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CIENTÍFICA UNIVERSITÁRIA.
Introdução
No Brasil, nos nossos contatos com a Prof. Esther Bertoletti, criadora e gestora do Projeto
Resgate. A proposta do Projeto Resgate de recuperar no Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa cerca
de 300 mil documentos brasileiros referentes ao período colonial, foi iniciada em 1995, apesar de já
haver um levantamento sistemático desde o final dos anos 80. Essa vasta documentação, organizada,
catalogada e amplamente disseminada, abre inúmeras possibilidades de pesquisas sobre o Brasil
Colônia.
Projeto Resgate: (http://www.comciencia.br/reportagens/501anos/br02.htm)
O projeto vem sendo desenvolvido com a colaboração de uma centena de pesquisadores, além de
diversas instituições públicas e privadas brasileiras e portuguesas. No Brasil, entre alguns dos
envolvidos, o projeto mobilizou três Ministérios: o da Cultura, que investiu cerca de US$ 1 milhão
através de três modalidades, orçamentária, lei de incentivo fiscal e fundo de cultura; o da Educação,
que contribuiu por intermédio das universidades; e o da Ciência e Tecnologia, através do CNPq. Além
de diversas secretarias de estado, pelo menos 4 fundações de amparo à pesquisa também participaram:
as do Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Calcula-se que o montante de
investimento direto e indireto já atingiu cerca de US$ 2,5 milhões, provenientes tanto do setor público
como privado, do Brasil e de Portugal.
Segundo a coordenadora, o projeto está praticamente concluído "pois o que falta significa 0,5 %
de tudo o que foi feito". A previsão é de que em dezembro de 2001 seja finalizado o último trabalho -
cerca de 350 caixas de documentos referentes a Capitania do Rio de Janeiro. "Mais de 2000 caixas,
mais de 300.000 documentos, quase 3 milhões de páginas manuscritas foram lidas, relidas,
microfilmadas, transferidas para o Brasil e hoje estão quase totalmente disponíveis", comemora
Esther.
O primeiro guia a ser editado é o dos Arquivos Holandeses, sob a responsabilidade do editor
pernambucano Leonardo Dantas Silva, da Editora Massagana, da Fundação Joaquim Nabuco. Até
julho sairá do prelo, em Madrid, o Guia dos Arquivos Espanhóis, editado sob a responsabilidade da
Fundacion Histórica Tavera, uma instituição privada espanhola especializada em levantamento e
publicação de instrumentos de referência de documentação histórica. O Guia dos Arquivos Franceses
está concluído, e deve ser publicado no segundo semestre, assim como o Guia dos Arquivos Italianos.
Este último, está dividido em dois: um guia que dará informações de todos os arquivos situados
fora de Roma, e outro com as informações dos arquivos existentes na cidade de Roma. O Arquivo
Secreto do Vaticano também terá documentos microfilmados, a partir de uma pesquisa realizada pelos
portugueses, financiada pela Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos
Portugueses (CNCDP), que elaborou verbetes indicativos dos documentos relativos ao Brasil.
Todo este trabalho de elaboração de guias dá as bases para uma segunda etapa do Projeto
Resgate, na qual os documentos indicados serão microfilmados. O trabalho de recuperação dos
documentos do período colonial deve avançar até 2008 - data emblemática em que o Brasil deixa de
ser colônia de Portugal para ser a própria sede do Reino de Portugal. "Não se recupera trezentos anos
de história em cinco-seis anos. É um trabalho demorado e deve ser feito de forma completa, definitiva.
Uma vez organizado e microfilmado, ficará para sempre preservado.", diz Esther Caldas Bertoletti.
