Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Rio de Janeiro
2006
Flavia Ribeiro Crespo
Rio de Janeiro
2006
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/ BIBLIOTECA CCS/A
CDU 327(81)
Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta
dissertação.
_____________________________________ ___________________________
Assinatura Data
Flavia Ribeiro Crespo
__________________________________________
Prof. Draª Mônica Leite Lessa (Orientadora)
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UERJ
__________________________________________
Prof. Dr. Hugo Rogelio Suppo
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UERJ
__________________________________________
Prof. Dr. Bernardo Kocher
Instituto de Ciências Humanas e Filosofia da UFF
Rio de Janeiro
2006
AGRADECIMENTOS
Durante o processo que envolveu a feitura deste trabalho, contei com o suporte
Fundamental de pessoas e instituições que, sem dúvida, foram fundamentais para sua
do Rio de Janeiro, pela riqueza do debate em torno das Relações Internacionais, que muito
pesquisa, disponibilizando todos os meios possíveis para que ela fosse executada da
À minha orientadora, Profª Drª Mônica Leite Lessa, por ter me apresentado ao estudo da
Aos Profes Dres Hugo Rogelio Suppo e Orlando de Barros, cujas sugestões na banca do
e ao meu pai, Tarcísio, cuja postura me levou a tornar esta jornada ora iniciada um desafio
This dissertation aims to study the modus operandi in which the Ministry of Foreign
Relations of Brazil (Itamaraty) conducted its external cultural policy between 1945-1964.
The research considered, analytically, many factors such as the previous historical records of
this dimension of brazilian foreign policy, the discussions that took place in domestic
policy, and the challenges and evolutions in which national culture went through during
that time. The international context and the cultural actions undertaken by Itamaraty
were the guiding lines to develop the main hipotesis: Itamaraty, although alternating
moments of struggle and weak actions, constructed a solid tradition of planning and
execution of cultural policy, in its became an essential element in the shapping of the Brazil
international image.
Introdução..................................................................................................................8
Conclusão...............................................................................................................147
Fontes.....................................................................................................................154
Referências Bibliográficas....................................................................................156
7
INTRODUÇÃO
transformador das relações sociais tem sido tradicionalmente campo de estudo das
vistas como a “quarta dimensão das relações internacionais”1. Por sua vez, a nova ordem
internacional tornou fundamental o estudo do papel das diversas identidades culturais nas
participam de instituições comuns”3. Bull afirma que, embora haja diferenças entre os
dar destaque à importância atribuída por Bull à questão cultural no estudo das relações
necessário que tal “cultura cosmopolita” abarque elementos provenientes das diversas
1
Philip H. Coombs apud LESSA, Mônica Leite. A Diplomacia Cultural Francesa e o Centenário da
Independência do Brasil. Revista da SBPH, n. 20, 2001, pp. 55-64.
2
HERZ, Mônica. A dimensão cultural das relações internacionais: proposta teórico-metodológica, in
Contexto Internacional nº 6, Jul/Dez 1987, p.61.
3
BULL, Hedley. A Sociedade Anárquica. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado/UnB/IPRI, 2002, p. 19.
8
universal.4 Segundo Williams Gonçalves, o destaque dado por Bull aos aspectos culturais
estudiosos britânicos das Relações Internacionais, experiência que propiciou amplo contato
Por sua vez, para Hans Morgenthau, o principal fundador da escola realista das
4
Id. Ibid, p. 355. Há também referências ao surgimento de uma “cultura cosmopolita” de traços suaves, que
não sobreporiam as “culturas nacionais” em SMITH, Anthony D. Para uma cultura global?, in
FEATHERSTONE, Mike (org). Cultura Global: nacionalismo, globalização e modernidade. Petrópolis:
Vozes, 1999, pp. 190-202.
5
Cf. GONÇALVES, Williams. A Sociedade Anárquica, Prefácio à edição brasileira, pp. XV-XVIII.
9
mediante o poder persuasório de uma cultura superior e de uma
filosofia política mais sedutora.6
difusão cultural. Assim, leva-se a outras paragens as práticas culturais que outrora
imaginário do “cultural”, hoje, não representa apenas as relações sociais que se dão num
externa, neste processo de circulação de bens e práticas culturais para além das fronteiras
conjugação sua própria sobrevivência.11 Por sua vez, defendendo uma “sociologia histórica
das relações internacionais”, Raymond Aron observa que a política de potência entre
países amigos é limitada à persuasão; o fator cultural é utilizado freqüentemente como, por
6
MORGENTHAU, Hans J. A Política entre as Nações. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado/UnB/IPRI,
2003, pp. 124-5.
7
Cf. ORTIZ, Renato. Mundialização e Cultura. São Paulo: Editora Brasiliense, 1998, p. 74.
8
Cf. CANCLINI, Néstor Garcia. A Globalização Imaginada. São Paulo: Iluminuras, 2003, p. 57.
9
Entendemos diplomacia cultural como “ações culturais de inspiração estatal (...) que ao fim e ao cabo
beneficiarão o país de origem”. Cf. LESSA. Mônica Leite. Relações culturais internacionais. In: Olhares
sobre o político: novos ângulos, novas perspectivas. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2002, p. 8.
10
DUROSELLE, Jean-Baptiste. Todo Império Perecerá. Brasília: UnB , 2000, p. 271.
11
RIBEIRO, Edgard Telles. Diplomacia cultural: seu papel na política externa brasileira. Brasília: Funag,
1989, p. 25.
10
exemplo, no caso da França, meio de potência. Os grandes atores dessa política são os
construtores das ligações mais profundas, animados pela defesa da grandeza e da glória
francesa12.
Itamaraty, nome do palecete que originalmente abrigou o Ministério no Rio de Janeiro até
sua mudança para Brasília, perde sua primazia na difusão da cultura brasileira no exterior
durante o Estado Novo. Tal realidade é explicada pela criação de órgãos com o
cujas funções, entre outras, era assegurar a propaganda cultural brasileira no exterior, até
momento de mudanças nas questões relativas à política cultural brasileira para o exterior.
política cultural externa serão, em grande parte, reintegradas à agenda do Itamaraty que
volta a gozar de sua histórica autonomia. Tal deve ser destacado porque durante o período
do Estado Novo, a política externa brasileira esteve sob a constante observação e influência
direta de Getúlio Vargas, que a entendia como fruto de suas formulações particulares.
Assim como as outras áreas políticas que desempenhavam papel vital para a manutenção
12
Raymond Aron apud Mônica Leite Lessa e Hugo Suppo. Relaciones Internacionales: entre la teoria y la
práctica IN Ciclos en la Historia, la Economia y la Sociedad. Buenos Aires: FCE da Universidade de Buenos
Aires, vol. XIV, Nº 28, 2º semestre, 2004, pp. 155-174.
11
do regime estabelecido, a política externa fazia parte das preocupações objetivas do
diplomacia presidencial.13
condução desta política, ainda que sempre haja coordenação com as diretrizes da
Estado, irão ocasionar uma nova diretriz institucional na condução dos assuntos culturais.
A funcionalidade da política cultural externa irá sofrer alterações, embora uma parte
culturais.15 A maioria dos acordos culturais assinados pelo Brasil data do período do
Estado Novo; sua manutenção, num segundo momento, dá-se sobre a base das mesmas
determinações que os forjaram, ainda que a ação possa acontecer de modo diferente. A
antiga Divisão de Cooperação Intelectual (DCI), Divisão Cultural a partir de abril de 1946,
passa, durante o período 1945-1964, por uma série de modificações. Além das mudanças
13
Cf. DANESE, Sérgio. Diplomacia Presidencial: História e Crítica. Rio de Janeiro: Topbooks, 1999, pp.
285-288.
14
Memorandum de Meira Penna ao Chefe do Departamento Político e Cultural. “Bolsas de Estudos do
Instituto de Cultura Hispânica”, 19/09/1957. MRE, Informações e Relatórios da DCl, 1956-57, 135.5.16,
AHI, Rio de Janeiro.
15
SUPPO, Hugo Rogélio. Gilberto Freyre e a imagem do Brasil no mundo. Cena Internacional, Ano 5, Nº 2,
Dez/2003, pp. 42-43.
12
de cargos e carreiras, as inconstâncias da DCl foram responsáveis por diversos entraves à
condução das ações culturais que caracterizariam, no plano objetivo, a política cultural. Há
um intenso e constante debate em relação às linhas de ação que devem ser empreendidas
para que se dê vazão, no campo objetivo, à política cultural concebida. Se, por um lado,
manter na ordem do dia a política cultural executada pelo órgão, em muitos momentos ela
reverbera nos impasses que decorrem das numerosas mudanças de direção. A continuidade
1945-1964 como objeto a ser analisado, tivemos como principal motivação a ausência de
trabalhos do gênero que tratem do tema no recorte temporal abordado, principalmente pela
referências no decorrer da pesquisa, mas gera interesse pela acuidade das abordagens. Em
“Tio Sam chega ao Brasil – A Penetração Cultural Americana”, Gerson Moura explana, de
modo clarividente, sobre como se deram as relações bilaterais Brasil-Estados Unidos desde
os anos que antecederam a II Guerra Mundial até o princípio da década de 60. Focados nas
Guerra Mundial estão, também, os trabalhos de Antônio Pedro Tota e Letícia Pinheiro.
Devemos citar, também, o artigo intitulado “O estudo da dimensão cultural nas Relações
13
tais relações, indica caminhos para “reflexões teóricas e metodológicas para o estudo desta
problemática.”16
Todavia, ao mesmo tempo em que essa realidade possa ter causado dificuldades à
Brasileira”, onde figuram diversos ensaios sobre nomes fundamentais da cultura nacional
que, ao mesmo tempo, foram expoentes da diplomacia nacional ao longo dos séculos XIX
e XX. Pela trajetória de figuras relevantes, é dada uma amostragem dos pontos de contato
16
LESSA, Mônica Leite e SUPPO, Hugo Rogelio. O ESTUDO DA DIMENSÃO CULTURAL NAS RELAÇÕES
INTERNACIONAIS: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS E METODOLÓGICAS. Artigo publicado, traduzido para o espanhol,
na revista Ciclos, ano XIV, vol. XIV, nº28, 2004, pp. 155-174.
14
quais, em sua heterogênea unidade, constituem um mosaico vivo
que reflete a identidade brasileira.17
Celso Lafer reforça nossa idéia sobre uma capilaridade entre a produção pessoal,
intelectual e/ou artística dos diplomatas e as ações culturais empreendidas pelo Ministério
Este trabalho, que se inscreve no campo das Relações Culturais Internacionais, num
contexto em que o estudo de tais relações vêm sofrendo incremento, associa-se aos que
consideram como importante o papel da cultura no jogo político entre povos e Estados,
cujas diversas dimensões são, cada vez mais, objetos de estudo – imperialismo cultural,
propaganda e difusão cultural, hegemonia cultural, soft power etc. Tais dimensões são
perspectivas de análise são partes inerentes à própria evolução desta área de estudo. Por
por parte do Ministério das Relações Exteriores brasileiro, num contexto em que o Estado
também, atrelado à História Política. Segundo René Remond, um dos fatores que
contribuíram para se alçar, novamente, a História Política a uma posição de destaque, foi o
17
LAFER, Celso.O Itamaraty na Cultura Brasileira. Brasília: IRBr, 2002, p. 15.
18
Sob organização de Alberto da Costa e Silva, os mesmos textos sob o mesmo título foram publicados pela
editora Francisco Alves em 2001.
15
A medida que os poderes públicos eram levados a legislar,
regulamentar, subvencionar, controlar a produção, a construção de
moradias, a assistência social, a saúde pública, a difusão da cultura,
esses setores passaram, uns após os outros, para os domínios da
história política.19
estudo se insere no escopo da História Política: a partir do momento em que o Estado passa
a abarcar, entre suas atribuições, a difusão cultural, tanto no plano interno como no
estudo dos processos históricos de caráter político. Além disso, Rémond destaca o caráter
dimensões diversas, embora harmônicas, da pesquisa científica, concluímos que nos serão
internacionais constituíram os pilares sobre os quais construímos este texto. Além disso,
19
Cf. RÉMOND. René. Por uma História Política. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ/ Ed. FGV, 1996, p.24.
20
Id. Ibid., p.30.
21
GONÇALVES, Williams. Introdução à História das Relações Internacionais IN GONÇALVES e LESSA
(Org.) História das Relações Internacionais: Teoria e Processos. Rio de Janeiro: EdUerj. Texto no prelo,
gentilmente cedido pelo autor.
16
destaca a existência da política cultural em todos os governos22, que se concretiza através
‘embaixadores culturais’”25.
Duroselle inclui, em Todo Império Perecerá, entre as “relações pacíficas” dos Estados, as
relações culturais. Estas são divididas pelo autor em duas categorias: as espontâneas e
aquelas que são fruto de uma política de Estado. As relações espontâneas, de caráter
passa a ter, em função de fatores como o “poder e a riqueza de um país”. As relações ditas
do país.26 Duroselle cita, também, os aparelhos pelo Estado adotados para os fins da
entre os dois lados, agindo sempre um como uma espécie de emissor, e o outro, de
receptor. Como exemplo desse “aparelhamento” feito em função da política cultural, cita o
Alemanha; Istituto Dante Alighieri, da Itália; e United States Information Agency, dos
Estados Unidos.27
22
GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere – Volume 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, p.
146.
23
Idem, Volume 4, p. 86.
24
Idem, loc. Cit. e Volume 3, p. 284.
25
Idem, p. 69.
26
DUROSELLE, Jean Baptiste. Op.cit., loc. Cit.
27
Idem.
17
Aos exemplos dados por Duroselle, podemos acrescentar, no plano brasileiro, a
partir do Estado Novo (1937-45), isto é, período que precede diretamente a delimitação de
abrangências e finalidades. As relações culturais, numa acepção maior, podem ter vários
entendimento internacional. A diplomacia cultural, num sentido mais restrito, seria toda e
qualquer atividade cultural de origem estatal com a finalidade maior de trazer benefícios ao
conta com eventos externos à sua área de ação direta para operar como instrumento
28
MITCHELL, J. M International Cultural Relations. Londres: Allen & Unwin, 1998, p. 5.
29
Id. Ibid., pp. 12-17.
18
definidas por Joseph Nye como da ordem do soft power30 – a atração de outros países pela
ser desempenhado pela cultura nas Relações Internacionais. No que diz respeito às
referência conceitual, a um campo vasto de temas de pesquisa histórica, dando conta não
só do modo como são conduzidas as relações entre povos e Estados, como também das
separava os fatores políticos internos do Estado dos fatores externos, e das possíveis
explicações para o fim desta barreira. A primeira delas, que defende a primazia dos fatores
internos sobre os externos, é apresentada como uma hipótese que dispõe de dois
segundo o qual o interesse nacional é o fim principal das ações de cada Estado.
caráter comum das nações: os artifícios utilizados pelos governos das coletividades
30
Expressão criada nos anos 80 por Joseph Nye para definir a capacidade que determinados países
desenvolvem de atraírem e persuadirem outros.
31
NYE, Jr., Joseph S. Soft Power: the means to success in world politics, New York: PublicAffairs, 2004,
Introdução.
19
políticas para promover um consenso histórico onde toda a população encontre uma
empreendidos pela nação no cenário internacional. O autor cita também os Estados que, a
partir das definições de seu caráter nacional, chegam a se auto-rogar uma determinada
interna, Merle explica que o chamado interesse nacional é antes um fator subjetivo do que
uma característica objetiva, posto que não prescinde dos juízos de valor do formulador das
postulados dos marxistas os mais coerentes, por levarem em conta, de modo objetivo, a
influência dos fatores internos sobre a política externa. Porém, não deixa de constatar que,
Por fim, o autor aponta a existência de uma grande interação entre os campos
Merle deixa evidente a importância destacada dos fatores pertencentes ao escopo cultural
na interação entre política interna e externa. O espaço dedicado a tais fatores – caráter
20
nacional, identidade nacional, messianismo das nações, formação do arcabouço de
sem levar em alta linha de conta concepções pessoais, métodos, relações sentimentais do
relação do homem de Estado com as “forças profundas”34 que sobre ele exercem influência
ou que sofrem sua intervenção são fundamentais para a compreensão da dinâmica das
relações internacionais.35
intelectual que repousa no interior de uma elite econômica, e sendo a produção artístico-
culturais, são necessariamente influenciados por essas posturas pessoais, que nem sempre
32
Cf. MERLE, Marcel. La Politique Étrangère. Paris: Universitaires de France, 1984, Quatrième Partie, pp.
149 a 166.
33
RENOUVIN, Pierre & DUROSELLE, Jean-Baptiste. Introdução à História das Relações Internacionais.
São Paulo: DIFEL, 1967, Introdução, p. 6.
34
Idem.
35
Idem.
21
No que dirá respeito, especificamente, à cultura e às atividades do Itamaraty neste
campo, trabalharemos com o conceito de política cultural externa. A definição é dada por
Esta difusão da cultura de um determinado país teria funções diversas: suas ações
seriam importantes em si mesmas, e também como suporte para outras áreas a serem
política externa dos governos no período. Embora o Itamaraty tenha, historicamente, uma
governo, que estabelece as linhas gerais da inserção brasileira no cenário mundial. Além
36
LESSA, Mônica Leite, op. cit., pp. 11-25.
37
Idem.
22
que irão, em penúltima e última instância, respectivamente, aprovar ou desaprovar tratados
no tocante à difusão cultural, no período democrático que se seguiu do fim do Estado Novo
ao Golpe de 64, era justamente a existência de uma política cultural definida, com
iniciativas, sem que elas unidas constituíssem, objetivamente, uma política cultural.
em novembro de 62 como parte da política cultural que o órgão adotaria até 1964, ano de
38
MOREIRA apud Correa. Jornal do Brasil,10/10/2001.
23
A assertiva de Moreira findou por se confirmar a partir da pesquisa dos
intelectuais, assim como determinadas linhas mestras e princípios que guiariam esta ação
cultural: “(...) comunidade luso-brasileira, união latina, comunidade ocidental (...)”.39 Toda
e qualquer ação que contrariasse qualquer uma dessas premissas deveria, portanto, ser
evitada.
ainda que tais ações não se tenham desatrelado das linhas mestras da política cultural.
Todavia, essas mudanças nem sempre foram sutis, e certos impasses ocorreram em função
estilo pessoal do gestor é facilmente observável, na DCl essa impressão particular não
questão.
Internacionais podem ser tanto espontâneas quanto políticas; tal divisão, no entanto, não
39
Memorandum de Meira Penna ao Chefe do Departamento Político e Cultural. “Bolsas de Estudos do
Instituto de Cultura Hispânica”, 19/09/1957. MRE, Informações e Relatórios da DCl, 1956-57, 135.5.16,
AHI, Rio de Janeiro.
40
Edgard Telles Ribeiro observa que “a freqüente mudança nas chefias dos setores culturais na Secretaria de
Estado e nos postos [é] um fato que não impede, mas dificulta dar continuidade aos projetos”. RIBEIRO,
Edgard Telles. Op.cit., p. 70.
