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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ

COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA - FORO CENTRAL DE


CURITIBA
4º JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA DE CURITIBA - PROJUDI
Avenida Anita Garibaldi, 750 - 2 Andar - Ahú - Curitiba/PR - CEP: 80.540-900
- Fone: (41) 3312-6000

Classe Processual: Procedimento do Juizado Especial Cível


Assunto Principal: Adicional de Horas Extras
Processo nº: 0030017-73.2019.8.16.0182
Polo Ativo(s): RENATO JOSÉ BERTOL
Polo Passivo(s): ESTADO DO PARANÁ

SENTENÇA

Trata-se de ação em que a parte requerente (Agente de Execução) busca


reconhecimento ao direito ao recebimento de horas extras não pagas pela parte
requerida no período de janeiro a outubro de de 2019.

O Estado do Paraná apresentou contestação em que alega, em síntese, que


não teria havido comprovação da realização de horas extras ; e [b] que a
atualização da dívida ocorra na forma do art. 1º-F da Lei.9.494/1997.

A parte requerente apresentou impugnação à contestação reiterando os


fundamentos de seu pedido.

Não há a necessidade de produção de novas provas, sendo hipótese de


julgamento antecipado da lide (art. 355, I, do CPC).

É o breve relatório, na forma do art. 38 da Lei 9.099/1995.

Fixo como pontos controvertidos: [a] o direito ao recebimento das horas


extras; e [b] a forma a atualização da dívida.

O art. 7º, XIII e XIV, da CF assim prevê:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social:

(...)
XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e
quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a
redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho;
(...)
XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em
cinqüenta por cento à do normal;

As referidas normas se aplicam aos servidores públicos por força do art. 39,
§3º, da CF.

O art. 34, VII e IX, da Constituição do Estado do Paraná tem a seguinte


redação:
Art. 34. São direitos dos servidores públicos, entre outros:
(...)
VII - duração da jornada normal do trabalho não superior a oito horas
diárias e quarenta horas semanais, facultada a compensação de horário
e redução de jornada, nos termos da lei;
(...)
IX - remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em
cinqüenta por cento à do normal;

A Lei 6.174/1970 do Estado do Paraná dispõe o seguinte:

Art. 172. Conceder-se-á gratificação:


(...)
II - pela prestação de serviço extraordinário;
(...)
Art. 175. A gratificação pela prestação de serviço extraordinário se
destina a remunerar os serviços prestados fora do período normal de
trabalho a que estiver sujeito o funcionário, no desempenho das
atribuições do seu cargo.
Art. 176. A gratificação pela prestação de serviço extraordinário deverá
ser:
I - previamente arbitrada pelo chefe da repartição;
II - paga por hora de trabalho, prorrogado ou antecipado.
§ 1º. A gratificação a que se refere êste artigo não poderá exceder a
cinqüenta por cento (50%) do vencimento mensal do funcionário,
acrescido dos adicionais que estiver percebendo.
§ 2º. No caso do inciso II, a gratificação será paga por hora de trabalho
antecipado ou prorrogado, na mesma razão percebida pelo funcionário,
em cada hora do período normal, salvo quando a prorrogação ou
antecipação fôr apenas de uma hora e tiver ocorrido sòmente duas vezes
no mês, caso em que não será ela remunerada.

Veja-se que os Relatórios de Horas Extraordinárias de mov. 1.41, 1.42, 1.43,


1.44, 1.53, 1.54, 1.55, 1.56, 1.57 e 1.58 foram devidamente assinados pela chefia
imediata do requerente, o que, combinado com todas as demais provas de mov. 1,
forma conjunto probatório consistente (art. 373, I, do CPC) de que as horas
extraordinárias foram efetivamente realizadas.

Dessa forma, não pode a parte requerida negar o pagamento, pois o


requerente não é obrigado a prestar seus serviços graciosamente, especialmente
frente ao princípio da legalidade administrativa estrita (art. 37, caput, da CF e art.
27, caput, da Constituição do Estado do Paraná), pois, uma vez atendidos os
requisitos necessários, o pagamento é ato administrativo vinculado, cabendo ao
Estado do Paraná (caso seja realmente verdade o que alega) adotar as medidas de
gestão orçamentária previstas no art. 169, §3º, da CF para adequação dos limites de
gastos com pessoal, sendo inconstitucional a simples negativa de pagamento de
verba remuneratória ao servidor. Nesse sentido: “Os limites previstos nas normas
da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) - mormente os relacionados às despesas
com pessoal de ente público - não são aptos a justificar o descumprimento dos
direitos subjetivos do servidor público, como é o recebimento de vantagens
asseguradas por lei (cf. art. 22, parágrafo único, da LC nº 101/2000)” (STJ, AgRg no
AREsp 463.663/RJ, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA,
julgado em 20/03/2014, DJe 26/03/2014).

