (…)
Como se vê, a função social da propriedade foi usada diretamente para permitir
a usucapião de imóvel “formalmente público”.
O julgado, entretanto, deixa dúvidas quanto a extensão dessa possibilidade a
outros casos, na medida em que esse processo foi permeado por várias peculiaridades.
O terceiro caso envolvendo usucapião é a apelação cível n.º 1.0433.98.002228-
2/00575.
A apelação foi interposta numa ação reivindicatória em que a usucapião foi aviada
como tese de defesa. O litígio era coletivo. Aqui, o Tribunal entendeu que deveria ser
reconhecida a usucapião na medida em que os proprietários formais descumpriram a função
social da propriedade:
(…)
Sendo assim, é justo que os Apelados, usuários do imóvel por período mais que
considerável, sejam elevados à condição de proprietários e que a Apelante perca seu
patrimônio em prol dos primeiros, já que não foi diligente no sentido de atender as
determinações constitucionais acerca de tal direito.
Desta forma, devido ao risco iminente de lesão à dignidade da família que reside há
mais de quarenta anos no imóvel objeto da lide, hei por bem, indeferir a liminar para
que assim o réu permaneça no imóvel até julgamento final da lide.
76
A análise da “conveniência” do Tribunal na aplicação do instituto da função social da propriedade será
abordado no capítulo 2.
77
BRASIL. TJMG. Agravo de instrumento n.º 1.0024.12.248205-2/001. Agravante: João Hilbert Filho.
Agravada: Lourdes Hilbert Cardoso. Relator: Rogério Medeiros. Belo Horizonte, 02 de maio de 2013. DJ: Belo
Horizonte, 10 de maio de 2013
37
Ademais de o agravante estar cumprido a função social da propriedade, o TJMG
entendeu também não haver elementos suficientes a permitirem a concessão de tutela
provisória, além de que eventual concessão poderia configurar dano de difícil reparação à
parte.
Tal constatação coloca em dúvida se, em situações análogas em que presentes os
requisitos para a concessão da tutela provisória, bem como em que não se vislumbre um dano
de difícil reparação, o Tribunal decidiria da mesma maneira.
Contudo, a par de a análise do Tribunal ter sido superficial acerca do caso, bem
como a par de o raciocínio exposto no acórdão não ser dos mais claros, a função social da
propriedade foi fundamento autônomo e suficiente para revogar a tutela provisória concedida
em primeiro grau.
Os segundo e terceiro casos de reivindicatória a serem analisados são as apelações
n.º 1.0079.12.019090-9/00178 e n.º 1.0079.12.044422-3/00179.
O caso é que, no primeiro processo, os réus/apelantes habitavam num imóvel
construído sobre terreno público municipal. Na verdade, boa parte do bairro estava assentado
sobre terreno público. O Município, em razão de pretender construir uma rua, entrou com uma
ação reivindicatória para retirar os apelantes. No curso do processo, entretanto, o município
ofereceu pedido de desistência, em razão da desnecessidade de retirar os moradores para
realização da obra. Os réus não aceitaram a desistência e, em primeiro grau, o juiz sentenciou
condenando os réus a se retirarem do imóvel. Uma das teses de defesa apresentada pelos réus
era a de que eles faziam jus em receberem o imóvel a título de concessão de uso especial para
fins de moradia, objeto do segundo processo.
No posicionamento majoritário do julgamento, inicialmente, o TJMG fez algumas
ponderações acerca do direito à moradia, considerando-o como um dos conteúdos mesmo da
função social da propriedade. Em sequência, em vista de o imóvel ser usado como moradia e,
assim, cumprir com a função social, o Tribunal entendeu que, mesmo sem a aceitação da
78
BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0079.12.019090-9/001. Apelante: Crecione Gomes dos Santos e outros.
Apelado: Município de Contagem. Relator: Des. Audebert Delage. Belo Horizonte, 05 de setembro de 2017.DJ:
15 de setembro de 2017.
79
BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0079.12.044422-3/001. Apelante: Crecione Gomes dos Santos e outros.
Apelado: Município de Contagem. Relator: Des. Audebert Delage. Belo Horizonte, 05 de setembro de 2017.DJ:
15 de setembro de 2017.
38
desistência por parte dos réus, o processo deveria ser extinto sem exame do mérito, por perda
superveniente do interesse de agir.
Não obstante os réus não terem concordado com a desistência da ação, deve o
magistrado agir com sensibilidade nas ações que visam a perda de moradia das
pessoas carentes, que lá se instalaram e com dificuldade construíram a casa de
morada.
Impende-se ressaltar que, antes somente era mencionada e discutida a função social
da propriedade privada. Isto se justifica pelo fato de que nunca antes houve
instrumentos que comprovassem a importância de se atingir a função social da
propriedade pública, o que torna inovador tal instrumento. (…)
Vale dizer, em matéria de direito à moradia (CF, art. 6º), cumpre a análise sensível
das circunstâncias fáticas pelo magistrado, caso a caso, porquanto convive o Direito
com o método da ponderação, que informa a necessidade de se sopesar a
importância dos bens jurídicos, de maneira a melhor adequá-los às premissas
constitucionais fundamentais, notadamente nos casos em que se leva em conta o
desabrigo de pessoas carentes por ato do próprio Poder Público. (…)
Nesse contexto, atenta in casu grave questão social, que desafia a aplicação do
Direito à luz do postulado da dignidade humana e também da garantia fundamental
de moradia. (…)
80
O art. 6º da MP 2.220/01 dispõe que “o título de concessão de uso especial para fins de moradia será obtido
pela via administrativa perante o órgão competente da Administração Pública ou, em caso de recusa ou omissão
deste, pela via judicial”.
40
Dessa forma, diferentemente do em. relator entendo que restou demonstrado os
requisitos para concessão especial de uso para fins de moradia, pelo que deve ser
julgado procedente o pedido.
No caso dos autos, como muito bem mencionou o MM. Juiz de primeiro grau, o
imóvel dos autores não se encontra totalmente encravado, tendo acesso pelos
fundos, e para chegarem até a Av. Antonio Justino, percorrem um trajeto, parte dele
sobre as margens da linha férrea, e outra parte em um beco. Ocorre que, em pese o
imóvel não se encontrar totalmente encravado o acesso é bastante penoso e difícil,
principalmente nos momentos de trânsito de locomotivas, ao que parece não há luz
artificial.
(Apelação cível n.º 1.0153.11.002816-1/002).
81
BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0153.11.002816-1/002. Apelante: Wilson Crepaldi Júnior e outros.
Apelado: Maria Aparecida de Oliveira Lacerda e outros. Relator: Des. Pedro Aleixo. Belo Horizonte, 28 de
janeiro de 2015. DJ: 05 de fevereiro de 2015.
82
BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0303.15.000584-9/001. Apelante: Maria Márcia Ramos. Apelado: José
Divino de Almeida. Relator: Des. Mota e Silva. Belo Horizonte, 08 de novembro de 2016. DJ: 16 de novembro
de 2016.
42
Em ambos os casos, também, o Tribunal entendeu que o encravamento pode ser
parcial. O argumento utilizado envolveu a função social da propriedade e foi trabalhado nos
seguintes termos:
Numa leitura contemporânea, não se tem exigido que o imóvel esteja em situação de
absoluto encravamento, firme na função social da propriedade, a fim de lhe dar
uma destinação econômica (…)
83
BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0382.12.007849-0/001. Apelante: Júlio Cesar Castro. Apelado: Antônio
Pedro Filho e outros. Relator: Des. Mariza Porto. Belo Horizonte, 26 de junho de 2014. DJ: 07 de julho de 2014.
84
BRASIL. TJMG. Agravo de instrumento n.º 1.0433.14.024770-4/001. Agravante: Catopê Empreendimentos
Imobiliários Ltda. Agravado: Fabíola Dias de Oliveira. Relator: Des. Antônio Bispo. Belo Horizonte, 19 de
março de 2015. DJ: 27 de março de 2015.
43
O entendimento do TJMG foi o de que, de fato, as culturas produzidas nas glebas
arrendadas (café e frutas) estavam descuidadas, de maneira que os réus, assim, estavam
descumprindo a função social da propriedade85.
Ocorre que, pelos depoimentos das testemunhas Douglas Alves de Abreu e Antônio
José Boueri Alves (fls. 75/76), respectivamente, resta demonstrada a utilização
inadequada do imóvel rural arrendado, em afronta aos princípios da boa-fé objetiva
e ao cumprimento da função social da terra e da propriedade, o que, por si só, leva à
rescisão do contrato de arrendamento.
Neste sentido, em vista da ação principal trata de despejo c/c cobrança, bem como
preenchidos os requisitos autorizadores da tutela antecipada, uma vez que a imissão
do agravante dará função social à propriedade, bem como beneficiará, inclusive, a
agravada, fazendo cessar a exigibilidade dos aluguéis vincendos.
85
O artigo 2º, §1º, da Lei n.º 4.504/64, que dispõe sobre o Estatuto da Terra, assim determina:
86
O art. 475 do Código Civil dispõe:
90
O caso pode ser analisado no relatório referente aos julgados do ano de 2016, item 03. Ali, se concluiu que não
há contradição entre as decisões do TJMG. Contudo, aqui se está a discutir a aplicabilidade da função social da
propriedade pelo TJMG.
91
Lembrando que nestas duas hipóteses a aplicabilidade imediata da função social da propriedade ficou bem
aquém da média.
49
juridicamente, diz muito respeito ao entendimento político que o Tribunal possui acerca do
papel do Judiciário na regularização fundiária e na reforma agrária.
Nesse sentido, ao entender que a regularização fundiária cabe ao executivo, por
procedimento próprio, o Tribunal afasta qualquer possível discussão acerca do cumprimento
ou descumprimento da função social da propriedade, afinal, já que não seria seu papel
proceder à distribuição de terras.
Diante disso, apesar das fundamentações jurídicas utilizadas para afastar a
discussão do cumprimento ou descumprimento da função social da propriedade, fica o
questionamento de se o Tribunal manteria essas linhas de entendimento caso desse um papel
diferente ao Judiciário na reforma agrária92.
