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A produção de cortiça tem uma longa tradição e é uma das atividades mais relevantes

em Portugal. O sobreiro faz parte das áreas mediterrânicas há séculos, embora não haja
consenso sobre a origem (APCOR,2012).

Portugal foi o pioneiro em matéria de legislação ambiental, as primeiras leis agrárias


que protegem os montados de sobro surgem no início do século XIII, em 1209.  As
florestas de sobreiro estão ligadas ao setor vitivinícola desde a invenção da primeira
rolha de cortiça, na Idade Média. A produção de rolhas de cortiça começou a ser
implementada principalmente no Porto e em Lisboa .

Mesmo com a evolução positiva do setor industrial e com o aumento das exportações de
cortiça, até a Primeira Guerra Mundial, as principais exportações do país ainda eram de
cortiça bruta e semi manufaturada.  No início da década de 1930, Portugal era um dos
países menos desenvolvidos da Europa e essa situação económica e social mantém-se
até a década de 1960. Em 1931, com a implementação de uma nova política de
condicionamento industrial do governo (“Novo Estado”), foi iniciada e isso resultou na
substituição da indústria manufatureira nacional pela agricultura e comércio. Isso
originou uma indústria de fabricação menos competitiva, sem novos investimentos.
Também durante a década de 1930, um conjunto de leis regulatórias corporativas foi
desenvolvido. Em 1936, foi criada a Junta Nacional de Cortiça. Esta agência
governamental foi criada com funções nas áreas de orientação, investigação, supervisão
e promoção do setor da cortiça portuguesa.

 Com a Segunda Guerra Mundial, os produtos de cortiça tiveram uma importância


estratégica e o volume das exportações portuguesas continuou a aumentar. Durante a
primeira metade do século XX, mesmo com várias limitações e as guerras mundiais, as
políticas de condicionamento e a crise econômica global da década de 1930 (Grande
Depressão), a produção e transformação no setor de cortiça portuguesa conseguiram
evoluir não apenas tecnicamente (com a introdução de novas técnicas e produção de
aglomerados negros), mas também aumentando as exportações de cortiça transformada.

Pela importância que a cortiça começa a assumir para Portugal, nasce, em 1956, a
Associação Portuguesa da Cortiça, mas sob o nome de Grémio Regional dos Industriais
de Cortiça do Norte. De acordo com Pestana e Tinoco (2009), na década de 1960 houve
uma mudança substancial em nível nacional na indústria de transformação de cortiça,
causada pelo aumento dos custos de mão-de-obra nos países industrializados e também
pelo aumento dos custos de transporte. Países como Portugal e Espanha começaram a
ganhar novas indústrias que saíam de países industrializados e começaram a produzir
produtos com maior valor agregado.  

 Com a Revolução dos Cravos, em abril de 1974, o regime político mudou para um
sistema democrático. Os primeiros anos foram preocupados com ocupações,
desapropriações, nacionalizações e várias reivindicações. Isso originou uma ruptura
com o modelo anterior de desenvolvimento e causou grande instabilidade política. Esta
instabilidade, associada à segunda crise do petróleo de 1979 e às duas intervenções da
Fundação Monetária Internacional, encontrada em 1977 e 1983, teve sérias
consequências no setor da cortiça, sobretudo na produção florestal.

 Desde o início dos anos 80, com a banalização da electrónica nos processos produtivos
e a introdução de trabalhadores mais qualificados, observamos um aumento na
introdução de tecnologias. Essas mudanças permitiram um salto de qualidade no setor.

 Nos anos 90, a estrutura da indústria de cortiça sofreu alterações durante este período,
com a indústria de processamento ganhando mais importância em relação à indústria de
preparação de cortiça em bruto. A adesão ao mercado europeu também permitiu à
indústria de processamento portuguesa obter acesso a novas fontes de cortiça em bruto
que hoje são importadas e transformadas em Portugal para criar produtos orientados
para a exportação.

Os anos 2000 representaram uma mudança na maneira como a indústria enfrenta o


potencial da cortiça e a prova disso são os muitos projetos de P&D que levam a formas
inovadoras de produção e produtos que estão sendo desenvolvidos usando cortiça. Este
é o grande desafio para o setor desde o inicio do novo milénio, em um setor que, como
veremos em seguida, é de vital importância para a economia portuguesa.
Resumo

Nas últimas décadas, o setor português da cortiça tornou-se uma das atividades agrícolas mais
importantes em Portugal. Atualmente é o maior país produtor e exportador de produtos de
cortiça. Este relatório procura oferecer uma análise comparativa do setor de cortiça português
no ano de 2004 e 2013, quanto à estrutura de mercado, mas também à dinâmica competitiva -
aos esforços de inovação e diferenciação realizados no setor. Constatamos que o existe levado
concentração e pouca integração das atividades no setor em Portugal. A Investigação e
Desenvolvimento (I&D) deve continuar a representar um investimento importante para o pais
manter a sua posição pioneira a nível mundial no setor. Para a construção de uma análise
crítica sustentada, as evidências foram recolhidas primordialmente da análise de informações
públicas disponíveis online, como o quadro do setor disponibilizado pelo Banco de Portugal,
INE (Instituto Nacional de Estatística) ou APCOR (Associação portuguesa de cortiça).