Nesse sentido: “DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. APELAÇÃO


CÍVEL E REEXAME NECESSÁRIO. AÇÃO ORDINÁRIA DE COBRANÇA. SERVIDOR
PÚBLICO ESTADUAL. AUDITOR FISCAL. DIREITO AO PAGAMENTO DE HORAS
EXTRAORDINÁRIAS E DE ADICIONAL NOTURNO. EXEGESE DOS ARTIGOS 39, §3º., DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL E ARTIGO 34 DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO PARANÁ.
ARTIGO 164 DA LEI COMPLEMENTAR N.º 92/2002, ENTÃO EM VIGOR. APLICAÇÃO
SUBSIDIÁRIA DAS DISPOSIÇÕES GERAIS REFERENTES AOS FUNCIONÁRIOS CIVIS DO
ESTADO. CARGA HORÁRIA DE 40 (QUARENTA) HORAS SEMANAIS” (TJPR - 4ª C.Cível -
0023788-64.2010.8.16.0004 - Curitiba - Rel.: Desembargador Abraham Lincoln
Calixto - J. 16.07.2019)

Por fim, no que tange à atualização da dívida, adota-se para fins de correção
monetária o IPCA-E e para a finalidade de cálculo dos juros moratórios o índice de
“remuneração oficial da caderneta de poupança” (art. 12, I e II, da Lei 8.177/1991),
conforme determinado pelo STJ no recurso repetitivo de Tema 905 (que se alinha ao
determinado pelo STF na repercussão geral de Tema 810): “Não cabimento de
modulação dos efeitos da decisão. A modulação dos efeitos da decisão que declarou
inconstitucional a atualização monetária dos débitos da Fazenda Pública com base
no índice oficial de remuneração da caderneta de poupança, no âmbito do Supremo
Tribunal Federal, objetivou reconhecer a validade dos precatórios expedidos ou
pagos até 25 de março de 2015, impedindo, desse modo, a rediscussão do débito
baseada na aplicação de índices diversos. Assim, mostra-se descabida a modulação
em relação aos casos em que não ocorreu expedição ou pagamento de precatório”.
(...) “As condenações judiciais referentes a servidores e empregados públicos,
sujeitam-se aos seguintes encargos: .... (c) a partir de julho/2009: JUROS DE MORA:
REMUNERAÇÃO OFICIAL DA CADERNETA DE POUPANÇA; CORREÇÃO MONETÁRIA:
IPCA-E” (STJ, REsp 1495144/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 22/02/2018, DJe 20/03/2018).

Ante o exposto, extinguindo-se o processo com resolução do mérito, nos


termos do art. 487, I, do CPC, julgo procedente o pedido de cobrança para condenar
o requerido Estado do Paraná a pagar à parte requerente as horas extraordinárias
de janeiro a outubro de 2018 descritas nos relatórios de mov. 1.41, 1.42, 1.43, 1.44,
1.53, 1.54, 1.55, 1.56, 1.57 e 1.58 (autorizado o abatimento de pagamentos
eventualmente já realizados, o que poderá ser feito na fase de cumprimento de
sentença); [a] deve ser aplicada correção monetária pelo IPCA-E, desde cada
vencimento, e juros moratórios calculados com base na remuneração oficial da
caderneta de poupança [art. 1º-F da Lei 9.494/1997 c/c art. 12, caput, I e II, da Lei
8.177/1991 – REsp 1270439 do STJ (Tema 905) e RE 870947 do STF (Tema 810)],
desde a data da citação (22/08/2019); [b] sobre as referidas parcelas ressalva-se a
não incidência de correção monetária e juros de mora no período de graça
constitucional, compreendido entre a expedição e o pagamento (Súmula Vinculante
17, RE 579.431 e ARE 638195 do STF) desde que efetuado no prazo de 60
(sessenta) dias do respectivo protocolo da RPV (art. 13, I, da Lei 12.153/2009) ou no
prazo do art. 100, §5º, da CF caso seja expedido precatório; [c] tratando-se de
verbas remuneratórias, autoriza-se ainda ao Estado do Paraná, em relação aos
referidos valores, a retenção para fins de Imposto de Renda (na forma do art. 12-A
da Lei 7.713/1988 e art. 46, caput, da Lei 8.541/1992) e os descontos de
contribuição previdenciária (art. 15 e art. 16, §2º, da Lei 17.345/2012 do Estado do
Paraná).

Sem custas e honorários advocatícios (art. 54 e art. 55 da Lei 9.099/1995).

Após o trânsito em julgado, cumpra-se na forma das Portarias e das Ordens de


Serviço da Secretaria Unificada dos Juizados da Fazenda Pública de Curitiba.

P.R.I. Dil. Curitiba, data da assinatura digital.

Leticia Marina Conte


Juíza de Direito

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