24
impede que haja intercâmbio entre as duas modalidades. O Estado, ocupando posição
central nas Relações Internacionais41, detém os principais meios para difundir ou apoiar a
pelos agentes culturais que pretendem realizar atividades no exterior. Essa participação do
imprensa brasileira. Isso é claro no caso específico do concerto de Bossa Nova no Carnegie
efetiva existência de uma política cultural no Itamaraty, entre 1945 e 1964 e demonstrar
como esta política manteve suas linhas gerais de ação não obstante os impasses e
Itamaraty, perpassando pela ação do Barão do Rio Branco à frente do ministério, que,
como alguns autores assinalaram, dá continuidade a uma tradição iniciada por João VI e
Pedro II, e que, por sua vez, é incorporada pelo Barão à prática diplomática brasileira. Em
pela excursão do grupo musical Oito Batutas à Paris, em 1922, para entendermos as
41
RENOUVIN, Pierre & DUROSELLE, Jean-Baptiste. op.cit,, p. 5.
42
Na matéria Itamaraty: Bossa Nova não fracassou, publicada no jornal Última Hora em 29/11/1962, é
publicada a nota oficial divulgada pelo Itamaraty, eximindo-se da responsabilidade direta sobre os fatos
relativos à organização do concerto. A nota encontra-se transcrita no Capítulo III deste trabalho.
25
mudanças nos anos 30, quando a cultura nacional passa a ser um assunto de Estado. No
ação melhor definidas, a partir da instauração do Estado Novo, em 1938, através do DIP e
do Itamaraty.
após o ocaso do Estado Novo. Em seguida, analisamos o modo como a política cultural
externa foi levada à prática, a partir de ações culturais, no período que se inicia em 1946 e
partir das atividades do ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiros) e do CPC (Centro
difusão da cultura brasileira feita a partir das diretrizes de política cultural do Itamaraty.
expressões da cultura brasileira: a música popular, já que o ano de 1962 foi marcado, no
que tange à política cultural externa, por um dos eventos de maior destaque na trajetória
Hall de Nova Iorque – e o Cinema Novo, que foi objeto de largo interesse, por parte da
26
A arquitetura desta dissertação destaca a evolução da política cultural externa
expressões culturais populares com a cultura erudita, irão encontrar nos meios de
etapa da pesquisa de fontes primárias, posto que os volumes a serem consultados são
numerosos, e o arquivo encontra-se aberto ao público apenas quatro dias por semana, seis
horas por dia. A segunda etapa, cumprida em Brasília, apesar de ter exigido deslocamento
43
ADORNO, Theodor e HORKHEIMER, Max. O Iluminismo como mistificação das massas IN Indústria
Cultural e Sociedade. [Trad.]. São Paulo: Coleção Leitura, Paz e Terra, 2002, p. 61.
44
COELHO, Teixeira. Dicionário Crítico de Política Cultural. São Paulo: Iluminuras, 1997, pp. 32-3.
45
ADORNO, Theodor. Op. cit., p. 66.
27
para a pesquisa, facilitando a organização do material e as consultas posteriores. A
divulgaram notícias relativas a eventos em que houvesse apoio do Itamaraty e que tenham
externa, foi realizada, em sua quase totalidade, na Biblioteca Nacional. Diversos sites da
Internet ofereceram artigos, dissertações, teses e periódicos, cujo acesso por meio digital
28
CAPÍTULO I
especialistas concordam que esta é uma dimensão da Política de Estado do Brasil que há
muito já possui suas tradições. Historicamente conhecida por sua autonomia, ela sempre
Analisar, pois, a ação cultural do Brasil no exterior como um conjunto de movimentos que
de modo pontual, sem que haja princípios norteadores que a forjem ou prospecção de
instalação da Família Real no Rio de Janeiro, que enseja a vinda ao Brasil, a convite do rei
46
Desde então, já existia um departamento no Itamaraty responsável pelas relações do gênero. A Divisão de
Cooperação Intelectual seria criada em 1937, ano do início do Estado Novo; após o retorno à ordem
democrática, passaria a se chamar Divisão Cultural.
47
RIBEIRO, Edgard Telles. Op. Cit., p. 35.
29
brasileira nas Exposições Universais, na segunda metade do século XIX, também
pudessem servir às classes abastadas, convidar cientistas para criar faculdades e, no campo
como o Ministro que melhor compreendeu e praticou a diplomacia cultural em seu tempo.
Durante o período em que esteve à frente do Itamaraty, de 1902 até 1912, a irradiação da
[J]á que a idéia de Brasil do chanceler era uma cosa mentale, uma
concepção idealizada para melhor permitir sua acolhida e recepção
pelo mundo exterior mas em muitos pontos destoantes da realidade,
não bastava vender aos estrangeiros a imagem criada. Era
igualmente preciso criá-la na realidade, transformando a própria
realidade, a fim de aproximá-la da imagem abstrata, do seu modelo
ideal.49
seu tempo, Rio Branco atinou cedo para a importância que a constituição de uma imagem
apropriada do Brasil poderia representar para sua política externa. Tal imagem cultivada
por Rio Branco deveria estar representada, primeiramente, pelo corpo diplomático – seu
30
impressão vazia, Rio Branco preconizava que mudanças reais deveriam ser levadas à ação,
feições definitivas, e que os próprios princípios que norteariam a política externa do país
inclusive, para a asseveração da soberania. Neste intento, Rio Branco, além de ter
estimulado a instalação no Brasil de colégios que formassem as moças da elite, “pois deles
ausência, desde já, de um interlocutor no plano interno para discutir questões do âmbito da
que seriam os ideais de “valores superiormente nacionais”, bem como na difusão da cultura
brasileira no exterior53. Com isso, cria-se não só uma tradição de política cultural externa,
construído.54
Gilberto Freyre faz diversas referências ao “gênio” de Rio Branco no que diz
50
FREYRE, Gilberto. Ordem e Progresso. Rio de Janeiro: Editora Record,. 2001, pp. 163-4.
51
Idem.
52
LESSA, Mônica Leite. Op. cit., p. 90.
53
RICUPERO, Rubens. Op. cit., loc, cit.
54
Idem.
31
publicidade” – principalmente ao criticar a postura da diplomacia brasileira de seu tempo
Aos jornais falta um Rio Branco que lhes comunique, como de uma
torre de comando donde se considerasse o Brasil como uma nova
força na política e na cultura do mundo - e não apenas da América -
o entusiasmo, o fervor, o interesse pelas atividades daqueles
brasileiros de inteligência ou de gênio que realizam no estrangeiro
obra de renovação de valores mundiais. Imagine-se o que Rio
Branco faria de um Villa-Lobos. Ou de um César Lattes. Ou de um
Portinari. Ou de um Vital Brasil. Ou de um Gilberto Amado. Ou de
um Osvaldo Aranha. Ou de um Oscar Niemeyer. Ou de um Cícero
Dias. Ou de um Anísio Teixeira.
No Brasil de hoje são valores quase desamparados pelo governo e
quase desprezados pela maioria dos jornais. E alguns deles quase
ignorados pelo grande público. 55
A figura do Barão é notória pelo que representou nos primeiros anos do século XX
tinha como cerne a postura de igualdade perante as outras nações. Renegou uma possível
subserviência perante a pujança das potências de então56, e pôs à frente a cultura como um
dos elementos que deveriam conferir ao Brasil um peso cada vez maior no jogo
internacional. A afirmação do país perante as grandes nações européias, bem como diante
55
FREYRE, Gilberto. De Afrânio a Gilberto Amado. O Cruzeiro, Rio de Janeiro, 26/03/1949. Disponível na
Biblioteca Virtual Gilberto Freyre <http:/prossiga.fgf.org.>. Acesso em: Jun. 2005.
56
“É possível que, renunciando à igualdade de tratamento (...), alguns se resignem a assinar convenções, em
que sejam declarados e se confessem nações de terceira, quarta, ou quinta ordem. O Brasil não pode ser desse
numero.” Rio Branco em telegrama de instruções a Rui Barbosa, apud RICUPERO, Rubens. Op. cit., pp. 27.
32
personificaria valores e conceitos elevados identificados como nacionais.57 Daí a
cultivados à época, excluía, a não ser em casos em que a genialidade fosse inconteste, “os
obeso Manuel de Oliveira Lima, é delongada por Rio Branco.60 Discordâncias quanto à
oposição pessoal, criando entraves definitivos à carreira diplomática de Oliveira Lima, que
chegaria a escrever a Joaquim Nabuco que “O Rio Branco tem tido o talento e a fortuna de
Por outro lado, escreveu Oliveira Lima sobre a postura de Rio Branco em relação
aos Estados Unidos, que nos primeiros anos do século XX se afigurava como uma nova
potência no cenário internacional: “[...] Para o Sr. Barão do Rio Branco (tenho razões para
57
RICUPERO, Rubens. Op cit, pp. 63-64 e SILVA, Alberto da Costa. “Diplomacia e Cultura”, op.cit., p. 26.
58
FREYRE, Gilberto. Op. cit., loc. Cit..
59
Idem
60
Idem
61
Entre outros fatos, Oliveira Lima, 22 anos mais jovem que Rio Branco, é eleito para a Academia Brasileira
de Letras um ano antes deste.
62
Carta datada de Madri, 20.5.1903, Arquivo Joaquim Nabuco apud ALMEIDA, Paulo Roberto de. O Barão
do Rio Branco e Oliveira Lima: vidas paralelas, itinerários divergentes. Disponível em <
http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/935BarOlivLimaSem22Ago.htm>. Acesso em Abr. 2006.
33
Estados Unidos, dos nossos juízos e preferências.”63. Oliveira Lima também concordava
alheias. Por sua vez, Rio Branco reconheceria o empenho de Oliveira Lima ao realizar
“não só divulgar o Brasil para o mundo, mas revelar o mundo ao Brasil”66, irá
nessa dupla convergência no que tange as relações Brasil-Estados Unidos e sobre o papel
da diplomacia cultural brasileira. Entre seus méritos enquanto diplomata, Oliveira Lima se
introduzir, pela primeira vez, o idioma pátrio como língua falada em congressos
63
Citado por Barbosa Lima Sobrinho. Idem.
64
FREYRE, Gilberto. Oliveira Lima, Don Quixote gordo. Recife: Imprensa Universitária, 1968. Disponível
na Biblioteca Virtual Gilberto Freyre <http:/prossiga.fgf.org.>. Acesso em: Jun. 2005.
65
GOUVÊA apud ALMEIDA, Paulo Roberto de., Op. cit.
66
SOUZA, Melissa de Mello e. Brasil e Estados Unidos: a nação imaginada nas obras de Oliveira Lima e
Jackson Turner. Dissertação de Mestrado, PUC-Rio, 2003, p. 51. Disponível em
http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/cgi-
bin/PRG_0599.EXE/4054_1.PDF?NrOcoSis=8439&CdLinPrg=pt. Acesso em: Abr. 2006.
67
Idem.
34
científicos.68 A difusão da língua portuguesa, deve-se destacar, se tornaria um dos pontos
constantes da política cultural externa do Brasil desde então, sendo um dos aspectos a
merecerem destaque, por exemplo, nas atividades dos institutos internacionais que
Por sua vez, a trajetória pessoal de Oliveira Lima difere, em aspectos fundamentais,
carrière ainda estava profundamente relacionada com as origens sociais dos diplomatas;
brasileira, tendo maiores chances de êxito os filhos das oligarquias rurais69. Segundo
Carlos Guilherme Mota, Oliveira Lima “nasce de família fora do alto patriciado
pernambucano, filho de arrendatária com comerciante, o que (...) diz muito, sobretudo de
sua visão de mundo e ... de suas dificuldades na carreira.”70 A própria visão de Brasil de
Oliveira Lima discrepa daquela cultivada por seus pares: o “sentimento de pertencimento a
uma cultura”71, que tinha em relação ao seu estado, Pernambuco, e ao Brasil, deram a seu
relação a algumas práticas do meio diplomático nacional reflete a sua proximidade com os
elementos do que seria a cultura brasileira, embora tenha vivido por anos na Europa:
68
Id. Ibid., p. 52.
69
As referências às questões da formação social do corpo diplomático brasileiro nos primeiros anos da
República estão presentes em grande parte dos artigos reunidos em O Itamaraty na Cultura Brasileira. Sobre
Oliveira Lima, escreve Carlos Guilherme Mota, neste livro, sob o título Oliveira Lima e Nossa Formação,
pp. 180 a 195. Outro aspecto mencionado pelo autor é a aparência de Oliveira Lima, considerada pelo próprio
seu "calcanhar de Achiles": “Sua maneira de ser, algo estabanada, a que um físico avantajado dava pouca
pompa e algum estardalhaço, deve ter pesado para o relativo insucesso na carreira, em que a aparência
contava muito mais que na atualidade.”
70
Id. Ibid, p. 185.
71
Id. Ibid., p. 186.
35
pois que as do Novo Mundo não merecem esses figurinos do
cosmopolitismo – sem nunca aprender a respirar no seu ambiente
moral [...]72
alta conta a herança européia, “no sentido das instituições e do conhecimento artístico e
intelectual humano”, não descartava a importância, para tal identidade, dos “elementos
concepção iria exercer especial influência sobre Gilberto Freyre, que se considera um
brasileira nas gerações que se sucederam, Freyre indica que a postura de Oliveira Lima
quanto a assuntos culturais irá entusiasmar jovens diplomatas a pensarem ainda mais
participação nas exposições universais de Paris (1867), Viena (1873) e Filadélfia (1876),
onde se pode divulgar as qualidades que atrairiam uma “imigração de elite”75, passando
72
LIMA, Oliveira, artigo “Reforma Diplomática, I”, 25 de agosto de 1903, Correio da Manhã, apud
ALMEIDA, Paulo Roberto de., op. cit. Loc. Cit.
73
SOUZA, Melissa de Mello e. op. cit., p. 54.
74
FREYRE, Gilberto. Op. cit, loc. Cit.
75
LESSA, Mônica Leite. Relações culturais internacionais. op. cit., p. 15.
76
Idem. Op. cit., p. 89
36
culminando na atividade de Rio Branco, que soube se utilizar habilmente, no sentido da
prestigiada pela sociedade francesa, o médico Oswaldo Cruz, cujo trabalho pioneiro como
que a faria ser considerada a “Paris dos trópicos”.77 Tal dimensão continuará a ter peso
após a morte de Rio Branco, em 1912. É o caso de notar tal prosseguimento na Convenção
sobre a dívida deste país com o Brasil. Determina-se, em 1921, que parte da quantia devida
deveria ser depositada em fundo específico para o incremento do intercâmbio entre os dois
Nações, cuja Assembléia aprovará, em 1920, a criação de um órgão que daria conta da
Cooperação Intelectual) passa a existir, com essa finalidade, em 1926. Neste mesmo ano, o
Brasil sairá da Sociedade das Nações, da qual fizera parte desde 1919, mas continuará
atuando na CICI no decorrer das décadas de 20, 30 e 4079, dando continuidade à tradicional
ação no escopo da cultura, que assumirá, a partir da criação deste foro, um caráter de
77
FREYRE apud LESSA, Mônica Leite. Op. cit, p. 15.
78
Relatório Anual do Ministério das Relações Exteriores – 1949. Ministério das Relações Exteriores, Rio de
Janeiro, 1950, p. 106.
79
No plano interno, a Comissão Nacional de Cooperação Intelectual, criada em 1925, seria a interlocutora da
CICI. Com a criação da Unesco, em 1946, o IBECC desempenhará essa função.
80
LESSA, Mônica Leite. Op.cit., pp. 92-5.
37
do nível de seriedade com que o tema era visto, e da forma intrínseca como ele se
presente na obra de Oliveira Lima e desenvolvida, mais tarde, por seu admirador Gilberto
Freyre, estarão presentes, nos anos 20, quando da polêmica gerada pela viagem, à França,
brasileira, uma grande celeuma acerca da imagem internacional do Brasil. Tal discussão
perpassará não só a questão racial, num país em que a Abolição ainda era um processo
formação, tanto do ponto de vista do corpo diplomático quanto dos paradigmas culturais. O
trânsito dos diplomatas pelo mundo e a incorporação de elementos externos que fossem
38
diferença, para ser fecundo, não pode ser a repetição do repertório
do Outro. Tal repetição petrifica o diálogo, que, imobilizado, deixa
de ser crítico.”81
externas, não traria ganhos, mas sim o imobilismo decorrente da mimese pura e simples. A
na sua faceta externa, não poderia prescindir das características exclusivas do país. Elas
serão o diferencial que marcará a política cultural externa, tornando o país atraente aos
Itamaraty, a partir dos anos 20, como fruto da reavaliação da idéia de identidade cultural
brasileira que vinha se gestando no meio intelectual desde o século XIX, como vimos
anteriormente.
faceta mais visível; a ruptura com padrões artísticos anteriores, cujo modelo era a Europa,
exposição internacional no Rio de Janeiro, que cooptou a atenção dos corpos diplomáticos
de todo o mundo e foi utilizada pelo Itamaraty como palco para a propaganda nacional.
Vive-se, pois, não só uma fase de (re) discussão da cultura, como também de maior
81
LAFER, Celso. op. Cit., pp. 16-17.
39
notadamente a França, considerada pelas elites de então a capital cultural do mundo,
veio ao Brasil como integrante da comitiva do embaixador Paul Claudel, por sua vez um
importante escritor-dramaturgo de sua época, e aqui permaneceu por dois anos. De volta à
Paris, lançou a peça musical Le Boeuf sur le Toit, reunindo partes de diversos choros
brasileiros. O êxito foi tão grande que, em 1920, inaugura-se na cidade um café de mesmo
nome, onde as mais representativas figuras da vida cultural francesa de então podiam ouvir
brasileiro radicado em Paris, e o diplomata Lauro Muller, sucessor de Rio Branco à frente
do Itamaraty entre 1912 e 1917, uniram esforços para levar o grupo musical os Oito
Junior – 1897-1973), à Paris. Durante seis meses, Les Batutas, como ficaram conhecidos
principal questionamento concentrava-se mais no fato dos músicos serem negros, o que
poderia depor contra a imagem do Brasil, do que propriamente nos estilos musicais que
lamenta o modo como o Brasil chamará atenção na França: “‘seja como for, o boulevard
82
Cf. OLIVEIRA, Arthur Loureiro de et al. 500 anos de música popular brasileira. Rio de Janeiro: MIS
Editorial, 2001, p. 59.
40
vai se ocupar de nós. Não do Brasil de Artur Napoleão, de Osvaldo Cruz, de Rui Barbosa,
de Oliveira Lima, não do Brasil expoente, do Brasil elite, mas do Brasil pernóstico,
quando da divulgação da notícia da viagem dos músicos, onde o autor afirma que deveria
haver uma polícia que os “‘[...] fisgasse pelo cós e os retirasse de bordo com a manopla
Buenos Aires. Formada por artistas negros, seguindo o modismo então em voga em Paris
abandonar a idéia da tournée pela pressão exercida pela SBAT (Sociedade Brasileira de
público, mais especificamente do Ministério das Relações Exteriores, “para evitar essa
Voltando aos Oito Batutas, houve também quem defendesse a viagem dos artistas,
como Benjamim Costallat, que publica crônica na Gazeta de Notícias dizendo que eles
influências estrangeiras, carregadas do “‘ [...] perfume das nossas matas, o orgulho das
amor dos nossos corações, ditos e cantados pelo verso simples e a música sublime da alma
83
CABRAL, Sérgio. Pixinguinha: vida e obra. Rio de Janeiro: Lumiar, 1997, pp. 73-74. Os artigos foram
publicados nos referidos jornais em 1º de fevereiro de 1922.