INTRODUÇÃO

Com o intuito de desenvolver as competências de análise crítica e proporcionar uma relação


de maior proximidade entre os alunos e conceitos de economia industrial, no âmbito da
unidade curricular de Organização Industrial (OI), foi-nos proposto a realização de um relatório
centrado em análises espaciais, setorias ou empresarias.

Após estabelecido que a análise a realizar seria setorial, a seleção do setor da cortiça
português para realizar o trabalho em causa tornou-se clara. Portugal, apesar da sua pequena
dimensão geográfica e económica, tornou-se nas últimas décadas o maior produtor e
exportador de produtos e derivados de cortiça (APCOR,2018). Embora fosse da nossa
preferência analisar a indústria em 2008 e 2018, comparando-a nestes dois anos, devido à
falta de dados para os mesmos, optámos por selecionar 2004 e 2012.

O presente trabalho, através de estatísticas diversas, procura assim oferecer uma análise
comparativa do setor de cortiça português no ano de 2004 e 2012, quanto à estrutura de
mercado, mas também à dinâmica competitiva - aos esforços de inovação e diferenciação
realizados no setor.

É neste sentido que além da Introdução, o trabalho apresentado está dividido em mais quatro
partes. No capítulo dois, apresentaremos uma breve abordagem histórica, identificando os
principais marcos em termos da evolução do setor da cortiça, como analisaremos alguns dados
sobre a importância desse setor tradicional para a economia portuguesa e sobre a evolução do
setor de transformação industrial a ele associado.

Em seguida, procuraremos realizar uma análise da estrutura de mercado, serão expostos


aspetos inerentes à forma como o mercado está organizado. Analisaremos o número e
dimensão das empresas no mercado, também denominada por Concentração Horizontal ou só
Concentração, como também consideramos interessante o estudo de barreiras à mobilidade.

No capítulo quatro, iremos estabelecer uma conexão entre a evolução do setor e a


importância na dinâmica competitiva dos esforços na inovação e diversificação.
Finalmente, as considerações finais ocuparão o quinto capítulo, em que serão apresentadas as
principais ilações a retirar relativamente ao relatório efetuado.

3.1 . Concentração Horizontal

As medidas de concentração horizontal (ou só concentração) tem como objetivo, medir de


forma sumária, a proximidade da estrutura de mercado relativamente a situação de
monopólio ou concorrência perfeita. Quanto maior a concentração, menor a concorrência
entre as empresas. Na literatura podemos encontrar vários índices de concentração. No
entanto, existem dois índices de concentração relativos que são frequentemente utilizados: o
índice discreto de concentração (Ck) e o índice de Herfindahl - Hirshman.

 Índice discreto de concentração

O índice discreto de concentração exige pouca informação e é de fácil cálculo e interpretação.


Mede a percentagem de quota de mercado cumulativa das K maiores empresas e é definido

k
por C k =∑ Si , onde Si é a quota de mercado da empresa i, onde as empresas são numeradas
i=1

por ordem decrescente da quota de mercado. O valor de C k varia entre k/n , onde n é o
número total de empresas (situação de concentração mínima) e 1 (situação de concentração
máxima). Para estarmos numa situação de concentração mínima todas as empresas têm de ter
a mesma quota de mercado.

 Índice de Herfindahl – Hirshman

n
2
O índice de Herfindahl – Hirshman) é determinado por H=∑ S i , onde Si também é a quota
i=1

de mercado da empresa i e n o número total de empresas. O valor de H varia entre 1/n


(situação de concentração mínima) e 1 (situação de concentração máxima). É no fundo, uma
medida relativa da dimensão das empresas relativamente à indústria/setor onde se
encontram, sendo interpretado como um indicador de concentração. A principal hipótese na
qual se baseia este índice é a de que o poder de mercado está diretamente relacionado com o
grau de concentração desse mercado, o que não acontece com o índice C k.

Na análise comparativa dos anos em causa optou-se por utilizar os índices anteriormente
apresentados para medir a concentração horizontal. Sendo que no índice discreto de
concentração apenas consideramos as 4 maiores empresas do setor (C 4). A lista de nomes das
40 principais empresas do setor, no ano de 2004 e 2012, e os respetivos volume de negócios e
número de empregados pode ser observada no anexo x.

Na tabela x e x apresentamos os valores obtidos relativamente às medidas de concentração


horizontal para o ano de 2004 e 2012,respetivamente.

Media das 4 primeiras empresas: 130 805


697€ Indicador/Mínimo
Relativo ao Sector da Cortiça Português 5,670 8,845
40
Empresas
Vendas Nº Empregados C4 H
Média 19 889 632€ 73,0    
DP 66 506 803€ 146,4    
Minimo 0,100 0,025
TOTAL(Soma) 795 585 265€ 2 918 0,567 0,221

Tabela x- Análise da concentração horizontal no ano de 2004, num total de 40 empresas.

