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regime jurídico administrativo. Ao estudar Direito Administrativo aprendemos que ele sofre uma
influência de alguns institutos que são relevantes para o direito público, mas não são tão
P úblico e P rivado, em vista da cada vez maior integração entre estas duas grandes áreas do
Direito, o fato é que alguns princípios influenciam o Direito Administrativo com maior intensidade
nucleares deste ramo do direito. Alguns deles tornam-se verdadeiros mantras do Direito
Administrativo.
C onsiderando que cada doutrinador apresenta uma lista diferente de princípios, a ideia
neste curso é separar quatorze daqueles que se entende como os mais importantes para
1. Princípio da legalidade;
2. Princípio da impessoalidade;
3. Princípio da moralidade;
4. Princípio da publicidade;
5. Princípio da eficiência;
7. Princípio da finalidade;
8. Princípio da motivação;
Os demais, alguns são implícitos, outros são explícitos. P or exemplo, o princípio da proteção
da confiança, não previsto no texto constitucional, apenas recentemente foi mencionado pelo
C P C , ou seja, até pouco tempo era um princípio implícito do texto constitucional, uma derivação
interesse público, não encontrado expressamente na C onstituição (sobre o qual hoje muito se
Em geral, na primeira aula de Direito Administrativo, todo professor diz que enquanto no
Direito P rivado o particular pode fazer tudo, desde que a lei não o proíba, em razão da autonomia
da vontade, no Direito Administrativo, o administrador público só pode atuar de acordo com a lei,
só pode fazer aquilo que a lei o determina, deve agir secundum legem . É dito ainda que, além do
art. 37, caput, o fundamento constitucional do princípio da legalidade é o art. 5º, II, no sentido que
ninguém pode ser obrigado a fazer ou deixar de fazer senão em virtude de lei.
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte: (Redação dada pela Emenda C onstitucional nº 19, de 1998) (grifamos)
Art. 5o.
...
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei;
Esta é a ideia tradicional que gravita em torno do princípio da legalidade, sob a ótica do
Direito Administrativo (cada ramo do Direito tem a sua preocupação no atinente ao princípio da
legalidade).
Nesta linha de raciocínio, o administrador não pode atuar contra legem ou praeter legem ,
ou seja, não pode, por exemplo, editar uma portaria ou um decreto que contrarie uma lei, ou que
Não há dúvidas que esta concepção tradicional do princípio da legalidade precisa ser
apenas nesta visão, não é mais assim no dia a dia. O princípio da legalidade tem sido substituído
atuar em conformidade com o ordenamento jurídico. Em regra, isso significa que ele
seguirá o texto legal. Todavia, como deverá o administrador agir se uma lei afrontar claramente
uma norma constitucional? Suponhamos, por exemplo, uma absurda lei que autorize a
Há casos em que o legislador nada previu sobre uma matéria e, mesmo assim, o
Um exemplo dessa nova concepção pode ser extraído da edição pelo C NJ de sua
que já havia a vedação a esta conduta no âmbito federal por expressa previsão legal. Alguns
Estados questionaram a norma do C NJ, alegando que no âmbito daqueles Estados não havia lei
proibindo a contratação de parentes, de modo que a resolução estaria violando a autonomia dos
entes da federação.
Resolução Nº 7 de 18/10/2005
Ementa: Disciplina o exercício de cargos, empregos e funções por parentes,
cônjuges e companheiros de magistrados e de servidores investidos em cargos de
direção e assessoramento, no âmbito dos órgãos do Poder Judiciário e dá outras
providências.
Art. 1° É vedada a prática de nepotismo no âmbito de todos os órgãos do Poder
Judiciário, sendo nulos os atos assim caracterizados.