84
BARROS, Orlando de. Corações de Chocolat. Rio de Janeiro: Livre Expressão, 2005, pp. 230-33.
85
“A Máscara”, a. 1, 08.07.1927, nº 12, p. 2., apud idem, p. 230.
41
popular...’”86 Curioso constatar que a crítica é feita em referência ao fato dos componentes
indissociável a ritmos eruditos, processo que daria origem ao que hoje conhecemos como
popularização de gêneros musicais eruditos, ora combinados a gêneros populares. Para tal
através do disco, no lugar dos precários cilindros de cera. A relação do público com a arte,
vertente do samba que se produz nas estações de rádio ganhará status de música nacional.
dos Oito Batutas na França tomou espaço significativo, num contexto em que a viagem
revestiu-se de caráter de missão oficial, dado o apoio do ex-chanceler Lauro Muller87, que
ratificando a impressão de que o gosto pessoal dos diplomatas tinha peso essencial no
86
Idem.
87
BASTOS, Rafael José Menezes de. Les Batutas, 1922: uma antropologia da noite parisiense. Revista
Brasileira de Ciências Sociais, vol. 20, nº 58, São Paulo, Jun/2005. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-69092005005800009&script=sci_arttext&tlng=pt>. Acesso em:
Nov. 2005.
42
apoio às excursões de artistas ao exterior, ainda que tais viagens não contassem com
financiamento oficial.
Oito Batutas se inscreve num momento em que o modo de inserção das tradições culturais
que os valores ditos “civilizatórios” da Europa não poderiam ser inteiramente impostos à
Embora o racismo ainda fosse marcante no princípio dos anos 20, conseqüência direta de
culturais de raízes africanas, assim como as indígenas, não podiam ser olvidadas. Daí o
ante-sala do Palais – cinema da Avenida Central freqüentado pela elite carioca, inclusive
por diplomatas como Lauro Muller – interpretando choros, cateretês, maxixes e batuques.
Esses ritmos, é importante ressaltar, não eram de origem exclusivamente africana; também
colônia. A combinação desses elementos dava aos Oito Batutas o caráter de conjunto
representativo da música nacional – pelo menos aos olhos de Arnaldo Guinle e Lauro
expressão cultural legitimamente brasileira, num momento em que Paris era o centro em
88
ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional. 2.Ed. São Paulo: Brasiliense, 1986, pp. 19, 21 e
43.
43
que se consagravam os “gêneros musicais nacionais emblemáticos da América Latina” 89,
brasileiros.
de 20 e 30, iria corroborar a importância seminal dos Oito Batutas como síntese, na forma
iniciava:
ajuda a popularizar o samba91, que antes mesmo de chegar a ser composto por músicos
brancos de classe média, como Noel Rosa e Ary Barroso, já começava a se difundir,
através das gravações, além dos morros, onde se confundia com rituais religiosos afro-
89
BASTOS, Rafael José Menezes de. Op. cit., loc. Cit.
90
REIS, Letícia Vidor de Sousa. Modernidade com mandinga: samba e política no Rio de Janeiro da
Primeira República. Disponível em: http://www.samba-choro.com.br/debates/1012493927/index_html>.
Acesso em Nov. 2005.
91
OLIVEIRA. Arthur Loureiro de et al. Op. cit., p. 80.
44
descendentes.92 A partir dos anos 30, o samba que se ouvirá no rádio gerará uma série de
sub-gêneros. Um deles, a Bossa Nova, contará, quando de sua incursão no cenário musical
No plano da política cultural para o exterior, a viagem dos Oito Batutas à França
com apoio de uma certa elite que sem duvida contribuirá para a consolidação de uma nova
idéia de cultura, representa um momento de ruptura dos padrões de difusão cultural até
então estabelecidos, baseados na cultura erudita93. Esta ruptura inserirá a difusão num novo
contexto que começa a se impor a partir da gestação da indústria cultural no Brasil, embora
esse cenário só fosse se consolidar a partir dos anos 30, o que levou a excursão a sofrer
críticas por parte dos setores conservadores da sociedade. É essencial, pois, destacar o
pioneiramente vista por determinados diplomatas como expressão cultural cuja veiculação
órgão. Assim, a música popular terá, a partir de então, lugar de destaque nas ações
verdadeiramente, num padrão, posto que na esteira dos Oito Batutas virão o apoio às
92
“Todos, absolutamente todos os patriarcas do samba, da Mangueira, da, Portela, do Prazer da Serrinha, da
Unidos da Tijuca e de outras escolas pioneiras, foram unânimes em afirmar: ‘samba e macumba era tudo a
mesma coisa’.” Id. Ibid., p. 79.
93
Utilizamos o termo “cultura erudita” no sentido empregado por Teixeira Coelho, isto é, como sinônimo de
“cultura de elite”. COELHO, Teixeira. Op. cit., p. 127.
94
COELHO, Teixeira. O que é indústria cultural?. São Paulo: Brasiliense, 2006, p. 17.
45
representações diplomáticas no exterior e, destacadamente, a difusão da Bossa Nova nos
anos 60.
Há que se frisar, por último, que o advento da indústria cultural, a partir dos anos
30, cria um novo elemento que deve ser levado em conta, futuramente, pelos formuladores
da política cultural externa95: a cultura não é mais apenas um elemento simbólico para a
transmissão da melhor imagem do país no exterior, com vistas a ganhos gerais em outras
áreas políticas; ela passa a ser um produto em si mesma. Neste sentido, a música popular,
popular se tornará a expressão artística privilegiada nas ações de política cultural externa
do Itamaraty, seguida, em segundo plano, pelo cinema. No final da década de 30, a ação
cultural externa do Estado Novo começará a delinear claramente esta modalidade de ação,
95
A figura do formulador de política cultural, diplomata especializado que irá conceber uma política cultural
externa, surgirá na década de 50, já que só a partir de 1945 aparece a figura do attachée cultural nos meios
diplomáticos internacionais. Neste contexto, o Brasil não está aquém dos outros países; assim como no
exterior, a política cultural existe, mas gestada pelos diplomatas de modo menos esquemático, geralmente
com o apoio de artistas e intelectuais.
96
RIBEIRO, Edgard Telles. Op. cit., p. 74.
97
Transformação da cultura “em commodity, mercadoria com cotação individualizável e quantificável”.
COELHO, Teixeira. Op. cit., loc. Cit.
98
MESQUITA, Silvana de Queiroz Nery. A Política Cultural norte-americana no Brasil: o caso do OOCIAA
e o papel das Seleções Reader’s Digest 1940-1946. Dissertação de Mestrado, IFCH-PPGH-UERJ, 2002, p.
73-86. Disponível em www.dominiopublico.org.br. Acesso em Abr. 2006.
46
1.3. Propaganda e Cultura
Educação, então conduzido por Gustavo Capanema. Segundo Afonso Arinos, Capanema,
“como ministro da Cultura, foi Malraux antes de Malraux, (...) [e] sua obra é comparável à
educação. Num panorama político onde ainda não havia sido criado o Ministério da
Cultura, muitas das atividades que, futuramente, viriam a estar sob sua esfera de
responsabilidade, acabavam por ser absorvidas pelo Ministério da Educação. Certa vez,
pasta “(...) cultura, pois o objetivo desta é justamente a valorização do homem, de maneira
serem empreendidas pelo governo desde o início da sua gestão à frente do recém-criado
Ministério da Educação, em 1934, até a queda do Estado Novo, em 1945. Num contexto
em que as relações entre cultura e Estado passam assumir dimensões mais íntimas, posto
que o primeiro período de Vargas como Chefe do Executivo é marcado, justamente, pela
crescente passagem das questões culturais para a esfera de interesse do Estado, Capanema
99
Citado por Afonso Arinos, filho. BOMENY, Helena Maria Bousquet; COSTA, Vanda Maria Ribeiro;
SCHWARTZMAN, Simon. Tempos de Capanema. São Paulo: Paz e Terra/FGV, 2000, Prefácio, p. 15.
100
Idem.
47
“administração cultural”101 será conduzida. Neste processo, o contato constante de
Sobre a relação dos intelectuais com o Estado no período 1930-45, Miceli observou
101
WILLIAMS, Daryle. “Gustavo Capanema, ministro da Cultura”, in GOMES, Ângela de Castro (org.).
Capanema: o ministro e seu ministério. Rio de Janeiro: FGV, 2000, p. 257.
102
MICELI, Sérgio. Intelectuais e Classe Dirigente no Brasil (1920-1945). São Paulo: Difel, 1979, p. 131.
48
artistas que, no decorrer do período, estiveram presentes na formulação e na condução da
política cultural:
e, no caso de Gilberto Freyre, no suporte à política cultural voltada para o exterior. No caso
específico da música, Mário de Andrade irá escrever, no final de década de 30, o que
imaginava serem as “bases para uma entidade federal destinada a estudar o folclore
música erudita nacional”104. Deste projeto, assim como dos outros do gênero, elaborados
posteriormente por Villa-Lobos e Magdalena Tagliaferro, o ponto que terá maior projeção
será o ensino do canto orfeônico nas escolas105 , isto é, a educação musical, via canto coral,
recuperação do folclore. Por outro lado, a difusão da música brasileira no exterior, nos
103
DÓRIA, Carlos Alberto. Cultura, Brasil e Estado Novo. Disponível em
<http://pphp.uol.com.br/tropico/html/textos/2390,1.shl>. Acesso em Out. de 2005.
104
Mário de Andrade apud BOMENY, Helena Maria Bousquet; COSTA, Vanda Maria Ribeiro;
SCHWARTZMAN, Simon. Op. Cit., p. 108.
105
Idem, p. 110.
106
Idem, p. 111.
49
planos traçados pelos intelectuais ligados ao Ministério da Educação e Saúde durante o
período 1930-45, ainda está bastante ligada à música erudita: Villa-Lobos, Francisco
Mignone e Guiomar Novaes são alguns dos nomes que desempenham esta divulgação.107 É
evidente que a idéia do que representa a cultura nacional está passando por mudanças neste
momento, mas a cultura popular e seus produtores ainda não se tornaram uma unanimidade
nem na esfera do poder, nem no meio intelectual e, em última instância, sequer nos
espetáculo, da revista teatral ao cinema musical”109, podemos observar que, no caso dos
músicos mais humildes, oriundos dos morros cariocas, sua própria chegada ao rádio, na
maior parte das vezes, ainda se dava por meio da “venda” de músicas a cantores
Cartola, que só gravaria seu primeiro álbum na década de 70, já eram ouvidas nas rádios,
mas o acesso aos microfones, para um compositor pobre, negro e morador de uma favela
ainda era bastante restrito. Apesar disso, compositores, músicos e cantores como
107
Idem.
108
BARROS, Orlando de. A reassunção do Divino. In Cartola/ Projeto Fita Meus Olhos. Rio de Janeiro:
EdUERJ., 1998, p.74.
109
Idem, pp. 75-6.
50
Pixinguinha e Ataulfo Alves, assim como o mulato Orlando Silva, conseguiram romper a
particulares de identidade cultural brasileira, Gilberto Freyre tinha uma relação espinhosa
ações de caráter cultural. A sua presença na formulação dessa política cultural externa é
fundamental:
110
RICUPERO, Rubens. op.cit, p. 63.
51
1936, um vasto ‘Programa moderno e prático de propaganda
cultural do Brasil no estrangeiro(...)’111
parte das funções executivas de difusão externa da cultura brasileira. Gustavo Capanema
assume o Ministério da Educação e Saúde no mesmo ano e leva para a pasta seus
de Publicidade, de 1931, e dá origem, cinco anos mais tarde, ao DIP. Como conseqüência,
cultural, um passo à frente para a administração pública brasileira, não existia uma
Ministério da Cultura, ainda com as mudanças havidas após a Revolução de 30, criava uma
situação sui generis: o Itamaraty, que parecia ter, historicamente, a atribuição exclusiva de
durante os anos de Rio Branco, inclusive, “como uma espécie de Ministério como que de
Educação e Cultura”113, não encontrava, no plano interno, uma estrutura ministerial que
111
SUPPO, Hugo Rogélio. Op. cit., pp. 42-43.
112
LESSA, Mônica Leite. Op. cit., p. 92.
113
FREYRE, Gilberto. Op. cit., loc. cit.
52
com as contingências internas e os constrangimentos advindos do contexto internacional –
assuntos culturais no plano interno acabam por reverberar na política cultural externa do
período: novas estruturas são criadas para sistematizar a propaganda no exterior, embora a
dissensos.
Por fim, podemos afirmar que os princípios de uma diplomacia cultural ativa,
lançados pelo Barão, perdurarão por todo o período aqui estudado. Nos momentos
posteriores aos dez anos em que esteve à frente do Itamaraty, a dimensão cultural da
política externa não foi olvidada: mudam os objetivos e os modos de inserção, mas não se
valores ditos “civilizados” para uma Europa que então era o centro de poder – e de cultura
identidade brasileira se refletirá, de modo exponencial, na viagem dos Oito Batutas a Paris,
com apoio discreto, porém notável, do Itamaraty, nos primeiros anos da década de 20.
Após a Revolução de 30, a questão da cultura passará de modo definitivo pela esfera
53
institucional, para dar andamento à política cultural externa. A partir de 1937, parte dessas
concepção de uma política externa que, constrangida aos limites de suas possibilidades,
dada a posição do Brasil neste sistema, adotava, como meio de ação no cenário
internacional, a propaganda cultural. Por outro lado, durante a preparação para a Segunda
Guerra Mundial, quando os Estados Unidos ainda não haviam tomado parte do conflito, já
existia, por parte do governo norte-americano, uma intensa preocupação com a América
Latina, num contexto em que o Brasil vivia sob um regime de exceção e mantinha o
OCIAA promovia atividades de cooperação nas mais diversas áreas, muitas das quais
Pregando como fim a integração entre os povos americanos, o OCIAA era muito mais
cooperação continental, como os muitos então já existentes, ainda que a retórica fosse
114
Entendemos aqui “sistema internacional” tal como BULL, Hedley, op. cit, p. 15.: “[...] quando dois ou
mais Estados têm suficiente contato entre si, com suficiente impacto recíproco nas suas decisões, de tal forma
que se conduzam, pelo menos até certo ponto, como partes de um todo.”
115
MOURA, Gerson. Autonomia na dependência: a política externa brasileira de 1935 a 1942. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1980, passim.
54
Brasil, uma identidade única. Conscientes de que a instabilidade política típica dos países
latino-americanos poderia ser mais bem manejada a seu favor sob regimes de exceção, os
Estados Unidos não só estimularam, por muito tempo, sua instauração, como também se
associaram a tais governos. A democracia passa a ser vista como um "ideal", facilitando a
vinda para o Brasil de tecnologia de ponta norte-americana e a ida para os Estados Unidos
americanas, surgidas ainda durante a Primeira Grande Guerra, irão utilizar-se da histórica
amizade entre Brasil e Estados Unidos para propalar notícias favoráveis a uma colaboração
cada vez mais intensa entre os dois países. Órgãos de imprensa locais, principalmente os
publicações obtinha apoio em suas ações. Folhetos e libretos, além de bandeiras e outros
partes do país.
censura prévia às notícias e produções artísticas provenientes dos Estados Unidos tornou-
brasileira em larga escala, tanto pelo rádio quanto pelos então chamados "jornais de tela",
noticiários que passavam nos cinemas antes da exibição dos filmes. Beneficiada por essa
116
Idem. Tio Sam Chega ao Brasil. São Paulo: EdUSP, 1984, p. 26.
55
interação entre DIP e OCIAA foi a distribuição e difusão do cinema de Hollywood, que
antes e durante a Segunda Guerra, como também após seu término, quando a Guerra Fria
fez com que o nazismo alemão cedesse o posto de antagonista-mor ao socialismo soviético.
relações. Sob a direção de Lourival Fontes, o DIP defendeu, no que tange à colaboração
56
entre brasileiros e norte-americanos lograr uma propaganda
positiva em prol de uma aproximação mais estreita com o Tio
Sam.117
que foram ‘selecionadas’ desde o período Imperial por uma elite intelectual, através da
noção do ‘exótico’ como forma de procurar uma identidade marcada, sobretudo pela
‘diferença’ são ali enaltecidas.”119). Além disso, outra tradição desta difusão, que se
caracteriza pela admissão pelo país de aspectos culturais exógenos, sem que tal processo
resulte no olvidamento ou supressão da cultura brasileira, também está presente. Não fosse
tal característica cultivada pela política cultural externa, sua viabilidade prática tornar-se-ia
nula, posto que o país se tornaria mero receptor da produção cultural alheia. A relação com
os Estados Unidos, apesar da assimetria típica do imperialismo, não fugiu à regra; dentro
tange à propaganda cultural do Brasil no exterior a DCI parece não ter tido grande poder
pesquisadores entre o Brasil e outros países, mas quase sempre numa esfera operativa. No
117
MESQUITA, Silvana de Queiroz Nery. Op. cit., p. 86-7.
118
Idem, p. 97.
119
Idem, p. 106.
57
relatório anual de 1944, redigido e enviado ao Secretário Geral, imediato superior na
irradiação da cultura brasileira nos Estados Unidos, o que deveria efetivamente ser feito no
americano de modo geral e, dentro deste, para os Estados Unidos particularmente. Dutra
Itamaraty, que poderiam ser acessórias a uma melhor difusão da cultura brasileira, sugere
ao Secretário Geral que a ausência de adidos culturais é uma lacuna “de nossa propaganda
“Brasil”, feita periodicamente pelo Itamaraty, também é citada como um dos meios pelos
quais se pode divulgar o país no exterior, a partir de suas traduções para diversos idiomas –
inclusive o russo121. Tão logo termina a Segunda Guerra, em agosto de 1945, Osório Dutra
propaganda do Brasil por meio do disco” para o continente americano. A idéia é gerida
pela DCI a partir da contribuição individual dos diplomatas que nela encontravam-se
lotados. Um deles era Vinícius de Moraes, cuja sugestão é a de que os álbuns musicais
abarquem tanto a música erudita como a popular, formando um panorama geral da música
brasileira. Osório Dutra concorda, e o projeto terá prosseguimento no ano de 1946. Nota-
se, portanto, uma preocupação em estabelecer linhas de ação para a propaganda, a partir do
Itamaraty. Tais pressupostos parecem esbarrar, todavia, nos impasses relativos à atribuição
120
Memorandum do Chefe da Divisão de Cooperação Intelectual para o Secretário Geral. “Adidos
Culturais”, 22/03/45. MRE, Informações e Relatórios da DCI, 1945, 135.5.7, AHI, Rio de Janeiro.
