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N.° 2,
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DEZEMBRO .DE 1821.
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A. MALA G U E T A.

Quando se diz á cerca dos Negócios do Estado

S3 que me importa lj -- deve-se coutar que o Eslado
eslá perdido.
J. ,T. Rousssait.

nao era
Pelo exordio do meu primeiro Numero se vê claramente quanto eu reconheci qne
ser lido com imparcialidade, ou julgado com indulgência, portanto
esle o momento próprio para
eu agora repilo com
ninguém me sorprende: já o nosso grande Albuquerque tinha dito o que
mal çcm esta por
diferentes palavras =s mal com meia Nação por amor da outra metade:
daquella. = A expressão =3 nesga da Europa c de que me servi no 1.° Numero k. la.i-
«mor lie ansoiu-
toda e, outra extensão de sentido
ilo de Portugal, he politico-geografiea; qualquer
singularidade de
lamente inadmissível : o mesmo se poderia dizer ria Hespanha, ou Itália pela me nao
soa situação geográfica : demais , ignoro a arte de ser claro com aquelles que qmze-
rem entender.
Rabelais; a Cor-
O célebre Mr. Rabelais tão conhecido pela do com poeira; lie solto Mr.
sua vasta erudição em línguas Orientaes , como te rio se muito da sua invenção , e foi elle at-
originalidade do seu caracter virtuoso , e tendido em suas justas pertençóes.
pela Ora diguem-sc meus Leitores applicar alga-
coração humano ;
pelos seus conhecimentos do á posi-
achando-se em Monipcllier , pobre como hum ma parle dk moralidade desta aneedota
e com muita de ir a ção em que eu ora me vejo. Se as minhas ex-
ralo de igreja , precisão da Mala-
oa o
Paris tratar de seus negócios , c pertençóea pressões parecerem Cifras , claro çtimohe o deslino
venenoso . fica sendo qual
como oppositor em diferentes Faculdades na Uai- guela
se eu náo tiver a felicidade de
versidade , recorreu ao seguinte expediente. Fin- que me reservo; e
em que to- encontrar Pombais , ou Sllllys, terei toda a probabi-
gio-se mui oecupado na Estalagem me entenda no nosso Soberano
mára quartos, escrevendo com mysteriosa alfec- lidatle de achar quem
da casa e depois de ter Congresso , e só poderá haver duvida em eu cir gar
tação diante da gente ,
da minha vida simples
a pomo de tarde, 011 cedo: O Quadro
por dias suscitado a curiosidade pas-
única deieza ; c se esla não for suiii-
nar a desconfiança . levanlandose hum dia da será a minha
• sua carteira , em ar de pressa , feixa seus pa- cienie , apresentarei em mea abono a boa fé , com
bum pa- que respeitosamente me cheguei á Augusta Presen-
peis , e deixa, como por esquecimento ,
de fora , qne tiuha em cima o letreiro ça de Sua Mageslade El-Rey com o resumo do meu
pelinho modo Constitucional , e político de ver as cousas
= Veneno para. a Rainha: 3 I O criado que pou- do
de primeiro visitar a mesa ospede , dando que aqui se nos apresentarão com a chegada
J- .1 I,

foi immediatameute denunciar Bergantim Providencia , em Outubro do anno

con/ o papclinho.
dias antes da chegada das Noticias
o tone achara: Eis a Policia u*lnini instante ás passado ,
de Lisboa de 15 de Setembro; momento em que
fineis de Mr. Rabelais ,- hs preso ,- abrem-se
e nellas se acháo iifferentes car- talvez ninguém no Rio de Janeiro se atrevesse
suas carteiras , risco; momento em que o
mistos, e letrei- a correr semelhante
Ias em cifra , e papclinhos com aqui compilar a Gazeta de
Ministério mandava
ros 3 venenos paT.i El-Rei 3 par,, a Rainha 3 em que as mais de-
de .... Ac. &c.: apromptáo- 9 de Novembro; momento
para Mr. o Dttqui Paris com cididas medidas se tomaváo, para prevenir nao
se Postas; he o preso remettido para de noticias, mas ainda mesmo
a maior segurança, e decência, tratado avela só a circulação e todas constáo do De-
de libra , como lá dizem ; ás duas pir três che- as commiinicaçófs , que
desejos; he met- creto que depois sahio com a dala de 2 de
ga a Paris, objecto dos seus uliuma palavra, no momento em
tido na Bastilha. O Ministério em quem a sin- Dezembro;
excita curiosidade , que a confusão , olvidaçati , e incerteza . náo
gnlaridade do accontecimeuto o daváo lugar a encarar se o Quadro de Poria-
manda visitar , e sondar indiiectamente preso
o do Brasil , seuáo mui
tinha conhecimento pela sua rcpii- gal , e muito menos
de quem Mas como a pequena . e iusi-
vè entrar o Ma- superficialmente.