Projeto Reencontro
Segundo ela, o projeto já microfilmou quase 400 rolos e prossegue recuperando os documentos
que foram aqui produzidos ou que vieram para o Brasil - por compras realizadas por pesquisadores ou
autoridades brasileiras nos leilões na Europa. Também foram microfilmados documentos existentes
nas coleções particulares que hoje encontram-se nos arquivos, bibliotecas e museus brasileiros. Em
contrapartida, assim como fez o Projeto Resgate, o Projeto Reencontro também está ajudando as
instituições brasileiras a organizarem e microfilmarem esses documentos.
As Ciências Sociais não possuem telescópio nem microscóspio para analisarem a sua realidade.
Superam tal diferenciação em relação às ciências, ditas exatas, para atuarem no contexto científico
através da criação e lapidação de conceitos. Conceitos potentes e claros iluminam a realidade
pesquisada e trazem avanços científicos; conceitos obscuros e inconsistentes são inúteis para analisar a
realidade estudada e pesquisada. Popularmente se diz que a “teoria na prática é outra” significando
que os conceitos utilizados não conseguem explicar a realidade.
Agulhon define a sociabilidade como a maneira como os homens vivem suas relações
interpessoais e se inserem nos seus diversos entornos, não caracterizando somente psicologias
individuais. Varia com o meio social, muitas vezes com o país e certamente com as épocas. Grupos
inteiros podem ser coletivamente sociais, ou mais sociais que outros: os parisienses mais que o pessoal
do interior, os operários mais que os camponeses, os homens do século XVIII mais que os do século
XVII etc. Enfim, estudar sociologicamente a maçonaria como um fato social, ou seja, uma forma de
coerção sobre os indivíduos que é tida como uma coisa exterior a eles, tendo uma existência
independente e estabelecida em toda a sociedade, que é considerada então como caracterizada pelo
conjunto de fatos sociais estabelecidos. Paul Leuilliot tinha proposto isto desde 1953 nos Annales.
Agulhon reconhece também que o sociólogo alemão Georg Simmel já tinha escrito Sociologia da
Sociabilidade (Soziologie der Geselligkeit) em 1911, mas que só veio a tomar conhecimento desse
escrito na década de 80. Assim como Norberto Elias escrevera o seu lapidar Über den Prozess der
Zivilisation em 1939 (traduzido no Brasil em 1993 como O Processo Civilizador) sobre o processo
civilizatório que tem certo parentesco com o conceito de sociabilidade e que, também só veio a tomar
conhecimento em meados da década de 70.
A maçonaria seria um dos grupos sociais, assim como os inúmeros salões de café, clubes,
academias, sociedades literárias, que teriam introduzido, na Europa do século XVIII, um novo
comportamento em pleno Estado Absolutista. Agulhon vai estudar esse novo comportamento na
Provence que incluiria desde as confrarias religiosas até, e principalmente, as lojas maçônicas.
Dois outros intelectuais alemães deram a sua contribuição nessa discussão sobre sociabilidade e
espaço público. O historiador Reinhardt Kosseleck e o filósofo Jürgen Habermas. Reinhart Koselleck
escreveu em 1959 um clássico: Crítica e Crise. Este clássico só viria a ser traduzido no Brasil 40 anos
depois em 1999. Pelo segredo, as lojas maçônicas representavam uma nova forma de poder burguês no
qual a própria burguesia começou a corroer o Estado Absolutista por dentro. Jürgen Habermas no seu
clássico Mudança Estrutural da Esfera Pública contribuiu de maneira insofismável para aclarar o
conceito de espaço público. Kosseleck e Habermas usam a construção do século XVIII de um novo
espaço público como um verdadeiro prisma para lançar luz sobre a nova sociabilidade. Os
maçonólogos universitários utilizam essa plataforma conceitual para realçar o papel que a maçonaria
desempenhou na construção dessa mesma sociabilidade.
