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Vistos e examinados estes autos de ação anulatória,

registrados sob n.° 9134-13.2018, onde consta como


autora Projeto Soluções em Stands Ltda. – EPP e
como réu o Município de Foz do Iguaçu...

1 – RELATÓRIO

PROJETO SOLUÇÕES EM STANDS LTDA. –


EPP, qualificada nos autos, ajuizou a presente ação anulatória em desfavor do
MUNICÍPIO DE FOZ DO IGUAÇU, também qualificado.

Alegou, em síntese, que atua tanto no ramo de locação


de bens móveis quanto na prestação de serviços. Nesta condição, recolhe o ISSQN
apenas quando realiza a segunda atividade, pois o referido imposto não é devido por
ocasião da locação de bens móveis, entendimento inclusive amparado por enunciado
vinculante do Supremo Tribunal Federal. Sucede que o ente público réu vem lhe
impedindo de emitir notas fiscais pela locação de bens móveis, de modo a obrigar o
recolhimento do ISS sobre esta atividade. No mais, afirmou que o réu lavrou infração
em seu desfavor, pois deixou de recolher o ISS de notas fiscais relativas a serviços
prestados em outros Municípios, o que entende absolutamente ilegal. Por fim, disse
que a multa aplicada tem caráter confiscatório, devendo então ser rechaçada. Assim,
buscou o provimento jurisdicional, para o fim de que os tributos exigidos pelo Fisco
sejam anulados. Pediu liminar. Juntou documentos.

A liminar foi deferida.


O réu foi citado e apresentou resposta, rebatendo todos
os argumentos contidos na inicial. Sustentou, em resumo, que não há qualquer
ilegalidade na autuação promovida, tendo em vista que a autora, além de alugar os
bens móveis, prestou o serviço de montagem e operação dos mesmos, tornando
devido o ISS sobre a totalidade do valor faturado. No mais, afirmou que a tributação
ocorreu somente em relação as notas fiscais cuja prestação de serviço ocorreu neste
Município e, enfim, defendeu a legalidade da multa aplicada. Postulou pela
improcedência dos pedidos.

A autora apresentou impugnação, por meio da qual


refutou os termos da resposta.

A seguir, vieram os autos conclusos.

É o relatório.
Decido.

2 – FUNDAMENTAÇÃO

O feito comporta julgamento antecipado, a teor do


contido no artigo 355, inciso I, do Código de Processo Civil, não havendo
necessidade de serem produzidas outras provas em audiência, além daquelas já
constantes do caderno processual. O material probatório acostado nos autos é
suficiente para o convencimento seguro do Juízo.

O pedido inicial é procedente, tal como será


demonstrado.
A pretensão inaugural consiste na legalidade do
imposto sobre serviços – ISS exigido pela Fazenda Pública, decorrente do
arbitramento de ofício pela Administração Tributária. Neste caso, o Município réu
exige o pagamento do referido tributo alusivo ao período de Mai/2011 a Out/2011,
conforme auto de infração n. 04900075630000200007275201610; e ao período de
Jan/2012 a Set/2012, conforme auto de infração n.
04900075630000200007168201691.

E apesar dos argumentos lançados pelo Município de


Foz do Iguaçu, vislumbra-se que, no caso, é indevida a incidência do imposto sobre
serviços de qualquer natureza, tendo em vista que a atividade tributada diz respeito a
locação de bens móveis, isto é, cuida-se de verdadeira obrigação de dar, sendo certo
que, sobre esta, não tem incidência o ISS.

