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Rio de Janeiro
2008
Luciene Pereira Carris Cardoso
Rio de Janeiro
2008
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/BIBLIOTECA CCS/A
CDU 918.153
Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta tese.
______________________________________ _____________________________
Assinatura Data
Luciene Pereira Carris Cardoso
__________________________________________
Lúcia Maria Paschoal Guimarães (Orientador)
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UERJ
__________________________________________
Maria Letícia Corrêa
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UERJ
__________________________________________
Carlos Ziller Canenietzki
Universidade Federal do Rio de Janeiro
__________________________________________
Ida Lewkowicz
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
__________________________________________
Ângela de Castro Gomes
Fundação Getúlio Vargas
__________________________________________
Roberto Schmidt de Almeida
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Rio de Janeiro
2008
DEDICATÓRIA
Em primeiro lugar agradeço a Deus, que me deu a força necessária para terminar esta tese de
doutorado.
Gostaria de agradecer à minha família pelo apoio e a c ompreensão por minha ausência nestes
últimos meses , e em especial, Rosania e Dete por terem cuidado com tanto carinho do meu
menino e me ajudado diariamente.
Um agradecimento especial merece a Prof a. Dr a. Lúcia Maria Paschoal Guimarães, pelo
senso-crítico, pelo empenho, pela paciência, pelo estímulo constante e pela dedicação em me
orientar, conduzindo com louvor sua missão de me trazer até aqui.
Aos Profs. Drs. Antônio Edmilson Martins Rodrigues e Roberto Schmidt de Almeida pelas
críticas e sugestões dadas na defesa do exame de qualificação da tese.
Aos membros da banca de defesa da tese, por terem aceitado o nosso convite.
Aos meus queridos amigos: Janaína Furtado, Camilla Vilhena, Michael Rachid, Roberto
Farias, Ana Ravasco, Flávio Torquilho, Juliana Blumer, Cristina Pessanha, Francisco
Nascimento, Francisca Batista, André Azevedo, Alexandre Camargo e tantas outras pessoas
que me apoiaram em momentos diversos nestes quatros anos. Em particular, Carlos Cardozo ,
pelo carinho e pela paciência.
Há quem busque o saber só para poder exibir-se: é uma indigna vaidade. Estes não escapam
à mordaz sátira que diz: "Teu saber nada é, se não há outro que saiba que sabes".
Há quem busque o saber para vendê-lo por dinheiro ou por honras: é um indigno tráfico.
Mas há quem busque o saber para edificar, e isto é amor. E há quem busque o saber para se
edificar, e isto é prudência.
Bernardo de Claraval
RESUMO
Cardoso, Luciene Pereira Carris. Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro: espelho das
tradições progressistas (1910-1945). 170 p. Tese (Doutorado em História) – Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2008.
Esta tese examina a trajetória da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro entre 1910
e 1945, quando foi extinta para dar lugar a uma outra instituição, de âmbito nacional, a
Sociedade Brasileira de Geografia. Criada nos anos oitocentos, a associação foi um dos
redutos culturais que desfrutaram do patrocínio do imperador d. Pedro II. Com o advento do
regime republicano, a SGRJ sofreu contratempos políticos, mas continuou a desenvolver
atividades e projetos pedagógicos, que buscavam descortinar o Brasil aos brasileiros,
consoante o movimento nacionalista das primeiras décadas do século XX. Em 1930, a
Sociedade mostrou-se favorável ao golpe de estado que alçou Getúlio Vargas ao poder.
Durante a chamada era Vargas colaborou com o governo e foi integrada ao sistema geográfico
oficial do IBGE. Além disso, foi pioneira na promoção dos congressos brasileiros de geografia
entre 1909 e 1940. A SGRJ desde a sua fundação até a sua extinção atuou como um lugar
privilegiado para o debate e a reunião de estudiosos da matéria. Embora carecessem de
sistematização e de continuidade, é inquestionável que as práticas científicas desenvolvidas
pela SGRJ colaboraram para a formação do campo da disciplina.
This thesis analyses the trajectory of Rio de Janeiro Geographical Society (Sociedade
de Geografia do Rio de Janeiro, SGRJ) from 1910 to 1945, year of its replacement by another
institution, with nationwide influence, the Brazilian Geographical Society (Sociedade
Brasileira de Geografia). Created in the 19th century, that association was recognized as a
cultural refuge and counted with the support of the emperor D. Pedro II. When the regime
changed to republic, the SGRJ suffered from political adversities, but still developed
pedagogical activities and projects in order to show Brazil to Brazilians, which was the
agenda of nationalist movement on the first decades of the 20 th century. In 1930, the entity
supported the coup d’état led by Getúlio Vargas, made new president. During the Vargas era,
SGRJ collaborated with the government and was integrated as part of IBGE’s (Brazilian
Institute of Geography and Statistics) geographical official system. It also was pioneer
promoting the Brazilian Geographical Congresses between 1909 and 1944. From its
foundation to extinction, SGRJ gave space to the debate and the gathering of specialists, and
besides the lack of systematization and continuity, it is undeniable that the scientific practices
developed by the Society helped to solidify the geography discipline.
INTRODUÇÃO............................................................................................................14
CONCLUSÃO..........................................................................................................142
REFERÊNCIAS.......................................................................................................145
ANEXOS...................................................................................................................158
14
INTRODUÇÃO
daqui por diante denominada apenas Revista, editados entre 1910 e 1946, inclusive, as
publicações especiais como a Geografia do Brasil. Comemorativa do 1º. Centenário de
Independência do Brasil (1822-1922). O segundo é formado pelos Anais dos congressos
brasileiros de geografia organizados pela SGRJ. Complementam essas fontes, testemunhos
relativos ao diplomata José Carlos de Macedo Soares, compulsados no acervo do IHGB, e
documentos do arquivo pessoal de Mário Augusto Teixeira de Freitas, sob a guarda do
Arquivo Nacional.
No tratamento das fontes básicas, em especial, a coleção da Revista, utilizamos a
metodologia sugerida no “Colóquio de Estrasburgo”, para a análise de revistas históricas, em
particular, a contribuição de Alain Corbin, “Matériaux pour un centenaire”, texto que examina
minuciosamente o conteúdo da Révue Historique no período de 1876 e 1972. A metodologia
foi adaptada e aprimorada pela Prof. Dra. Lúcia Maria Paschoal Guimarães para a análise de
revistas especializadas, a exemplo da Revista Trimensal do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro (1995).
O recorte temporal adotado na investigação aborda o período 1910-1945. A primeira data
corresponde ao 2º Congresso Brasileiro de Geografia, promovido pela SGRJ, em São Paulo.
O marco final refere-se à reforma dos seus estatutos, quando o reduto científico fundado pelo
senador Manoel Correia desapareceu para dar lugar à Sociedade Brasileira de Geografia. A
periodização, porém, tornar-se-á flexível sempre que o fio condutor analítico exigir
informações que sustentem os argumentos do texto. Ademais, durante o levantamento da
documentação para preparar esta tese, fomos surpreendidos pela existência de fontes inéditas.
Deparamo-nos, em especial, com os testemunhos da presença do geógrafo francês Élisée
Réclus na SGRJ, em 1893.
Decidimos, então, no primeiro capítulo, elaborar uma rápida síntese dos primórdios da
Sociedade, de maneira a esclarecer as motivações que levaram o sábio francês a visitá-la.
Ainda neste capítulo, desenvolvemos uma revisão historiográfica a respeito do processo de
institucionalização dos estudos de geografia no Brasil, a partir da contribuição pioneira de José
Veríssimo, publicada na coletânea organizada por Fernando de Azevedo. Considerada obra de
referência até hoje para os estudiosos, as premissas ali formuladas da existência de um “vazio
científico” no Brasil, anterior à fundação das universidades, são ainda correntemente
disseminadas.
16
(...) Se é verdade que o real é relacional, pode acontecer que eu nada saiba de uma
instituição acerca da qual eu julgo saber tudo, porque ela nada é fora das suas
relações com o todo.
(Pierre Bourdieu, O poder simbólico, 2005)1
1
Pierre Bourdieu, O poder simbólico, Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005, p.31.
2
Para o sociólogo francês Pierre Bourdieu, o campo científico se assemelha a uma arena de poder que se manifesta de forma
simbólica. Trata-se de um espaço de luta pela autoridade científica em função da posição de cada agente, em que aparecem
indissociáveis os problemas políticos e científicos, bem como seus métodos e estratégias. As práticas sociais dos atores
constituem um produto das experiências adquiridas, os habitus socioculturais, que definem o campo social.
19
geográficos. No seu ponto de vista: (...) o movimento geográfico que acudiu a Europa se
espelhou no país na segunda metade do século XIX. Porém, faltou a criação do ensino
geográfico em nível universitário. Não havia preparação técnica e científica, não sendo
realmente frutuosa.3 José Veríssimo da Costa Pereira compartilha da visão de Fernando de
Azevedo, de que a herança colonial cultural ibérica, sobretudo portuguesa, constituiu um
entrave para o desenvolvimento da ciência no Brasil:
(...) O espírito científico que se havia propagado pela Europa, sobretudo a partir do século
XVII, se despontou em Portugal e Espanha, não encontrou aí condições favoráveis ao seu
desenvolvimento normal, e a cultura que esses dois povos transferiram para a colônia foi
exatamente a que neles acabou por predominar, a despeito das participações iniciais de um e
de outro nas conquistas do Renascimento.4
3
José Veríssimo da Costa Pereira, “A geografia no Brasil”. In: Fernando de Azevedo (org.), As ciências no Brasil. Rio de
Janeiro: Ed. UFRJ,1994, p. 369.
4
Cf. Fernando de Azevedo, “Introdução”. In: Fernando de Azevedo (org.), As ciências no Brasil. Rio de Janeiro: Ed.
UFRJ,1994, p. 19.
5
Moema Resende de Vergara, “Ciência e modernidade no Brasil: a constituição de duas vertentes historiográficas no Brasil
no século XX”. Revista da SBHC, Rio de Janeiro, v. 2, n. 1, jan./jun., 2004, p. 22-31.
6
Nelson Werneck Sodré, Introdução à geografia: geografia e ideologia. Rio de Janeiro: Ed. Vozes, 1977, p. 11.
20
pesquisa científica. Defende, ainda, a noção da transferência de idéias científicas dos grandes
centros europeus para os países periféricos, ignorando as intervenções locais. 7
Alguns trabalhos recentes sobre a institucionalização da geografia no país continuam a
refletir as idéias formuladas por Fernando de Azevedo. A geógrafa Lia Osório Machado
definiu o cenário intelectual brasileiro do final dos Oitocentos, como (...) provinciano e
dominantemente dependente dos centros estrangeiros de difusão. Em outras palavras, as
idéias circulavam em mão única. 8 Seguindo a mesma linha de raciocínio, Mônica Sampaio
Machado advoga que: (...) embora não se possa deixar de reconhecer a existência de importantes
idéias geográficas no país nesse período, o verdadeiro impulso de modernização do saber geográfico
no país nesse período é recebido com a implantação das instituições mencionadas e das relações
estabelecidas entre seus profissionais.9
Por sua vez, Antonio Carlos Robert de Moraes entende que a condição colonial
periférica determinou a história das ciências no Brasil. Ao longo do século XIX, formou-se um
ambiente marcado pela disseminação de um discurso geográfico impregnado por correntes
teóricas vindas de fora e a alusão aos geógrafos europeus.10 Em 1822, com a emergência do
Estado independente, elaborou-se um discurso sobre o território como referência da unidade
nacional, pensamento que adentrou às primeiras décadas do regime republicano. Mas tal
processo caracterizou-se pela dispersão do saber geográfico e pela falta de identidade
disciplinar nas instituições de ensino superior existentes, tais como as faculdades de direito, de
medicina e de engenharia, bem como nas comissões de fixação de fronteiras.
De acordo com Moraes, apenas no século seguinte, o surgimento das universidades e
de outros centros especializados possibilitaria a demarcação de fontes para a história da
geografia, o que não implica limitar as “ideologias geográficas” a tais espaços. Ele aponta dois
caminhos de pesquisas que se cruzam, mas cujas tendências historiográficas se mostram
distintas. A primeira constitui uma história das idéias geográficas voltada para os discursos e
as reflexões sobre o território e a geografia, denominada pelos estudiosos de “pensamento
7
Simon Schwartzman, Um espaço para ciência: a formação da comunidade científica no Brasil. Brasília: MCT, Centro de
Estudos Estratégicos, 2001.
8
Lia Osório Machado, “As idéias no lugar: o desenvolvimento do pensamento geográfico no Brasil no século XX”. Terra
Brasilis, Rio de Janeiro, n. 2, jul./dez., 2000, p. 11.
9
Mônica Sampaio Machado, A geografia universitária carioca e campo científico disciplina da geografia brasileira. Tese de
Doutorado, Programa de Pós Graduação em Geografia Humana, Universidade de São Paulo, 2002, p. 14.
10
Antonio Carlos Robert de Moraes, “Notas sobre identidade nacional e a institucionalização da geografia no Brasil”.
Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 4, n. 8, 1991, p. 6-7.
21
11
Antonio Carlos Robert de Moraes, Território e história no Brasil. São Paulo: Hucitec, 2002, p. 36-44.
12
Cristina Pessanha Mary, A Sessão da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil e o sonho de um império africano. Tese
de Doutorado, Programa de Pós Graduação em História Social, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006. Ver os
trabalhos de: Lúcia Maria Paschoal Guimarães, “Debaixo da imediata proteção de Sua Majestade Imperial: o Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro (1838-1889)”. Revista do IHGB, Rio de Janeiro, n. 388, 1995. Da mesma autora, ver
também: Da escola palatina ao silogeu: Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1889-1938). Rio de Janeiro: Museu da
República, 2007; Manoel Luiz Salgado Guimarães, “Nação e civilização nos trópicos: o IGHB e o Projeto de uma História
Natural”. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n.1, 1988, p. 5-27; Lilia Moritz Scwarcz, Os guardiões de nossa história
oficial, os institutos históricos e geográficos brasileiros. São Paulo: IDESP, 1989.
13
Maria Amélia Mascarenhas Dantes, “A implantação das ciências no Brasil: um debate historiográfico”. In: José Jerôn imo
de Alencar Alvez (org.), Múltiplas faces da ciência na Amazônia. Pará: Universidade Federal do Pará, 2005, p. 33.
22
14
Sílvia F. Mendonça Figueirôa, “Marcos para uma história das ciências no Brasil”, In: As ciências geológicas no Brasil:
uma história social e institucional, 1875-1934. São Paulo: Hucitec, 1997, p. 15-32.
15
Carlos Ziller Camenietzki, “Problemas da história da ciência na época colonial: a colônia segundo Caio Prado Junior‟. In:
Ana Maria Ribeiro de Andrade (org.), Ciência em perspectiva: Estudos, ensaios e debates. Rio de Janeiro: MAST, SBHC,
2003, p. 102.
16
Carlos Ziller Camenietzki, “O cometa, o pregador e o cientista: Antônio Vieira e Valentin Stansel observam o céu da Bahia
no século XVII. Revista da SBHC, Rio de Janeiro, n. 14, jul./dez., 1995.
17
Carlos Ziller Camenietzki, “Esboço biográfico de Valentin Stansel (1621-1705), matemático jesuíta e missionário na
Bahia”. Ideação, Feira de Santana, n. 3, jan./jun., 1999, p. 175.
18
Juan José Saldaña, “Ciência e identidade cultural: história da ciência na América Latina”. In: Sílvia F. Mendonça Figueirôa
(org.), Um olhar sobre o passado: história das ciências na América Latina. Campinas: Ed. Unicamp; São Paulo: Imprensa
Oficial, 2000, p. 11-32.
19
Hebe M. C. Vessuri, “Los papeles culturales de la ciência en los paises subdesarrollados”. In: Juan José Saldaña (ed.), El
perfil de la ciencia en America. Quipu, México, n. 1, 1986, p. 9.
20
Dominique Pestre, “Por uma nova história social e cultural das ciências: novas definições, novos objetos, novas
abordagens”. Cadernos IG-Unicamp, Campinas, vol. 6, n.1, 1996, p. 16-19. Neste artigo, Dominique Pestre desenvolveu um
23
Segundo a perspectiva clássica, a geografia brasileira oitocentista, por assim dizer, foi
considerada como uma área do conhecimento pré-científica, freqüentada por diletantes e sem
autonomia em relação aos grandes centros do Velho Mundo. Entretanto, pesquisas mais recentes
ressaltam a importância de certos espaços institucionais como núcleos produtores de
conhecimento, tais como os estudos sobre os museus de história natural, a Sociedade Auxiliadora
da Indústria Nacional, a Escola de Minas de Ouro Preto, a Seção da Sociedade de Geografia de
Lisboa no Brasil e a Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo. 21 Evidencia-se a
preocupação que norteou tais espaços em desenvolver atividades de exploração dos recursos
naturais, de pesquisas nas áreas agrícola e sanitária, bem como investigações no âmbito da
etnografia. Havia o que podemos considerar um esforço de identificar os problemas nacionais e
tentar resolvê-los, de modo a inserir o país no rol das nações civilizadas. De qualquer modo, o
processo de institucionalização da ciência no Brasil trazia as marcas da Ilustração, com a
valorização das ciências, com a participação dos intelectuais que incorporaram modelos do
exterior e ao mesmo tempo procuraram adaptá-los e desenvolvê-los em consonância com a
realidade nacional. 22
Por outro lado, é certo que o movimento geográfico europeu sofreu uma série de
transformações ao longo do século XIX. Aliás, o período seria marcado por grande
efervescência, iniciada com a criação das primeiras cátedras de geografia nas universidades de
diversos países. O primeiro passo foi dado pelo governo prussiano em 1874. Personalidades
como Ferdinand Von Richthofen, Friederich Ratzel, e posteriormente Paul Vidal de La
Blache, deixariam suas marcas nesse processo, com novos enfoques metodológicos que
ajudaram a consolidar o campo profissional. 23 O movimento se intensificaria com as grandes
expedições e as explorações científicas direcionadas para devassar o interior dos continentes.
O aparecimento de outros campos disciplinares também colaborou para essa nova geografia.
As observações astronômicas e oceânicas, por exemplo, produziram a multiplicação de novos
mapas cada vez mais precisos. O desenvolvimento dos serviços de estatísticas regulares, das
inventário das tendências da historiografia das ciências que atravessava a renovação similar da História dos Annales nos anos
30.
21
Maria Amélia Mascarenhas Dantas, “As ciências na história brasileira”. Ciência e Cultura, jan./mar. 2005, v.57, n.1, p. 26-
29. Sobre as instituições brasileiras criadas, ver: José Murilo de Carvalho, A escola de Minas de Ouro Preto, o peso da
glória, Minas Gerais: UFMG, 2002; Silvia F. Mendonça Figueirôa, op.cit.; Maria Margaret Lopes, O Brasil descobre a
pesquisa científica. Os museus e as ciências naturais no século XIX, São Paulo: Hucitec, 1997; Maria Amélia M. Dantes
(org.), Espaços da ciência no Brasil. 1800-1930, Rio de Janeiro, Ed. Fiocruz, 2001; Heloísa Maria Bertol Domingues,
Ciência: um caso de política. As relações entre as ciências naturais e a agricultura no Brasil-Império, Tese de Doutorado,
Programa de Pós Graduação em História Social, Universidade de São Paulo,1996, Cristina Pessanha Mary, op. cit.
22
Silvia F. Mendonça Figueirôa, op. cit.
23
Cf. Nilo Bernardes, “O pensamento geográfico tradicional”. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, n. 44, v. 3,
jul./set., 1982, p. 392-393.
24
ciências biológicas e das ciências sociais contribuiu com novos debates, reforçando o estudo
das relações entre o homem e o meio.
É nesse momento que o interesse pelo conhecimento geográfico se consolidou, com o
aparecimento de sociedades geográficas nas capitais européias e no novo continente, como
bem demonstram as pesquisas de Horácio Capel. Na Europa, a multiplicação dos grêmios
articulava-se à expansão colonial, à necessidade de se conhecer as colônias, de buscar novos
territórios com interesse no intercâmbio comercial, na difusão da produção industrial e da
cultura européia. Os estudos geográficos, por conseguinte, estavam a serviço dos interesses
“imperialistas”, pois, a conquista de um território implicava também no reconhecimento de
sua realidade, (...) a engrenagem deste movimento foi complexa demais para reduzir o papel das
sociedades de geografia a meros fantoches de políticas colonialistas: não raro, os institutos de
geografia constituíram-se, por si mesmos, como centros formuladores destas políticas, aglutinando
grupos para pressionar governos (...).24 Segundo Milton Santos, o saber geográfico colonial
manteve uma dificuldade de se dissociar dos interesses do Estado: a utilização da geografia
como instrumento da conquista colonial não foi uma orientação isolada, particular a um
país. Em todos os países colonizadores, houve geógrafos empenhados nessa tarefa (...).25
O estabelecimento da Sociedade de Geografia de Paris em 1821, por exemplo,
articulava-se à política expansionista colonial e econômica francesa, liderada pelo Duque de
Richelieu. O grêmio parisiense manteve desde sua fundação laços estreitos com o poder. Sua
revista especializada dedicou-se, principalmente, a relatar descobertas de novos territórios e a
homenagem aos exploradores que beneficiavam o desenvolvimento da geografia francesa. Em
síntese, tratava-se de: (...) cooperar los progresos de la geografia; impulsa a que se emprendan
viajes a los territórios desconocidos; propones y concede prêmios; establece correspodencia com las
Sociedads sabias, los viajeros y los geógrafos; publica relaciones inéditas y libros, y hace grabar
mapas26.
Inspiradas no modelo francês, várias associações foram fundadas no continente
americano: a Sociedad Mexicana de Geografia y Estadistica (1833), a American
Geographical Society (Nova York, 1852), e a Société de Géographie de Québec (1877). Tais
entidades possuíam características comuns, ou seja, pretendiam divulgar o conhecimento
científico, por meio de intercâmbio de publicações, da participação em congressos, das trocas
24
Cristina Pessanha Mary, op. cit, p. 34.
25
Milton Santos, Por uma geografia nova: da crítica da Geografia a uma Geografia Crítica. São Paulo: Edusp, 2002, p. 31.
26
Horacio Capel, op. cit., p.175-176.
25
27
Leoncio Lópes-Ocón, “Les Sociétés de Géographie: un instrument de diffusion scientifique en Amérique Latine au debút
du XXa. Siécle”. In: Patrick Petitjean, (dir), Les Sciences Hors d‟Occident au Xxe. siécle. Paris: Orstom, p. 79- 85. O autor
compara as atividades de cinco sociedades geográficas da América Latina, entre 1833 e 1933, recuperando a história
institucional de cada uma delas: Sociedade Mexicana de Geografia e Estatística, Instituto Geográfico Argentino, Sociedade
de Geografia de Lima, Sociedade de Geografia de La Paz e Instituto Físico-Geográfico de Costa Rica.
28
Idem, p.83.
29
SGRJ, “Estatutos da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro”, Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 1, n. 1, 1885. p. 191.
26
30
Idem.
31
Cristina Pessanha Mary, “A geografia no Brasil nos últimos anos do império”. Revista da Sociedade Brasileira de História
da Ciência, Rio de Janeiro, v. 3, n.2, jul./dez., 2005, p. 157.
32
Lúcia Maria Paschoal Guimarães, “Debaixo da imediata proteção de Sua Majestade Imperial: o Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro (1838-1889)”. Revista do IHGB, Rio de Janeiro, n. 388, 1995.
33
Lúcia Maria Paschoal Guimarães, “Fronteiras”. In: Ronaldo Vainfas (org.), Dicionário do Brasil Imperial. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2002, p. 380-381.
27
definidos. Defendia-se a doutrina da ocupação anterior, que permitia ao país manter a sua
configuração territorial fixada no século XVIII.34
Quanto à filial da Sociedade de Geografia de Lisboa existente no Rio de Janeiro, é
importante observar que desde os tempos coloniais os portugueses procuravam preservar os
costumes da mãe-pátria, através de valores culturais, da religião e do idioma, estimulando um
sentimento comum de fraternidade entre as duas nações. Procuravam difundir uma imagem
positiva da figura lusíada, comumente associada ao estrangeiro desonesto, usurário e
explorador. 35 Assim, o desejo de manter as tradições e o sentimento de solidariedade
colaborou para o surgimento de instituições culturais, científicas, recreativas e assistenciais
como o Liceu Literário Português (1868), o Clube Ginástico Português (1868), o Real
Gabinete Português de Leitura (1887), entre outras. Vale lembrar que os imigrantes
portugueses se distribuíram em diversos segmentos da sociedade brasileira, em especial no
setor comercial urbano, nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, ainda que a política
imigratória estivesse direcionada para a substituição do trabalho escravo nas lavouras. 36 Ao
lado dos espanhóis e dos italianos, compunham um dos maiores contingentes de estrangeiros
que aportaram no Brasil, entre a Independência e a Segunda Guerra Mundial. 37
A fundação da instituição do Rio de Janeiro, deu-se dois anos depois da instalação da
matriz de Lisboa (1876), cujo estabelecimento articulava-se com a política colonial no
ultramar português. Sabe-se que na segunda metade do século XIX, a antiga metrópole
reforçou seus interesses no continente africano. Até então, manifestava-se uma idéia difusa da
importância potencial das possessões ultramarinas. As ações empreendidas restrigiam-se a um
reduzido número de empresários e de raros detentores de cargos coloniais. Com o surgimento
da Sociedade de Geografia de Lisboa abriram-se as portas para oficiais de exército e da
marinha, funcionários, engenheiros e técnicos de obras públicas, negociantes, proprietários,
intelectuais de diversas origens. Personalidades que se destacavam no cenário das letras, da
política e das armas.38
34
Idem. p. 302.
35
Tânia Maria Tavares Bessone Ferreira & Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves, “As relações culturais ao longo do século
XIX”. In: Luiz Amado Cervo (org.), Depois das caravelas: as relações entre Portugal e Brasil, 1808-2000. Brasília: Editora
da Universidade de Brasília, 2000, p. 250.
36
Sheila Castro Faria, “Imigrantes”. In: Ronaldo Vainfas (org.), Dicionário do Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Objetiva,
2002, p. 352.
37
Sérgio Luiz Mesquita, Sociedade Central de Imigração. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós Graduação em História
Política, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 1999.
38
Valentim Alexandre, Velho Brasil, novas Áfricas: Portugal e o Império (1808-1975). Lisboa: Editora Afrontamento, 2000,
p. 236.
28
39
Cristina Pessanha Mary, op. cit., p. 85.
40
Tânia Maria Tavares Bessone Ferreira & Lúcia Maria B. Pereira das Neves, op. cit.
41
Cristina Pessanha Mary, op.cit., p. 100. As personalidades convidadas para a fundação da Seção Filial do Rio de Janeiro:
visconde de Borges Castro; Antonio Luiz Von Hoonholtz, o barão de Tefé, visconde de São Salvador de Matosinhos,
Benjamin Franklin Ramiz Galvão, o barão de Ramiz, Boaventura Gonçalves Roque, o visconde do Rio Vez; Cândido
Mendes de Almeida; Augusto Emílio Zaluar; Francisco Maria Cordeiro de Souza; General Henrique Pedro Carlos de
Beaurepaire Rohan, visconde de Beaurepaire Rohan; João Marçal Moreira Pacheco; Lucas da Costa Faria; Miguel Ribeiro
Lisboa; Pedro Gastão Mernier; Wenceslau de Souza Guimarães.