Este caso foi levado à apreciação do STF que, ao decidir a ADC 12[1], declarou a
por ser órgão de controle de administração, sendo, portanto, órgão administrativo, não-
jurisdicional) pode atuar no sentido de ir além do texto legal. Isso porque, se pensássemos desta
forma tradicional, a Resolução nº 7 teria invadido a competência dos Estados criando obrigação
Nota da monitoria:
P ortanto, cada vez mais, torna-se necessário que o administrador analise as regras de
acordo com o texto constitucional e não o inverso. A partir da C onstituição extraímos valores
muito importantes para a fundamentação do que vem abaixo. Se uma lei esbarra em uma
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte: (Redação dada pela Emenda C onstitucional nº 19, de 1998) (grifamos)
P rimeiramente, o administrador não pode se promover com seus atos. Observa-se, neste
Infelizmente, esta ainda é uma prática muito comum, principalmente em certos Municípios
onde vemos alguns prefeitos pintado locais da cidade com a mesma cor que usou na campanha,
como forma das pessoas se lembrarem dele, ou faz um símbolo, uma imagem de autopromoção,
que remontam ao tempo em que ainda era candidato. Todas estas práticas são abomináveis e
§ 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos
deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar
nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores
públicos.
até mesmo qualificar a conduta como sendo improbidade administrativa, por ofensa ao princípio
da impessoalidade. Se, por exemplo, um sujeito resolve colocar o nome dele em um prédio público
C ontudo, mesmo na ausência de uma lei específica, é óbvio que o administrador não pode querer
administrador não pode favorecer nem perseguir determinadas pessoas, deve sempre agir em
favor do interesse público. Esta vertente é muito importante, por exemplo, em matéria de
licitações, no ponto em que a escolha deve ser impessoal e não é possível estabelecer nenhuma
regra editalícia que beneficie determinado competidor, também não pode agir deliberadamente
na medida que os vencedores serão contratados, pouco importando quem eles sejam.
Este foi um dos raciocínios seguidos pelo Ministro Lewandovski no STF, quando exigiu, para
vaga de emprego público depende de concurso público, a saída deste empregado (não estatutário,
motivação para que a sociedade tenha conhecimento das razões que levaram o administrador a
decidir e a coletividade e o próprio Estado (via Ministério P úblico) possam avaliar se houve ou não
alguma ofensa ao princípio da impessoalidade.
Nota da monitoria:
[2] C onsiderando que o professor não apresentou, tanto durante a aula quanto no material
de apoio, elementos que pudessem identificar a decisão mencionada, optamos por transcrever
abaixo ementa de acórdão da lavra do Ministro Lewandovski que trata do tema e que, inclusive,
seguiu a sistemática da Repercussão Geral, acreditando que, provavelmente é a esta decisão que
o mestre se referiu.
Na verdade, este princípio, em suas duas facetas, serve de diretriz para uma série de
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,
parâmetros éticos. O ato estatal não deve somente observar a lei, mas também deve ser
A compatibilidade do ato administrativo com a lei não é suficiente para que o ato seja
texto legal.
ordenamento jurídico, não fica adstrito tão-somente ao aspecto da legalidade. Ele deve ir além e
EXEMPLO: C erto prefeito de uma cidade, que tem uma autorização legal para comprar
viaturas oficiais de representação da chefia do Executivo municipal, bem como dos secretários,
resolve adquirir modelos de veículos Jaguar, não obstante a situação de penúria financeira pela
qual passa a cidade. Em tal circunstância argumenta que a lei não o proíbe, que tem
discricionariedade e que o Jaguar é mais confortável. Isso não faz o menor sentido, em que pese
Deve-se ter cuidado para não vulgarizar o instituto da improbidade administrativa. Vale
lembrar que nem tudo que for imoral será improbidade, pois está lógica não faz sentido. Há
inequívoco que a Lei 8.429/1992 é uma lei que trabalha em uma relação muito próxima ao
parâmetros éticos.
Assim, o princípio da moralidade é aquele que mais influência no alcance e aplicação da Lei
República.
O princípio da publicidade aparece no art. 37, da C onstituição, que, por sua vez, tem no art.
5º, incisos XXXIII e LX, as suas exceções. C omo se trata de um princípio de estatura constitucional,
as exceções, ou seja, aquelas situações em que o sigilo poderá ser mantido, devem estar
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte: (Redação dada pela Emenda C onstitucional nº 19, de 1998) (grifamos)
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo
da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da
intimidade ou o interesse social o exigirem;
Ressalte-se que a Lei de Acesso à Informação (Lei 12.527/2011) tem claro fundamento
constitucional.