121
Idem.
58
da função de difundir a cultura brasileira para o exterior dentro da estrutura estatal, bem
financeiras para o ano de 1946, feita em maio de 1945, os empregos de verba assim se
distribuem:
59
Atividade Verba (CR$)
exterior
brasileiras no exterior
Assunção
Total 4.525.660,00
Janeiro.
60
A partir da tabela acima, podemos visualizar mais claramente as áreas que recebiam
brasileiros no exterior dizem respeito a maior parcela dos gastos. Tal realidade deve-se ao
Brasil, de acordo com tratados bilaterais de cooperação cultural, estão incluídas na rubrica
de tais bolsas, que deveriam ser recíprocas. Esta modalidade de intercâmbio, por vezes, iria
gerar problemas de ordem prática, como a chegada de alunos que não dominavam o
português, num contexto onde não se exigia teste de proficiência no idioma para cursar o
nível superior no país. Além disso, é importante destacar que a situação dos bolsistas do
subvenção anual de US$ 2.000,00, que deve ser empregada no auxílio a estudantes
61
período de reorganização institucional e de atribuições imediatamente posterior ao fim do
Estado Novo.
o Estado Novo levou a disputas pelo comando de sua implementação por diferentes esferas
atividades em julho de 1934, estava ligado ao Ministério da Justiça, fato que faz parte do
Educação e Saúde, então conduzido por Gustavo Capanema, sente-se prejudicado e propõe
que a Difusão Cultural retorne à sua esfera de poder. São muitas as dissensões do gênero
neste período, agravando-se o quadro a partir de 1939, quando o DIP passa a existir e
Saúde.122 Se, na esfera da política interna, os pontos de tensão entre tais Ministérios, no
período 1930-45, eram numerosos e de difícil resolução, a posição do Itamaraty parece ser
ainda mais delicada. Durante o Estado Novo, havia órgãos ligados à Presidência para
fora parcialmente tolhido pelo governo. Menos de um ano após o ocaso do regime, em
122
BOMENY, Helena Maria Bousquet; COSTA, Vanda Maria Ribeiro; SCHWARTZMAN, Simon. Op. cit.,
pp. 105-107.
62
CAPÍTULO II
governos da América Latina, a partir de 1930123. A maioria dos novos governos se instala a
partir de golpes militares e os líderes que deles emergem têm como principal característica
o perfil nacional-populista.
nacionalistas que caracterizarão seu governo: garantia de direitos trabalhistas, com apoio
dos setores populares urbanos que formarão sua base de sustentação, mas com o cuidado
hostilizados. Com o decorrer dos anos, “a política de Vargas cria (...) uma nova base
setores das classes populares das cidades”.124 Neste contexto, Vargas pensa a dependência
123
Cf. HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX, 1914-1991. São Paulo: Companhia das
Letras, 1995, pp. 109-10.
124
CARDOSO, Fernando Henrique e FALETTO, Enzo. Dependência e desenvolvimento na América Latina.
7.Ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1984, pp. 66-7.
63
Como conseqüência natural da falência da atividade econômica baseada
no Brasil entre 1930 e 1964, embora fosse concebido de formas diversas e por setores
primordialmente, para o consumo interno, estará presente nas mais diversas vertentes
Estado ou dispõe de seu assentimento para levar adiante suas ambições, o governo de
125
JAGUARIBE, Hélio apud TOLEDO, Caio Navarro de. ISEB: Fábrica de ideologias. São Paulo: Editora
Ática, 1978. Hélio Jaguaribe cria a expressão “nacionalismo de fins” para definir o nacionalismo como um
artifício para se atingir o objetivo final, que é o desenvolvimento do país. A exposição dessa e de outras
proposições em seu livro O Nacionalismo na Atualidade Brasileira, publicado em 1958, acabou por causar a
saída de Jaguaribe do ISEB.
126
LAFER, Celso. A identidade internacional do Brasil e a política externa brasileira. São Paulo:
Perspectiva, 2004, p. 88.
64
à fuga de capitais das empresas multinacionais, incentivar empresas nacionais e promover
empresariado quanto das classes populares, levando a termo, desta forma, os pressupostos
incremento, e incentivando os setores produtivos que haviam alavancado, a partir dos anos
à manutenção de uma política de massas que seria a base de seu governo democrático até a
determinados setores que adotavam posição nacionalista extremada, embora fossem tão
diversos entre si como as Forças Armadas e o PCB, então vivendo um de seus períodos de
127
WEFFORT, Francisco. O populismo na política brasileira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980, p. 18.
128
SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Getúlio a Castelo. São Paulo: Paz e Terra, 1996, pp. 117-25.
65
petróleo que iria monopolizar a extração do mineral em território brasileiro, e que suscitou
desenvolvimento do Brasil”;129 todo o esforço feito neste sentido, portanto, estava inscrito
interno, ainda que, por vezes, utilizando-se parcialmente de investimentos externos. Ainda
nestes casos, facilmente identificáveis durante o governo JK, a busca do capital estrangeiro
Juscelino Kubitschek toma posse como presidente, em 1956. A chamada “Era JK” durou
breves cinco anos, mas correspondeu positivamente ao seu slogan, “50 anos em 5”: criação
7%130, o país rural cedeu espaço à “nação do futuro”, cujos modernos parques industriais
fabricavam desde botões de camisa até automóveis. Nos esportes, o boxeador Éder Jofre e
129
GONÇALVES, Williams da Silva. O realismo da Fraternidade Brasil-Portugal: do Tratado de Amizade
ao caso Delgado. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2003, p.171.
130
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 12.Ed. São Paulo: Editora da Universidade do São Paulo, 2004, p.
427.
66
revoluções estéticas, que tiveram como porta-voz o movimento musical conhecido como
Bossa Nova.
meio de comunicação de massa no Brasil; a autorização dada por Vargas, em 1932, para
que se pudesse fazer publicidade via rádio-difusão, concorreu para esta ampliação. Em
Fontes, futuro diretor do DIP131. As ondas curtas da Rádio Nacional atingiam grande parte
Orlando Silva, que então se encontrava na fase áurea de sua carreira (1935-42)132. Segundo
Ruy Castro, “Em 1938, podia-se dizer que havia três homens populares no Brasil: o
ditador Getúlio Vargas (et pour cause); o craque do Flamengo Leônidas da Silva, o
seguinte diálogo:
131
“Histórias e Crônicas sobre a Rádio Nacional do Rio”, em homenagem aos 20 anos da Emissora. Escritas
em publicação de 1956 por Moacyr Aréas, Diretor Geral da Rádio Nacional na época. Disponível em:
http://www.radiobras.gov.br/nacionalrj/moacir.html. Acesso em: ago/2006.
132
Em 1942, inicia-se o declínio vocal de Orlando Silva, que não mais voltaria a fazer o mesmo sucesso.
133
CASTRO, Ruy. Caprichos do Destino - Perfil biográfico de Orlando Silva por Ruy Castro. Libreto que
acompanha a coleção “O Cantor das Multidões – Orlando Silva – Gravações Originais – 1935-1942”. RCA-
Victor/BMG-Ariola, 1995.
134
VIEIRA, Jonas. Orlando Silva – O Cantor das Multidões. Rio de Janeiro: FUNARTE/Instituto Nacional
de Música/Divisão de Música Popular, 1985, p. 11.
67
auditório atrairiam a audiência e o entusiasmo das classes populares, ensejando a formação
135
de fãs-clubes e o surgimento da figura das “macacas de auditório”, admiradoras que
compareciam às rádios para verem ao vivo as apresentações dos artistas que admiravam.
Por fim, a presença maciça do rádio como principal difusor de cultura de massa só seria
mesmo período, caracterizada pelas chanchadas, estava calcada na atração do público que
ouvia os programas das rádios populares: a temática dos filmes do estúdio Atlântida, o
simples, voltado ao povo, era a tônica, causou, no decorrer da década de 50, reações por
parte dos intelectuais, que enxergavam nestes produtos culturais uma degradação da arte
dita “séria”. A crítica à arte “comercial”137, que também encontraria espaço no Itamaraty,
como veremos mais adiante, tomava o centro do debate: o popular, o cômico, presente no
teatro de revista e nas chanchadas do cinema, era identificado com o grotesco, o “baixo”. A
indústria cultural, em última instância, era coligada à ascensão desta arte exclusivamente
cultura de massa”. Para o autor, esta “cultura superior” nunca chegou realmente a ter peso
significativo, pois nunca foi suficientemente “sólida”139. Ora, a discussão em torno desta
dicotomia, havida no decorrer dos anos 50 e no início dos 60, nos dá não só a dimensão
135
VELLOSO, Mônica Pimenta. A dupla face de Jano: romantismo e populismo in GOMES, Ângela de
Castro (org.).O Brasil de JK. Rio de Janeiro: FGV, 2002, p. 171.
136
Idem, p. 173.
137
Idem, p. 179.
138
Idem, passim.
139
COELHO, Teixeira. Op. Cit.,p.83.
68
propriamente dita desta “cultura superior”, como também a sua importância para todo o
observação e influência de Getúlio Vargas, que a entendia como fruto de suas formulações
particulares. Assim como as outras searas políticas que desempenhavam papel vital para a
objetivos desta ação. No caso particular do Brasil, as alterações profundas no que diz
respeito à condução do Estado, irão ocasionar uma rearrumação institucional neste aspecto;
a funcionalidade da política cultural externa irá, de certo modo, sofrer alterações, embora
uma parte considerável de seus princípios norteadores permaneça. Tais princípios (defesa
140
VELLOSO, Mônica Pimenta. Op. Cit., p. 183.
141
Cf. DANESE, Sérgio. Diplomacia Presidencial: História e Crítica. Rio de Janeiro: Topbooks, 1999, pp.
285-288.
69
da união latina e da comunidade luso-brasileira142, entre outros) haviam sido formulados
maioria dos acordos culturais assinados pelo Brasil data do período do Estado Novo; sua
manutenção, num segundo momento, dá-se sobre a base das mesmas determinações que os
com o conflito entre o interesse pelas colônias e a manutenção das relações com Portugal,
culturais com a Espanha, então vivendo sob a ditadura franquista, passam por diversos
142
Memorandum de Meira Penna ao Chefe do Departamento Político e Cultural. “Bolsas de Estudos do
Instituto de Cultura Hispânica”, 19/09/1957. MRE, Informações e Relatórios da DCl, 1956-57, 135.5.16,
Arquivo Histórico do Itamaraty, Rio de Janeiro.
143
SUPPO, Hugo Rogélio. Gilberto Freyre e a imagem do Brasil no mundo. Cena Internacional, Ano 5, Nº
2, Dez/2003, pp. 42-43.
144
Memorandum de Meira Penna ao Chefe do Departamento Político e Cultural sobre o pedido de auxílio
financeiro ao governo federal brasileiro do diretor do Colégio Christo-Rei, em Luanda, em 29/10/59. MRE,
Informações e Relatórios da DCl, 1959, 136.1.2, Arquivo Histórico do Itamaraty, Rio de Janeiro.
145
Memorandum de Meira Penna ao Chefe do Departamento Político e Cultural sobre o “Congresso
Interiberoamericano de Educação”, 29/04/1958. MRE, Informações e Relatórios da DCl, 1958, 136.1.1,
Arquivo Histórico do Itamaraty, Rio de Janeiro.
70
política cultural do Brasil. Esta postura da diplomacia cultural brasileira vai ao encontro
daquilo que preconizava Gilberto Freyre: a afirmação do Brasil como país luso-tropical.146
sido criada em 1937, passa a se chamar Divisão Cultural. Esta mudança de nomenclatura
marca o início de um novo período da política cultural externa do Brasil. Chefe da DCI
desde 1944 e, posteriormente, chefe da DCl, o diplomata Osório Dutra lidará com a fase de
transição por que passou a seção, permanecendo no cargo até agosto de 1946.
Nesta nova fase da política cultural externa, haverá um ator supranacional com
fundada em Londres logo após o final da Guerra, ainda em 1945, como a instituição da
política cultural externa, a Unesco estará, paulatinamente, definindo seus objetivos neste
mesmo período. Nos primeiros anos, também enfrentaria problemas de restrição de verbas
146
FREYRE, Gilberto. Aventura e Rotina. Rio de Janeiro: Topbooks Editora, 2001, p. 393.
71
constituir a parte essencial do programa da Unesco no setor de artes
plásticas.
nota-se uma maior liberdade de execução dos planos de difusão cultural por parte do órgão
responsável no Itamaraty, o que contrasta com certo cerceamento e, por que não afirmar,
receio por perseguições ideológicas. Em dado momento do período anterior, Osório Dutra,
deposto Getúlio Vargas, o DIP encerra definitivamente suas atividades, e a política cultural
147
AZEVEDO, Luiz Heitor Corrêa de. Minhas Memórias da Unesco (a música nas relações internacionais)
1947-1965. Curitiba: Imprensa da UFPR, 1967, p. 6 e 15. Conferência pronunciada na biblioteca pública de
Curitiba, a convite da Pró-Música de Curitiba, a 1 de junho de 1965. CCBB, Coleção Mozart de Araújo.
72
externa estará mais detidamente atrelada ao Itamaraty, que divide apenas parte dessas
popular, já havia suscitado nos diplomatas da DCl o desejo de torná-la instrumento das
promovidos pelo Estado Novo, e Carmen Miranda, cantora popular que fez longa carreira
no cinema norte-americano nos tempos da política de good will, deram a dimensão dos
ganhos possíveis a partir desta expressão artística. Em fevereiro de 1946, Osório Dutra fala
liderança ao Sul. Em maio, Dutra solicita verba para a “organização de coleções de discos
desejo de criar uma comissão para relacionar os discos, cujo secretário seria Vinícius de
externa.
148
Memorandum de Osório Dutra sobre dotação orçamentária, 23/05/46. MRE, Documentos Avulsos, 1940-
59, 135.5.6. AHI, Rio de Janeiro.
73
No decorrer deste trabalho observamos como houve, por diferentes motivos,
oscilações na ação cultural do Brasil no exterior. Para que melhor possamos compreender,
adormecida, sem ações que a legitimassem, e as fases em que esteve em franca atividade,
cultural e devem estar em concordância com elas. Por esta razão, a política cultural existe
cultural, por outro lado, preconizará a ação que terá por fim reverter benefícios ao Estado,
pensando no longo prazo. Esta ação dependerá das contingências, das oportunidades e,
A ação cultural caracteriza-se pelas práticas voltadas a levar ao plano factual uma
política cultural previamente elaborada. Segundo Teixeira Coelho, a ação cultural pode
fazer parte de uma das “quatro fases” em que se concebe a divisão do “sistema de
produção cultural”. A primeira dessas fases é a produção, que consiste em criar os meios
para que se possa produzir as “obras de cultura ou arte”; a segunda fase é a distribuição,
“troca”, caracteriza-se pelo acesso “físico” franqueado ao público, através de ações como a
149
Teixeira Coelho não fala de “política cultural externa”; aqui, utilizamos as definições dadas pelo autor de
“política cultural” e “ação cultural”, pois acreditamos que elas nos são operacionais para entender as
diferentes fases pelas quais passou a ação cultural decorrente da política cultural para o plano externo
empreendida pelo Itamaraty.
74
subvenção de ingressos e financiamento dos custos da obra de arte. A quarta e última fase,
A partir desses dados, podemos procurar estabelecer liames entre as fases em que
Coelho divide a ação cultural e o modo como tais ações foram empreendidas, no período
brasileira, feitas a partir de 1946 por pesquisadores e com publicação custeada pela DCl,
folhetos, livros, partituras, discos e rolos de filme pelas repartições consulares, como forma
países, inclusive na então União Soviética, traduzido do português para os idiomas locais,
história. Embora o país em si não seja uma “obra artística ou cultural”, pode-se utilizar tal
definição de modo análogo, já que a ação cultural tem em sua divulgação o principal fim;
150
COELHO, Teixeira. Op. cit., pp. 32-33.
75
para tanto, a fruição da produção cultural que advém do Brasil deve ser feita de maneira
esclarecida e a partir de elementos que consigam transmitir sua melhor imagem possível.
sentido de dar apoio material e de divulgação, bem como criar os meios para que se
difunda a cultura brasileira no exterior. Essa difusão, no entanto, pode contar não só com
as atividades de caráter cultural planejadas pelo ministério, como também por eventos
externos à sua alçada, mas que se coadunem com os objetivos desta política cultural.
Ao organizar a abordagem da DCl no período, optamos por fazê-la a partir das suas
diferentes gestões. Embora parte considerável das ações tivesse continuidade mesmo após
se encerrarem tais gestões, o perfil dos diplomatas que estariam à frente da DCl teria
redefinidas.
tarefa, mas o pedido não é atendido. Na busca por outras formas de empreender a ação
Moura, onde expõe suas idéias sobre a condução da “propaganda da música brasileira no
76
intitulado “Pan-americanismo musical”, censura o “comercialismo” da música, tal como os
enquanto as “nossas platéias ainda (...) vivem sob a fascinação do europeu.” Prossegue
dizendo que é “da opinião, salvo melhor juízo, que o Itamaraty poderia colher louros como
“associações musicais brasileiras e aos solistas de maior vulto” para incluir peças de
como um deles, faz-se notar a partir da preocupação não só de desenvolver uma maior
difusão da música brasileira no exterior, como também de promover a circulação dos temas
musicais de outros países americanos dentro do Brasil, como forma de suscitar o interesse
de uma população cujos ouvidos ainda se agradam mais da música européia. Além disso,
plano de uma política cultural que é parte harmônica da política externa como um todo. O
151
Memorandum de Vasco Mariz sobre o “Pan-americanismo musical”, 10/09/46. MRE, Informações e
Relatórios da DCl, 1946, 135.5.8, AHI, Rio de Janeiro.
77
O Brasil, pela sua atual posição no continente americano, vem
assumindo, como é natural, maior responsabilidade no campo da
difusão de sua cultura.152
uma biografia do compositor, assim como monografias sobre música brasileira, passam a
fazer parte dos planos de publicação da DCl para o exercício seguinte. No Congresso das
SBAT. Neste e em outros eventos do gênero, a presença do IBECC será notada. O órgão,
empreendidas pelo Itamaraty. Uma delas, considerada de suma importância por grande
havia muitos anos, e nunca seria interrompida, embora tenha sofrido eventuais cortes e
reduções, de acordo com a verba anual recebida pela DCl e a redistribuição de tais valores,
de acordo com as novas modalidades de ação que viriam a ser empreendidas. Exposições
de artistas plásticos brasileiros no exterior, bem como mostras de arquitetura, também não
78
como objeto de difusão da cultura brasileira, bem como o planejamento estratégico que
primeiro processo de concepção e ação cultural que pode ser inteiramente identificado no
período 1945-64. A continuidade e relevância das outras ações, no entanto, não deve ser
desmerecida.