tação : apenas Mr. Rabelais
indo o sen caso. e eflitíeaiítfi Memória , a que cêton allodintln. hn
gistrado visitador , explica logo -_ belie-los de ser posta perante ns olhos dos meus Leitore»
o dos seus venenos; propõe-se algum dos meus futuros Numeres , nada
todos por junto , o que podia fazer' a salvo, em
coustavão nú de sal ordinário mistura- ma' i ¦? cumpre dizer agora a tal respeito , e
pois que

vamos a Mi*. De Pradt. antes que «He me es-
' Luiz, c José da Cunha Brochado encaravão
qneça'.
A obra deste Diplomata intitulada .— Des
Colonies, et de ta revolulioii acttjelle de L'Ame-
rique __ he talvez a mais interessante para hum
Portugüez nu momento actual. Ella foi escrita
ein 1816 . r- publicada em 1817, islo he , bons
quatro , ou cinco autios antes dos diiseuvolvi-
luentos que nos occnpão lia hum anno: o tra-
quejo de negócios políticos que o auctor tinha ,
e qne lhe tinha merecido lugares diplomáticos
lie necessorio para cila ser lida com interesse ;
e a maueira juiri|iio elle avalia a grande obra
do transferimento da Monarquia para o Brasil,
e o cunho d.? solidez que elle dá a esta lixa-
ção da nossa Dvuastia, e quadro de futura grau-
drii.-i , pó pedem ser excedidas pelas profecias,
singularmente tocantes , nella anuunciadas . e
que talvez o auctor nos apontou como canse-
lhos de ultima' importância, laivez fundados em
intrigas (ie Gabinetes Estrangeiros de qne elle
tivesse informações ,- e qne mio seria de admirar
eximissem , á vista dos Boatos que circularão
em 1814, e 1815. sobre a reiirada de Sua Ma-
gestade pars Portugal , e que nunca forão inai-
gmficaníes poi.** que chegarão a ler por conlir-
inação a vinda do Almirante Inglez Sir John
Beresford a este porto.
Depoií de ter expendido amplamente , e
quanto se poderia esperar de hum Estrangeiro ,
não só sobre os heróicos feilos da Nação; so-
bre os longos, e penosos trabalhos, c mais di-
gno desenvolvimento de virtudes , e talentos ,
com que os Portuguezes nas suas conquistas as-
sombríirão tudo quanto a Historia, oífe.ece de
grande , ou recommendavel ; o aucior passa a
elogia.- de huma maneira decidida a
judiciosa
concepção , que elle attribue ao Marqnez de
Pombal, do transferimento da Sede da Alonar-
chia para o Brasil,
O auctor . que se quer mostrar instruído
em cousas do nosso Gabinete , certamente não
chegou a ter noções algumas , nem remotas
, Seu Augusto Primogênito. e as duas Fianças
liem aproximadas , acerca dos planos , ou
pro-
jeeío3 que muitos hoje laxáo de fabulosos, e que
são attribuidos ao nosso Embaixador D. Luiz
da Cunha no principio do Século
passado ; pois
qne (ralando das longas vistas do Marques! de
Pombal , linda diz de D, Luiz , nem de José
da Cunha Brochado. Eu nada sei a laes res-
peitos que tenha cunho offieial -. nem no curso
da minha vida publica pude ajunlar dados
que
valessem pina o caso, á èxcepção "da de huma
noção d? Londres , na oceasiao' Emigração
de 1807 . que o transferimento da Sede da Mo-
narqtiia para o Br_.il, longe desci- cousa uova,
já havia sido reduzido a systema : e que o Mar-
-juez de Pombal o derivara de opiniões, e
nos , qv.e^ tinhão tido sua origem na oceasiao pia- da
Guerra da, Successão ; eu nada affiauço sobre
as circuustancias , e arranjos de taes
projectos ,
qne mui provavelmente serião redusidos a hum
tal, ou qual Systema de Gabinete, neces-
.ariamcDte deveria ser seeretissimo ; que mas creio
firmemente os houve , e fuado-me para es-
•ta crença , que nio somente nu receio u
lugar a Guerra da Snecessáo , maiorinente qne dava
de-
pois da perda da Batalha de Álmam, mas
6]
lambem na grande desconfiança com que D.
