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DIREITO PROCESSUAL CIVIL III

Catarina de Sottomayor Barbosa

2017/2018
FACULDADE DE DIREITO DE LISBOA
2º Semestre
Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

Conteúdo
I. ASPECTOS GERAIS DA EXECUÇÃO .................................................................................................. 2
II. TRAMITAÇÃO DO PROCESSO EXECUTIVO ................................................................................. 8
III. CONDIÇÕES DA EXECUÇÃO .......................................................................................................... 14
IV. OPOSIÇÃO À EXECUÇÃO ................................................................................................................ 35
V. CONSTITUIÇÃO DA GARANTIA PATRIMONIAL ..................................................................... 44
VI. IMPUGNAÇÃO DA PENHORA ....................................................................................................... 65
VII. EXECUÇÃO DA GARANTIA PATRIMONIAL ........................................................................... 78

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

I. ASPECTOS GERAIS DA EXECUÇÃO


§ 1.º Enquadramento geral
O que se sucede se não houver cumprimento
• Sanção pecuniária compulsória- forma de impelir ao cumprimento
• Ação executiva- art.º 10/4 são aquelas em que o credor requer as providencias
adequadas à realização coativa de uma obrigação e destinam-se a permitir o
cumprimento coercivo da obrigação, através do poder de autoridade do estado
art.º 10/5.
No âmbito de processo declarativo faz-se referência ao art.º 20/1 CRP que consagra o
direito de acesso aos tribunais.
O processo executivo assegura o direito à prestação do credor, direito que não se discute
nesta ação pois já foi reconhecido na ação declarativa. O ius imperium não é utilizado
para decidir, mas para executar, penhorar.
Não se recorre à ação executiva quando a ação declarativa é improcedente, quando o réu
cumpre voluntariamente a condenação ou sem um título executivo, que pode ser uma
sentença ou outros documento- art.º 703.
Não é obrigatório que seja precedida de uma ação declarativa, se a obrigação do devedor
constar de um título executivo extrajudicial, o credor pode intentar de imediato uma
ação executiva.
O processo executivo para pagamento de quantia certa pode ser:
→ Execução universal- processo de insolvência. É universal pois nesse processo podem
intervir todos os credores do insolvente, e porque se agredi todo o património do
devedor.
→ Execução singular- existe um único sujeito ativo e um único Art.º 786- o agente de
execução deve citar os
sujeito passivo, não sendo admitida a intervenção de outros credores titulares de
credores nessa execução. Este modelo favorece o credor que atue direitos reais de
garantia para que estes
com maior celeridade na execução patrimonial do devedor. reclamem os seus
créditos sobre os bens
Contudo, este processo é tendencialmente singular, na medida em penhorados.
Art.º 824 CC- a venda
que admite a intervenção de outros credores do executado, dando executiva acarreta a
caducidade dos bens
essa intervenção lugar a um concurso de credores. penhorados
A competência executiva é exclusiva do estado, é o único titular,
mas pode delegar o exercício dessa função a outros órgãos, como é o caso do agente de
execução.

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Art.º 47/1 Lei… os tribunais arbitrais não têm poder executivo. O processo executivo é
um processo de agressão, os particulares não podem exigir coativamente sem recorrer
aos tribunais judiciais.
Art.º 817 ss CC- regulam a realização coativa da prestação. Existe um direito de
execução (contra o devedor) e um direito à execução (utilizado contra o estado. Só pode
ser exercido através dos órgãos coativos do estado).
A finalidade da execução pode ser o pagamento da quantia, a entrega de uma coisa ou
uma prestação de um facto.
Art.º 601 CC- o património é a garantia geral das obrigações do seu titular.
Sujeitos- são as partes da execução. O exequente e o executado, mas terceiros podem
intervir, nomeadamente titulares de garantias reais.
Objeto- direito à prestação ou pretensão. Há um objeto imediato da execução, o direito
de execução, e um objeto mediato…
Atos de execução- são atos constitutivos e não postulativos.
Para que uma pretensão possa ser objeto de processo executivo é necessário que seja
exequível:
• Intrínseca- tem de ter intrinsecamente determinadas características para
que possa ser objeto. Art.º 713- certa, exigível e líquida.
• Extrínseca- pressupõe um título executivo art.º 10/4.