Os estudos universitários brasileiros sobre maçonaria, como tema específico de análise, eram
escassos até recentemente. As teses universitárias, se e quando focavam a presença da maçonaria na
história do Brasil, eram, na maioria das vezes, genéricas, fragmentadas, dispersas e unilaterais. Fora
dos meios acadêmicos e universitárias, a historiografia maçônica, quando tratada por maçons ou anti-
maçons, na maior parte das vezes, acarreta discussões pró ou contra, eivada de preconceitos, que não
concorrem para melhorar o nível do debate. Assim, o avanço da historiografia maçônica, no Brasil, está
sendo elaborado por historiadores não-maçônicos.
O tema maçonaria apresenta, no Brasil, alguns percalços ou entraves que devem ser evitados ou
superados: i) falta de tradição no meio acadêmico e universitário, fato que concorre para tornar o tema
inédito; ii) fascínio do tema por estar envolvido em mitos, “visões conspirativas da história”,
concepções e preconceitos pré-íluministas que dificultam uma abordagem mais serena e profissional
dos fatos e iii) falta de acesso dos pesquisadores aos famosos e, muitas vezes inexistentes, arquivos
maçônicos.
A- Produção Brasileira:
ANDRADE, Alex Moreira, Maçonaria no Brasil (1863-1901): Poder, Cultura e Idéias, Tese de
Mestrado em História, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, 2004.[o
resumo da obra pelo autor afirma que esta dissertação analisa a maçonaria brasileira na segunda
metade do século XIX. A pesquisa envolveu seu pensamento político (especialmente quanto a direitos
civis relacionados à religião e à escravidão), sua cultura política (concernentes à memória, à história e
tradições) e os interesses materiais que tinham ao aderir à maçonaria. A pesquisa também apresenta o
voto dos maçons no Congresso e dados biográficos dos principais líderes da instituição. A pesquisa
também apresenta a maçonaria como uma instituição com estratégias políticas e um pensamento
político.]
AZEVEDO, Célia M. M. de, Maçonaria: História e Historiografia, Revista da USP. n.32, p. 178-
189, São Paulo, 1996-97. [um dos primeiros trabalhos acadêmicos a enfocar a influência da maçonaria
na história do Brasil. “O ponto de partida deste artigo, portanto, é o problema da perda de visibilidade
da maçonaria na história do Brasil. Para começar a elucidar este problema, percorremos, em primeiro
lugar, alguns dados da maçonaria e sua história no Brasil; em segundo lugar, vamos examinar os
modos de abordagem da maçonaria por parte de três historiadores cujos trabalhos imprimiram
tendência duradouras na historiografia do Brasil monárquico. São eles: Francisco Adolfo de
Varnhagen, Manuel de Oliveira Lima e Caio Prado Jr.; e em terceiro lugar, veremos os novos rumos da
historiografia ocidental sobre a maçonaria, assinalados em particular pelas contribuições recentes de
Margaret C. Jacob, historiadora dos Estados Unidos” (Azevedo:180)]
Em segundo lugar, o grande feito desse livro é trazer à cena a Maçonaria atuante nas últimas
décadas do século XIX e início do século XX. Para isso, o autor contrariou expressamente a tradição
historiográfica que, através de algumas referências passageiras, parece conferir importância à atuação
dos maçons somente durante o processo de luta pela emancipação política de Portugal no início do
século XIX. Com base em extensa e cuidadosa pesquisa, Alexandre comprova que a Maçonaria teve
uma atuação expressiva no período de 1870 a 1910, engajando-se nos mais diversos debates
intelectuais e destacando-se como um grupo de pressão política em defesa da abolição da escravidão,
da separação entre Igreja e Estado e da universalização do ensino primário com ênfase na inclusão da
mulher e das classes populares. Ao mesmo tempo, o autor deixa claro que a Maçonaria jamais
constituiu uma ordem homogênea e monolítica. Embora desejosa de fundar uma fraternidade
universal a partir do exemplo dado pela conjugação de esforços fraternos das suas lojas, a Maçonaria
vivenciou graves conflitos internos decorrentes de diferenças ideológicas, a exemplo da ruptura entre
maçons republicanos e monarquistas, liderados respectivamente por Joaquim Saldanha Marinho e
pelo visconde do Rio Branco.
