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LEÃO, G. O Que os jovens podem esperar da reforma do Ensino Médio Brasileiro? Educ. ver.

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vol.34, 2018. (Resenha)

Visando refletir sobre a reforma do ensino médio, expressa na Lei 13.415/17, Leão se debruça
sobre alguns dos principais aspectos da proposta para este nível de ensino que concebe como um
campo de disputa no qual orbitam diferentes agendas educacionais. As propostas expressas pela Lei
são, no texto, contextualizadas no quadro de longa disputa em torno de quais seriam os melhores
caminhos/soluções para o ensino médio. Nessa linha, embates antigos são aclarados de modo a ajudar
a entender o que está agora em questão. Há também uma ponderação sobre os jovens, refletindo o
lugar que ocupam e a frequente invalidação de que são alvo.
Começando pela atmosfera de discussão em torno da Lei, o texto destaca haver um consenso
em meio a muitas divergência. Trata-se da urgência de promover reforma neste nível de ensino. Em
parte, esta narrativa se estrutura em torno da concepção de que os problemas sociais no campo
educacional acumulam-se crescentemente ao longo da história da educação pública, marcada pela
desigualdade, retardamento e insuficiência. Nesse sentido, a reforma serviria ao confronto desses
problemas em acúmulo. Todavia, o autor – que não parece comungar de todo com a narrativa da
urgência – indaga-se se poderia ela superar, de fato, este cenário arraigado na própria história do
ensino médio, eivada de dilemas e contradições. A Lei em questão, que altera vários dispositivos
legais, amplia a carga horária progressivamente; excluindo o ensino noturno, no qual essa
prerrogativa não pode ser assegurada. O que se prevê para o noturno é a modalidade de EJA. Além
disso, institui o que designa como itinerários formativos, cinco eixos temáticos que poderão ser
arranjados a critério dos sistemas de ensino responsáveis pela sua promoção. O Ensino Técnico e
Profissional de Nível Médio assume centralidade na proposta, o que, segundo o autor, atende aos
interesses do mercado de trabalho e do sistema de ensino. Com a medida, fortalece-se a transferência
de recursos do setor público ao privado, atendendo a um sem número de interesses.
A partir de um breve histórico do ensino médio, é possível entrever alguns dos principais
embates que orbitam em torno deste nível de ensino, com especial destaque à tensão estabelecida
entre universalização e seletividade. Segundo o autor, o ensino médio surge marcado por dualidades
em termos da formação, fruto da tensão entre seus objetivos – se formação geral e comum a todos, se
notação profissionalizante, assinalada pela seletividade e segmentação; bem como das condições de
funcionamento (escolas boas e escolas precárias). Desde os anos 1930, coloca-se o debate em torno
do público deste nível de ensino cujo papel estaria atrelado ao aprofundamento do ensino básico,
portanto, tendo sua imprescindibilidade questionada. O autor busca fazer notar que, ainda que sob
novos contornos, essas tensões perduram sob novos contornos como pano de fundo no debate atual.
Ao recuperar outros marcos importantes da disputa que se travou em torno do ensino médio, observa
como avançou e retrocedeu ao longo das décadas as políticas para ensino médio. Atendo-se aos
últimos vinte anos, aponta à expressiva expansão de matrículas, desacompanhada, contudo, dos
necessários investimentos e compromisso estatal. A despeito da massificação, só muito tardiamente,
em 2007, ganharia formalmente estatuto obrigatório.
A edição da Lei é tomada por Leão como mais uma movimentação no jogo de forças no campo
de disputa em torno do ensino médio. Com isso em vista, discorre sobre alguns de seus aspectos: ao
pautar os a pretensa escolha do itinerário formativo, apontada como uma flexibilização, deixa
entrever como esta possibilidade, no limite, favorece apenas o corpo gestor; em contraponto dos
estudantes para quem as possibilidades estreitam-se. Com a espécie de abandono da escola noturna,
a tendência à seletividade exprime-se também. Além disso, a Lei prescindiu de mecanismos
participativos em sua formulação, sendo elaborada de cima para baixo, sem levar em conta a opinião
dos atores envolvidos. Ante às críticas, a narrativa da urgência veio a calhar para justificar a conduta.
Evocando Arroyo (2014), aponta para o uso da narrativa da urgência “como pretexto para interdição
do debate” (p.9). Ainda na esteira deste autor, advoga a favor de uma inovação do ensino que o Estado
deveria apoiar: aquela promovida no chão da escola. Trata-se da que já vem se dando na base, por
docentes e estudantes reais, ainda que dificultada pela falta de condições objetivas e subjetivas dos
envolvidos. Ao insistir no chão da escola como o lócus de inovação, passa à discussão sobre os jovens
e suas experiências escolares, promovendo uma reflexão sobre esses sujeitos.
Indaga-se o que têm eles a dizer e postula, de início, uma série de questões. Aventa sobre a
repercussão das transformações sociais sobre a juventude; os efeitos da massificação; da chegada de
novos sujeitos no ambiente escolar, alterando o perfil das salas de aula. Reflete sobre as tensões
produzidas por essa nova juventude em uma escola em que as transformações não foram tão intensas
e nem tão rápidas. Evidencia as tensões crescentes que perpassam a escola, envolvendo, entre outros,
as relações de autoridade. Aponta para a zona de limbo em que se encontram os estudantes, que vivem
o ofício do aluno de modo ambíguo; marcado por situações paradoxais. Há, segundo Leão, uma
dificuldade de tomá-los como agentes políticos capazes e necessários para pensar sobre as políticas
públicas, sobretudo àquelas que lhes dizem respeito; o que compreende como um silenciamento
atrelado à própria percepção que se tem sobre a juventude. Ora o jovem como problema, ora o jovem
como idealização, quando o que se deveria era se defrontar com o jovem concreto e com este
estabelecer relação. Na esteira dessa reflexão, apresenta a noção de condição juvenil como categoria
para pensar a juventude contemporânea. Assinala algumas de suas características, como a diversidade
e a experiência da desigualdade social que, dentre os efeitos, coloca-os em um horizonte limitado de
possibilidades. Advoga em favor do conhecimento de suas demandas e necessidades, de sua
participação no que diz respeito ao universo escolar (no mínimo). Conclui, de modo engajado,
defendendo a busca pela escola concreta, com seus erros e acertos. É essa que a pesquisa deve buscar.

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