Inclusive, a matéria posta em debate foi alvo de forte


discussão jurisprudencial, nada obstante, o Supremo Tribunal Federal consolidou o
entendimento no sentido de que o ISS não incide sobre as operações de locação de
bens móveis, cristalizando-o no enunciado da Súmula Vinculante n. 311. E a
orientação não se altera perante o Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, conforme
se extrai do seguinte aresto:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ANULATÓRIA DE LANÇAMENTO


DE DÉBITO TRIBUTÁRIO (ISSQN). PARCIAL PROCEDÊNCIA
DOS PEDIDOS. FORMAL INCONFORMISMO. INCIDÊNCIA DO
ISSQN SOBRE A LOCAÇÃO DE BENS MÓVEIS.
IMPERTINÊNCIA. SÚMULA VINCULANTE Nº 31 DO STF.
REDUÇÃO DA VERBA HONORÁRIA. DESPROPOSITADA.

1
É inconstitucional a incidência do imposto sobre serviços de qualquer natureza – ISSQN sobre operações de
locação de bens móveis.
RECURSO NÃO PROVIDO. EX OFFICIO. EXCLUSÃO DA
INCIDÊNCIA DE JUROS, EM DESFAVOR DA FAZENDA
PÚBLICA, NO PERÍODO DE GRAÇA CONSTITUCIONAL.
SUPRESSÃO DA TAXA JUDICIÁRIA DAS CUSTAS
PROCESSUAIS. ART. 3º, ALÍNEA “I” DO DECRETO 962/1932.
REEXAME NECESSÁRIO. NÃO CONHECIMENTO. (TJPR – 2.ª C.
Cível – ACR n. 1.671.771-2 – Rel. Des. Guimarães da Costa – J.
12/Set/2017).

E da análise dos autos, observa-se que a atividade


principal da autora consiste na locação de bens móveis para a realização de eventos
de exposição de produtos, cujo serviço evidentemente reclama pelo respectivo
transporte e instalação destes bens. Trata-se, como se vê, de atividade complexa, na
qual é possível evidenciar a existência de duas atividades, uma de meio (transporte,
montagem, atendimento técnico, logística, etc.), e outra final (locação de bens), sendo
que a primeira evidentemente se incorpora ao preço final do serviço contratado.

Além disso, a prova constante no feito denota que os


serviços contratados se referem tão somente a locação. E o custo da atividade-meio
prestada pela autora, imprescindível à realização do objeto contratual, acaba sendo
acrescido no preço da locação, inexistindo a possibilidade de incidência do ISSQN
sobre ele.

A propósito, assim já decidiu o Superior Tribunal de


Justiça:

TRIBUTÁRIO. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO REGIMENTAL


NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ISS. SERVIÇOS DE
TELECOMUNICAÇÕES. ATIVIDADE-MEIO. NÃO INCIDÊNCIA.
MATÉRIA CONSOLIDADA, O QUE FAZ INCIDIR O ÓBICE DA
SÚMULA 83/STJ. AGRAVO INTERNO DO ENTE MUNICIPAL A
QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. Consolidou-se no âmbito da 1ª.
Seção o entendimento de que não incide o ISS sobre os serviços de
atividade-meio indispensáveis ao alcance da atividade-fim,
prestados pelas companhias telefônicas. Precedentes: AgRg no
REsp. 1.331.306/AM, Rel. Min. SÉRGIO KUKINA, DJe 6.9.2013;
REsp. 883.254/MG, Rel. Min. JOSÉ DELGADO, DJ 28.2.2008. 2.
Especificamente sobre os serviços discutidos nos presentes autos,
quais sejam, serviços congêneres aos serviços de expediente e
secretaria em geral, ambas as Turmas da 1ª. Seção também já
reconheceram que são consideradas atividade-meio, não se
sujeitando a cobrança da exação em comento. Precedentes: AgRg no
REsp. 1.192.020/MG, Rel. Min. HUMBERTO MARTINS, DJe
27.10.2010; EDcl no REsp. 883.254/MG, Rel. Min. JOSÉ
DELGADO, DJe 23.6.2008. 3. Dessa forma, observa-se que o
entendimento firmado pelo Tribunal de origem está em consonância
com o desta Corte, o que faz incidir o vento da Súmula 83/STJ. 4.
Agravo interno do Ente Municipal a que se nega provimento. (STJ –
1.ª Turma – AgInt no AgRg no AREsp n. 478.476/RJ – Rel. Min.
Napoleão Nunes Maia Filho – J. 20/Fev/2018).

