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Apesar de não criar ou revogar crimes e B) Lei penal não incriminadora (em sentido
sanções, o custume é vetor de amplo): não tem a finalidade criar condutas
interpretação das normas penais. É puníveis nem de cominar sanções a elas
possível o uso do costume segundo a lei relativas, subdividindo-se em:
(secundum legem), atuando dentro dos
(i) permissiva (justificante ou exculpante):
limites do tipo penal. Esse costume
Justificante - torna lícita determinadas
interpretativo possibilita a adequação do
condutas que, normalmente, estariam
tipo às exigências éticas coletivas. (ex: art
sujeitas à reprimenda estatal (ex: art. 25,
CP, legítima defesa).
Exculpante: se verifica quando elimina a
culpabilidade. (ex: embriaguez acidental
completa, art. 28, § 1 °, CP)
(ii) explicativa ou interpretativa: se destina
a esclarecer o conteúdo da norma,
(iii) complementar: função de delimitar a
aplicação das leis incriminadoras. (ex:
artigo 5 ° do Código Penal, que dispõe
sobre a aplicação da lei penal no território Histórica: é aquela interpretação que
brasileiro) indaga a origem da lei, identificando os
fundamentos da sua criação.
(iv) leis de extensão ou integrativas: é
aquela utilizada para viabilizar a tipicidade Sistemático: conduz à interpretação da lei
de alguns fatos. (ex: artigos 1 4, II e o em conjunto com a legislação que integra o
artigo 29 do Código Penal -a tentativa e a sistema do qual faz parte, bem como com
participação (em sentido estrito) seriam os princípios gerais de direito.
condutas atípicas não fossem tais normas.
Progressiva ou evolutiva: representa a
Capítulo 4 – Interpretação da Lei Penal busca do significado legal de acordo com o
progresso da ciência.
1. Introdução
Lógica: se baseia na razão, utilização de
Interpretar: buscar o preciso significado de
métodos dedutivos, indutivos e da dialética
um texto, palavra ou expressão,
para encontrar o sentido da lei.
delimitando o alcance da lei, guiando o
operador para a sua correta aplicação. (C) Quanto ao resultado
O ato de interpretar é, necessariamente, Declarativa ou declaratória: é aquela em
feito por um sujeito que, empregando que a letra da lei corresponde exatamente
determinado modo, chega a um resultado. àquilo que o legislador quis dizer, nada
Assim, são formas de interpretação: suprimindo, nada adicionando.
(A) Quanto ao sujeito que a interpreta (ou Restritiva: a interpretação que reduz o
quanto à origem), a interpretação pode ser: alcance das palavras da lei para que
corresponda à vontade do texto (!ex plus
Autêntica (ou legislativa): é aquela
dix it quam voluit).
fornecida pela própria lei. Subdivide-se em:
Extensiva: amplia-se o alcance das
(I) Contextual: editada conjuntamente com
palavras da lei para que corresponda à
norma penal que conceitua.
vontade do texto (!ex minus dix it quam
(II) Posterior: lei distinta e posterior voluit).
conceitua o objeto da interpretação.
INTERPRETAÇÃO SUI GENERIS:
Doutrinária ou científica (communis
Exofórica: ocorre quando o significado da
opiniodoctorum): é a interpretação feita
norma interpretada não está no
pelos estudiosos, pelos jurisconsultos. Não
ordenamento normativo. A palavra "tipo",
se trata de interpretação de observância
por exemplo, presente no art. 20 do CP,
obrigatória.
tem seu significado extraído da doutrina (e
Jurisprudencial, judiciária ou judicial: não da lei).
corresponde ao significado dado às leis
Endofórica: quando o texto normativo
pelos tribunais, à medida que lhes é exigida
interpretado toma de empréstimo o sentido
a análise do caso concreto, podendo
de outros textos do próprio ordenamento,
adquirir, hoje, caráter vinculante, dada a
ainda que não sejam da mesma Lei. Esta
possibilidade de edição, pelo STF, das
espécie está presente na norma penal em
"súmulas vinculantes" (artigo 1 03-A,
branco
CF/88, incluído pela E. C n° 45/2004) .