Em terceiro lugar, este livro é prova suficiente de que é possível pesquisar a Maçonaria. Uma das
perguntas mais freqüentes ouvida por todo aquele que ouse pesquisar a Maçonaria, sem ser maçom, é
quanto à possibilidade de se encontrar fontes primárias maçônicas. Apesar do fechamento dos
arquivos da Maçonaria no Brasil aos chamados pesquisadores “profanos” – o que, diga-se de
passagem, constitui um triste contraste com a Maçonaria em países como os Estados Unidos, França e
Holanda -, Alexandre demonstra que é possível localizar inúmeros documentos maçônicos em diversas
bibliotecas públicas do país. Através da sua pesquisa, podemos visualizar a expansão das lojas
maçônicas a partir dos anos de 1870 e a sua efervescência social e cultural, exprimindo-se na fundação
de hospitais, sociedades beneficentes e escolas em muitos estados brasileiros.
Por estes motivos e outros mais que o leitor certamente encontrará ao longo destas páginas, é de
se esperar que este livro instigue não somente novas pesquisas sobre o assunto, como também uma
reflexão sobre o silêncio instaurado pela historiografia acadêmica em torno da história da Maçonaria
no período de constituição da nação brasileira” (Barata, 1999:15)]
COLUSSI, Eliane Lucia, A Maçonaria Gaúcha no século XIX, EDIUPF, Passo Fundo, 1998.
[Colussi inicia a montagem do mosaico da maçonaria brasileira a partir das peças estaduais analisando
a maçonaria gaúcha, especialmente na segunda metade do século XIX, num enfoque de história
política e cultural. Afirma que “assim, percorremos caminhos em torno dos principais acontecimentos,
processos, instituições e personagens da história do Rio Grande do Sul daquele período, buscando
responder aos questionamentos acerca da importância ou da influência da instituição maçônica
naquele contexto. A nova história política abriu múltiplas possibilidades de relações e interpretações
em torno do objeto de análise.
A abordagem permitiu que viessem à tona temas vinculados à forte presença e oposição da
Igreja Católica no cenário da segunda metade do século XIX na sua relação com os defensores do
pensamento liberal e cientificista, especialmente os integrantes da maçonaria. Além desse, enfatizamos
o grupo maçônico nos diversos espaços sociais onde ele se encontrava no espaço da pólítica
institucional e não institucional, nos espaços culturais e educacionais e nos espaços de filantropia.
Tão importante quanto as ações maçônicas nesses espaços é a constatação de que a loja
maçônica se constituía num dos únicos espaços de sociabilidade, exclusiva das elites e dos homens, no
período em questão. Em outras palavras, numa sociedade de pouquíssimas opções de lazer para os
homens (eram eles, via de regra, que podiam usufruir dos espaços públicos), os templos maçônicos
eram locais onde eles se reuniam para os banquetes, para as festas, para o debate político, para a
polêmica filosófica, etc.”(Colussi:10)]
Ao ensaiar os primeiros passos rumo a possíveis respostas a essas questões, somos levados a
uma primeira constatação: a existência de um sério descompasso entre a historiografia “profana” e os
estudos históricos produzidos por maçons. Hoje em dia seria exagero referir-se à Maçonaria como
uma sociedade secreta. Permanece ela, porém, sendo uma organização extremamente discreta. Os
arquivos de suas lojas, quando existem, geralmente não estão ao alcance de pesquisadores profanos.
Daí o fato da maior parte dos historiadores dispor de poucas informações sobre o assunto e se limitar e
repetir velhos lugares comuns sem se aprofundar na temática. Por outro lado, os maçons que se
dedicam a estudos históricos sobre a Ordem geralmente não são historiadores profissionais, o que faz
com que a historiografia maçônica seja, de uma maneira geral, de baixa qualidade, não ultrapassando o
nível de história factual e muitas vezes apresentando informações errôneas, baseadas em
documentação falsa e espúria aceita sem nenhuma crítica” (Gonçalves 1990:195).