Media das 4 primeiras empresas: 160 290


654€ Indicador/Mínimo

40 Relativo ao Sector da Cortiça Português 6,948 14,132


Empresas
Vendas Nº Empregados C4 H
Média 23 071 108€ 133,5    
DP 84 671 777€ 539,5
Minimo 0,100 0,025
TOTAL(Soma) 922 844 315€ 5 331 0,695 0,353

Tabela x- Análise da concentração horizontal no ano de 2012, num total de 40 empresas.

Após a realização dos cálculos necessários, pode-se observar que, em 2004 e 2012 em média,
cada uma das 40 empresas faturou respetivamente 19 889 632€ e 23 071 108€ . É de se
salientar que a média é menor que o desvio-padrão em ambos os anos. Isto significa que esta
média não é simétrica (valida), existe um elevado número de empresas afastadas do valor
médio. Por isto, vamos considerar para cada ano a média das 4 primeiras empresas e dividir
pela média global (Ano 2004: 130 805 697/19 889 632 ≈ 6,58 e Ano 2012: 160 290 654/23
071 108 =6,95), ou seja, a relação entre a média das 4 primeiros empresas e a média global é
aproximadamente 6,58 e 6,95 vezes mais. Esta comparação permite substituir o desvio padrão
do ponto de vista económico.

Não é raro encontrar mercados em que uma das empresas detêm uma quota superior a 50% e
um conjunto de pequenas empresas que repartem entre si o restante mercado, o setor da
cortiça em Portugal é um desses casos. Podemos observar (anexo x), como já espectado, que a
Corticeira Amorim, S.G.P.S., S.A apresenta a maior cota de mercado nos dois anos em análise e
inclusive que se registou um aumento. Também podemos constatar que o índice HH apresenta
valores elevados sugerindo potencialidade para a prática de poder de mercado ou de uma
posição dominante. As restantes empresas oscilam um pouco de ano para ano, mas mantêm
uma trajectória estável.

Nas tabelas apresentadas é possível observar que os índices C 4 e H diferem quanto ao grau de
concentração da indústria nos dois anos em causa. O motivo da diferença recai sobre as
limitações técnicas do C4, uma vez que este agrega apenas a participação das quatro maiores
firmas do setor. Já o HH sintetiza de forma mais correta a evolução da concentração nesse
mercado.

Segundo os resultados estimados via C 4, houve um aumento da concentração nesse setor. No


ano de 2004, as quatro maiores empresas tinham uma quota de mercado de 57% e em 2013 e
de 69%. De notar que em 2004 C4/min=5,67 e em 2012 C4/min=6,95, ou seja, C4 é 5,67 e 6,95
vezes mais que o valor mínimo respetivamnete em cada ano. Esta evolução pode dever-se ao
encerramento de algumas empresas de cortiça devido ao período de recessão vivido desde
2008 ou a redução do número de empresas via fusões e aquisições.

O índice de Hirchsman-Herfindahl (HH) sobrepõe-se ao índice C k por sua análise considerar o


total das empresas e não apenas as maiores, dando, assim, maior confiabilidade aos resultados
alcançados. Pela mensuração deste inferiu-se que a concentração do setor apresentou no ano
de 2004 e 2012 um valor de aproximadamente 0,22 e 0,35, respetivamente. E também que os
valores obtidos são 8,85 e 14,13 vezes mais que o valor mínimo.

Segundo a lei da concorrência da UE e o Horizontal Merger Guidelines (2010) são propostos


limites arbitrários para a classificação dos mercados em três tipos:

─ Mercados não concentrados: HH  0,15;


─ Mercados moderadamente concentrados: 0,15  HH  0,25;
─ Mercados altamente concentrados: HH  0,25.

Ou seja, podemos cosiderar que em 2004 mercado era moderadamente concentrado (0,15 
HH=0,22  0,25), mas em 2012 altamente concentrado (HH=0,35  0,25). O aumento no índice
Herfindahl indica uma diminuição da concorrência e um aumento do poder de mercado.

De salientar que em mercados de elevada concentração, existe reduzida concorrência o que


permite às empresas usufruir de maior poder de mercado. No entanto, o poder de mercado
pode não resultar necessariamente, de uma estrutura de mercado mais concentrada, mas sim,
da capacidade das empresas em influenciar o nível de concorrência existente, através da sua
superioridade em termos de eficiência, da sua superioridade de oferta relativamente à
concorrência e/ou ainda da criação de barreiras que limitam a concorrência, como poderemos
verificar mais afrente neste trabalho.

Em suma, a evidência de concentração no setor da cortiça em Portugal não e tão grande no


indicador H como em C4, mas em ambas se verifica uma concentração considerável tanto em
2004 como em 2012.
A produção de cortiça tem uma longa tradição e é uma das
atividades mais relevantes em Portugal. O sobreiro faz
parte das áreas do Mediterrâneo há séculos, embora não
haja consenso sobre a origem das espécies4.
 
Os primeiros usos documentados de sobreiros foram
coletar madeira e produzir carvão. As florestas de sobreiro
estão ligadas ao setor vitivinícola desde a invenção do
primeiro fechamento de cortiça, na Idade Média. Em 1700,
houve uma mudança no tipo de garrafa usada para
armazenar o Vinho do Porto, de garrafas grandes com
gargalos grandes para garrafas do tipo inglês. Esta
mudança foi importante não apenas para melhorar a
qualidade do vinho, porque agora poderia envelhecer na
garrafa, mas também para a disseminação do uso de
tampas de cortiça em Portugal.
 