§ 2.º Aspetos estruturantes


→ Modalidades de execução
Art.º 10/6 comporta 3 modalidades que se distinguem pelas medidas
necessárias à execução.
o Execução para pagamento de quantia certa- quando são relativas a moeda que
não tem curso legal no nosso país, o professor Castro Mendes entende que
deve ser considerada prestação de entrega de coisa. MTS entende que se for
convertível para o euro será execução do pagamento.
Assim, inclui obrigações de quantidade, de moeda especifica e em moeda
estrangeira.
Não sendo a prestação de facto voluntariamente cumprida, o credor pode obter
a sua realização coativa através da penhora e venda subsequente do património
do devedor art.º 817 CC

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o Execução para prestação de facto- aplica-se


Execução especifica- aquela
quando o título executivo compreende uma em que se requer exatamente
o que se tem direito. A
obrigação de prestação de facto positivo ou execução é não-especifica
quando se requer um
negativo art.º 828 e 829 CC. Se o facto revestir a sucedâneo patrimonial da
natureza fungível, o exequendo pode requerer prestação devida.
Não é especifica na prestação
que a prestação seja realizada por terceiro à de facto infungível, pois não
pode ser realizada por
custa do devedor, se revestir natureza infungível terceiro, bem como a ação de
pagamento de uma quantia. A
o exequente apenas pode requerer a conversão execução específica de um
contrato promessa é uma ação
da execução para prestação de facto em execução de declarativa constitutiva.
para pagamento de quantia certa art.º 868/1 e
869.
o Execução de entrega de coisa certa- tem lugar nos casos em que a obrigação
constante do título executivo consista na prestação de uma coisa determinada
art.º 828 CC. O exequendo requer ao tribunal que a coisa seja apreendida ao
executado e lhe seja posteriormente entregue art.º 827 CC, 859 e 861.
→ Formas do processo- art.º 546/1
o Especial- sempre que a lei preveja a forma especial, esta é a forma aplicável
art.º 546/2, 1º parte. Podem ser classificados em:
▪ Stricto sensu
• Execução por alimentos
• Execução para entrega de coisa imóvel arrendada.
▪ Processos mistos
• Venda e adjudicação do penhor
• Posse ou entrega judicial
• Execução do mandado de despejo de prédio urbano
• Investidura em cargos sociais
• Providencias cautelares
▪ Atos executivos avulsos
• Adjudicação ou venda na divisão de coisa comum
• Venda, adjudicação e pagamento em liquidação de herança vaga
em benefício do estado
• Entrega de bens em processo de inventario
• Apreensão judicial na apresentação de coisa ou documento
o Comum- âmbito de aplicação subsidiário, na medida em que se aplica a todos
os casos a que não corresponda um processo especial art.º 546/2, 2º parte.

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Art.º 550- a execução para entrega de coisa ou prestação de facto segue forma única,
mas a execução para pagamento de quantia segue a forma sumária. Neste último, a
citação é posterior à penhora.
O nº 2 lista situações em que se verifica a forma sumária por dispensa legal de citação
prévia.
a) Em decisão arbitral ou judicial nos casos em que esta não deva ser executada
no próprio processo;
o Pagamento de quantia certa- se dever ser executada no próprio
processo segue a forma sumaria pelo art.º 626/2
o Entrega de coisa cerra- corre em forma única art.º 550/4 e 626/1
o Prestação de facto- corre em forma única art.º 550/4 e 626/1
o Entrega cumulada- corre na forma sumaria adaptada art.º 626/3
b) Em requerimento de injunção ao qual tenha sido aposta fórmula executória;
c) Em título extrajudicial de obrigação pecuniária vencida, garantida por hipoteca
ou penhor;
d) Em título extrajudicial de obrigação pecuniária vencida cujo valor não exceda o
dobro da alçada do tribunal de 1.ª instância.
o Corre numa forma sumaria limitada, prevista no art.º 855/5.
Nº 3- existem situações em que se aplicaria o processo sumário, mas não ocorre devido
a:
a) Nos casos previstos nos artigos 714.º e 715.º;
b) Quando a obrigação exequenda careça de ser liquidada na fase executiva e a
liquidação não dependa de simples cálculo aritmético;
c) Quando, havendo título executivo diverso de sentença apenas contra um dos
cônjuges, o exequente alegue a comunicabilidade da dívida no requerimento
executivo;
d) Nas execuções movidas apenas contra o devedor subsidiário que não haja
renunciado ao benefício da excussão prévia. Nos termos do art.º 755/1 o
devedor subsidiário tem direito a, na própria execução, pedir a execução
especifica.
Assim, cabe a forma ordinária nos casos expressos do art.º 550/3 e todos os casos que
não caibam no Nº 2. Cabem ainda na forma ordinária, segundo o Nº1, a execução de
título extrajudicial de obrigação vencida de valor superior ao dobro da alçada de 1º
instância.
Art.º 727- há processo sumario quando haja dispensa judicial de citação previa.