O ano de 1947 parece ser conturbado para a DCl. Além de Altamir de Moura, que
permanece no comando até abril de 1947, quando é removido para Argel, passam pela
grande parte das atividades relativas à música, que se tornou, neste momento, a expressão
volume que versaria sobre a vertente popular, previsto nos planos da DCl, todavia, padeceu
continuam a ser distribuídos, e a Academia Brasileira de Música faz voto de louvor aos
dezembro, dando continuidade à mesma linha de ação até a nomeação de Roberto Mendes
Gonçalves.
154
“Biografia de Francisco Mignone”, 07/10/47, 135.5.9, e “Cultura Musical Brasileira”, 01/06/48, 135.5.10.
MRE, Informações e Relatórios da DC, AHI, Rio de Janeiro.
155
Memorandum ao Chefe do Departamento Político e Cultural, 22/07/46. MRE, Informações e Relatórios
da DCl, 135.5.9, AHI, Rio de Janeiro.
79
A chegada de Roberto Mendes à chefia da DCl, em junho de 1949, trará grandes
mudanças nas ações culturais. Adotando posturas inflexíveis sobre determinados pontos
outrora defendidos pelos dirigentes, critica meios de ação e promove mudanças que, em
Estados Unidos, dentro de uma perspectiva onde a histórica amizade entre os dois países
dá inúmeras sugestões para o incremento da difusão cultural nos Estados Unidos, inclusive
idéia, objetando que “não é por falta de gente que deixamos de difundir nossa cultura nos
exterior em virtude dos parcos recursos a eles direcionados pela DCl, por exemplo, eram
156
Memorandum de Aluízio Napoleão Freitas Rego ao chefe da DCl. “Ampliação do Serviço Cultural da
Embaixada do Brasil em Washington”, 21/10/46. MRE, Informações e Relatórios da DCl, 135.5.11, AHI,
Rio de Janeiro.
80
Coimbra, e o Instituto Brasil-Estados Unidos. Tais institutos, sem gozar de vinculação
institucional ao Itamaraty, haviam sido criados por iniciativa das próprias universidades, de
de Lima e Silva Moniz de Aragão, tendo sido dirigido por Sir Thomas Cook, membro da
Casa dos Comuns britânica. Em 1945, contava com 588 sócios, promovendo eventos de
desses institutos solicitavam subvenção à DCl, que era concedida de acordo com a
disponibilidade de verbas do orçamento anual. O caráter misto dos institutos, que tanto
verba da DCl enviada aos Institutos de Estudos Brasileiros e similares no exterior. Tal fato
verba era cedida, mas como as relações entre os institutos privados e o Itamaraty não eram
caráter privado, para que possam servir de suporte adicional à diplomacia cultural158,
devem estar em harmonia com seus preceitos, sem que conflitos de interesse ou falta de
157
“Institutos Culturais”, 22/01/45. MRE, maços temáticos, 135.5.7, AHI, Rio de Janeiro.
158
MITCHELL, J. M., Op.cit., pp. 5-17.
81
Durante a gestão de Roberto Mendes é criado, pelo diplomata Arnaldo Leão
rapidamente posto em ação e levado adiante após sua saída da chefia. Todavia, a tentativa
Roberto Mendes à frente da DCl. Uma das duras críticas é feita diretamente à aquisição e
esta iniciativa da gestão anterior, Mendes diz que o depósito foi “entulhado”160 de discos
Quanto às publicações, Mendes afirma que a DCl deve restringir seu investimento somente
bojo desta diretriz, a aquisição do livro “Flagrantes do Brasil”, composto por fotos do povo
Roberto Mendes, o livro mostra um país “primitivo”, diferente do Brasil “moderno” que é
preferível divulgar.161 O juízo de valor, bem como a preferência por padrões estéticos
previamente estabelecidos, fica patente. A influência das concepções pessoais dos chefes,
como já havíamos afirmado, irá ter considerável peso na condução da política cultural,
nacional, serão partes indissociáveis dos motivos que condicionam sua ação à frente da
159
Memorandum de Arnaldo Leão Marques ao Chefe da DCl. “Plano de divulgação cultural do Brasil no
exterior por meio do cinema”, 18/10/49. MRE, Informações e Relatórios da DCl, 1946, 135.5.8, AHI, Rio de
Janeiro.
160
Memorandum de Roberto Mendes ao Chefe do Departamento Político e Cultural, 13/08/49. MRE,
Informações e Relatórios da DCl, 135.5.12, AHI, Rio de Janeiro.
161
Idem, “Aquisição do livro ‘Flagrantes do Brasil’”, 14/03/50. MRE, Informações e Relatórios da DCl,
135.5.12, AHI, Rio de Janeiro.
82
DCl. Não há, pois, como entender a cultura, uma das dimensões das Relações
Mário Guimarães, em abril de 1950. Sua chegada à DCl traz um nível de sistematização do
trabalho como ainda não se vira antes. A primeira providência que toma, investido do
de uma análise cuidadosa”, onde faz proposições que podem ser reunidas de modo a
exterior. Encarrego desse serviço o Cônsul Venício da Veiga, para o que fica a partir desta
164
data desligado da DCl.” É notória, pois, a responsabilidade de Guimarães para com a
atividades da DCl, o diplomata faz uma prospecção das ações, o que seria de sumo valor
assumir postos no exterior.165 Uma vez designados, recebiam um relatório do estado das
relações culturais do Brasil com o país em questão, além dos pontos que deveriam ser
realçados, dos acordos ou convênios de caráter cultural bilaterais existentes, e das ressalvas
162
RENOUVIN, Pierre & DUROSELLE, Jean-Pierre. Op.cit., loc. Cit.
163
Memorandum de Mário Guimarães ao Chefe do Departamento Político e Cultural. “Meios de ação
cultural empregados. Conveniência de uma análise cuidadosa”, 11/04/50. MRE, Informações e Relatórios da
DCl, 135.5.12, AHI, Rio de Janeiro.
164
Idem, despacho dado em 19/04/50 no próprio corpo do memorando.
165
Memorandum de Mário Guimarães ao Ministro Ferreira Braga sobre a representação na Suécia, 13/06/50.
MRE, Informações e Relatórios da DCl, 135.5.12, AHI, Rio de Janeiro.
83
e cuidados que deveriam ser tomados em relação às suscetibilidades culturais do país onde
Braga, que assumirá a representação diplomática na Suécia. Tal serviço era uma atribuição
evidente da DCl, mas que ainda assim tardou a ser efetivamente realizado.166
dessas atividades, o que cria problemas como falta de divulgação e encerramento de turmas
por não haver número suficiente de alunos. No que se refere aos estudantes estrangeiros
configurava com a chegada ao Brasil de bolsistas que não dominavam o português e que
latino-americanos, cuja subvenção é paga pelo Brasil, que, no entanto, não tem poder para
assinados: como é feito investimento de verba pública, há que se ter alunos que possam
origem. Por fim, a subvenção complementar às bolsas de estudo acaba por ser suprimida,
no caso dos estudantes, sendo reservada para “professores, técnicos e profissionais de toda
166
Idem.
167
Idem, “X Conferência Iberoamericana”, 12/02/52. MRE, Informações e Relatórios da DCl, 135.5.13, AHI,
Rio de Janeiro.
84
ordem que vieram fazer um estágio de alguns meses no Brasil e que não poderiam
particularidades brasileiras por parte dos estudantes estrangeiros será estimulado, a partir
de 1952, com a criação do “Prêmio Brasil”. Dirigido a alunos que tivessem concluído, em
iniciativa acabou tornando possível sua extensão também aos países europeus.169
Além disso, promoveu o melhor aparelhamento desses locais para a projeção de filmes,
exposições e atividades culturais em geral. A questão da remessa dos discos que estavam
no depósito para o exterior foi resolvida com a encomenda de caixas de madeira que os
Planeja-se chegar aos 200.000 exemplares, com formato menor e texto em vários
idiomas.170
execução, no exterior, das ações de política cultural, Mário Guimarães redige “O Projeto
ao se conjugar a ação cultural com o suporte estratégico dado pela difusão via meios de
168
Relatório Anual do Ministério das Relações Exteriores – 1952. Ministério das Relações Exteriores, Rio de
Janeiro, 1953, p. 95.
169
Idem, p. 96.
170
Idem, p. 92.
85
comunicação. Na sua visão, “(...) Quanto à ação cultural propriamente dita, creio que
poucos serviços diplomáticos no mundo se acham tão capacitados para exercê-la como o
nosso” 171. Fiando-se na competência do quadro do Itamaraty, sugere, ainda, que jovens
diplomatas assumam a adidância. Em fins de 1952, pouco antes do fim de sua gestão à
frente da DCl, explana sobre a criação das “Cadeiras de Estudos Brasileiros”172, traçando
um histórico que as põe como parte de uma linha evolutiva da difusão cultural que se inicia
com a sua chegada à direção. Aventa, por fim, a possibilidade dos catedráticos se tornarem
adidos culturais. Mais uma vez, um projeto de criação de adidos seria indeferido, adiando o
que parecia constituir, tal como concebido naquele momento, um eficiente plano de
patentes os novos caminhos abertos para as ações de política cultural externa brasileira, a
existentes:
171
Memorandum de Mário Guimarães ao Chefe do Departamento Político e Cultural. “O Projeto de Criação
dos Cargos de Adido Cultural e de Imprensa”, 14/05/51. MRE, Informações e Relatórios da DCl, 135.5.12,
AHI, Rio de Janeiro .
172
Idem, 22/10/52.
86
atribuição às exigências criadas pelo desenvolvimento do país e às
condições mundiais que os tempos sugeriam. Pois que a
responsabilidade não descansa comodamente no que foi feito mas,
sobretudo, no que cabe realizar.173
México e Argentina.174 Ao analisar o que dizem as autoras, Edgard Telles Ribeiro ressalta
que
173
Relatório Anual do Ministério das Relações Exteriores – 1952. Ministério das Relações Exteriores, Rio de
Janeiro, 1953, p. 90.
174
Mc Murry e Lee apud RIBEIRO, Edgard Telles. Op. cit., pp. 69-70.
175
Id. Ibid., p. 70-1.
87
Ora, embora a evolução das ações culturais atreladas à política cultural externa
brasileira seja modesta, se comparada aos outros setores através dos quais o Brasil realiza
sua inserção no plano internacional, a materialidade dessas relações, bem como a constante
Deputados autorizara um considerável aumento de sua verba anual, a DCl inicia o ano de
1953 com oito exposições de Arquitetura sendo preparadas para incursões na Europa.176 O
novo chefe, James Sloan Chermont, assume em janeiro, em meio a um intenso movimento
festivais internacionais, neste momento, era total; a responsabilidade pela escolha e envio
dos filmes ao exterior recaía, primeiramente, sobre o corpo diplomático. Assim sendo,
gerência sobre o processo de seleção, ainda que a tenha delegado, Chermont solicita se
sairia premiado do Festival de Cannes, passa pelo crivo da Comissão antes de ser inscrito,
tendo sido feita, entretanto, a ressalva de que a situação do cangaço e sua extinção
deveriam ser destacados em legenda no início da fita.177 Nota-se, mais uma vez, a
176
Memorandum sobre a preparação das exposições, 09/01/53. MRE, Informações e Relatórios da DCl,
135.5.14, AHI, Rio de Janeiro.
177
“IV Festival Internacional do Filme, em Cannes. Participação do Brasil”, 06/02/53. MRE, Informações e
Relatórios da DCl, 135.5.14, AHI, Rio de Janeiro.
88
preocupação com a imagem do Brasil a ser difundida; destacar o cangaço como elemento
do passado era, neste momento, afirmar que passos haviam sido dados rumo ao
desenvolvimento, numa nova realidade onde não caberiam tais elementos sociais. Esta
postura era artifício da diplomacia cultural brasileira, cujo histórico, que remonta aos
melhor imagem do país. A palavra “modernidade”, empregada para definir o Brasil como
cônsules e chefes da DCl, que enfatizam a importância, para o país, de que tais
resultados no plano factual não tenham sido de todo satisfatórios. O objetivo de seguir as
diretrizes da política cultural externa está sempre presente nas administrações, mas a
maneira como tal intento será levado à prática dependerá de fatores subjetivos, como as
da política cultural externa, o que não configurará sua inexistência, mas antes a tentativa,
Alberto Cavalcanti como representante brasileiro, mas propõe arcar parcialmente com as
despesas da viagem; somente as passagens aéreas poderão ser custeadas pela DCl.179 Como
Cavalcanti não dispõe de meios para pagar os custos da estada, são indicados para
178
“Flagrantes do Brasil”, 14/03/50. MRE, Informações e Relatórios da DCl, 135.5.12, AHI, Rio de Janeiro .
179
“Festival de Cannes”, 20/02/54. MRE, Informações e Relatórios da DCl, 135.5.17, AHI, Rio de Janeiro .
89
representar o Brasil Roberto Assunção e Vinícius de Moraes.180 A partir da indicação de
Chermont à frente da DCl. Além da participação em tais festivais, outras frentes possíveis
cultural no período. Importante ressaltar que os filmes eram adquiridos de acordo com
difusão, tendo em mente, entre outros aspectos, o interesse dos países de língua espanhola
indicação do país para membro da Comissão de Ação Cultural da Organização dos Estados
Americanos. Por outro lado, alguns dos Institutos de Cultura passam por dificuldades. A
impasse administrativo.182
entrave à resolução do caso é o regime franquista e sua própria política cultural. O conflito
180
Idem.
181
“Fornecimento de filmes para a DCl”, 11/02/54. MRE, Informações e Relatórios da DCl, 135.5.17, AHI,
Rio de Janeiro .
182
“Atividades do Instituto Argentino-Brasileiro de Cultura”, 06/04/54. MRE, Informações e Relatórios da
DCl, 135.5.17, AHI, Rio de Janeiro .
90
do governo espanhol entram em conflito com os princípios da política cultural do
A tendência de dar ao cinema uma parcela de participação ativa nas ações culturais
externas, tornando-se ele uma das principais frentes de ação do Itamaraty, perdurará
potencial comercial, e sua difusão no cenário internacional por via oficial irá se tornar uma
realidade.
cooperação intelectual vinha sendo conduzida. Um dos pontos preocupantes era o Prêmio
Brasil. Em julho, João Frank da Costa faz relatório sobre o prêmio, onde expõe que os
estudantes premiados com a viagem ao Brasil viam a oportunidade mais como uma forma
destaca a indelicadeza com que alguns desses alunos estrangeiros se referiam ao povo e aos
hábitos brasileiros, fazendo críticas incisivas ao país. Conclui que “pessoas mais maduras”
exterior, quando de seu retorno ao país de origem184. O prêmio, que tivera sucesso a
princípio, finda por padecer do mesmo mal que acometia outras modalidades de
183
Tema de uma coletânea de documentos elaborados entre maio e outubro de 1956. MRE, Documentos
avulsos, 135.5.6, AHI, Rio de Janeiro.
184
Memorandum de João Frank Da Costa ao Chefe da DCl. “Prêmio Brasil”, 14/07/54. MRE, Informações e
Relatórios da DCl, 135.5.17, AHI, Rio de Janeiro.
91
intercâmbio cultural: os agraciados não pareciam dispostos, ou capazes, de dar o retorno
ações culturais que não fossem produzir resultados positivos fazia parte das inquietações
ensejava a produção de relatórios que, de modo geral, eram essenciais para a melhor
desta política.
tornavam-se cada vez mais rotineiras; o esmero em esboçar detalhes das relações culturais
forjar os meios para que sejam redigidos e assinados convênios culturais, bem como que se
considerável dos casos, consegue-se levar a cabo essas ações, com boa aceitação por parte
Paraguai – Brasil, em Assunção, conforme acordo assinado entre os dois países em 1953.
redução de verba em 42% para o exercício seguinte impinge uma postura austera em
185
“Relatório Anual”, 30/12/55. MRE, Informações e Relatórios da DCl, 135.5.17, AHI, Rio de Janeiro.
92
suspende-se uma das principais ações culturais do Itamaraty desde o período da DCI, e até
dólares, dado a estudantes brasileiros no exterior, também representa um alto custo anual, e
a sua concessão será revista. Outro percalço é a participação no Festival de Cannes daquele
ano: Vinícius de Moraes é indicado para delegado brasileiro, mas dá-se despacho onde
consta que o Ministro de Estado das Relações Exteriores “não deseja mandar
representante”186. Em fevereiro de 1955 esgota-se a verba, mas ainda assim Vinícius vai a
Cannes, já que o festival exige delegado creditado por via diplomática, e sua ausência
priorizar a difusão da cultura brasileira no continente americano, sem olvidar os laços que
ligam o Brasil a Portugal, incluindo, também, Itália e Espanha, países cujas relações
186
Memorandum de Theodemiro Tostes ao Chefe do Departamento Político e Cultural sobre a participação
brasileira no Festival de Cannes, 01/02/55. MRE, Informações e Relatórios da DCl, 135.5.17, AHI, Rio de
Janeiro.
93
Em abril, a chefe substituta Margarida Guedes Nogueira redige uma “Proposta de
argentina, que conta, a seu favor, com a língua comum a outros países da região. Em 1956,
quando tem início o processo de redação do acordo cultural entre Brasil e Espanha, inicia-
se um amplo debate sobre as relações culturais entre os dois países, fato que em certa
Senado Federal, a cláusula que abre precedente para que tais falseamentos sejam feitos
“não nos recomenda”, posto que “não é possível pensar nela entre um país democrático
187
Memorandum Guedes Nogueira, Chefe Substituto da DCl, ao Chefe do Departamento Político e Cultural.
“Relações Culturais Brasil-Bolívia. Proposta de Reabertura do Instituto Cultural Boliviano-Brasileiro”,
15/04/56. MRE, Documentos avulsos, 135.5.6, AHI, Rio de Janeiro.
94
como o Brasil, e outro totalitário”.188 Nas relações com a Espanha, lidar com as
com a suspensão de diversas atividades, mas não foi suficiente para interromper em caráter
irreversível esta ação. Embora padecendo de escassez de recursos, a DCl não abandonou
por completo as tarefas de difusão, evitando, com este movimento, o adormecimento total
estiveram à frente da DCl, o mês de setembro de 1956 marca o início da gestão de José
ações que findou por definir as feições que ela teria a partir de então.
A organização das atividades da DCl, com uma definição clara de prioridades, fica
que as havia caracterizado até então e incluindo, também, textos em língua estrangeira
188
Tema de uma coletânea de documentos elaborados entre maio e outubro de 1956. MRE, Documentos
avulsos, 135.5.6, AHI, Rio de Janeiro.
95
sobre o Brasil.189 Há preocupação semelhante quanto às coleções de fotos, filmotecas e
de Estudos Brasileiros), através do MEC, solicita que o Itamaraty designe três funcionários
para freqüentarem como estagiários seus cursos. Meira Penna é de opinião que devem ser
Margarida Guedes Nogueira, outrora chefe da DCl, concorda, mas o Secretário Geral
decide que, devido à carência de funcionários e ao fato de serem enviados, por ano, quatro
diplomatas para os mesmos fins à Escola Superior de Guerra (ESG), só em 1958 será
Penna, ao sinalizar que novos diplomatas, recém-egressos do Instituto Rio Branco, seriam
novos quadros, bem como com o andamento do trabalho, que poderiam ser prejudicados
Sob solicitação de Meira Penna, é feita uma listagem de acordos culturais que
incluíssem cláusulas relativas a bolsas de estudos. Importante ressaltar que a maioria dos
bolsas. Ocorre que o alto custo de vida em determinados países constrange o Itamaraty,
189
Relatório Anual do Ministério das Relações Exteriores – 1956. Ministério das Relações Exteriores, Rio de
Janeiro, 1957, p. 68.