A produção de fechos de cortiça começou a ser
implementada principalmente no Porto e em Lisboa, mas a
instabilidade política causada pelas invasões francesas, a
fuga do rei para o Brasil e, posteriormente, as lutas liberais
fizeram com que essa atividade diminuísse bastante.
Apenas na segunda metade do século XIX, com a chegada
de trabalhadores especializados da Catalunha (Espanha),
que era a região de produção de cortiça mais importante da
época, o setor português de fechamento de cortiça
começou a florescer. Em 1851, o número de fábricas
registradas era superior a doze. Nesse período,
começaram a ser introduzidos novos métodos de produção,
como o vapor, e mais tarde o uso de aviões experimentais
ajudou a indústria portuguesa a se desenvolver, contando
com cerca de 7000 trabalhadores em 1914.
Todas estas questões serão objeto de uma análise mais
aprofundada neste trabalho, a fim de fornecer uma visão
geral do setor de cortiça português.

Portugal, apesar da sua pequena dimensão geográfica e


económica, tornou-se nas últimas décadas o maior
produtor e exportador de produtos e derivados de cortiça.A
cortiça é o material que reveste o tronco e os galhos do
sobreiro. É um material leve e elástico, impermeável a
líquidos e gases, um isolador térmico e elétrico e um otimo
absorvente acústico e de vibrações. Também é inócuo,
resistente à podridão e pode ser comprimido com baixa
expansão lateral.
Com a descoberta da cortiça na Idade Média como um
“fechamento” de vinho, o uso deste material aumentou
gradualmente ao longo do tempo, mas com maior ênfase
durante a Revolução Industrial na Europa Central. A
expansão do setor da cortiça portuguesa teve início no
século XIX e, desde então, as diferentes inovações
introduzidas na produção e criação de novos produtos
ajudaram o desenvolvimento de todas as atividades
associadas.
De acordo com o inventário florestal nacional mais recente
(AIFF, 2010), a área florestal representa 38,8% da
superfície total do país e os sobreiros são a terceira
espécie principal, representando 22,5% do total. Nas duas
últimas décadas, um conjunto de novas técnicas de
produção permitiu aumentar a produtividade das árvores.
Essas melhorias permitiram a incorporação de menos
qualidade cortiça em novos produtos, criando condições
para a evolução positiva das exportações de cortiça. Esse
aumento nas exportações representou uma mudança
importante em relação às décadas anteriores. São o
resultado de mudanças estruturais em um país que
naturalmente era um grande produtor e exportador de
matéria-prima.
Nos últimos 20 anos, os esforços de Pesquisa e
Desenvolvimento (P&D) aumentaram no setor. Prova disso
é o aumento de projetos científicos com o objetivo de
encontrar novos usos para os materiais de cortiça. Esses
projetos estão sendo desenvolvidos não apenas para
melhorar a qualidade dos produtos vendidos para setores
tradicionais como o vinho, mas também para atingir novos
setores, como automóveis e aeronáutica.
Mas o setor português da cortiça precisa superar um
conjunto de novos desafios se quiser manter os bons
resultados de produção e exportação. Vários fatores, como
questões ambientais (incêndios florestais, poluição, etc.)
colocam em risco os ecossistemas tradicionais - montados
- de onde é coletada a maior parte da cortiça em bruto.
Além disso, a concorrência de materiais plásticos,
polímeros e outros novos materiais nos setores
tradicionais, como o fechamento de vinhos, estão
aumentando, causando uma diminuição dos preços gerais
dos produtos de cortiça nos mercados internacionais.

HISTORIA
A produção de cortiça tem uma longa tradição e é uma das
atividades mais relevantes em Portugal. O sobreiro faz
parte das áreas mediterrânicas há séculos, embora não
haja consenso sobre a origem das espécies.
.
Portugal pode orgulhar-se de ter sido pioneiro na legislação ambiental, tendo sido
promulgadas as primeiras leis agrárias que protegem as florestas de cortiça no início do século
XIII, em 1209. 
Os sobreiros são ecossistemas delicadamente
equilibrados, muito específicos que persistem apenas
na região mediterrânica (Argélia e Marrocos) e
particularmente no sul da Europa como em Portugal,
onde é a maior área de sobreiro (cerca de 730 mil
hectares, representando 33% de toda a cortiça do
mundo).
Consideradas património nacional, as florestas de
sobreiro estão legalmente protegidas há séculos
(Decreto-Lei 169/2001). As árvores podem não ser
cortadas e existem incentivos para a plantação e
exploração de florestas de sobreiro. Esta iniciativa,
pioneira em Portugal, foi claramente uma boa decisão,
uma vez que a colheita de cortiça tornou-se uma
indústria de grande importância económica e Portugal
tornou-se o principal exportador internacional de
cortiça.
Em Portugal, as florestas de sobreiro representam cerca
de 21% da área florestal total e são responsáveis pela
produção de mais de 50% da cortiça consumida em
todo o mundo. Estas florestas têm espécies designadas
pela Quercus (Associação Nacional Quercus para
Conservação da Natureza) - grandes áreas de azinheira
(Quercus rotundifolia), pequenas áreas de carvalho
pirenaico (Quercus pyrenaica) e, acima de tudo,
sobreiros (Quercus suber L). De toda a flora das
florestas de sobreiro, o sobreiro é a espécie mais
numerosa e pode ser encontrada em todo o país, desde
o Minho, no norte, até o Algarve, no sul, exceto nas
áreas mais severas de Trás-os-Montes e no colinas e
encostas mais frias do norte de Portugal. No entanto, os
sobreiros são mais comumente associados à paisagem
do Alentejo, onde realmente crescem em grande
escala.