42
Idem, p. 167.
29
43
Cristina Pessanha Mary, op. cit, p.159.
44
SGRJ, “Introdução”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, n. 1, t.1, 1885, p.7.
45
Cf. Edmundo Campos Coelho, As profissões imperiais: Medicina, Engenharia e Advocacia no Rio de Janeiro, 1822-1930.
Rio de Janeiro: Record, 1999, p. 96.
30
ideológica que indicava o seu caráter coletivo. As faculdades seriam o melhor caminho para
socialização desses indivíduos, devido ao fato de existirem poucas instituições de ensino
superior, da mesma forma no que diz respeito ao ensino secundário, fato que certamente
possibilitava a continuidade desses laços de amizade na vida profissional e política. 46
As reuniões da Sociedade eram realizadas na Escola Pública Barão do Rio Doce, na
Freguesia da Nossa Senhora da Glória. O local já era conhecido desde 1873 devido às
chamadas “Conferências da Glória”, idealizadas pelo Senador Correia. Nestes encontros
discutiam-se assuntos contemporâneos sobre os diversos ramos do conhecimento, a exemplo,
da Literatura, Medicina, Geociências, entre outros saberes. A “tribuna da Glória” como ficou
conhecido este espaço intelectual transformou-se num centro de debates polêmicos de
interesse público, promovendo intensas discussões sobre as ciências.
A efervescência gerada pelas descobertas científicas e a valorização e promoção do saber
repercutiram em todo o País. Este fato rompeu o século e as fronteiras do Rio de Janeiro,
influenciando toda uma geração entusiasmada em propagar os bons ventos do conhecimento em
periódicos, o meio de divulgação mais utilizado na época. 47 As reuniões transformaram-se num
verdadeiro evento cultural da Corte, devido a presença assídua do Imperador que participava
das palestras como um expectador comum, que embora não as patrocinasse formalmente, era
como se o fizesse pela presença, que podia afastar inimigos políticos, mas era um endosso
poderoso não apenas à iniciativa como à própria prática das conferências públicas. 48 Também
foi cogitada a possibilidade de se ocupar algumas das salas da Escola Politécnica, visto que as
sessões eram realizadas aos domingos, que não comprometeria as atividades acadêmicas. Seja
com for, o que vale ressaltar são os laços de sociabilidades que aqui se apresentam entre as
instituições, um esforço comum para se instituir um novo reduto intelectual.
As instituições culturais e científicas, a exemplo da Sociedade de Geografia do Rio de
Janeiro, constituem uma estrutura elementar de sociabilidade. São lugares de fermentação da
intelectualidade e também de relação afetiva, na expressão de Jean-François Sirinelli. Ao
mesmo tempo viveiro e espaço de sociabilidade, a análise da sua atuação permite verificar o
46
José Murilo de Carvalho, Teatro de Sombras: a política imperial. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, Relume-Dumará, 1996,
p. 64-65.
47
Cf. Maria Rachel da Fonseca. “As conferências populares da Glória: a divulgação do saber científico”. Revista
Manguinhos: História, Ciências e Saúde, Rio de Janeiro, Fiocruz, v. 2, n.3, nov./fev., 1996, p.135-166.
48
Ver, a este respeito, José Murilo de Carvalho, “As conferências radicais do Rio de Janeiro”. In: José Murilo de Carvalho
(org.), Nação e cidadania no Império: novos horizontes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, p. 33.
31
49
Cf. Jean François Sirinelli, “Os intelectuais”. In: René Rémond (org.), Por uma História Política. RJ: UFRJ, FGV, 1996, p.
231-270.
50
Antônio Luiz Machado Netto, A Estrutura social da república das letras: sociologia da vida intelectual brasileira, 1870-
1930. São Paulo: Grijalbo, EDUSP, 1973, p. 125-129.
51
José Veríssimo da Costa Pereira, op. cit., p. 396.
32
período de 1907 e 1912, sob os auspícios do governo brasileiro, de acordo com o Tratado de
Petrópolis de 1903, pactuado com a Bolívia e constituindo uma das reparações oferecidas
àquele país pela perda do então território do Acre. 52
Outro empreendimento da Sociedade que obteve grande repercussão em vários
periódicos nacionais e internacionais foi o transporte do meteorito de Bendegó do interior da
Bahia para a Corte. Mas a Sociedade também se deixou influenciar pelo movimento das
explorações geográficas, aludidos no início deste capítulo. Patrocinou uma expedição a áreas
desconhecidas do Mato Grosso53, formada pelos militares Oscar de Oliveira Miranda, José
Carlos da Silva Telles, Antonio Lourenço da Silva Telles Pires e Augusto Ximeno de Villeroy.
É importante lembrar que aquela província era alvo das preocupações do governo de d. Pedro
II, pois lá se concentravam uma armada e uma estação de pesquisa, além de diversas
fortificações, algumas construídas no tempo colonial. Após a Guerra do Paraguai, o Império
redobrou seus cuidados com a região. Apesar disso, as informações continuavam escassas e
pouco confiáveis. Os melhores dados ainda estavam nos relatos de viajantes estrangeiros.
Nomes como o explorador alemão Carl von den Steinen, cujas narrativas serviriam como
apoio às missões do grupo.
A expedição da Sociedade buscava registrar novos conhecimentos relativos à:
geografia, à história natural, à antropologia e etnologia, à zoologia, à botânica, à geologia, à
meteorologia e ao magnetismo terrestre. Porém, o empreendimento não obteve o sucesso
esperado. Era tamanho o desconhecimento da região, que vários homens se perderam na mata
e outros tantos morreram, a exemplo de Telles Pires, hoje nome de um rio da bacia amazônica.
Outra iniciativa que merece registro foi a Exposição Geográfica Sul-Americana,
realizada em 1889, para comemorar a passagem do quinto aniversário da Sociedade. O evento
contou com a participação do Chile, da Bolívia, do Paraguai, do Uruguai, da Venezuela e da
Argentina, além de diversas entidades nacionais, a exemplo do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, da Escola Politécnica, do Arquivo Militar, do Museu Nacional, do
Observatório Imperial, do Arquivo Público do Império, da Repartição Hidrográfica, além da
biblioteca particular de d. Pedro II e de material proveniente das províncias.
A Sociedade de Geografia também serviu de palco para discussões sobre problemas de
limites interprovinciais, bem como de demarcação de fronteiras com países lindeiros.
52
Sobre este assunto ver, Francico Foot Hardman, Trem-fantasma: a ferrovia Madeira-Mamoré e a modernidade na selva.
São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
53
Ver Sérgio Luiz Nunes Pereira, Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro: origens, obsessões e conflitos (1883-1944).
Tese de Doutorado, Programa de Pós Graduação em Geografia, Universidade de São Paulo, 2002.
33
54
SGRJ, “Ata da sessão de 27 de maio de 1887”, Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t.4, n. 2, 1888, p. 167.
55
Lúcia Maria Paschoal Guimarães, Da escola palatina ao silogeu: Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1889-1938).
Rio de Janeiro: Museu da República, 2007, p. 23.
34
Rio Doce, como já se apontou.56 Esta observação é muito importante, pois na documentação
da SGRJ, talvez por influência do saudosismo imperial, privilegiam-se as notícias sobre a
falta de verbas oficiais e a censura imposta ao marquês de Paranaguá pelo governo de
Floriano Peixoto. Porém, uma análise mais acurada daqueles testemunhos revela que as
atividades continuaram a se desenvolver, prestigiadas inclusive por grandes especialistas
estrangeiros. É certo que as referências recorrentes ao ex-imperador trouxeram algumas
dificuldades para a entidade, entretanto, isto não abalou a intenção de seus associados de
contribuir para ampliar os conhecimentos geográficos sobre a Nação debaixo da bandeira
republicana. 57
O desaparecimento de D. Pedro II, presidente honorário da SGRJ, mereceu atenção
nas páginas da Revista, o protetor desvelado das letras, das ciências, das artes, da indústria,
do comércio, em uma palavra, de todos os elementos de prosperidade, de civilização, de
progresso e de grandeza da nossa pátria.58 O marquês de Paranaguá relembrou os tempos de
glória das sessões em que a associação costumava receber o ex-monarca e aproveitou a
ocasião para relatar um trecho de uma carta pessoal de Sua Majestade, agradecendo a oferta
dos últimos boletins e do catálogo da Exposição Geográfica Sul Americana de 188959. No
Brasil, a SGRJ nomeou uma comissão especial para a cerimônia que os amigos de D. Pedro II
organizaram. Na França, foi representada pelo filho do marquês de Paranaguá, José
Paranaguá.
O ex-Imperador haveria de ser lembrado na Sociedade por anos. Em 1906, no 87º.
aniversário do marquês de Paranaguá realizou-se uma solenidade especial. Participaram
antigos freqüentadores do Paço Imperial, como Paulo de Frontin, barão de Alencar e José
Barbosa Rodrigues, este último diretor do Jardim Botânico. O sócio Manoel de Oliveira Lima
enalteceu o velho marquês que optou por afastar-se da vida política com advento do regime
republicano, mas manteve-se fiel às suas preocupações cívicas como presidente do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro e da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, salientando
que a última:
56
SGRJ, “Ata da sessão ordinária de 06 de junho de 1890”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 7, 1891, p. 147. Este espaço
também foi ocupado pela Repartição de Estatística e pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
57
Cf. Luciene P. Carris Cardoso, Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro: Identidade e Espaço Nacional (1883-1909).
Dissertação de Mestrado, Programa de Pós Graduação em História Política, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2003.
58
SGRJ, “Necrologia”, “Ata da sessão de sete de setembro de 1891”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 7, 1891, p. 299.
59
Idem.
35
(...) foi sempre protegida pelo Sr. D. Pedro II, seu presidente honorário, o grande príncipe, o
grande brasileiro, que tudo auxiliava em bem das ciências, artes e indústrias do país e a
todos os cidadãos que sem recursos e com mérito desejavam se instruir e se ilustrar. A
prova disso é a conservação de seu retrato, coberto de crepe que é uma recordação e prova
de gratidão, veneração e respeito às suas virtudes cívicas e morais que não podem ser
esquecidas. Circunstancias especiais, que não vem ao caso dizer, empanaram o seu brilho e
progresso, enquanto que quase todas as sociedades científicas de História e Geografia da
Europa e da América continuam a remeter todas as suas revistas e obras, apesar de não as
receber em troca.60
60
SGRJ, “Ata da sessão ordinária 21 de agosto de 1906”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 19-20-21, 1906-08, p. 63.
61
Cf. José Veríssimo da Costa Pereira, op. cit., p. 417.
62
SGRJ, “Ata da sessão de 22 de outubro de 1891”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 8-9, 1892-1893, p. 209.
63
Idem, p. 210.
64
Idem, p. 215.
36
(...) E, como o que torto nasce, tarde ou nunca se endireita, aí estão os fatos recentes a
causar apreensões sérias ao Brasil. Ora, é irritação dos brasileiros, que ali se haviam
estabelecido numa parte do território nacional. Ora, são os bolivianos a arrendá-lo a um
sindicato sul-americano. E agora o Governo do Brasil emaranha-se em novas dificuldades,
69
que estuda e discute, a fim de dar-lhe conveniente solução.
A propósito das questões levantadas por Paula Freitas, o barão de Tefé ofereceu à
Sociedade um mapa que havia preparado, traçando a fronteira do Brasil entre os rios Beni e o
65
Idem, p. 216.
66
Cf. Cândido Firmino de Mello Leitão, História das expedições científicas no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Nacional,
1941, p.135. (Coleção Brasiliana, v. 209)
67
SGRJ, “Ata da sessão de 20 de maio de 1902”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 15, 1903, p. 94.
68
Idem, p. 95.
69
Idem.
37
Javari. Em artigo publicado no Jornal do Commercio, sob o título “As nascentes do rio
Javari”, Teffé revidou as críticas e defendeu-se confrontando a linha do Beni ao Javari traçada
por sua comissão com as informações levantadas do grupo liderado por Cruls: (...) veio dizer-
nos que não desmembrou uma só polegada do território nacional e que a sua linha é que faz
o Brasil perder menos terreno. 70
Na réplica ao barão de Tefé, Paula Freitas reafirmava a necessidade de identificar com
precisão a nascente do rio Javari e de explorar todos os seus afluentes. Relembrou as
atividades desenvolvidas pelas quatro comissões anteriores. A primeira, a comissão Ladário
de 1864, malogrou devido aos ataques dos índios. As outras três expedições: a de Teffé-Black
de 1874, a de Cunha Gomes de 1897 e a de Luiz Cruls de 1901 seguiram o mesmo trajeto:
subiram o rio Javari até a bifurcação dos rios Galvez e Jaquirana, seguindo este último até a
sua nascente. Cada uma das missões emitiu coordenadas completamente diferentes. Paula
Freitas questionou, ainda, os argumentos de Teffé, sobretudo as coordenadas do mapa por ele
elaborado, e concluiu que houve perda de território para o Brasil. Para ele, a solução seria
demarcar a fronteira até o limite da Bolívia com o Peru. Assim, a nascente do Javari seria
finalmente conhecida, executando-se, deste modo, o protocolo do tratado de 1867:
(...) Não tem igualmente razão o sr. Barão de Teffé, para dizer no seu artigo que „a questão
tem sido discutida nestes últimos anos que o governo e povo acham-se desorientados‟. Se o
povo aqui quer dizer os que têm tomado parte na discussão, é forçoso confessar que o povo
tem antes obstado a má orientação dada ao caso em questão pelo Governo, desde que tratou
erradamente de demarcar a linha geodésica Teffé-Black, como o fecho da fronteira entre o
Beni e o Javary. 71
Apesar dos debates acalorados na Sociedade, somente em 1903, quando Rio Branco
estava à frente do Ministério das Relações Exteriores, resolveu-se a questão dos limites entre
o Brasil e a Bolívia, por meio da assinatura do Tratado de Petrópolis. 72
Tal qual ocorria no período imperial, a Sociedade continuou a abrir suas portas para
ilustres viajantes após o advento da República. Em sessão de 18 de julho de 1893, recebeu o
geógrafo francês Jean-Jacques Élisée Réclus, autor da conhecida obra “Nouvelle géographie
universelle” em 18 volumes.73 Patrocinado pela Editora Hachette, ele veio ao Brasil coletar
70
SGRJ, “Ata da sessão de 19 de julho de 1902”, Revisa da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 15, 1903, p. 103.
71
Idem, p. 10.
72
Francisco Fernando M. Doratioto, “A política platina do barão do Rio Branco”. Revista Brasileira de Política
Internacional, Brasília, Instituto Brasileiro de Relações Internacionais, v. 43, n. 2, 2000, p. 130-149.
73
Cf. Luciene P. Carris Cardoso, “La visite d'Élisée Réclus à la Société de Geographie de Rio de Janeiro.” Colloque
International Elisée Reclus et nos Geographies. Texte et prétextes, Université Lumière de Lyon 2, 2006.
38
informações para o 19o volume, que deveria tratar da América Latina. Contribuição, aliás, que
foi traduzida posteriormente, pelo barão de Ramiz Galvão, com o título “Estados Unidos do
Brasil”, publicada em 1900, acompanhada de algumas anotações do barão do Rio Branco a
respeito do território contestado entre o Brasil e a França. A obra não obteve uma repercussão
considerável, nas palavras de José Veríssimo da Costa Pereira: (...) a descrição do país
obedeceu ao critério das regiões naturais e constituiu uma novidade quanto ao método de
apresentar as sínteses geográficas.74
A Sociedade conferiu-lhe o diploma de sócio honorário, título especialmente concedido
para aqueles que se distinguiam pelos seus conhecimentos teóricos e práticos em geografia e
ciências conexas. Para a Sociedade, a visita do célebre geógrafo era duplamente benéfica tanto
para o melhor reconhecimento do território brasileiro quanto para o desenvolvimento da
ciência, afinal o seu espírito penetrante e o seu gênio investigador, a par de uma imaginação
brilhante, saberá devassar os segredos e reproduzir, ao vivo, as cenas esplêndidas da
natureza desta parte da América, para patenteá-la ao mundo.75 Para finalizar, argumentava
que o alargamento do horizonte geográfico fortaleceria a confraternização entre os povos. De
outro modo, destacou a idéia de que a ciência era universal, portanto, superaria as fronteiras
naturais e culturais entre os países almejando alcançar o ideal de desenvolvimento das
sociedades contemporâneas.
Seguindo o ritual consagrado das associações oitocentistas, o convidado tomou assento
à direita do presidente da Sociedade e assistiu a um ciclo de três conferências: a primeira a de
saudação do presidente, a segunda do orador, o Barão Homem de Melo e a outra sobre o Vale
da Amazônia que integrava o ciclo de palestras sobre a região amazônica de Torquato Xavier
Monteiro Tapajós, publicadas na Revista da Sociedade.
Para a recepção de Élisee Réclus, a Sociedade selecionou o engenheiro Francisco
Inácio Marcondes Homem de Mello, o Barão Homem de Mello, que destacou a cordialidade
existente entre o Brasil e a França - a revivescência de uma tradição gloriosa. Enumerou os
diversos viajantes naturalistas e exploradores franceses que percorreram o território brasileiro,
bem como destaco a colaboração de alguns exploradores nacionais. 76
74
José Veríssimo da Costa Pereira, op. cit., p.55.
75
José Lustosa da Cunha Paranaguá, “Discurso do presidente marquês de Paranaguá da Sociedade de Geografia do Rio de
Janeiro, Mr. Elisée Réclus, sessão extraordinária em 18 de julho 1893 em honra ao sábio geógrafo francês”. Revista da
SGRJ, Rio de Janeiro, t. 11, 1895, p. 34.
76
Francisco I. Marcondes Homem de Mello, “Discurso do Barão Homem de Mello, Mr. Elisée Réclus: sessão extraordinária
em 18 de julho de 1893 em honra ao sábio geógrafo francês”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 11, 1895, p. 38.
39
Embora perseguido na França por sua militância anarquista, o geógrafo possuía renome
internacional e desfrutava de sólida reputação no mercado editorial. É sabido que após ser
detido por atividades políticas em Paris, conseguiu ser liberado da prisão e exilar-se na
Bélgica, graças às inúmeras petições encaminhadas ao governo francês por sociedades
científicas estrangeiras. Partidário do método comparativo elaborava pesquisas realizando
analogias como fundamento da descrição geográfica. Baseava-se numa geografia social
embasada na luta de classes, na busca do equilíbrio e na soberania do homem. Para este
pensador, o espaço geográfico deveria garantir ao homem os pilares da igualdade e da
felicidade. A terra seria a morada do homem, portanto, a geografia seria uma ciência dos
homens.77
Sintomaticamente, não há notícias de contatos formais de Réclus com esses grupos,
apesar da crescente difusão do ideário anarquista no país, introduzido nas últimas décadas do
século XIX, por grupos de imigrados europeus, sobretudo no eixo Rio de Janeiro-São Paulo.
No Rio de Janeiro, até onde se conhece, ele cumpriu um programa eminentemente acadêmico,
organizado pela Editora Hachette.78 Suas intervenções se caracterizaram pelo trato de questões
cientificas e de relatos de da viagem que realizava. Há, no entanto, pistas de que o geógrafo
tomou conhecimento da experiência realizada no estado do Paraná 79, onde se estabeleceu a
primeira colônia anarquista do continente americano, a Colônia Cecília (Paraná, 1890-1895).
Élisée Réclus proferiu uma rápida palestra na Sociedade de Geografia, uma espécie de
resultado preliminar das suas observações de campo. Privilegiou aspectos da cidade do Rio de
Janeiro e do estado de São Paulo. 80 De um modo geral, revelou-se encantado com a paisagem
natural que circundava a então capital da República. Após devassar a Amazônia, Réclus
examinou o território brasileiro de norte a sul, de acordo com a divisão das suas regiões
naturais, o que na época (...) constituiu uma novidade quanto ao método de apresentar as
sínteses geográficas81. Não vem ao caso, no momento, fazer uma apreciação minuciosa dessas
sínteses, por demais conhecidas. Entretanto, é importante assinalar que tal abordagem
ultrapassa a enumeração dos fenômenos geográficos. Ele reuniu um conjunto de informações
77
Elisée Réclus, Estados Unidos do Brazil: geografia, etnografia, estatística. Tradução e breves notas de barão de F. Ramiz
Galvão e anotações sobre o território contestado pelo barão do Rio Branco, 1900.
78
Jean-Yves Mollier, “Les mutations de l'espace éditorial français du XVIIIe au XXe siècle”. Actes de la recherche en
sciences sociales, v. 126, n. 1, 1999, p. 29-38. A Editora Hachette foi fundada em 1830 pelo editor escolar e universitário
Louis Hachette, que obteve apoio do Governo francês.
79
SGRJ, “Mr. Élisée Réclus: Sessão Extraordinária em 18 de julho de 1893 em honra ao sábio geógrafo francês”. Revista da
SGRJ, Rio de Janeiro, t. 11, 1895, p. 35.
80
Idem, p. 34. No Rio de Janeiro, Élisée Réclus também visitou outras instituições científicas e culturais, a exemplo do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
81
José Veríssimo da Costa Pereira, op. cit., p.55.
40
substantivas sobre a situação econômica, social e política do país. Alguns desses aspectos
valem a pena ser destacados, pois revelam o apurado senso crítico do cientista francês e uma
pista das suas idéias anarquistas.
Réclus condenou a estrutura fundiária do país e atribuiu a pobreza generalizada das
populações rurais à existência de grandes latifúndios improdutivos. Fez, também, sérias
restrições à supremacia da cultura do café nos terrenos férteis do centro-sul, apontando o
perigo que a monocultura representava para a economia nacional, sujeita às oscilações
constantes do preço do produto no mercado externo. Ademais, julgou impróprias as técnicas
agrícolas utilizadas pelos cafeicultores, em especial a prática das queimadas, que provocava
desgaste no solo. Discutiu a necessidade do governo incentivar as pequenas lavouras e se
perguntava, (...) sem preconceito contra o regime da grande propriedade, se não há perigo em
sacrificar todas as culturas a uma só ?(...). Concluía a censura com uma reflexão bem
pertinente:82 (...) a população que aumenta rapidamente, ficaria exposta a uma penúria
repentina se qualquer fenômeno econômico ou um desastre natural viesse a secar de súbito a
fonte desta espantosa riqueza.83
A colonização promovida pelo governo brasileiro nas terras do sul do país também foi
alvo da pena da crítica do geógrafo francês. Censurou os agentes de imigração, que
introduziram as primeiras levas de camponeses eslavos nos campos do Paraná, sem qualquer
preparo para recebê-los. Identificou, entretanto, muito surpreso, a existência de (...) alguns
grupos resistentes de imigrantes não eslavos, notavelmente uma colônia de comunistas, quase
todos italianos, que se fundou em La Cecília, perto de Palmeira 84. Na verdade, tratava-se da
Colônia Cecília (1890-1894) no Paraná fundada pelos italianos Giovanni Rossi e Evangelista
Benedetti.85
Réclus considerou inadequada a divisão político-administrativa do território brasileiro,
referindo-se à disparidade existente entre as áreas ocupadas pelos diversos estados, questão,
aliás, que seria levantada na Sociedade posteriormente por Everardo Backheuser. Opinava que
o problema poderia ter sido sanado após a queda do Império, se o governo republicano tivesse
82
Ramiz Galvão, tradutor da obra para língua portuguesa, corroborou reflexão de Réclus, nas suas palavras, a baixa
extraordinária do café em 1896 a esta parte causa presentemente sérios embaraços à lavoura, e todo o país sofre as
conseqüências dessa depreciação, cada da se avigora, portanto, a necessidade da policultura. Élisée Réclus, op. cit., p. 424.
83
Idem.
84
Élisée Réclus, op. cit., p. 346.
85
Isabelle Felici, op. cit. Com a extinção da escravidão em 1888, um contingente de imigrantes se dirigiu para região sul e
sudeste do país com objetivo de trabalhar nas lavouras. A província do Paraná começou a desenvolver um programa oficial
com objetivo de atrair trabalhadores do Velho Mundo, principalmente poloneses, alemães e italianos. Em 1890, liderados
pelo cientista e filósofo Giovanni Rossi e por Evangelista Benedetti criaram a Colônia Cecília considerada a maior
experiência anarquista no país. (http://raforum.info/article.php3?id_article=661) Acessado em 15 de novembro de 2007.
41
criado novas unidades federativas de proporções mais harmônicas. A esse respeito, vale a pena
rever suas apreciações sobre o regime político instaurado no Brasil em 1889: (...) A República
brasileira foi proclamada, e, todavia, por estranha inconseqüência, o povo não foi consultado
para saber quais deviam ser os grupos de constituintes da federação. Limitaram-se a mudar
os nomes das circunscrições do império: de províncias passaram a estados (...)86. Ponderava
que a constituição brasileira (...) com haver imitado quase servilmente a dos Estados Unidos
se mostrava inadequada às tradições, aos costumes e à herança da colonização portuguesa do
país, e deduzia: (...) É assim que os poderes reais dados ao do presidente dos Estados Unidos
e por imitação ao do Brasil, levaram logo o governo a prática da ditadura. Desde seu começo
aliás, o poder nascido da revolução foi uma autocracia militar.87
No fundo, Elisée Réclus avaliava que a troca de regime político não havia alterado as
estruturas vigentes. Apesar da adoção do sistema federalista, a República se caracterizava pela
centralização administrativa, um legado do regime monárquico. Isto provocava uma luta
contínua dos estados, em busca de maior autonomia. Por fim, questionou os órgãos públicos
por permitirem que empresas estrangeiras monopolizassem a exploração de ferrovias
brasileiras. Como se poder perceber, se durante a visita ao Brasil o cientista cumpriu
rigorosamente a ordem da Editora Hachette de não emitir pronunciamentos políticos. Porém,
nada escapou da sua aguçada caderneta de campo. Seu juízo sobre a situação política constitui
síntese bem fundamentada da realidade brasileira.
À guisa de informação, cabe lembrar que o 19º volume da Nouvelle géographie
universelle foi lançado na França em 1894. Seis anos mais tarde, a parte relativa ao Brasil foi
publicada em português, com o título Estados Unidos do Brasil: geographia, ethnographia,
estatistica, por Élisée Réclus, traduzida por Ramiz Galvão e com notas do barão do Rio
Branco. É inquestionável que a viagem de Élisée Réclus ao Brasil trouxe uma contribuição
positiva para o conhecimento geográfico, como sublinhou o barão de Ramiz, apesar dos
equívocos apontados. Além da nitidez das reflexões sobre o quadro político nacional nos anos
subseqüentes à proclamação da República, suas minuciosas observações de campo,
sistematizadas na Nouvelle Géographie Universelle, mostravam-se pertinentes, inspiradas nas
teorias então vigentes, tais como, o evolucionismo, o darwinismo e o determinismo de seu ex-
mestre, Karl Ritter. Ao mesmo tempo, não se pode deixar de notar a influência do pensamento
86
Élisée Réclus, op. cit., p. 460.
