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Silvestre Francisco Grandal Coelho Savino Junior

Resumo dos capítulos I, II e III, do livro Antropologia Filosófica, de


Henrique Cláudio de Lima Vaz
Trabalho proposto pelo professor
Marcelo Prates, para a matéria de
Antropologia Filosófica, do 1º ano do
curso de Filosofia, da universidade
Unicentro – Campus Santa Cruz.

Guarapuava
2017
SUMÁRIO

1 A EVOLUÇÃO DA CONCEPÇÃO DE HOMEM, DO PERÍODO CLÁSSICO AO


PERÍODO MODERNO..................................................................................................3
REFERÊNCIAS.............................................................................................................9
A EVOLUÇÃO DA CONCEPÇÃO DE HOMEM, DO PERÍODO CLÁSSICO AO
PERÍODO MODERNO.

Quais foram as mudanças mais perceptíveis na concepção de homem na


história? Como nasceu o estudo da Antropologia? São algumas perguntas que busco
responder, com preste texto, traçando a evolução da concepção do homem, entre os
períodos históricos Clássico, Medieval e Moderno, usando como base o livro
“Antropologia Filosófica”, do Antropólogo Henrique Cláudio de Lima Vaz, que dispõem
destes períodos em seus capítulos I, II e III.
No período clássico, segundo o autor está dividido em sete partes, iniciando no
período arcaico, onde vemos um homem preso aos mitos, terminando no período
conhecido como neoplatônico, onde o pensamento filosófico tenta rebuscar traços do
platonismo clássico.
No período arcaico grego, vemos três pontos como principais, que seriam: o
teológico, como o homem se relaciona com os deuses; cosmológico, como ele se
relaciona com o cosmos; e, por fim, a antropológica, com dialética entre o apolíneo e o
dionisíaco, e a evolução da imagem do herói guerreiro ao herói fundador.
Na linha teológica, vemos um homem preso aos mitos, em que este não poderia
se comparar com os deuses, pois ousar a isso poderia trazer consequências trágicas.
O homem deveria se colocar em seu lugar, como ser mortal, que a sabedoria
sapiencial, ligada ao templo de Apolo em Delfos, corrobora ao informar o homem grego
os seguintes preceitos: medén ágan, “nada em excesso”, gnothi sautón, “conhece-te a
ti mesmo”.
Na linha cosmológica, o homem tem total fascínio pela ordem do cósmica, a que
se submetem tanto mortais como deuses, e está ligada à descoberta da homologia,
que deve reinar entre a ordem do universo (tematizada no conceito de “natureza” ou
physis) e a ordem da cidade (polis) regida por leis justas, que será uma das fontes da
ideia grega de uma ciência do agir humano (Ética).
Na linha antropológica, como já foi dito, há uma dialética moral, entre o apolíneo
e o dionisíaco, em que o primeiro seria o lado luminoso de pensar e agir
razoavelmente, enquanto o segundo dominaria o lado obscuro dos desejos, esse
dualismo irá mais tarde girar em torno do tema da alma, desde seu conceito como
sopro (psyché), até a representação religioso-metafísica, de uma entidade separada do
corpo e nele reencarnando-se em sucessivas existências (metensomatôse). No campo
social e política, a visão grega arcaica do homem, marcada pela ideia da “excelência”
(areté), que vai da imagem de herói, dotado areté guerreira, evoluindo para a da areté
civilizadora, e, por outro lado, a ideia de areté se transpõe pouco a pouco do herói para
o sábio (sophós), no momento em que começa a declinar a aristocracia guerreira e a
cidade se organiza segundo formas democráticas e participativas.
Na concepção filosófica pré-socrática, temos um novo conceito de homem,
definido por Diógenes de Apolônia (floruit entre 440 e 430 a.C.), em que eleva a figura
humana a um ser superior aos outros animais, pela capacidade de andar ereto, e
contemplar os astros, e a habilidade das mãos humanas, obreiras da téchne, a
exaltação da linguagem e a manifestação do pensamento (logos), segundo o autor:

“[...] aqui aparece pela primeira vez a ideia do homem como estrutura
corporal-espiritual, cuja natureza se manifesta na cultura por meio de
suas obras. A individualidade do homem aparece abrigada na majestade
da physis e na ordem do mundo e só começa a emergir na poesia épica
e lírica. Ele é, pois, um ser ordenado finalisticamente em si mesmo e
para o qual se ordena, de alguma maneira, a própria ordem do
kósmos.”(Vaz, 1998, p. 31)