as empresas ambiciosas, e malignas, anteriores,
i: coevas dos Gabinetes Britânico , e Francez ,
hiiniíis encobertas com a capa de expedições de
aveutureiros , oulras sanecionadas pelos dito»
Governos, e com Títulos passados em Chancel-
liivia , que tinháo dado, e daváo sutnino cni-
dado aos nossos Diplomáticos , bem como se
deixa ver das laboriosas transacqóes , e mui
motivadas reclamações , a que deráo lugar os
projectos do Francei Riffauit, e ¦'. Inglez Da-
cénd , bem designados em hum volo separado
de Consulta do Conselho'da Fazenda , feito ha
quasi cem annos por José da Cunha Brochado ,
e que achei em Loudies eom bastante admira-
ção minha, em mãos de Estrangeiros.
Porém seja o que lor he indubitavel que
a Contraste que agora se nos apresenta he o
mais tocante possível , e necessita sei' medita-.
do profundamente por todo o Portugüez Com,.,
titucioiiiil , no ni o me nl o em que as Profecias ,
ou Sentenças de De Pradt se confrouláo com o
regresso tle Sua Magestade a Portugal , e , ain-
dn mais, com a annunciada partida dc Sua AU
teza Real, e sum conseqüências.
A' i-V.ce do Universo notiüco Portuguezes,
tanto aquelles que tem lido De Pradt, como o»
que o não lêráo, estes para que o leiáo , aquel-
les para qtie o tornem a lèr; para que todos
bajáo de pesar em sim consciência aquella tre-
metida Sentença concebida nos termos seguintes i
a E também fica sendo evidente , que se
mais o Soberano estabelecido no Brasil se já
sar a Portugal , deixará atrás de si a Indepen- pas-
dencia estabelecida nas Feitorias do Iiio de Ju-
nei-o a Grande Deos! que tremenda eoniuiiiia-
ção ! Talvez que a confusão , que aqui reinou
nos derradeiros dias da estada de Sua Mngesta-
de uáo desse lugar a citar-se , ou a meditar-sa
esta importante Sentença ; de mais, a delega,
ção que Sua Magestade Fazia na Pessoa do
que este Joven Principe conservava aqui , tal-
vez dispensassem a mais urgente reflexão:
rém agora havemos mister da mais elevada po-
prudência, fina circunspecção, misturadas com a
mais respeitosa firmeza perante o Soberano Con.
gresso, para ligar importantíssimas considerações
com jurada obediência, Se o eslado actual
da
espirito publico de algumas importantes
Capita-
mas do Brasi! ,• Se o alvoroço em
a Província de Pernambuco ; Se a recente que se vio
toma-
da da Cidade de Lima; Se vinte mil conside-
rações não são sufficientes títulos
ver á investigação das cousas para nos mo-
que nos esperáo,
e a levar respeitosamente ao Soberano
Congres-
so o perfeito conhecimento do nosso actual
dite,
ma ; então terei de depor a c ir prós-
penna ,
trar-n,e aos Pés do Throuo da Soberania da
Na-
çao para protestar em altas vozes contra a Iguo-
rança , crassa de huns, affectadu de
outros
e contra a pérfida malícia daquelle»
que debai!
xo da capa da immediata , e cega obediência,
i-—miciuntuiciei leruaues ae ultimo momento
Cid°._os Eleitores! Vo. a talvez a
Jeilura rápida da invocação do quem meu primeiro
A úmero a vós dirigida ,
paiWeo dever carac
terisar aquella invocação ele suseitaçáo ele novos
inalo.-; , de novos riscos , de novas vergonhas ; ar-
vedai tle vós semelhantes pensamentos! Se eu
vos recordei a Palma do vosso marlyrio , corno
poderia eu pertender en'.'olver-vos n'outro ? De-
dnziiido dos Publicistas qne lem analysado o Di-
reilo de Representantes de foros , e da pratica
Ingleza ; julguei qoe o Povo depois de se ter
dado Represenlantes legitimamente , náo tem di-
reito de representar senão por elles: e neste ca-
so subsisti ria a propriedade da minha invocação.