Se se analisar a diversidade de entendimento que o Tribunal possui acerca da
aplicação da função social da propriedade nos conflitos possessórios envolvendo imóveis
públicos, a hipótese acima levantada ganha força.
Os argumentos utilizados pelo Tribunal para afastar a aplicação da função social
da propriedade nunca eram os de pacificação social, exercício arbitrário das próprias razões,
ofensa ao devido processo legal, ainda que teoricamente cabíveis a esses casos.
Na realidade, o afastamento da discussão sempre girou em torno da premissa de
que a invasão de imóvel público ofenderia ao interesse coletivo, até mesmo nos casos em que
o imóvel público estava desafetado.
Essa visão de que o interesse coletivo se confunde com a Administração Pública,
se esquecendo de que atender ao interesse coletivo é tão somente uma finalidade da
Administração, contudo, merece alguns breves comentários.
Admitir que todo e qualquer ato da Administração, por ser tomado por esta
mesma Administração, é de interesse público, é, no mínimo, temerário. Não se diz que
necessariamente a função social da propriedade deva ser critério de julgamento de conflitos
possessórios sobre bens públicos, mas sim de que a premissa de que Administração Pública se
confunde com o interesse coletivo não deveria ser adotada, na medida em que isso poderia
conferir à Administração uma legitimidade perigosa de atuação93.
92
Apenas uma impressão deixada pelo posicionamento do Tribunal. Uma discussão mais aprofundada, e
valorativa, é tema que foge ao propósito deste trabalho.
93
Aqui também é apenas uma impressão do posicionamento do Tribunal. Uma discussão mais aprofundada
fugiria ao objeto deste trabalho.
50
De toda forma, concluindo, pode se afirmar, de forma bastante sintética, que o
Tribunal, ainda que em casos específicos entenda que a função social da propriedade é norma
autoaplicável, certamente o posicionamento majoritário é a de que ela não tem aplicação
imediata.
51
2.2. A concretização do conceito de função social da propriedade pelo TJMG.
o imóvel é mantido para fins especulativos, não cumprindo sua função social e se
encontrando em completo estado de abandono. Portanto, cumpre determinar se a
agravante exercia, até o esbulho, a posse sobre o imóvel, suficiente para merecer a
proteção possessória.
Alegam os agravados que o imóvel em questão não está cumprindo sua função
social, que ensejaria a conclusão de que não exerce a posse sobre o imóvel.
Razão não assiste aos agravados. Primeiramente, é certo que a função social do
imóvel urbano se reveste de características peculiares relacionadas à sua localização
e grau de desenvolvimento, ocupação, entre outros, da região onde se encontra. Vale
94
BRASIL. TJMG. Agravo de instrumento n.º 1.0079.13.017161-8/003. Agravante: Muschioni
Empreendimentos Ltda. Agravado: Andre Luiz Gomes e Silva e outro. Relator: Des. Amorim Siqueira. Belo
Horizonte, 11 de março de 2014. DJ: 17 de março de 2014.
95
BRASIL. TJMG. Agravo de instrumento n.º 1.0079.13.017161-8/001. Agravante: Muschioni
Empreendimentos Ltda. Agravado: Andre Luiz Gomes e Silva e outro. Relator: Des. Amorim Siqueira. Belo
Horizonte, 11 de março de 2014. DJ: 17 de março de 2014.
52
dizer, o que se chama função social numa dada época pode ser diferente do que
constitui função social 20 anos após. No caso em tela, conforme acima explicitado,
concluo que o agravante vem dando ao terreno a destinação que lhe é possível, no
momento. Ressalte-se que a empresa é uma construtora, sendo certo que só pode
construir ou alienar o imóvel, o que vem sendo dificultado pelo interesse público no
local.
(destacado)
Como se vê, o TJMG reputou que a posse dos agravados dava sim cumprimento à
função social da propriedade. Para isso, levou em consideração todo o contexto em que o
imóvel estava inserido:
Tal, entretanto, não quer dizer que o Tribunal não possua diretrizes para aferição
do cumprimento do instituto. Em verdade, pode-se afirmar que o Tribunal as tem de maneira
96
BRASIL. TJMG. Apelação cível n.° 1.0456.04.024748-2/001. Apelante: Marilda Aparecida da Silva. Apelado:
COHAB/MG. Relator: Des. Renato Dresch. Belo Horizonte, 19 de novembro de 2015. DJ: 25 de novembro de
2015.
53
bem estabelecida, identificando na moradia e na produtividade, principalmente agropecuária,
indicadores bastante claros para declarar o cumprimento da função social da propriedade.
Mutatis mutandis, aplica-se a mesma ratio ao caso concreto: de vez que a área
usucapienda serve tanto à moradia quanto à subsistência do Autor, a vedação à
prescrição aquisitiva em razão da dimensão da propriedade iria de encontro a
diversos valores constitucionais, notadamente o da função social da propriedade97.
(Apelação cível n.° 1.0456.04.024748-2/001)
97
BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0106.13.003997-2/001. Apelante: Antônio Correa Lopes. Relator: Des.
José Marcos Rodrigues Vieira. Belo Horizonte, 18 de maio de 2016. DJ: Belo Horizonte, 31 de maio de 2016
98
BRASIL. TJMG. Apelação Cível 1.0024.05.824716-4/002. Apelante: Luciano Monteiro Santos e outros.
Apelada: Agroreservas Do Brasil Ltda. Relatora: Desembargadora Evangelina Castilho Duarte. Belo Horizonte/
MG, 25 de fevereiro de 2010. DJ: Belo Horizonte/MG, 30 de março de 2010.
99
BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0114.08.090074-8/001. Apelante: Rariane Merces Alves Nunes e outros.
Apelado: Adão Rosa e outros. Relator: Manoel dos Reis Morais. Belo Horizonte, 24 de março de 2015. DJ: Belo
Horizonte, 17 de abril de 2015
100
BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0114.08.090074-8/001. Apelante: Rariane Merces Alves Nunes e
outros. Apelado: Adão Rosa e outros. Relator: Des. Manoel dos Reis Moarais. Belo Horizonte, 24 de março de
2015. DJ: 17 de abril de 2015.
54
Essa ideia de função social da propriedade como um dever de condicionar a
propriedade à satisfação de um bem comum, a qual o TJMG adota, mesmo que muitas vezes
sem aprofundar ou explicitar o tema, encontra bastante amparo na doutrina:
Essa, contudo, é apenas uma impressão deixada pela análise dos julgados.
Finalizando, pode-se concluir que o TJMG, mesmo que observando certas balizas
e padrões, define o conteúdo da função social da propriedade casuisticamente, partindo da
ideia de que este instituto indica uma finalidade social que o direito de propriedade deve
atender.
101
GOMES, op. cit., p. 123.
102
TEPEDINO, Gustavo. Temas de direito civil. 3.ª ed. São Paulo: Renovar, 2004, p. 317
103
GOMES, op. cit., p. 121.
55
CONCLUSÃO
O presente trabalho, diante do fato de que boa parte dos imóveis em Minas Gerais
(e no Brasil) possuem alguma irregularidade, se propôs a analisar o entendimento do Tribunal
de Justiça de Minas Gerais acerca da função social da propriedade, limitador e condicionante
do direito de propriedade e, também, da posse.
A problemática está na premissa de que a função social da propriedade se insere
nos chamados conceitos jurídicos indeterminados, sendo seu cumprimento ou
descumprimento matéria bastante controvertida. Nesse sentido, em vez de se propor possíveis
sentidos e aplicações à função social da propriedade, buscou-se fazer uma análise acerca do
que o TJMG entende por cumprir com a função social da propriedade, bem como analisar de
que forma o TJMG aplica este instituto.
Com esse fim, foram compilados todos os julgados do Tribunal, no período de
2010 a 2018, acerca de conflitos envolvendo o direito de propriedade e o direito de possuir, de
maneira que fosse possível deduzir as principais linhas de entendimento do Tribunal acerca da
aplicabilidade da função social da propriedade, bem como acerca do conteúdo deste princípio.
Para tanto, num primeiro momento, classificou-se os julgados segundo a
utilização argumentativa da função social da propriedade para a decisão. Função retórica,
fundamento legitimador e fundamento autoaplicável. Em sequência, foi compilado o
entendimento do Tribunal segundo o tipo de ação: possessória ou dominial, conforme
disposto no sumário.
Diante dessas informações, tentou-se traçar as principais linhas de entendimento
do Tribunal acerca da aplicabilidade da função social da propriedade, bem como acerca do
conteúdo deste princípio.
Conforme exposto, a principal problemática do trabalho é relativa ao fato de a
função social da propriedade, bem como seus critérios de aferição, está permeada pelos
chamados conceitos jurídicos indeterminados.
Ao se proceder à análise dos julgados, contudo, percebeu-se que um problema
anterior à definição do conceito de função social da propriedade, o Tribunal esbarrava numa
56
outra questão: a da aplicabilidade do instituto nos casos envolvendo o direito de propriedade e
o direito de posse.
Nesse sentido, deu-se um foque maior no entendimento do Tribunal acerca da
aplicabilidade da função da propriedade.
Sem prejuízo, ainda que de maneira mais singela, buscou-se também traçar as
principais linhas de entendimento do Tribunal acerca do conteúdo mesmo da função social da
propriedade.
A principal conclusão acerca da aplicabilidade da função social da propriedade é,
conforme já exposto, a de que o Tribunal tem uma forte tendência em não dar aplicação
direta à função social da propriedade, principalmente nos casos de conflitos possessórios e
nos casos envolvendo a Administração Pública.
Durante a pesquisa, ademais, percebeu-se o reduzidíssimo número de ações que
envolviam algum instituto jurídico de regularização fundiária, tal qual a desapropriação
judicial (apenas 1 caso), a concessão de uso especial para fins de moradia (2 casos, conexos),
usucapião coletivas (nenhum caso), demarcação de terras (nenhum caso) dentre outros,
presentes sobretudo no Estatuto das Cidades. Em nenhum destes casos, ademais, foi a
Administração Pública, grande legitimada para levar a cabo essas medidas, a responsável pela
medida.