87
Idem, p. 465.
42
88
Manuel Correia de Andrade. Élisée Réclus. São Paulo: Editora Ática, 1985, p. 20-21.
89
Idem.
90
Regina Horta Duarte, “Natureza e sociedade, evolução e revolução: a geografia libertária de Elisée Réclus.” Revista
Brasileira de História, São Paulo, v. 26, n. 51, 2006, p. 11-24.
91
SGRJ, “Ata de 22 de junho de 1903”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 18, 1915, p. 37. O viajante austríaco já havia
visitado diversos lugares do mundo, inclusive o Japão e a China, os Estados Unidos e alguns países da América do Sul. O
volume citado era dedicado ao Brasil e aos países da Bacia do Prata, pois estas áreas apresentavam maiores vantagens
econômicas para a introdução de colonos alemães. Von Hesse, excursionou pelo continente, três vezes entre os anos de 1903
e 1913 e, na sua opinião, a região era promissora para os futuros colonos.
92
SGRJ, “Ata da sessão de 05 de dezembro de 1903”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 18, 1915, p. 40.
93
Cf. Leonora de Luca & João Bosco de Assis de Luca, “Marie Rennotte, pedagoga e médica: subsídios para um estudo
histórico-biográfico e médico-social”. Revista Manguinhos: História, Ciências e Saúde, Rio de Janeiro, v. 10, n. 2, 2003, p.
703-725. Professora formada, aos quarenta anos de idade completou o curso de medicina na prestigiada Woman's Medical
43
College of Pennsylvania, especializada na área de ginecologia e obstetrícia. Em 1895, conseguiu validar o seu diploma de
médica no Brasil, defendendo a tese “Influência da educação da mulher sobre a medicina social”, perante uma banca
organizada pela cadeira de Higiene e Mesologia da Faculdade de Medicina e de Farmácia do Rio de Janeiro, chefiada por
Benjamin Antônio da Rocha Faria.
94
SGRJ, “Ata da sessão ordinária de 25 de setembro de 1905”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 15, 1902-1906, p. 61.
95
SGRJ, “Ata da sessão ordinária de 04 de março de 1905”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 15, 1902-1906, p. 52.
96
O Primeiro Congresso Científico Latino-Americano foi realizado na Argentina em 1898 e o Segundo Congresso no
Uruguai em 1901.
97
Antônio de Paula Freitas (org.), “Relatório Geral da Terceira Reunião do Congresso Científico Latino-Americano:
Trabalhos preliminares e inauguração do Congresso”. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1906, p. 169.
98
O marquês de Paranaguá, presidente da comissão diretora e executiva, adoeceu na véspera da abertura do evento,
participando assiduamente, quando podia, das reuniões preparatórias, sendo substituído por Carlos Augusto de Carvalho,
primeiro vice presidente da Sociedade de Geografia e ex-ministro das Relações Exteriores.
44
99
Ana Maria Ribeiro de Andrade (coord.), Terceira Reunião do Congresso Científico Latino Americano: ciência e política.
Brasília: CGEE; Rio de Janeiro: Museu de Astronomia e Ciências Afins, 2002, p. 41.
100
SGRJ, “Ata da sessão ordinária de 20 de maio de 1902”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, p. 92.
101
SGRJ, “Ata da sessão ordinária de 16 de abril de 1907”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 15, p. 94.
102
Sobre este assunto ver: Boris Fausto (dir.), O Brasil Republicano, v. 8: estrutura de poder e economia. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2006. (História Geral da Civilização Brasileira; t. 3; v.8)
45
103
Lindolfo Xavier, “Revista Geográfica”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 22-23-24, 1909-1910-1911, p. 5.
46
104
Fernando Raja Gabaglia, “Conferência”, Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 15-16-17, 1912-1922, 1922, p. 65.
105
Mônica Pimenta Velloso, “Modernismo e a questão nacional”. O tempo do liberalismo excludente: da Proclamação da
República à Revolução de 1930. Jorge Ferreira & Lucília de A. N. Delgado (orgs.) Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2003.
106
Ver, Ângela Alonso, Idéias em movimento: a geração 1870 na crise do Brasil-Império. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
107
José Murilo de Carvalho, Os Bestializados, o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Ed. Cia. das Letras,
1999.
108
Cf. Lúcia Maria Lippi Oliveira, A questão nacional na primeira República. São Paulo: Brasiliense; Brasília: CNPq, 1990,
p. 105.
47
109
José Murilo Carvalho, “O Conselho de Estado: a cabeça do governo”. In: _________, Teatro de Sombras: a política
imperial. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, Relume Dumará, 1996, p. 334. José Murilo de Carvalho ao analisar as atas do
Conselho do Estado Imperial constatou em seus discursos que essas expressões eram recorrentes, era também por todos
considerada legítima a referência a países europeus, seja para esclarecer problemas nacionais, seja para fundamentar
propostas de legislação.
110
Lúcia Maria Lippi Oliveira, op. cit., p. 14.
111
Sílvio Romero, História da Literatura Brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1943.
112
Sobre este assunto, ver, A recepção do darwinismo no Brasil, Heloísa Maria Bertol Domingues, Magali Romero Sá &
Thomas Glick (org.). Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2003.
48
(...) O papel do imigrante, portanto, está bem definido concorrer para a formação de um tipo
brasileiro, elemento da unidade nacional (que paradoxalmente, vê comprometida pela
“desarmonia das índoles decorrente da mestiçagem”). Trata-se de uma construção racial
clarear a pele do brasileiro do futuro, pelo menos - pois a nacionalidade já tem sua cultura,
sua língua e sua religião. Na concepção de Romero a nação brasileira do futuro deve ser uma
civilização latina e branca, o que implica na assimilação dos imigrantes à formação lusitana
do país.113
113
Giralda Seyferth, “Construindo a nação: hierarquias raciais e o papel do racismo na política de imigração e colonização”.
In: Marcos Chor Maio & Ricardo Ventura Santos (Orgs). Raça, Ciência e sociedade no Brasil. Rio de Janeiro, FIOCRUZ/
Centro Cultural Banco do Brasil, 1996, p. 51.
114
Ricardo Luiz de Souza, Identidade Nacional e Modernidade Brasileira: o diálogo entre Sílvio Romero, Euclides da
Cunha, Câmara Cascudo e Gilberto Freyre. Belo Horizonte: Autêntica, 2007, p.48.
115
Euclides da Cunha, Os Sertões. São Paulo, Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1929.
116
José Murilo Carvalho, “O último dos românticos”. In: José Murilo Carvalho, Pontos e Bordados: escritos de história
política. Belo Horizonte: UFMG, 1999, p. 439.
117
Ricardo Luiz de Souza, op. cit., p. 100.
49
118
Ângela de Castro Gomes, História e Historiadores: a política cultural do Estado Novo. Rio de Janeiro: FGV, 1996, p.
195.
119
Raimundo Nonato Pereira Moreira demonstra que Euclides da Cunha, além de absorver as idéias relacionadas aos
movimentos culturais e político de sua época, como positivismo, republicanismo, socialismo e materialismo, apresentou um
conjunto de traços característicos da obra de Victor Hugo, intitulada, Quatrevingt-treize, como: a onipresença da natureza, a
caracterização dos tipos humanos, os quadros dramáticos presentes nas narrativas, o caráter vingador da literatura, a
denúncia dos crimes e das injustiças cometidos pela coletividade humana. Cf. Raimundo Nonato Pereira Moreira, A nossa
Vendéia: o imaginário social da Revolução Francesa na construção da narrativa de Os Sertões. Tese de Doutorado.
Programa de Pós Graduação em História,Unicamp, 2007.
120
Idem.
121
Manoel Bomfim, A América Latina. Males de origem. Rio de Janeiro: Topbooks, 1993, p. 126.
122
Cf. Maria Emília Prado, “Integração Nacional e Identidade Nacional em Manoel Bomfim e Oliveira Vianna: olhares
divergentes”. Rio de Janeiro: Acervo, v. 19, n. 1, 2006.
50
de cima para baixo. No seu entender, isto se efetuaria por meio de uma ação revolucionária,
em que os “parasitados e oprimidos”, desbaratariam a classe dominante “parasitária e
degenerada”. Contudo, neste processo, Bomfim defendia a presença interventora do Estado, o
qual passaria a ser concebido como uma instituição a serviço da sociedade.123
Por sua vez, o ensaísta e advogado Alberto Torres, em A Organização Nacional
(1914), identifica o sentimento de nacionalidade com o território. Ele contesta as teorias
evolucionistas, substituindo-as pelo exame dos problemas sociais e econômicos124. Para sanar
nossos males sociais, propõe erguer uma “república agrícola”, com base na pequena
propriedade rural, com a produção voltada para o consumo interno. Defende a exploração
racional e sistemática dos recursos naturais, bem como a sua preservação, o que de certo modo
o aproxima de uma consciência ecológica avançada para sua época, embora não fuja dos
traços ufanistas, que exacerbavam as potencialidades naturais do território, (...) a pátria é a
terra que é, por sua vez, o território da nação no sentido do solo, de meios de produção e de
fonte de prosperidade.125.
Para Alberto Torres, os poderes públicos deveriam dar assistência ao trabalhador
nacional, ao invés de se ocupar com a inserção do colono estrangeiro. 126 Preconizava a
participação do povo, mas reconhecia a sua incapacidade política para resolver as grandes
questões nacionais, pois carecia de cultura e de civismo. Não se tratava de inferioridade
étnica, mas sim de ignorância em relação à própria terra: (...) nós não sabemos ainda o que a
127
nossa terra pode produzir e como deve produzir. Isto aponta, pois, para a necessidade da
formação de uma consciência nacional, calcada no reconhecimento das potencialidades
naturais do território brasileiro, afinal (...) é a terra, é a geografia que estabelecem os
parâmetros para a ação política que visa a organização da nação. (o grifo é nosso)128. Como
se constata, essa preocupação subentendia a (...) integração geográfica pela expansão das
vias de comunicação e pelo povoamento dos espaços vazios. Integração étnica através da
educação e elevação espiritual.129
123
Simone P. Kropt, “Manoel Bomfim e Euclides da Cunha: vozes dissonantes aos horizontes do progresso.” Revista
Manguinhos: História, Ciências e Saúde, Rio de Janeiro, Fiocruz, v.3, n.1, mar./jun. 1996, p. 80-98.
124
Cf. Marlos Bessa Mendes, Matrizes da modernidade republicana: cultura política e pensamento educacional no Brasil.
SP: Autores Associados; Brasília: Editora Plano, 2004, p. 44-50.
125
Lúcia Maria Lippi Oliveira, op. cit., p. 123.
126
Alberto Torres, A Organização Nacional. Brasília: UNB, 1982.
127
Alberto Torres, op. cit., p. 54.
128
Lúcia Maria Lippi Oliveira. op. cit., p. 123.
129
Nícia Vilela Luz, “A década de 1920 e suas crises”. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, Universidade de São
Paulo, n. 6, 1969.
51
130
Maria Stella Martins Bresciani, “A geografia e o meio social modelam corpos e almas.” In: _____. O charme da ciência e
a sedução da objetividade: Oliveira Vianna entre intérpretes do Brasil. São Paulo: Editora UNESP, 2005, p. 256- 278.
131
Oliveira Vianna, Populações meridionais do Brasil: história, organização, psicologia. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, Rio de
Janeiro: EDUFF, 1987.
132
Fábio Tadeu V. Hanna, “Caio Prado Junior e Oliveira Vianna: interpretações do Brasil e projetos políticos para a
modernização brasileira”. Akrópolis, Paraná, Umuarama, v. 11, 2003, p. 27-34.
133
Oliveira Viana foi consultor da Justiça e do Trabalho em 1930 e, posteriormente, ocupou o cargo de Ministro de Tribunal
de Contas da União em 1940. Segundo José Murilo de Carvalho, a utopia de Oliveira Vianna residiu na herança colonial
brasileira em que o interesse particular se sobrepõe ao coletivo, assim como, o localismo ao centralismo. Não havia opinião
pública, nem organização social. O governo se manifestava na alternância de clãs que elegiam e controlavam os políticos
eleitos, enquanto que o povo era uma massa eleitoral manobrada. Cf. José Murilo de Carvalho, “A utopia em Oliveira
Vianna”. In: _____, Pontos e Bordados: escritos de história política. Belo Horizonte: UFMG, 1999, p. 214.
134
Afonso Celso, Por que me ufano do meu país. Rio de Janeiro: Laemmert & Cia Editores, 1908.
135
Sobre a trajetória de Conde de Afonso Celso, cf. Lúcia Maria Paschoal Guimarães, op. cit, p. 63.
52
136
Lúcia Maria Lippi Oliveira, op. cit., p. 130.
137
Ver Olavo Bilac & Manoel Bomfim, Através do Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 2000.
138
Ao que tudo indica essa obra foi inspirada em dois livros europeus, a obra francesa Le tour de France par deux enfants de
G. Bruno de 1877, sem tradução para o português, e o italiano Cuore de Edmondo de Amicis de 1886, traduzido em 1891.
Segundo Patrícia Hansen, essa literatura cívica contribuiu para a conscientização dos direitos e deveres, mas também para a
divulgação de valores éticos e sociais, de acordo com a idéia de nação que estes intelectuais vislumbravam. Entre 1889 e
1921, iniciou-se uma intensa produção literária voltada para o público infantil. Em 1921, Monteiro Lobado introduzia o
folclore e a introdução de personagens e lendas derivadas da tradição oral, o que de certo contribuiu para a construção de uma
identidade nacional. Cf. Patrícia Hansen, Brasil um país novo: literatura cívico-pedagógica e a construção de um ideal de
infância brasileira na Primeira República. São Paulo: Tese de Doutorado. Programa de Pós Graduação em História Social,
Universidade de São Paulo, 2007.
139
Cf. Maurice Agulhon, Histoire Vagabonde III. (La politique em France, d‟hier à aujourd‟hui). Paris: Gallimard, 1996, p.
12.
140
Lúcia Maria Lippi Oliveira, op. cit., p.126.
53
141
Helena Bomeny, “Novos talentos, vícios antigos: os renovadores a política educacional”. Rio de Janeiro: Estudos
Históricos, vol. 6, n. 11, 1993, p. 3.
142
Marieta Moraes de Ferreira & Surama Conde de Sá Pinto, “A crise dos anos 20 e a Revolução de 1930”. In: Jorge
Ferreira & Lucilia de Almeida Delgado (orgs.), O Brasil Republicano: o tempo do liberalismo excludente. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2003, p. 339.
143
Vicente Licínio Cardoso, À margem da história da República: Ideais, crenças e afirmações. Rio de Janeiro: Anuário do
Brasil, 1924.
144
Cf. Lucia Maria P. Guimarães, “Vicente Licínio Cardoso: o exame de consciência do regime republicano”. In: Hugo
Cancino (coord.), Los intelectuales latinoamericanos entre la modernidad y la tradición, siglos XIX y XX. Frankfurt:
Verveuert; Madrid: Iberoamericana, 2004, p. 77-88.
54
Inspirado nas idéias de Alberto Torres, o livro idealizado por Vicente reúne ensaios, assinados
pelos mais expressivos letrados da época, a exemplo de Oliveira Vianna, Gilberto Amado,
Ronald de Carvalho, Tristão de Ataíde e Antonio Carneiro Leão. Os textos alinham as
supostas causas do fracasso da experiência republicana, argumentando que (...) não havia
povo, não havia classes organizadas, não havia partidos, não havia governo representativo,
não havia democracia.145 A solução desses males demandava desfechar um processo de
formação de consciência crítica na sociedade, por meio da educação e da expansão dos direitos
civis146. José Murilo de Carvalho, ao sintetizar o pensamento desses intelectuais, conclui que:
(....) A Primeira República não conseguiu unir os três povos. Não pôde, ou não buscou,
transformar em cidadão o Jeca de Lobato, o sertanejo de Euclides, o beato do Contestado, o
bandido social do cangaço, o operário anarquista das grandes cidades. Liberal pela
Constituição, oligárquica pela prática, não foi fruto de opinião democrática nem dispôs de
instrumentos para promover essa opinião.147
barão Homem de Mello, inaugurou-se uma nova fase na Sociedade de Geografia do Rio de
145
José Murilo Carvalho, “Os três povos da República”. In: Maria Alice Resende Carvalho (org.), República no Catete. Rio
de Janeiro: Museu do Catete, 2002, p. 86.
146
Segundo Lucia Maria P. Guimarães, apesar do diagnóstico perspicaz dos problemas brasileiros, as soluções propostas
por Vicente Licínio retomam as velhas fórmulas conservadoras. Nas palavras de Vicente: (...) o caminho seguro para andar
ligeiro é aquele que evita os desatinos das correrias revolucionárias perigosas e intempestivas. Ver. Lucia Maria P.
Guimarães, “Vicente Licínio Cardoso: o exame de consciência do regime republicano”, op. cit., p. 88.
147
Ver, José Murilo de Carvalho, “Os três povos da República”. Op. cit. p. 87.
148
Sobre Francisco Inácio Homem de Mello, ver, IHGB. Dicionário biobibliográfico de historiadores, geógrafos e
antropólogos brasileiros; sócios falecidos entre 1881/1920; preparado por Vicente Tapajós com a colaboração de Pedro
Tórtima. Rio de Janeiro: o Instituto, 1993, p. 85. Bacharel em direito, político, historiador e cartógrafo consagrado, autor do
Atlas do Brasil, publicado 1909, com a colaboração de Beaurepaire Rohan. Deixou expressiva obra no campo da geografia,
e que influenciou diversos estudiosos, a exemplo de Carlos Delgado de Carvalho. Cf. Airton José Cavenaghi, “O território
paulista na iconografia oitocentista: mapas, desenhos, fotografias. Análise de uma herança cotidiana”, Anais do Museu
Paulista, São Paulo: Universidade de São Paulo, jun. 2006, v. 14, n. 1, p. 204.
149
Além do marechal Gregório Thaumaturgo de Azevedo, sucederam-se na presidência da Sociedade de Geografia do Rio de
Janeiro os militares: almirante Antônio Coutinho Gomes de Pereira (1920-1925), general José Maria Moreira Guimarães
(1925-1940) e almirante Raul Tavares (1940-1945).
150
Thaumaturgo de Azevedo, em 1880, participou da Comissão de Limites com a Venezuela. Com o advento do regime
republicano foi Governador do Piauí pelo Presidente Deodoro da Fonseca. Liderou a Comissão de Limites entre o Brasil e a
55
fundação, sempre foi notória a presença de representantes das Forças Armadas nos quadros da
Sociedade, o que não é de estranhar. Para esses militares, conforme assinala Nelson Werneck
se resumia na: (...) missão de manter a base física herdada da fase colonial e de assegurar o
Bolívia em 1895. Em 1904, retornou ao Amazonas e fundou a cidade Cruzeiro do Sul. Cf. Agnello Bittencourt, Dicionário
amazonense de biografias: vultos do passado. Rio de Janeiro: Edições Fundação Cultural do Amazonas, 1973.
151
Nelson Werneck Sodré, História Militar no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968, p. 229.
152
Jeremy Black, “Guerra, ambiente e ideologia, 1914-1945”. In: Jeremy Black, Mapas e história: construindo imagens do
passado. São Paulo: Edusc, 2005, p. 175-179.
153
Idem, p. 175.
154
Shiguenoli Myamoto, Geopolítica e poder no Brasil. São Paulo: Papirus, 1995, p. 27. Convém destacar uma distinção
entre a Geografia Política e a Geopolítica. Ambas se diferem quanto ao objeto de investigação e pertencem a áreas di stintas.
A primeira refere-se ao campo da geografia e a segunda relaciona-se a ciência política. Segundo William Vesentini, a
primeira seria estática como uma fotografia, apóia-se em observações dos fatores geográficos. A Geopolítica dinâmica como
um filme, é essencialmente diligente. Constituía uma teoria de poder apoiada no território, utilizando-se dos fatores
geográficos para formular sua política, submete-se a uma ideologia estratégica e militar de dominação.
155
Eric Hobsbawn, A era dos extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
56
territorial era motivo de ufanismo, por outro, o isolamento de algumas regiões, afastadas dos
grandes centros e situadas em faixas de fronteira, daria ensejo a diversos projetos de
integração do território, a exemplo do da Comissão de Construção das Linhas Telegráficas,
formada por militares, que interligou as comunicações entre Rio de Janeiro, São Paulo e
Triângulo Mineiro à Amazônia. 156 Paralelamente, o governo passou a conferir maior
importância à atuação de entidades como a Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro,
reconhecida como órgão de utilidade pública, por decreto assinado pelo presidente Wenceslau
Braz Pereira Gomes.157 A importância estratégica do saber geográfico seria sublinhada na
associação, pelo engenheiro Francisco Bhering, na época diretor do Serviço da Carta Geral
do Brasil:
(...) Sem a topografia, sem a geografia, a Indústria como a Guerra nada poderiam conseguir.
Cabe ao Exército a defesa das terras, e a Marinha a dos mares: como resolver o problema
dos transportes rápidos da artilharia contra o inimigo visível, sem o conhecimento suficiente
do terreno? É pela multiplicação das vias de transporte que se torna ubíqua a força, quer
industrial, quer militar.158
156
Cf. Carlos Martins Junior, Apontamentos para uma leitura de Rondon e da Comissão de Linhas Telegráficas Estratégicas
de Mato Grosso ao Amazonas. Tese de Doutorado. Programa de Pós Graduação em História, Universidade de São Paulo,
2001, p. 95.
157
“Decreto n, 3440, de 27 de dezembro de 1917. Reconhece a utilidade pública a Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro,
o Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil: Faço saber que o Congresso Nacional decretou e eu sanciono a
resolução seguinte: Artigo único: Fica reconhecida de utilidade pública a Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro,
revogadas as disposições em contrário. Rio de Janeiro, 27 de dezembro de 1917, 96o. da Independência e 29o. da República.
Wenceslau Braz P. Gomes, Carlos Maximiliano Pereira dos Santos”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 19-20-21, 1918, p.
5-11. Apesar de tal reconhecimento, em 1922, foi publicado um único volume da revista que corresponde ao período 1912-
1922. Entretanto, as atas e os relatórios não foram editados e nenhuma menção foi registrada sobre essa falta. Apesar do
Decreto de 1917 garantir a impressão gratuita dos boletins e das revistas, esse volume foi impresso pela Tipografia do
Instituto Muniz Barreto. A comissão da redação era presidida por Manoel Cícero Peregrino da Silva, como secretários
Lindolfo Xavier, Álvaro Bittencourt Berford e Francelino Wandeck
158
Francisco Bhering, “A geografia do Centenário de Independência. Resumo da conferência feita pelo professor Francisco
Bhering na Sociedade de Geografia em 07 de dezembro de 1917”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 25-26-27, 1912-1922,
1922, p.31.
57
159
Idem, p. 35.
160
Idem, p. 39.
161
Lindolfo Xavier, “O Brasil e sua contribuição para a guerra, conferência realizada pelo sr. Lindopho Xavier na Sociedade
de Geografia em 18 de dezembro de 1917”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 25-26-27, 1912-1922, 1922, p.53.
162
Idem, p.55.
58
163
Tânia Regina de Luca, “História e geografia: revalorização da nação”. In: __________. A Revista do Brasil: um
diagnóstico para a nação. São Paulo: Unesp, 1999, p. 97.
164
Eric Hobsbawn, Nações e nacionalismos desde 1780: programa, mito e realidade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990, p. 21.
165
Para se ter uma idéia da dimensão dos seus trabalhos, no período de 1890 a 1898, Rondon chefiou a comissão da
construção da linha telegráfica entre Goiás e Cuiabá, em seguida as cidades de Cuiabá e Corumbá (1900-1904) e o extremo
sudoeste do Brasil chegando as fronteiras do Paraguai e da Bolívia (1905-1906).
166
Todd A. Diacon, Rondon: o marechal da floresta. São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 12-13.
59
167
SGRJ, “Discurso do Professor Roquette Pinto, no Teatro Municipal, a 12 de outubro de 1919, na sessão realizada em
homenagem ao General Rondon.” Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 25-26-27, 1912-1922, 1922, p. 11.
168
Ver: Edgard Roquette-Pinto. Rondônia. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1975.
169
SGRJ, “Discurso do Professor Lafayette Cortes, na entrega da medalha de mérito cientifico ao General Rondon,” Revista
da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 25-26-27,1912-1922, 1922, p. 15.
170
Idem.
60
1913-1914, da qual fez parte o coronel Theodoro Roosevelt, ex-presidente dos Estados
Unidos171.
Agradecendo à homenagem, Rondon reportou-se a obra de seus antecessores, no
desbravamento de terras tão distantes e rememorou antigos companheiros de aventuras pelo
sertão, a exemplo de João Salustiano Lyra, Eduardo Botelho, Francisco Marques de Souza,
desaparecidos no curso daquelas missões. Qualificou de audacioso o projeto do presidente
Afonso Pena, datado de 1907, de instalar linhas telegráficas “através da região selvática” e
destacou os numerosos grupos indígenas que encontrou no correr das suas jornadas,
salientando o contato com a nação dos nhambiquaras, cuja existência era ignorada.
Mencionou o trabalho de pacificação de uma tribo, que deixara sob a guarda dos padres
salesianos liderados pelo Bispo Dom Antonio Malan. Desse contato inicial, formalizou-se a
criação da colônia indígena de Salto Aracy. O militar defendeu, mais uma vez, a proteção
daquelas populações desprovidas de apoio e carente de cuidados por parte do aparato
governamental. 172 Por sinal, não é demais mencionar a conhecida relação do general com os
autóctones, ele próprio descendente de índios terena e bororo 173.
Ao concluir o seu discurso, Rondon destacou o seu companheiro mais ilustre nas
incursões pelo sertão, o coronel Theodore Roosevelt 174, cujas narrativas de viagem ao Mato
Grosso atingiram repercussão internacional, depois do lançamento do livro Através do Brasil
Central, em 1914. Tratava-se do “grande continuador das glórias de Washington e Lincoln”,
porquanto (...), proclamou que no mundo, só o que estavam realizando os brasileiros no
sertão do noroeste de Mato-Grosso, era comparável, em esforço da vontade e em dispêndio de
energia, com o feito dos americanos do norte para ligar os dois oceanos através do istmo do
Panamá.175
171
Vele lembrar que a comitiva norte-americana reuniu-se na fronteira entre o Paraguai e o Brasil com a brasileira, liderada
por Rondon e composta pelos militares Amílcar de Magalhães, Joaquim de Mello Filho, João Lira e do geólogo Euzébio
Paulo de Oliveira, todos os membros efetivos da Sociedade de Geografia. Da sua atuação resultou a identificação de vários
acidentes, como o rio da Dúvida, conhecido pelos seringueiros, mas ignorado pelos cartógrafos. Verificou-se que se tratava
do principal afluente do rio Madeira, o qual por sua vez, é o maior tributário do Amazonas. Para o espanto dos estudiosos, a
descoberta correspondia a um caudal de mais de mil quilômetros de extensão, formando extensa bacia hidrográfica. Os norte-
americanos coletaram, ainda, cerca de duas mil e quinhentas espécies de animais, enviados ao Museu História Natural de
Nova York. Idem , p. 17 e 18. Ver, também, Theodore Roosevelt, Através do sertão do Brasil. Rio de Janeiro: Cia. Ed.