INTERPRETAÇÃO CONFORME A
(B) Quanto ao modo
CONSTITUIÇÃO
Gramatical, filológica ou literal: é a
É marcada pelo confronto entre a norma
interpretação que considera o sentido
legal e a Constituição, aferindo a validade
literal das palavras, correspondente a sua
daquela dentro de uma perspectiva
etimologia.
garantista, numa verdadeira "filtragem" à
Teleológica: perquire a vontade ou intenção qual só resistem aqueles dispositivos que
objetivada na lei (voluntalegis). não estão em desacordo com os direitos e
garantias da Carta Magna.
2. Interpretação Extensiva Analogia: se difere da interpretação
extensiva e da interpretação analógica. É
GUILHERME DE Souza Nucci é indiferente
uma regra de integração. Decorre de
se a interpretaçáo extensiva beneficia ou
uma lacuna e não de uma lei pendente de
prejudica o réu.
interpretação.
Jurisprudência: socorrendo-se do princípio
4. Integração da Lei Penal (Analogia)
do in dubio pro reo, limitam a sua aplicação
às normas não incriminadoras. Parte do pressuposto de que não existe
uma lei a ser aplicada ao caso concreto,
STJ: "O princípio da estreita legalidade
motivo pelo qual é preciso socorrer-se de
impede a interpretação extensiva para
previsão legal empregada à outra situação
ampliar o objeto descrito na lei penal...”
similar.
ZAFFARONI e PIERANGELI: apesar de
Seu fundamento é sempre a
defenderem a aplicação do in dubio pro reo
inexistência de uma disposição precisa de
como regra de interpretação, admitem, em
lei que alcance o caso concreto.
casos excepcionais (e sempre obedecendo
a limites), a interpretação extensiva da lei Embora a regra seja a da vedação do
penal, em especial quando sua aplicação emprego da analogia no âmbito penal, a
restrita resulta num escândalo por sua doutrina é uníssona ao permitir este
notória irracionalidade. recurso integrativo desde que estejam
presentes dois requisitos:
3. Interpretação Analógica (ou intra
legem) (A) certeza de que sua aplicação será
favorável ao réu (“in bonam partem ')
O Código, atendendo ao princípio da
legalidade, detalha todas as situações que (B) existência de uma efetiva lacuna
quer regulas e, posteriormente, permite legal a ser preenchida.
que aquilo que a elas seja semelhante
Analogia Legis: utilização de outra
possa também ser abrangido no
disposição normativa para integras a
dispositivo.
lacuna existente no ordenamento jurídico.
Ex: artigo 121, §2°, I, do Código Penal -
Analogia Iuris: emprego de um princípio
qualificado o homicídio quando cometido
geral do direito para regular um caso
"mediante paga ou promessa de
semelhante diante da inexistência de
recompensa, ou por outro motivo torpe".
norma penal aplicável.
Percebe-se que legislador fornece uma
formula causuistica (“mediante paga ou
promessa”) e, em seguida, apresenta uma
fórmula genérica (“ou por outro motivo
torpe”).
Desse modo, o significado que se busca é
extraído do próprio dispositivo, levando-se
em conta as expressões abertas e
genéricas utilizadas pelo legislador a
interpretação extensiva é o gênero, no qual
são espécies a interpretação extensiva em
sentido estrito e a interpretação analógica.
Para identificar de que espécie se trata, se Capítulo 5 – Teoria Geral da Norma Penal
deva considerar a lei penal e verificar se a 1. Princípios e sua Relação com o
mesma traz as fórmulas casuística e direito Penal
genéricas (interpretação analógica) ou não
fornece um padrão (interpretação Os princípios podem ser explícitos,
extensiva em sentido estrito), neste caso positivados no ordenamento, ou implícitos,
deixando a cargo do intérprete a extensão quando derivam daqueles expressamente
do conteúdo da lei objeto de interpretação. previstos e que decorrem de interpretação
sistemática de determinados dispositivos.