190
Memorandum de Oswaldo de Meira Penna sobre solicitação de diplomatas pelo ISEB, 16/01/1957. MRE,
Informações e Relatórios da DCl, 135.5.16, AHI, Rio de Janeiro.
191
“Acordos Cultrurais/Bolsas de Estudo”, SET/57. MRE, Informações e Relatórios da DCl, 135.5.16, AHI,
Rio de Janeiro.
96
cumprimento justo dos compromissos assumidos pelo Brasil em acordos culturais. Lidar
estudantes brasileiros no exterior, causando sérios problemas financeiros para aqueles que
passa a conceder auxílios mensais no valor de US$ 50,00 a esses estudantes, sem que haja,
grave quando o país que por ventura se beneficie das expensas brasileiras ponha em prática
192
Relatório Anual do Ministério das Relações Exteriores – 1961. Ministério das Relações Exteriores, Rio de
Janeiro, 1962.
193
Relatório “Acordos Culturais / bolsas de Estudos”, Setembro de 1957. MRE, Informações e Relatórios da
DCl, 135.5.16, AHI, Rio de Janeiro.
194
Relatório Anual do Ministério das Relações Exteriores – 1956. Ministério das Relações Exteriores, Rio de
Janeiro, 1957, p. 71.
97
uma política cultural externa que contrarie e, de alguma forma, prejudique, a posição
brasileira neste tocante. Em relatório relativo ao tema, mais especificamente aos alunos
ocorridos nos anos precedentes, para as relações bilaterais com aquele país. Em 16 de
Portugal e Brasil. Em 1957, o então presidente de Portugal, General Craveiro Lopes, vem
ao Brasil em visita oficial, e assina, juntamente com Juscelino Kubitschek, uma Declaração
Conjunta que cria a Comissão Mista Brasil-Portugal, que tem por objetivo coordenar as
98
Na tentativa de conciliar os interesses de ambas as partes, Meira Penna discute o
tema com o embaixador espanhol no Rio de Janeiro. Os resultados, porém, são pífios. A
hegemonia cultural hispânica na América Latina.197 Como, por parte do Brasil, opor-se
discordância essencial entre os dois países, cuja solução então parece distante de ser
encontrada.
Outra questão delicada, neste caso do ponto de vista interno, é a relação da DCl
com o IBECC. Desempenhando, desde o final dos anos 40, o papel de Comissão Nacional
que se encontrava instalado nas dependências do Itamaraty, não guardava com ele relação
do IBECC com o Itamaraty, especificamente com a DCl, que é, a princípio, a estância que
cuida de temas correlatos no âmbito das relações exteriores. Em 1958, após comparecer a
Penna, que exercia, ex-officio, a função de Secretário Geral do IBECC, comenta sobre o
197
Memorandum de Meira Penna ao Chefe do Departamento Político e Cultural sobre o “Congresso
Interiberoamericano de Educação”, op. cit., loc. Cit.
99
Assumpção, Secretário Executivo do IBECC. A relação entre uma instituição que
acesso da população local às atividades e bens culturais, assim como auxiliar na difusão da
tornar essas relações instrumentos de uma política externa com objetivos e princípios
previamente definidos. Há, em certo grau, uma divergência de finalidade, que aliada a
outros fatores, como as concepções pessoais de cultura dos respectivos chefes, causa
diversas expressões artísticas, também sofreu especial aumento durante a gestão de Meira
198
Relatório Anual do Ministério das Relações Exteriores – 1959. Ministério das Relações Exteriores, Rio de
Janeiro, 1960, p. 41-2.
199
Idem.
100
atraente de uma nova capital de linhas modernas, que trazia em seu âmago exatamente o
de Seleção de Filmes Brasileiros Para Festivais”, Meira Penna critica de forma veemente a
película ‘Rio, 40º’, que constitui uma péssima imagem de nosso país”.200 O filme, que traz
à tela a realidade das populações de baixa renda dos subúrbios cariocas, é um dos clássicos
do Cinema Novo; sua temática, entretanto, não traz a mais positiva imagem do Brasil.
Além disso, as concepções estéticas pessoais do chefe da DCl, José Osvaldo de Meira
Penna, tem peso considerável no processo decisório das ações culturais, na dimensão
indicada por Renouvin e Duroselle.201 No mês seguinte, é finalmente criada uma comissão
formada por Meira Penna, como Chefe da DCl, pelo Diretor do Instituto Nacional do
Cinematográfica.202
Nos últimos meses de 1959 dá-se início a concepção de uma reforma orgânica do
opinião dos chefes de divisão. Neste contexto, Meira Penna, então encerrando sua gestão à
onde faz observações a respeito do espaço que a cultura deveria ocupar nas atividades do
200
Memorandum de Meira Penna ao Chefe do Departamento Político e Cultural sobre a participação do
Brasil no Festival de Cinema de Karlovy-Vary, na Tchecoslováquia, 13/04/1959. MRE, Informações e
Relatórios da DCl, 136.1.2, AHI, Rio de Janeiro.
201
Compreender a relação das concepções pessoais do homem de Estado com as diretrizes que implementa,
quando investido de poder, é fundamental para a compreensão da História das Relações Internacionais. Cf.
RENOUVIN, Pierre & DUROSELLE, Jean-Baptiste. Op. cit., loc. Cit.
202
Relatório Anual do Ministério das Relações Exteriores – 1959. Ministério das Relações Exteriores, Rio de
Janeiro, 1960, p. 40.
101
Itamaraty, em decorrência das reformas que se aproximavam. Como forma de exemplificar
possíveis formas de ação cultural, discorre sobre como é tratada a cultura por outras
janeiro de 1962, mas a organização empreendida por Meira Penna trouxe à DCl um nível
Criado no governo Café Filho, em 1955, e aglutinando intelectuais como Hélio Jaguaribe,
Nelson Werneck Sodré e Roland Corbisier, o ISEB tornou-se uma referência na pesquisa
203
SKIDMORE, Thomas. op.cit., p. 211.
204
JAGUARIBE, Hélio. Condições institucionais do desenvolvimento brasileiro. Rio de Janeiro, ISEB/MEC,
1958, p. 30.
205
MOTA, Carlos Guilherme. Ideologia da cultura brasileira 1933-74. São Paulo: Editora Ática, 1977, pp.
156-7.
102
Isso posto, podemos depreender que, durante a década de 50, principalmente no
brasileira. Alguns anos depois, a produção cultural tornar-se-á o sucedâneo natural deste
momento: música, teatro e cinema, entre outras expressões artísticas, irão, de modo
durante seu governo procurou unir ao Estado o capital privado nacional e estrangeiro,
Novo, e finda em 1964, com a deposição de João Goulart, foram intensas, também, as
modo claro, o panorama nacionalista que ora caracterizava o pensamento político do país.
habitualmente intensa, o recorte de tempo que aqui abordamos tende a ser avaliado de
modo especial neste aspecto, em função da profundidade com que as questões políticas
206
FAUSTO, Boris. Op. cit., loc. Cit.
207
ORTIZ, Renato. op. cit., p. 47.
103
pautaram a produção cultural tanto nos anos que precederam 1964 quanto no pós-Golpe.208
brasileira. Uma característica intrínseca do pensamento isebiano sobre cultura é sua feição
perspectiva, isto é, dá-se menos ênfase ao estudo histórico, e maior destaque a uma
social e econômica.210
Quem se dedicou mais detidamente às questões culturais, nos quadros do ISEB, foi
acerca do tema: o povo brasileiro, por ser colonial, tem uma cultura necessariamente
dependente; num contexto global onde a alienação é a tônica, esta cultura estará fadada à
brasileiras tenderá a tomar espaço cada vez maior, tornando patente a influência isebiana
208
BUARQUE DE HOLLANDA, Heloisa. Impressões de viagem: CPC, vanguarda e desbunde - 1960/1970.
SãoPaulo: Brasiliense, 1981, p. 17.
209
Id. Ibid, p. 15.
210
Cf. MOTA, Carlos Guilherme, op.cit, p. 46.
211
As formulações de Roland Corbisier acerca da cultura brasileira são citadas por diversos autores. Aqui,
utilizou-se o que foi referido por MOTA, Carlos Guilherme, op.cit, p. 165; e ORTIZ, Renato, op.cit, pp. 47-
50.
104
nacional”212, conforme concebidos no ISEB, irão ser transportados, pelos realizadores e
críticos do Cinema Novo e dos grupos teatrais emergentes, para a discussão interna a cada
Bossa Nova, em 1958, e a sua popularização nos anos subseqüentes, levarão o novo gênero
influência do jazz e da música popular daquele país. O novo gênero musical representaria a
admiração que a classe média urbana brasileira nutria pelo american way of life; Tinhorão
letras da Bossa Nova, que até os primeiros anos da década de 60 estarão sempre baseadas
jovens artistas de então, não será vista por Tinhorão de forma positiva:
212
MOTA, Carlos Guilherme. Op.cit, p. 48.
105
romantismo reinvidicatório das famosas letras de ‘conteúdo
social’.
desde os anos 40, fator que limitava a produção nacional. O crescimento do cinema
brasileiro frente à produção importada dos EUA estaria inscrito, portanto, no próprio
como também a forma, que deveria transcender os limites e padrões estabelecidos pelo
213
Depoimento do cineasta Cacá Diegues a Jalusa Barcellos in BARCELLOS, Jalusa. CPC da UNE: Uma
História de Paixão e Consciência. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994, p. 42.
106
Sobre a base filosófica construída no ISEB, o CPC da UNE (Centro Popular de
Cultura da União Nacional dos Estudantes), irá pautar todas as prerrogativas para o
através da música, teatro, cinema, poesia e artes plásticas, tinham objetivos similares, no
que concernia à instrumentalização da arte para objetivos políticos. Ênio Silveira destaca
que o CPC
Se, por um lado, o CPC via na cultura popular um veículo para a conscientização
política e a subseqüente ação, admitia que esta mesma cultura já teria sido parcialmente
torno do que seria uma “cultura popular”, e do que poderia, de fato, ser produzido pelo
CPC, esteve presente desde a fundação do Centro. Na primeira reunião realizada para a sua
formação, a idéia era que ele se chamasse Centro de Cultura Popular, mas logo de início
houve objeções:
107
povo, pretendo fazer aquilo que eu faço. Posso ser alienado, mas
não há como fugir: eu sou um artista de classe média. Faço Bossa
Nova, faço teatro. Mas, da mesma forma que não acho que o teatro
que a gente faz seja um teatro do povo, a minha música, por mais
que eu pretenda que ela seja politizada, nunca será uma música do
povo. Tudo pode ser feito com essa intenção de chegar ao povo, um
teatro para o povo, uma música que busque a participação, a
integração popular. Mas, classificá-los como arte popular, aí já é
outra história.216
Assim como Lyra, a maior parte dos integrantes do CPC – Ferreira Gullar,
Oduvaldo Vianna Filho, Chico de Assis, entre outros – também provinham da classe
média, e dela traziam uma formação cultural específica. Adotou-se, pois, a idéia de suscitar
mesma postura educativa adotada pelo CPC pode ser encontrada no ISEB e em outros
movimentos onde houve a influência determinante do PCB, tais como o MEB (Movimento
Com o CPC, fez-se mais uma ponte de ligação entre arte e cultura de classes
mesmo nacionalista”218, ela não poderia ser descartada para os fins a que o CPC se
destinava. Com o interesse original de atingir as ditas “massas” de modo efetivo, elevou-se
experiência memorável: no Cinema Novo, a temática social irá ser transposta para as telas
216
Trecho de entrevista de Carlos Lyra. Id. Ibid., p. 97.
217
GAMA, Fábio de Castro da. O Nacional Repartido. Belém, 1997. Disponível em
<http://www.geocities.com/CollegePark/Field/2776/artig1.htm>. Acesso em: Jan. 2005.
218
GULLAR apud ORTIZ, op.cit., loc. cit.
108
em filmes como “Cinco Vezes Favela”; no teatro, esses mesmos temas serão abordados na
encenação de peças como “Eles não usam Black-tie”; na música, grande parte dos
compositores e cantores egressos da Bossa Nova irão se aproximar dos músicos populares
pelo CPC transcendeu os limites de quem dele participava, atingindo tanto a produção
artística dos novos nomes que surgiram no pós-Golpe, como daqueles tidos como
“alienados”, por não tomarem parte de discussões políticas. É o caso dos irmãos Marcos e
revolução no campo. Curiosamente, a “cultura popular”, pensada no CPC como algo a ser
produzido pelos intelectuais e levado ao povo, numa dinâmica onde o intelectual passa a
ser parte do povo ao conscientizá-lo politicamente através da cultura, ganha uma outra
dimensão. Num contexto onde a temática social, em suas diversas facetas – a reforma
moradores das favelas ou dos subúrbios do Rio de Janeiro – toma um espaço cada vez
maior na produção cultural, tal temática finda por evadir-se do meio CPCista. Sem os
mesmos objetivos de conscientização popular, mas amparada pelas platéias, ela se torna
mais um tema a ser explorado, principalmente pela canção popular. Ao contrário dos
pressupostos do CPC, a cultura dedicada à politização das massas acabou por conquistar o
público jovem de classe média, através do rádio e da TV, sendo inseridos no contexto da
indústria cultural. Todavia, tal fato não torna menos importante a contribuição que essa
109
Em dezembro de 1964, quando o CPC havia sido extinto pelo novo regime, o
“Show Opinião”, primeiro espetáculo montado pelo Grupo Opinião, que era formado
basicamente por artistas que outrora haviam feito parte do CPC, aparecerá como seu
Kéti e a bossa-novista Nara Leão, perante uma platéia composta basicamente por
superar a dependência também será uma realidade. É possível identificar, nos principais
raízes da cultura popular, através do diálogo dos intelectuais de classe média com os
artistas de camadas sociais menos favorecidas. Por outro lado, a penetração maciça da
resultados; a própria modernização do país, aliada a este fator, irá gerar uma cultura urbana
entre as influências exógenas e a busca dos temas nacionais não-alienados nas artes
219
BUARQUE DE HOLLANDA, Heloisa. op.cit, p. 33.
110
A ação da política cultural externa, que sofrera uma ruptura, no campo da difusão
artística, com a excursão dos Oito Batutas, vai encontrar na Bossa Nova e no Cinema Novo
sobre a identidade cultural brasileira a seu tempo. Nestes dois momentos históricos, a
num momento em que ainda não haviam conquistado unanimidade no plano interno,
denota, em certa medida, o pioneirismo e a visão de longo alcance dos diplomatas que se
111
CAPÍTULO III
de rumos nas relações exteriores do país, mudança esta que irá persistir, após os curtos
nove meses de sua permanência no cargo, no governo de João Goulart. Os novos caminhos
uma política de caráter inovador, Quadros traz para ordem do dia as discussões acerca da
220
Cf. BUENO, Clodoaldo e CERVO, Amado Luiz. História da Política Exterior do Brasil, 2. ed. Brasília:
Editora UnB, 2002, p. 309.
112
passaram a ser discutidos em veículos de larga divulgação, e
ligados ao problema nacional do desenvolvimento.221
militar norte-americana em Cuba, após a Revolução que levou Fidel Castro à presidência.
tocante, outro ponto que mereceu destaque na concepção e condução da PEI foi o princípio
países daquele continente, faz-se uma clivagem entre as posições do novo governo e do
113
econômicos, com os novos atores que surgiam no cenário internacional durante o processo
cerne das relações internacionais, o governo brasileiro passa a levar em conta a dimensão
pragmatismo da política externa brasileira.223 Por outro lado, a posição do Brasil nas
vivendo sob a ditadura salazarista, e a fidelidade aos compromissos outrora firmados com
aquele país.
Jânio Quadros renuncia após sete meses de governo, no segundo semestre de 1961,
gerando mais uma crise política. Visto com desconfiança por determinadas hostes de
governo parlamentarista.
114
para a organização de movimentos operários e rurais, como as Ligas Camponesas, então
como “linha política do Estado” acabou por desencadear o processo que causou o ocaso da
da chamada “Cortina de Ferro”. Tais fatos, que tomaram lugar no auge da Guerra Fria,
224
CARDOSO, Fernando Henrique e FALETTO, Enzo. Op. cit., p. 107.
225
. BUENO, Clodoaldo e CERVO, Amado Luiz. Op.cit., p. 309.
115
acentuado das relações entre os dois países. Tal dissensão só chegaria ao fim com o Golpe
Militar de 1964.
Em 14 de julho de 1961, é aprovada a Lei nº 3.917, que preconiza uma reforma sem
decorrência de sua aprovação, são criados novos departamentos e divisões, que teriam por
fito equipar o Itamaraty com uma estrutura mais dinâmica, para servir às contingências que
cultural externa desde o fim do Estado Novo, será a partir deste momento que ele ampliará
as suas atividades, firmando-se e ampliando sua ação nos anos vindouros. Subordinada,
desde sua criação, ao Departamento Político e Cultural, a DCl passará a funcionar, a partir
DDC (Divisão de Difusão Cultural), que estará, por força de sua própria capilaridade com
as outras divisões, envolvida com maior número de ações culturais, será por nós mais
detidamente analisada neste capítulo. Ela se subdividirá em seções que gozarão, dentro dos
feições assaz inovadoras, as diretrizes da política cultural externa. Serão esses setores
Cinematográfico, Teatro e Publicações. Para que se tenha uma visão integral das mudanças
226
Id. Ibid., p. 316 e GARCIA, Eugênio Vargas. Cronologia das Relações Internacionais do Brasil. São
Paulo: Editora Alfa-Ômega, 2000, p. 138.
116
havidas na estrutura da DCl do Itamaraty e, em conseqüência, da política cultural externa
reforma, como também os que a precederam. Temos, pois, também analisados, os anos de
1960, primeiro da gestão de Wladimir Murtinho, que estaria à frente da DCl durante todo o
período de transição, e 1961, durante o qual passa a DCl pela preparação cogente à
de janeiro de 1962.
