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As cantigas de amigo e de amor têm na sua base a expressão das tormentas do amor.

O sujeito
poético deste género literário sofre com a saudade e com o desejo, manifesta devoção e
veneração pelo ser amado, agoniza com o ardor da paixão.

No que concerne às cantigas de amor, composições mais elaboradas e convencionais, estas têm
por base a adoração da mulher, que aparece retratada como um ser virtuoso, quase divina, fria e
distante (“Se eu pudesse desamar/ A quem sempre desamou”). O amor atual carece deste fervor
da idealização da mulher enquanto objeto amado.

Já nas cantigas de amigo, a mulher aparece representada como subserviente, ansiosa por novas
do seu amigo distante (“Ondas do mar de Vigo,/se vistes meu amigo!/E ai Deus se verrá cedo!”).
Na sociedade atual, a mulher está cada vez mais longe desta representação. Não é subserviente,
mas pró-ativa. Não espera pelo amado, mas parte em sua busca.

Amamos mais no século XXI do que no século XIII? Hoje, o amor e as relações estabelecem-se
de forma rápida. Basta um clique para nos relacionarmos com quem nunca vimos e com quem
nem sequer conhecemos. O amor pode ser assim ilusório, uma paixão disfarçada, um sentimento
efémero que surge para colmatar o vazio da solidão. Temos mais meios para nos relacionarmos,
mas as nossas relações são cada vez mais superficiais, frágeis e vazias de sentido.

Porém, há traços intemporais, como a necessidade de anunciar e partilhar os sentimentos de


paixão e amor. As donzelas das cantigas de amigo faziam-no com as mães, amigas. Até a
natureza era testemunha das ânsias pelo ser amado (“Ai flores, ai flores do verde pinho”). Hoje
fazê-mo-lo com amigos, registamo-lo nas redes sociais. A natureza continua a constituir o
cenário das paixões que idealizamos.

Em jeito de conclusão, podemos encarar como exageradas as manifestações de amor e paixão


cantada pelos trovadores. No entanto, não podemos negar a necessidade do ser humano de
amar e ser amado.

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