Nacional, 1944, p.16.
172
Idem, p. 23.
173
Pelo seu trabalho de desbravador em terras tropicais, Rondon recebeu o Prêmio Livingstone da Sociedade de Geografia
de Nova York em 1915.
174
Segundo Carlos Martins Junior, a expedição Rondon-Roosevelt constituiu uma página para a história do pan-
americanismo. Cf. Carlos Martins Junior, op. cit., p. 224. Ver, também, Clodoaldo Bueno, “Do apogeu ao declínio da
Primeira Guerra: a ilusão do poder (1912-1930)”. In: Amado Luiz Cervo & Clodoaldo Bueno (orgs.), História da Política
Exterior do Brasil. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2002, p. 204.
175
SGRJ, “Discurso do General Candido Rondon”, Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 25-26-27, 1912-1922, 1922, p. 28.
61
176
Nísia Trindade Lima, Um sertão chamado Brasil: intelectuais e representação geográfica da identidade nacional. Rio de
Janeiro: Revan, IUPERJ, UCAM, 1999, p. 75.
177
SGRJ, “Parecer da comissão sobre os trabalhos da comissão”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 25-26-27, 1912-1922,
1922, p. 19.
178
Idem, p. 09.
62
maioria dos costumes, seriam felizes se lhes bafejasse a existência da idéia de Deus
verdadeiro e soubessem amar a pátria, cujos destinos, limites e encantos desconhecem. 179
Já o professor da Escola de Minas de Ouro Preto, Antonio Olyntho dos Santos Pires,
trouxe para as sessões da Sociedade informações sobre o sertão noroeste de Minas Gerais,
coletadas durante uma viagem de pesquisa. Descreveu as jazidas diamantinas, os recursos
naturais e o contato que estabeleceu com um dos últimos remanescentes do período áureo da
mineração, um certo Domiciano, “verdadeiro patriarca local”, que lhe narrou formidáveis
histórias. Confessou, ainda, que por desconhecimento, confundiu os habitantes locais com os
índios: (...) o aspecto, a posição e o exercício a que esses homens se entregavam fizeram-me
supor que eram filhos das selvas, e deles me desviei e ocultei 180. Sintomaticamente, o
professor aproveitou a patética experiência para refletir sobre a importância das atividades da
Sociedade de Geografia:
(...) Ora, todos nós, membros da Sociedade de Geografia temos, mais ou menos, viajado
pelo interior do Brasil; e como são ainda pouco conhecidos os acidentes territoriais e a vida
de que passam os habitantes das diferentes zonas de nossa terra, não é demais que retiramos
uns aos outros, o que cada um de nós observou e viu, porque, por mais banal que pareça a
nossa narração, talvez se encontre nela alguma coisa de útil para o completo conhecimento
do Brasil, que é o principal escopo da nossa Sociedade.181
179
Antonio Maria Malan, “Os bororós”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 25-26-27, 1912-1922, 1922, p. 114.
180
Idem, p. 102.
181
Antonio Olyntho dos Santos Pires, “Uma excursão ao noroeste de Minas Gerais”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 25-
26-27, 1912-1922, p. 80.
182
Eugenio Augusto Wandeck, “As fronteiras do sul”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 25-26-27, 1912-1922, p.133-148.
63
Paranaíba, na parte entre Goiás e Minas Gerais, havia permanecido desconhecido dos
geógrafos e cartógrafos183.
Outra contribuição a ser assinalada veio do mato-grossense Estevão de Mendonça,
estudioso de potamografia. Estevão expôs suas observações sobre o volume das águas dos rios
São Lourenço e Cuiabá, e concluiu que o primeiro era apenas um “modesto contribuinte” do
rio Cuiabá, este sim o verdadeiro e direto afluente do rio Paraguai 184, descoberta que alterava
os mapas existentes. Aliás, a potamografia parecia estar na ordem do dia na Sociedade,
porquanto, por aquela mesma época, um trabalho de abordagem semelhante ao de Estevão de
Mendonça foi apresentado por Candido José de Godoy, autor de uma alentada análise das
bacias hidrográficas do Rio Grande do Sul. 185
Talvez, o “bandeirante” mais notável da Sociedade tenha sido Vicente Licínio Cardoso
(1889-1931). Membro das Comissões de Geografia Histórica e de Redação da Revista, sua
atuação na SGRJ pautava-se no lema que ele mesmo cunhara: “descobrir o Brasil, é conhecer-
mo-nos”.186 Engenheiro civil pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro, Vicente exerceu forte
influência nos movimentos nacionalistas da década de 1920. Colaborou em diversos órgãos
da imprensa e publicou diversos trabalhos, a exemplo, do já mencionado À margem da
história da República; idéias, crenças e afirmações (1924)187. Na sessão de 27 de junho de
1925, Vicente apresentou uma síntese das suas investigações sobre o rio São Francisco,
assunto que há muito o instigava, apesar de pouco privilegiado pelos estudiosos de então. A
conferência “O Rio São Francisco: base física da unidade do Império” foi acompanhada de
uma projeção de imagens, em que o autor procurava devassar alguns dos segredos daquele rio,
cuja função histórico-geográfica permanecia ignorada. Para o engenheiro, o “Velho Chico”
permitira a dilatação do espaço físico brasileiro, seja através do intercâmbio entre “os
bandeirantes do sul e os do nordeste”, seja pelas conquistas diplomáticas, constituindo a (...)
coluna magna de nossa unidade política, o fundamento basilar que reagiu e venceu todos os
183
O major Henrique Silva participara da comissão exploradora do planalto central, chefiada por Luiz Cruls e havia
publicado diversas obras sobre o assunto. Ver, Henrique Silva, “As cabeceiras do rio Paraná”. Revista da SGRJ, Rio de
Janeiro, t. 25-26-27, 1912-1922, p. 49
184
Estevão Mendonça, “O rio São Lourenço”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 25-26-27, 1912-1922, p. 106.
185
Candido José de Godoy, “Bacias hidrográficas do Rio Grande do Sul”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 25-26-27,
1912-1922.
186
Idem, p. 37.
187
Também são de sua autoria os seguintes títulos: À margem da história do Brasil (1923), Pensamentos Brasileiros (1924),
Vultos e idéias (1924), Afirmações e comentários (1925), além das obras póstumas Maracãs (1934) e Pensamentos
americanos (1937). Sobre uma análise da trajetória intelectual de Vicente Licínio Cardoso, cf. Lúcia Maria Paschoal
Guimarães, “Vicente Licínio Cardoso: o exame da consciência do regime republicano”, op. cit., p. 77-88.
64
188
Vicente Licínio Cardoso, “O rio São Francisco: base física da unidade do império”, Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t.
30, 1925, p. 37.
189
Idem, p. 38.
190
Vicente Licínio Cardoso, “O São Francisco: rio sem história”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 30, 1925, p. 47.
191
SGRJ, “Recenseamento realizado em 01 de setembro de 1920”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 25-26-27, 1912-1922,
p. 173.
192
Ezequiel Ubatuba, Na Zona da Matta das margens do Pomba às do Parahyba, Estado de Minas Geraes. Belo Horizonte:
Imprensa Oficial do estado de Minas Gerais, 1918.
193
Ezequiel Ubatuba, “O Brasil futuro”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 25-26-27, 1912-1922, 1922, p. 121.
65
Federal, a saber: Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas, Andradas, Araguaia, Bahia, Ceará,
Espírito Santo, Goiás, Javari, Madeira, Maranhão, Mato-Grosso, Minas Gerais, Pará, Paraíba
do Norte, Paraíba do Sul, Paraná, Parmahy, Pernambuco, Piauí, Rio Branco, Rio de Janeiro,
Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Santa Cruz, São Francisco, São
Paulo, Sergipe, Tapajós, Tocantins e Xingu. 194
Mapa 1
Fonte: Thiers Fleming. Pelo Brasil unido e forte. Nova Divisão Territorial do Brasil.
Rio de Janeiro, 1939, p.153.
194
Idem.
66
195
Mônica Sampaio Machado, op. cit., p. 53.
196
Fernando Raja Gabaglia, “Problemas capitais da corografia do Brasil. Conferência do professor Dr. Fernando Raja
Gabaglia na Sociedade de Geografia”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 25-26-27, 1912-1922, 1922, p. 65.
67
Ministério das Relações Exteriores. A jornada acadêmica objetivava aproximar o Brasil das
repúblicas vizinhas e dos demais países do continente. Programou-se, inclusive, a elaboração
de uma História Geral da América, obra que não chegou a ser concluída, a propósito de dotar
os povos do Novo Mundo de: (...) um passado comum.201 Ainda com o apoio do governo
federal, o Instituto decidiu organizar uma publicação de natureza enciclopédica, inspirada no
Grand Dictionnaire Universel du Síécle XIX e voltada para a vulgarização do conhecimento:
o Dicionário Histórico, Geográfico e Etnográfico do Brasil. Pretendia-se, deste modo, reunir
as informações necessárias para a formação de bons cidadãos, tomando como ponto de
partida o reconhecimento do território brasileiro: (...) do meio físico passava-se para a
formação étnica e cultural, chegando-se até os principais fastos da história nacional e seu
vultos ilustres. 202
Tal como o IHGB, a Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro se aplicou em
colaborar com o governo. A princípio, apresentou a demanda de alguns problemas que
afetavam o seu campo de atuação: (...), abandonando a crítica, a censura, a lamentação,
deve-se procurar com empenho, por um lado, completar a Carta Topográfica ao Centésimo
Milionésimo, a cargo do Exército, melhorar o serviço hidrográfico a cargo da Marinha, e,
por outro lado, organizar a Carta ao Milionésimo, a cargo de engenheiros civis mediante os
precisos, simples e eficazes processos e instrumentos modernos. 203
Mas a associação científica preocupou-se, também, em oferecer uma contribuição
substantiva, de caráter didático, e destinada ao grande público, (...) servindo tanto para a
instrução dos estudiosos da geografia superior, como de repositório de informações de ordem
técnica e especializa sobre os diversos ramos em que se subdividem os conhecimentos
geográficos. O compêndio receberia o título de Geografia do Brasil, comemorativa do
Centenário da Independência. A proposta partira de Lindolfo Xavier, apresentada em 17 de
maio de 1918, com a justificativa de que não existia no país um empreendimento de tal
porte, concebido por “brasileiros natos”. Xavier argumentava que publicações dessa natureza
já haviam sido realizadas em outros países com sucesso. Para a consecução do projeto,
formou-se uma comissão, integrada pelos sócios Thaumaturgo de Azevedo, Francisco
Jaguaribe Mattos, Antônio dos Santos Pires, Everardo Backheuser e Francisco Bhering.
Estimava-se, ainda, contar com a colaboração de estudiosos que não fossem vinculados aos
201
Cf. Lúcia Maria Paschoal Guimarães, Da escola palatina ao silogeu: Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1889-
1938), op. cit., p.212.
202
Francisco Bhering, op. cit., p. 96.
203
Idem, p. 39.
69
A Geografia do Centenário havia sido planejada para alcançar dez volumes. Entretanto,
tal como ocorreu com o Dicionário do Instituto Histórico, o empreendimento de natureza
enciclopédica não obteve o sucesso esperado 205. Há registro de que foram publicados os
volumes de números 1, 2, 9 (1a. parte) e 10, porém, só este último é encontrado hoje em dia
para consulta206. Lançado em 1923, com o título Corografia de Minas Gerais, o volume X
da Geografia do Centenário, foi preparado por Nelson de Senna, intelectual e político
204
SGRJ, “A Geografia do Brasil: comemorativa do centenário da independência”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 25-
26-27, 1912-1922, 1922, p. 150.
205
Cf. Lúcia Maria Paschoal Guimarães, Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro: da escola palatina ao silogeu (1889-
1938), op. cit.
206
O volume citado encontra-se na Biblioteca do Horto Botânico do Museu Nacional em São Cristóvão. Cf. Anexo .
70
mineiro, autor de numerosos trabalhos sobre sua terra natal, publicados inclusive nos Anais do
Primeiro Congresso Brasileiro de Geografia de 1909207. Ao que tudo indica, Senna atendera a
uma solicitação do presidente da República, seu conterrâneo Arthur Bernardes, conforme se lê
no Prefácio.
Coerente com o sumário estipulado pela Sociedade, a primeira parte do Livro 1
concentra-se na descrição das características físicas do solo de Minas Gerais. A segunda parte
apresenta um panorama histórico da ocupação do território, desde as primeiras explorações e
entradas nos tempos coloniais. No Livro 2, Senna examina a organização administrativa
estadual. Seu trabalho evidencia pesquisa e erudição. Ao abordar a riqueza mineralógica das
Gerais, por exemplo, reporta-se aos estudos de Henri Gorceix, o primeiro diretor da Escola de
Engenheira de Minas em Ouro Preto. Quanto ao elemento humano, Nelson de Senna destaca
que o povo mineiro resultou da mestiçagem. 208. Porém, sublinha a necessidade de promover o
seu branqueamento, pois percebe a imigração estrangeira como um fator importante para o
crescimento do país:
(...) há terrenos de sobra para neles se localizarem sucessivas gerações de imigrantes, vindos
de todos os pontos do globo, de preferência latinos e anglo-saxões, germânicos e eslavos, por
serem os elementos étnicos que mais nos convém no Brasil. E para se radicarem no Brasil
tudo os seduz: a boa gente nativa e a terra fértil e saudável, os costumes sãos e as instituições
liberais e a liberdade que em Minas existem (...)209
Seja como for, a malograda Geografia do Centenário reflete as idéias de uma época,
em que o saber geográfico deveria constituir um instrumento para o aperfeiçoamento da
sociedade, além de fonte de inspiração de sentimentos patrióticos. Finalmente, cabe
acrescentar que dois obstáculos intransponíveis inviabilizaram a conclusão daquele projeto: o
esgotamento dos recursos financeiros prometidos pelo governo federal e a carência de dados
disponíveis, agravada pela desorganização administrativa dos órgãos públicos, sobretudo nas
207
Na comunicação “Contribuições para um futuro Mapa do Estado de Minas Gerais“, Nelson de Senna criticou a falta de
rigor na confecção de cartas geográficas, em especial, a inexatidão das coordenadas geográficas (latitude, altitude e
longitude). Por outro lado, com certa dose de regionalismo, destacava a importância do Estado de Minas Gerais no cenário
nacional, principalmente pela sua dimensão territorial, visto que era o quinto em extensão e o primeiro em densidade
populacional. Nelson de Senna também publicou: Bicentenário de Ouro Preto (1911); A hulha branca em Minas Gerais
(1914); A terra mineira (1926); Alguns estudos brasileiros (1937) e Africanos no Brasil: estudos sobre os negros africanos e
influências afro-negras sobre a língua (1937). Cf. Luciene Pereira Carris Cardoso, op. cit, p. 129.
208
Nelson de Senna, Geografia do Brasil. Comemorativa do 1º. Centenário de Independência do Brasil. 1822-1922.
Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, v. 10, p. 224.
209
Idem, p. 207.
71
210
SGRJ, “Relatório apresentado pelo almirante A . C. Gomes Pereira, presidente da Sociedade, referente ao ano de 1923”.
Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 28, 1923.
211
Delgado de Carvalho, “Geografia – Ciência da Natureza”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 31, 1926-1927, p. 96.
212
Cf. Lúcia M. Paschoal Guimarães, Da escola palatina ao silogeu: Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1889-1938),
op. cit.
213
Idem, p. 106.
214
O projeto da Sociedade de Geografia inseria-se no contexto das propostas de reformas pedagógicas, que culminaram com
o surgimento da Associação Brasileira de Educação, em 1924. Tais propostas se caracterizavam pela defesa da escola
pública, universal e gratuita, segundo o modelo da Escola Nova ou Progressista do pedagogo americano John Dewey. Cf.
“Curso superior livre de geografia”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 31, 1926-27, p. 239.
215
SGRJ, “Curso Superior Livre de Geografia”, Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 31, 1926-1927, p. 71-74.
72
216
Friedrich Ratzel (1844-1904) foi o principal expoente da escola geográfica alemã do final do século XIX. Em 1882,
publicou o livro Antropogeografia: fundamentos da aplicação da geografia à história que revela a influência do meio físico
sobre o homem. Nos anos seguintes, editou As raças humanas (1885-1888) em três volumes, O Estado e o seu solo
estudados geograficamente (1896) e Geografia Política (1897). Da análise interdisciplinar, Ratzel articula o conhecimento
histórico, os estudos etnológicos e a geografia para apreender a dinâmica da dispersão dos povos na superfície terrestre, a
formação do território físico, bem como as distribuições dos povos e as raças. Outros temas como as fronteiras, o estado, as
relações internacionais, as guerras também foram objeto de seu exame. Cf. Antonio Carlos Robert de Moraes, Geografia:
pequena história crítica. São Paulo: Hucitec, 1999. Shiguenoli Myamoto, op.cit,; Ruy Moreira, O que é geografia. São
Paulo: Brasiliense, 1986; Antonio Carlos Robert de Moraes (org.), Ratzel. São Paulo: Ática, 1990.
217
Paul Vidal de La Blache (1845-1918) privilegiou os estudos de Geografia Política. Impulsionado pelo contexto político e
social francês, transferiu a importância que Ratzel conferia ao Estado para a sociedade. A perda da região francesa da
Alsácia-Lorena para a Prússia, durante a guerra franco-prussiana promoveu um amplo debate no cenário intelectual e político
francês o que culminou no argumento de que a perda territorial foi causada pelo desconhecimento geográfico, e não pelo
poderio do exército alemão. Para o sábio francês, o objeto da geografia era a relação do homem e da natureza, segundo
Antônio Carlos Robert Moraes, (...) La Blache colocou o homem como um ser ativo, que sofre a influência do meio, porém
que atua sobre este, transformando-o. Ver: Antonio Carlos Robert de Moraes, Geografia: pequena história crítica. São
Paulo: Hucitec, 1999; Paulo César da Costa Gomes, Geografia e Modernidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996;
Roberto Lobato Corrêa, “As correntes do pensamento geográfico”. In: ________. Região e organização espacial. São Paulo:
Ática, 1991.
218
Nas primeiras décadas do século XX, Delgado de Carvalho também publicou as seguintes obras: Um centre économique
au Brésil: l‟êtat de Minas (1908), Geografia do Brasil (1913), Métèorologie du Brésil (1917), Physiografia do Brasil (1922),
Metodologia do Ensino de Geografia: introdução aos estudos da geografia moderna (1925) e Introdução a Geografia
Política (1929).
219
Nilo Bernardes, “A influência estrangeira no desenvolvimento da geografia no Brasil”. Rio de Janeiro: Revista Brasileira
de Geografia, ano. 44, n.3, jul./set. 1982, p. 521.
73
com o jornal O País. Junto com Delgado de Carvalho participou da fundação da Associação
Brasileira de Educação 220. Associou-se ao grupo que criou a Academia Brasileira de Ciências,
fundou a Liga Brasileira de Esperanto e ocupou a vice-presidência da Sociedade de Geografia
do Rio de Janeiro. Não por acaso, a partir daí, a Revista passaria a publicar o resumo das
matérias editadas em esperanto.
Everardo Backheuser integrou o movimento católico filiando-se à Associação dos
Professores Católicos e à Confederação Brasileira de Educação Católica. Foi catedrático da
Faculdade de Filosofia da Universidade Santa Úrsula, e ajudou a fundar a Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro. Defensor da geografia moderna, fundamentada na
escola alemã, em especial, nas concepções formuladas por Friderich Ratzel, publicou A
estrutura política do Brasil. Notas Prévias (1929) e Problemas do Brasil: Estrutura
geopolítica (1933). Sabe-se que o interesse de Backheuser pela geopolítica datava do período
em permaneceu detido na Ilha Rasa, por causa da oposição manifestada ao governo do
presidente Arthur Bernardes. Naquela ocasião, José Rodrigues Leite e Oiticica, filólogo e
militante anarquista, lhe ofertou a obra Geografia Política (1897) de Ratzel.221 Ainda na
prisão, Backheuser alinhavou o que seria A estrutura política do Brasil: Notas Prévias
(1929),222 editado originalmente em fascículos, distribuídos pela imprensa carioca, divulgação
que considerava como a forma mais eficaz para atingir o grande público.
Backheuser foi um dos pioneiros na introdução do pensamento geopolítico no Brasil,
dedicando-se ao estudo e às possibilidades da sua aplicação às reformas do Estado.223 Mais
tarde, em 1933, voltou sua atenção para a questão da divisão territorial do Brasil.
Aproveitando o momento em que se discutia a nova Carta Constitucional publicou o livro
Problemas do Brasil (1933)224, assunto que será tratado no próximo capítulo
220
No âmbito dos estudos pedagógicos, ver, Everardo Backheuser, Técnica da Pedagogia Moderna: teoria e prática da
Escola Nova (1934), Técnica da pedagogia moderna: teoria e prática da Escola Naval (1934) e O trabalho das escolas
experimentais no Distrito Federal (1937).
221
Com a publicação de Geografia Política em 1897, Ratzel explicitou as relações entre o solo e o homem e o crescimento
espacial dos estados ao longo da história, mostrando-se precursor da geopolítica. Esta corrente dedicou-se ao estudo da
dominação dos territórios, referentes à ação do Estado sobre o espaço territorial. Da escola alemã ratzeliana surgiu a
concepção do “determinismo geográfico”, criada por militares e políticos europeus que defendiam a exploração das colônias.
Além de teorias como a que responsabilizava o clima pela “indolência do homem tropical” e pelo “subdesenvolvimento dos
países tropicais”. Alguns autores discorreram sobre as formas de operacionalizar e legitimar o imperialismo, tais como:
Rudolf Kjéllen (1864-1922), Harford Mackinder (1861-1947), Alfred Thayer Mahan (1840-1814) e Karl Haushofer (1862-
1945). Cf. Antonio Carlos Robert de Moraes, op. cit.; Shiguenoli Myamoto, op. cit.; Claude Raffestin, Por uma geografia do
poder. São Paulo: Ática, 1993.
222
Everardo Backheuser, A estrutura política do Brasil. Notas Prévias. Rio de Janeiro: Mendonça, Machado & Cia. Editores,
1929.
223
Sydney M. G. dos Santos, A cultura opulenta de Everardo Backheuser: os conceitos e as leis básicas de geopolítica. Rio
de Janeiro: Carioca Engenharia S. A., 1989, p. 199.
224
Everardo Backheuser, Problemas do Brasil: Estrutura geopolítica. Rio de Janeiro: Omnia, 1933, p.73.
74
(...) Não planejamos um curso especializado de geografia superior, não planejamos tão
pouco um curso de pedagogia superior, não planejamos mesmo um curso de pedagogia da
geografia elementar. Desejamos apenas, nos diferentes ramos escolhidos e que se
completam, apresentar um certo número de pontos de vista, de explicações, chamando a
atenção do auditório para feições interessantes e de utilidade prática. 226
227
Everardo Backheuser, “A nova concepção da geografia. Conferência realizada pelo professor dr. Everardo Backheuser,
inaugurando as preleções do Curso Superior Livre de Geografia”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 31, 1926-1927, p. 78.
228
O geógrafo alemão Otto Maull (1887 -1957) se destacou em estudos de geopolítica, geomorfologia e geografia física do
Brasil. Cf. José Veríssimo da Costa Pereira, op. cit., p. 436.
229
Evarardo Backheuser, op. cit., p. 80.
230
Como já se informou, Afonso Celso era sócio efetivo da SGRJ, membro da Academia Brasileira de Letras e presidente do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
231
Afonso Celso, “A nova concepção de geografia”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 31, 1926-1927, p. 90-93.
76
disciplina, ao mesmo tempo em que louvava o projeto recém implantado - mais um dos
“valiosos serviços” prestados à nação pela Sociedade, nos seus quarenta anos de existência232.
A primeira turma do Curso Superior Livre de Geografia, ingressa em 1926, cumpriu a
seguinte grade curricular, em dois períodos letivos:
Tabela no 1
Como se observa, o corpo docente reunir figuras expressivas, recrutadas não apenas
entre os membros da Sociedade, mas também em outras instituições, como a Escola
Politécnica do Rio de Janeiro, o Colégio Pedro II, a Escola Normal e o Museu Nacional, que
(...) representam a vanguarda do grande movimento em favor da geografia que está se
delineando.233. Embora a maior parte das disciplinas fosse ministrada por Delgado de
Carvalho e Everardo Backheuser, há que se notar no corpo docente os nomes de Edgar
Sussekind de Mendonça234, de Honório de Sousa Silvestre235, de Luiz Caetano de Oliveira236.
232
Idem.
233
Delgado de Carvalho, “Geografia – Ciência da Natureza”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 31, 1926-1927, p. 94.
234
Edgar Sussekind de Mendonça formou-se na Escola Nacional de Belas Artes, envolveu-se também com o movimento de
reforma do ensino, ao lado de Delgado de Carvalho e Raja Gabaglia, e da Reforma da Instrução Pública liderada por
Fernando de Azevedo da década de 1930. Ministrou as disciplinas de ciências físicas e naturais da Escola Normal. Escreveu
diversos compêndios e programas de ciências físicas e naturais, geografia e história natural aplicada. Cf. Maria de Lourdes de
Albuquerque Favero & Jader de Medeiros Britto, Dicionário de Educadores no Brasil. Rio de Janeiro; UFRJ, MEC-INEP-
Comped, 2002, p.285-290.
77
Sem falar da participação feminina, com a presença de Heloísa Alberto Torres, nome-chave
no processo de institucionalização da Antropologia e das Ciências Sociais no Brasil 237.
235
Honório de Sousa Silvestre,professor catedrático do Colégio Pedro II redigiu a obra Notas a fisiografia do Brasil (1922),
que no seu entender, reunia (...) cousas esparsas sobre a geografia física do Brasil. Honório de Sousa Silvestre, Notas a
fisiografia do Brasil. (Separata do Anuário do Colégio Pedro II), Rio de Janeiro, 1922.
236
Luiz Caetano de Oliveira, engenheiro e professor da Escola Politécnica do Rio de Janeiro e do Colégio Santo Inácio,
colaborou na Comissão de Melhoramentos e Obras Municipais (1914), além de elaborar livros e manuais didáticos, a
exemplo de Rudimentos de cálculo diferencial e de cálculo integral. São Paulo: Melhoramentos, 1939.
237
Heloísa Alberto Torres (1895-1977), filha do jurista Alberto Torres, iniciou sua carreira no Museu Nacional como
assistente de pesquisa de Edgard Roquette Pinto, sócio da Sociedade de Geografia. Em 1925, foi aprovada em primeiro lugar
no concurso para professor substituto da área de Antropologia, Etnografia e Arqueologia do Museu Nacional. Dona Heloísa,
como era conhecida, foi diretora daquela instituição, e colaborou com outras associações, tais como o Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional e a Associação Brasileira de Antropologia. Cf. Mariza Corrêa, Antropólogas e antropologia.
Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.
238
Para Vidal La Blache, as paisagens naturais constituem superposições das ações humanas e dos dados naturais ao longo do
tempo, portanto, uma herança histórica. Sobre a influência do tempo histórico do meio físico, ver: Roberto Lobato Corrêa,
“As correntes do pensamento geográfico”. In: ________. Região e organização espacial. São Paulo: Ática, 1991; José
William Vesentini, “Controvérsias geográficas: epistemologia e política” Confins, Revue Franco-brésilienne de Geographie,
n. 2, 1 semestre, 2008. [En ligne], mis en ligne le 17 février 2008. URL : http://confins.revues.org/document1162.html.
Consulté le 17 juillet 2008.
239
Delgado de Carvalho, op. cit., p. 100.
78
Disciplina Professor
Fisiografia e Paleografia Delgado de Carvalho
Cosmografia Honório de Sousa Silvestre
Antropogeografia Everardo Backheuser
Estatística Luis Caetano de Oliveira
Climatologia Jorge Machado
Etnografia e Antropologia Heloísa Alberto Torres
Ecologia Abel Pinto
Oceanografia Roberto Freire Seidl
Modelagem geográfica Delgado de Carvalho
Distrito Federal (Excursões) Everardo Backheuser
Fonte: Revista da Sociedade, T. XXI, 1926-1927, p. 102-103.
o programa da disciplina, preparado pelo professor Roberto Freire Seidl240, foi publicado em
1929. O curso dividia-se em seis lições: oceanografia; topografia e litologia do oceano; física
e química do mar; movimentos do mar; fauna e flora marítima e mares polares. 241 Na lição
inaugural, Seidl delineia um panorama histórico dos estudos de oceanografia, um campo do
conhecimento ainda em formação. Ele deplora a (...) inópia e o atraso do Brasil nestes
assuntos, país possuidor de mais de oito mil quilômetros de costa marítima, ao mesmo tempo
em que salienta as “vantagens práticas da exploração racional dos oceanos”, apesar de
assinalar a extrema dificuldade do seu estudo, devido à falta de instrumentos técnico-
científicos.242
Ao que tudo indica, o esforço dos coordenadores e o brilhantismo daquele grupo de
professores não foi o suficiente para manter o funcionamento do Curso, pois, sabe-se que no
segundo de atividades houve uma redução considerável do número de alunos. 243 Embora na
documentação disponível na Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro não exista nenhuma
relação dos alunos laureados em Geografia e Ciências Correlatas, é viável supor que houve
quem concluísse o Curso, uma vez que na Revista informa-se que a entrega dos diplomas
poderia ser realizada em sessão solene na Sociedade ou diretamente na secretaria. De
qualquer forma, tratava-se de um projeto educacional afinado com as idéias vigentes, ou seja,
percebia o estudo da geografia e da história como instrumentos para a disseminação do
patriotismo e para exaltação da grandeza nacional, o que confirma as premissas de Ruy
Moreira e de José William Vesentini, a respeito do processo de institucionalização do
conhecimento geográfico e do seu ensino no Brasil 244.
(...) Faz, hoje, cinqüenta anos que brasileiros ilustres criaram a Sociedade de
Geografia do Rio de Janeiro (...) [A Sociedade] Organizou expedições e congressos
(...) publica importante revista muito procurada no estrangeiro (...) tem uma tribuna
de onde se fazem ouvir vozes autorizadas, versando questões do maior interesse
coletivo. Mantém com as sociedades cultas do mundo intercâmbio cultural (...) É
assim (...) como uma roda imprescindível ao mecanismo da vida administrativa do
240
Roberto Freire Seidl (1895-1948) foi professor de colégios e de liceus, baseou seu planejamento em obras clássicas e
modernas, bem como realizou ampla pesquisa de gabinete nas repartições oficiais pertencentes a diversos ministérios e
instituições, a exemplo da Inspetoria Federal de Portos, Rios e Canis do Ministério da Viação e Obras Públicas.
241
Roberto Freire Seidl, Oceanografia (Formação e desenvolvimento). Rio de Janeiro, Est. Graphico Roland Rohe, 1929, p.
vi.
242
Idem, p. 36.
243
SGRJ, “Relatório do Presidente da Sociedade general Moreira Guimarães relativo ao ano social de 1926”. Revista da
SGRJ, Rio de Janeiro, t.31, 1926-1927.
244
Ver, Ruy Moreira. O Discurso do Avesso (para a crítica da geografia que se ensina). Rio de Janeiro: Dois Pontos, 1987,
p. 32. Para este autor, a história da institucionalização do conhecimento geográfico e do seu ensino no Brasil corroborava
com a valorização do Estado-Nação, o que se traduzia numa disciplina voltada para a ordem e para a valorização de seu
território. Ver, também, José William Vesentini, Para uma geografia crítica da escola. São Paulo: Editora do autor, 2008, p.
11.
80
país....
(Moreira Guimarães, “Simples Saudação”, 1933)245
245
José Maria Moreira Guimarães, “Simples Saudação”. Revista da SGRJ. Rio de Janeiro, tomo 37- 38, 1933, p. 120-121.
246
Mônica Pimenta Velloso, “Os intelectuais e a política cultural do Estado Novo” In: Jorge Ferreira e Lucilia de A. Neves
Delgado (orgs.), O tempo do nacional-estatismo: do início da década de 1930 ao apogeu do Estado.) Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2003, p. 148.
247
Insatisfeitos com a situação política, o movimento tenentista defendia o estabelecimento do voto secreto e a reforma
educacional, bem como o fim da poder das oligarquias. O movimento contribuiu para a crise que abalou a República Velha e
preparou o ambiente para a Revolução de 1930. Sobre o papel dos militares na década de 1930, Cf. José Murilo de Carvalho,
Forças Armadas e Política no Brasil, Rio de Janeiro: Zahar, 2005. Ver também, _____, “Vargas e os militares”, In: Dulce
Pandolfi (org.), Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro: Ed. Fundação Getulio Vargas, 1999, p. 341-344.
81
248
, Marieta Moraes Ferreira e Surama Conde Sá Pinto, “A crise dos anos 20 e a revolução de 1930”. In: Jorge Ferreira e
Lucilia de A. Neves Delgado (orgs.), op. cit., p. 404-405.
249
General Waldomiro Pimentel. “Comentários sobre os projetos da redivisão territorial política do Brasil”. Conferência
proferida na sessão de 6 de abril de 1934. Revista da SGRJ. Rio de Janeiro, tomo 40, 1935, 1º semestre, p. 60-61.
82
250
Aspásia Camargo, “Do federalismo oligárquico ao federalismo democrático”. In: Dulce Pandolfi (org.), op. cit., p. 346. A
constituição de 1934 manteve uma “retórica federativa” que disfarçava o regionalismo. Pretendia alcançar uma harmonia por
meio da via democrática liberal, combinando, portanto, a descentralização estadual e algumas reformas sociais.
251
Dois movimentos políticos faziam oposição ao regime e mobilizavam as massas populares: a Ação Integralista Brasileira
(AIB) fundada por Plínio Salgado, que defendia a consolidação de um governo centralizado, a perseguição aos comunistas e
a intervenção máxima do Estado na econômica Por outro lado, um grupo de militares e intelectuais liderados por Francisco
Mangabeira idealizou a Aliança Nacional Libertadora (ANL) que postulava à reforma agrária, a luta contra o imperialismo e
a revolução por meio da luta de classes. Sobre isso ver: Ângela de Castro Gomes [et al.], O Brasil republicano, v. 10:
sociedade e política (1930-1964), Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007, p. 159-168.
252
Ver Maria Helena Capelato, “O Estado novo: o que trouxe de novo?” In:. Jorge Ferreira e Lucília de A. Neves Delgado
(orgs.), op. cit., p.116-117. É importante lembrar que a Constituição de 1937 garantiu Getúlio Vargas tornar-se a autoridade
suprema do país. O princípio da harmonia e de independência entre os três poderes foi dissolvido. A Carta extinguiu os
partidos políticos existentes, instituía a pena de morte e o estado de emergência, o que significou a suspensão das imunidades
parlamentares, a permissão para a invasão de domicílios e uma série de outras medidas repressivas. Sobre isso ver: Ângela de
Castro Gomes [et al.], O Brasil republicano: sociedade e política, op. cit., p. 90-94.
253
Sobre a política econômica do período 1930 - 1945, ver, Maria Antonieta P. Leopoldi, “A economia política do primeiro
governo Vargas (1930-1945): a política econômica dos tempos de turbulência”. In: Jorge Ferreira e Lucília de A. Neves
Delgado (orgs.), op. cit, p. 241-285.
254
Simon Schwartzman, Helena M. Bomeny & Vanda Maria R. Costa (org.), Tempos de Capanema. São Paulo: Paz e Terra,
FGV, 2000, p. 32. Ver, também, Helena Bomeny, “Infidelidades eletivas: intelectuais e política”. In: _______, Constelação
Capanema: intelectuais e políticas. Rio de Janeiro: FGV, 2001, p. 17.
255
Idem, p.16.
83
uma vez que constituíam os formadores da opinião pública. Considerados a voz da sociedade,
tais indivíduos faziam uma espécie de elo entre o povo e o Estado 256. Uma amostra desta
simbiose pode ser identificada na edição do periódico oficial Cultura Política (1941-1945),
diretamente vinculado ao Departamento de Imprensa e Propaganda, e idealizado para
promover as realizações do governo. Tratava-se de uma “revista de estudos brasileiros”
destinada a definir e esclarecer as transformações sócio-econômicas as quais atravessavam o
país, e que agregou colaboradores de correntes ideológicas variadas, inclusive os modernistas,
os quais: (...) adequavam-se magnificamente bem à tarefa, tanto porque reinstalavam a
temática da brasilidade com feições militantes, quanto porque eram os intelectuais
disponíveis para o preenchimento dos cargos públicos do Estado Novo.257
Para a historiadora Ângela de Castro Gomes, nos regimes autoritários, a construção de
uma cultura política258, vincula-se fortemente à implementação de políticas públicas, que
investem de maneira eficiente e consciente na busca de sua legitimidade 259. No caso do
Estado Novo, de acordo com a autora, o conjunto de medidas voltadas para a recuperação do
“passado nacional brasileiro” revela uma dimensão específica de política pública em duplo
sentido. No primeiro momento, buscou-se articular determinados setores do aparato de
governo com atores sociais relevantes para a sociedade, a exemplo de artistas, de cientistas e
de intelectuais. No segundo, delimitou-se o lugar de representação da nacionalidade, através
da leitura e da valorização deste mesmo passado, por meio da formação de uma “cultura
histórica”, no sentido tomado por Jacques Le Goff de Bernard Guenée, para caracterizar a
relação que uma sociedade mantém com o seu passado. Segundo Ângela, o conceito de
“cultura histórica” permite “compreender melhor o quê especificamente os homens
consideram o seu passado e que lugar lhe destinam em determinado momento”.260
Na esteira das reflexões de Ângela de Castro Gomes, é possível inferir que ao lado da
sua dimensão temporal, própria de uma “cultura histórica”, uma sociedade também se
empenha em definir o espaço físico que ocupa. Isto enseja o surgimento de uma “cultura
256
No rol de colaboradores, incluíam-se também os ideólogos do Estado Novo, como Oliveira Vianna, Cassiano Ricardo,
Ignácio Azevedo Amaral, Francisco Campos e Lourival Fontes, entre outros. Idem, p. 140.
257
Ângela de Castro Gomes, “O Estado novo e a recuperação do passado brasileiro”. In: ______, História e Historiadores: a
política cultural do Estado Novo. Rio de Janeiro: FGV, 1996, p. 139.
258
A noção de cultura política aqui utilizada inspira-se na definição de Ângela de Castro Gomes, ou seja, entendida como
“um sistema de representações complexo e heterogêneo capaz de permitir a compreensão dos sentidos que um determinado
grupo atribui a uma dada realidade social, em determinado momento e lugar”.
259
Ângela de Castro Gomes, “Cultura política e cultura histórica no Estado Novo”. In: Martha Abreu, Rachel Soihet e
Rebeca Contijo (orgs.), Cultura política e leituras do passado: historiografia e ensino de história. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2007, p. 49.
260
Idem, p. 46.
84
geográfica”, por assim dizer, capaz de estabelecer vínculos entre os indivíduos e o território
pátrio. A categoria “cultura geográfica”, aqui proposta, de um lado, articula-se com a cultura
política do Estado Novo, de outro, aproxima-se com o que poderia ser delineado como o
campo da geografia dos anos de 1930 e 1940. Portanto, é viável supor que as políticas públicas
desenvolvidas na “Era Vargas” levaram a um conjunto de ações sistemáticas, originando uma
“cultura geográfica”, que buscava responder às seguintes demandas:
É evidente que para desenvolver essa “cultura geográfica” não se fez tabula rasa do
passado. Procurou-se suporte nas experiências e estudos anteriores, empreendidos (...)
prestigiosa Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro que de longa data vem liderando no
país as iniciativas e as realizações geográficas263.
Estabeleceu-se, assim, uma espécie de via de mão dupla entre os órgãos federais que
261
Cf. José Carlos de Macedo Soares. “Prefácio”. In: IBGE. Divisão Territorial dos Estados Unidos do Brasil. Rio de
Janeiro: IBGE, 1940, p. VII. Logo após o estabelecimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, foi baixado o
Decreto Lei n. 311, de 02 de março, a conhecida Lei Geográfica do Estado Novo de 1938, que determinava a ordenação da
toponímia dos municípios brasileiros, evitando a duplicidade de nomes, regulamentando os limites interestaduais, bem como
obrigava aos municípios a elaboração de cartas municipais para fins censitários.
262
Cf. SGRJ, “Resolução n. 22 de 18 de julho de 1938”. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística, v. 1, n.3, jul./set., 1939, p. 143. Sobre o IHGB, ver Lúcia Maria Paschoal Guimarães, Da escola
palatina ao silogeu: Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro(1889-1938): Rio de Janeiro: Museu da República, 2007.
263
Ver, “Resolução n. 22 de 18 de julho de 1938”. Op. cit.
85
264
Cf. Sérgio Luiz Nunes Pereira. Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro: origens, obsessões e conflitos. Op, cit. p. 174.
265
A entidade fora criada em 1922 na Bélgica, com o propósito de incentivar o estudo dos problemas geográficos; iniciar e
coordenar investigações geográficas que requeriam a cooperação internacional, por meio da discussão científica e da
publicação de obras, incitar a padronização e a compatibilidade de métodos, nomenclaturas e simbologias empregadas na
geografia e promover encontros internacionais a cada três anos. O 1º Congresso Internacional de Geografia realizou-se no
Egito, em 1925, e o 2º na Inglaterra, em 1928.
266
Alberto José Sampaio (1881-1946) é considerado um dos mais importantes botânicos de sua época e um dos pioneiros da
proteção à natureza no Brasil. Em 1934, organizou a Primeira Conferência Brasileira de Proteção à Natureza, com o apoio do
Museu Nacional e da Sociedade dos Amigos das Árvores. Defendia a preservação do meio ambiente tanto pelo seu caráter
utilitário, quanto do ponto de vista estético. Adepto das idéias de Alberto Torres, opinava que “a proteção à natureza deveria
ser obra de um Estado forte - capaz de integrar o conhecimento técnico-científico, programas de educação popular, e usar a
força, quando necessário”. Cf. José Luiz de Andrade Franco, José Augusto Drummond, “Alberto José Sampaio: um botânico
brasileiro e o seu programa de proteção à natureza”. Varia História, Minas Gerais, UFMG, n. 33, 2005, p. 153.
267
Ver, Alberto José Sampaio, “Terceiro Congresso Internacional de Geografia”. Anais da Academia Brasileira de Ciências.
Rio de Janeiro: Academia Brasileira das Ciências, t. 3, n. 4, 1931, p.195.
86
268
Idem, p. 202.
269
As fontes disponíveis não indicam a origem do convite feito a Emmanoel De Martonne.
270
De acordo com Marieta de Moraes Ferreira, as articulações para a vinda das missões francesas direcionadas para o
estabelecimento das universidades brasileiras constituíam um tema recorrente na pauta do Ministério das Relações Exteriores
da França “Os professores franceses e o ensino de história no Rio de Janeiro nos anos 30”, In: Marcos Chor Maio; Glaucia
Villas Bôas. (Org.). Ideais de Modernidade e Sociologia no Brasil - Ensaios sobre Luiz de Aguiar Costa Pinto. Porto Alegre:
Editora da Universidade/UFRS, 1999, v. 1, p. 277-299.
271
Comparecerem à sessão o reitor da Universidade do Rio de Janeiro, Fernando Augusto Ribeiro de Magalhães, o
conselheiro da embaixada da França, Visconde du Chaffault, o General Tasso Fragoso, os sócios da SGRJ Virgilio Corrêa
Filho, Silvio Fróes de Abreu, Arthur Moses, Eusébio de Oliveira, Alberto Sampaio e Delgado de Carvalho, dentre outros.
87
272
colaboração com o geógrafo alemão Friederic Ratzel. Para Sampaio:
(...) os problemas da geografia moderna são com efeito de uma tal complexidade que não
poderiam ser resolvidos pelas pesquisas puramente locais: descritiva, sistemática e
interpretativa; a geografia moderna é obrigada, não somente a estar em contato com as
diversas ciências físicas, naturais e sociais, mas ter em conta, na análise de cada caso local,
casos semelhantes verificados e eventualmente estudados em outras regiões. 275
272
Academia Brasileira de Ciências, “Recepção do professor Emmanuel De Martonne”, Rio de Janeiro, Anais da Academia
Brasileira de Ciências, t. 6, n. 1, 1934, p.27-48.
273
Idem, p. 31.
274
Emmanuel De Martonne, “Resposta do professor”. Rio de Janeiro, Anais da Academia Brasileira de Ciências, t. 6, n. 1,
1934, p. 34.
275
Idem, p. 38.
88
(...) O valor dessa cooperação se evidencia desde logo do duplo fato de vossa cultura e
brilhante operosidade em trabalhos geográficos bem como da variada riqueza de temas
geográficos de vosso extenso país, cujo futuro econômico é o melhor possível, se
considerarmos as riquezas naturais do país, suas inúmeras quedas d‟água, etc. 276
276
Idem, p. 41.
277
Academia Brasileira de Ciências, “Comitê Nacional de Geografia”. Rio de Janeiro, Anais da Academia Brasileira de
Ciências, t. 6, n. 1, 1934, p.45-48.
278
IBGE, “Histórico da Criação do Conselho Nacional de Geografia”. In: Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro:
IBGE, v. 1, n.1, jan./mar. 1939, p. 9-19.
279
Idem, p. 14.
89
280
Eli Alves Penha, A criação do IBGE no contexto de centralização política do Estado do Novo. Rio de Janeiro: IBGE,
Documentos para disseminação, 1993, p. 74.
281
Mário Augusto Teixeira de Freitas (1890-1956), bacharel em Direito. Trabalhou na Diretoria Geral de Estatística do
Ministério da Agricultura, Viação e Obras Públicas em 1911. Em 1920, foi Delegado Geral do Recenseamento de Minas
Gerais, onde testou com sucesso a aplicação do sistema de cooperação inter-administrativo. Com o golpe de 1930, assumiu a
Diretoria de Informação, Estatística e Divulgação, órgão subordinado ao Ministério da Educação e da Saúde Pública. O
Instituto Nacional de Estatística criado em 1934 baseava-se no seu plano de colaboração entre as esferas municipal, estadual
e federal. Entre 1936 e 1948, foi designado secretário geral do Conselho Nacional de Estatística, do Instituto Nacional de
Estatística, depois transformado no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
282
Mario Augusto Teixeira de Freitas, “Os serviços estatísticos do estado de Minas Gerais”. Revista da Sociedade, Rio de
Janeiro, t. 36, 1932, p. 170-229
283
IBGE, “Histórico da Criação do Conselho Nacional de Geografia”. In: Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro:
IBGE, v. 1, n.1, jan./mar. 1939, p. 15.
90
de lei, aprovado por Getúlio Vargas, que instituía o Conselho Nacional de Geografia, no
âmbito do Instituto Nacional de Estatística (INE). O mesmo decreto autorizava a filiação do
Brasil à União Geográfica Internacional e destinava recursos do Tesouro para esse fim, no
orçamento do Ministério das Relações Exteriores. O Conselho objetivava reunir e coordenar
os estudos geográficos no país, bem como promover a articulação entre órgãos oficiais,
instituições particulares e os profissionais no sentido de estabelecer a “cooperação geral para
um conhecimento melhor e sistematizado do território pátrio”.284 Mais tarde, em 1938, seria
criado o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, subordinado à presidência da
República, com a fusão do Conselho Nacional de Estatística e do Conselho Nacional de
Geografia, encampando também as competências do antigo Serviço Nacional de
Recenseamento.285 Nos primeiros anos de funcionamento, o IBGE esteve direcionado para a
pesquisa e a organização de conhecimentos geográficos e estatísticos, já que as universidades
se voltavam somente para o ensino. Caberia à nova instituição, portanto, realizar
investigações de campo com o objetivo de formalizar as informações sobre o território
nacional, tanto do ponto de vista da produção do conhecimento acadêmico, quanto
subsidiando ações para o planejamento estratégico do governo federal. 286
As repercussões positivas do Congresso de Paris, no entanto, extrapolaram a inserção
brasileira na União Geográfica Internacional. Serviram também de estímulo para que se
iniciasse um movimento de renovação da disciplina, em que se postulava passar de uma
geografia preocupada com a toponímia (...) para a geografia do conhecimento do espaço
brasileiro, através da introdução dos novos conceitos da pesquisa geográfica.287
A par disso, a visita de De Martonne à associação do Rio de Janeiro abriu caminho
para efetivar a contratação de professores franceses, tais como Pierre Deffontaines 288, Pierre
Monbeig e Francis Ruellan, que desempenharam um papel de grande relevância na
284
IBGE, “Histórico da Criação do Conselho Nacional de Geografia”. In: Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro:
IBGE, v. 1, n.1, jan./mar. 1939, p. 16.
285
Cf. Nelson de Castro Senra, História das Estatísticas Brasileiras. Rio de Janeiro: IBGE, CDDI, 2006. Ver, também,
Roberto Schmidt de Almeida, A Geografia e os geógrafos do IBGE, (1938-1998). Tese de Doutorado. Rio de Janeiro:
Programa de Pós Graduação em Geografia, UFRJ, 2000, p. 61-63.
286
Vera Lúcia Cortes Abrantes, “Fotografia e memória da geografia no IBGE”. In: XI Encontro Regional de História -
Democracia e conflito. Rio de Janeiro: ANPUH, 2004.
287
IBGE, “Histórico da Criação do Conselho Nacional de Geografia”. In: Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro:
IBGE, v. 1, n.1, jan./mar. 1939, p. 9.
288
Cf. Marieta de Moraes Ferreira, “Diário pessoal, autobiografia e fontes orais: a trajetória de Pierre Deffontaines” In:
International oral history conference. Oral history challenges for de 21 st. century. Rio de Janeiro: CPDOC/FGV/Casa de
Oswaldo Cruz, 1998, v.1, p. 379-386. Ver, também, Roberto Schmidt de Almeida, op. cit. p. 66.
91
implantação dos cursos superiores de geografia nas Universidades de São Paulo (1934) 289 e do
Distrito Federal (1935)290, sendo que nesta última não se pode esquecer a contribuição de
veteranos membros da Sociedade como os professores Delgado de Carvalho e Raja Gabaglia.
Vale lembrar que Pierre Deffontaines também foi responsável pela fundação da
Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB) em São Paulo e, quando se transferiu para o Rio
de Janeiro, em 1935, estabeleceu a filial carioca da Associação. A AGB pretendia a reunir os
egressos das faculdades de filosofia que desejassem explorar o território brasileiro, bem como
291
difundir as novas diretrizes da geografia. E, embora os seus objetivos não se mostrassem
muito distantes daqueles desenvolvidos pela Sociedade do Rio de Janeiro 292, o caráter de
órgão representativo da categoria, conferido à Associação, contribuiu para forjar o que os
estudiosos hoje em dia denominam de “comunidade científica” 293.
O período que se estende entre 1930 e 1945, não é demais repetir, caracterizou-se pelo
desenvolvimento de uma “cultura geográfica” de cariz nacionalista, em que se observa forte
incidência de trabalhos e de projetos voltados para a reforma geopolítica do território
brasileiro. Neste sentido, a propósito da convocação para a Assembléia Constituinte, em 1933,
a Sociedade de Geografia retomaria o debate a respeito da divisão administrativa do espaço
nacional. Além disso, recuperou a discussão a respeito da demarcação das divisas
interestaduais294, uma vez que, os dispositivos do Decreto no. 20137, baixado pelo Governo
289
Sobre o estabelecimento da Universidade de São Paulo e as relações entre Brasil e França, ver: Patrick Petijean, “As
missões universitárias francesas na criação da Universidade de São Paulo (1934-1940)”. In: Amélia I. Hamburger [et al.], A
ciência nas relações entre Brasil-França (1850-1950). São Paulo: EDUSP, FAPESP, 1996, p. 259-330.
290
Armen Mamigonian, “A AGB e a produção geográfica brasileira: avanços e recuos”. Revista Terra Livre, São Paulo, n. 8,
p. 157-62, 1991. _______. A geografia universitária carioca e campo científico disciplina da geografia brasileira. Tese de
Doutorado. Programa de Pós Graduação em Geografia Humana, Universidade de São Paulo, 2002,
291
Ver Manuel Correia de Andrade, Uma geografia para o século XXI. Campinas: Papirus, 1994.
292
No dia 17 de setembro de 1934, fundava-se a Associação dos Geógrafos Brasileiros na residência do professor Pierre
Deffontaines em São Paulo, com a participação do professor da Escola Politécnica, Luis Flores de Moraes Rego e dos
historiadores Rubens Borba de Moraes e Caio Prado Junior. Seguindo o modelo da Association de Geographie Française, a
entidade tinha por objetivos iniciais: 1º. a reunião periódica dos membros com exposição de um assunto de Geografia
brasileira por um do membros, seguida de discussão; 2º. Organização de excursões em comum para estudo de uma questão;
3º. Constituição de uma biblioteca especializada em Geografia, por colaboração dos membros e doações (livros, revistas e
cartas). Coube a presidência da entidade a Pierre Deffontaines, a função de secretário ficou a cargo de Caio Prado Junior e o
de tesoureiro a Rubens Borba de Moraes.
293
Cf. José Veríssimo da Costa Pereira, op.cit. Ver também, Mônica Sampaio Machado, op. cit.
294
Em 1885, José Carlos de Carvalho solicitou que a Sociedade de Geografia nomeasse uma comissão para estudar e
92
Provisório, em 22 de junho 1931, para solucionar aquelas pendências com base no principio
do uti-possidetis ainda não havia sido posto em prática, “tendo predominado o espírito
295
regionalista sobre o de brasilidade” , de acordo com a opinião externada na SGRJ pelo
comandante Thiers Flemimg 296.
