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CORONAVÍRUS: A MAIS NOVA CRISE DO SISTEMA CAPITALISTA

O mundo está enfretando atualmente mais uma epidemia, dessa vez causada por um novo
coronavírus. O surto começou na China no final de 2019 e, até agora, já se espalhou para
vários países, lista essa da qual o Brasil infelizmente faz parte. Governantes e a sociedade em
geral tendem a tratar essas epidemias como casos raros, entendo-as como crises
independentes. No entanto, cada vez mais a realidade nos mostra que a dinâmica intensa e
mais frequente dessas doenças infecciosas são sintomas de uma ameaça muito maior: o
capitalismo, que, feito um parasita inconsequente e desenfreado, destroi o ambiente em que
vivemos e do qual dependemos.

Nos últimos 50 anos, um número razoável de doenças infecciosas conseguiu se espalhar


rapidamente pela humanidade. Dentre elas, temos exemplos como o HIV (1980), oriunda de
um grupo de macacos, a gripe aviária (2004-2007), originada em aves, a gripe suína (2009),
que teve início em porcos, e mais recentemente, o surto de Ebola (2013 - 2016), que surgiu em
morcegos. O SARS, uma síndrome respiratória que assustou o mundo em 2003 e que foi
causada por um tipo de coronavírus, também teve início em morcegos. Da mesma forma, a
epidemia que estamos lidando atualmente soma-se a lista de doenças originadas das
interações humanas com outros animais. De fato, a maior parte das novas doenças infecciosas
são de origem animal e os casos destacados acima colocam em foco o grande risco dessas
epidemias. Este é o primeiro ponto que liga o aumento de doenças infecciosas ao capitalismo. 

A conexão é clara. O sistema capitalista, como vem sendo mostrado de forma inquestionável
pela ciência, está destruindo nosso planeta. A exploração desenfreada do meio ambiente e o
alto nível de poluição produzido por essa sociedade produtivista vêm, muito rapidamente,
provocando mundanças climáticas em nosso planeta, o chamado aquecimento global. Quando
alterações ambientais acontecem, as relacões entre os seres vivos do local também mudam.
Ou seja, organismos que viviam em determinado local podem passar a viver em outro,
comerem ou serem comidos por seres diferentes e assim por diante. As interações entre as
espécies mudam, inclusive as da espécie humana e de organismos causadores de doenças. Isso
significa que, com as mudanças ambientais, cada vez mais estamos sendo expostos a tipos de
vírus diferentes, que nunca tinhamos entrado em contato antes e que, consequentemente,
nosso sistema imune não sabe se defenfer. E é assim que as epidemias começam.

Porém, não é apenas alterando as interações entre os seres vivos que o capitalismo agrava as
crises de doenças infecciosas. O estilo de vida imposto por esse sistema e a lógica de mercado
também contribuem. A situação da sociedade humana se mostra cada vez mais decadente. As
cidades poluídas aumentam o número de pessoas com problemas respiratórios, a ausência de
saneamento básico aumenta o contato com agentes infecciosos, a rotina de trabalho muitas
vezes limita a qualidade de sono e alimentação, prejudicando assim a imunidade da
população. Tudo isso aumenta as chances de doenças se espalharem e afetarem de forma
grave um maior número de pessoas. E, assim como todas as mazelas do sistema capitalista,
quem mais sofre com isso é a classe trabalhadora, a classe em situação mais vulnerável
economicamente, que trabalha mais, come menos, dorme menos e frequentemente se
encontra em zonas com higiene mais precária. Isso se agrava frente a falta de investimento em
saúde pública, que prejudica as chances de identificação e tratamento dessas doenças em
pessoas que não podem pagar pelo serviço privado. Isto é, a maior parte da população não só
brasileira como mundial.
Assim, apesar de parecer algo não relacionado, a crise de doenças infecciosas que temos
enfrentado nas últimas décadas é mais uma das crises que o sistema em que vivemos cria,
alimenta, nos mata e, no fim das contas, causa prejuízo a ele mesmo. No esforço de conter as
epidemias, diversos países precisam tomar certas atitudes que tem claros impactos
econômicos. A exemplo, diversos vôos são bloqueados, fronteiras são intensificadas,
prejudicando circulação de produtos e alimentos. Além disso, o tratamento dos pacientes e a
consequente incapacidade destes de continuarem trabalhando geram custos altíssimos. Em
2003, a epidemia do SARS custou para a economia global por volta de 40 bilhões de dólares. E
esse cenário é típico desses casos de doenças infecciosas que se espalham globalmente. 

O agravamento da dinâmica de epidemias em nossa sociedade é mais um produto do sistema


capitalista. E é mais um problema que não será possível resolver enquanto não mudarmos
radicalmente a ordem imposta. Apenas com o povo no poder, capaz de entender e zelar pelos
seus interesses, é que será possível frear a destruição do ambiente em que vivemos e, assim,
conter as consequências catastróficas para a espécie humana que o capitalismo nos reserva. A
necessidade da revolução socialista, da planificação econômica e de um planejamento
ambiental nunca foi tão urgente.

Roberta Vincenzi, UJR (São Paulo)

Referencias

https://www.bbc.com/news/health-51237225

https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0160412015300489

https://revistagalileu.globo.com/galileu-e-o-clima/noticia/2018/09/aquecimento-global-piora-
doencas-diz-membro-dos-medicos-sem-fronteiras.html

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