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→ Processo executivo internacional


Ocorre quando se verifica uma conexão objetiva do objetivo. Vigora a lei do foro.
O princípio da territorialidade determina que os poderes soberanos que um estado
exerce circunscrevem-se ao seu território o que condiciona a competência
internacional dos tribunais portugueses.
→ Especialização da execução
O processo executivo é relativamente linear.
A discussão é acidental uma vez que o processo executivo não é destinado a discutir a
existência do direito, para tal serve a ação declarativa que originou o título executivo.
O carater formal da execução traduz-se no título executivo em que se baseia.
O carater coativo também é um aspeto estrutural bem como a coerção.

→ Registo de execução
Existe um registo informático dos bens penhorados e executados previsto no art.º 717
também regulado pelo dl 201/2003 10 de setembro
Art.º 16-A- publicidade da execução respeita às execuções extintas com pagamento
parcial ou por não terem sido encontrados bens penhoráveis no património do
executado.
→ Princípios processuais da execução
o Princípio do dispositivo-
o Princípio da cooperação- pressupõe um dever de prevenção art.º 736/4. O
art.º 750/1 entende que o executado tem o dever de transparência
relativamente ao seu património penhorável
o Princípio da gestão processual- é mais restrita do que no âmbito da ação
declarativa. Qualquer adaptação do processo dificilmente tem aplicação na
ação executiva.
→ Ponderação de interesses
Estão em causa interesses do exequendo e do executado e possivelmente de terceiros.
Prevalecem os interesses do exequendo, o que é expresso na ausência do princípio do
contraditório.
Contudo, a medida executiva deve ser proporcional ao título executivo. EX: não se deve
penhorar um imóvel por uma divida de mil euros. É uma medida de proteção do executado.

Quando há intervenção de terceiros:


o Credores do executado- quando todos os credores do executado podem intervir
na ação

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o Certos credores- quando apenas certos credores podem intervir na ação. Art.º
886/1, al. b) - na execução podem intervir os credores que têm garantias reais
sobre os bens penhorados. É este o regime que vigora no ordenamento jurídico
português.

§ 3.º Órgãos da execução


Tem um caracter descentralizado devido aos seus dois órgãos de execução:
→ Agente de execução- é o motor da execução em nome do Lei 154/2015-
estado. Os atos praticados pelo estado são-no pelo agente de estatuto dos
solicitadores em geral
execução. Exerce ius imperium em nome do estado, não sendo e do agente de
execução em especial.
mandatário do exequendo. Art.º 162/3 Lei 154/2015 Lei 77/2013
Portaria 282/2013
Arts 720/1 e 724/1, al c) - é designado pelo exequente de
entre os registados em lista oficial, devendo tal designação ser feita no requerimento
executivo. Se a designação não for feita ou for rejeitada, compete a secretaria art.º
720/2 e 8
Pode ser substituído de forma justificada, pelo exequente, produzindo a substituição os
seus efeitos na data da comunicação ao agente de substituição.
Tem competências:
o Competências pré-executivas- através do procedimento extrajudicial pré-
executivo. Lei 32/2014.
o Competências executivas- começam com um requerimento junto do juiz. Tem
o poder geral de direção do processo art.º 719. Compete praticar todas as
diligencias de execução que não estejam atribuídas à secretaria ou sejam de
competência do juiz.
o Art.º 719/2- o agente é competente mesmo depois de extinta a instância. É
competente para tratar de qualquer questão que surja depois da extinção