Seja como for, no entender do sócio general Liberato Bittencourt, as circunstâncias
políticas se mostravam favoráveis para dirimir velhas pendências. O militar argumentava que,
se geografia praticada até então no Brasil caracterizava-se pelo empirismo, “uma ciência pura
de almanaque”, esta abordagem tradicional estaria em vias de transformação, com o
surgimento das “idéias revolucionárias”, advindas do golpe de 1930.297 Por conseguinte,
para os filiados da SGRJ, que se autoproclamavam “construtores da nacionalidade”, o governo
forte instituído por Vargas dispunha de meios para a resolver aqueles impasses, eliminando
certos regionalismos que constituíam um entrave ao desenvolvimento do país298.
O desequilíbrio geopolítico entre as unidades administrativas da Federação já vinha
sendo discutido na Sociedade de Geografia, desde 1919, quando Ezequiel Augusto Ubatuba
expôs uma proposta de redivisão territorial, conforme se viu no capítulo anterior.299 De fato,
a desproporção entre as áreas dos estados, assim como as divergências sobre os seus limites
físicos dificultavam a aplicação do sistema federalista.
Em contraposição a um alegado “sentimento marcadamente regionalista”, a Sociedade
decidiu formar um grupo de trabalho com a finalidade de estudar um novo desenho político-
administrativo para país. Denominado de “Grande Comissão Nacional de Redivisão
Territorial e Localização da Capital Federal”, o grupo seria coordenado por Everardo
apresentar ao governo imperial um parecer a respeito dos limites entre as províncias de Paraná e Santa Catarina. Em 1909,
durante o Primeiro Congresso Brasileiro de Geografia, José Arthur Boiteux apresentou um trabalho à comissão de Geografia
Histórica daquele certame sobre a questão de limites entre esses dois estados. Cf. Luciene Pereira Carris Cardoso, op. cit.
295
Thiers Fleming, “Pelo Brasil Unido”. Revista da Sociedade, Rio de Janeiro, t. 40, 1935, p. 19.
296
Thiers Fleming (1880-1971). Oficial da Marinha, participou das negociações do acordo que poria fim ao conflito armado
entre a população e os representantes do poder estadual e federal basileiro, denominada de “Guerra do Contestado”. O
conflito travado entre outubro de 1912 a agosto de 1916, numa região rica em erva-mate e madeira que era disputada pelos
estados do Paraná e de Santa Catarina. Fleming ocupou cargos de destaque nas esferas militar e intelectual. Foi Ministro-
Chefe do Estado Maior, sócio de entidades culturais e de representações da sociedade civil, tais como a Sociedade de
Geografia do Rio de Janeiro, Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Clube de Engenharia e a Liga de Defesa Nacional.
Dedicou grande parte de sua vida aos estudos dos limites interestaduais. Publicou vários livros e artigos, dentre os quais:
Limites Inter-estaduais (1917) e Limites e Superfície do Brasil e seus Estados (1918). Ver, IHGB. Dicionário Bibliográfico
de Historiadores, Geógrafos e Antropólogos Brasileiros. Rio de Janeiro: Gráfica Editora do Livro, 1992.
297
Liberato Bittencourt, “Sobre o estudo racional da geografia”. Revista da Sociedade, Rio de Janeiro, t. 37, 1933, p.71-75.
Em 1933, o general dissertou sobre os novos rumos do saber geográfico, demonstrando quais os melhores caminhos para a
nova divisão territorial brasileira. Manuel Liberato Bittencourt (1869-1948), professor e engenheiro formado pela Escola
Militar da Praia Vermelha, colaborou em diversos periódicos, a exemplo do Jornal do Comércio, do Correio do Amanha e
d‟O País, escreveu também diversos trabalhos literários. Ver: Afrânio Coutinho e J. Galante de Souza. Enciclopédia da
literatura brasileira. São Paulo: Global; Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Academia Brasileira de Letras, 2001.
298
Waldomiro Pimentel, “Comentários sobre os projetos de redivisão territorial política do Brasil”. Revista da Sociedade,
Rio de Janeiro, t.35, 1935, p. 60.
299
Ezequiel Ubatuba, “O Brasil futuro”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 25-26-27, 1912-1922, 1922, p. 121.
93
300
SGRJ, “Grande Comissão Nacional de Redivisão Territorial e Localização da Capital Federal”. Revista da Sociedade, Rio
de Janeiro, t. 37, 1933, p.71.
301
Shiguenoli Myamoto, op. cit., p.185.
302
Everardo Backheuser, Problemas do Brasil: estrutura geopolítica. O espaço. Rio de Janeiro: Omnia, 1933. O princípio da
equipotência dividia o território baseando-se em paralelos e meridianos, transformando a Federação em sessenta e quatro
unidades fundamentais, agrupadas em dezesseis estados e seis territórios.
303
SGRJ, “Grande Comissão Nacional de Redivisão Territorial e Localização da Capital Federal”. Revista da Sociedade, Rio
de Janeiro, t. 37, 1933, p. 130.
304
O livro está dividido em três partes: a primeira denominada “O valor político da grande área do Brasil” foi publicada no
Jornal do Comércio; a segunda, “O princípio da equipotência aplicado a divisão territorial do Brasil”, foi apresentada ao
Instituto Pan-Americano de História e Geografia. A última - “Localização da Capital Federal” constituía uma das
contribuições do autor para o Oitavo Congresso Brasileiro de Geografia, realizado em 1926 na cidade de Vitória.
94
Mapa no 2
O projeto de Divisão Territorial do Brasil de Everardo Backheuser
Além disso, de forma pioneira, Porto Seguro sugeriu transferir a capital do Brasil do
litoral para o interior. Plano, aliás, que reapareceria em 1891, na Primeira Constituição
Republicana, a qual previa a delimitação de uma área no planalto central de Goiás para que
305
Everardo Backheuser, Problemas do Brasil. Rio de Janeiro: Omnia, 1933.
95
fosse erguida uma nova sede do governo federal. 306 Para integrar a “Grande Comissão
Nacional de Redivisão Territorial e Localização da Capital Federal”, a Sociedade de Geografia
convidou instituições cientificas e culturais, além de órgãos técnicos do governo 307. Esperava-
se, assim, receber subsídios de outros campos do conhecimento, como a história, a sociologia
e a experiência militar, para redigir uma proposta consistente e de caráter científico, de modo a
equacionar a assimetria das unidades políticas do país:
Mapa no 3
Divisão territorial proposta pela “Grande Comissão Nacional” em 1933
306
Lúcia Maria Paschoal Guimarães, “A paternidade do passado”. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de
Janeiro, p. 55 - 59, 03 mar. 2006.
307
Foram convocados, entre outros, representantes da Sociedade dos Amigos de Alberto Torres, do Clube Militar, do Clube
de Engenharia, do Instituto dos Advogados do Brasil, do Instituto de Engenharia Militar, do Instituto Histórico e Geográfico,
do Serviço Geográfico do Exército, dos Ministérios da Marinha e da Guerra.
308
SGRJ, “Grande Comissão Nacional de Redivisão Territorial e Localização da Capital Federal”. Revista da Sociedade, Rio
de Janeiro, t. 37, 1933, p. 130.
96
Ao final dos trabalhos, a “Grande Comissão” propôs um mapa bem diverso daquele
idealizado por Backheuser. Previa a adoção de um quadro geopolítico menos fragmentado,
formado de vinte unidades federativas e dez territórios lindeiros, cobrindo praticamente toda a
área de fronteira com as nações vizinhas, entre o extremo norte e o sudoeste do país, o que
revela forte preocupação com a defesa da soberania nacional. Sugeria, ainda, substituir a
denominação de “estado” pela de “província”, de acordo com a tradição histórica da
autonomia política nacional. Para legitimar tais alterações, a Comissão advertia para
necessidade de se realizar uma campanha de esclarecimento junto à população, de forma a
conscientizá-la da sua importância:
(...) Outro argumento que se aponta comumente, é que redividindo-se o Brasil para
fortalecer-lhe a unidade, arrisca-se a quebrá-la inicialmente, promovendo-se a redivisão. Esse
argumento procederia se a redivisão fosse feita violentamente, sem apoio do povo e das
classes armadas, sem prévio trabalho de persuasão coletiva, com injustiças ou regionalismos
parciais.309
309
Idem, p.140.
310
Idem, p.135.
311
José Arthur Boiteux foi, também, idealizador e fundador do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina instalado
em 7 de setembro de 1896, na cidade de Florianópolis, com o objetivo de fortalecer os estudos históricos e geográficos
naquele estado. Cumpriu missão especial de pesquisa na Torre do Tombo, em Portugal, quando levantou documentos para
definir os limites entre Santa Catarina e Paraná. Iniciou sua carreira política com o regime republicano, elegendo-se deputado
estadual entre os anos 1894 e 1896. Cf. Augusto Victorino A. Sacramento Blake; Dicionário Bibliográfico Brasileiro. Rio
de Janeiro: Imprensa Nacional, 1902.
97
entre os rios Negro, Iguaçu, Uruguai e a fronteira com a Argentina. É importante acrescentar
que a disputa só seria resolvida em 1937, com o advento do Estado Novo, sendo Getúlio
Vargas enaltecido na SGRJ como o “Deus-Terminus” das questões dos limites
interestaduais312.
Em relação à proposta da transferência da capital federal do litoral para o interior do
país, a Sociedade de Geografia também se afastou do projeto de Backheuser. Recuperou o
antigo Relatório da missão chefiada pelo astrônomo Luiz Cruls (1894), que demarcou no
estado de Goiás, uma área considerada adequada para erguer a nova capital da República,
chamada de “Quadrilátero Cruls”. Para a “Grande Comissão”, novamente, prevaleceu a
intenção de preservar a soberania nacional, já que a capital localizada em área central do país
ficaria melhor protegida de possíveis ataques externos.313
A consecução do plano elaborado pela Grande Comissão orientava-se por duas
estratégias: a primeira cogitava separar os estados somente nas “partes despovoadas, decaídas,
insalubres, longínquas, de difíceis comunicações”; e a segunda consistia em dividir as extensas
regiões de fronteira, de “vida incipiente e progressista, mas carentes de policiamento, de
instrução, de povoamento e de vigilância”. Aconselhava-se efetivar a sua ocupação, por meio
de medidas de incentivo à lavoura, ao lado da implantação de modernos meios de transporte,
os quais permitiriam o escoamento da produção agrícola e garantiriam o contato permanente e
rápido, com o governo central até então sediado no Rio de Janeiro 314.
Além do projeto da “Grande Comissão Nacional”, outro esquema de divisão de
unidades federativas seria submetido à Sociedade, em 1934, desta feita pelo tenente-coronel
Raul Correia Bandeira de Melo, um dos integrantes daquele grupo. No ensaio geográfico “As
novas subdivisões político-administrativas do Brasil”, Bandeira de Melo sugeriu fracionar o
território em setenta unidades, abrangendo trinta estados, vinte territórios, dez províncias e
dez distritos.315
312
Segundo Thiers Fleming, a problemática dos limites interestaduais estava apenas no “domínio histórico”, cabendo a sua
demarcação do Serviço Geográfico do Exército. Thiers Fleming, “Pelo Brasil Unido”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t.
46, 1939, p.10. Em 1940, foi publicada uma versão ampliada da comunicação realizada no ano de 1939.
313
“Grande Comissão Nacional de Redivisão Territorial e Localização da Capital Federal”. Revista da Sociedade, Rio de
Janeiro, t. 37, 1933, p.138.
314
Idem, p. 133.
315
Raul C. Bandeira de Melo, “As novas subdivisões da política administrativa do Brasil”. Revista da Sociedade, Rio de
Janeiro, t. 39, 1934.
98
Mapa no 4
Projeto de Divisão Territorial proposta por Raul Bandeira de Melo
Fonte: Fleming, Thiers. Pelo Brasil unido e forte. Nova Divisão Territorial do Brasil.
Rio de Janeiro, 1939. p. 129.
316
Ver Mariza Campos da Paz, Noel Nutels: a política indigenista e a assistência à saúde no Brasil central. Dissertação de
Mestrado. Programa de Pós Graduação em Medicina Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 1994.
317
. Cf. Mario G. Losano. “A geopolítica, da Alemanha nacional-socialista à América Latina: os casos da Argentina e do
Brasil”. In: Hugo Cancino y Rogelio de la Mora (orgs.). Ideas, intelectuales y paradigmas em América Latina (1850-2000).
Xalapa (México): Universidad Veracruzana, 2007, p. 15-44.
99
Aliás, o fantasma de uma nova guerra já se fazia notar nas reuniões da Sociedade.
Além das propostas de reordenamento interno do território formuladas por Backheuser, pela
“Grande Comissão” e por Bandeira de Mello, passou-se a discutir a introdução de mais uma
especialidade do conhecimento geográfico – a “geobélica”. A nova disciplina seria defendida
pelo mencionado coronel Bandeira de Mello, que procurava defini-la como uma área de
estudos, destinada a aproximar civis e os militares: (...) superintendendo teorias especializadas
e com capacidade de aplicação compulsória nos misteres da segurança nacional e no respeito
à nossa uniformidade lingüística (....) a mentalidade militar atualizará a tática e a estratégia,
mercê da impulsão que comunicarem ao binário geografia-operações militares318.
De qualquer modo, sabe-se que a noção de "espaço vital"319, uma das razões teóricas
da deflagração da Segunda Guerra Mundial, constituiu uma das principais motivações que
levariam a “cultura geográfica” do período Vargas a intensificar esforços para ocupar os
vazios demográficos do centro-oeste, uma parte substantiva do território nacional quase
despovoada. Neste sentido, o conhecimento geográfico serviria para o “amenegement”
daquele espaço físico, sem falar dos seus fins estratégicos e militares:
(...) a geografia, enquanto descrição metodológica dos espaços, tanto sob os aspectos que se
convencionou chamar de “físicos”, como sob suas características, econômicas, sociais,
demográficas, políticas (para nos referirmos a um certo corte do saber), deve ser
absolutamente recolocada, como prática e como poder, no quadro das funções que exerce o
aparelho de Estado, para o controle e a organização dos homens que povoam o seu território
e para a guerra. 320
318
Raul Correia Bandeira de Melo, “Apelo”, Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 45, 1938, p. 139. Tais idéias foram
aprofundadas na obra Ensaios de geobélica brasileira. Ver, _______ Ensaios de geobélica brasileira. Rio de Janeiro:
Imprensa Nacional, 1938.
319
De acordo com essa noção, o território estava sempre propenso a profundas alterações. O espaço vital seria a área
necessária para a expansão territorial de um povo, uma conseqüência natural do progresso da nação, o desequilíbrio entre a
população e os recursos disponíveis justificariam o direito de conquista dos territórios dos povos mais fracos pelos mais
fortes, tese que seria posteriormente adaptada pelo partido nazista alemão. A perda do território significava a decadência da
sociedade e o progresso do estado consistia na conquista de novas regiões. Sobre assunto ver: Antonio Carlos Robert de
Moraes, Geografia: pequena história crítica. São Paulo: Hucitec, 1999, p. 56; Shiguenoli Myamoto, op. cit., p. 25.
320
Jean Yves Lacoste, A geografia isso serve, em primeiro lugar para fazer a guerra. São Paulo: Papirus, 1989, p. 10.
100
321
Constituição dos Estados Unidos do Brasil – de 10 de Novembro de 1937. Título: Da Segurança Nacional. Art. 165:
Dentro de uma faixa de cento e cinqüenta quilômetros ao longo das fronteiras, nenhuma concessão de terras ou de vias de
comunicação poderá efetivar-se sem audiência do Conselho Superior de Segurança Nacional, e a lei providenciará para que
nas indústrias situadas no interior da referida faixa predominem os capitais e trabalhadores de origem nacional.
322
Constituição dos Estados Unidos do Brasil – de 10 de Novembro de 1937. Título: Disposições Transitórias e finais. Art.
184: Os Estados continuarão na posse dos territórios em que atualmente exercem a sua jurisdição, vedadas entre eles
quaisquer reivindicações territoriais § 1º - Ficam extintas, ainda que em andamento ou pendentes de sentença no Supremo
Tribunal Federal ou em Juízo Arbitral, as questões de limites entre Estados. § 2º - O Serviço Geográfico do Exército
procederá às diligências de reconhecimento e descrição dos limites até aqui sujeitos a dúvida ou litígios, e fará as necessárias
demarcações.
323
SGRJ, “Retrospecto”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 46, 1939, p. 87-89.
324
O interesse do governo nazista pelas regiões de grande fluxo imigratório germânico no Brasil era notório desde o início do
século XX, principalmente no estado de Santa Catarina. Ver, Mario Losano, op. cit.
101
uma identidade nacional constituía uma figura central do imaginário político varguista. 325
No rastro da “Macha para o Oeste” e com base no conceito de região natural, em
1942, o Conselho Nacional de Geografia concebeu um novo mapa do território brasileiro,
dividindo-o em 5 “grandes regiões”: Norte, Nordeste, Leste, Sul e Centro-Oeste, sendo que a
região nordeste se subdividia em nordeste oriental e nordeste ocidental, e a região leste, em
leste setentrional e leste meridional. No ano seguinte, Vargas assinou o decreto-lei 5812 de 13
de setembro, estabelecendo cinco territórios federais, cuja gestão subordinava-se diretamente
ao poder central: Amapá, Rio Branco (atual Roraima), Guaporé (atual Rondônia) na região
326
norte; Iguaçu, na região sul; e Ponta Porá, na região centro-oeste . Cumpria-se, assim, a
última etapa do processo, a chamada “Lei Geográfica do Estado Novo”327.
Mapa no 5
Divisão territorial do Brasil em 1944
325
Ângela de Castro Gomes, “Ideologia e trabalho no Estado Novo”. In: Repensando o Estado Novo. Organizadora: Dulce
Pandolfi. Rio de Janeiro: Ed. Fundação Getulio Vargas, 1999, p. 53.
326
O Território Federal de Fernando de Noronha fora criado em 1942 e incluído na região Nordeste Oriental. Em 1946, após
o fim do Estado Novo, os territórios de Iguaçu e Ponta Porã foram extintos.
327
Ver, José Carlos de Macedo Soares. “Prefácio”. In: IBGE. Divisão Territorial dos Estados Unidos do Brasil. Rio de
Janeiro: IBGE, 1940, p. VII.
102
(...) a Sociedade teve o prazer de triunfar um dos seus projetos há muito cogitado, qual seja o
problema da criação de novos territórios federais, problema esse encarado concretamente
pelo governo da República, pelo decreto de 13 de setembro de 1943, que criou cinco novos
territórios. Conforme deveis estar recordados, publicou em 1933 no tomo 38 de sua Revista e
posteriormente em separata a redação final da matéria vencedora da “Grande Comissão
Nacional de Redivisão Territorial e Localização da Capital Federal”, na qual era proposta a
criação de dez territórios. 328
328
SGRJ, “Relatório das atividades da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro de 1943”. Revista da Sociedade de
Geografia, Rio de Janeiro, t.51, 1944, p. 99
329
SGRJ, “Relatório do ano de 1935”, Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 42-44, 1936-1937, p. 84.
103
330
Raimundo Saladino de Gusmão, “A constituição Brasileira”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 42-44, 1936-1937, p. 05-
19.
331
Sobre a biografia de José Wanderley de Araújo Pinho, ver, Afrânio Coutinho e J. Galante de Souza. Enciclopédia de
literatura brasileira. São Paulo: Global; Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Academia Brasileira de Letras, 2001.
332
F. Restrepo Eldridge, “O esforço do Japão para o predomínio comercial no mundo”. Revista da Sociedade, Rio de
Janeiro, t. 40, 1935, p. 159-165.
333
José Wanderley de Araújo Pinho, “Fixação de imigrantes e assimilação do imigrante estrangeiro”. Discurso pronunciado
na Câmara dos Deputados em sessão de 29 de junho de 1935. Revista da Sociedade de Geografia, Rio de Janeiro, t. 40, 1935.
104
(...) devemos preferir a raça de bom talhe, boa pigmentação, cutânea e pilosa, boa
compleição, no sentido das medidas antropométricas, sem o esquecimento de tendências
subjetivas, favoráveis e que se enquadrem aos fins do imigrante. (...) É mister o exame
prévio e rigoroso às levas destinadas ao Brasil, pois que necessitamos, para os nossos
empreendimentos agrários, capacidades físico-psíquicas que se recomendem.335
334
Idem, p. 145.
335
José Magarinos, “Imigração (Esboço Médico-Social)”. Revista da Sociedade, Rio de Janeiro, t. 40, 1935, p. 156.
336
Ângela de Castro Gomes, “O trabalhador brasileiro”. In: ______, Lúcia Lippi Oliveira, Mônica Pimenta Velloso, Estado
Novo: ideologia e poder. Rio de Janeiro: Zahar, 1982, p.162.
337
Ângela de Castro Gomes, “Através do Brasil: o território e o seu povo”. In: ______, Dulce Chabes Pandolfi, Verena
Alberti (coords.,), A República do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, CPDOC, 2002, p. 190.
105
Mapa no 6
Carta Lingüística da América do Sul elaborada por Renato Mendonça
No mapa elaborado por Renato Mendonça, nos países de origem hispânica acham-se
assinalados os principais focos de dispersão do idioma espanhol e os fatores determinantes
desse processo, apesar dos esforços para manter a unidade da língua herdada da velha
metrópole. No que diz respeito aos domínios da América Portuguesa, Mendonça avaliava que
a formação de um “idioma brasileiro”, caminhava independente do português europeu.
338
Renato Mendonça, “Geografia Lingüística”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 42-44, 1936-1937, p.54.
106
Argumentava que não se tratava de (...) expressão de lusofobia, o ridículo para nós
brasileiros da pronúncia portuguesa, a preocupação em suma de todo o nacionalismo
lingüístico. A questão, portanto, deveria ser encarada do ponto de vista científico, uma vez
que a transplantação da língua (...) das terras lusas para o território americano, os elementos
históricos de diferenciação como o indígena e o africano, a expansão da língua por uma
vasta região, a ação do tempo na continuidade geográfica são todos aliados de uma causa
comum.339
339
Idem, p. 80.
340
Pierre Deffontaines, “Nos responsabilités géographiques dans les zones tropicales”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t.
42-42, 1936-1937, p.131.
341
Idem.
342
Idem, p. 133.
343
Idem, p. 137.
344
Idem, p. 139.
107
1940, mereceu um alentado “Relatório” publicado na Revista. A mostra teve lugar no Quartel
General do Exército, sob a direção do general Valentim Benício da Silva e dividia-se em
diversos setores, compreendendo a educação física, o ensino, o “adestramento técnico” e o
aparelhamento militar. Entre os destaques apontados no “Relatório”, figuravam as atividades
do Serviço Geográfico e Histórico do Exército e da Comissão Rondon. O presidente da
Sociedade enalteceu o papel desempenhado pelo Exército naquele decênio e salientando o
desenvolvimento técnico e militar, em especial, o dos trabalhos de levantamento
aerofotogramétrico 345.
Outro militar, o coronel Temístocles Pais de Sousa Brasil, levou para exame na
Sociedade um estudo sobre a produção e a comercialização do petróleo do Brasil, em que
descrevia os avanços das pesquisas realizadas pela Divisão de Geologia e Mineralogia do
Departamento Nacional de Produção Mineral. De acordo com Sousa Brasil, o órgão formulara
um programa de trabalho sistemático para a exploração de óleo no território do Acre e na
região norte, o que demandava não só altos investimentos financeiros, mas também a
contratação de especialistas e técnicos estrangeiros de “fama internacional”, com o intuito de
introduzir novas técnicas de pesquisa. Porém, o oficial advertia para a necessidade da
nacionalização desses trabalhos “sob administração e direção genuinamente brasileira”. 346
O tema da exploração da região amazônica ressurgiria nas sessões da SGRJ. Aristeu
Portugal Neves, por exemplo, apresentou um ensaio sobre as potencialidades geológicas
daquela área ignoradas pelos especialistas, (...) um trecho de terra depositário de inesgotáveis
reservas para o Brasil e a humanidade.347
Mas, a tradicional problemática dos limites entre o Brasil e os países vizinhos também
continuava sendo alvo de reflexões dos membros da Sociedade. O já citado coronel
Temístocles Pais de Sousa Brasil, elaborou um estudo comparativo entre o trabalho de campo
da Comissão Demarcadora de Limites do Setor Oeste, da qual foi integrante, e o da Comissão
Colombiana de Limites com o Brasil, de 1931. Concluiu que nos dois casos, os tratados
internacionais firmados se baseavam em cartas nem sempre precisas (...) das quais a grande
maioria, senão as totalidades, são tratadas a simples vista ou por informações quando a
345
O “Relatório” foi preparado por uma comissão formada pelos sócios Antônio dos Santos Oliveira Junior, Raul Bandeira
de Mello, Luiz de Oliveira Belo e Carlos Paes de Xavier Barreto. SGRJ, “Relatório apresentado pela comissão encarregada
de representar a Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro na Exposição Retrospectiva do Exército, inaugurada em 10 de
novembro de 1940”, Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 47, 1940, p. 123.
346
Temístocles Pais de Sousa Brasil, “Fenômenos econômicos e petróleo”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 47, 1940, p.
20.
347
Aristeu Portugal Neves, “A região amazônica”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 49, 1942, p.11.
108
fantasia dos cartógrafos não os leva a fraude de riscar a esmo para fazerem trabalho artístico
(...).348
O assunto da fixação da fronteira com a Colômbia foi objeto, ainda, da pena do general
Candido Rondon. Ele apresentou aos pares da Sociedade uma descrição das atividades da
comissão mista demarcadora de limites de 1933, da qual participara como delegado brasileiro.
Nesta mesma ocasião expôs os resultados do levantamento e do reconhecimento topográfico
do rio Querari. 349
Já o sócio João Severiano da Fonseca Hermes debruçou-se sobre a definição da linha
divisória entre o Brasil e a Bolívia. Após diversos cotejos, verificou que (...) não havia
disparidade entre o Tratado de 1907 e a descrição da divisória demarcada segundo Rondon,
mas desconhecimento topográfico da região na época em que foi assinado aquele ajuste e o
resultado das explorações realizadas.350
Por outro lado, o conflito armado que a esta altura seguia em curso na Europa projetou
um sentimento de engrandecimento do papel das forças armadas no Brasil. Na Sociedade de
Geografia, reiterando essa concepção, o almirante Raul Tavares fez um manifesto a respeito
do estreito relacionamento entre a geografia, a história militar e a estatística “cuja influência
sobre um plano de guerra é enorme”. Argumentava que sem o cruzamento destes saberes, viu-
se a (...) Rússia ser abatida pelo Japão, que por sua vez, havia batido já a China. Para
Tavares, além da importância das cartas topográficas e geográficas, os dados estatísticos
revelam as várias atividades do homem: (...) a preferência da sua escolha é determinada tanto
pelo estudo das linhas geográficas, quanto do conhecimento da potência militar, das
instituições políticas e civis, da capacidade econômica, da densidade da população, das suas
condições morais e, em geral, de tudo aquilo que se refere ao militar, ao cidadão, ao
homem.351 Não é demais recordar que a entrada do Brasil na 2ª Grande Guerra estimularia
352
ainda mais as investigações sobre o território nacional, seus recursos naturais e humanos.