Duas diferenças básicas entre a lei e os "infração bagatelar", ou "crime de
princípios: bagatela" - poderá ocorrer situação em
que a ofensa concretamente perpetrada
Primeira: diz respeito à solução de conflito
seja diminuta, isto é, incapaz de atingir
existente entre ambos. Havendo embate
materialmente e de forma relevante e
entre leis, somente uma delas prevalecerá,
intolerável o bem jurídico protegido.
afastando-se as demais. Nos princípios,
invoca-se a proporcionalidade (ou Princípio da insignificância:
ponderação de valores), aplicando-os em
Primeiramente, deve-se ter em
conjunto, na medida de sua
consideração que a doutrina entendia a
compatibilidade. Logo, não há revogação
tipicidade como sendo a subsunção da
de princípios.
conduta empreendida pelo agente à norma
Segunda: está no plano da concretude. abstratamente prevista. Essa adequação
Malgrados ambos sejam dotados de conduta-norma é denominada de
aplicação abstrata, os princípios possuem "tipicidade formal". A tendência atual,
maior abstração quando comparados à lei. todavia, é a de conceituar a tipicidade
A lei é elaborada para reger abstratamente penal pelo seu aspecto formal aliado à
determinado fato, enquanto os princípios se tipicidade conglobante.
aplicam a um grupo indefinido de
A tipicidade conglobante, por sua vez, deve
hipóteses.
ser analisada sob dois aspectos: (A) se a
2. Princípios Gerais do Direito Penal. conduta representa relevante lesão ou
perigo de lesão ao bem jurídico (tipicidade
2.1. Princípios relacionados com a material) e (B) se a conduta é determinada
missão fundamental do Direito Penal. ou fomentada pelo direito penal
(antinormatividade). Deverá ser feito um
2.1.1. Princípios da exclusiva proteção juízo entre as consequências do crime
de bens jurídicos. praticado e a reprimenda a ser imposta ao
agente.
Bem jurídico é um ente material ou
imaterial haurido do contexto social, de O princípio da insignificância tem lugar
titularidade individual ou metaindividual justamente neste primeiro aspecto da
reputado como essencial para a tipicidade conglobante, a tipicidade
coexistência e o desenvolvimento do material. sob o aspecto hermenêutica, o
homem em sociedade e, por isso, jurídico- princípio da insignificância pode ser
penalmente protegido. Deve estar sempre entendido como um instrumento de
em compasso com o quadro axiológico interpretação restritiva do tipo penal sendo
vazado na Constituição e com o formalmente típica a conduta e relevante a
princípio do Estado Democrático e lesão, aplica-se a norma penal, ao passo
Social de Direito. A ideia de bem jurídico que, havendo somente a subsunção legal,
fundamenta a ilicitude material, ao mesmo desacompanhada da tipicidade material,
tempo em que legitima a intervenção penal deve ela ser afastada, pois que estará o
legalizada fato atingido pela atipicidade.
2.1.2. Princípio da intervenção penal Os Tribunais Superiores estabelecem
mínima. alguns requ isitos necessários para que se
possa alegar a insignificância da conduta.
O Direito Penal só deve ser aplicado
São eles: (A) a mínima ofensividade da
quando estritamente necessário, de modo
conduta do agente, (B) a ausência de
que a sua intervenção fica condicionada ao
periculosidade social da ação, (C) o
fracasso das demais esferas de controle
reduzido grau de reprovabilidade do
(caráter subsidiário), observando somente
comportamento e, por fim, (D) a
os casos de relevante lesão ou perigo de
inexpressividade da lesão jurídica causada.
lesão ao bem juridicamente tutelado
(caráter ftagmentário). Aplicando-se de A doutrina moderna convencionou
forma subsidiária e racional à preservação distinguir o princípio da insignificância ou
daqueles bens de maior significação relevo.
da bagatela própria e da bagatela 2.2.1. Princípio da exteriorização ou
imprópria (irrelevância penal do fato). materialização do fato
Bagatela própria: não se aplica o direito Pelo princípio da materialização do fato
penal em razão da insignificância da lesão (nullum crimen sine actio), o Estado só
ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. pode incriminar condutas humanas
Conduta é formalmente típica, mas voluntárias, isto é, fatos (e nunca condições
materialmente atípica. Logo, não é internas ou existenciais). Em outras
criminosa, não se justificando a aplicação palavras, está consagrado o Direito Penal
do direito penal. É o que ocorre, por do fato, vedando-se o Direito Penal do
exemplo, com a subtração de um frasco de autor, consistente na punição do indivíduo
shampoo de uma grande rede de farmácia. baseada em seus pensamentos, desejos ou
estilo de vida.