O agente de execução pratica duas categorias de atos:


▪ Atos executivos propriamente ditos-Atos materiais de execução
▪ Atos decisórios- profere despachos como por exemplo o despacho que fixa a
modalidade dos termos da venda.
Art.º 533/2, c) CPC- as custas de parte são pagas com o produto de execução.
Art.º 721/3- a ação extingue-se por falta de pagamento ao agente de execução
Art.º 849/3- tem competência para extinguir a ação executiva,

Em certos casos, o agente de execução pode ser o oficial de justiça art.º 722/1.

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Os honorários devidos ao agente e as despesas por ele efetuadas são suportados pelo
exequente. Art.º 721.
Reclamação dos atos do agente de execução- O ato pode ter um meio específico
previsto no código (art.º 187ss). Naquilo que não caiba nos meios específicos vigora o
art.º 723/3.
Os atos de ação executiva que não sejam realizados pelo juiz, são atos administrativos.
→ Juiz de execução
→ Secretaria de execução- tem competência geral em qualquer processo, nomeadamente
nos apensos declarativos.

II. TRAMITAÇÃO DO PROCESSO EXECUTIVO

§ 4.º Aspetos da tramitação


Uma sentença com eficácia unilateral, os efeitos pretendidos pelo autor junto do estado
alcançam toda a sua utilidade sem a intervenção do réu, enquanto que nas sentenças
bilaterais é necessária a colaboração do réu.
→ Simples apreciação- apenas delimitam o direito. São unilaterais
→ Constitutivas- o juiz apenas modifica uma esfera jurídica. são unilaterais.
→ Condenatórias- são as únicas que podem ser incumpridas. Correspondem a direitos ou
poderes relativos a uma prestação. É uma sentença bilateral e pode ser objeto de
processo executivo. Art.º 703/1, a) - a sentença condenatória é um título executivo.
Art.º 817 CC- prevê o direito de execução. Fundamento material para qualquer ação
executiva.
Art.º 20/1 CRP- o direito à tutela subjetiva engloba tanto a ação declarativa bem como
a execução forçada.

4.1-Pagamento de quantia certa


1. Fase introdutória- pode seguir a forma ordinária ou a forma sumária.
o Ordinária- compreende a petição executiva, recebimento, apreciação judicial
liminar, citação e oposição.
i. Requerimento executivo
Ato pelo qual o credor dá o impulso processual de arranque da ação
executiva. Art.º 724. O conteúdo pode ser dividido em 3 funções:
➢ Configuração subjetiva da instância

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o Identificação do tribunal
o Identificação das partes, através dos nomes, domicílios ou
sedes, NIF, profissões locais de trabalho e NIC.
o Indicação do domicílio profissional do mandatário judicial
➢ Configuração objetiva da instância
o Elementos comuns- elementos obrigatórios cuja falta
implica a recusa de recebimento do requerimento pela
secretaria ou pelo agente de execução.
▪ Indicação do fim da execução
▪ Formulação do pedido
▪ Indicação do valor da causa
o Elementos eventuais
▪ Quanto à pretensão executiva
• Exposição sucinta dos factos quando não
constem do título executivo
• Alegação dos factos que fundamentam a
comunicabilidade da divida dos cônjuges
• Liquidação por simples cálculo aritmético
ou incidente de liquidação
• Escolha da prestação
• Alegação da verificação da condição
suspensiva
▪ Quanto à relação processual
• Designação do agente de execução
• Pedido de dispensa de citação previa
• Pedido de citação previa
➢ Preparação da penhora e pagamento- faz-se pela indicação de
bens à penhora descriminados e identificados sempre que possível
e na medida do que for possível.
Art.º 726/6- o requerimento executivo só se considera apresentado na
data de pagamento da quantia inicialmente devida ao agente de
execução ou, quando aplicável, na data do pagamento da retribuição
previsto no art.º 749/8 se depois da primeira data.
A dedução do requerimento de sentença é feita nos próprios autos da
ação declarativa embora tramitada de forma autónoma. A
regulamentação consta do art.º 4/1 Portaria 282/2013.