GONÇALVES, Ricardo Mário (org), Quintino Bocaiuva Nº 10: a Trajetória de uma Loja
Maçônica Paulistana (1923-1998), Arquivo do Estado – Imprensa Oficial, São Paulo, 1998.[aqui,
Gonçalves traça a trajetória da centenária Loja Quintino Bocaiúva no. 10. Confessa suas dificuldades
iniciais, pois, “a primeira diz respeito a minha própria formação, voltada para a História Antiga, para a
História Oriental e par a História das Religiões, não tendo eu nenhuma experiência de trabalho em
História recente de nosso país. A segunda está no fato de ser eu um novato na Loja, onde ingressei por
filiação em março de 1995. Parecia-me então ser uma grande presunção, para não dizer arrogância,
encarregar-me de fazer a História da Loja, quando existem na mesma tantos IIr. veteranos dedicados
que viveram essa História de forma intensa como uma porção extremamente significativa de suas
vidas. Entretanto, desde 1989, quando apresentei uma comunicação sobre A Influência da Maçonaria
nas Independências Latino-Americanas no Simpósio Internacional A Revolução Francesa e seu
Impacto na América Latina, realizado pelo Departamento de História da Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas da USP, vinha eu ensaiando meus primeiros passos como historiador
maçônico. O amplo interesse despertado por minha comunicação entre os alunos me havia animado,
inclusive, a criar um Programa de Introdução à História da Franco-Maçonaria, que ministrei como
matéiria do Curso Optativo de História das Instituições até minha aposentadoria de 1995. Sentia,
portanto, ser para mim um verdadeiro dever de ordem moral a aceitação da incumbência” (Gonçalves
1998: 13).
MOREL, Marco, As Transformações dos Espaços Públicos – Imprensa, Atores Políticos e
Sociabilidades na Cidade Imperial (1820-1840), Ed. Hucitec, São Paulo, 2005. (Tradução da
Tese de Doutorado, La Formation de l’Espace Public Moderne à Rio de Janeiro (1820-
1840), Opinion, Acteurs et Sociabilités, Tese de Doutorado. Université de Paris I, 1995).[mais um
trabalho que utiliza a categoria de sociabilidade maçônica. Francisco Falcon, no Prefácio do livro de
Morel, constata que “o autor tem como cenário a cidade do Rio de Janeiro, entre 1820 e 1840,
englobando assim o clímax do processo de independência e as peripécias do liberalismo tupiniquim.
Seus eixos teóricos são dos mais conhecidos e respeitáveis: Habermas e Kosseleck, Rosanvallon,
Chartier e Roche, Agulhon e Farge; como elemento integrador da perspectiva da história política e do
papel do sujeito histórico Morel destaca a contribuição de François-Xavier Guerra...
...Talvez o que mais se destaca neste livro venha a ser o tipo de abordagem utilizado e a proposta
de enfocar a dinâmica dos espaços públicos do ponto de vista da questão das sociabilidades, uma
temática ainda relativamente nova e pouco freqüentada na nossa historiografia. A partir dessas
coordenadas mais gerais, desenvolvem-se as três partes da obra: I- As palavras; II – Os atores políticos
– intelectuais e opinião pública; III – As diversas formas de sociabilidade, com ênfase nas maçonarias.
Na primeira parte, Morel analisa com riqueza de pormenores o papel do livreiro-editor francês
Pierre Plancher. Fazendo uso dos minuciosos relatórios diplomáticos franceses e de outros papéis por
ele localizados em arquivos parisienses, nosso historiador esmiúça a noção de “novas idéias”’ e tenta
conhecer melhor as identidades políticas e as formações político-partidárias cambiantes. Como
curiosidade, sublinhe-se a variedade das metáforas zoológicas então comuns e o recurso às imagens de
monstros e às monstruosidades no debate exacerbado entre Exaltados, Moderados e Restauradores.