O fato é no mínimo curioso, na medida em que, como já demonstrado, o número
de irregularidades imobiliárias no Estado é altíssimo.
Ademais, fica o questionamento de se o entendimento do Tribunal acerca do papel
do Judiciário na regularização fundiária seria o mais adequado, diante dessa possível inércia
da Administração em utilizar os instrumentos legais à sua disposição para resolução deste
problema.
Contudo, parece também ser temerário utilizar a função social da propriedade
como argumento para a defesa de ocupações, as quais buscam a regularização fundiária e a
reforma agrária, na medida em que, como bem apontado pelo Tribunal, tal constitui exercício
arbitrário das próprias razões.
Fica, todavia, a questão acerca de qual seria o papel do Judiciário na resolução dos
conflitos fundiários brasileiros.
57
REFERENCIAS
ACCA, Thiago dos Santos. A jurisprudência do Tribunal de Justiça de São Paulo sobre função
social da propriedade: subsídios para uma discussão sobre as formas de ocupação do solo.
Revista de Direito Imobiliário: RDI, São Paulo, v. 39, n. 80, p. 167-190, jan./jun. 2016.
ÁVILA, Paulo Coelho; FERREIRA, Frederico Poley Martins. A insegurança da posse do solo
urbano em Minas Gerais. Urbe – Revista Brasileira de Gestão Urbana, v. 8, n. 02, 2016.
Disponível em: http://www2.pucpr.br/reol/pb/index.php/urbe?
dd1=16075&dd99=view&dd98=pb. Acesso em 11/06/2018.
BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0073.10.001866-9/001. Apelante: Lacir Costa da Silva.
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2013. DJ: Belo Horizonte, 16 de julho de 2013.
BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0079.12.019090-9/001. Apelante: Crecione Gomes dos
Santos e outros. Apelado: Município de Contagem. Relator: Des. Audebert Delage. Belo
Horizonte, 05 de setembro de 2017.DJ: 15 de setembro de 2017.
BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0079.12.044422-3/001. Apelante: Crecione Gomes dos
Santos e outros. Apelado: Município de Contagem. Relator: Des. Audebert Delage. Belo
Horizonte, 05 de setembro de 2017.DJ: 15 de setembro de 2017.
BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0382.12.007849-0/001. Apelante: Júlio Cesar Castro.
Apelado: Antônio Pedro Filho e outros. Relator: Des. Mariza Porto. Belo Horizonte, 26 de
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64
TEPEDINO, Gustavo. Temas de direito civil. 3.ª ed. São Paulo: Renovar, 2004
65
ANEXOS: RELATÓRIOS DE PESQUISA104.
2010
Se não bastasse, não seria justo sacrificar as famílias que adquiriram os lotes da
Lotaço Imóveis Lançamentos Ltda., determinando a demolição de suas casas. Deve-
se prestigiar a função social da propriedade e utilização dada ao solo.
Destarte, seja pela boa-fé dos requeridos, seja pela observância da função social da
propriedade, não há admitir que a letra fria da lei impeça os expropriados de
haverem, a guisa de indenização, a importância que investiram na área objeto da
declaração de utilidade pública.
104
A expressão “função social da propriedade” foi reduzida, nos anexos, à “FSP”.
66
3. Apelação Cível - 1.0024.05.824716-4/002 – Fundamento autoaplicável
FSP usada para permitir uso não previsto, à época, de forma de aquisição de
propriedade.
Portanto, agiu bem o juiz, verificando tratar-se de imóvel produtivo, que atende a
sua função social pelo efetivo exercício da posse, qualificada pela criação de
centenas de animais (f. 51-TJ), pela observância das disposições que regulam as
relações de trabalho (f. 57/58-TJ) e pela exploração adequada e racional (f. 58-TJ)
(art. 186, CR), ao albergar a liminar de reintegração de posse, nos moldes em que
requerida e prontamente deferida.
Em que pese a questão ter cunho relevante na sociedade, não há como manter a
posse dos apelados com base no aspecto Constitucional da função social da
propriedade.
Vale dizer, a manutenção da posse de invasores sob o manto da função social pela
improdutividade da área rural teria o condão de proteger não só a posse dos
invasores, mas resguardá-los no terreno para um futuro ato expropriatório, fato que
69
provocaria o referendo do Poder Judiciário para realização da justiça pelas próprias
mãos, medida vedada pela Constituição da República. […]
O exercício arbitrário das próprias razões, portanto, mesmo quando praticado para
satisfazer pretensão eventualmente legítima, encontra repulsa no ordenamento
jurídico, especialmente quando os atos que ofendem direitos de terceiros configuram
medidas caracterizadoras de violação possessória.
Etc.
Portanto, ao reverso do que sustenta o Parquet, o fato, por si só, do agravado não
possuir licença ambiental para exploração das atividades de plantio e corte de
eucalipto em área de reserva legal, não pode induzir à conclusão de que não vem ele
exercendo a posse em respeito a função social da propriedade invadida, ou de que
vem agindo em detrimento do interesse coletivo.
Ação possessória. Posse do autor não comprovada. TJMG entendeu, ainda, que
apenas a possa exercida nos limites da FSP é protegida.
Ressalte-se que a posse tutelada pelo Estado Democrático de Direito é aquela
exercida nos limites da função social da propriedade, conforme dispõe a norma
contida no art 5º, XXIII da Constituição da República de 1988.
Trechos da prova oral colhida, acima transcritos, estão a indicar posse longa,
contínua, mansa e pacífica dos apelantes, que remonta a seus ancestrais. Ali residem
com suas famílias e laboram, como pequenos agricultores, em prol do sustento de
todos. Não há falar-se, dessarte, em posse injusta.
Dessarte, o direito de propriedade, em cada caso concreto, deve ser analisado à luz
do princípio constitucional da sua função social.
Ações possessórias. O TJMG entendeu apenas que a FSP não é requisito para
deferimento da proteção, sem tecer qualquer outra consideração.
Sucede que, no caso sob exame, o raciocínio percorrido pelo Relator deverá passar
pela exegese dos requisitos autorizadores da reintegração de posse, consoante o
disposto no artigo 927 do Código de Processo Civil. Neste momento, salutar
registrar, cabe ao Judiciário decidir apenas e tão somente a existência da posse e sua
turbação.
Isso porque a lei jamais exigiu a comprovação de seu cumprimento para fins de
proteção possessória.
Ação possessória. FSP não é requisito das ações possessórias e nem legitima a
autotutela. FSP deve ser averiguada na ação de desapropriação.
Houve reforma.
Admitir, pois, que os cidadãos, munícipes de Alto Rio Doce, possam ocupar
propriedades, alegando o princípio da dignidade humana ou a função social da
propriedade (que não devem ser levados em consideração em sede possessória), é
voltar aos tempos primitivos, do tempo da autotutela, da justiça pelas próprias mãos,
o que deve ser limitado pelo Poder Judiciário, sob pena de se permitir o caos,
permitindo-se, aqui, fazer um paralelo com a situação dos integrantes do Movimento
dos Sem Terra.
Ação possessória. FSP não é requisito das ações possessórias. A liminar, contudo,
não foi concedida, já que a parte autora não demonstrou a posse, nesse primeiro momento.
Não houve reforma.
Sendo assim, é justo que os Apelados, usuários do imóvel por período mais que
considerável, sejam elevados à condição de proprietários e que a Apelante perca seu
patrimônio em prol dos primeiros, já que não foi diligente no sentido de atender as
determinações constitucionais acerca de tal direito.
Ação de usucapião. Juízo de primeiro gau entendeu que o lote ser menor que o
mínimo legal ofendia à FSP. Tribunal entendeu que FSP não é requisito da usucapião:
Não bastasse, entendeu também que, no caso, não havia descumprimento da FSP,
na medida em que o direito à moradia (conteúdo possível da FSP) prepondera sobre
irregularidades urbanísticas (sendo que a “vinculação as leis de uso e ocupação do solo” são
também conteúdo possível da FSP).
Neste tempo, não há falar que por essa razão não estaria a propriedade cumprindo a
sua função social, uma vez que em juízo de ponderação de valores, mais vale
garantir o direito de propriedade e, por via transversa, consolidar o direito
constitucional de moradia - art. 6ª “caput”, a fazer cumprir “ipsis litteris” a
legislação urbanística. Mesmo porque, o direito que ora entendo preponderar
consagra, ainda, o princípio da dignidade da pessoa humana.
Houve reforma.
Houve reforma.
13. Agravo de Instrumento – 1.0079.10.027369-1/001 – Retórica
Lado outro, hei por bem refutar, de maneira categórica, a alegação feita pelos réus,
ora apelantes, qual seja, de que o imóvel objeto da presente lide seria improdutivo
(fls. 526), eis que "há documentos apresentados às fls. 22/224 dando conta da
vacinação do gado, só e acanhadamente, posteriores ao dever processual de provas,
genéricos, que não se sabem a qual imóvel se referem, como apontados pelos
apelantes, em contestação (fl. 442)", bastando a mera remissão a tal prova para se
constatar que nela está inserida a logomarca Instituto Mineiro de Agropecuária
(IMA), tendo sido tal documento firmado antes da invasão ocorrida no local,
expedido em nome de um dos co-autores, ora apelantes, além de indicar que o
rebanho então vacinado se encontrava presente na Fazenda Lavrado, de posse e
propriedade dos ora recorrido
Ação possessória. A FSP deve ser considerada nas ações possessórias. No caso,
a propriedade era produtiva de acordo com decisão do INCRA. Reforma da sentença apenas
no que toca às astreintes.
Ao contrário de outras decisões do TJMG, a FSP deve sim ser considerada nas
ações possessórias. Ocupações, contudo, não são meios legítimos de pressão política para
declaração de improdutividade. No caso em questão, inclusive, o imóvel já havia sido
declarado produtivo pelo INCRA. Veja-se os seguintes excertos:
O certo é que, a prova dos autos aponta no sentido de que, a propriedade objeto
desta ação possessória foi declarada produtiva pelo INCRA. Logo, não é suscetível
de desapropriação para fins de reforma agrária.