Bagatela imprópria (irrelevância penal
do fato): conquanto presentes o desvalor O nosso ordenamento penal, de forma
da conduta e do resultado, evidenciando-se legítima, adotou o Direito Penal do fato,
conduta típica (formal e materialmente), mas que considera circunstâncias
antijurídica e culpável, a aplicação da pena, relacionadas ao autor, especificamente
considerando as circunstâncias do caso quando da análise da pena (personalidade,
concreto, em especial o histórico do autor antecedentes criminais), corolário do
do fato, torna-se desnecessária. Parte-se da mandamento constitucional da
premissa de que a função da pena/sanção individualização da sanção penal.
não pode ser meramente retributiva, mas,
2.2.2. Princípio da Legalidade
acima de tudo, preventiva. O fundamento
legal para aplicar este princípio estaria, na O artigo 5 °, inciso II, da Constituição
visão dos seus adeptos, no art. 59 do CP, Federal dispõe que " ninguém será
quando, na sua parte final, vincula a obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma
aplicação da pena à sua necessidade. coisa senão em virtude de lei". Reforçando
essa garantia, o artigo 5 °, XXXIX da Carta
Em resumo: o princípio da bagatela própria
Magna (com idêntica redação do artigo 1 °
se aplica aos fatos que j á nascem
do CP) anuncia que " não há crime sem lei
irrelevantes para o Direito Penal, enquanto
anterior que o defina, nem pena sem prévia
que o princípio da bagatela imprópria tem
cominação lega!' .
aplicação quando, embora relevante a
infração penal praticada, a pena, diante do Trata-se de real limitação ao poder estatal
caso concreto, não é necessária, deixando de interferir na esfera de liberdades
de ser aplicada pelo magistrado. individuais, daí sua inclusão na Constituição
entre os direitos e garantias fundamentais.
Princípio da adequação social: apesar
Possui três fundamentos:
de uma conduta se subsumir ao modelo
legal, não será considerada típica68 se for (A) Político, numa clara exigência
socialmente adequada ou reconhecida, isto d e vinculação dos Poderes Executivo
é, se estiver de acordo com a ordem social e Judiciário a leis formuladas de
da vida historicamente condicionada. Tem forma abstrata, impedindo o poder
duas funções precípuas: (A) de restringir punitivo arbitrário;
o âmbito de abrangência do tipo penal (B) Democrático, que representa o
(limitando sua interpretação ao excluir as respeito ao princípio da divisão de
condutas socialmente aceitas) e (B) de poderes, conferindo aos
orientar o legislador na seleção dos bens representantes do povo (parlamento)
jurídicos a serem tutelados, atuando, a missão de elaborar as leis;
também, no processo de descriminalização (C) Jurídico, pois a lei prévia e
de condutas. clara produz importante efeito
intimidativo.
2.2. Princípios relacionados com o
fato do agente A doutrina desdobra o princípio em exame
em outros seis:
(A) Não há crime (ou (ou medida de segurança) sem
contravenção penal), nem pena lei estrita.
(ou medida de segurança) sem
Proíbe-se a utilização da analogia para criar
lei.
tipo incriminador, fundamentar ou agravar
Princípio da reserva legal: a infração pena. Note-se, contudo, que a analogia in
penal somente pode ser criada por lei em bonam partem é perfeitamente possível,
sentido estrito, ou seja, lei complementar como ressaltado anteriormente,
ou lei ordinária, aprovadas e sancionadas encontrando justificativa no princípio da
de acordo com o processo legislativo equidade.
respectivo, previsto na CF/ 8 8 e nos
(E)Não há crime (ou contravenção
regimes internos da Câmara dos Depurados
penal), nem pena (ou medida de
e Senado Federal.
segurança) sem lei certa.
Embora não possam criar infrações penais,
Princípio da taxatividade ou da
as medidas provisórias podem versar
determinação: é dirigido mais
sobre direito penal não incriminador. Neste
diretamente à pessoa do legislador,
sentido, decidiu o Supremo Tribunal
exigindo dos tipos penais clareza, não
Federal que a vedação constante do artigo
devendo deixar margens a dúvidas, de
62, § 1 °, I, "b" da CF/8 88 1 não abrange as
modo a permitir à população em geral o
normas penais benéficas, assim
pleno entendimento do tipo criado.
consideradas "as que abolem crimes ou
lhes restringem o alcance, extingam ou (F)Não há crime (ou contravenção
abrandem penas ou ampliam os casos de penal), nem pena (ou medida de
isenção de pena ou de extinção de segurança) sem lei necessária.