'Publicista
He verdade, que certo ( Rousseau ) diz
que aonde se acha o Representado náo ha mis-
ler de Representante: maa isto he applicavel
iiuicaaienle ao momento das Eleições em que o
Povo lie verdadeiramente Soberano. Se apesar
desta ponderosa rasão Cidadãos Eleitores, vós
me respouderdes com o diclado __: Gato escalda-
do de agna fria tem medo r então terai ele vos
pedir perdão th minha imperfeita invocação ; e
maldizendo da água escaldando, e da água fria,
terei de invocar novas gentes.
Cidadãos das Municipalidades! Povoações
inter.-;;-1 Guerreiros Leaes ! e vos oit Joven
Príncipe que aqui exerceis a Delegação do Po-
der Executivo! chamai a postos todas as vos-
sas faeuldades intellectuaes , Memória , Enlendi-
mento, e Vontade, e todos os virtuosos pode-
res , ou poieneias exercitatites que dellas derivão,
para nos darem o Tom da Harmonia que deve
caracterisar nosso recurso uo Soberano Congresso.
Eutre as muitas reflexões que Decorrem em
Borbotões a todos os que ora se oecupão em
pensar na agitação política que parece ainea-
çar o Brasil , ha Imitia que eu me proponho
apontar mui particularmente , pura haver de
aunlysa-la da meilior forma que eu poder : e
sendo ella feita pelos Consliliicionaes que sáo
tle opinião que a retirada da Real Família , tine
aqui se acha , náo admitte de construcçóes,
nem interpretações tratarei com devida, e res-
peitosa circunspecção das melindrosas duvidas
que a tal respeito se me offerecem.
Opinão nuiiíos que o estado da Força ino-
vai ilo Brasil , isto lie , aquella que deriva da
educação , e boa organisação , acbnndu-se eon-
tinuadamonte em opposição com a liberalidade
da Mão da Natureza , tem de prolongar por
algum tempo a necessidade de sir governado
nela maneira ora projeclada , e para corroborar
esla deducção , allega-se a facilidade com que
Bravos) Guerreiros , Terror dos Francezes , e
admiração do Mundo, poderão, dirigir esla pe-
qneua força Moral debaixo dos dictames da
porca Moral Superior de Portugal: eom o res-
peito devido ás opiniões de todos os homens li-
vres p.rmittir-ine-hei combaler ial parecer.
Nenhuma. Nação Europea tratou cm tem-
po algum de dar as suas Colônias cousa que
merecesse o honorífico nome de organisação ,
tioneieito, e ligaqáo , que sempre devem diri-
gir operações politicas enlre parles desiinadas a
íii/.er hum todo. O Estabelecimento tia Sede da
Monurquia.no Brasil em 1808 fez logo saltar
aos olhos de todos esla importante verdade . que
eu mesmo declaro haver por vtf.es ouvido a
hum sisudo Secretario de Estado de reconhf i-
tios talentos políticos : E como uv Ministério o
modo de ver as cousas não era igual em todos
os que o occupaváo , e era ao mesmo tempo pie-
ciso fazer alguma cousa , acconteeeo que cada
Estadista daquelle tempo foi fazendo o que jnl-
gava necessário ein sua repartição, sim com a
maior boa le possível , mas sempre com aquella
imperfeição qne vinha a ser a mesma eom que
algum dia se expedia qualquer disposição poli-
tiea para qualquer das Capitanias , sem combi-
nação alguma com o bem .«er, ou prejuiso das
outras. Daqui se seguio evidentemente que ape-
sar tia residência de Sna Magestade no Brasil ,
o manejo do Leme da Governança Política foi
sempre o mesmo qne anles era , n excepçáo das
indispensáveis alterações exigidas pela admissão
de Estrangeiros no Paiz , e pelo Tratado de
Coinmereio de 1810 , e que assim mesmo pou-
co. ou natla.accreseenl.iráo , nem ao meiliora-
mento , nem ao inlercurso das Capitanias htimas
com as outras.