Diante de tal cenário, não vejo pertinência na discussão sobre o papel do Poder
Judiciário na efetivação do princípio constitucional da função social da propriedade,
como se fosse de seu ofício judicante, a solução dos conflitos agrários pela ótica dos
movimentos sociais. Ao contrário, entendo que, a sua posição deve ser neutra,
isenta, de forma que a entrega da Justiça não se faça em função de posições políticas
ou ideológicas.
Invasões não são meios legítimos de pressão para ações expropriatórias, contudo,
a FSP é critério de julgamento sim nas ações possessórias.
82
Houve reforma apenas quanto às astreintes.
Art. 4.º Os loteamentos deverão atender, pelo menos, aos seguintes requisitos: (…)
II - os lotes terão área mínima de 125m² (cento e vinte e cinco metros quadrados) e
frente mínima de 5 (cinco) metros, salvo quando o loteamento se destinar a
urbanização específica ou edificação de conjuntos habitacionais de interesse social,
previamente aprovados pelos órgãos públicos competentes;
Salienta-se que todo ordenamento jurídico deve ser balizado pelo princípio da
dignidade da pessoa humana, a qual tem posição de destaque na Constituição
Federal como fundamento da República Federativa do Brasil enquanto Estado
Democrático de Direito.
A propriedade urbana cumpre a sua função social quando está em conformidade com
os princípios constitucionais e assegura o respeito aos princípios constitucionais da
dignidade da pessoa humana e da moradia.
83
Esse não foi o único argumento, sendo que normativas municipais e breves avaliações
sobre “prejuízo ao poder público e à coletividade” também foram feitos. Contudo, a
argumentação em cima da FSP foi suficiente e principal.
Houve reforma.
Desta forma, devido ao risco iminente de lesão à dignidade da família que reside há
mais de quarenta anos no imóvel objeto da lide, hei por bem, indeferir a liminar para
que assim o réu permaneça no imóvel até julgamento final da lide.
Fato é que, há de se considerar o risco iminente de lesão à dignidade das pessoas que
lá se encontram, haja vista o próprio autor da ação ter alegado que há uma família
residindo no lote, objeto da ação, no qual foi construído um barracão.
A função social tem por objetivo reduzir os prazos de usucapião e beneficiar aquelas
pessoas que imprimiram destinação econômica ou social a determinados bens, sendo
meio de promoção da justiça social, corporificando o princípio da dignidade da
pessoa humana.
A FSP, assim, não prevalece sobre o interesse público ou coletivo. Não houve um
aprofundamento da questão, mas mais um afastamento em vista da natureza pública do bem.
Não houve reforma.
A FSP, assim, não prevalece sobre o interesse público ou coletivo. Não houve um
aprofundamento da questão, mas mais um afastamento em vista da natureza pública do bem.
Não houve reforma.
O caso é que o Estado de Minas Gerais entendeu que parte do imóvel que se
pretendeu usucapir era de sua propriedade. O título aquisitivo estadual datava do século XIX.
Foi realizada perícia e, de fato, parte do terreno era público, não tendo sido possível,
entretanto, precisar qual seria a porção exata de terreno público.
Ademais, os autores que pretenderam usucapir o terreno haviam construído
moradia de forma que tornou-se o bem indivisível. Outrossim, moravam na área há mais de
35 anos, possuíam título aquisitivo e estavam de boa-fé.
Ainda acerca do imóvel, as certidões demonstravam que ele foi alienado diversas
vezes a partir de 1932, que estava registrado em nome de particular.
Em síntese: o imóvel era em parte público e em parte particular, foi objeto de
alienações desde os idos de 1932, estava com sua área quase toda construída e os autores da
usucapião o habitavam há mais de 35 anos, com justo título e boa-fé.
89
O caso, assim, apresentou diversas particularidades que ensejaram ao deferimento
da usucapião, inobstante o imóvel fosse (em parte) de propriedade de Minas Gerais. A decisão
teve vários fundamentos, dentre eles a aplicação direta, isto é, não mediada por outro instituto,
da função social da propriedade. Veja-se:
Isso porque, não seria plausível privar os requerentes da habitação na qual residem
há mais de três décadas, mormente a se considerar que foi adquirida com base na
crença de que o imóvel era privado.
Cumpre ressaltar que os bens formalmente públicos, ou seja, aqueles não afetados a
uma destinação pública específica, se encontram em situação incompatível com
o princípio da função social da propriedade, esculpido como garantia
fundamental no art. 5º, XXIII, da Carta Magna.
De tal modo, concluo que a existência do registro do imóvel em nome do réu, que
remonta ao ano de 1894, por si só, não impede o reconhecimento da usucapião, visto
que se trata de bem desafetado, ou seja, bem que deixou de ser público, não
possuindo mais qualquer essência de coisa pública há anos. (…)
Como se vê, a FSP foi usada diretamente para permitir a usucapião de imóvel
“formalmente público”.
90
O julgado, entretanto, deixa dúvidas quanto a extensão dessa possibilidade a outros
casos, na medida em que esse processo foi permeado por várias peculiaridades. Fica o
registro.
Não houve reforma.
Ocorre que, pelos depoimentos das testemunhas Douglas Alves de Abreu e Antônio
José Boueri Alves (fls. 75/76), respectivamente, resta demonstrada a utilização
inadequada do imóvel rural arrendado, em afronta aos princípios da boa-fé objetiva
e ao cumprimento da função social da terra e da propriedade, o que, por si só, leva à
rescisão do contrato de arrendamento.
Explico. O artigo 2º, §1º, da Lei n.º 4.504/64, que dispõe sobre o Estatuto da
Terra, assim determina:
Ação possessória. A FSP não valida nem autoriza o confisco de terras sem o
devido processo legal.
Não houve reforma.
Logo, cabe à União Federal, com observância do devido processo legal, detectar e
estabelecer se o imóvel rural é produtivo ou não, utilizando para tal fim a ação de
desapropriação, que é o remédio processual para a expropriação pelo Poder Público
quando a propriedade não tiver cumprindo a sua função social, não concernindo ao
julgador, em ação como a ora analisada, a solução de tal matéria. (…)
93
Logo, não é permitido ao particular exercer o controle da função social da
propriedade privada invadindo imóveis, pois, na verdade, estariam exercendo a auto-
tutela, apoderando-se do poder do Estado, o que não encontra respaldo no Estado
Democrático de Direito.
Esse posicionamento do TJMG já foi várias vezes aqui registrado, contudo, neste
julgado, a fundamentação foi mais minuciosa e utilizou-se dos três principais argumentos para
essa posição: vedação à autotutela, ofensa ao princípio do devido processo legal e atividade de
competência da União.
Houve reforma parcial, na medida em que teve preliminares acolhidas.
Tem-se que, caso tal circunstância seja realmente constatada, caberia somente ao
Poder Público instaurar procedimento específico a fim de proceder à
desapropriação do bem para fins de reforma agrária, com base no art.184, §2º da
Constituição da República, observando-se o devido processo legal, e, a exigência de
indenização justa.
Não se pode admitir que o Poder Judiciário faça a entrega da posse de um bem a
grupos sociais que, a pretexto de estarem fazendo justiça social com as próprias
mãos, invadam a propriedade alheia e dela tomem posse a mercê de todas as regras
civis e procedimentais existentes no nosso ordenamento jurídico.
Não se pode olvidar que a garantia da função social da propriedade, apesar de ter
aplicação imediata, deve respeitar outros princípios, não podendo passar por cima
da legalidade, por exemplo, jogando-se por terra a segurança jurídica e a ordem
pública e social.
Apesar dessas considerações, o TJMG fez ainda uma análise superficial sobre o
cumprimento ou não da FSP, associando-a à produtividade:
Frisa-se que tais fatos podem ser verificados pelas fotos juntadas às fls.129/148,
demonstrando ser descabida, portanto, as alegações dos réus no sentido de que o
imóvel está abandonado, ou de que é improdutivo.
Daí a competência da União para dizer, através do devido processo legal - que é
justamente a ação de desapropriação para fins sociais -, se a terra é produtiva ou não.
Ressalte-se que essa expropriação-sanção é uma modalidade especial e excepcional
de intervenção do poder público na esfera da propriedade privada, quando essa não
estiver cumprindo sua função social.
Cediço é que o êxito na ação possessória, em que não se discute o domínio, requer
prova inequívoca dos requisitos estampados no art. 927, do CPC, quais sejam: a
posse, o esbulho praticado pelo requerido e a perda da posse, ainda que indireta, em
decorrência desse esbulho.
Assim, não sendo conflitantes as provas produzidas pelo agravante, culminando com
a incerteza quanto à existência dos elementos exigidos pelo dispositivo legal retro
citado, não deve ser mantida a decisão hostilizada, data venia.
Não se está aqui a afastar do princípio da dignidade humana, nem muito menos o
art. 5º, XXIII, da Constituição da República, que dispõe que, “a propriedade
atenderá a sua função social”. Até porque, princípios e garantias constitucionais não
podem, a meu ver, ser utilizados como meio de legitimar invasões da propriedade
alheia, que não encontram respaldo no ordenamento jurídico pátrio. Do contrário,
estar-se-ia permitindo a autotutela, rechaçada pelo Estado Democrático de Direito.
Ação possessória. Ré invocou a FSP para não sofrer reintegração de posse. FSP
como direito à moradia. FSP não se presta a afastar o direito do legítimo possuidor. FSP não
pode ser invocada em situações individuais.
pretensa função social da propriedade (direito à moradia) não se presta para afastar o
direito do apelado que contém previsão na lei civil. Situação fática que não se
convalida, neste feito, com base no pretenso direito à moradia. (…)
96
Também não há como se invocar, no caso em tela, o princípio da função social, haja
vista que a apelante pretende resguardar pretensão de natureza individual.
A ideia de que a FSP não pode “resguardar pretensão de natureza individual” foi
utilizada noutros julgados pelo TJMG, contudo, a fim de resguardarem o poder público de
esbulho. Aqui, todavia, haviam duas pretensões “de natureza individual”.
Houve reforma.