Apesar dos muitos desafios enfrentados pelo setor, este apresenta boas perspectivas
de sucesso nos próximos anos, principalmente devido aos importantes avanços
tecnológicos que o setor alcançou recentemente.

ao ser apresentada uma análise comparativa da estrutura


de mercado
ratica emcom foco não apenas na evolução histórica
desse setor, mas uma analise comparativa entre os anos
de 2004 e 2013 também na importância estratégica que
ganhou em termos de exportação portuguesa. Também
analisamos os esforços inovadores realizados no setor e
alguns indicadores referentes ao desenvolvimento de
novos produtos de cortiça.
Mestre e Gil (2011) consideram que a indústria da cortiça pode ser dividida em cinco
ramos de atividade, conforme descrito abaixo. Esta divisão permite-nos
compreender melhor as etapas de produção dos produtos de cortiça.

1. A produção envolve a exploração da floresta de sobreiro, plantando


especificamente o sobreiro, tratando e preservando os sobreiros e descascando a
casca.
2. Preparação é a atividade em que a cortiça amadia é selecionada e preparada
através da fervura, marcação, corte, seleção e embalagem.

3. Transformação é a atividade, esculpindo ou simplesmente cortando uma prancha,


onde é produzida uma gama variada de produtos de cortiça natural (rolhas de
cortiça, discos, papel de cortiça, artesanato). Trata-se de uma atividade que envolve
vários processos diferentes, nomeadamente a separação das pranchas de cortiça por
espessura e qualidade, separação da cortiça, pré-secagem, retificação, lavagem e
secagem adicionais, seleção, marcação no corpo e / ou topos, tratamento,
comercialização e Despacho. As aparas resultantes dos processos de corte são
destinadas à granulação. Isso está conectado à atividade preparatória.

4. Granular é a atividade baseada no uso de aparas resultantes da produção de


rolhas de cortiça natural e resíduos de cortiça de qualidade inferior. O processo de
produção baseia-se na trituração e moagem de aparas de cortiça, que são então
classificadas de acordo com a massa volumétrica e as características
granulométricas.

 5. Aglomeração é a atividade que consiste em aglomerar granulados e outros tipos


de cortiça de qualidade inferior que, através da aplicação de calor e pressão em
autoclaves, envolvendo vapor de água superaquecida, dão origem a aglomerados.
O setor na economia

As regiões florestais de sobreiros sofreram inúmeras mudanças ao longo do século passado. No


início do século XX, o noroeste da África possuía a maior parte da área de florestas de sobreiro
do mundo, representando 48% da área total.

Porém, no final do século, com o forte crescimento da floresta na Península Ibérica, reduziu a
sua participação para apenas 34% da área total do mundo (Barreira et al., 2010). A distribuição
de sobreiros em todo o mundo é tradicionalmente confinada à região do Mediterrâneo, com
expressão em sete países apresentada na Tabela x.

País Área (Hectares - HA) Percentagem


Portugal 736,775 34%
Tabela x- Espanha 574,248 27% Área de
Marroco 383,120 18%
Montado de s
Sobro
(Fonte: Argélia 230,000 11% Boletim
Estatístico Tunísia 85,771 4% 2013,
APCOR) França 65,228 3%
Itália 64,800 3%
A floresta mundial total
Total 2.139.942 100%
de sobreiros é de cerca de
2,1 milhões de hectares.
Portugal apresenta a maior taxa de ocupação/área(34%), seguida pela Espanha (27%) e
Marrocos (18%).

Os sobreiros são muito importantes em Portugal e são a terceira espécie de árvore mais comum
(o número um é o pinheiro e o número dois é o eucalipto), representando cerca de 22,5% das
árvores, de acordo com o último inventário nacional relativo ao ano de 2010. A maior parte da
floresta de sobreiro (84%) está localizada no sul do país, na região do Alentejo (Barreira et al.,
2010).

Observando os níveis de produção de cortiça nesses países e em outros (Tabela x), observamos
que cada país mantém as posições anteriores para que países com mais área florestal produzam
mais cortiça, conforme o esperado Preparação.
País Produção anual Percentagem
Tabela x- (toneladas) Produção de
cortiça por país Portugal 100,000 48% (Ton). e
Espanha 61,504 31%
respetivas importâncias
Marrocos 11,686 6%
relativas (%) (Fonte: Boletim
Argélia 9,915 5%
Estatístico 2013, Tunísia 6,962 4% APCOR)
Itália 6,161 3%
Podemos França 5,200 3%
também
observar que Total 201,428 100%Portugal é
responsável por 48% do
total de produção de
cortiça, com apenas 34% da floresta mundial de sobreiro, o que indica melhores níveis de
produtividade do que nos outros países. No lado oposto, temos o caso de Marrocos, que
representa 18% da área total de cortiça, mas produz apenas 5,8% da produção total de cortiça.