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→ O requerimento é dirigido ao tribunal que proferiu a decisão em


1º instância
→ E exequente deve indicar a decisão judicial que pretende
executar
→ Quando se pretenda executar pedidos com finalidade diversa
art.º 710 é designado um agente de execução
→ O requerimento de execução considera-se apresentado apenas
na data do pagamento das quantias do art.º 724/6
ii. Admissão do requerimento pela secretaria
A secretaria deve proceder ao controle liminar administrativo, que se poder
fazer em três níveis:
➢ Requisitos externos da pretensão executiva- A secretaria na
forma ordinária art.º 558, e o agente de execução na forma sumaria
art.º 855/2, a), devem conferir se há:
o Uso do modelo de requerimento executivo
o Configuração subjetiva da instância
o Elementos comuns da configuração objetiva da instância
o Comprovativo do pagamento da taxa de justiça
o Assinatura
o Redação em língua português
A falta de um destes requisitos implica a recusa de admissão do
requerimento executivo art.º 725/1. Deste ato cabe reclamação
para o juiz, ato irrecorrível art.º 725/2.
O exequente pode apresentar outro requerimento executivo ou
documento em falta no prazo de 10 dias subsequentes à recusa art.º
725/3
➢ Pressupostos processuais da execução- só existe na forma
sumaria pois apenas se justifica quando não caiba ao juiz despacho
liminar.
➢ Existência e condições da própria pretensão executiva- a falta
de causa de pedir complementar, de pedido, de apresentação de
título executivo, de acertamento da obrigação exequenda ou se for
manifesta insuficiência do título, o requerimento deve ser recusado
art.º 725/1 e 855/2, a).

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iii. Enviada para o juiz para emitir o despacho liminar


O despacho liminar pode ser de indeferimento liminar nos casos do art.º
726/2:
a) Falta ou insuficiência manifesta do título
b) Exceções dilatórias não supríveis de conhecimento oficioso
c) Fundamentos de oposição à execução de conhecimento oficioso
d) Factos impeditivos, modificativos ou extintivos da obrigação
exequenda de conhecimento oficioso e que sejam manifestos
e) Quando se trata de decisão arbitral, quando o litígio não pudesse
ser cometido à decisão por árbitros
O despacho pode ser recorrido para a relação, independentemente do valor
da causa art.º 629/3, c) ex. vi art.º 551/1.
Se ocorrer um vicio que não determine o indeferimento liminar, o juiz
deverá proferir um despacho de aperfeiçoamento para suprimento de
irregularidades do requerimento executivo e sanação da falta de
pressupostos art.º 707.
iv. O juiz profere o despacho liminar de citação do executado
Não havendo irregularidades, o juiz profere o despacho de citação do
executado para o prazo de 20 dias pagar ou opor-se à execução art.º 726/6.
Art.º 727- o exequente pode pedir ao juiz a dispensa de citação previa por
fundado receio da perda da garantia patrimonial. O receio é justificado
sempre que conste a menção da frustração total ou parcial, de anterior ação
executiva movida contra o executado.
A citação é feita nos termos gerias do art.º 10 portaria 282/2013.
Será feita pelo agente de execução art.º 729/1, por via postal art.º 228. Se
não for possível, é realizada por contacto pessoal do agente de execução
com o executado art.º 231/2.
Se não for possível nenhuma destas vias, o agente de execução procede à
citação edital eletrónica do mesmo art.º 10/2 portaria 282/2013.
A citação tem vários efeitos:
→ Processuais
o Principal- constituição da relação jurídica processual entre
o executado e o tribunal e de modo estável art.º 259/2
o Secundário- litispendência. O credor está impedido de
colocar uma nova execução contra o autor com o mesmo