Há nesse período (sec. V a.C.) uma mudança muito importante, a mudança do


foco no interesse filosófico, que até então cosmológico passando a ser antropológico, o
que é um efeito das transformações da sociedade grega, pós-guerras médicas e
democratização das cidades, em especial Atenas.
Essas mudanças no pensar geram dois grandes problemas, que segundo o
autor “aparecem subjacentes à interrogação sobre o homem que passa a solicitar a
reflexão filosófica”, que são:

a) o problema da educação (paideía) que se uma nova forma da areté


política exigida pela vida democrática e diferente da areté arcaica
aristocrático-guerreira;
b) o problema da habilidade ou sabedoria (sophía) que não encontra
mais sua fonte na tradição e vê acentuar se seu caráter técnico (téchne)
e intelectualista (philosophía). (Vaz, 1998, p. 32)

Os sofistas aparecem na segunda metade do século V, problematizando a


cultura, que no período havia dois modelos, o de decadência, que era “rígido pelo mito
de uma idade de ouro primitiva”, e o modelo progressista, em que houve uma
passagem de um estado de barbárie que é superado pela “fundação das cidades (mito
do herói fundador) e pela invenção das técnicas (mito do primeiro inventor, prôtos
euretés)”. (Vaz, 1998, p. 32)
Na concepção socrática, Sócrates levanta os questionamentos sobre o que seria
a “alma” (psyché), e para ele é a sede da excelência e das virtudes humanas, é onde
“reside a verdadeira grandeza humana”, orientando o homem a ser justo, tendo como
traços principais a teleologia do bem, a valorização ética do individuo e a primazia da
faculdade intelectual, em que é mais defende a utilidade pratica do bem, em que é mais
útil e melhor ser justo.
Para o autor, os principais traços desta ideia socrática do homem são os
seguintes:
— a teleologia do bem e do melhor como via de acesso para a
compreensão do mundo e do homem, e sobre qual se funda a natureza
ética da pyché [...];
— a valorização ética do indivíduo que encontrou sua expressão mais
conhecida na interpretação socrática do preceito délfico do “conhece te a
ti mesmo” (gnôthi sautón) do qual resulta a necessidade da Cura e do
cuidado com a “vida interior” [...];
— a primazia da faculdade intelectual no homem donde procede o
chamado intelectualismo socrático inspirando a doutrina da virtude-
ciência: ao exaltar o homem como portador do logos e ao fazer da
relação dialógica a relação humana fundamental, Sócrates é
provavelmente a fonte principal da definição do homem como zôon
logikón [...]. ”(Vas, 1998, p. 34 - 35)

Na concepção platônica, vemos uma conjunção entre a concepção pré-


socrática, a sofística e a socrática, onde:

“[...] a tradição pré-socrática da relação, do homem com o kósmos, a


tradição sofística do homem como ser de cultura (paideía) destinado à
vida política, e a herança dominante de Sócrates do “homem interior” e
da “alma” (psyché). ”(Vaz, 1998, p. 35 - 36)

A antropologia platônica, como exposto pelo autor, apresenta “realidade


transcendente à qual o homem se ordena pelo movimento profundo e essencial de todo
o seu ser: a realidade das Ideias”. Por fim ele considera o homem a conjunção do
corpo e da “alma”.
Na concepção aristotélica, o homem a natureza (physis), mas animada pelo
dinamismo teleológico da forma (entelécheia) que lhe é imanente e, como forma é seu
núcleo inteligível, em que o homem é estruturado pela biopsíquica, em que a psyché é
perfeição do corpo organizado, em conjunto com a racionalidade, que para Aristóteles,
afasta o homem dos outros seres naturais.
Para Aristóteles, a antropologia tinha que ser vista de forma estrita, uma
“filosofia das coisas humanas”, e o centro de sua concepção é a physis “animada pelo
dinamismo teleológico da forma (entelécheia) que lhe é imanente e, como forma ou
eidos, é seu núcleo inteligível”. (Vaz, 1998, p. 39)
Na concepção da idade helenística, o individuo encontra-se no centro da
reflexão filosófica, neste período de declínio da polis grega, o homem se vê afastando-
se do coletivo, e em busca da eudemonía, o viver feliz.
Mas em busca dessa eudemonia, seria necessário um programa, que seria
prazer verdadeiro (hedoné), que segundo o autor, se desenvolve esta antropologia,
conforme:

“Para tanto é necessário que a razão humana seja conduzida retamente,


tarefa que compete à Lógica ou “canônica” (kánôn) da razão; que o
universo seja compreendido corretamente, o que é obra da Física; e,
finalmente, que a ação humana, seja dirigida para o seu verdadeiro fim,
sendo este o objeto da Ética.” (Vaz, 1998, p. 44)