No caso ‘sub judice’, impõe-se reconhecer que os elementos constantes dos autos se
apresentam suficientes para a formação do convencimento do julgador, inexistindo,
destarte, o alegado cerceamento de defesa.
Assim, qualquer invasão de terra pertencente à particular não é legal, mesmo que a
propriedade seja improdutiva.
É certo que, se deve trazer à fiveleta a função social da propriedade na solução dos
conflitos possessórios, onde o conceito de posse não deve ficar limitado à simples
disponibilidade de uso do imóvel. Por isso é que, a prova do exercício de posse
como simples decorrência do domínio, não é admitida nem mesmo no âmbito
dos conflitos possessórios despidos de cunho social.
Nesse sentido, a FSP é sim requisito das ações possessórias, já que o próprio
significado de posse carrega em seu bojo a ideia de FSP. Contudo, como em quase todos os
outros julgados, o TJMG entendeu que “ao Estado cabe a adoção das medidas necessária à
desapropriação”.
Ademais, cumpre pontuar que essa decisão vai em contrário a várias outras. Nos
casos em que o Poder Público é parte autora de ações possessórias, na verdade, é recorrente o
entendimento do TJMG de que a posse, nesses casos, é mera decorrência do domínio.
Por fim, este caso foi decidido por maioria, vencido o segundo vogal, que adotou
linha diversa da geralmente adotada pelo Tribunal:
No caso dos autos, ao exame preliminar do feito, é bem de ver que se controvertem,
de um lado, o invocado direito de posse e, de outro, relevantíssima questão social,
que atinge, como se apura do processado, aproximadamente 3.000 (três mil) famílias
carentes.
Dessa maneira, de se deferir a suspensão almejada, medida esta que evita o despejo
de incontável número de desabrigados e da qual resultaria a só transferência do
gravíssimo problema social da carência de abrigo de um lado para outro da cidade.
Daí a competência da União para dizer, através do devido processo legal - que é
justamente a ação de desapropriação para fins sociais -, se a terra é produtiva ou não.
Ressalte-se que essa expropriação-sanção é uma modalidade especial e excepcional
99
de intervenção do poder público na esfera da propriedade privada, quando essa não
estiver cumprindo sua função social.
o imóvel é mantido para fins especulativos, não cumprindo sua função social e se
encontrando em completo estado de abandono. Portanto, cumpre determinar se a
agravante exercia, até o esbulho, a posse sobre o imóvel, suficiente para merecer a
proteção possessória.
Alegam os agravados que o imóvel em questão não está cumprindo sua função
social, que ensejaria a conclusão de que não exerce a posse sobre o imóvel.
Razão não assiste aos agravados. Primeiramente, é certo que a função social do
imóvel urbano se reveste de características peculiares relacionadas à sua localização
e grau de desenvolvimento, ocupação, entre outros, da região onde se encontra. Vale
dizer, o que se chama função social numa dada época pode ser diferente do que
constitui função social 20 anos após. No caso em tela, conforme acima explicitado,
concluo que o agravante vem dando ao terreno a destinação que lhe é possível, no
momento. Ressalte-se que a empresa é uma construtora, sendo certo que só pode
construir ou alienar o imóvel, o que vem sendo dificultado pelo interesse público no
local.
Diante disso, pode se concluir que (i) o tribunal, neste caso, entendeu que a
qualidade da posse, e não sua mera existência, é requisito para proteção possessória, e (ii) que
posse para fins de especulação é indigna de proteção.
Nesse sentido, a FSP teria sim uma aplicação autônoma, na medida em que a
posse que não fosse qualificada como cumpridora desse dever não seria protegida pelo
ordenamento.
Ocorre, contudo, que de maneira um tanto quanto contraditória, em seguida assim
se manifestou o tribunal:
Num primeiro momento o tribunal deu a entender que apenas a posse que
cumprisse com a FSP poderia ser protegida, num segundo momento deixou claro que a FSP
não pode ser discutida e levada em consideração nas ações possessórias.
Houve reforma.
Ação possessória. Imóvel público. FSP não serve para defesa de interesse
individual. FSP impede que haja posse de particular sobre bem público.
Ação possessória na qual ente público pretendia a reintegração de posse de imóvel
de sua propriedade. Inicialmente, o TJMG fez essa primeira consideração:
importa distinguir que "as formas administrativas para o uso especial de bem público
por particulares variam desde as simples e unilaterais autorização de uso e permissão
de uso até os formais contratos de concessão de uso e concessão de uso como direito
real solúvel, além da imprópria e obsoleta adoção dos institutos civis do comodato,
da locação e da enfiteuse (…)
Por fim, acerca da defesa dos réus com base na FSP, o TJMG se manifestou no
sentido de que:
Não se pode utilizar do instituto da função social da propriedade para os casos e que
a destinação da área pública é para atender interesses individuais.
Daí entender-se que a ocupação de imóvel público pelo particular configura mera
detenção, donde não conferido a ele o direito de posse, consoante prescreve o art.
1.208 da lei substantiva civil, "in verbis":
102
Julgamento citado e afirmação sem nexo algum. Dessa premissa, o TJMG tira a
seguinte conclusão:
Assim, incabível, ainda, qualquer discussão acerca da existência ou não de provas
acerca da posse anterior do bem por parte dos réus, pois, repisem-se, os bens
públicos são insuscetíveis de posse válida ou usucapião resultante dessa.
Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como
não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de
cessar a violência ou a clandestinidade.
Ação possessória. FSP não é requisito para a reintegração, já que não consta do rol
elencado pelo CPC/73. Sem nenhuma outra consideração.
Não houve reforma.
Ação possessória. FSP não é requisito para a reintegração, já que não consta do rol
elencado pelo CPC/73. Sem nenhuma outra consideração.
Houve reforma.
Indenização por benfeitorias. FSP apenas citada num dos votos vencidos.
Houve reforma.
É dizer, uma vez que o ente público recorrido recebe repasses financeiros e investe
importantes quantias para estabelecer comunidades carentes no mesmo local onde
pretende ser reintegrado, não há posse injusta capaz de ser oposta em face dos
agravantes, elemento mínimo do qual depende a proteção possessória invocada pela
municipalidade.
A área que seria reintegrada tinha como destinação justamente abrigar os réus.
105
Curioso que, apesar de se tratar de imóvel público, a revisora reconheceu a posse
dos ocupantes.
Pois bem. Diante dessa primeira consideração, prosseguiu fazendo considerações
acerca do direito de propriedade e suas limitações, apontando a FSP. Conforme excerto que se
colaciona, a FSP foi fundamento para indeferimento da reintegração, na medida em que, nesse
específico caso, haviam medidas menos gravosas que se poderiam ser adotadas. Lembrando
que a área que se pretendia ver integrada seria objeto de loteamento para atender aos réus.
Veja-se:
Por conseguinte, o que se verifica na espécie é que existe alternativa menos gravosa,
em detrimento da ordem de retirada dos moradores do local destinado exatamente
aos beneficiários da política habitacional do Município.
Essas foram as principais considerações. Percebe-se, disso, que a FSP seria uma
espécie de baliza para “melhor adequar as situações concretas às normas de direito”, isto é, no
caso, “compatibilizar o direito de propriedade à importância social da posse”. Algo como
permitir um julgamento por equidade.
Por fim, vale ressaltar que não se estava a discutir o mérito do processo, mas tão
somente o cabimento da liminar possessória.
Não houve reforma.
106
2015
ainda que o título emane de negócio jurídico nulo - como a venda de imóvel não
parcelado, fruto de loteamento irregular - ele será considerado justo para os fins
legais. Assim ocorre para prestigiar a boa fé do usucapiendo, bem como conceber
efetividade à função social da propriedade. (…)
De forma analógica a tais precedentes, e na linha do que antes exposto, uma vez
presentes os demais requisitos formais elencados pelo Código Civil, o usucapião de
imóvel fruto de loteamento irregular não pode ser obstado em decorrência de tal
circunstância, seja porque o conceito de justo título incorpora justamente a
ocorrência de vício aquisitivo, seja porque eventual descompasso com as regras
locais de ordenação do solo se curva à primazia da função social da
propriedade.
Neste sentido, em vista da ação principal trata de despejo c/c cobrança, bem como
preenchidos os requisitos autorizadores da tutela antecipada, uma vez que a imissão
do agravante dará função social à propriedade, bem como beneficiará, inclusive,
a agravada, fazendo cessar a exigibilidade dos aluguéis vincendos.
Importante observar que, nessa altura, o lapso temporal da posse dos Apelados não
pode ser preterido pela alegação não comprovada de que houve comodato, pois
decorrido o interregno necessário para consolidação da prescrição aquisitiva.
Não foi portanto rebatida, já que a posse decorrente de comodato, em regra, não
autoriza a declaração de usucapião.
Basicamente, o TJMG reconheceu a usucapião porque foi dada função social ao
imóvel e porque passado grande lapso temporal. Nesse sentido, a função social, no voto,
representou um verdadeiro requisito para a usucapião. Certo de que a usucapião especial
urbana, como já apontado outras vezes pelo TJMG, se inspira na FSP, reconhecer que a
legitimidade da norma decorre desse princípio é coisa diferente de reconhecer a própria FSP,
norma de conteúdo abstrato, como requisito mesmo da usucapião.
Não houve reforma.
O Estado, por sua vez, argumentou que os bens públicos não estão sujeitos a
apossamento, bem como que o Código Civil a eles não se aplicam, possuindo regime
administrativo próprio.
Na decisão, o TJMG primeiro considerou as modernas limitações ao direito de
propriedade, baseadas na função social da propriedade, reconhecendo que a desapropriação
judicial se encontra neste âmbito:
Na hipótese em comento, tendo em vista que o apelante, durante longos 19 anos, não
deu qualquer destinação ao terreno que ora pretende se imitir na posse,
descumprindo, por completo, a exigência que também lhe é oponível de conferir
função social à propriedade, entendo plenamente viável a expropriação judicial.
Ação de reintegração de posse. Posse a título de usufruto. Extinção pelo não uso.
Sem prazo legal determinado. O critério é a ofensa à FSP. Ofendida a FSP, se torna extinto o
usufruto. REsp 1179259/MG.