O setor de cortiça industrial em Portugal desenvolveu-se principalmente durante o século XX,


com base em empresas de pequena ou muito pequena dimensão. Atualmente, embora existam
bastantes empresas, o tecido empresarial seja muito heterogéneo, é composto maioritariamente
por pequenas e médias empresas. No gráfico x podemos observar a evolução do número de
empresas da industria da cortiça de 2004 a 2012.

Gráfico x - Evolução do número de empresas (Fonte: APCOR - Boletim Estatístico 2014)

Podemos constatar que o número de empresas da indústria da cortiça aumentou de 2011 para
2012, na ordem dos nove por cento, contrariando a tendência registada nos últimos anos.

A tabela x e o gráfico x mostram que a produção total do setor pode ser dividida em três
componentes principais: a indústria de preparação de cortiça, a produção de rolhas e a
produção de outros produtos.
Tabela x – Número de empresas por atividade Fonte: INE | Sistema de Contas Integradas das Empresas.

Grafico x – Número de empresas por atividade Fonte: INE | Sistema de Contas Integradas das Empresas.

De acordo com o Sistema Integrado de Contas das Empresas, do Instituto Nacional de


Estatística, o número de empresas existentes na indústria da cortiça diminuiu consideravelmente
entre 2004 e 2012. O número caiu de 1 244 para 943. Em 2012, existem menos 24,2% empresas
no setor de cortiça do que em 2004. O que pode ter sido consequência da crise económica
global presente nesse período e também à introdução, desde os anos 90, de outros materiais
competitivos que podem substituir o uso de cortiça, como rolhas de garrafas em diversos
materiais. (APCOR, 2015). Ao longo deste período, a indústria da cortiça tem representado
cerca de 1,4% das empresas da indústria transformadora portuguesa, já que o número destas tem
diminuído em proporção semelhante à registada na cortiça.

A indústria da cortiça está muito concentrada em algumas regiões, não só no número de


empresas, mas também nos níveis de emprego. A principal localização da indústria em 2012 é a
região Entre Douro e Vouga. Mais especificamente no distrito de Aveiro, concelho de Santa
Maria da Feira. Nesta região estão presentes 94% das empresas da indústria rolheira, 66% das
de preparação de cortiça, 53% das que se dedicam ao fabrico de outros produtos de cortiça e o
comércio por grosso de cortiça é representado por 28% (APCOR,2015). Certamente esses
números derivam dos negócios da família Amorim, que em 1908 a sua empresa foi estabelecida
em Santa Maria de Lamas (localidade de Santa Maria da Feira). Apesar dos muitos esforços do
governo para mover a indústria desta região tradicional do norte para o sul, próximo ao centro
de produção de matérias-primas de maneira a melhorar a produtividade, a maioria ainda é
claramente implementada no Norte.

Gráfico x – Distribuição geográfica das empresas (Fonte: APCOR - Boletim Estatístico 2014)

Relativamente ao mercado internacional, não conseguindo obter dados referentes as


exportações mundiais em 2004, constatamos que em 2012 Portugal assume uma quota de
64,7 por cento, seguido por Espanha com 16 por cento. Ou seja, Portugal é o líder mundial do
sector da cortiça no que toca às exportações. Quanto ao nível das importações é o quarto pais
com mais quota (10%). Esta percentagem destina-se à sua transformação e posterior
exportação sob a forma de produtos de consumo final. Como ilustrado nas tabelas x e x
referentes ao comportamento das exportações e importações a nível mundial de cortiça em
2012.

País Milhõe Quota do País Milhõe Quota do País


Exportador s€ País (%) Importador s€ (%)
Portugal * 845.370 64,7% França 233.877 17,3%
Espanha 208.647 16% EUA 193.902 14,3%
França 54.832 4,2% Itália 135.861 10%
Itália 45.079 3,4% Portugal * 134.633 10%
Alemanha 34.181 2,6% Alemanha 105.972 7,8%
EUA 24.200 1,9% Espanha 90.807 6,7%
Marrocos 12.259 0,9% Rússia 49.791 3,7%
Áustria 8.677 0,7% Argentina 32.618 2,4%
Chile 7.198 0,6% Chile 27.212 2%
Bélgica 6.302 0,5% Canada 25.830 1,9%
Outros 60.282 4,5% Outros 321.534 23,9%
Total 1.307.027 100,0% Total 1.352.037 100,0%

Tabela x- Exportações mundiais de cortiça, 2012


Tabela x- Importações Mundiais de cortiça, 2012
(Fonte: Boletim Estatístico 2013, APCOR) (Fonte: Boletim Estatístico 2013, APCOR)
- Milhões de € - Milhares de Toneladas

Gráfico x -Evolução das Exportações Portuguesas de Cortiça 2004-2012 (Fonte: Boletim


Estatístico 2013, APCOR)

Como podemos observar no gráfico x, Portugal enfrentou uma diminuição no valor das
exportações de cortiça em 2012 face a 2004 e destaca-se uma queda acentuada em 2009 como
reflexo da crise financeira e económica global. A partir de 2010 o setor demonstra alguma
recuperação. APCOR (2015) estudou o impacto da crise económica e financeira no setor da
cortiça portuguesa e identificou a diminuição do poder de compra nos nossos principais países
de destino (França, Estados Unidos e Espanha) como a principal causa da diminuição registada.
Essa queda repercutiu nos níveis de produção e emprego do setor.