Do que lica dilo resultou lambem cm se-
guimento , qne considerando-se superficialmente
em Portugal , no principio e meado deste anno
tle 1821 ( Bemditp Deos para sempre ! ) o atra-
s-.o moral do Brasil , o confundirão com aquella
impossibilidade. e tolhimento que a Natureza
traça a certos l^ovos , e a certos Paizes como
Barreira insuperável; e eis aqui donde nasce a
opinião daqnelles , que de boa fé julgão esta
debilidade moral, maior do que ella lie: mas
he hum elos meus importantes deveres , e liuiu
dos objectos da minha presente tarefa , dissipar
esle miserável artigo de Fé Política: passarão-
se, he verdade, quatorze annos: as vantajetis
do Brasil não marcharáo em igualdade de ra-
üões com os desenvolvimentos políticos , nem tão
pouco com os sacrifícios de Capitães , que o
Brasil fez e dos quaes pudera esperar maior
adiantamento ; mas ninguém se engane eom tal
quadro, nem com tae» effeitos, que só se devem
attribuir ao infeliz Systema de administração an-
liga, combinado com o mísero Tratado de 1810.
e sua ainda mais mísera execução : mas agora
que a Constituição veio operar uo Brasil o que
lhe não podia trazer a Emigração de Í8ÜT ; ago-
ra que as pertençóes de todos aqui . se achão
em feruiculo ; agora que o inlercurso com Es-
traugeiros não admitte tle interpretações compôs-
tas sobre interesses palpáveis, e arilhmeticanieii-
te demonstrados ; agora que o Abbade De Prtidt,
e outros do seu calibre sáo lidos cum huma
avidez que contrasta bellamente com a ignoran-
cia eus que aqui se esteta, ha annos , quer
do Anctor quer da sua obra precitada ; seria
a mais funesta equivocação argumentar eom a
debilidade moral do Brasil, e fiar-se aos resulta-
dos que desta debilidade se quizesseni tirar :
por tanto, so me restaria desvanecer agora a
outra sensação concomitante , relativa ao res-
peito que a Força Atinada tivesse da exigir . se
se pertendesse -lar indevida extensão aos justos
motivos que possán tomar aqui necessária ti sua
'
existência para o .i ser do Brasil.
/ Sendo en Europeo, e tendo sido Sol Iade
por felicidade minha , pouco me custaria denious-
irar que no Estatio actual du Brasil náo be a
Força Armada, mas só sim a Força moral
•f
pode impedir a veritkayto das comniioaçóe»
 ( 8 )
tio Abbade De jVadt , e appello desde já para Nenhum homem de senso comnuim aqui , dn.
todos os Sfírs Officiaes Militares que ao amor vidará que as espécies primas que se oíTereciáo
da sua Pátria reunem a experiência do Brasil no olho do Observador imparcial rio Rio <!e Ja-
e hum conhecimento aprofundado da vida do neiro erão de huma desagradável natureza.- Hu-
Soldado Europeo desde que elle piza em ferre- ma ignorância em que só a nossa Constituição
no do Brasil , até que a morte, a baixa. ponde fazer brecha, ampliando, mediante a I:
a deserção lhe dão novo deslino : E commetten- herdade da Imprensa, os meios de leitura , quo
do en a silencio todas e quaesquer considera- antes apenas passavão do Fins Sauetorum . e
ções polilico-militares que tornáo inadmissíveis por Baculo Pastoral : huma continuada indigcslno
este lado as stipposiçóes , ou hypotbeses da pro- das matérias , e llicsrs mais simples da mesma
rogaçáo, da Debilidade moral no Brasil depois Constituição . e que nos mais instruídos se qua-
de elle participar da nossa admirável Constitui- lifica corcundisino , e noa outros miséria : huma
ção ; espero que sizudos Militares me hajáo de divisão em raciocínios , e interesses , liuns reaes
entender melhor do qne se eu rr.e apostasse a mas exaggcrados , outros fingidos , e com lias-
fazer quadros de Comparações, e de Sensações, tante arte: huma mania de grnlllar , quer em
qne paia agradarem a huns era necessário desa- estylo acadêmico , quer em estylo do Trosso:
gradassem a outros, e que portanto ficão cou- huma absoluta difBculdade de achar quem possa,
sdnados ao juizo . e sagacidade dc todos : seja- e queira pôr-se á testa de trabalhos importantes;
me pois licito avançar que he , e será sempre erão mates tão palpáveis , que seria ocioso de-
huma falai equivocação política , argumentar hionstrar sua existência. Destas cansas , e de