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objeto processual, mesmo que o título utilizado seja


diferente.
→ Materiais
o Colocar o reu devedor em mora no caso de obrigação pura
art.º 805/1 CC, art.º 610/2, b)
o Interrupção da prescrição de o réu for devedor e correr em
seu benefício o prazo de prescrição por força do art.º 323/1
CC
o Cessação da boa fé do possuidor art.º 564/a)
A falta de citação do executado, nos termos do art.º 188, ou a sua nulidade
art.º 191, tem lugar quando não hajam sido observadas as formalidades
prescritas na lei.
A falta de citação pode ser arguida pelo executado a todo o tempo art.º
198/2 e art.º 851/1.
Se o executado intervir na causa sem arguir logo, no ato, a falta de citação,
esta sana-se art.º 188

v. Pagamento ou oposição à execução


o Sumária- art.º 855- Requerimento executivo é enviado imediatamente para o
agente de execução e este faz o processo liminar. O agente de execução deve:
▪ Recusar art.º 725
▪ Suscitar a intervenção do juiz art.º 723/1, d), quando:
o Se lhe afigure provável uma causa de indeferimento e de
aperfeiçoamento liminar,
o Duvide da verificação dos pressupostos de aplicação da forma
sumaria
Se o processo houver de prosseguir, o agente dá inicio imediato às consultas e
diligencias prévias à penhora art.º 855/3. Importa distinguir:
❖ Se forem consumados atos de penhora a citação é feita no ato ou até 5 dias
a contar da efetivação da primeira penhora
❖ Se decorrerem 3 meses sem consumação de atos de penhora, indaga-se da
existência de bens junto de exequente e de executado art.º 750/1. A
execução extingue-se
o Sem citação do executado, no caso de o exequente não indicar bens
e se fruste a citação pessoal, não cabendo citação edital art.º 750/2
e 3 e 855

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o Com citação do executado, no caso do exequente e executado não


indicarem bens penhoráveis em 10 dias. Art.º 750/1.
Sendo apurados bens penhoráveis, prossegue a execução para a penhora.
→ Citação
Art.º 856/2- o executado é citado no ato da penhora, sempre que esteja
presente, ou nos 5 dias a contar da efetivação da penhora. O executado será
ainda informado:
• Art.º 856/1- do prazo de 20 dias para a dedução de oposição à
execução e à penhora
• Art.º 856/3- do ónus de dedução de oposição à penhora em cumulação
com a oposição à execução
• Art.º 750/1- se citado antecipadamente por falta de bens, da
cominação prevista no mesmo artigo
→ Oposição à execução e à penhora
Uma vez citado, dispõe de 20 dias para deduzir embargos de executado e
oposição, cumuladamente. Art.º 856/1 e 3.
Art.º 733- o regime de suspensão aplicável à forma sumario é o mesmo da
forma ordinária. Assim, a oposição à execução não tem efeito suspensivo salvo
os casos já analisados.
→ Responsabilidade do exequente
Na execução sem citação previa, o exequente está sujeito a responsabilidade
civil, multa e responsabilidade criminal art.º 858.
Estas sanções fundamentam-se na tutela do devedor que foi executado com
base na aparência de divida decorrente do título, sem possibilidade de
contraditório prévio.
Pressupostos comuns são a procedência da oposição à execução e a dispensa de
citação previa art.º 855ss
Como pressupostos especiais da responsabilidade civil devem ser considerados
o Ato- sequencia de atos processuais. O ato da penhora será o mais
potencialmente danoso
o Culpa- o exequente não atuou com prudência normal art.º 819 e 858.
A espécie de título é um dos fatores a ponderar no juízo de culpa e na
aferição da prudência normal.
o Nexo causal
o Dano- o valor da indemnização é o valor do dano art.º 374/1. Prejuízo
causado, lucros cessantes e danos futuros, desde que previsíveis.

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Independentemente da responsabilidade civil, fica ainda o exequente obrigado


a pagar multa, verificados os pressupostos da causalidade e da culpa. A
condenação da multa justifica-se com abuso de direito de ação executiva.
O valor da multa corresponde a 10% do valor da execução.
Nada disto impede a responsabilidade criminal do exequente art.º 819 e 858.
2. Penhora- gera uma indisponibilidade jurídica e material dos bens, garantindo
o cumprimento da execução. Atos preparatórios, atos de penhora, notificação e
oposição do executado ou terceiro
Art.º 839- a venda pode ser anulada no caso de proceder a oposição à penhora
ou à execução.
3. Reclamação de créditos- devem ser citados os outros credores com garantias
reais art.º 601 CC. O património do devedor nasce para todos os credores. Corre
em paralelo a ação principal, e está a cargo do juiz.
4. Venda e pagamento- A venda executiva extingue os direitos reais de garantia.
A forma mais frequente é por leilão eletrónico. Com o produto da venda é
efetuado o pagamento ao exequendo e aos outros créditos reclamados.