É importante destacar que no inciso XXXIII acima transcrito temos uma exceção: Se uma
Administração não precisa divulgar. C ontudo, se não for este o caso, ela tem até um dever de
requerimento específico.
informações são até divulgadas mais por questão de fofoca do que para satisfazer o interesse da
coletividade, por exemplo, as informações relativas ao quanto foi gasto por um servidor com
medicamentos no final do mês ou qual seu gasto com pensão alimentícia, não têm nenhum
interesse público.
Existem órgãos públicos que divulgam estas informações a pretexto de estarem fazendo
um bem a toda sociedade, mas na opinião do professor, que reconhece que o tema é polêmico,
acaba-se promovendo a divulgação de informações da vida privada das pessoas, que não
interessam à coletividade.
C omo este tema virou um tabu, ainda não chegamos a um nível de discussão mais sereno
em que se possa buscar soluções razoáveis para esta questão. P or exemplo, é importante fazer a
divulgação de quanto o servidor ganha, para que a sociedade tenha em mente quanto ele custa
para o Estado, porém, a informação de quanto e com o que ele gasta, já não é do interesse
público.
O outro inciso do art. 5º, que também traz uma exceção ao princípio da publicidade, tem o
seguinte teor:
Desse modo, pode-se ter uma manutenção do sigilo para a proteção da intimidade ou da
vida privada. O que mudou bastante foi este conceito “vida privada”. Em tempos de redes sociais,
o que se considera espaço público foi elastecido, sendo, portanto, muito mais difícil, nos dias de
hoje, sustentar uma argumentação de que uma dada informação pertence a vida privada.
encontrar um ponto de equilíbrio. Desse modo, quando esta matéria for cobrada em prova, deve-
se ater ao texto da Lei 12.527/2011. P or esta razão, apesar da análise desta lei não ser objeto
deste curso, é importante que o aluno faça a leitura deste texto normativo.
atuação estatal, em um cenário em que o Estado se afasta da execução direta de uma série de
executor.
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao
Este novo perfil de Estado se preocupa mais com a qualidade dos serviços prestados,
pouco importando se quem vai executar será uma entidade do terceiro setor, uma empresa
terceirizada, etc. O que importa saber é se os serviços prestados sob responsabilidade do Estado
têm qualidade.
É neste contexto que ocorre a introdução do princípio da eficiência no art. 37, caput. O
complexo, árduo, uma vez que o mais difícil para o juiz ou para o conselheiro/ministro do Tribunal
de C ontas é encontrar o ponto de equilíbrio entre o que é papel do administrador e o que é papel
do órgão controlador, ou seja, identificar quando o controlador passa a ter uma indevida ingerência
Eficiência é algo muito abstrato. P or exemplo, a conclusão que considera uma contratação
ilegal ou inconstitucional por ofensa ao princípio da eficiência já que existe uma outra tecnologia
mais moderna e eficiente e, por isso, o Município X não deveria contratar tal fornecedor.
No caso concreto, haverá que se observar que, muitas vezes, o ente não dispõe de
recursos suficientes para contratar a tecnologia mais avançada. Suponha-se, por exemplo que o
Município X não tenha verba para comprar um lote de impressoras à laser, que dentro de um
prazo traria uma economia. Naquele momento, o que é possível ser feito é adquirir impressoras
jato de tinta por um preço mais barato para, futuramente, serem progressivamente substituídas.
P ortanto, o controle jurisdicional ou do Tribunal de C ontas não pode interferir nas escolhas
pois, de um lado temos o gestor fazendo as escolhas discricionárias dentro do que é proporcional e
eficiente e, de outro lado, o controlador evitando que o administrador faça escolhas ineficientes.
