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INTERCONEXOS
Resumo
O presente texto é produto de um projeto de extensão que se encontra em andamento que tem
como ideia norteadora destacar a importância da cultura patrimonial tendo em vista a ausência
dessa discussão, especificamente, tratando-se da história local no currículo de história.
Portanto, se faz necessário conhecer e resguardar as manifestações das culturas populares uma
vez que, constitui-se em um imperativo essencial para preservação do patrimônio cultural de
uma cidade. Neste sentido, este texto objetiva destacar a importância da necessidade da
educação patrimonial na escola Pública Normal – Campina Grande-PB, assim como,
contribuir para que a comunidade através da juventude se identifique enquanto ator e produtor
social, nas ações preservacionistas do patrimônio histórico-cultural do bairro e cidade, no
sentido de fortalecer a identidade cultural. Sob essa ótica consideramos significativo
estabelecer o intercâmbio de ideias e experiências entre os jovens e os idosos contribuindo
assim para apreciação de outros valores e tradições diversas daqueles que vivencia no seu
cotidiano. O caminho metodológico se sustenta por meio de pesquisa bibliográfica,
construção de oficinas, leituras de vídeos sobre a história da cidade e principalmente através
da oralidade dos idosos via memória social e dos conhecimentos tradicionais dos mesmos,
tomados como expressos fundamentais na identificação cultural de grupos sociais e/ou cultura
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Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Professora Titular do Departamento
de História da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB. Líder do Grupo de Pesquisa História e Cultura Afro-
Brasileira (NEAB-í). É Membro do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiro e Indígena Neabí - UEPB, membro do
Núcleo de Pesquisa e Estudos Comunitários da Infância e Juventude (Nupecij). Assessora da Pró-Reitoria de
Extensão e Assuntos Comunitários da Universidade Estadual da Paraíba.. E-mail: lindaci26@hotmail.com
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Doutora em Educação pela Universidade Federal da Paraíba. Professora Titular do Departamento de História
da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB. É Membro do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiro e Indígena
Neabí - UEPB, membro do Núcleo de Pesquisa e Estudos Comunitários da Infância e Juventude (Nupecij), Sócio
da Anped, Anpuh e Sociedade Brasileira de História da Educação. E-mail: patriciacaa@yahoo.com
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Doutora em Sociologia pela Universidade Federal da Paraíba. Professora Titular do Departamento de Serviço
Social da universidade Estadual da Paraíba – UEPB. Líder de Núcleo de Pesquisa e Extensão Comunitária
Infanto-Juvenil (NUPECIJ/UEPB). Pró-Reitora de Extensão e Assuntos Comunitários da Universidade estadual
da Paraíba. Professora aposentada da UFPB. E-mail: ccarneiro2007@oi.com.br
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Introdução
pelos historiadores, que de alguma forma tornavam excludente o seu olhar quando se tratava
do cotidiano tomado como objeto da história.
Neste sentido, concordamos com Menezes (2006, p. 34) quando destaca que a
“história e os historiadores no decorrer do século XIX não valorizavam as edificações como
formas documentais a serem lidas, para, a partir delas, se interpretar o passado”, quando
somente os grandes fatos da história nacional ou regional, especialmente, os ligados aos
grandes feitos políticos eram tomados como históricos e dignos de herança, remetendo a
discussão feita na qual o uso da palavra patrimônio ainda esta relacionado à ideia de herança e
legado, usada:
Sem muita preocupação crítica, uma denominação marcada pela tradição, e, mesmo
que se pronuncie novos e ampliados conceitos de patrimônio, o nome da coisa
permanece fiel a tradição. Questionada, ainda usada, a palavra patrimônio ainda
embute o sentido de herança e legado histórico. E isso é, inegavelmente uma marca
da nossa cultura. (Idem, p. 43).
importância enquanto percepção da fisionomia da cidade, afim de que com isso possa
propiciar por meio do conhecimento a valorização do patrimônio cultural.
Além disso, buscamos enriquecer o processo de ensino-aprendizagem através da troca
de saberes entre a comunidade acadêmica e a comunidade social, com o intuito de
conscientizar o público alvo da importância da preservação do patrimônio, histórico e cultural
para o reconhecimento da população como agente ativo da história. Nesse sentido, à luz de
nossas atividades, objetivamos também promover um estudo que gerencie a diferença
existente entre conservar e preservar, segundo a proposta de Medeiros (2005, p. 01), na qual:
Dessa forma, buscamos analisar não apenas as ações estatais que trabalham a favor da
preservação do patrimônio cultural, mas também demonstrar a importância da participação da
sociedade nas ações de conservação do mesmo. A intenção de desenvolver tal análise voltada
para o estudo acerca do patrimônio histórico de Campina Grande surgiu a partir da
participação no projeto, e das dimensões que o mesmo atingiu ao longo das atividades
desenvolvidas, assim como tendo em vista a atual e crescente degradação do patrimônio
campinense, e por fim devido à grande importância sabida da extensão universitária para a
formação do discente, como também pela possibilidade de estabelecer um diálogo com a
comunidade através da relação entre o ensino e a extensão.
Sabemos que no Brasil, a memória histórica preservada foi legitimada por grupos
dominantes com o intuito de perpetuação de uma memória de dominação (ORIÁ, 2012)
criava-se instrumentos, isto é, estratégias para que a história dos outros seguimentos sociais
sofressem um processo de exclusão.
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idosos, ou seja, suas referências e valores ditadas por uma tradição e uma cultura determinada
por outras características culturais que seriam de referência para um tempo passado.
