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GRAMÁTICA NA REDAÇÃO:

USO DA CRASE
Quando a preposição* a está justaposta ao artigo** a (as), isto é, quando
a preposição a vem seguida de artigo definido feminino (singular ou plural),
fundem-se os dois sons da vogal a em um só. Na escrita, essa fusão é
representada pelo acento grave (à). À essa fusão chamamos crase (crasear o a
= fundir preposição e artigo).
Antes de qualquer palavra feminina não precedida por artigo indefinido
(uma, umas), supõe-se a existência de artigo definido (a, as), mesmo que oculto.
Portanto, caso haja emprego da preposição a antes de uma palavra feminina, o
a deve ser craseado (à).

“Além disso, é imprescindível que o Poder Público destine maiores


investimentos à capacitação de profissionais da educação especializados no
ensino inclusivo e às melhorias estruturais nas escolas, com o objetivo de
oferecer aos surdos uma formação mais eficaz.”
(Isabella Barros, 2017)

[o Poder Público] [destine] [maiores investimentos] [a (a) capacitação] [...]

A (PREPOSIÇÃO)
SUJEITO VERBO OBJ. OBJ. + A (ARTIGO) +
DIRETO INDIRETO SUBSTANTIVO
FEMININO

* Preposições servem como ponte entre dois termos. A preposição a pode ser
usada para conectar nomes (substantivos e adjetivos) ou um nome a um verbo
(transitivo indireto). Ex.: “Os alunos devem ser obedientes a seu professor”; “O
problema associa-se a fatores de risco”.
** Artigos sempre antecedem substantivos. Por isso, qualquer palavra ou
expressão fica substantivada (tem valor de substantivo) se for antecedida por
artigo (ex.: “o respeitar é fundamental para a convivência humana” – o verbo
respeitar é substantivado porque é antecedido pelo artigo o). Os artigos podem
ser indefinidos (um, uns, uma, umas) ou definidos (o, os, a, as).
REGRAS GERAIS PARA O USO DA CRASE
USA-SE CRASE
(1) Antes de palavra feminina:
É preciso que o órgão governamental se dedique à captação de recursos.

(2) Na designação de horas:


Os policiais chegaram à uma hora e saíram às cinco.

(3) Em algumas expressões formadas por palavra feminina:

à força, à míngua de, à maneira de, à medida que, à toa, à


semelhança de, à vista de, à imitação de, às pressas, às ocultas, às
vezes

(4) Quando se puder subentender uma palavra feminina antes de palavra


masculina:
Uma nota foi emitida declarando que os áudios divulgados foram entregues à
[estação da] Rádio Nacional pelo jornalista.
Machado de Assis é um importante marco referencial para a literatura brasileira.
Sua escrita à [moda/ maneira de] Shakespeare, à [moda/ maneira de] Dante e
à [moda/ maneira de] grandes autores realistas da época, tais como Balzac,
formatou o movimento realista no Brasil.

(6) Haverá fusão entre a preposição a e os pronomes aquele(s)/ aquela(s) e


a(s) qual(is):
Prevalece, no país, a desigualdade social, à qual são sujeitadas pessoas de
baixa renda.
Em momentos de crise, tanto grandes empresas quanto indivíduos
trabalhadores estão em situação de risco e necessitam de auxílio
governamental. No entanto, os recursos são direcionados àqueles, na medida
em que estes são negligenciados pelas políticas públicas.

NÃO SE USA CRASE


(1) Antes de palavra masculina (caso a palavra seja antecedida por artigo, pode
haver a fusão entre a e o = ao):
O governo deve se posicionar a respeito dessa problemática, visando ao (a+o)
bem-estar da população.

(2) Antes do artigo feminino uma:


O Estado deve aspirar a uma melhoria do quadro.

(3) Antes de verbo:


Os professores dispuseram-se a disponibilizar as aulas online.

(4) Antes de pronome pessoal e de tratamento:


Foram destinadas a ela medidas restritivas.
O tribunal concedeu o direito de defesa a Sua Excelência.

(5) Antes de pronome indefinido (todos, tudo, algum, alguém, nenhum, ninguém),
demonstrativo (exceto aquele/s, aquela/s), relativo (exceto a qual, as quais) ou
interrogativo:
A Constituição garante a toda nação o direito à educação.
Dá-se o nome de xenofobia a essa repulsa por estrangeiros.
A que causas se relaciona a precarização do ensino? São notórias para a
manutenção do problema a negligência governamental e a falta de perspectiva
de futuro de muitos alunos.
Esses jovens, a quem se impõem as consequências mais severas da falta de
investimentos, são abandonados pelo Poder Público a um ciclo vicioso de
manutenção de pobrezas.

(6) Antes de nome de lugar que se use sem artigo:


Os Estados Unidos apresentam um sistema de saúde extremamente excludente
e superfaturado. Se comparado a Cuba e à sua prioridade em termos de saúde,
observa-se um histórico de medidas equivocadas tomadas pelo país de Trump.

(7) Antes de numeral (exceto na designação de horas):


O vilarejo fica a vinte quilômetros da cidade.
USO FACULTATIVO (opcional)
(1) Antes de pronomes possessivos (meu, minha, seu, sua), a presença do
artigo é opcional, e, portanto, o uso de crase torna-se também opcional:
Os governantes devem obedecer a/ à sua legislação.
Essas populações não podem ter o acesso a/ à sua garantia legal negado.

(2) Antes de nomes próprios femininos:


Conforme determina o artigo 144 da Constituição, a segurança pública é dever
do Estado e direito de todos. No entanto, esse direito não foi assegurado a/ à
Agatha Félix, criança de 8 anos baleada no Rio de Janeiro.

RESUMINDO...
• A crase sempre será usada antes de palavras femininas (subentendidas ou
não).
• Não será usada quando a preposição a precede numerais, a não ser que
haja marcação de hora.
• Não será usada antes de verbos.
• Não será usada antes de artigo indefinido (uma).
• Não será usada antes de qualquer pronome, exceto antes de a qual e
aquele/a.

ARTIFÍCIO DIDÁTICO
* Usaremos à (ou às), no feminino, quando, no masculino, usarmos ao (ou aos).
** Se uma palavra feminina no plural for antecedida pela preposição a, podemos
omitir o artigo definido (as), mantendo apenas a preposição; ou fundir os sons
da preposição a e do artigo as, o que resulta na forma às.
*** Antes do nome de lugar, empregamos a (preposição sem fusão com artigo)
quando, ao usar outra preposição (de ou em), esta se empregaria sozinha,
desacompanhada de artigo.
Foram a Copacabana. (Vieram de Copacabana. Moram em Copacabana.)
Foram à Tijuca (Vieram da [de+a] Tijuca. Moram na [em+a] Tijuca.)

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
LIMA, Rocha. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 49. ed. Rio de
Janeiro, 2011. p. 464-471.

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