E desta premissa não destoa o Egrégio Tribunal de


Justiça do Estado do Paraná:

1. APELAÇÃO CÍVEL E REEXAME NECESSÁRIO – MANDADO


DE SEGURANÇA. 2. ISSQN – ATIVIDADE PRESTADA PELA
EMPRESA – LOCAÇÃO DE BENS MÓVEIS E PROJETOS DE
CRIAÇÃO DE STANDS – ATIVIDADES MEIO DA EMPRESA QUE
NÃO ESTÃO SUJEITAS AO ISS POR NÃO COMPOREM O
“PREÇO DO SERVIÇO” – INCONSTITUCIONALIDADE DA
INCIDÊNCIA DE ISS SOBRE LOCAÇÃO DE BENS MÓVEIS –
SÚMULA VINCULANTE 31 DO STF. 3. NEGADO PROVIMENTO
AO RECURSO DE APELAÇÃO E SENTENÇA MANTIDA EM
REEXAME NECESSÁRIO. Súmula vinculante 31 do STF: “É
inconstitucional a incidência do Imposto sobre Serviços de Qualquer
Natureza – ISS sobre operações de locação de bens móveis.”. (TJPR
– 3.ª C. Cível – AC n. 1.698.942-5 – Rel. Denise Hammerschmidt –
J. 07/Nov/2017).

Registre-se, de mais a mais, que o imposto sobre


serviços não tem incidência tão somente na hipótese em que a atividade-meio é
essencial a realização da atividade-fim. Quer dizer, na hipótese em que as atividades
não estão vinculadas, ou seja, há contratação tanto de serviços quanto de locação,
existirão duas relações jurídicas, ocasião em que o imposto sobre serviços terá plena
incidência sobre a obrigação de fazer.

Pelo esposado, certo de que o serviço prestado pela


autora não se sujeita ao ISS, não resta alternativa senão a procedência dos pedidos.

As demais teses apresentadas pela autora ficam


prejudicadas, lembrando, no ponto, que o julgador não está obrigado a responder a
todas as questões suscitadas pelas partes, quando já tenha encontrado motivo
suficiente para proferir a decisão. O julgador possui o dever de enfrentar apenas as
questões capazes de infirmar (enfraquecer) a conclusão adotada na decisão
recorrida2.

2
STJ – 1.ª Seção – EDcl no MS n. 21.315-DF – Rel. Min. Diva Malerbi (Desembargadora convocada do TRF
da 3.ª Região) – J. 08/Jun/2016.
3 – DISPOSITIVO

Por estas razões, atento a fundamentação exposta,


julgo procedentes os pedidos formulados na inicial, para o fim de anular os autos
de infrações n.º 04900075630000200007275201610 e
04900075630000200007168201691, bem como parar determinar que o Município
réu insira o código 3.01, CNAE 7739-0/99 referente a locação, para emissão de nota
fiscal eletrônica. Confirmo a liminar. Resolvo o mérito, na forma do art. 487,
inciso I, do Código de Processo Civil.

Diante da sucumbência, condeno a parte ré no


pagamento das custas processuais e honorários de advogado, que fixo em 10% sobre
o valor atualizado da causa, atendendo ao trabalho desenvolvido e grau de
complexidade da causa, tudo em conformidade com o disposto no art. 85, § 3.º,
inciso I, e § 4.º, inciso III, do Novo Código de Processo Civil.

Esta sentença se sujeita ao duplo grau de jurisdição, a


teor do art. 496, inciso I, do Código de Processo Civil. Transcorrido o prazo para
recurso voluntário, remetam-se os autos ao e. Tribunal de Justiça do Estado.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.


Foz do Iguaçu, 29 de outubro de 2019.

Rodrigo Luis Giacomin


Juiz de Direito

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