Na concepção neoplatônica, o homem tem uma faculdade sensível, que lhe


auxilia nos processos de conhecimento, é estruturado de uma forma triádica (Uno-
Inteligência-Alma), e pela descida desta alma para o corpo.
Para a visão neoplatônica, a forma definitiva da estrutura ontológica do homem
se dá por uma concepção dualista, que é: “dualismo subjetivo, alma sensível-alma
inteligível, ao qual corresponde o dualismo objetivo, sensível-inteligível ou tempo-
eternidade.” (Vaz, 1998, p. 49)
Em seu segundo capitulo, ele discorre sobre a concepção bíblico-cristã e
medieval do homem.
Na concepção bíblica, temos dois pontos principais, o primeiro é a questão do
homem em relação a Deus, que se exprime na palavra “imagem”, em que o homem é a
imagem e semelhança de Deus, e o segundo ponto é o critério da salvação em Cristo,
onde as ações terrenas darão passe livre para o céu.
Na concepção patrística, três fontes principais confluíram para a visão de Sto.
Agostinho, sendo elas a neoplatônica, com a estrutura do “homem interior”, a
antropologia pauliana, com a dialética entre o pecado e a graça, e a antropologia da
narração bíblica, em que o homem é a semelhança de Deus. Na visão agostiana, o
homem é um ser itinerante, de passagem na terra.
Na concepção medieval, inspira-se em três fontes para conceitua o homem, que
são a sagrada escritura, os padres da igreja, dentre eles Sto. Agostinho, e nos filósofos
clássicos, entre eles o destaque nos escritos de Aristóteles, porém, é com São Tomas
de Aquino que se encontra a melhor sintetizada a antropologia medieval. A concepção
tomásica está situada entre três concepções, sendo elas: a clássica, com o homem
sendo um animal racional; a concepção neoplatônica, onde o homem na hierarquia dos
seres e sendo a fronteira entre o espiritual e o corporal; e a bíblica, como imagem e
semelhança de Deus.
No terceiro capitulo, o autor trata da concepção do homem no humanismo,
racionalismo, idade cartesiana, época da Ilustração e concepção kantiana.
Na concepção do homem no humanismo, é uma concepção de ruptura entre a
imagem cristão-medieval e da imagem racionalista.
Na concepção racionalista, há um prolongamento do da tradição do zôon
logikón, porém acrescido do esquema mecanicista, e acaba por encontrar a visão de
Descartes. O método, criado por Descartes, conduz primeiramente ao fundamento
indubitável do Cogito, e, por sua vez, a inadequação entre a certeza e a verdade (o ser)
do Cogito e a certeza e verdade (o ser) do mundo exterior, que evidencia a ideia de
Infinito na mente, ou seja, o recurso a Metafísica. Em sua concepção humana, a
metafísica do espírito e a física do corpo podem existir uma sem a outra, por serem
naturezas completas, de um lado o “espírito” cujo existir se manifesta na evidencia do
Cogito; de outro, o “corpo” obedecendo aos movimentos e as leis que impelem a
maquina do mundo.
Na concepção na idade cartesiana vemos a concepção de Hobbes, onde o
homem tem capacidade cognoscitiva, em seu agir moral e em sua vida política, e a
visão de John Locke, do homem liberal, e do otimismo natural, em contraposição ao
estado natural agressivo do homem, pensada por Hobbes.
A concepção na época da Ilustração, o homem é visto sobre as luzes da Razão
e do progresso, é neste período que nasce a antropologia, como ciência do homem.
A concepção kantiana baseia-se em dois pontos, que são um procedimento
analítico cientifico que busca unificar os dados da observação por meio de uma teoria
das faculdades, cujo núcleo conceptual e a representação do Eu exprimindo em
consiência-de-si, e um plano de uma ciência situada no campo da Metafísica dos
Costumes, que possibilite a determinação da essência do homem.

Podemos ver a evolução da concepção de homem no período clássico, bem


delineada no transcorrer do tempo, passando do homem arcaico grego, preso pelos
mitos, evoluindo com o pensamento pré-socrático, em que esse homem se vê dentro
da physis. No período socrático há o questionamento sobre a “alma”, que para
Sócrates era a sede da excelência e das virtudes humanas, que irá se seguir também
no pensamento platônico, quando Platão faz a conjunção da alma e do corpo. Na
concepção aristotélica, o homem é estruturado pela biopsíquica e racionalidade, o que
o afasta dos outros seres naturais, e a busca pela eudemonía no período da idade
helenística, e o retorno de alguns pensamentos platônicos, no período neoplatônico.
Já nos períodos da idade média, vemos a continuidade do período neoplatônico,
porém misturados com conceitos bíblicos, como o homem a imagem e semelhança de
Deus, e a busca pela salvação em Cristo. Após vemos dois períodos, o primeiro com
Sto. Agostinho, com sua concepção de que o homem é um ser itinerante, que está só
de passagem, e no período medieval, a concepção de São Tomás de Aquino que
coloca o homem na hierarquia dos seres e sendo a fronteira entre o espiritual e o
corporal.
Por fim o período moderno, que com o desenvolver da ciência, o homem
readquire sua posição de zôon logikón, passando a ser responsável pelo seu pensar, e
causador do progresso.
REFERÊNCIAS
VAZ, P. H. C. L. ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA. 4ª. ed. São Paulo: Edições Loyola,
1998. 290p.

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