com a Debilidade moral do Brasil a qne mui- outras, que dellas derivavão, nasceo , a meu
tors ainda , e infelizmente , chnmão verdura , ver , a necessidade imperiosa em que a Força
como se esta mesma verdura não fosse em boa Armada se lem visto de servir de obstáculo . a
Lógica huma razão "contra-producenlem.,, Quator- barreira ao resultado de perigosas inepcias que
ze annos são passados desde qne Buenos Ayres , infallivelmente se apresentaria a não ser a mui
c a ch.isma de homens que suecederão a Dnn attendivel presença , e necessária ingerência da
Santhiago Liuiers , tem mostrado ao mundo que mesma Força Armada como primeiro sustenta-
as verduras n'hum Paiz não fechão a porta culo da nossa Constituição. O Dia 2b' de Feve-
Guerras Civis: e Quatorze annos se tem passado reiro aqui , e os de 24 de Agosto, e 15 de
desde que Venezuela, e suas visinhanças tem feiio Setembro em Portugal , lhe daváo e3fe incontes-
ver que nem os Terremotos combinados com os tavel Direito , ratificado de mais a mais
pelo
Flagellos-da Guerra podem subjugar Povos quando estado das cousas. Porem como os extremos se
se tem perdido sobre elles as vaníajens da Força tocáo , segundo diz o rifáo Francez - les extrè-
Moral. mes se touchent es acconteceo que a familiari-
Oh vós Força Moral da santa Constituição! sação, e facilidade,
que resnltaváo de se snp-
Vós, que poucos invoeão porque muitos igno- pôr a cada
passo necessárias as ingerências da
rão vosso immenso poder, vós, á vista de quem Forç? Armada, ampliadas com boatos quasi se-
nada são inepcias políticas, nem vãs declama- muiiaes, e
que erão espalhados por gente ma-
ções ! eu vos imploro para que traceis desde rihosa , ou crassamente ignorante . forão dando o
já a todos a linha de condncta que aqui nos de- tom do ridículo ao melhor fiador da boa ordem
ve congraçar em huma só Família Luso-Brasi- que aqui havia; de cuja fiança
feira ! Inspirai quanto antes ao Príncipe poderiáo as con-
que sas do Rio de Janeiro'ter derivado hum cousi-
aqui nos rege que os seus deveres para com deravel melhoramento, se esla respeitável
e
vosco se não devem limitarão louvável entlm- bem intencionada Tropa tivesse no dia
5 de'.Tu-
siasmo que elle manifestou perante vossos alta- nho achado o auxilio
de huma sabia, e bem
res no Dia i'.6 de Fevereiro, e que elle senão montada municipalidade,
cujos membros . alias
deve afrouxar á vista de diíTiculdailes ,
que na Cidadãos da mais slricta probidade , e pureza
verdade sao grandes, mas que por isso mesmo Constitucional, se acharão
destituídos do sábio
«nclonido hum respeitoso recurso ao Soberano enthusiasmo, e tacto
fino com que lhes cumpri,,
Congresso , para depois obedecer sem ter
que ajudar naqnelle Dia a Forca Armada, e cunha"
lazer a sua consciência reproche algum dos re- o Juramento das
Bases da nossa Constituição ¦ comm
sultadoa dos erros de om.ssão. modida. entüo „íl& In(!Jt(J )naJ9
que equiveis
,
He depois de ter procurado suscitar sensa.
porque se não tinha ainda perdido tanta força
ções de grande peso , e esboçar verdades inques- moral.
liunaveis , que eu passo a avançar minhas idéas Eu faltaria á verdade, á
sobre o jniso claro , e decidida trauqnillidade justiça, e á mim
, e mesmo , senão confessasse aqui , o que eu reco-
desapego de paixões, com qne nos cumpre ora nheci
, dias depois dos accootecimentoe de 5 de
haver-nos, desviando cos com sagacidade das im- Junho
, e vem a ser que hum homem de tac-
pressões de boatos, e de alvoroços, que- serviu- to fino, de irreprehensivel comportamento
do de confusão , e desordem , também servirão hnma , de
imaginação forte , e capaz de se
para se formar hum ridículo quadro de nós , naqnelle Dia de estrondo, teria tiraií produzir
nao somente perante o nosso Soberano Congres- dos
briosos sentimento, de bravos
so ma ainda mesmo perante as Nações guerreiros cm
que mauifesla vantagem da nossa Con-tiluó-áo soce
contempla» com at.ençao as cousas Portuguezas.
go nosso , e também do nosso Soberano CongréS
Vende-se nos Ingares annnnciados, a 100 réis.

Rio de Janeiro. Na Typographia de Moreis e Garcez. 1821.

Jf*