Ao tratar, na terceira parte, das formas de sociabilidade, Morel atinge, no nosso modo de
entender seu trabalho, o ponto decisivo de sua exposição. De fato, ele reúne aí tanto as manifestações
populares – manuscritos, gritos e gestos – como a questão das lojas maçônicas e oferece assim ao leitor
um dos textos mais atualizados e completos a respeito das origens, organização, funcionamento e
composição social e política das diversas maçonarias. Na realidade, houve a preocupação de reunir,
num visão globalizante das agitações políticas da época tratada, os chamados papéis incendiários, a
nova função dos teatros como espaços de manifestações políticas, e as diferenças ou divisões entre os
maçons, criando assim um retrato animado, dinâmico, do Primeiro Reinado e do Período Regencial.
Nas considerações finais Morel tenta articular as três partes do trabalho em busca do que ele
denomina de contextura dos espaços públicos”(Morel, 2005:9)]
Para a análise da trajetória dessa associação de trabalhadores quixadaenses, o autor fez uso
sobretudo da documentação primária da própria entidade configurada nas atas de sua reuniões
(ordinárias, solenes, de assembléia geral), nos Estatutos da entidade, fotografias, monumento, relatos
de memórias de lideranças dos trabalhadores quixadaenses vinculados à entidade, entrevistas, bem
como obras de historiadores locais e referências em jornais cearenses do período. A documentação
disponível, em sua maioria primária, da própria Aliança, permitiu um maior detalhamento de muitos
aspectos dos discursos e práticas aliancistas num recorte temporal compreendido entre as décadas de
1920 e 1930, permitindo maior explicitação do cotidiano dos trabalhadores aliancistas, germinativo de
uma consciência e de uma proposta de intervenção social. O período referido é significativo para a
compreensão do processo de fundação e estruturação da entidade, de sua fase “legionária”, resultante
de sua filiação à Legião Cearense do Trabalho - LCT e, finalmente, da afirmação de sua orientação
maçônica.
Para a análise dessa dinâmica, optou por estruturar este trabalho em quatro capítulos. No
primeiro capítulo caracterizo a atuação da Maçonaria brasileira, sobretudo entre final do século XIX e
as primeiras décadas do século XX, investigando a emergência da “questão social” como elemento de
afirmação da identidade maçônica brasileira, impressa em suas concepções sobre o trabalho, o
trabalhador e o socialismo. Por fim, as manifestações concretas dessa proposta social da Maçonaria no
Ceará, através do Centro Artístico Cearense e demais associações.
No quarto e último capítulo, procura situar mais especificamente o quadro de disputas internas
envolvendo maçons e integralistas pelo comando da associação, no contexto das mudanças de ordem
político-ideológicas que caracterizaram a década de 1930. Instaura-se nesse contexto a polêmica sobre
a manutenção do caráter beneficente e a fidelidade às tradições da “oficina”, defendido pelos
aliancistas maçons, apoiados pela Maçonaria local através da Loja “Deus e Universo”; ou sua adesão ao
modelo sindical-corporativista defendido pelos elementos aliancistas sintonizados com Legião
Cearense do Trabalho, com a Liga Eleitoral Católica e com a orientação trabalhista do Estado
varguista. Finalizo esse capítulo discutindo os elementos que confirmam a manutenção e consolidação
da orientação maçônica da Aliança Artística e Proletária de Quixadá.]
Também se aprecia a influência da Loja Lautaro na vida política do Prata, e, como resultante
desta ação, a instalação da Assembléia Constituinte do ano XIII e do Congresso de Tucuman, do qual
resultou a Independência de 1816. Outrossim ressalta-se a participação dos maçons nestes
acontecimentos, como, por exemplo, San Martín, Alvear, Monteagudo, Pueyrredon e outros. Outro
aspecto relevante foi a participação do Clero nas lides maçônicas e na Emancipação.