Após a remoção de José Osvaldo de Meira Penna, em fins de 1959, assume a chefia
anos anteriores, Murtinho tinha intimidade com as atividades empreendidas, o que seria de
Presidência da República das mãos de Juscelino Kubitschek para Jânio Quadros, e todas as
conseqüências que a mudança de governo traria para o Itamaraty, tanto do ponto de vista
Os acordos culturais assinados com países da América Latina, que eram a base
cooperação intelectual empreendida pelo Itamaraty, passarão, pela primeira vez, por uma
117
revisão. Tal iniciativa coaduna-se, principalmente, com as diretrizes da Operação Pan-
Americana (OPA), lançada pelo presidente Juscelino Kubitschek em maio de 1958 com a
assinados entre o Brasil e demais países latino-americanos são anteriores à OPA, o que
118
implementadas. Se, por razões inerentes ao processo natural de desenvolvimento das
deverá acompanhar as novas diretrizes, posto que é parte intrínseca do conjunto formado
pelas outras searas da política externa. Além disso, a diplomacia cultural deverá servir não
só aos objetivos próprios de difusão da cultura e promoção dos bens culturais no exterior,
como também procurar coordenar tais esforços com as metas de caráter geral da ação
preocupação com os acordos bilaterais assinados pelo Brasil no âmbito continental, irão
pesquisa, etc.) a ser levado a cabo naquele continente, com orçamento de 68 bilhões de
anos à UNESCO, que contribuiria com uma parcela anual de 500.000 dólares, para a
continentes. Ao tomar ciência do fato, o parecer dado pelo diplomata Jorge D’ Escragnolle
229
LESSA, Mônica Leite. Op. cit., loc. Cit.
230
Relatório Anual do Ministério das Relações Exteriores – 1960. Ministério das Relações Exteriores, Rio de
Janeiro, 1961, p. 32.
119
de Taunay aponta para duas direções: primeiro, a necessidade de conhecer mais
orçamento anual da UNESCO, bem como o montante dos investimentos feitos pela
possa ela ser moldada de acordo com as contingências existentes.231 Meses depois, quando
231
Memorandum do diplomata Jorge D’ Escragnolle de Taunay à Chefia da Divisão Cultural. “Programa
Educacional da UNESCO para a Ásia. Posição do Brasil nos organismos internacionais”, 09/03/60, Nº 103,
642.6 (04). MRE, Informações e Relatórios da DCl, AHI, Brasília – DF.
232
Memorandum do Embaixador Paulo E. de Berrêdo Carneiro, Delegado Permanente do Brasil junto à
UNESCO, ao Chefe do Departamento Político e Cultural, Frank Moscoso. “Sugestões para as instruções a
serem enviadas à Delegação Permanente do Brasil junto à UNESCO, relativamente a XI Conferência Geral
daquela Organização a realizar-se em Paris no mês de novembro de 1960”, 05/08/60, Nº 415, 642.6 (04).
MRE, Informações e Relatórios da DCl, AHI, Brasília – DF.
120
Os movimentos relativos às negociações de acordos bilaterais com países latino-
contexto, a análise da ação, bem como a prospecção dos erros e acertos havidos, com a
finalidade de torná-la mais eficaz, são levados a termo pelo corpo técnico da DCl. Definir a
DCl.
Outro fato que merece destaque é a posição brasileira em defender a eleição de uma
república africana, dentre as recentemente tornadas independentes, para ocupar uma vaga
estudos a alunos provenientes de países africanos. Para que se realize tal intento, estando já
ou reduzir os rendimentos dos professores contratados pela DCl para os Centros Culturais
233
SARAIVA, José Flávio Sombra. O Lugar da África: a dimensão atlântica da política externa brasileira
de 1946 a nossos dias. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1996, p.22.
121
América Latina, posto que a manutenção de tais atividades consumia grande parte da verba
área que suscitou interesse. Nos primeiros dias após a posse, a Presidência da República
as atividades educacionais.234 Tal fato merece, indubitavelmente, destaque, posto que não
externa. Em decorrência desta inquietação, o reflexo direto dos novos postulados na ação
Wladimir Murtinho realiza viagem àquele país, travando contato com autoridades da área
122
Brasil, criando, inclusive, a partir de negociações com o Ministério do Trabalho brasileiro,
condições para que pudessem trabalhar durante a estada. Todo este esforço faz parte das
português no exterior é uma das características partícipes da política cultural externa que
ter sido o orçamento anual reduzido em 25%. A tendência é cortar gastos com professores
e que possam, assim, prestar serviços sem que para isso seja preciso pagar-lhes quantias
professores que já trabalhem nos centros para ocupar os cargos de direção. É o que
para o cargo Ney Strauch, que há vários anos dá aulas de Geografia e História no
Centro.237
nas atividades. Em contrapartida aos cortes, passa-se a cobrar taxas dos alunos do centro,
236
Idem, “Intercâmbio cultural com a República do Senegal”. 24/05/61. DCl/227/542.6(15). MRE,
Informações e Relatórios da DCl, AHI, Brasília – DF.
237
Idem. “Substituição do Diretor do Centro de estudos em Buenos Aires. Redução de despesas”, 02/01/61,
Nº 4, 642.62 (41)(42). MRE, Informações e Relatórios da DCl, AHI, Brasília – DF.
123
[...] considero como absolutamente útil e vantajosa a verba que o
Governo brasileiro vem aplicando anualmente na criação e
manutenção dos Centros de estudos brasileiros na América Latina.
Ao Brasil cabe uma posição única no concerto das nações latino-
americanas que já o encaram com respeito e natural admiração. É
preciso que saiba corresponder a essa confiança e responsabilidade
não só através de um crescente desenvolvimento econômico mas
por uma política cultural paralela de amizade e aproximação com
os nossos aliados do continente americano.238
costa do Pacífico, findando uma etapa fundamental das ações da política cultural externa
cidades de Argentina, Peru, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Chile e Equador. Nos continentes
238
Memorandum da Cônsul Lavínia Augusta Machado ao Chefe da Divisão Cultural. “Visita da Funcionária
da Divisão Cultural aos Centros de estudos brasileiros do Uruguai e Argentina ”, 19/09/61,
DCl/439/542.6(41). MRE, Informações e Relatórios da DCl, AHI, Brasília – DF.
239
Os Centros tinham denominações diversas: Centro de Estudos Brasileiros, Centro de Cultura Brasileira ou
Instituto Cultural. Salvo pequenas diferenças, as atividades básicas eram as mesmas: ensino do Português,
dentro da perspectiva da difusão da língua, além de aulas de Geografia, Folclore, Literatura e História do
Brasil.
124
Correspondendo ao incremento das relações com a Europa Oriental, preconizado
pela Política Externa Independente, serão celebrados, de abril a junho de 1961, sete
nas trocas chegaria a 7,9 milhões de dólares.240 Com a intenção de dar andamento, no
plano da política cultural, a um acordo entre os dois países, quando da visita do então
exterior por meios radiofônicos, no prazo máximo de 30 dias.242 Parece-nos, pois, que a
240
. BUENO, Clodoaldo e CERVO, Amado Luiz. Op.cit., p. 318.
241
Memorandum de Wladimir Murtinho ao Chefe do Departamento Político e Cultural. “Acordo Cultural
com a Iugoslávia. Grupo de Trabalho interministerial”, 03/03/61, DCl/100/542.6 (00). MRE, Informações e
Relatórios da DCl, AHI, Brasília – DF.
242
Memorandum de Wladimir Murtinho ao Chefe da Divisão de Pessoal. “Programas Radiofônicos em
línguas estrangeiras.” 23/05/61, DCl/224/575(00). MRE, Informações e Relatórios da DCl, AHI, Brasília –
DF.
125
criação de tais grupos, com objetivos específicos e tempo de duração pré-determinado,
programa então estabelecido para 1961, onde concorreriam recursos de ambos os países,
posto que o presidente Jânio Quadros lhe afirmara, em Uruguaiana, que da parte brasileira
disponibilidade real de recursos da DCl causa embaraço a Murtinho, que após o encontro
da verba cultural que foi cortada do orçamento deste Ministério, a fim de que o Governo
presidencial.”243
243
Idem. “Intercâmbio Cultural Brasil - Argentina”, 10/05/61, DCl/216/542.6 (41). MRE, Informações e
Relatórios da DCl, AHI, Brasília – DF.
126
A difusão através do cinema, que vinha sendo empreendida desde princípios da
década de 1950 com resultados satisfatórios, irá sofrer considerável incremento a partir de
244
Estas são as atribuições que Wladimir Murtinho concebe para um futuro Serviço de Difusão
Cinematográfica; hierarquicamente, o Chefe do Departamento Político e Cultural e o Secretário Geral
aprovam. Em despacho a um segundo memorandum sobre o tema, de novembro de 1960 (Nº 682), o Chefe
do DPC, Embaixador Manoel Pio Correia Júnior, põe-se “De acordo. Elevo à consideração do Sr. Secretário
Geral, frisando que considero a propaganda visual, pelo cinema, como a forma mais eficiente e mais rentável
de divulgação da realidade brasileira, estimando necessário dar-lhe prioridade dentro do plano de ação da
DCl.” “Criação de Serviço de Difusão Cinematográfica”, 01/09/60, Nº 497 A. MRE, Informações e
Relatórios da DCl, AHI, Brasília – DF.
127
DCl. Murtinho se posicionará juntamente a seus superiores para que seja resolvido o
que seja ministrado um curso prático a jovens cineastas do Brasil, com o objetivo
específico de produzir filmes para difusão via Itamaraty. Nesta categoria de atividades,
desde meados dos anos 50, cujas versões para diferentes idiomas irão circular pelas
legendas em inglês, francês, espanhol e árabe, mas a demanda por parte de outras
e italiano;245 como não havia cópia em português, será produzida faixa sonora para a
nova produção, tendo como temática “os aspectos paisagísticos, culturais, industriais do
Brasil”. Smandek tem como fito atingir um público diverso, “do colegial ao turista ou
pois, tem uma clara função informativa; a exploração das imagens de Brasília, com seus
Smandek, num empenho em criar a mais satisfatória imagem do Brasil moderno, urbano e
245
Memorandum de Raul de Smandek ao Chefe da Divisão de Difusão Cultural. “Sonorização de
documentário para fins culturais nos idiomas russo, japonês, alemão e italiano”, 30/04/63, DDC/49/540.612.
MRE, Informações e Relatórios da DDC, AHI, Brasília – DF.
246
Memorandum de Raul de Smandek ao Chefe do Departamento Cultural e de Informações. “Feitura de
novo documentário sobre o Brasil para fins culturais e educacionais”, 02/10/63, DDC/164/540.612. MRE,
Informações e Relatórios da DDC, AHI, Brasília – DF.
128
A partir de 1961, a ação cultural externa através do cinema tomará dimensão
prioritária na DCl. Além das atividades de difusão cultural por meio de documentários com
atenção, bem como à elaboração de acordos de distribuição com outros países. No plano
interno, o Itamaraty irá adensar suas relações com o Grupo Executivo da Indústria
Wladimir Murtinho para representante do Ministério junto àquele órgão. O objetivo desta
estando previsto, até o final de 1961, a celebração de tais instrumentos com Argentina,
México, Alemanha, França, Itália e Japão.247 Esta sistematização da ação cultural através
ponto de vista da política cultural, para a definição das linhas prioritárias a serem
desenvolvimento desta política dentro de uma estrutura ampliada, com maiores atribuições
247
Memorandum de Wladimir Murtinho ao Chefe do Departamento Político e Cultural. “II Resenha de
Cinema Latino-Americano e Festival Internacional Cinematográfico de Berlim. Delegado do Brasil”,
??/??/61, DCl/197/640.612 (00). MRE, Informações e Relatórios da DCl, AHI, Brasília – DF.
129
3.2.2 Mário Dias Costa e a Divisão de Difusão Cultural
a DDC chefiada pelo Conselheiro Mário Dias Costa. No decorrer da gestão de Costa e sua
equipe à frente da DDC, ações culturais cuja dimensão fará com que sejam constantemente
citadas, tal como o concerto de Bossa Nova no Carnegie Hall de Nova Iorque, em
Avaliando a experiência das ações culturais empreendidas até então, Lauro Escorel
departamento:
[...] uma das deficiências crônicas com que tem lutado o setor
cultural da Secretaria de Estado, tem sido a falta de uma infra-
estrutura permanente de assessores culturais e artísticos que
pudessem assegurar a indispensável continuidade aos vários
serviços do Departamento Cultural e de Informações. A
transitoriedade forçada dos funcionários de carreira, que se têm
encarregado dos diversos setores, não favorece positivamente à
eficiência e perfeita organização de um Departamento, que tem sob
sua responsabilidade uma tão vasta gama de assuntos, muitos deles
a exigir trabalhos a longo prazo.248
248
Memorandum de Lauro Escorel ao Secretário Geral de Política Exterior. “Projeto de Contrato de
Assessores Culturais”, 05/12/62, DCInf/132/352.18. MRE, Informações e Relatórios da DDC, AHI, Brasília
– DF.
130
De fato, são várias atividades simultâneas: programação de exposições de
maior abertura e espaço nas ações culturais do Itamaraty. Sugere-se, a partir do problema
nas ações, em função dessas mudanças. Por outro lado, a solidez da política cultural
externa fica patente; a presença de elementos alógenos ao corpo diplomático seria apenas
um meio para estabelecer elos entre diferentes gestões, além de dar assessoria técnica ao
existente. Antes disso, seria uma forma eficaz de não lhe provocar períodos de
adormecimento.
a partir da década de 60, a veiculação de notícias sobre o Brasil, bem como as filmagens
realizadas no país por cinegrafistas estrangeiros, para exibição na TV, passam a ser alvo de
131
recomenda que seja feita uma censura prévia deste tipo de material, inclusive quando fosse
estrangeiros. A divulgação do Brasil por esse meio já vinha contando com o empenho da
(DIPROC), um programa de notícias sobre o Brasil, distribuído por cinco capitais latino-
americanas. Divulgar o país positivamente era, portanto, tão importante quanto coibir a
planos, determinando os elementos que fornecem uma melhor imagem do país e que irão
ser revertidos em resultados concretos, a médio e longo prazo, para os outros interesses da
política externa.250
deles, realizado no dia 21 no Carnegie Hall, com a participação dos mais representativos
Audio-Fidelity, passava mais uma temporada no Rio de Janeiro. Habitué da noite carioca,
250
LESSA, Mônica Leite. Op. cit., loc. Cit.
251
Memorandum de Lauro Escorel ao Chefe do Departamento de Administração. “Semana Brasileira em
Nova York”, 13/11/62, DDC/DCInf/161/540.36(22). MRE, Informações e Relatórios da DDC, AHI, Brasília
– DF.
132
teve chance de assistir a uma das últimas apresentações do espetáculo “O Encontro”, com
João Gilberto, Vinícius de Moraes, Antônio Carlos Jobim e Os Cariocas, na boate Au Bon
Gourmet, durante o qual fora lançada a música “Garota de Ipanema”. Consciente dos
padrões do mercado fonográfico de seu país, sempre ávido por novidades, Frey alugou o
considerável da classe musical brasileira. Houve interesse não só dos bossa-novistas, mas
também de músicos que nenhuma relação tinham com o gênero, em participar do concerto.
Atento a todo o confuso processo que envolvia a escolha dos artistas, antevendo um
possível fracasso da música popular brasileira nos Estados Unidos e, também, levando em
conta os resultados positivos para a política cultural externa de uma ação bem-sucedida,
Mário Dias Costa, chefe da DDC, intervém, tornando o projeto de Frey uma parceria entre
brasileira não era, de modo algum, um fato inédito para o Itamaraty, mas a dedicação que
dispensaram ao concerto do Carnegie Hall, não foi a habitual. A Bossa Nova, surgida no
seio da classe média urbana da Zona Sul do Rio de Janeiro, tornara-se o gênero musical
representativo daquele meio social, no qual circulavam diplomatas como Mário Dias Costa
252
CASTRO, Ruy. Chega de Saudade – A História e as Histórias da Bossa Nova. 2. ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 1990, p. 323 e CRESPO, Flavia Ribeiro. The Bossa Nova Concert at Carnegie Hall:
Cultura, Imperialismo e Diplomacia. Monografia de conclusão de curso, Departamento de Arte (GAT),
Universidade Federal Fluminense, 2003.
253
Os outros são Antônio Carlos Jobim e João Gilberto.
133
Passada a conturbada seleção de quem iria ou não ao Carnegie Hall, alguns poucos
músicos arcaram com as próprias despesas da viagem, enquanto outros se beneficiaram das
Carlos Jobim, figura central da Bossa Nova, decidira desistir da viagem, e foi convencido
pelo próprio Mário Dias Costa a seguir para Nova Iorque, na véspera do concerto:
intérpretes brasileiros da Bossa Nova, que então já circulava nos Estados Unidos nas vozes
de diversos intérpretes, sob versões para o inglês. Iriam se apresentar, naquela noite, João
Gilberto, Antônio Carlos Jobim, Carlos Lyra, Roberto Menescal, Sérgio Ricardo, Luiz
Bonfá, Agostinho dos Santos e Sérgio Mendes, entre outros. O fato de o palco ter sido
tomado por 11 microfones, assim como os deslizes dos brasileiros com o idioma inglês e a
254
JOBIM, Antônio Carlos. Textos. Site Oficial UOL Personalidades. Disponível em <www. Tom Jobim -
Site Oficial UOL Personalidades.htm >. Acesso em: Dez. 2005.
134
na memória do concerto do que o entusiasmo diante da Bossa Nova por nomes importantes
do meio musical norte-americano, como Herbie Mann, Dizzy Gilespie e Miles Davis.
para tecerem críticas, especificamente, à ação do Itamaraty. Paulo Francis considerou que
performances que discrepavam dos padrões da Bossa Nova, foram apenas parte dos
do Itamaraty como agente cultural e, sobretudo, da Bossa Nova. José Ramos Tinhorão, um
dos mais aguerridos críticos do gênero musical, fez uma grande reportagem de bastidores
255
FRANCIS, Paulo. Paulo Francis informa e comenta: Amadores e Bossa Nova. Última Hora, 27/11/1962.
135
Sidney Frey e do suposto embaraço passado pela música brasileira no exterior, com o
apoio do Itamaraty.256 Ao retornar ao Brasil, Mário Dias Costa precisou esclarecer o mal-
entendido pessoalmente perante o então Ministro das Relações Exteriores, Hermes Lima.
A filmagem do concerto, realizada por uma rede de TV americana, foi comprada pela
cônsul Dora Vasconcelos e exibida, no Brasil, pelas TVs Continental e Tupi, dirimindo
brasileiros sobre o concerto do Carnegie Hall, o Itamaraty sentiu-se forçado a emitir algum
256
TINHORÃO, José Ramos. Bossa Nova desafinou nos EUA. O Cruzeiro, 08/12/1962.
257
CASTRO, Ruy. Op. cit., p. 330.
258
Itamaraty: Bossa Nova não fracassou. Última Hora, 29/11/1962.
136
Com essas informações, o Itamaraty se eximiu de maiores responsabilidades quanto
pessoas da cônsul Dora Vasconcelos e do Chefe do DDC, Mário Dias Costa, no evento. A
coordenado pelo Itamaraty: como já dissemos anteriormente, fora uma iniciativa da revista
Show Magazine, que convidara Mário Dias Costa e Ilse Lima Franco, funcionária da DDC,
dama dos Estados Unidos, encantou-se com o “brazilian jazz”, definindo a apresentação
caráter privado estabelecem liames com a iniciativa pública, que podem dar aos eventos
caráter de ações culturais de uma política cultural pré-elaborada. Elemento central nas
exterior a melhor imagem do país. O nível de envolvimento, bem como o modo como
lidará com a repercussão negativa nos planos interno e externo, todavia, gerará discussões
259
Memorandum de Lauro Escorel ao Chefe do Departamento de Administração. “Semana Brasileira em
Nova York”, 13/11/62, DDC/DCInf/161/540.36(22). MRE, Informações e Relatórios da DDC, AHI, Brasília
– DF.