O caso em questão se tratou de uma ação possessória em que uma usufrutuária
pretendia ser reintegrada na posse do imóvel. O TJMG entendeu que, além de não ter sido
demonstrada a posse anterior, houve o abandono do imóvel por parte da autora e, assim, a
perda da condição de usufrutuária. Assim dispõe o art. 1.410, VIII, do CC/02:
111
Art. 1.410. O usufruto extingue-se, cancelando-se o registro no Cartório de Registro
de Imóveis:
VIII - Pelo não uso, ou não fruição, da coisa em que o usufruto recai (arts. 1.390 e
1.399).
Ocorre que o dispositivo legal não indica qual o lapso temporal necessário para a
extinção do usufruto. É aqui que entra a FSP. O critério para configurar extinto o usufruto é a
violação à FSP. Veja-se:
No caso, a simples desocupação do bem, sem qualquer fruição da coisa por longos
cinco anos, sem que se tenha sequer cuidado em comprovar a conservação deste ou
mesmo saber em que estado se verifica, se revela como desvio da finalidade social
para a qual se destina o direito real outorgado à autora.
8- A extinção do usufruto pelo não uso pode ser levada a efeito sempre que, diante
das circunstâncias da hipótese concreta, se constatar o não atendimento da
finalidade social do bem gravado.
112
Dessa forma, os artigos 421 (função social do contrato) e 1.228, § 1° (função social
da propriedade) do Código Civil somente acabam por demonstrar que a intenção
legislativa é fazer com que as relações civis obedeçam esse princípio, que não é, por
si só, uma limitação, mas sim o próprio sentido de qualquer tipo de limitações.
Ação possessória. FSP não é requisito para concessão da reintegração. Deve ser
averiguada em ação de desapropriação, de responsabilidade da União. Vedação à autotutela.
Cabe ao Judiciário, em sede de possessórias, avaliar tão somente os requisitos previstos no
CPC. Julgamento conjunto de duas apelações, aviadas pela Defensoria e pelo MP.
É dizer, qualquer invasão de terra pertencente à particular não é legal, ainda que não
demonstrada a função social da propriedade, sob pena de se chancelar ocupações
clandestinas como instrumento de coerção do Estado à realização de reforma
agrária. (…)
Ação possessória. FSP não é requisito para concessão da reintegração. FSP “deve
complementar o exame da melhor posse”. Vedação à autotutela. FSP deve ser verificada em
ação de desapropriação, cuja responsabilidade é da União.
O TJMG entendeu que a FSP não é requisito das ações possessórias, mas sim um
critério para avaliar a melhor posse.
Porém, no caso dos autos, não há que se falar em discussão de “melhor posse”,
tendo em vista a invasão coletiva realizada por diversas famílias que integram o
MLT - Movimento de Luta pela Terra. (…)
Destaca-se, por oportuno, que a desapropriação para fins de reforma agrária, além de
não ser objeto desta lide, não pode, de forma alguma, ser convalidada pelo Poder
Judiciário a partir da legitimação de atos clandestinos, praticados em contrariedade
ao ordenamento jurídico.
Muito embora reconheça que a Constituição Federal, em seu art. 186, reverencia o
Princípio da Função Social sobre as propriedades rurais, conforme bem salientado
pelo magistrado singular, existe um procedimento próprio para apurar se a
propriedade cumpre ou não tal prerrogativa, conforme previsto no art. 184 da
Constituição Federal, in verbis: (…)
Conclui-se, portanto, que a lei não pode ser aplicada por mãos próprias, de modo
que, reconhecer a legalidade da ocupação, sem o impulso do Estado, sem o devido
processo legal, e ainda, sem a justa indenização ao desapropriado, seria uma afronta
aos preceitos legais.
Salienta-se, neste aspecto, inda que o artigo 170, inciso III, da Carta Magna,
consagre a função social a ser conferida à propriedade, não se mostra cabível atribuir
exclusivamente ao particular o ônus de suportar a melhoria de vida da população
116
carente com a conseqüente distribuição de renda, uma vez que tal tarefa é acometida
ao Estado, a quem cabe precipuamente, solucionar e custear as questões sociais que
lhe são postas.
Ação possessória. FSP não é requisito para concessão da reintegração. Deve ser
averiguada em ação de desapropriação, de responsabilidade da União.
Não houve reforma.
Também não se pode deferir a constituição da servidão pela usucapião, pois não há
nos autos qualquer prova da existência dos requisitos elencados no art. 1379 do CC,
quais sejam, a posse contínua, aparente, sem oposição e por mais de 10 (dez) anos.
Ressalte-se que a prova desses requisitos era da apelante, conforme preceitua o art.
333, I do Código de Processo Civil.
Lado outro, mesmo que se entenda pela aplicação do princípio da função social da
propriedade, a concessão da servidão seria muito gravosa aos proprietários do
imóvel.
É de se ter em mente que a servidão é uma das mais severas restrições ao exercício
da propriedade, pois parte do domínio do bem, é de certa forma transferido ao dono
do prédio dominante, como se extrai na lição de Arnaldo Rizzardo, a seguir
transcrita: (…)
Pelo que se observa dos anexos fotográficos trazidos pela própria apelante (fls.
12/15), a faixa do terreno que se encontra entre a rua e seu lote é de tamanho
considerável. No muro da recorrente já existe um portão de garagem, sendo que,
para a concessão da servidão de passagem, seria necessário fracionar o imóvel dos
recorridos.
A medida obstaria a eventual fruição desse pedaço de lote, seja para também
estacionarem veículos, para depósito de material, ou para cessão da posse a
terceiros.
Ação de passagem forçada. FSP legitima o instituto. FSP usada para dar conteúdo
ao conceito de encravamento.
O imóvel não estava totalmente encravado, conteúdo, o acesso à via pública era
bastante difícil.
No caso dos autos, como muito bem mencionou o MM. Juiz de primeiro grau, o
imóvel dos autores não se encontra totalmente encravado, tendo acesso pelos
fundos, e para chegarem até a Av. Antonio Justino, percorrem um trajeto, parte dele
sobre as margens da linha férrea, e outra parte em um beco. Ocorre que, em pese o
imóvel não se encontrar totalmente encravado o acesso é bastante penoso e difícil,
principalmente nos momentos de trânsito de locomotivas, ao que parece não há luz
artificial.
118
Assim, o TJMG tratou de analisar se o encravamento precisa ser total ou parcial.
O argumento para entender que bastava encravamento parcial envolveu a função social da
propriedade, trabalhado nos seguintes termos.
No caso dos autos, como muito bem mencionou o MM. Juiz de primeiro grau, o
imóvel dos autores não se encontra totalmente encravado, tendo acesso pelos
119
fundos, e para chegarem até a Av. Antonio Justino, percorrem um trajeto, parte dele
sobre as margens da linha férrea, e outra parte em um beco. Ocorre que, em pese o
imóvel não se encontrar totalmente encravado o acesso é bastante penoso e difícil,
principalmente nos momentos de trânsito de locomotivas, ao que parece não há luz
artificial.
Assim, também entendo que os autores devem ter o direito de passagem assegurado,
eis que sua propriedade encontra-se encravada.
Em vista, assim, da FSP, cujo objetivo seria dar uma finalidade coletiva à
propriedade, a passagem forçada é obrigatória para que o imóvel dominante possa dar
cumprimento à FSP.
Assim, a FSP é o que legitima o instituto, bem como o que conferiu o sentido de
“encravado’’, servindo portanto como fundamento legitimador.
Não houve reforma.
Ação possessória. O cumprimento da FSP não é requisito elencado pelo CPC para
provimento das ações possessórias.
120
Não houve reforma.
Art. 550. Aquele que, por 20 (vinte) anos, sem interrupção, nem oposição, possuir
como seu um imóvel, adquirir-lhe-á o domínio, independentemente de título e boa-fé
que, em tal caso, se presume, podendo requerer ao juiz que assim o declare por
sentença, a qual lhe servirá de título para transcrição no Registro de Imóveis.
Art. 65. O imóvel rural não é divisível em áreas de dimensão inferior à constitutiva
do módulo de propriedade rural.
Por isso, penso que possibilitar a divisão do módulo rural em casos como o que ora
se apresenta vai ao encontro do espírito constitucional, contribuindo sobremaneira
para melhoria da qualidade de vida no campo, dando dignidade aos trabalhadores.
Permitir a usucapião de imóvel cuja área seja inferior ao módulo rural da região é
otimizar a distribuição de terras destinadas aos programas governamentais para o
apoio à atividade agrícola familiar.
123
Numa leitura contemporânea, não se tem exigido que o imóvel esteja em situação de
absoluto encravamento, firme na função social da propriedade, a fim de lhe dar
uma destinação econômica (…)
Embargos de terceiro. Imóvel público doado a uma igreja. Igreja vendeu o imóvel
aos particulares/embargantes, sem anuência do município. Reversão da doação. Título nulo e
má-fé. FSP não se presta a permitir posses ilegais.
O município doou uma área a uma instituição religiosa, estabelecendo encargos
para sua efetivação. Acontece que a instituição religiosa transmitiu lotes a particulares e,
após, por meio da ação principal, a doação foi revertida, tendo o município sido provido,
também, em seu pedido de imissão na posse. A lei que concedeu o imóvel à igreja, ademais,
proibiu que o imóvel doado fosse transmitido sem a anuência do município.
Os embargos de terceiro foram opostos por um dos que firmaram contrato de
promessa de compra e venda. Alegaram que não pretendiam ver reconhecida a validade do
título aquisitivo, mas sim ter sua posse resguardada com base na FSP.
Em primeiro lugar, o TJMG entendeu pela clandestinidade da posse, na medida
em que
Como se vê, o autor manteve posse indireta clandestina, e, portanto, nula, e sem
qualquer tipo de título legítimo, não tendo condições de sustentar a pretensão
contida na inicial, pois o que fica patente nos autos é que a suposta posse, tal como
pretendida, não perdeu o seu caráter originalmente clandestino, na medida em que
não respeitadas as condições da doação pela igreja, e que vendeu o imóvel sem
qualquer autorização, mesmo porque, presente causa para reversão do bem ao
patrimônio municipal.