Por outra parte, tenta-se demonstrar o que foi a ligação dos maçons platinos com os brasileiros,
facilitada pelo vínculo maçônico, sendo que um grupo de platinos trabalhou no Rio de Janeiro para
efetivar uma das idéias de libertação, que era fazer a Princesa Carlota Joaquina Regente do Vice-
Reinado do Prata. Por outro lado, os brasileiros enviaram emissários a Buenos Aires em pelo menos
dois movimentos. E, ainda, outros influenciaram o movimento da Emancipação platina, através de
seus escritos, como Hipólito da Costa, por meio de seu jornal, “Correio Braziliense”. Outrossim,
brasileiros participaram das lojas argentinas quando exilados do Brasil, como, por exemplo, Gonçalves
Ledo, visto frequentemente em companhia de Alvear, em Buenos Aires, depois do exílio deste no Rio
de Janeiro. Também tenta-se demonstrar a influência da Inglaterra nos fatos referentes à
Emancipação das antigas colônias ibéricas, o exílio dos próceres da Emancipação e a escolha da forma
republicana pelos membros da Maçonaria sul-americana” (Telles:125).]
VÉSCIO, Luiz Eugênio, O Crime do Padre Sório: Maçonaria e Igreja Católica no Rio Grande
do Sul (1893-1928), EDUFSM, Santa Maria; EDUFRGS, Porto Alegre, 2001.[em 1899, numa estrada
que cortava uma região de imigração italiana no Rio Grande do Sul, alguns homens atacaram o padre
do lugar, que voltava a cavalo para sua igreja. Derrubaram o padre e o espancaram no baixo ventre,
sangrando-lhe os testículos. Ele agonizou durante três dias, não declarou o nome de seus agressores e
morreu em conseqüência dos ferimentos. Não foi instalado precesso-crime para investigar o caso. Anos
depois, os padres historiadores passaram a dizer que o sacerdote fora um homem santo, agredido pela
Maçonaria. Durante décadas, ninguém contestou esta versão, embora todos os idosos da região
murmurassem que o padre andava com mulheres e, principalmente, que havia uma donzela “ofendida”
por ele. E que os familiares da moça, num certo dia, resolveram dar uma lição ao homem. Essas duas
versões – a dos padres historiadores e a da tradição oral – sempre dialogaram, mas nunca se
entenderam. O atentado ao padre teria relação com os conflitos entre a Igreja Católica e a Maçonaria,
existentes no Europa e no Brasil no século XIX e início do XX? Esta disputa entre a Cruz e o Compasso
expressara-se de modo violento no interior do Rio Grande do Sul? E a memória coletiva a respeito das
“aventuras” do padre, seria verdadeira? Responder a estas questões seria o objetivo do livro. José de
Andrade Arruda, no prefácio do livro em questão, relembra que “o trabalho encerra, portanto, uma
proposta metodológica e teórica inovadora, além de oportuna. Num momento em que a nova história,
emparedada no discurso narrativo e descritivo, dá sinais de esgotamento, vislumbra-se uma alternativa
profícua que busca o enlace entre descrição e análise, entre narração e reflexão, entre micro e macro-
história, entre representação e conceituação, entre sensibilidade e análise racional. Esta postura
atravessa o texto e se revela na própria urdidura da obra no seu conjunto, que nasce pontual, de uma
problemática gestada a partir de um evento local, précorrendo a problemática ampla do conflito
histórico entre católicos e maçons, retraçando suas origens medievais, ambientado em clima periférico,
no mundo da ex-colônia, deslocando-a, a seguir, para o círculo regional, num momento decisivo de sua
trajetória, no âmago da formação do Estado na Velha República para, finalmente, volver ao pontual, ao
evento em si, ressignificando-o, tranferindo ao episódio singular um densa carga de potencial
explicativo” (Véscio:14)]
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