São referências que identificam quais eram os bens culturais mais significativos, haja
vista que alguns foram bem conservados em seu aspecto original e outros sofreram
modificações ao longo do tempo e há ainda os que se encontram em ruinas.
Portanto, um monumento é, antes de tudo, uma referência a um momento na trajetória
histórico-cultural de um povo, em instrumento da memória coletiva, uma vez que:
[...] monumentum, que por sua vez deriva de monere ("advertir", "lembrar"), aquilo
que traz à lembrança alguma coisa. [...] Neste sentido primeiro, chamar-se-á
monumento tudo o que for edificado por uma comunidade de indivíduos para
rememorar ou fazer que outras gerações de pessoas rememorem acontecimentos,
sacrifícios, ritos ou crenças. (CHOAY, 2001, p. 18).
qualquer cidadão comum que vaga pelas ruas de sua cidade, sobretudo os mais
velhos, terá, com certeza uma sensação de perda; poucas referencias históricas
resistirão à ação do tempo. Outros foram destruídos em nome de uma concepção
desenvolvimentista do progresso e do lucro fácil e imediato respaldados na
especulação imobiliária, na lógica do capitalismo selvagem.
Vale ressaltar que a importância do testemunho oral, informa não só sobre os fatos,
mas também sobre o quê, aquilo significa para quem os viveu e os recontam. Assim, é através
do recordar que interpretam e organizam suas representações. Essa relação dialética entre o
dinamismo criador e a organização das representações relacionadas aos contextos sociais
vivenciados, numa relação entre memória e recordação.
mais também levar em conta a construção de forma abrangente, englobando as decisões tanto
em nível de estruturas políticos e sociais como em nível de estruturas escolas.
De acordo com esse pensamento não tem sentido percebê-las apenas em âmbito do
projeto educacional (Político – Pedagógico) da escola mais inserido em uma política
educativa:
Não nasce do nada, ela inscreve-se no quadro mais largo de uma filosofia da
educação e é o resultado de múltiplas influências em interacções, provenientes dos
sistemas sociais que agem sobre o sistemas sociais que agem sobre o sistema
educativo e que eles mesmos estão sob a influência do contexto filosófico, étnico e
religioso, do contexto histórico, do quadro geográfico e físico, assim como do
contexto sócio-cultural onde se situa o sistema educativo considerado.
(D’HAINAUT apud PACHECO, 2005, p. 558).
Outra questão preponderante que de certa maneira tem haver com a ausência de
forma mais eficaz da discussão da cultura patrimonial no currículo da História é a justificativa
de que na escola a escolha do conhecimento a ser discutido é caudatário de um projeto
cultural, social e político, que se caracteriza como instrumento ideológico de reprodução da
vida cultural/social.
Pensar na construção de um currículo por competências, contextualizado e
interdisciplinar que acolha as culturas juvenis, que se preocupe com o papel integrador da
escola, demanda ousadia e vontade de promover mudanças, a partir dos quais, seja possível
agir pela cidadania e pela inserção de práticas culturais no interior da sala de aula.
A partir dessas considerações, se torna claro a idéia de que os grupos de poder de até
então tiveram influências marcantes nas pautas das discussões curriculares, torna-se a
temática do patrimônio do homem ordinário, ou das pequenas cidades, em objeto que não
fazia parte das práticas curriculares.
Para refletirmos sobre as mudanças que ocorrem nas práticas curriculares nas
escolas, temos que estabelecer uma relação entre políticas curriculares e a escola enquanto
espaço social na qual práticas pedagógicas e seus significados que são legitimados pelos
setores de uma lógica curricular que se identifica pelos jogos de poder dominante.
Desse modo, entendendo o currículo como uma construção permeado pela luta de
diferentes fronteiras que delimitam terreno e participação, na qual uma determinada temática
torna-se excludente, enquanto elemento central na política curricular, a escola é o palco
permanente que sobressai de cada sistema educativo e que, explícita ou implicitamente, é
determinado por confrontos ideológicos e por perspectivas econômicas (PACHECO, 2005).
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[...] o currículo é considerado um artefato social e cultural. Isso significa que ele é
colocado na moldura mais ampla de suas determinações sociais, de sua história, de
sua produção contextual. O currículo não é um elemento inocente e neutro de
transmissão desinteressada do conhecimento social. O currículo está implicado em
relações de poder, o currículo transmite visões sociais particulares e interessadas, o
currículo produz identidades individuais e sociais particulares. O currículo não é um
elemento transcendente e atemporal – ele tem uma história, vinculada a formas
específicas e contingentes de organização da sociedade e da educação (MOREIRA
& SILVA, 1995, p. 08).
CONSIRAÇÕES FINAIS
Através do Projeto de Extensão temos procurado reviver a cidade invisível aquela que
se encontra guardada apenas na memória, através da oralidade, ou seja, da narrativa de idosos
habitantes dos locais visitados. Por meio de conversas informais, estaremos motivando-os a
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÀFICAS
LIMA, Janice Shirley Souza. Educação Patrimonial na área do projeto: serra sossego. In:
anais do XII Congresso da Identidade de Arqueologia. São Paulo, 1999.
MENEZES, José Newton Coelho. História e turismo cultural. 1. ed. 1ª reimp. Belo
Horizonte: Autêntica, 2006.
MOREIRA, Antonio Flavio; SILVA, Tomaz Tadeu da. Sociologia e teoria do currículo:
uma introdução. IN: _____. (Orgs.) Currículo, Cultura e Sociedade. São Paulo: Cortez
Editora, 1995, pp. 7-38.
_______. Memória e ensino de história. In: BITTENCOURT, Circe (Org). O saber histórico
na sala de aula. 11. ed. São Paulo: Contexto, 2006. p.128-147.