E, ainda que o Município tenha se mostrado inerte por mais de dez anos na reversão
da doação, certo é que o bem público não se mostra passível de prescrição
aquisitiva, encontrando-se o particular impossibilitado de usucapir, alienar ou
adquirir bens públicos, a teor do que prescreve o art. 183, §3º, da Constituição
Federal, bem como o art. 102 do Código Civil. (…)
Ação possessória. Tutela provisória. FSP não é requisito para concessão da tutela
provisória. Deve ser analisada em sede de desapropriação. Observância do devido processo
legal. Vedação da autotutela.
Não houve reforma.
Ação possessória. Tutela provisória. FSP não é requisito para concessão da tutela
provisória. Deve ser analisada em sede de desapropriação. Observância do devido processo
legal. Vedação da autotutela.
Não houve reforma.
Ação possessória. O cumprimento da FSP não é requisito elencado pelo CPC para
provimento das ações possessórias.
Não houve reforma.
131
132
2017
Não obstante os réus não terem concordado com a desistência da ação, deve o
magistrado agir com sensibilidade nas ações que visam a perda de moradia das
pessoas carentes, que lá se instalaram e com dificuldade construíram a casa de
morada.
Art. 6º O título de concessão de uso especial para fins de moradia será obtido pela
via administrativa perante o órgão competente da Administração Pública ou, em
caso de recusa ou omissão deste, pela via judicial.
Impende-se ressaltar que, antes somente era mencionada e discutida a função social
da propriedade privada. Isto se justifica pelo fato de que nunca antes houve
instrumentos que comprovassem a importância de se atingir a função social da
propriedade pública, o que torna inovador tal instrumento. (…)
Vale dizer, em matéria de direito à moradia (CF, art. 6º), cumpre a análise sensível
das circunstâncias fáticas pelo magistrado, caso a caso, porquanto convive o Direito
com o método da ponderação, que informa a necessidade de se sopesar a
importância dos bens jurídicos, de maneira a melhor adequá-los às premissas
constitucionais fundamentais, notadamente nos casos em que se leva em conta o
desabrigo de pessoas carentes por ato do próprio Poder Público. (…)
Nesse contexto, atenta in casu grave questão social, que desafia a aplicação do
Direito à luz do postulado da dignidade humana e também da garantia fundamental
de moradia. (…)
Por outro, cabe ao Juízo a quo, após dilação probatória, decidir sobre a necessidade
de intimação dos Órgãos Públicos sobre eventual interesse na área objeto da lide, o
alegado descumprimento da função social da propriedade e os interesses
públicos sociais envolvidos no conflito.
Assim, a FSP foi reconhecida sim como requisito para concessão da tutela
possessória definitiva. FSP, portanto, como fundamento autoaplicável. O entendimento foi
contrário a quase todos os outros casos de invasão coletiva a imóvel rural.
136
Não houve reforma.
Note-se que este Des. Relator não desconhece que, na hipótese de serem
demonstrados documentalmente os requisitos da liminar reintegratória é dispensável
a audiência de justificação de posse. Porém, quando se depara com um conflito
envolvendo muitas pessoas e/ou famílias, deve-se ter enorme cuidado, pois está em
jogo não apenas a retomada da “posse” do imóvel, mas, sobretudo, o direito
daqueles que “nada possuem” de ocupar um espaço no mundo. (…)
Não se olvida que a solução é difícil de ser encontrada, mas a própria questão aponta
para a gravidade do conflito, pois, se de um lado há o direito à reintegração da
posse, de outro não se pode, simplesmente, alijar os ocupantes e enviá-los para o
“sem rumo”. Noutros termos, deve-se recorrer a um conceito de Direito que está
para além do revolvimento de regras possessórias, i.é, de um conceito que prime
pela “harmonia na convivência”.
Veja-se que o que se pretende pontuar com essa digressão é que o conflito
multitudinário sobre a posse de imóvel não deve ser tratado como mera ação
possessória entre “particulares”, mas como um fato extremamente relevante que
remete à harmonia social. Portanto, deve-se ter à frente o ideal da convivência
fraterna em primeiro lugar e, a partir das normas e princípios constitucionais,
intentar o melhor encaminhamento possível para o problema, a fim de que não haja,
mais ainda, o esgarçamento do tecido social.
Art. 126. Para dirimir conflitos fundiários, o Tribunal de Justiça proporá a criação de
varas especializadas, com competência exclusiva para questões agrárias.
Diante disso, não seria uma faculdade do Magistrado se fazer presente no local do
litígio, mas sim uma obrigação, na media em que, nas ações possessórias multitudinárias, se
“está em jogo a harmonia social ou a constituição de uma comunidade fraterna”.
O comparecimento do juiz, assim, é absolutamente necessário para correta
avaliação acerca do deferimento ou não da tutela provisória da posse. Assim se manifestou o
Des. Relator:
Isso não quer dizer que a “medida liminar” não deva ser deferida, mas, reitere-se, se
for o caso do deferimento, devem ser tomados muitos cuidados, justamente para que
não haja, mais ainda, “afronta aos direitos” daqueles que, hipoteticamente, ou em
tese, não possuem mínimos direitos sociais, como a “moradia” ou “trabalho” (art. 6º
da CR), que congregam uma espécie de núcleo axiológico para a projeção do ser
humano como humano.
Usucapião. Imóvel com área inferior ao módulo rural. Hierarquia das normas.
Princípio da FSP permite a usucapião de imóvel cuja é área inferior ao módulo rural. FSP
como trabalho e moradia. Precedente STJ.
Conforme art. 65 da Lei 4.504/64, os imóveis rurais cuja área seja inferior à do
módulo são irregistráveis. Com base nisso, o juiz de primeiro grau extinguiu ação de
usucapião rural constitucional por impossibilidade jurídica do pedido.
O TJMG se utilizou de dois argumentos para não aplicar a regra inserta no art. 65
da Lei 4.504/64. O primeiro foi a partir de uma análise de hierarquia das normas. A CR/88
não prevê área mínima passível de usucapião, assim, lei inferior não pode impor tal requisito.
O segundo argumento foi acerca da aplicação da FSP. Aqui, o TJMG se utilizou da
tese firmada no STJ por ocasião do Recurso Especial n.º 1.040.296/ES. A ementa é a que
segue:
7. A premissa aqui assentada vai ao encontro do que foi decidido pelo Plenário do
Supremo Tribunal Federal, em conclusão de julgamento realizado em 29.4.2015, que
proveu recurso extraordinário, em que se discutia a possibilidade de usucapião de
imóvel urbano em município que estabelece lote mínimo para parcelamento do solo,
para reconhecer aos recorrentes o domínio sobre o imóvel, dada a implementação da
usucapião urbana prevista no art. 183 da CF.
Além disso, percebe-se que o TJMG deu também conteúdo à FSP, na medida em
que entendeu que o cumprimento da FSP pode se dar através da moradia e da pequena
produção agropecuária.
FSP como norma autoaplicável, na medida em que a “metragem mínima” não
pode ser empecilho ao seu cumprimento.
Houve reforma.
Usucapião. Imóvel com área inferior ao módulo rural. Hierarquia das normas.
Princípio da FSP permite a usucapião de imóvel cuja é área inferior ao módulo rural.
Usucapião extraordinária de imóvel rural cuja área seja inferior ao módulo como uma forma
de concretização da FSP. FSP como trabalho e moradia. Precedente STJ.
Houve reforma.
Reintegração de posse. Imóvel público. Permissão de uso a uma terceira para que
residisse no imóvel. Desocupação temporária do imóvel. Invasão. Ausência de posse da ré:
detenção. FSP não é critério de litígio possessório de bem público entre particular e ente
público. Ente público conferiu sim FSP ao imóvel.
O município havia permitido a uma terceira que usasse imóvel de sua propriedade
para habitação. Essa terceira, temporariamente, desocupou o imóvel, pelo que este foi
invadido pela ré. Tanto município como essa terceira ajuizaram ação de reintegração de posse,
ambas julgadas improcedentes em 1.º grau. Conforme anotado pelo TJMG:
Assim, a ocupação de bem público, ainda que de forma regular – formalizada por
Termo de Permissão de Uso –, não pode ser reconhecida como posse,
equiparando-se à detenção, prevista nos arts. 1.198 e 1.208 do Código Civil.
Por essa razão, não persiste o argumento da ré de que o Município, ao firmar Termo
de Permissão de Uso com Geismara Amaral Dias, teria perdido a posse do bem. Ora,
transfere-se apenas a detenção, de forma que o Município permanece na condição
de possuidor e proprietário do bem, fazendo jus à proteção possessória. (…)
8. A exegese que reconhece a posse nos bens dominicais deve ser conciliada com a
regra que veda o reconhecimento da usucapião nos bens públicos (STF, Súm 340;
CF, arts. 183, § 3°; e 192; CC, art. 102); um dos efeitos jurídicos da posse - a
usucapião - será limitado, devendo ser mantido, no entanto, a possibilidade de
invocação dos interditos possessórios pelo particular.
9. Recurso especial não provido. (REsp 1296964 / DF, Relator Ministro Ministro
LUIS FELIPE SALOMÃO, julgamento em 18.10.2016, publicação em 07.12.2016)
Ainda que assim não fosse, in casu, não é possível dizer que o Município não estava
observando a função social do bem, a justificar a permanência da ré para que desse
ao imóvel a destinação devida.
A FSP no julgado, então teve bem delimitada seu campo de aplicação, além de ter
sido lhe dada conteúdo: moradia. Foi, assim, fundamento legitimador da decisão.
Houve reforma.
Impende-se ressaltar que, antes somente era mencionada e discutida a função social
da propriedade privada. Isto se justifica pelo fato de que nunca antes houve
instrumentos que comprovassem a importância de se atingir a função social da
propriedade pública, o que torna inovador tal instrumento.