III. CONDIÇÕES DA EXECUÇÃO

§ 5.º Exequibilidade intrínseca


Art.º 713- A prestação deve mostrar-se certa, exigível e líquida. São pressupostos de
carater material, que intrinsecamente condicionam a exequibilidade do direito, na
medida em que sem eles não é admissível a satisfação coativa da prestação.

➢ Certeza
É certa a obrigação cuja prestação se encontra qualitativamente determinada.
Não é certa aquela em que a determinação da prestação, entre uma pluralidade,
está por fazer art.º 400 CC.
→ Obrigações alternativas
o Se a escolha pertencer ao credor- fará a escolha no requerimento inicial
da execução. Art.º 724/1, b).

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o Se a escolha pertencer ao devedor- é notificado Pode não haver um


para, no prazo da oposição à execução, se outro prazo de escolha
para um prazo de
não tiver sido fixado pelas partes e este não se cumprimento
esgotado. Cabe
tiver esgotado, declarar por qual das
saber se o prazo de
prestações opta art.º 714/1, na falta de escolha coincide
com o previsto
escolha pelo devedor ou no caso de para o
pluralidades de devedores e não houver cumprimento

maioria na escolha, escolhe o credor art.º 714/3


Se o prazo convencionado para a escolha tiver ultrapassado à data do
requerimento executivo, a devolução do direito de escolha ao credor
deu-se mesmo antes da ação executiva art.º 548 CC.
o Se a escolha pertencer a terceiro- há lugar, na fase liminar do processo
executivo, à sua notificação para o efeito art.º 714/2, e se não escolher
passa o exequente a fazê-lo.
→ Obrigações com faculdade alternativa
o Pelo devedor- O credor deve promover a execução do direito à obrigação
primária, cabendo ao executado no prazo da oposição, exercer a
faculdade alternativa.
o Pelo credor- caberá escolher no próprio requerimento art.º 724/1, b)
→ Obrigações genéricas
Só são incertas quando, no género em que se recorta o seu objeto, há uma
pluralidade de espécies podendo a quantidade que o devedor está obrigado a
prestar ser de uma ou outra dessas espécies.
Aplica-se o regime das obrigações alternativas.
Nas obrigações genéricas de quantidade, a indeterminação não respeita à
qualidade, mas quanto ao exemplar concreto. Aqui apenas falta concentrar a
obrigação art.º 408/2 CC. Na execução, a concentração do exemplar concreto,
passará por separação e medição de feitas pelo agente de execução art.º 861/2

➢ Exigibilidade
É exigível quando a obrigação se encontra vencida ou o seu vencimento
depende, segundo estipulação expressa ou a norma geral art.º 777/1 CC, de
simples interpelação do devedor, não estando dependente de contraprestação
nem o credor em mora
Não é exigível quando, não tendo ocorrido o vencimento, este não está
dependente de mora interpelação. É o caso quando:
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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

▪ Art.º 779 CC- o prazo certo ainda não decorreu


▪ Art.º 777/2 CC- o prazo é incerto e a fixar pelo tribunal
▪ Art.º 270 CC e 715/1- a constituição da obrigação foi sujeita a condição
suspensiva que ainda não se verificou
▪ Art.º 428 CC- em caso de sinalagma, o credor não satisfez a contraprestação
MTS- a exigibilidade é uma condição relativa à justificação da execução, sendo
que a certeza e liquidez seriam condições respeitantes à possibilidade da
execução. Sem a primeira não se justifica a execução e sem as segundas esta não
é possível,
Art.º 715/6- se uma parte da obrigação for inexigível e outra já for exigível,
pode esta executar-se imediatamente nos termos do art.º 804/6