260
Primeira página do jornal Última Hora, 21/11/1962.
261
RENOUVIN, Pierre & DUROSELLE, Jean-Baptiste. op.cit, loc.cit.
137
acerca das responsabilidades e, sobretudo, da aplicação de recursos públicos em ações
culturais; o caráter subjetivo das expressões artísticas irá ensejar essa exposição a críticas
de 20, quando a excursão do conjunto Os Oito Batutas a Paris merece o apoio do ex-
internacional dos bossa-novistas e do gênero musical Bossa Nova. O fato é que o concerto
abriu portas para a consolidação da carreira internacional destes músicos, que, embora já
apresentar fora do Brasil, tomando contato direto com músicos, gravadoras e público
estrangeiro. Alguns dos contatos profissionais começaram a ser feitos ainda na mesma
noite, e a partir de então, os compositores cujas músicas se tornavam populares através das
vozes de outros intérpretes, como Antônio Carlos Jobim, iriam fazer temporadas de
sucesso nos palcos norte-americanos, assim como cantores e músicos que já haviam se
tornado conhecidos através de gravações, como Agostinho dos Santos. Estas excursões,
Apesar dos percalços do Carnegie Hall, a difusão cultural através da Bossa Nova,
música brasileira com elementos que remetiam ao jazz e ao samba, pareceu ser uma opção
satisfatória para o Itamaraty. Nos anos subseqüentes, excursões pelo exterior de bossa-
novistas, em missão cultural pela DDC, aconteceriam com freqüência. A partir de 1964,
haverá uma dotação orçamentária específica para “despesas de qualquer natureza com a
138
folclóricos”.262 No decorrer do ano, viajarão para os Estados Unidos e países sul-
262
Memorandum de Maria Euterpe Gonçalves Nogueira, Encarregada de Música da DDC, a Mário Dias
Costa. “Despesa com a divulgação da música e dos músicos do Brasil no exterior. Subconsignação
1.6.15.1.4”, 04/08/64, DDC/249/540.36 (00). MRE, Informações e Relatórios da DDC, AHI, Brasília – DF.
263
Requisições de passagens. DDC/DO/124/540.36 (22), 28/04/64; DDC/DA/151/540.36(35), Mai/64. MRE,
Informações e Relatórios da DDC, AHI, Brasília – DF.
264
Memorandum de Mário Dias Costa ao Chefe do Departamento Cultural e de Informações. “Apresentação
de Música Popular Brasileira nos Estados Unidos da América”, 29/09/64, DDC/325/540.36 (22). MRE,
Informações e Relatórios da DDC, AHI, Brasília – DF.
139
Após discutir o tema com Jobim, Adler e Aloysio, remanescente do conjunto
musical Bando da Lua, que acompanhara Carmen Miranda durante boa parte de sua
Costa decide-se por um programa que compreenderá sete espetáculos nos Estados Unidos,
a serem realizados em Los Angeles, São Francisco, Nova Orleans, Filadélfia, Washington,
aproveitando a viagem e sem gastos maiores. O projeto será levado à prática rapidamente;
nos primeiros dias de outubro, Richard Adler vai aos Estados Unidos para preparar as
cantor e compositor Jorge Ben e o conjunto de Sérgio Mendes seguem viagem.265 Carlos
Lyra se juntará à turnê em Nova Iorque, além do jornalista Sylvio Tullio Cardoso, que
América.”266 Era, destarte, uma ampla estratégia de difusão da música popular brasileira
exterior uma expressão artística que trouxesse em seu âmago uma imagem satisfatória do
265
Idem. “Requisição de passagem. Festival de Música Popular Brasileira nos Estados Unidos da América”,
31/10/64, DDC/368/540.36 (22). MRE, Informações e Relatórios da DDC, AHI, Brasília – DF.
266
Requisição de passagem, 18/11/64, DDC/DA/392/540.36 (22). MRE, Informações e Relatórios da DDC,
AHI, Brasília – DF.
267
A título de exemplo, podemos citar a “Cronologia das relações internacionais do Brasil”, de Eugênio
Vargas Garcia, onde a única referência a evento cultural, no período 1945-64, é a apresentação de Bossa
Nova no Carnegie Hall (p. 140).
140
3.2.2.2 – Arnaldo Carrilho e a difusão do Cinema Novo
receberia distinta dedicação nas ações culturais da DDC. O êxito de filmes brasileiros em
revolução estética causada pelo surgimento do Cinema Novo, bem como o proselitismo
dos diplomatas Mário Dias Costa, Raul de Smandek e Arnaldo Carrilho, foram fatores
produção nacional e ensejar uma melhor distribuição dos filmes brasileiros no exterior,
O recurso de conciliar as datas dos Festivais com a negociação dos acordos bilaterais com
os países em que eles estão sendo realizados será uma prática constante da DDC, através
dos desígnios de Mário Dias Costa e da presença de Arnaldo Carrilho, chefe do setor
Carrilho seguirá para a Argentina como delegado brasileiro junto ao festival, com a
finalidade de prestar suporte à Delegação Brasileira, formada por Walter Hugo Khoury,
Mário Bevenuti e Odete Lara, da equipe do filme “A Ilha”, que participava da mostra
entre o Brasil e aquele país, que será concluído, com êxito, após a aprovação do GEICINE,
268
Memorandum de Mário Dias Costa ao Chefe do Departamento Cultural e de Informações. “Acordo de Co-
produção Cinematográfica Brasil-RFA”, ??/05/63, DDC/60/540.612 (00). MRE, Informações e Relatórios da
DDC, AHI, Brasília – DF.
141
em maio do mesmo ano269. No âmbito do intercâmbio cinematográfico, projeta-se a
favoráveis para que seja efetuada a comercialização dos filmes no exterior são aspectos
acordo firmado pelos dois países em dezembro de 1962, foi desconsiderado co-produção
142
mais prejudicado seria o cinema brasileiro, indústria infante, e que,
nos últimos três anos, vem se fazendo reconhecer
internacionalmente, por sua originalidade e padrão cultural sério,
como se pode deduzir pelos vinte prêmios obtidos nos principais
festivais mundiais.272
cinematográfica brasileira conquistará doze prêmios entre 1962 e 1963. Segundo Carrilho,
este êxito será conseqüência da evolução técnica e artística havida no período, que conferiu
aos filmes um nível de qualidade que os levou a despertar interesse em diversos países.
Carrilho divide, pois, a difusão do Cinema Novo no exterior em duas fases: a primeira, em
que os predicados das películas foram fundamentais para sua aceitação, e a segunda, em
que a comercialização desses filmes deverá receber suporte do Itamaraty. Sugere, então,
que seja programada uma Mostra Itinerante do Cinema Brasileiro na América Latina, já
que, ao lado de África e Ásia, este seria um dos principais mercados para venda de filmes
contato com os distribuidores locais. Na lista dos filmes brasileiros que fariam parte da
272
Memorandum de Arnaldo Carrilho ao Chefe do Departamento Cultural e de Informações. “Acordo de Co-
produção Cinematográfica entre o Brasil e a Espanha”, 05/11/64, DDC/DAI/??/540.612 (84). MRE,
Informações e Relatórios da DDC, AHI, Brasília – DF.
143
mostra constam, basicamente, produções cinema-novistas, entre as quais “Ganga Zumba,
Rei do Palmares”, de Carlos Diegues, “Os Cafajestes” e “Os Fuzis”, de Ruy Guerra, “Esse
também por diretores do Cinema Novo. Enfim, os jovens cineastas responsáveis pelo
movimento irão dar as feições da difusão cinematográfica no exterior por meios oficiais:
273
Memorandum de Arnaldo Carrilho ao Chefe da Divisão de Difusão Cultural. “Mostra Itinerante do
Cinema Brasileiro na América Latina”, 26/05/64, DDC/DIPROC/DA/159/540.612 (20). MRE, Informações e
Relatórios da DDC, AHI, Brasília – DF.
144
cinema brasileiro, e ainda assim, emprestando-lhe a chancela de
filmes “oficiais” no estrangeiro – a DDC conseguiu estruturar
toda uma montagem de propaganda cultural do Brasil no
exterior.274
primeiramente, pelo interesse de Arnaldo Carrilho, criará, então, uma relação benéfica para
brasileiro, bem como a comercialização dos filmes no mercado exterior, etapa sempre
difícil, dada a estrutura frágil do mercado nacional, receberá suporte do Itamaraty, as ações
Novo a redigirem, em 1990, uma carta de apoio ao diplomata, que encontrava dificuldades
para ser promovido dentro da estrutura do Itamaraty. A epígrafe da carta será uma frase de
Glauber Rocha:
274
Idem. “Setor de Cinema da DDC”, 20/11/64, DDC/DP/DOrg/397/540.612 (20). MRE, Informações e
Relatórios da DDC, AHI, Brasília – DF.
275
PESSOA, Ana. David Neves: muito prazer. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 2003, pp.
34-5.
145
Arnaldo Carrilho entendeu, ao contrário de seu antecessor Meira Penna, que julgara
o filme “Rio, 40º” desabonador para a imagem internacional do Brasil, que os padrões
italiano, tendiam a sobrepor a temática, que poderia remeter ao Brasil do flagelo sertanejo
(“Vidas Secas”, “Deus e o Diabo na Terra do Sol”) ou urbano (“Rio Zona Norte”, “Cinco
de uma política cultural externa neste sentido, estava acima da questão circunscrita da
retratação, nas telas, da dita realidade brasileira. A partir dessa mudança de concepção,
146
CONCLUSÃO
condutor da política cultural externa brasileira, no período 1945 – 1964, tendo em vista
determinados conceitos.
Estado para as relações internacionais, segundo preconizada por Pierre Renouvin e Jean-
entendimento das diferentes ações desenvolvidas ao longo do período abordado. Como este
homem será produto de seu tempo e de seu meio, a postura profissional, principalmente no
tocante à cultura, tema de notória subjetividade, será influenciada por esses fatores. Por
outro lado, a criação do Instituto Rio Branco, em 1946, que proverá uma formação própria
própria cultura profissional que se cria no interior do ministério desde muito cedo. Logo, o
trato das questões culturais constituirá uma política de Estado que, embora passe por
mudanças ocasionadas por razões temporais, irá se manter na agenda internacional do país
fatores internos e externos do Estado, explanando acerca das razões que teriam levado ao
desaparecimento da separação que tornava essas duas searas estanques. Considera que, ao
se estudar separadamente esses fatores, pode-se depreender a relevância que cada um deles
147
terá no processo276. Assim, consideramos que, para chegarmos a determinados resultados,
teríamos não só que tirar conclusões acerca do relacionamento do Brasil com outros países,
como também ter a dimensão dos aspectos internos que teriam algum grau de influência
encontro entre a arte dita de elite com a arte caracteristicamente popular, como acontecerá
no CPC da UNE, entre 1962 e 1964. A Bossa Nova e o Cinema Novo, cujos primeiros
inseridos nesse processo; músicos ou cineastas – além de músicos e cineastas, como Sérgio
lançado em 1961, e que a Bossa Nova, até e durante a transição por que passaria no
período 1960-62, era um movimento musical que unia músicos amadores e profissionais,
perceberemos que a captação dessas expressões artísticas pelo Itamaraty foi rápida. Tanto a
exterior, ambos com apoio do Itamaraty, acontecerão a partir de 1962. Recuando quatro
que também contou com apoio de diplomatas brasileiros, numa competente percepção
circulação desta produção cultural brasileira pelo mundo, como também a argúcia de
276
Cf. MERLE, Marcel. Op. cit., loc. Cit.
148
percebê-la, ainda numa fase inicial, e transformá-la em instrumento de política cultural,
observar como há, também neste período em que ele perde parte de seu poder deliberativo,
reciprocidade nas relações, ainda naquelas em que a essencial assimetria277 punha o Brasil
em posição desvantajosa, como no caso dos Estados Unidos. Além disso, princípios como
a defesa da comunidade ocidental, da união latina e das relações luso-brasileiras, tal como
Se, nos final dos anos 50, filmes como “Rio 40º”, precursor do Cinema Novo, ainda
inspiravam reservas por parte da chefia da então DCl, o ambiente cultural que irá se
inter-relação entre expressões populares e de elite será cada vez maior, fará a preocupação
com a temática reduzir-se consideravelmente. O Cinema Novo, pois, será antes o expoente
veículo trivial de difusão de imagens do Brasil. Por outro lado, a Bossa Nova, embora com
277
DUROSELLE, Jean Baptiste. Op.cit., loc. Cit.
149
alguma freqüência seja taxada como fruto da presença musical dos Estados Unidos no
Brasil do pós-Guerra, traz influências não só da música popular norte-americana pré Rock
dividira em duas vertentes, que teriam diferentes desdobramentos: uma deu origem às
escolas de samba e outros gêneros de cunho francamente popular, e a outra, após ingressar
no rádio e ser interpretada pelos conjuntos regionais, iria produzir a Bossa Nova:
Bossa Nova e seu subseqüente êxito no mercado internacional seria esquecer a sua
278
OLIVEIRA, Arthur Loureiro de et al. Op. cit, p. 111.
150
desenvolvimento da carreira internacional de músicos, cantores e compositores e, em
objetivos, música e cinema fizeram parte das ações empreendidas pela Divisão Cultural do
permeará a política externa brasileira através dos anos, terá consecução, no que diz respeito
a essa modalidade de ação, a partir da instalação sistemática dos institutos pelos países do
Literatura e História do Brasil, irá se efetivar a presença da cultura brasileira, sem que haja
Brasileiros, cujas atividades eram mantidas com o envio de professores pela Divisão
função de também promover essa presença cultural, mas sem as mesmas pretensões
151
africano. Em decorrência, o processo de instalação de estruturas do gênero, constrangidas
sem que houvesse prejuízo real às atividades nele desenvolvidas. Além disso, propostas de
acordos culturais com países do Leste Europeu acompanharão o incremento das relações
econômicas e comerciais a partir da PEI, num processo onde haverá coordenação com o
presença efetiva na América Latina, principalmente na América do Sul, etc – e outros, que
irão variar de acordo com as diretrizes momentâneas da política externa – maior destaque
posicionar. Apesar dos entraves causados por redução de verbas e alternâncias de chefias
cujas concepções do tema diferirão inteiramente, as ações da política cultural externa não
sofrerão suspensões totais. A preocupação com a não-interrupção das ações, assim como a
o aumento do número de funcionários que a ela se dedicarão, num processo que culminará,
152
princípios da política cultural externa brasileira, mantendo a tradição que começara a se
153
FONTES
Cultural:
1945 – 135.5.7
1946 – 135.5.8
1947 – 135.5.9
1948 – 135.5.10
1949 – 135.5.11
1950-51 – 135.5.12
1952 – 135.5.13
1953 – 135.5.14
1954-55 – 135.5.15
1956-57 – 135.5.16
1958-59 - 136.1.1
154
1964 – 007.934
- Periódicos:
CORRÊA, Villas-Boas. Roberto Campos e a Bossa Nova, Jornal do Brasil,
10/10/2001.
FRANCIS, Paulo. Paulo Francis informa e comenta: Amadores e Bossa Nova.
Última Hora, 27/11/1962
ITAMARATY: Bossa Nova não fracassou. Última Hora, Rio de Janeiro, 29/11/1962.
TINHORÃO, José Ramos. Bossa Nova desafinou nos EUA. O Cruzeiro,
08/12/1962.
155
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Paulo Roberto de. O Barão do Rio Branco e Oliveira Lima: vidas
2006.
ARON, Raymond. Paix e Guerre entre les nations. Paris: Calmann-Lévy, 1984.
AZEVEDO, Luiz Heitor Corrêa de. Minhas Memórias da Unesco (a música nas
Contraponto, 2000.
2005.
e Terra, 1979.
156
BOMENY, Helena Maria Bousquet; COSTA, Vanda Maria Ribeiro;
integração fraterna”. Política Internacional. Vol. 1, No. 13. 1996, Outono-Inverno: 14-15.
Estado/UnB/IPRI, 2002.
CAMPOS, Augusto de. Balanço da Bossa e outras bossas. São Paulo: Perspectiva,
1974.
2003.
________. A onda que se ergueu no mar. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
157
CHEDIAK. Almir (org.). Songbook Bossa Nova Vols. 1, 2 e 3. 2. ed. Rio de
Iluminuras, 1997.
COSTA, Iná Camargo. A Hora do Teatro Épico no Brasil. São Paulo: Paz e Terra,
1996.
Topbooks, 1999.
158
_______________. Oliveira Lima, Don Quixote gordo. Recife: Imprensa
GOMES, Ângela de Castro (org.).O Brasil de JK. Rio de Janeiro: FGV, 2002.
HOBSBAWM. Eric. Era dos Extremos. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras,
1995.
HOLLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio
Editora, 1988.
159
LESSA, Mônica Leite. Relações culturais internacionais. In: Olhares sobre o
Janeiro, 2002.
Humanas, 1990.
MELLO, José Eduardo Homem de. Música Popular Brasileira. São Paulo:
1996.
Quatrième Partie.
Brasil: o caso do OOCIAA e o papel das seleções Reader's Digest 1940-1946. Dissertação
1998.
160
MORGENTHAU, Hans J. A Política entre as Nações. São Paulo: Imprensa Oficial
do Estado/UnB/IPRI, 2003.
MOTA, Carlos Guilherme. Ideologia da cultura brasileira. São Paulo: Ática, 1977.
após a Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas,
1991.
NYE, Jr., Joseph S. Soft Power: the means to success in world politics, New York:
Mondrian, 2003.
OLIVEIRA. Arthur Loureiro de et al. 500 Anos da Música Popular Brasileira. Rio
1985.
PESSOA, Ana. David Neves: muito prazer. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco
do Brasil, 2003.
http://64.233.187.104/search?q=cache:35OIOD6kqOcJ:www.samba-
161
choro.com.br/debates/1012493927+%22oito+batutas%22+%2B+fran%C3%A7a&hl=pt-
RÉMOND, René (org). Por uma história política. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ/ Ed.
FGV, 1996.
internationales: libres propos sur un grand thème. In: Relations Internationales, nº 24,
hiver, 1980.
Contraponto, 2000.
1999.
Brasília, 1996.
SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Getúlio a Castelo. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
162
SOUZA, Melissa de Mello e. Brasil e Estados Unidos: a nação imaginada nas
Disponível em http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/cgi-
TOLEDO, Caio Navarro de. ISEB: Fábrica de ideologias. São Paulo: Editora
Ática, 1978
TÁVOLA, Artur da. 40 Anos de Bossa Nova. Rio de Janeiro: Sextante, 1998.
Saga, 1966.
Company, 1995.
163