BRASIL. TJMG. Apelação cível n.° 1.0024.07.492353-3/005. 1.º Apelante: Gilson Guilheis
Moreira e outros. 2.º Apelante: Maria Luiza Sidônio. Apelado: Márcio Antonio Molica Soares
e outros. Relator: Des. Amorim Siqueira. Belo Horizonte, 02 de fevereiro de 2016. DJ: 19 de
fevereiro de 2016. Disponível em:
<https://www5.tjmg.jus.br/jurisprudencia/pesquisaNumeroCNJEspelhoAcordao.do?
numeroRegistro=1&totalLinhas=1&linhasPorPagina=10&numeroUnico=1.0024.07.492353-
3%2F005&pesquisaNumeroCNJ=Pesquisar>
171
BRASIL. TJMG. Apelação cível n.° 1.0456.04.024748-2/001. Apelante: Marilda Aparecida
da Silva. Apelado: COHAB/MG. Relator: Des. Renato Dresch. Belo Horizonte, 19 de
novembro de 2015. DJ: 25 de novembro de 2015. Disponível em:
<https://www5.tjmg.jus.br/jurisprudencia/pesquisaNumeroCNJEspelhoAcordao.do?
numeroRegistro=1&totalLinhas=1&linhasPorPagina=10&numeroUnico=1.0456.04.024748-
2%2F001&pesquisaNumeroCNJ=Pesquisar>
BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0000.16.065652-6/006. Apelante: Alair Antônio Silva e
outros. Apelado: Carlos Renato de Morais e outros. Relator: Des. João Cancio. Belo
Horizonte, 04 de dezembro de 2018. DJ: 04 de dezembro de 2018. Dinsponível em:
<https://www5.tjmg.jus.br/jurisprudencia/pesquisaNumeroCNJEspelhoAcordao.do;jsessionid
=4C1E420545B8A12D991D2F884915E986.juri_node1?
numeroRegistro=1&totalLinhas=1&linhasPorPagina=10&numeroUnico=1.0000.16.065652-
6%2F006&pesquisaNumeroCNJ=Pesquisar>
172
BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0000.16.094525-9/002. Apelante: Defensoria Pública
de Minas Gerais. Apelado: Celulose Nipo Brasileira S/A CENIBRA. Relator: Des. Otávio
Portes. Belo Horizonte, 24 de outubro de 2018. DJ: 25 de outubro de 2018. Disponível em:
<https://www5.tjmg.jus.br/jurisprudencia/pesquisaNumeroCNJEspelhoAcordao.do?
numeroRegistro=1&totalLinhas=1&linhasPorPagina=10&numeroUnico=1.0000.16.094525-
9%2F002&pesquisaNumeroCNJ=Pesquisar>.
BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0000.17.040665-6/002. Apelante: Graciele Lima Lopes
e outros. Apelado: João Dias de Oliveira e outros. Relator: Des. Sérgio André da Fonseca
Xavier. Belo Horizonte, 03 de julho de 2018. DJ: 03 de julho de 2018. Disponível em: https://
www5.tjmg.jus.br/jurisprudencia/pesquisaNumeroCNJEspelhoAcordao.do?
numeroRegistro=1&totalLinhas=1&linhasPorPagina=10&numeroUnico=1.0000.17.040665-
6%2F002&pesquisaNumeroCNJ=Pesquisar>
BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0021.10.000234-0/001. Apelante: Município Alto Rio
Doce. Apelado: Lucineia Matias Inacio. Relator: Des. Vieira de Brito. Belo Horizonte, 4 de
agosto de 2011. DJ: 19 de outubro de 2011. Disponível em:
174
<https://www5.tjmg.jus.br/jurisprudencia/pesquisaNumeroCNJEspelhoAcordao.do?
numeroRegistro=1&totalLinhas=1&linhasPorPagina=10&numeroUnico=1.0021.10.000234-
0%2F001&pesquisaNumeroCNJ=Pesquisar>
BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0024.05.812601-2/001. 1.º Apelante: Ênio Carlos
Gonçalves e outros. 2.º Apelante: incertos e desconhecidos. Apelado: Jaime Fernando
Barreiro Lopes e outros. Relator: Des. Rogério Medeiros. Belo Horizonte, 5 de julho de 2012.
DJ: 17 de agosto de 2012. Disponível em:
<https://www5.tjmg.jus.br/jurisprudencia/pesquisaNumeroCNJEspelhoAcordao.do?
numeroRegistro=1&totalLinhas=1&linhasPorPagina=10&numeroUnico=1.0024.05.812601-
2%2F001&pesquisaNumeroCNJ=Pesquisar>
BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0024.08.196282-1/001. Maria das Dores da Silva e
outros. Apelado: Letícia Vianna de Mello Carneiro e outros. Relator: Des. José Marcos
Vieira. Belo Horizonte, 1 de fevereiro de 2012. DJ: 10 de fevereiro de 2012. Diponível em:
<https://www5.tjmg.jus.br/jurisprudencia/pesquisaNumeroCNJEspelhoAcordao.do?
numeroRegistro=1&totalLinhas=1&linhasPorPagina=10&numeroUnico=1.0024.08.196282-
1%2F001&pesquisaNumeroCNJ=Pesquisar>
BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0024.10.100206-1/002. Apelante: Jair Roberto Vieira e
outros. Apelado: Isidoro Vilela Coimbra. Relator: Des. João Cancio. Belo Horizonte, 12 de
agosto de 2014. DJ: 18 de agosto de 2014. Disponível em:
<https://www5.tjmg.jus.br/jurisprudencia/pesquisaNumeroCNJEspelhoAcordao.do?
numeroRegistro=1&totalLinhas=1&linhasPorPagina=10&numeroUnico=1.0024.10.100206-
1%2F002&pesquisaNumeroCNJ=Pesquisar>
BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0024.10.102905-6/003. 1.º Apelante: réus revéis e não
identificados. 2.º Apelante: Ministério Público de Minas Gerais. Relator: Des. Estevão
Lucchesi. Belo Horizonte, 03 de abril de 2014. DJ: 25 de abril de 2014. Disponível em:
<https://www5.tjmg.jus.br/jurisprudencia/pesquisaNumeroCNJEspelhoAcordao.do?
numeroRegistro=1&totalLinhas=1&linhasPorPagina=10&numeroUnico=1.0024.10.102905-
6%2F003&pesquisaNumeroCNJ=Pesquisar>
BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0024.10.268893-4/003. 1.º Apelante: Movimento dos
Trabalhadores Sem Terra. 2.º Apelante: Ministério Público de Minas Gerais. Apelado:
Nahylda Nunes Silva Guimarães. Relator: Des. Ângela de Lourdes Rodrigues. Belo
Horizonte, 03 de março de 2015. DJ: 13 de março de 2015. Disponívl em:
<https://www5.tjmg.jus.br/jurisprudencia/pesquisaNumeroCNJEspelhoAcordao.do?
numeroRegistro=1&totalLinhas=1&linhasPorPagina=10&numeroUnico=1.0024.10.268893-
4%2F003&pesquisaNumeroCNJ=Pesquisar>
BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0024.12.098569-2/002. 1.º Apelante: Django Alves e
outros. 2.º Apelante: Ministério Público de Minas Gerais. Apelado: Espólio de João Alves
Rodrigues e outros. Relator: Des. Aparecida Grossi. Belo Horizonte, 07 de outubro de 2015.
DJ: 20 de outubro de 2015. Disponível em:
<https://www5.tjmg.jus.br/jurisprudencia/pesquisaNumeroCNJEspelhoAcordao.do?
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2%2F002&pesquisaNumeroCNJ=Pesquisar>
BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0079.12.019090-9/001. Apelante: Crecione Gomes dos
Santos e outros. Apelado: Município de Contagem. Relator: Des. Audebert Delage. Belo
Horizonte, 05 de setembro de 2017.DJ: 15 de setembro de 2017. Disponível em:
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BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0079.12.044422-3/001. Apelante: Crecione Gomes dos
Santos e outros. Apelado: Município de Contagem. Relator: Des. Audebert Delage. Belo
Horizonte, 05 de setembro de 2017.DJ: 15 de setembro de 2017. Disponível em:
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BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0142.17.001715-6/002. Apelante: Matheus Benito Silva
Fonseca. Apelado: Klever Nogueira Cunha e outros. Relator: Des. Luiz Carlos Gomes da
Mata. Belo Horizonte, 26 de abril de 2018. DJ: 04 de maio de 2018. Disponível em: <https://
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BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0245.07.126572-3/001. Apelante: Joel Marcelo Dias e
outros. Apelado: Regina Luzia Teixeira. Relator: Des. Sebastião Pereira de Souza. Belo
Horizonte, 4 de fevereiro de 2011. DJ: 1 de abril de 2011. Disponível em:
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BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0382.12.007849-0/001. Apelante: Júlio Cesar Castro.
Apelado: Antônio Pedro Filho e outros. Relator: Des. Mariza Porto. Belo Horizonte, 26 de
junho de 2014. DJ: 07 de julho de 2014. Disponível em:
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BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0439.12.016383-7/001. 1.º Apelante: Edvandro Ferreira
de Andrade. 2.º Apelante: Tereza Andrade Pinto Duarte. Apelado: Maria do Carmo da Matta
Mello. Relator: Des. Newton Teixeira Carvalho. Belo Horizonte, 26 de junho de 2014. DJ: 04
de julho de 2015. Disponível em:
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BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0439.12.016383-7/001. 1.º Apelante: Edvandro Ferreira
de Andrade. 2.º Apelante: Tereza Andrade Pinto Duarte. Apelado: Maria do Carmo da Matta
Mello. Relator: Des. Newton Teixeira Carvalho. Belo Horizonte, 26 de junho de 2015. DJ: 04
de julho de 2015. Disponível em:
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BRASIL. TJMG. Apelação cível n.º 1.0702.05.263464-0/001. 1.º Apelante: Cicero Domingos
Penha. 2.º Apelante: Luzia Alves de Oliveira. 3.º Apelante: Cassio Cordeiro. 4.º Apelante:
Espólio de Cristovam Júlio Oliveira Terra. Apelado: CEMIG Geração Transmissão S/A.
Relator: Des. Sandra Foneca. Belo Horizonte, 28 de maio de 2013. DJ: 07 de junho de 2013.
Disponível em:
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