No gráfico x, apresentamos as principais exportações de cortiça por tipo de produto e sua


evolução para o ano de 2012.

Cubos,placas,folhas,tiras,etc. 1%

Outros produtos de cortiça 7%

Pavimentos,Isolamnetos,Revestimentos,etc 24%

Outros tipos de rolha 26%

Rolhas de Cortiça Natural 42%

Gráfico x- Estrutura das vendas (exportações) de cortiça por tipo de produtos em valor – 2012

Como podemos observar, os produtos de cortiça mais importantes exportados são as rolhas de
cortiça natural, que representam mais de 40 %. Uma vez que o principal sector de destino dos
produtos de cortiça é a indústria vinícola que absorve 68,4 por cento de tudo o que é
produzido. (APCOR,2013).

A cortiça em bruto tem uma diminuta importância no total das exportações, devido a
mudanças importantes que ocorreram ao longo do século passado no setor, transferindo o
país de exportador de cortiça em bruto para exportador de produtos transformados. Também
outras aplicações de cortiça começam a ganhar importância em termos de exportação, ao
mesmo tempo em que novos usos e produtos começam a surgir.

As exportações de cortiça são importantes para a economia portuguesa e representam uma


das exportações agrícolas mais importantes e competitivas. O Gabinete de Estratégia e Estudos
(GEE), do Ministério da Economia calcula o Índice de Vantagens Comparativas Reveladas (IVCR
ou IRCA) para os setores exportadores portugueses (Tabela x).

Descrição IVCR - Ano 2012


Cortiça 155.29
Cerâmica 6.00
Calçado 6.44

Tabela x: Produtos com maior IRCA, 2012 (Fonte:


APCOR, 2011)

O IVCR, também conhecido como Índice de Balassa, é uma medida de comparação para dados
de exportação de um determinado país. A ideia consiste em “revelar” os setores sólidos de um
país através da análise das exportações reais. É um marcador das estruturas de exportação de
um país ao longo do tempo e pesa as exportações de um determinado setor nas exportações
mundiais desse setor. O que permite medir o peso das exportações de um país em particular
nas exportações mundiais de um setor específico.

As análises do GEE (Tabela X) permitem concluir que os produtos de cortiça e cortiça são as
exportações portuguesas com maior IVCR, com um valor de 155,.29 em 2012. Como podemos
observar, os produtos de cortiça são de longe a classe de produtos com maior índice na
economia portuguesa, ocupando o segundo lugar as exportações de produtos cerâmicos que
apresentaram um IVCR de 6,00 em 2012. Esta é uma prova da vitalidade do setor da cortiça
portuguesa nos mercados internacionais. O setor manteve sua importância na última década,
uma consequência dos importantes investimentos feitos em inovação, como veremos no
capítulo quatro.
Merger Guidelines, 2010. 2010 Horizontal Merger Guidelines. US Department of Justice and
Trade Federal Comission.

https://www.researchgate.net/profile/Enika_Gregoric/publication/288962948_Crop_producti
on_and_drought_in_Serbia_in_light_of_climate_change/links/5a37bd9ca6fdccdd41fdb584/Cr
op-production-and-drought-in-Serbia-in-light-of-climate-change.pdf#page=319

Barreiras

https://docplayer.com.br/5440620-Concentracao-industrial-e-competitividade-uma-analise-
do-setor-de-cervejas-do-brasil-1997-2012.html

O conceito de barreiras à mobilidade, designação genérica ao conjunto de barreiras à entrada


e à saída, encontra-se frequentemente associado ao estudo dos fatores determinantes da
estrutura de mercado.

Entre as diversas definições presentes na literatura, segundo Bain (1968) as barreiras à entrada
refletem a capacidade das firmas estabelecidas poderem elevar os preços no longo prazo
acima dos seus custos mínimos de produção e distribuição, sem atrair potenciais entrantes.
Stigler (1983) defende que as barreiras à entrada refletem o custo de produção para dados
níveis de outpout que um potencial entrante tem que suportar, mas que não existem para a
empresa já estabelecida no mercado, o que lhes dá uma vantagem competitiva. Estes custos
são normalmente designados por “sunkcosts” ou seja custos que não podem ser revertidos,
como por exemplo, os estudos de mercado, e custos com publicidade e equipamentos.