Havia, no entanto, quem deixasse de lado o conflito armado, as questões de segurança
nacional e as demandas do governo, para fazer incursões no imaginário geográfico, por assim
348
Temístocles Pais de Sousa Brasil, “Demarcação de limites entre o Brasil e a Colômbia”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro,
t. 45, 1938, p. 11.
349
Cândido Mariano Rondon, “Efemérides geográficas”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 51,1944, p. 3-8.
350
João Severiano da Fonseca Hermes, “Demarcação da linha divisória entre o Brasil e a Bolívia”. Revista da SGRJ, Rio de
Janeiro, t. 48, 1941, p. 37.
351
Raul Tavares, “Discurso do presidente da Sociedade de Geografia”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 49, 1942, p. 4.
352
Alexandre de Paiva Rio Camargo, “O ideário cívico do IBGE: reformas sociais de base e projeto de Brasil aos olhos da
estatística”. In: Nelson de Castro Senra, História das Estatísticas Brasileiras. Rio de Janeiro: IBGE, CDDI, 2006, p. 398.
109
dizer. Tal como o capitão de fragata Luis Alves de Oliveira Belo, que abordou na Sociedade
de Geografia o tema A Atlântida de Platão, e concluiu que (...) a geografia dos gregos,
egípcios e fenícios era muito incompleta, imperfeita e confusa, limitada tão somente ao mar,
acrescida de lendas e errôneas conclusões, produto das suas navegações 353 .
De qualquer modo, do conjunto de intervenções publicadas na Revista, observa-se que
durante a “Era Vargas” a SGRJ não só colaborou de maneira efetiva com os órgãos públicos,
como também privilegiou o estudo de questões eminentemente práticas e contemporâneas,
corroborando a afirmação de Severiano da Fonseca Hermes, (...) A missão da Sociedade de
Geografia é precisamente esta: incentivar o gosto pelos estudos geográficos até a
demonstração de sua necessidade como imperativo nacional354.
353
Luiz Alves de Oliveira Belo, “Acerca da Atlântida de Platão”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 51, 1944, p. 10.
354
João Severiano Hermes da Fonseca, “Considerações e conclusões”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 53, 1946, p. 137.
110
A epígrafe acima transcrita é parte do discurso proferido pelo ministro Bernardino José
de Sousa, em São Paulo, para anunciar a convocação do 9º Congresso Brasileiro de Geografia.
Com efeito, em 1939, a SGRJ deliberou realizar o evento no ano seguinte, na cidade de
Florianópolis, entre 7 e 14 de setembro. Retomava, assim, uma antiga prática iniciada em 1909
e interrompida em 1926, ou seja, a de promover, periodicamente, jornadas acadêmicas
voltadas para o exame de temas e de problemas inerentes ao estudo da disciplina.
Não é da nossa intenção nesta tese elaborar uma análise crítica da evolução do
pensamento geográfico brasileiro, a partir da leitura dos Anais daquelas reuniões científicas.
Nem teríamos competência para fazer tal apreciação, o que deve ser alvo da atenção de
especialistas. Além disso, a documentação disponível apresenta enormes lacunas. Entretanto,
na medida do possível, convém fazer um rápido cotejo dos congressos promovidos pela
Sociedade, contextualizá-los, identificando algumas permanências e rupturas.
Para efeito de comparação analítica, optamos por agrupar os congressos da SGRJ em
dois intervalos de tempo. Consideramos como o primeiro, o que se estende entre os anos de
1909 e 1926. No período, exceto aquele realizado no Rio de Janeiro, no ano de 1909, do qual
já tratamos com profundidade em outro trabalho 356, os demais encontros tiveram lugar em
diversas capitais brasileiras, contaram com financiamento de órgãos públicos e maior
participação de entidades estaduais que os acolhiam, dando margem ao acentuado
aparecimento de contribuições que privilegiavam temáticas locais.
355
Bernardino José de Souza, “Conferência”. 9º Congresso brasileiro de Geografia, Anais do 9º Congresso Brasileiro de
Geografia, Rio de Janeiro, Serviço Gráfico do IBGE, vol. 1, 1941, p. 20
356
Cf. Sobre o 1º Congresso Brasileiro de Geografia, ver, Luciene Pereira Carris Cardoso, Sociedade de Geografia do Rio de
Janeiro: Identidade e Espaço Nacional (1883-1909), op. cit., p. 123-151.
111
Tabela nº 3
Congressos Brasileiros de Geografia (1909-1944)
Fonte: Tabela elaborada a partir das informações levantadas nos anais dos congressos brasileiros de geografia .
357
Ver. Resolução nº 22, de 18 de julho de 1938.
358
Lindolfo Octávio Xavier, “Revista Geográfica”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 15,1917, p. 06.
112
359
“Relatório”. 4º Congresso Brasileiro de Geografia, Anais do 4º. Congresso Brasileiro de Geografia, Recife, 1916, vol. 1,
p. 61.
360
Os representantes enviados pela da SGRJ eram os sócios José Arthur Boiteux, José Cadaval, Antonio Alves Câmara e
Taciano Accioly Monteiro João Baptista Regueira Costa. Idem, p. 22.-25.
361
Os trabalhos do 4º Congresso foram divididos em doze comissões científicas, a saber: Comissão de Geografia Física e
Política, Comissão de Geografia Matemática e Cartografia, Comissão de Vulcanologia e Sismologia Comissão de
Hidrografia, Potamografia e Limnologia, Comissão de Oceanografia, Comissão de Meteorologia, Climatologia e Magnetismo
Terrestre, Comissão de Geografia Biológica, Geografia Botânica e Zoogeografia, Comissão de Antropologia e Etnografia,
Comissão de Geografia Econômica e Social, Comissão de Ensino de Geografia, Regras e Nomenclatura e Comissão de
Geografia Histórica.
362
“Relatório”. Congresso Brasileiro de Geografia, Anais do 4º. Congresso Brasileiro de Geografia, Recife, 1916, vol. 1, p.
54.
363
Idem, p. 53.
113
364
J. Thimes Pereira, “O Brasil e a sua divisão territorial sob o ponto de vista político, social e econômico”. 4º Congresso
Brasileiro de Geografia, Anais do 4º Congresso Brasileiro de Geografia, Recife, 1916, vol. 2, p. 37-38.
365
Bernardino José de Souza, “Conferência”. 9º Congresso brasileiro de Geografia, Anais do 9º Congresso Brasileiro de
Geografia, Rio de Janeiro, Serviço Gráfico do IBGE, vol. 1, 1941, p. 16.
366
Ver “Relatório”, 5º Congresso Brasileiro de Geografia, Anais do 5º Congresso Brasileiro de Geografia, Recife, 1916, vol.
1, p. 12-13.
367
O encontro dividiu-se em doze seções, a saber: geografia matemática (geoplanetologia, noções topográficas e geodésicas,
cartografia); geografia física (aerologia, oceanografia, geomorfologia); vulcanologia e sismologia; climatologia e geografia
médica; biogeografia (fitogeografia e zoogeografia); antropogeografia ou geografia humana; geografia política e social;
geografia econômica e comercial, geografia agrícola; geografia militante e geografia histórica; ensino da geografia, regras e
nomenclatura; e monografias descritivas regionais. Os Anais do 5º Congresso compreendem 2 volumes: o primeiro volume
contém o relatório de atividades, o regulamento e regimento do congresso, a relação de memórias apresentadas, além das
resoluções e das moções. O segundo concentra os trabalhos das comissões científicas (atas, pareceres, monografias). Cf.
“Regulamento do 5º Congresso”. 5º Congresso Brasileiro de Geografia, Anais do 5º. Congresso Brasileiro de Geografia,
Bahia, Imprensa Nacional, 1916, vol. 1, p. 19.
114
geográficas. 368 Criou-se, também, uma seção de monografias dedicadas a temáticas regionais
que, por sinal, iria concentrar a maior parte dos trabalhos expostos. O que não é de se
estranhar, uma vez que 75% dos congressistas inscritos eram naturais do estado da Bahia.
Outra novidade a ser assinalada foi a introdução no programa de um segmento
dedicado à geografia médica, área que buscava articular a climatologia e com a medicina.
Cientistas reconhecidos, Antônio do Prado Valladares, professor da Faculdade de Medicina da
Bahia369, Otávio Torres370 e Alfredo Augusto da Matta371 discutiram a relação entre clima e
doença, além de propostas para a organização de uma carta nosográfica das regiões do
território brasileiro e o incentivo ao estabelecimento de associações destinadas ao estudo das
doenças tropicais.
Entre os estudos antropogeográficos, vale a pena assinalar as monografias assinadas
por Egas Moniz Barreto de Aragão e por Manuel Raimundo Querino. O primeiro apontava o
uso equivocado do conceito de “raça latina”, para se referir aos povos cujos idiomas derivam
do latim, noção que se disseminara com a Primeira Grande Guerra. Assegurava que o Brasil
não possuía um tipo étnico definido. Sendo assim, (...) em vez de julgar lamentável a sua
etnogênese, o povo brasileiro, deve, pelo contrário, orgulhar-se de ser uma „officina
gentiumm‟ e de sentir correr-lhe nas veias o sangue de todas as raças das terras, encerrando
assim na sua alma a própria alma da humanidade.372
Já Manuel Querino, considerado hoje em dia, o primeiro estudioso afro-descendente a
destacar a participação do negro na cultura brasileira, apresentou um alentado ensaio sobre
costumes, hábitos e práticas introduzidas pelos escravos, enriquecido de material iconográfico
de várias tribos africanas.373 Na opinião de Querino, (...) o africano foi um grande elemento
ou o maior fator da prosperidade econômica do país: era o braço e nada se perdia do que ele
368
Cf. “Relatório”, op. cit., p. 17.
369
Antônio do Prado Valladares, “Delimitação do conceito cientifico das expressões tropicais, patologia tropical”. 5º
Congresso Brasileiro de Geografia, Anais do 5º Congresso Brasileiro de Geografia, Bahia, Imprensa Nacional, 1916, vol. 1,
p. 433.
370
Octavio Torres, “Descrição da distribuição da leshmaniose na Bahia”. 5º Congresso Brasileiro de Geografia, Anais do 5º.
Congresso Brasileiro de Geografia, Bahia, Imprensa Nacional, 1916, vol. 1, p. 443.
371
Alfredo Augusto da Matta, “Noções de climatologia de Manaus”. 5º Congresso Brasileiro de Geografia, Anais do 5º
Congresso Brasileiro de Geografia, Bahia, Imprensa Nacional, 1916, vol. 1, p. 513.
372
Egas Moniz Barreto Aragão, “Um falso conceito de raça em antropogeografia”. 5º Congresso Brasileiro de Geografia,
Anais do 5º Congresso Brasileiro de Geografia, Bahia, Imprensa Nacional, 1916, vol. 1, p. 551-565. Vale destacar que
Barreto Aragão se destacou também como poeta e foi um dos fundadores da Academia de Letras da Bahia em 1917.
373
Ver Eliane Nunes, “Manuel Raimundo Querino: o primeiro historiador da arte baiana”. Bahia, UFBA, Revista Ohun, ano
3, n. 3, p. 237-261, 2007.
115
pudesse produzir. O seu trabalho incessante, não raro, sob o rigor dos açoites, tornou-se a
fonte da fortuna pública e particular. 374
Tal como já era de se esperar, o contexto da guerra estimulou as reflexões a respeito da
utilidade estratégica do conhecimento geográfico. Coerente com o patriotismo à moda de
1914, recomendava-se que o estudo da geografia fosse orientado pelo ideal cívico, e o seu
ensino incentivado nos “cursos civis e militares”, de maneira que cada soldado ou marinheiro
“se torne um perfeito conhecedor da geografia física do Brasil e dos países limítrofes”. 375 O
congressista Luiz José da Costa Filho afiançava que os exércitos beligerantes conheciam (...)
não só de cor e salteado a geografia da Europa, mas, por igual, a geografia das outras partes
do globo terrestre.376 Corroborando esta premissa, Luiz Lobo advertia que cabia à geografia
militar devassar estrategicamente o território brasileiro tão extenso e tão desconhecido,
empregando a mesma tática no território dos inimigos.377
Diversas moções foram aprovadas no 5º Congresso, sobressaindo-se a que indicou a
necessidade de elaborar as cartas geográficas do país na escala de um para milhão, de acordo
com as convenções estipuladas nos congressos internacionais de Paris (1911) e de Londres
(1913). Registrou-se, ainda, um voto de louvor ao Clube de Engenharia pela edição de uma
espécie de manual para o preparo de mapas, elaborado pelo engenheiro André Gustavo Paulo
de Frontin378. Sugeriu-se, finalmente, a publicação de um “Dicionário Geográfico dos
Estados”, por ocasião das comemorações do Centenário da Independência.
Na documentação disponível não consta a edição dos Anais do 6º e do 7º congressos
de geografia, realizados, respectivamente, nas cidades de Belo Horizonte (1919) e de João
Pessoa (1922). Há, no entanto, algumas pistas do primeiro, deixadas pelo secretário do
Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, Mário Melo 379, que vale a
pena conferir, pois diferente dos anteriores, o evento de 1919 levantou o véu que encobria os
diversos litígios envolvendo a definição de limites entre alguns estados da Federação.
374
Manuel Raimundo Querino, “A raça africana e os seus costumes na Bahia”. 5º Congresso Brasileiro de Geografia, Anais
do 5º Congresso Brasileiro de Geografia, Bahia, Imprensa Nacional, vol. 2, 1916, p. 628.
375
Idem, 726.
376
Luis José da Costa Filho, “A geografia e a guerra”. 5º Congresso Brasileiro de Geografia, Anais do 5º Congresso
Brasileiro de Geografia, Bahia, Imprensa Nacional, 1916, vol. 2, p. 722.
377
Luiz Lobo, “A geografia militar no Brasil”. 5º Congresso Brasileiro de Geografia, Anais do 5º Congresso Brasileiro de
Geografia, Bahia, Imprensa Nacional, 1916, vol. 2, p. 768-781.
378
Clube de Engenharia, “Instruções para a construção de cartas geográficas”. 5º Congresso Brasileiro de Geografia, Anais
do 5º Congresso Brasileiro de Geografia, Bahia, Imprensa Nacional, vol. 1, 1916, p. 151.
379
Os trabalhos daquela jornada foram divididos em oito seções: geografia matemática; geografia física; biogeografia e
etnografia; geografia política e geografia econômica, metodologia geográfica; monografias regionais; limites interestaduais e
comemorações do centenário de 1922. Como era de praxe, elaborou-se uma exposição de livros, mapas e outros objetos
separados por estados. Cf. Mário Melo, “Sexto Congresso Brasileiro de Geografia”, IAHGP, Revista do Instituto Histórico,
Arqueológico e Geográfico de Pernambuco, Recife, v. 21, n. 103-104, 1919, p. 388.
116
380
Idem, p. 388.
381
Ezequiel Ubatuba, “O Brasil futuro”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 25-26-27, 1912-1922, 1922, p. 121.
382
Idem, p. 395.
383
Cf. Carlos Xavier Paes Barreto, Adolpho Fraga, Moyses Accioly e Arabello Lellis (orgs.), “Regulamento do 8º Congresso
Brasileiro de Geografia”, Anais dos 8º Congresso Brasileiro de Geografia, Vitória, vol. 1, 1926, p. 31.
384
Os trabalhos dessa jornada foram divididos em oito seções temáticas.: geografia matemática (geoplanetologia e noções
geodésicas e topográficas, cartografia);climatologia e geografia médica do Brasil; fitogeografia e zoogeografia;
antropogeografia, etnologia e etnografia; geografia econômica, comercial, agrícola e industrial; geografia histórica, geografia
política e social; geologia, paleogeografia e mineralogia; fisiografia, aeorologia, oceanografia, hidrografia terrestre,
potamografia, limnologia, fisiografia das terras, orografia, vulcanologia, aerografia e nesografia. Cf. “Regulamento do 8º
Congresso”. 8º Congresso Brasileiro de Geografia, Anais do 8º Congresso Brasileiro de Geografia, Vitória, 1926, vol. 1, p.
31.
117
(...) os congressos de geografia não foram criados para tratar de limites. Ao contrário, havia
cláusulas proibitivas de discussões sobre limites, porque o assunto concorria sempre para
separar amigo e, na Bahia, houve um incidente pouco agradável entre sergipanos e baianos,
só porque na descrição de um município baiano um congressista incluiu nos limites, como
pertencente a boa terra, uma nesga dita contestada por Sergipe. Os congressos de geografia
foram criados para animar o estudo de nossa pátria e aproximar periodicamente os que ao
mesmo se dedicam.386
385
Sobre o IAHGP, ver, Luiz Felipe Ferrão, Instituto Arqueológico Geográfico Pernambucano: um tributo à memória
regional (1848-1911). Dissertação (Mestrado), Programa de Pós-Graduação em História, Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, 2001.
386
“Opiniões acerca do congresso de geografia”, 8º Congresso Brasileiro de Geografia, Anais dos 8º Congresso Brasileiro de
Geografia, Vitória, vol. 1, 1926, p. 87.
387
“Ata da primeira sessão plenária”, 8º Congresso Brasileiro de Geografia, Anais dos 8º Congresso Brasileiro de Geografia,
Vitória, vol. 1, 1926, p. 318.
118
388
Cf. Conselho Nacional de Geografia. “Resolução nº 22, de 18 de julho de 1838”. Revista Brasileira de Geografia. Rio de
Janeiro: IBGE, v. 1, nº 3, p. 143, jul. set. de 1939. Ver, também, SGRJ. Anais do 9º Congresso Brasileiro de Geografia, Rio
de Janeiro, Serviço Gráfico do IBGE, vol. 1, 1941, p. 64.
389
Cf. Sérgio Luiz Nunes Pereira. Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro: origens, obsessões e conflitos. Op. cit. p. 155.
390
Ver, “Resolução de 18 de julho de 1938”. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, IBGE, v. 1, n. 1, jul./set., 1939,
p. 143.
391
Bernardino José de Sousa, bacharel em direito pela Faculdade da Bahia, destacou-se como deputado estadual e como
ministro do Tribunal de Contas da União, também atuou como professor de geografia e de história. Sobre a sua trajetória
pessoal ver: IHGB, Dicionário biobliográfico de historiadores, geógrafos e antropólogos brasileiros/Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro; preparado por Vicente Tapajós, Carlos Werhs, Elysio de Oliveira Belchior, Pedro Tórtima e Vitorino
Chermont de Miranda. Rio de Janeiro: o Instituto, 1992-1996, v. 3, p. 161.
119
pronunciamentos, com objetivo de atrair especialistas e políticos para a reunião. Nas suas
andanças, Bernardino procurou destacar a importância dos estudos da geografia humana e a
experiência da Sociedade, pioneira na promoção desses encontros:
(...) Nosso pensamento foi apenas centralizar a investigação dos cultores da geografia
nacional em torno de capítulos especiais do conhecimento geográfico do Brasil. Quem ler o
capítulo das teses oficiais do congresso há-se de compreender que o nosso objetivo capital
foi sobretudo pedir a atenção dos técnicos para os problemas da geografia humana do
Brasil, e isto porque a nossa cultura geográfica não tem acompanhado como devera o surto
destes estudos no mundo civilizado. Isso coincide com a criação de cátedras de geografia
humana nas Universidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, onde têm pontificado mestres
festejados como Deffontaines e Pierre Monbeig, a cujas lições devemos indubitavelmente
uma brilhante plêiade de discípulos392.
392
Bernardino José de Sousa, Bernardino José de Sousa, “Conferência”. 9º Congresso brasileiro de Geografia, Anais do 9º
Congresso Brasileiro de Geografia, Rio de Janeiro, Serviço Gráfico do IBGE, vol. 1, 1941, p. 19.
393
A Exposição constava de obras brasileiras de geografia, de cartas geográficas do Brasil e de seus estados e municípios,
fotografias e aparelhos geográficos. Cf. 9º Congresso brasileiro de Geografia, Anais do 9º Congresso Brasileiro de
Geografia, Rio de Janeiro, Serviço Gráfico do IBGE, vol. 1, 1941, p. 27.
394
Nereu Ramos, “Discurso na sessão solene de instalação”, p. 92.
395
Ivo de Aquino, “Discurso na sessão solene de instalação”. 9º Congresso brasileiro de Geografia, Anais do 9º Congresso
Brasileiro de Geografia, Rio de Janeiro, Serviço Gráfico do IBGE, vol. 1, 1941, p. 92.
120
Carlos de Macedo Soares – presidente do IBGE, que se encontrava envolvido com o projeto
do recenseamento, a ser realizado naquele mesmo ano pelo órgão.
Tal como Bernardino de Sousa já anunciara, a grande novidade introduzida que marcou
o programa de 1940 e repetida em 1944, consistia na formulação de teses oficiais para
dissertação. Ou seja, os organizadores preparavam previamente as proposições para dos
congressistas, distribuídas por seções, que contemplavam áreas do conhecimento geográfico
(ver anexo).
As monografias inscritas deveriam passar pelo crivo de comissões científicas,
incumbidas de emitir parecer quanto ao mérito do seu conteúdo e a adequação à pauta
indicada, de acordo com o modelo adotado nos congressos internacionais 396. Entretanto, ao
lado dessas diretrizes de natureza acadêmica, as contribuições, por certo, sofriam outro tipo de
apreciação, pois é sabido que a censura do Estado Novo se mostrava implacável, quando se
tratava de avaliar iniciativas de natureza cultura, as quais só poderiam ocorrer debaixo da
tutela da ordem política397.
As jornadas de 1940 e de 1944 reuniram figuras representativas do cenário intelectual
brasileiro. Ao lado de conhecidas personalidades do panorama político-cultural do Estado
Novo, figuravam funcionários do recém criado IBGE, além de professores e dos primeiros
egressos dos cursos das Faculdades de Filosofia, a exemplo de Alberto Ribeiro Lamego, José
Setzer Gutman, Luiz de Castro Faria, Alvino Bertoldo Braune, Francisco Iglesias, Gregório
Bondar, Odilon Nogueira Matos, Gilberto Freyre, Alice Piffer Canabrava, Carlos Delgado de
Carvalho, Orlando Valverde, Jorge Zarur, Valter Spalding, Ranato Teixeira Mendes, Osni
Medeiros Régis, Pierre Monbeig, entre outros. Além disso, houve instituições que se fizeram
representar por meio de trabalhos de caráter oficial, tais como o Ministério das Relações
Exteriores, o Serviço de Proteção aos Índios, o Clube de Engenharia e a Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas, da Universidade de São Paulo.
De um modo geral, como já era de se prever, todas as teses oficiais confluíam para o
desenvolvimento da “cultura geográfica” do Estado Novo, tanto na escolha dos temas para
estudo, quanto na busca de subsídios para orientar a formulação de políticas públicas. A esse
respeito, no programa do congresso de 1940, veja-se na seção de geografia humana o item
“estudo funcional de um centro urbano”: solicitava-se aos autores de monografias que
396
Bernardino José de Sousa, op. cit, p. 19.
397
Ver a esse respeito Maria Helena R. Capelatto. Multidões em cena: a propaganda política no varguismo e no peronismo.
Campinas (SP): Papirus, 1998, p. 100-103.
121
Tabela no 4
9º. Congresso Brasileiro de Geografia
Relação de teses e memórias apresentadas
398
“Teses oficialmente recomendadas”. In: “Regulamento do 9º Congresso”. 9º Congresso brasileiro de Geografia, Anais do
9º Congresso Brasileiro de Geografia, Rio de Janeiro, Serviço Gráfico do IBGE, vol. 1, 1941, p. 31.
399
Resolução n. 72, de 04 de novembro de 1940, do Diretório Central do Conselho Nacional de Geografia. 9º Congresso
Brasileiro de Geografia, Anais do 9º Congresso Brasileiro de Geografia, Rio de Janeiro, Serviço Gráfico do IBGE, vol. 1,
1941. Os cinco volumes de Anais foram editados entre os anos de 1941 e 1944, pelo Serviço Gráfico do IBGE.
122
400
“Sessão Plenária em 12 de outubro de 1940”. 9º Congresso brasileiro de Geografia, Anais do 9º Congresso Brasileiro de
Geografia, Rio de Janeiro, Serviço Gráfico do IBGE, vol. 1, 1941, p. 132-133.
123
401
“Lista dos temas recomendados pela comissão organizadora central”, 10º Congresso Brasileiro de Geografia, Anais do 10º
Congresso Brasileiro de Geografia, Rio de Janeiro, Conselho Nacional de Geografia, vol. 1, 1949, p. 34-35. A comissão
organizadora central delimitava quais os assuntos relevantes para estudo, por exemplo, na área de geografia médica,
preocupavam-se com a distribuição geográfica da malária, em relação geografia das calamidades recomendava-se trabalhos
que se debruçassem sobre as pragas de gafanhotos e as enchentes dos rios em centros urbanos.
124
402
Foram vice-presidentes: Gustavo Capanema, Henrique de Toledo Dodsworth e Joaquim de Magalhães Cardoso Barata;
foram presidentes beneméritos os sócios Candido Rondon, Bernardino José de Sousa, João Severiano da Fonseca Hermes
Junior, Fernando Antônio Raja Gabaglia, Brás Dias de Aguiar, Édison Junqueira Passos; vice-presidentes beneméritos:
Emílio Fernandes de Sousa Doca, Jonas de Morais Correia Filho e Amílcar Dutra de Menezes.
403
Fernando Antonio Raja Gabaglia, “Discurso na sessão plenária preparatória”. 10º Congresso Brasileiro de Geografia,
Anais do 10º Congresso Brasileiro de Geografia, Rio de Janeiro, Conselho Nacional de Geografia, vol. 1, 1949, p. 112.
404
________. “Discurso na sessão solene de instalação”. 10º Congresso Brasileiro de Geografia, Anais do 10º Congresso
Brasileiro de Geografia, Rio de Janeiro, Conselho Nacional de Geografia, vol. 1, 1949, p. 122.
405
Cristóvão Leite de Castro, “2ª sessão plenária em 13 de setembro de 1944”. 10º Congresso Brasileiro de Geografia, Anais
do 10º Congresso Brasileiro de Geografia, Rio de Janeiro, Conselho Nacional de Geografia, vol. 1, 1949, p. 170.
125
como a edição de trinta e sete teses resumidas e adaptadas. O segundo volume apareceu em
1952, e contêm os trabalhos aprovados para a publicação das seguintes comissões: a de
geografia histórica (15), a de geografia matemática (04), a de geografia física (05) e a de
biogeografia (2).