punibilidade”. Temos no ordenamento
jurídico pátrio exemplo de medida Desdobramento lógico do princípio da
provisória versando sobre direito penal intervenção mínima, não se admite a
favorável ao réu, criação da infração penal sem necessidade,
em especial quando a conduta indesejada
Também é inadmissível que a lei delegada pelo meio social pode perfeitamente ser
verse sobre direito penal, com fundamento inibida pelos outros ramos do Direito.
no artigo 68, § 1°, CF/88. Resoluções de
quaisquer espécies (TSE, CNJ, CNMP, dentre
outras) não podem criar infrações penais,
porquanto não são lei em sentido estrito.
(B) Não há crime (ou
contravenção penal), nem pena
(ou medida de segurança) sem
lei anterior.
Princípio da anterioridade: a criação de A legalidade deve ser compreendida sob
tipos e a cominação de sanções exige lei dois aspectos: o da legalidade formal e da
anterior, proibindo-se a retroatividade legalidade material.
maléfica.
Formal: representa a obediência aos
(C) Não há crime (ou trâmites procedimentais (devido processo
contravenção penal), nem pena legislativo) fazendo da lei aprovada,
(ou medida de segurança) sem sancionada e publicada uma lei vigente.
lei escrita.
Material: a observância às formas e
Só a lei escrita pode criar crimes e sanções procedimentos impostos não é suficiente,
penais, excluindo-se o direito sendo imprescindível que a lei respeite o
consuetudinário para fundamentação o u conteúdo da Constituição Federal, bem
agravação da pena. como dos tratados internacionais de
direitos humanos, observando direitos e
(D) Não há crime (ou
contravenção penal), nem pena
garantias do cidadão. Apenas desse modo complemento normativo,
é possível falar em lei válida. neste caso, emana do
próprio legislador, ou seja,
da mesma fonte de
produção normativa.
Norma penal em
2.2.2.1.Princípio da Legalidade, tipo branco imprópria
aberto e a norma penal em branco. homovitelina: o
complemento emana
Classificação da lei quanto ao da mesma instância
conteúdo: legislativa
(A)Completa: norma penal completa é Norma penal em
aquela que dispensa complemento branco
valorativo (dado pelo juiz) ou heterovitelina: o
normativo (dado por outra norma). complemento da
Exemplo: art. 1 2 1 do CP. norma emana de
(B)lncompleta: é a norma penal que instância legislativa
depende complemento valorativo diversa
(tipo aberto) ou normativo (norma Norma penal em branco
penal em branco). Analisemos cada ao revés (ou invertida):
uma das espécies de lei incompleta. o complemento refere-se à
(I) Tipo aberto: é aquele que sanção, preceito
depende de complemento secundário, não ao
valorativo, a ser conferido pelo conteúdo proibitivo
julgador no caso concreto. Ex: (preceito primário). O
crimes culposos. Para não complemento deverá,
ofenderem o princípio da necessariamente, ser
legalidade, a redação típica deve encontrado em lei. Temos
trazer o mínimo de determinação. respeitável doutrina
Também são abertos os tipos em questionando a
que o legislador utiliza na sua constitucionalidade da
construção elementos norma penal em branco,
normativos, que demandam juízo quando complementada
de valor do magistrado. por norma inferior (norma
(II) Normal penal em branco: é penal em branco
aquela que depende de heterogênea, ou própria),
complemento normativo. É dizer: pois implicaria em violação
seu preceito primário (descrição da reserva legal e divisão
da conduta proibida) não é de poderes. Este
completo, dependendo de entendimento, no entanto,
complementação a ser dada por está longe de ser
outra norma. Esta espécie majoritário. Entende a
comporta as seguintes quase unanimidade da
classificações: doutrina, ser constitucional
Norma penal em branco a lei penal em branco,
própria (ou em sentido mesmo quando
estrito ou heterogênea): complementada por norma
o seu complemento inferior, exigindo, porém,
normativo não emana do que o recurso à técnica da
legislador, mas sim de remissão seja
fome normativa diversa. absolutamente
Norma penal em branco excepcional, necessário,
imprópria (ou em somente, por razões de
sentido amplo ou técnica legislativa.
homogênea): o
Norma penal em branco e (A) A obrigatoriedade da
instâncias federativas individualização da acusação: a
diversas: a lei penal em denúncia deve imputar de forma
branco (própria ou específica a conduta tida como
imprópria) pode ser criminosa, sendo inepta a acusação
complementada por que não individualiza agente e seu
normas oriundas de comportamento
instâncias federativas (B) A obrigatoriedade da
diversas (Poderes individualização da pena:
Executivo ou Legislativo considerando a gravidade do fato e
Federal, Estadual ou as condições do seu autor.
