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FICHA DE TRABALHO

PORTUGUÊS
(Leitura e escrita)
10.º ano Fevereiro de 2021

Lê atentamente o texto.

Fernão Lopes

Mas, para caracterizar a maneira de historiar de Fernão Lopes na época de plena maturidade,
deve-se salientar, antes de mais nada, o seu cuidado em determinar a verdade histórica, claramente
expresso no prólogo da Crónica de D. João I e em muitos outros pontos da sua obra, e as
consequências que dele advêm no que se refere ao seu modo de utilizar as mencionadas fontes:
confronto das várias versões sobre um mesmo acontecimento e decisão a favor de versão apoiada
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em documentos, se eles existem; se não existem, apresentação das diversas versões e abstenção ou
simples indicação da que o seu bom senso o leva a preterir. O resultado é que, se se tem podido
apontar inevitáveis falhas na averiguação dos factos por parte do cronista, não tem sido possível
demonstrar a existência nele de uma intenção deliberada de esconder ou de deturpar. Quando Fernão
Lopes afirma, parece fazê-lo convicto de que está a falar verdade.
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Outras características do seu método historiográfico são: a necessidade de explicar de forma
completa as causas dos acontecimentos, por longe que seja preciso remontar no tempo, a associação
da História económica à História política, o interesse pela psicologia das suas personagens — tanto
pela psicologia individual das figuras centrais (aspeto em que o exemplo de Ayala pode ter tido alguma
influência) como pela psicologia coletiva, pela das multidões, a que atribui um papel decisivo
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e cujos movimentos sabe descrever e interpretar de forma penetrante e originalíssima. Além de
historiador de méritos excecionais, Fernão Lopes foi um verdadeiro narrador artista, preocupado com
a beleza da forma e não apenas com a verdade do conteúdo (ao contrário do que se poderia deduzir
de certas afirmações que ele próprio faz, imitando autores anteriores). Certos processos herda-os
Fernão Lopes da historiografia precedente (que, por sua vez, os adotara da
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hagiografia e da homilética1), por exemplo, as interrogações e exclamações retóricas, as suspensões
temporárias de uma narração, enquanto se narram sucessos contemporâneos. Outros, adapta-os de
outros géneros à historiografia. Alguns serão inovação sua. Mas principalmente sua é a maneira hábil
de os empregar no momento oportuno. Recorde-se, por exemplo, o emprego das interrogações e
exclamações retóricas para sublinhar os momentos mais emotivos do relato. Por meio delas
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aproxima-se do leitor e procura comunicar-lhe a sua própria maneira de sentir os acontecimentos
narrados.
LUÍS FILIPE LINDLEY CINTRA, «Fernão Lopes», in Jacinto do Prado Coelho, Dicionário de Literatura, [4.ª ed.]
Porto, Mário Figueirinhas Editor, 1997, pp. 574 e 575 (com adaptações).

(1) homilética: técnica de elaborar e apresentar um sermão religioso com a finalidade de persuadir o auditório.
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1. Seleciona a opção correta.
1.1 O excerto apresentado centra-se na figura de Fernão Lopes e refere-se (A) à
sua competência de pesquisa de fontes historiográficas estrangeiras. (B) à
sua necessidade de confrontar diferentes versões dos acontecimentos. (C) à
sua dúplice condição de historiador responsável e escritor.
(D) à sua capacidade de poetizar os acontecimentos narrados.
1.2 Segundo o texto, o «confronto das várias versões sobre um mesmo acontecimento» (linha 5)
surge como
(A) uma consequência do prólogo da Crónica de D. João I.
(B) uma consequência do seu rigor científico.
(C) uma das causas do rigor das suas crónicas sobre a história do país.
(D) motivo do seu interesse pela verdade histórica.
1.3 A frase «Quando Fernão Lopes afirma, parece fazê-lo convicto de que está a falar a verdade.»
(linhas 9 e 10), em relação à afirmação que a antecede, constitui
(A) um exemplo.
(B) um argumento.
(C) o alargamento de um tópico.
(D) uma conclusão.
1.4 De acordo com o texto, «o interesse pela psicologia das suas personagens» (linha 13)
(A) é uma característica que Fernão Lopes herda da historiografia que o precede. (B)
é uma característica da sua metodologia de produção escrita.
(C) é uma forma de aproximar as suas crónicas às de Ayala.
(D) é uma característica dos antigos livros de linhagens medievais.
1.5 O artigo de Luís Filipe Lindley Cintra pode classificar-se como um texto
(A) descritivo.
(B) instrucional.
(C) argumentativo.
(D) expositivo.

GRUPO II

«E é, como já dissemos, o último expoente de uma prosa escrita mais para ser ouvida do que para
ser lida. É por isso que se sente continuamente a presença do autor a despertar a atenção dos ouvintes
com exclamações, interrogações, convites à sua imaginação e à sua participação no que narrava.»
LILAZ CARRIÇO, Literatura Prática — 10.º e 11.º anos de escolaridade, Porto, Porto Editora, 1990.

Com base na tua experiência de leitura da Crónica de D. João I, desenvolve uma exposição sobre o
estilo e a arte narrativa deste cronista português.

Constrói um texto bem estruturado, com um mínimo de cento e vinte (120) e um máximo de cento e
cinquenta palavras (150).

Bom trabalho!

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