A leitura desse material, embora contemple apenas quatro seções do evento,
demonstra que os organizadores se esmeraram para reforçar a “cultura geográfica” do Estado
Novo, semelhante ao ocorreu no congresso de 1940. A questão imigratória, por exemplo,
mereceu a atenção de diversos estudiosos, tal como o capitão Osmar Romão da Silva, cuja
comunicação abordou a assimilação dos imigrantes entre os anos de 1934 e de 1944. A
primeira data correspondia ao momento de profunda desassimilação decorrente da influência
nazista. Para o militar, a situação só se alterou com a lei de nacionalização do ensino,
promulgada em 1935, seguida da proibição da propaganda política estrangeira e da utilização
do idioma alemão em lugares públicos.406
Também preocupado com controle dos imigrantes, o deputado e professor Xavier de
Oliveira defendeu a idéia de uma nova re-divisão administrativa do território brasileiro 407, por
meio da criação de dezesseis novas “unidades mediterrâneas”, com características semelhantes
as de colônia agrícola e militar. As unidades teriam sua população constituída por até 25% de
europeus, ficando vedada a entrada de “elementos da raça amarela” 408. Sugeria a adoção de um
sistema de cooperativa, que estabelecia o direito ao uso da terra para o brasileiro nato após
cinco anos, e para o estrangeiro que se casasse com brasileira ou tivesse filhos nascidos no
país. Xavier de Oliveira recomendava, ainda, sucessivas partilhas do espaço nacional, (...) de
tal jeito que consideremos a redivisão política periódica do território nacional um postulado a
ser inscrito em nosso próprio estatuto fundamental. E deve ser feita baseada, em, apenas, três
considerações: 1º. - a extensão territorial de cada estado, 2º. – a densidade demográfica de
cada região; 3º. – o índice de progresso econômico e social a que houver atingido.409
406
Osmar Romão da Silva, “Assimilação em Santa Catarina”. 10º Congresso Brasileiro de Geografia, Anais do 10º
Congresso Brasileiro de Geografia, Rio de Janeiro, Conselho Nacional de Geografia, vol. 1, 1949, p. 173.
407
Xavier de Oliveira, em 1946, propôs uma nova redivisão política do Brasil com a criação de 45 estados e nenhum
território, mantendo a capital no Rio de Janeiro. Cf. Xavier de Oliveira, Redivisão política e territorial do Brasil. Estados de
fronteira, estados mediterrâneos e o Ministério de Terras, Migração e Colonização. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1946.
408
Os estados sugeridos pelo 10º Congresso eram: Erval, Maracaju, Rondônia, Paranapanema, Rio Verde, Tocantins,
Paranaíba, Aimorés, São Francisco, Paulo Alonso, Paranaguá, Itapicuru, Marajó, Tapajós, Madeira e Rio Negro. “Relação
das teses premiadas, mensagens, moções, indicações e comunicações”. “2º sessão plenária em 13 de setembro de 1944”. 10º
Congresso Brasileiro de Geografia, Anais do 10º Congresso Brasileiro de Geografia, Rio de Janeiro, Conselho Nacional de
Geografia, vol. 1, 1949, p. 487.
409
Idem, p. 486.
126
Apesar das restrições impostas pela SGRJ, no que tange às moções e recomendações,
houve indicativos que despertaram boas polêmicas. A começar pelo velho problema dos
limites interestaduais. O representante do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico
Pernambucano, o já mencionado Mário Melo, considerou que o era assunto inoportuno, uma
vez que Carta Constitucional de 1937 havia extinguido quaisquer questões de limites. 410 O
embaixador Macedo Soares, porém, na qualidade de presidente da jornada cientifica,
considerou válido o debate para a “a retificação de pontos imprecisos ou duvidosos”. A
posição do ex-diplomata encorajou outros participantes a tratarem daquela problemática, a
exemplo, de Azevedo Costa, Joaquim Ramalho e Benedito Quintino dos Santos. 411
Por outro lado, certos congressistas voltaram suas atenções para delimitação do campo
da disciplina, censurando comunicações que, no seu entender, não tratavam de temas de
natureza geográfica, tal como Fábio de Macedo Soares Guimarães, secretário da comissão de
Geografia Humana. Ele reconheceu a contribuição positiva de monografias de cunho
econômico e social, voltadas para subsidiar a administração pública, porém, advertia: (...)
francamente escapam à competência de um congresso de geografia.(...).412
A provocação de Fábio foi respondida por Luis de Oliveira Belo, que manifestou a sua
dificuldade em distinguir uma “tese geográfica” de outras áreas do conhecimento, dúvida que
acreditava compartilhar com a maior parte dos congressistas. Criou-se uma situação de mal
estar, uma vez que todos os trabalhos apresentados correspondiam às teses oficiais, preparadas
pelos organizadores do evento, além de passar pela aprovação das comissões científicas . 413
Outras intervenções também suscitaram animados debates. Na 3ª sessão plenária, o
ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema, pronunciou uma conferência sobre o
papel da geografia na formação da juventude brasileira. Na sua opinião, os cursos de geografia
e história ministrados pelas faculdades de filosofia, de acordo coma legislação aprovada em
1939, destinavam-se ao preparo (...) primeiro do cientista em Geografia e História; segundo o
(...) de professores para a escola secundária. Para tanto, segundo o ministro, fazia-se
necessário organizar laboratórios de estudos geográficos nos colégios e fomentar o
intercâmbio de especialistas. Arrematando a fala, Capanema defendeu a implantação de uma
nova reforma do ensino superior com a separação dos cursos de geografia e de história, com
410
Mário Melo, “2º. sessão plenária em 13 de setembro de 1944”. 10º Congresso Brasileiro de Geografia, Anais do 10º
Congresso Brasileiro de Geografia, Rio de Janeiro, Conselho Nacional de Geografia, vol. 1, 1949, p. 186.
411
“2º. sessão plenária em 13 de setembro de 1944”. 10º Congresso Brasileiro de Geografia, Anais do 10º Congresso
Brasileiro de Geografia, Rio de Janeiro, Conselho Nacional de Geografia, vol. 1, 1949, p. 188-189.
412
Idem, p. 203.
413
Idem.
127
(...) Nos últimos dez anos as universidades se têm esforçado em formar professores de
geografia, geógrafos no verdadeiro sentido da palavra são poucos e quase todos autodidatas.
Tenho esperança de que, no futuro, teremos também o técnico de geografia, o geógrafo
profissional, como eu vi nas várias regiões americanas por onde passei, pesquisando e não
somente ensinando geografia, mas indo ao campo para realizar pesquisas, construindo a
ciência geografia e dando-nos um conhecimento maior do mundo em que vivemos.417
414
Gustavo Capanema, “Discurso na 3ª. sessão plenária em 15 de setembro de 1944”. 10º Congresso Brasileiro de
Geografia, Anais do 10º Congresso Brasileiro de Geografia, Rio de Janeiro, Conselho Nacional de Geografia, vol. 1, 1949, p.
215.
415
Ver “Parecer sobre a formação de geógrafos”, “3ª sessão plenária em 15 de setembro de 1944”, 10º Congresso Brasileiro
de Geografia, Anais do 10º Congresso Brasileiro de Geografia, Rio de Janeiro, Conselho Nacional de Geografia, vol. 1,
1949, p. 263-266.
416
Jorge Zarur especializou os seus estudos geográficos nos Estados Unidos, onde desenvolveu pesquisas de campo o que
certamente pesou nas suas argumentações. No Brasil, entre outras funções, ocupou o cargo de diretor da Divisão de
Geografia do Conselho Nacional de Geografia. Sobre a trajetória de Jorge Zarur, ver: Antônio Teixeira Guerra, “Vultos da
geografia brasileira”, Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, v. 20,
n.3, jul./set., 1958, p. 315.
417
Jorge Zarur, “Geografia: ciência moderna a serviço do homem”. 10º Congresso Brasileiro de Geografia, Anais do 10º
Congresso Brasileiro de Geografia, Rio de Janeiro, Conselho Nacional de Geografia, vol. 1, 1949, p. 386.
128
professor Jorge Zarur inaugurou o ciclo, com a conferência “Geografia: ciência moderna a
serviço do homem”, seguido do comandante Braz Dias de Aguiar, com o relato dos trabalhos
de levantamento dos rios da região amazônica, desenvolvidos pela Comissão Demarcadora de
Limites. Por fim, o professor Everardo Backheuser que sublinhou alguns dos aspectos
singulares da geografia carioca.
Denominadas de “Tardes brasileiras”, as conferências restantes tiveram lugar no
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, e se caracterizaram pela valorização das grandezas
naturais do território brasileiro, consoante com o nacionalismo do Estado Novo. Deste modo,
foram privilegiadas a “Região Nordestina”, pelo professor Silvio Fróis de Abreu; a “Região
Centro-Oeste”, pelo coronel Lísias Augusto Rodrigues e a “Amazônia Brasileira”, pelo
professor Artur César Ferreira Reis.
Além de abrir a discussão a respeito do ofício de geógrafo e da sua formação
profissional, a plenária do 10º Congresso Brasileiro de Geografia aprovou moções que
sugeriam a permuta entre professores da disciplina de vários estados Brasil, para o “efetivo
conhecimento prático do território, finalidade considerada duplamente cultural e patriótica” 418;
a criação de gabinetes de geografia nas escolas secundárias; a introdução da seção de geografia
urbana no programa dos próximos congressos, em consonância com os resultados das
pesquisas efetuadas por técnicos do Conselho Nacional de Geografia sobre a revisão de
nomenclaturas das cidades brasileiras. Esta moção, aliás, levaria a uma outra recomendação,
aconselhando o estudo da disciplina para urbanistas e arquitetos que se dedicassem aos planos
de remodelação das cidades.
Finalmente, no encerramento dos trabalhos, o 10º Congresso conferiu o prêmio “José
Boiteux”, agraciando com medalhas de ouro, prata e bronze as melhores comunicações
aprovadas com louvor. Concedeu-se a medalha de ouro à monografia “O homem e a restinga”,
de autoria do professor Alberto Lamego Filho, estudo inspirado em Euclides da Cunha, que
tratou da colonização e da ocupação do estado do Rio de Janeiro 419. Foram laureadas, com
medalhas de prata, as teses “A cartografia antiga e os fundamentos pré-históricos da nação
brasileira”, “O cearense na Amazônia: inquérito antropogeográfico sobre um tipo de
418
“Relação das teses premiadas, mensagens, moções, indicações e comunicações”. “2º sessão plenária em 13 de setembro de
1944”. 10º Congresso Brasileiro de Geografia, Anais do 10º Congresso Brasileiro de Geografia, Rio de Janeiro, Conselho
Nacional de Geografia, vol. 1, 1949, p. 475.
419
Vale acrescentar que no 9º Congresso, a contribuição de Lamego, intitulada “O homem e o brejo” também foi aprovada
com louvor. A obra “O homem e o brejo” aborda a formação da planície campista, enquanto que “O homem e a restinga”
descreve as regiões litorâneas. As duas obras foram publicadas pelo Conselho Nacional de Geografia a até hoje são referência
para os estudiosos
129
420
“Relação das teses premiadas”. “2º sessão plenária em 13 de setembro de 1944”. 10º Congresso Brasileiro de Geografia,
Anais do 10º Congresso Brasileiro de Geografia, Rio de Janeiro, Conselho Nacional de Geografia, vol. 1, 1949, p. 474.
421
Ver Sérgio Luiz Nunes Pereira, op. cit., p. 160.
130
422
Além de Maria da Conceição, em 1944, foram admitidas as seguintes sócias: Iolanda Rabelo de Sousa Ferreira, Judite
Valadares Salgado, Maria de Lourdes Jovita, Julieta de Aragão Silveira, Isa Adonias e Isabel D‟ Aartayette Dias.
423
Ver, SBG, “Relatório das atividades da Sociedade durante o ano de 1945”. Revista da SBG, Rio de Janeiro, t. 53, 1946, p.
130 e p. 139.
424
Cf. Mário Augusto Teixeira de Freitas, “Carta de (...) aos jornais do Brasil sobre a Construção do Silogeu Brasileiro, 13 de
julho de 1940”. Arquivo Nacional, Coleção Mário Augusto Teixeira de Freitas, SG.D/1.828; Ver também, “Decreto-Lei n.
2326 de 10 de junho de 1940”. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística, v. 2, n.3, jul./set., 1940, p. 504.
131
Figura n. 1
FONTE: IBGE.
425
César Feliciano Xavier, “Elogio geográfico-histórico do almirante barão de Tefé”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 45,
1938, p.73.-103.
426
Ver, Cândido Mariano da Silva Rondon, “Homenagem à memória do general Moreira Guimarães”. Revista da SGRJ, Rio
de Janeiro, t. 47, 1940, p. 38. Ver, também, Raul Tavares, “Relatório do ano de 1940”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t.
47, 1940, p. 196.
132
427
SGRJ, Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 52,1945.
428
João Severiano Fonseca Hermes, “Como foi fundada a Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro”. Revista da SGRJ, Rio
de Janeiro, t. 53, 1946, p. 54-56.
429
SBG, “Inauguração do retrato do conselheiro Francisco Manoel Correia, iniciador da fundação da Sociedade”. Revista da
SBG, Rio de Janeiro, t. 53, 1946, p.85.
430
SBG, “Inauguração do retrato de S. A. R., o senhor Conde d‟Eu, vice-presidente de honra da Sociedade”. Revista da SBG,
Rio de Janeiro, t. 53, 1946, p. 83.
431
SGRJ, “Relatório das atividades da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro em 1942”. Revista da Sociedade, Rio de
Janeiro, 1943, t. 50, p.96-97.
432
Cristóvão Leite de Castro, “Saudação”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 50, 1943, p. 07. Também foi alvo de destaque
a produção cultural da entidade, a coleção da sua Revista, as numerosas conferências, a recepção de geógrafos e de
professores estrangeiros, bem com o trabalho das comissões técnicas constituídas em prol do “esclarecimento de
determinadas questões especializadas”.
133
(...) é um florilégio cultural a história desses sessenta anos, escrita esplendidamente por
dirigentes de grande saber e larga projeção social, que valendo-se do concurso prestimoso de
sócios eminentes e cultos, conseguiram realizar reuniões memoráveis, levar a efeito notáveis
congressos, manter substanciosa revista especializada, e destarte, conduziram aos seus
destinos gloriosos.434
A relevância da associação carioca ainda seria destacada por Carlos Xavier Pais
Barreto e Francisco de Sousa Brasil. O primeiro exaltou a memória dos seus fundadores. O
segundo valorizou a Revista da SGRJ, “(...) um repositório precioso de informações sobre o
Brasil e sobre os brasileiros” , cuja coleção refletia a trajetória do saber geográfico no país:
(...) lembremo-nos da relatividade dos conhecimentos humanos e da transitoriedade da lei
cientifica, sempre mutável, desde que outras sejam as condições de observação e mais
aperfeiçoadas pesquisas. Folheando a Revista, tivemos ocasião de observar tal evolução. 435
Enfim, para Sousa Brasil, o seu periódico refletia um (...) espelho das tradições progressistas,
(...) uma voz que procurava apontar a verdade aos que desejassem dela se informar. 436
Animada com o impulso dos últimos tempos, no final de 1944, a Sociedade elegeu
uma nova diretoria para o biênio seguinte, encabeçada pelo ex-chanceler José Carlos Macedo
Soares, cabendo a vice-presidência ao ministro João Severiano da Fonseca Hermes. Para os
postos de segundo e terceiro vice-presidentes foram escolhidos Jorge Dodsworth Martins e
433
Idem, p. 10.
434
Idem, p.07.
435
Francisco de Sousa Brasil, “Discurso na sessão do 60º. aniversário da Sociedade de Geografia”. Revista da SGRJ, Rio de
Janeiro, t. 50, 1943, p. 14-19.
436
Idem, p.14.
134
437
João Severiano da Fonseca Hermes, “Relatório das atividades da Sociedade durante o ano de 1945”. Revista da SBG, Rio
de Janeiro, t. 53, 1946, p. 131.
438
Vale acrescentar que Macedo Soares também participou de outras associações científicas e culturais brasileiras e
estrangeiras, a exemplo da Academia Internacional de Diplomacia, da Ordem dos Advogados de São Paulo, da Sociedade
Brasileira de Antropologia e Etnografia, do Liceu Literário Português, da Academia Brasileira de Filologia e da Academia
Paulista de Letras, do Instituto Histórico y Geográfico del Uruguai, da Academia Uruguaya de Letras, da Academia
Argentina de Letras, da Academia das Ciências de Lisboa, da Real Academia de História de Portugal e da Sociedade de
Geografia de Lisboa, entre outras.
439
Enéas Martins Filho, “Resenha Biográfica”. Revista do IHGB, Rio de Janeiro, v. 279, abr./jun., 1968, p. 47.
135
440
Cf. Lúcia Maria Paschoal Guimarães, “José Carlos de Macedo Soares: a investidura na presidência do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro”. In: CDDI, Embaixador Macedo Soares, um príncipe da conciliação: recordando o 1º presidente do
IBGE. Rio de Janeiro, IBGE, 2008. Como historiador, entre outros trabalhos, Macedo Soares publicou: Os falsos troféus de
Ituazaingó, Fontes da História da Igreja e Fronteiras do Brasil no regime colonial.
441
SBG, “Relatório das atividades da Sociedade durante o ano de 1945”. Revista da SBG, Rio de Janeiro, t. 53, 1946, p.133.
442
João Severiano da Fonseca Hermes, “Relatório das atividades da Sociedade durante o ano de 1945”. Revista da SBG, Rio
de Janeiro, t. 53, 1946, p. 136.
443
SBG, “Mensagem de cordialidade do Instituto de Estudos Geográficos da República Argentina”. Revista da SBG, Rio de
Janeiro, t. 53, 1946, p.82.
444
Gerson de Macedo Soares, “O papel da marinha de guerra brasileira na segunda guerra mundial”. Revista da SBG, Rio de
Janeiro, t. 53, 1946, p.33.
136
445
SBG, “Cursos de aperfeiçoamento para professores de geografia do ciclo secundário”. Revista da SBG, Rio de Janeiro,
1946, t. 53, p.74.
446
Idem.
137
Tabela no. 5
Programa do Curso de Aperfeiçoamento
para professores de geografia do ensino secundário
Fonte: Tabela elaborada a partir das informações do programa dos “Cursos de aperfeiçoamento para
professores de geografia do ciclo secundário”. Revista da SBG, Rio de Janeiro, t. 53, 1946, p. 75.
138
(...) em primeiro lugar, o curso, que hoje encerramos, foi dedicado aos professores de
geografia; em segundo lugar, os diplomas que a Sociedade vai conferir são diplomas
autênticos de um aperfeiçoamento cultural, que o Estado reconhece como bastantes para
outorga de direitos de conquista de postos superiores; em terceiro, as aulas deste ano tiveram
o concurso valiosíssimo do Conselho Nacional de Geografia que, fiel ao espírito geográfico,
pôs a disposição da Sociedade, dos Mestres e dos Professores-alunos todos os elementos e
recursos de suas instalações e aparelhamento para que mais eficientes e objetivas pudessem
ser as classes desenvolvidas (...)448.
447
SBG, “Cursos de aperfeiçoamento para professores de geografia do ciclo secundário”. Revista da SBG, Rio de Janeiro,
1946, t. 53, p. 75. O Tennesse Valley Authority (TVA), criado nos Estados Unidos, em 1933, destinava-se aos estudos e a
pesquisa de gerenciamento ecológico e de remanejamento de rios.
448
A lista dos nomes dos professores diplomados foi publicada na Revista. Cf. SGRJ, “Cursos de aperfeiçoamento para
professores de geografia do ciclo secundário”. Revista da Sociedade, Rio de Janeiro, 1946, t. 53, p.76. SBG, “Cursos de
aperfeiçoamento para professores de geografia do ciclo secundário”. Revista da SBG, Rio de Janeiro, 1946, t. 53, p. 77. Ver,
também, IBGE, “Noticiário: Cursos de aperfeiçoamento para professores de geografia do nível secundário”. Revista do
IBGE, Rio de Janeiro, v. 7, n. 3, 1945, p. 535-537.
139
1883449. Para se ter uma idéia, a última modificação, aprovada em 1940, instituiu a realização
obrigatória de duas sessões magnas anuais e ampliação do quadro social, com seis classes de
integrantes: efetivos, titulares, honorários, remidos, correspondentes e beneméritos 450.
Para estudar a reforma estatutária, formou-se uma comissão especial incumbida,
integrada pelos sócios João Severiano da Fonseca Hermes, Carlos Xavier Pais Barreto, Mário
Rodrigues de Sousa, Francisco de Sousa Brasil e Luis Alves de Oliveira Belo. Em 10 de
janeiro de 1945, a Comissão encerrou seus trabalhos e encaminhou uma circular a todos os
filiados, com um ante-projeto para análise e apresentação de emendas. No documento,
acrescentava-se uma pista das mudanças que se pretendiam efetuar: (...) com simpatia e sem
encontrar inconvenientes a possibilidade de ser trocada a denominação: Sociedade de
Geografia do Rio de Janeiro para Sociedade Brasileira de Geografia, tendo em vista a
eventualidade de serem criadas por iniciativa da nossa, como previsto no projeto sociedades
451
congêneres nos Estados . Após as consultas, que estenderam por quase um ano, o
documento foi finalmente aprovado, em 26 de dezembro de 1945, acompanhado de um
Regulamento, entrando ambos em vigor no dia 07 de março do ano seguinte, depois de
publicados no Diário Oficial.452
Os novos estatutos definiam os fins da entidade; a formação dos seus quadros sociais; a
composição da diretoria e do conselho diretor, das assembléias ordinárias e extraordinárias; e
dispunham sobre a estrutura e o funcionamento, deliberando que o reduto científico seria
dissolvida, caso o cadastro social atingisse menos de dez membros, devendo o seu patrimônio
ser incorporado ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Por seu turno, o Regulamento
normatizava as atribuições dos membros da diretoria e dos sócios, bem como a sua admissão
ou exclusão, o pagamento de taxas, a participação nas eleições, a organização das comissões e
a elaboração de atas.
Foram alteradas das finalidades da entidade, que passou a ter (...) por escopo o
progresso da geografia, especialmente no âmbito do Brasil, e o congraçamento das pessoas
de boa vontade, interessadas no estudo da geografia453. Para alcançar tais fins, além de
sessões acadêmicas ordinárias, determinava-se a realização das seguintes atividades: oferta de
449
As modificações foram realizadas nos anos de 1886, 1910, 1918, 1924, 1936 e 1940.
450
Cf. Raul Tavares, “Relatório do ano de 1940”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 47, 1940, p. 203-204.
451
A comissão encarregada de elaborar o anteprojeto dos estatutos era. SBG, “Reforma dos estatutos”. Revista da SBG, Rio
de Janeiro, t. 53, 1946, p. 112.
452
A idéia de separar os novos estatutos do regulamento da Sociedade de Geografia partiu de José Carlos de Macedo Soares.
453
SBG, Estatutos da Sociedade Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, Serviço Gráfico do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, 1946, p. 3.
140
454
Idem, p. 4.
455
Idem, p. 16.
141
456
SBG, “Relatório das atividades da Sociedade durante o ano de 1945”. Revista da SBG, Rio de Janeiro, t. 53, 1946, p.133.
457
Idem.
142
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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ANEXOS
159
Geografia do Brasil
Livro I – O Solo e o Homem
Primeira Parte: O solo
Título I: Geognose do solo brasileiro Capítulo 3– Costas e Nesografia
Capítulo 1: Face geral sob o ponto de vista 1. Bacias, enseadas e portos naturais
petrográfico 2. Cabos e Pontas
Capítulo 2: Faces geral sob o ponto de vista 3. 3. Ilhas
estratigráfico (Professor Fernando Raja Gabaglia)
Capítulo 3: Estudo resumido da emersão do solo Título 3 – Agentes físicos, climas e
brasileiro (Engenheiro Euzébio Paulo de salubridade
Oliveira) (Engenheiro Henrique Morize e Dr.
Theofilo de Almeida)
Título II: Aspecto Físico
Capítulo 1 – Orografia Título IV : Reinos Naturais
1. O sistema de Parima Capítulo 1 – Reino Mineral
2. O sistema brasileiro 1. Minerais
3. Os contrafortes andinos 2. Produtos de aplicação industrial e
(Engenheiros Luiz Felipe Gonzaga de Campos, artística
Euzébio Paulo de Oliveira e Everardo (Doutor Jorge B. de Araújo Ferraz)
Backheuser) 3. Fontes termais
4. Speleologia (Doutor Pádua Rezende)
(Engenheiro Antonio Olyntho dos Santos Pires) Capítulo 2– Reino Vegetal
5. Manifestações vulcânicas 1. Regiões de floresta
(Coronel Doutor Alípio Gama) 2. Regiões de campos
6. As secas do nordeste 3. Natureza botânica da flora
(Doutor Alceu Lellis) 4. Produtos de aplicação industrial e
Capítulo 2: Potamografia e limnologia artística
1. Bacia do Amazonas (Professor Alberto José de Sampaio)
2. Bacia do Prata Capítulo 3 – Reino Animal
(Capitão Francisco Jaguaribe de Mattos) 1. Mamíferos
3. Bacias Orientais 2. Aves
4. Bacias Interiores 3. Réptil
5. Lagos e lagoas individualizados 4. Anfíbios
(Professor Honório de Souza Silvestre) 5. Peixes
6. Força Hidráulica 6. Invertebrados
(Doutor Paulo de Frontin) 7. Animais e produtos animais e utilidade
160
cronológico
2. O descobrimento do ponto de vista
sociológico
(Doutores Pontes de Miranda e Ronald de
Carvalho)
Livro II – A Nação
Parte Geral
Título I: Dimensões Capitulo III: Economia e Finanças
Capítulo I: Limiites 1. Indústria
1. Limites Geográficos 2. Comércio
2. Limites Astronômicos (Dr. Ezequiel Ubatuba e Professor
Capítulo II: Superfície Lindolpho Xavier)
(Engenheiro Francisco Bhering) 3. Viação
Capítulo III: Limites Interestaduais (Dr. Lucas Bicalho e Emilio Schnoor)
( Comandante Thiers Fleming) 4. Moedas, pesos e medidas
5. Instituições de Crédito
Título II: População 6. Regime fiscal e tributário
Capítlulo I: População absoluta e relativa (Engenheiro Aarão Reis)
Capítulo II: Natureza da População e Capítulo IV: Insttrução
estatística 1. Instrução Primária
(Dr. José Luiz Sayão de Bulhões de (Dr. José Augusto Bezerra de Menezes)
Carvalho) 2. Instrução Secundária
3. Instrução Superior
Título III: Organização Social (Dr. Victor Viana)
Capítulo 1: Governo e Divisão Política 4. Educação Artístitca
1. Poder Executivo (Dr. Basílio de Magalhães)
2. Poder legislativo 5. Instrução Profissional
( Almirante Antonio Coutinho Gomes (Professor Lafayette Cortes
Pereira, General Moreira Guimarães, Capítulo V: Estado atual da civilização
Eugenio Wandeck, Dr. M. T. Carvalho (Dr. Victor Viana)
Brito e Dr. Antonio Carlos de Arruda
Beltrão)
3. Poder Judiciário
(Dr. Álvaro Berlford e Dr. Pontes de
Miranda)
Capítulo II: Religiões
1. Religião Católica Apostólica Romana
2. Outras religiões
(Dr. Lauro Severiano Muller)
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Parte especial
Geografia Física
Geografia Humana
Geografia Econômica
Monografias Regionais
Geografia Matemática
Geografia Física
Biogeografia
Geografia Humana
Geografia Médica
Geografia Econômica