Municipal). É preciso, no
entanto, que se atente 2.3.2. Princípio da responsabilidade
para o fato de que a subjetiva
iniciativa dessas instâncias
Não bastar que o fato seja materialmente
federativas no
causado pelo agente, ficando a sua
complemento das normas
responsabilidade (penal) condicionada à
penais em branco deve ser
existência da voluntariedade, leia-se
restrita, sob pena de se
dolo ou culpa.
caracterizar generalizada
delegação de competência O deliro de rixa qualificada (CP, art. 137,
legislativa privativa da parágrafo único), que no caso de morre ou
União, expediente vedado lesão grave agrava a pena de rodos os
pela Constituição Federal. agentes, só pelo faro da participação na
rixa, hoje deve ser interpretado em
2.2.3. Princípio da ofensividade ou consonância com o princípio da
lesividade responsabilidade subjetiva, ou seja, só
responde por esse resultado agravador
O princípio da ofensividade ou lesividade
quem atuou frente a ele com dolo ou culpa.
(nullum crimen sine iniuria) exige que do
Fora disso é admitir a versari in re illicita no
fato praticado ocorra lesão ou perigo de
Direito penal, o que é vedado.
lesão ao bem jurídico tutelado.
A exigência de responsabilidade irrestrita
Uma vez reconhecido este princípio,
da embriaguez voluntária ou culposa (CP,
parcela da doutrina questiona a
art. 28, II), em rodas as situações, mesmo
constitucionalidade dos delitos de perigo
quando não concorre dolo ou culpa, seria
abstrato (ou presumido), casos em que da
uma responsabilidade objetiva no nosso
conduta o legislador presume, de forma
Código Penal. Mas também aqui há uma
absoluta, o perigo para o bem jurídico.
fórmula para evitá-la: reside na teoria da
A tese não seduziu os Tribunais Superiores, actio libera in causa [que vamos estudar
para quem a criação de crimes de perigo dentro da culpabilidade]. De qualquer
abstrato não representa, por si só, modo, por força dessa teoria, quando ao
comportamento inconstitucional por parte agente no momento precedente (da
do legislador penal. embriaguez) nem sequer era previsível o
resultado, não há que se falar em
2.3. Princípios relacionados com o
responsabilidade penal"
agente do fato
2.3.3. Princípio da culpabilidade
2.3.1. Princípio da responsabilidade
Postulado limitador do direito de punir.
pessoal
Assim, só pode o Estado impor sanção
Proíbe-se o castigo penal pelo fato de penal ao agente imputável (penalmente
outrem. Inexiste, em se tratando de Direito capaz), com potencial consciência da
Penal, responsabilidade coletiva. São ilicitude (possibilidade de conhecer o
desdobramentos deste princípio: caráter ilícito do seu comportamento),
quando dele exigível conduta diversa copiosamente, vem preferindo essa
(podendo agir de outra forma). denominação.
2.3.4. Princípio da igualdade De acordo com o Estatuto de Roma
(Decreto no 4.388/2002), podemos
O princípio da igualdade (ou da isonomia)
enumerar três consequências extraídas
está previsto de maneira expressa no caput
deste princípio:
do artigo 5° da CF/88, o qual dispõe: "Todos
são iguais perante a lei, sem distinção de (A) Qualquer restrição à liberdade do
qualquer natureza [...]". Essa garantia se investigado/acusado somente se admite
estende aos estrangeiros, mesmo que não após sua condenação definitiva, não
residentes no país. evitando, porém, a prisão cautelar ao longo
da persecução criminal, desde que
Pressupõe não somente a igualdade formal,
imprescindível, exigindo-se adequada
mas também a igualdade material, ou seja,
fundamentação;
"para todos os indivíduos com as mesmas
características devem prever-se, através da (B) Cumpre à acusação o dever de
lei, iguais situações ou resultados jurídicos" demonstrar a responsabilidade do réu, e
ou, ainda, deve-se tratar de forma "igual o não a este comprovar sua inocência (o
que é igual e desigualmente o que é ônus da prova incumbe sempre ao titular
desigual". Ex: constitucionalidade das da ação penal);
ações afirmativas.