Podemos dizer que barreiras à entrada são obstáculos que inibem as empresas que se
encontram fora do mercado de entrar e concorrerem com as empresas já instaladas
(incumbentes) num determinado mercado. Estas dependem das características estruturais do
mercado e do comportamento estratégico das empresas já instaladas. São portanto as
condições que não são controladas pelas empresas incumbentes.
Segundo Porter (1986), existem seis fontes principais de barreiras: economia de escala;
necessidade absoluta de capital; diferenciação do produto; custos de mudança; acesso aos
canais de distribuição e desvantagens de custo em detrimento da escala.

No setor da cortiça em Portugal as barreiras à entrada/expansão na venda de cortiça natural


são essencialmente de três índoles: barreiras financeiras; barreiras geográficas e geológicas;
enquadramento regulatorio( Autoridade da Concorrência, 2012).

As barreiras de cariz financeiro à entrada de novos operadores são da maior relevância. Como
exemplo, o ciclo de exploração do sobreiro é muito longo, 43 anos até à primeira extração e
ciclos de extração de 9 em 9 anos, o que obriga a uma elevada imobilização de capital por um
longo período.

…..

…..

Diz-se que se verificam barreiras à saída quando uma empresa instalada tem de incorrer,
direta ou indiretamente, num custo suplementar para sair do mercado. Como é sobejamente
conhecido na literatura económica, as barreiras à saída de uma actividade económica acabam
por desencorajar a entrada nessa mesma actividade funcionando, embora de forma indireta,
como barreiras à entrada.

As principais fontes de barreiras à saída são: ativos especializados (com baixo valor de
liquidação ou elevados custos de conversão ou transferência); custos fixos de saída (incluem,
por exemplo, indemnizações); relações estratégicas (com outros negócios da empresa, em
termos de imagem, marketing, acesso ao mercado de capitais); barreiras emocionais
(identificação com o negócio, lealdade, medo, orgulho); restrições de ordem social ou
governamental.
O nosso principal objetivo neste estudo foi desenvolver uma análise comparativa do setor de
cortiça português no ano de 2004 e 2012, quanto à estrutura de mercado, mas também ao
papel na dinâmica competitiva dos esforços de inovação e diferenciação realizados no setor.
Tentamos fornecer uma visão geral do setor de cortiça, mas não podemos esquecer que,
devido à extensão do setor e aos vários tipos de aplicações da matéria-prima, encontramos
várias realidades diferentes e não conseguimos reproduzir todas elas.

 O setor da cortiça representa um dos setores exportadores portugueses mais competitivos e


permite a sobrevivência de milhares de famílias que trabalham nas diferentes atividades do
setor. Este não é apenas vital para a economia portuguesa, mas também é uma parte
importante da cultura portuguesa, principalmente no sul do país.

Portugal tornou-se o maior produtor mundial de cortiça e, mais importante, conseguiu passar
de uma posição de produtor e exportador de matérias-primas para uma posição de um dos
principais importadores de cortiça em bruto com o objetivo de processar este material e
transformá-lo em produtos de maior valor agregado que podem ser exportados.

A competição com outros materiais e também o período de crise económica vivenciado em


meados do período em analise causaram um declínio nas exportações e uma diminuição no
número de funcionários e no número de empresas que atuam no setor. Foi possível constatar
uma concentração horizontal considerável tanto em 2004 como em 2012, apesar de a
evidência de concentração no setor da cortiça em Portugal não ser tão grande no indicador H
como em C4.

O conceito de barreiras à mobilidade, designação genérica ao conjunto de barreiras à entrada


e à saída, encontra-se frequentemente associado ao estudo dos fatores determinantes da
estrutura de mercado. No setor da cortiça em Portugal as barreiras à entrada/expansão na
venda de cortiça natural são essencialmente de três índoles: barreiras financeiras; barreiras
geográficas e geológicas; enquadramento regulatorio.

Verificamos que o setor sofreu um efeito negativo com a introdução de novos materiais
competitivos no mercado rolheiro, embora este ainda seja a principal utilidade da cortiça e
representa a maior fatia da produção do setor. Apesar desses efeitos, as empresas desse setor
conseguiram introduzir produtos e sistemas de produção de maior qualidade, ao mesmo
tempo em que a I&D ganhava mais importância na descoberta de novos campos em termos de
usos da cortiça. Novos produtos transversais tem sido desenvolvidos na tentativa de introduzir
mais dinâmica no setor. Segundo o Compete 2020, vários são os projetos inovadores
apresentados neste setor. O desenvolvimento de materiais de alta tecnologia para a indústria
aeroespacial, polímeros compostos para o setor dos transportes, equipamento desportivo de
alta competição, obras de arquitetura e design de referência são alguns dos exemplos
apresentados.

Mesmo acreditando na importância que a inovação pode ter para reinventar o setor, muitos
desafios precisam ser superados. A concorrência de materiais alternativos nas rolhas de
cortiça, questões ambientais, melhoria da qualidade e certificação e o aumento da
concorrência entre empresas são alguns dos desafios importantes no setor de cortiça que
devem ser enfrentados no futuro.

Finalmente, uma questão para futuras pesquisas que julgamos relevantes é o estudo do
impacto das mudanças ambientais no montado e suas consequências económicas para o setor
de cortiça e uma análise mais profunda dos efeitos da falta de concorrência no setor de
cortiça.

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