Neste ponto, o professor traz ao debate sua experiência como integrante do C NMP , em
relação à tecnologia da informação. Muitas vezes, um órgão técnico exige que um Ministério
P úblico específico siga um determinado software, ou adote uma determinada tecnologia e aquele
administrador deve atuar com eficiência e aproveitar ao máximo os recursos disponíveis. Ele deve
Além disso, não pode desconsiderar o princípio da legalidade, pois não podemos vulgarizar
o princípio da eficiência para permitir que as leis sejam abandonadas. Ou seja, se temos uma regra
legal, razoável, que não afronta de maneira gritante o texto constitucional e prevê uma solução
que esta regra é ineficiente, pois há uma solução melhor, de modo que a dita lei deve ser afastada
C onvém dizer que tanto o princípio da eficiência quanto o da legalidade possuem estatura
constitucional. Em algumas situações o princípio da eficiência afastará eventual regra legal que
seja flagrantemente ineficiente ou veicule uma solução para a Administração que não se mostra
satisfatória. C ontudo, isso deve ser evitado ao máximo, sob pena de perpetrarmos um abandono
do Estado de Direito.
concepções com base na supremacia do interesse público, seja ao discutir o porquê de os bens
públicos não poderem ser penhorados, a continuidade do serviço público. Esta é uma ideia mais
Ressalta-se que este princípio não está previsto em nenhum artigo específico da C RFB. Ele
Vale destacar que Renato Alessi fez uma divisão do interesse público, que se tornou muito
interesse público é foco das P rocuradorias dos Estados ou dos Municípios, da Advocacia da União,
P rocuradorias Federais.
C omo se sabe, o MP não atua na execução fiscal, por exemplo, já que não lhe cabe cuidar
do interesse público secundário. P ode ser que, eventualmente, haja uma coincidência entre o
contrário ao interesse do Erário. É por isso que o MP pode atuar contra um ente da Federação,
C umpre salientar que, hoje em dia, há entendimentos doutrinários no sentido de que não
existe supremacia do interesse público sobre o privado [3]. No Rio de Janeiro, autores como
Gustavo Binenbojm, Alexandre Aragão e Daniel Sarmento, têm defendido que não faz sentido
Nota da monitoria
P or esta razão, não se pode dizer que toda vez que o interesse público estiver em jogo ele
prevalecerá sobre o interesse privado. A ideia é equivocada porque o interesse privado faz parte
do interesse da coletividade.
Se isso não fosse verdadeiro, o anão até hoje está sendo arremessado na França [4] e o
sequestrador poderia ser torturado para dizer onde a vítima se encontra, pois seria este o
interesse da coletividade. O ser humano não pode ser um meio para um fim, ele é um fim em si
mesmo.
Nota da monitoria
Nesta reflexão, observa-se que não há nenhuma procedência arremessar um anão com
um canhão, por flagrante violação à dignidade da pessoa humana. Logo, não é possível para
separar interesse público de interesse privado e decidir que um é mais importante do que o outro.
P eter Häberle tem um livro que trata do tema "o interesse público como problema
jurídico". Nesta obra, o professor alemão discute que não existe um conflito entre interesse
público e privado, o que existe é um conflito interno. O interesse privado é uma parte de um todo
(Teilnahme).
EXEMPLO: Um sequestrador escondeu uma criança em algum lugar e só ele sabe onde ela
está. A polícia não pode, sob tortura, obrigar o criminoso a revelar o esconderijo. Se houvesse uma
supremacia do interesse público, não teríamos dúvidas que seria legítimo torturar o sequestrador
para revelar o local que deixou a vítima. Há limites que não podem ser ultrapassados.
direitos fundamentais desempenham um papel que antes não desempenhavam, fica difícil falar
produtiva não sabemos dizer com precisão se o que está em jogo é interesse público ou privado.
desarrazoada.
entende pelo princípio do interesse público, alinhado com a doutrina de Humberto Ávila, Daniel
Sarmento, Alexandre Aragão e outros. C ontudo, esta doutrina não é pacifica, tendo, de outro
lado, vozes importantes, como as de Maria Sylvia Di P ietro, que defendem a prevalência do
importância para o Direito Administrativo, pois tem servido de fundamento para diversos
institutos como desapropriação, poder de polícia, etc. P ortanto, não é raro ainda encontrarmos a