(C) A condenação deve derivar da certeza
2.3.5. Princípio da presunção de inocência do julgador, sendo que eventual dúvida
(o u da não culpa) será interpretada em favor do réu (in dubio
pro reo).
A Constituição Federal, no artigo 5°, inciso
LVI I, determina que " ninguém será 2.4. Princípios relacionados com a pena.
considerado culpado até o trânsito em
2.4.1. Princípio da dignidade da pessoa
julgado de sentença penal condenatória”.
humana
Na verdade, o princípio insculpido na
referida norma garantia é o da presunção A ninguém pode ser imposta pena ofensiva
de não culpa (ou de não culpabilidade). à dignidade da pessoa humana, vedando-
Uma situação é a de presumir alguém se reprimenda indigna, cruel, desumana ou
inocente; outra, sensivelmente distinta, é a degradante.
de impedir a incidência dos efeitos da
condenação até o trânsito em julgado da 2.4.2. Princípio da individualização da pena
sentença, que é justamente o que a O princípio da individualização da pena
Constituição brasileira garante a todos. está previsto constitucionalmente. Dispõe o
Reconhecemos que a denominação artigo 5 °, XLVI, CF/ 88: "a lei regulará a
princípio da presunção de inocência não se individualização da pena...”. A
coaduna com o sistema de prisão provisória individualização da resposta estatal ao
previsto no nosso ordenamento jurídico: autor de um fato punível deve ser
como admitir que alguém, presumidamente observada em três momentos: a) na
inocente, seja preso na fase de definição, pelo legislador, do crime e sua
investigação policial ou no curso da pena; h) na imposição da pena pelo juiz; c)
instrução criminal, leia-se, sem a haver e na fase de execução da pena, momento
sentença penal condenatória? em que os condenados serão classificados,
segundo os seus antecedentes e
Por outro lado, parece aceitável a personalidade, para orientar a
decretação (excepcional) de uma prisão individualização da execução penal (art. 5°
temporária ou preventiva sobre alguém não LEP).
presumido inocente, sobre o qual pairam
indícios suficientes de autoria, mas que 2.4.3. Princípio da proporcionalidade
ainda não pode ser considerado culpado. O Para que a sanção penal cumpra a sua
próprio Supremo Tribunal Federal, função, deve se ajustar à relevância do
bem jurídico tutelado, sem desconsiderar Excepcionalmente, será permitida a
as condições pessoais do agente. retroatividade da lei penal para alcançar
fatos passados, desde que benéfica ao réu.
2. 4. 4. Princípio da pessoa/idade
Extra-atividade: possibilidade conferida à
Artigo 5°, inciso XLV, da Constituição
lei de movimentar-se no tempo (para
Federal, que dispõe: "nenhuma pena
beneficiar o réu). Pose ser compreendida
passará da pessoa do condenado podendo
como gênero do qual são espécies:
a obrigação de reparar o dano e a
decretação do perdimento de bens ser, nos a) Retroatividade: capacidade que a
termos da lei, estendidas aos sucessores e lei penal tem de ser aplicada a fatos
contra eles executadas, até o limite do praticados antes da sua vigência.
valor do patrimônio transferido " b) Ultra-atividade: representa a
possibilidade de aplicação da lei
2. 4.5. Princípio da vedação do "bis in idem
penal mesmo após a sua revogação
"
ou cessação de efeitos.
Previsto expressamente na Constituição,
mas sim no Estatuto de Roma, que criou o 2. Tempo do Crime
Tribunal Penal Internacional : 'í'lrt. 20. Ne
Teoria da Atividade: CP, ART. 4º,
bis i n idem. I. Salvo disposiçáo e m
“considera-se praticado o crime no
contrário do presente Estatuto, nenhuma
momento da ação ou omissão, ainda
pessoa poderá ser julgada pelo Tribunal por
que outro seja o momento do
actos constitutivos de crimes pelos quais
resultado”.
este já a tenha condenado ou absolvido. 2 -
Nenhuma pessoa poderá ser julgada por Pelo princípios da coincidência (da
outro tribunal por um crime mencionado no congruência ou da simultaneidade),
artigo 5°, relativamente ao qual já tenha todos os elementos do crime (fato
sido condenada ou absolvida pelo típico, ilicitude e culpabilidade) devem
Tribunal". estar presentes no momento da
conduta. A imputabilidade do agente
Entende-se, majoritariamente, que o
dependerá da aferição da sua idade no
princípio em estudo não é absoluto. Entre
momento da ação ou da omissão.
nós, a exceção ao princípio do non bis in
idem se encontra no artigo 8°, que autoriza O momento do crime é também marco
novo julgamento e condenação pelo inicial para saber a lei que, em regra,
mesmo fato, nos casos de vai reger o caso concreto, ganhando
extraterritorialidade da lei penal brasileira. ainda mais importância no caso de
secessão de leis penais no tempo.
O princípio do non bis in idem tem três
significados: 3. Sucessão de Leis no Tempo
(A) Processual: ninguém pode ser Sucessão de leis no tempo: entre a data
processado duas vezes pelo mesmo crime; do fato praticado e o término do
cumprimento da pena, podem surgir
(B) Material: ninguém pode ser condenado
várias leis penais.
pela segunda vez em razão do mesmo fato;
Regra Geral: artigo 5°, XL da CF/88 - "a
(C) Execucional: ninguém pode ser
lei penal não retroagirá, salvo para
executado duas vezes por condenações
beneficiar o réu ".
relacionadas ao mesmo fato.
Capitulo 6- Eficácia da lei Penal no Tempo
1. Introdução
Em regra, aplica-se a lei penal vigente ao
tempo da realização do fato criminoso ao
tempo da realização do fato criminoso
(tempus regit actum).
Natureza jurídica: a descriminalização
representa causa extintiva da punibilidade,
o que consta expressamente do seu artigo
1 07, III.
3.1. Sucessão de lei incriminadora
A lei penal abolicionista não deve respeito à
A novatio legis incriminadora é a lei que coisa julgada. Isto porque, por expressa
não ex1st1a no momento da pratica da disposição do artigo 2°, caput, CP, cessarão
conduta e que passa a considerar como tanto a execução quanto os efeitos penais
delito a ação ou omissão realizada. Esta da sentença condenatória. Tal dispositivo
norma é irretroativa, nos termos do artigo 1 não infringe o artigo 5°, inc. XXXVI, da CF
° do Código Penal. ("a lei não prejudicará o direito adquirido, o
3.2. Novatio legis in pejus ato jurídico e a coisa julgada"), pois o
mandamento constitucional tutela a
A nova lei que, em qualquer modo, garantia individual e não o direito de punir
prejudica o réu (lex gravior) é irretroativa, do Estado.
devendo ser aplicada a lei vigente quando
do tempo do crime. Observância ao Como ficam os efeitos da condenação
princípio da anterioridade, corolário do na hipótese de "abolitio criminis"?
princípio da legalidade. Efeitos Penais x Efeitos Extrapenais:
Qual lei deve ser aplicada se, no decorrer Os efeitos extrapenais estão positivados
da prática de um crime permanente ou nos artigos 9 1 e 92 do Código Penal e não
crime continuado, sobrevém lei mais serão alcançados pela lei
grave? descriminalizadora. Assim, mesmo com a
revogação do crime, subsiste, por exemplo,
Crime permanente: é aquele cuja a obrigação de indenizar o dano causado,
consumação se prolonga no tempo. Ex: enquanto que os efeitos penais terão de ser
crime de sequestro (art. 1 48, CP). extintos, retirando-se o nome do agente do
rol dos culpados, não podendo a
Crime continuado: ficção jurídica através
condenação ser considerada para fins de
da qual, por motivos de política criminal,
reincidência ou de antecedentes penais. A
dois ou mais crimes da mesma espécie,
expressão descriminalizar (=abolir o
praticados nas mesmas condições de
crime), significa retirar de certa conduta o
tempo, lugar e maneira de execução,
caráter de criminoso, mas não o caráter de
devem ser tratados, para fins da pena,
ilicitude, já que o direito penal não constitui
como crime único, majorando- se a pena.
o ilícito (caráter subsidiário); logo, não
3.3. Abolitio criminis pode, pela mesma razão, desconstituí-lo.