→ Obrigações a prazo

Se for ilíquida, os juros


o Prazo certo- só decorrido este a execução é possível, pois até ao dia do
apenas começam a vencimento a prestação é inexigível. A mora do credor não impede a
contar depois de se
tornar líquida. Não propositura da ação executiva, como resulta do art.º 610/b) e 551/1.
ocorre no momento da
citação para a ação o Por facto ilícito- no momento do dano, já é exigido os juros de mora art.º
executiva, mas sim da
data da sentença de 805/2, b) CC.
liquidação.
o Prazo a fixar pelo tribunal- tem o credor de promover a fixação judicial
do prazo, nos termos dos art.º 1026 e 1027.
o Pactum de non exequendo- pelo qual o credor e devedor acordam em
que a obrigação, já vencida, não será sujeita a execução durante um
determinado prazo.
▪ Representa uma renúncia ao direito de ação, que é
irrenunciável
▪ No campo de direito disponível, não há razão para que o credor,
que pode remitir a obrigação, não se possa vincular a retardar a
sua execução.
É ilícito, mas se for entendido como estipulação de novo prazo de
cumprimento da obrigação, é valido.
→ Obrigações puras
O vencimento depende de um ato de interpelação, intimação dirigida pelo
credor ao devedor para que lhe pague. Art.º 805/1 CC.
Tratando-se de prestações exigíveis a todo o tempo, a citação equivale a
interpelação se esta não tiver tido lugar anteriormente.

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

Os juros só contam a partir da interpelação. Assim, o exequente terá vantagem


se demonstrar a existência de interpelação prévia à execução se quiser alegar
que a mora já se iniciou
→ Obrigações sob condição suspensiva
Só é exigível depois da condição se verificar. O art.º 715/1 a 4 exige ao
exequente a prova da verificação da confissão, sem o que a execução não é
admissível.
No caso de condição resolutiva, cabe ao executado, em oposição à execução,
provar que a condição, ulteriormente se verificou. Art.º 729/1, g)
→ Obrigações sinalagmáticas
O exequente deve provar que efetuou a prestação sinalagmática.

Na falta de certeza e exigibilidade, vigora o princípio do aproveitamento das ações art.º 6/2
e 590/2. Só no caso de o requerente não aperfeiçoar a petição é que se seguirá o
indeferimento do requerimento executivo art.º 726/5. Se a execução prosseguir sem que a
irregularidade seja sanada, há a possibilidade de se opor à execução art.º 729/e)

➢ Liquidez
É obrigação ilíquida aquela que tem por objeto uma prestação cujo quantitativo
não esteja ainda apurado. Tem lugar na fase liminar quando não deva fazer-se
no processo executivo.
Art.º 704/6- uma sentença ilíquida não constitui título executivo. Deve deduzir
um incidente de liquidação art.º 358/1
→ Depende de simples cálculo aritmético
O exequente deve fixar o seu quantitativo no requerimento inicial da execução,
mediante especificação e calculo dos respetivos valores art.º 716/1.
Acontece quando depende apenas de calculo aritmético baseado em factos
objetivos, não em factos controvertidos. Nunca se aplicaria no caso de danos
não-patrimoniais. Também não se aplica nos casos em que é preciso apresentar
prova.
Os juros começam a contar desde a interpelação art.º 805/1, salvo os casos do
nº2. Contudo, quando o pedido é ilíquido, só contam a partir da sentença de
liquidação art.º 805/3.
Deve ser deduzido um pedido líquido quando os juros continuem a vencer-se
na pendencia do processo executivo, sendo liquidados no requerimento inicial

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

os já vencidos e liquidados a final, pelo agente de execução, os vincendos art.º


716/2.
A liquidação pelo agente de execução tem lugar no caso de sanção pecuniária
compulsória. Executando-se a obrigação pecuniária, a liquidação não depende
de requerimento do executado, devendo ser feita a final art.º 716/3,
executando-se obrigação de prestação de facto infungível, o exequente tem de
a requerer, quer já tenha sido fixada na sentença declarativa, que se pretenda
que seja o juiz da execução art.º 868/1, 874/1, 876/1, c).
Estes são os únicos casos de pedido ilíquido admitidos na execução para
pagamento de quantia certa.
→ Liquidação não dependente de simples cálculo aritmético
O exequente, no próprio requerimento inicial da execução especificará os
valores que considera compreendidos na prestação devida e concluirá por um
pedido líquido art.º 716/1.
Procede-se à citação do executado que é feita com a advertência de que, na falta
de contestação, a obrigação se considera fixada nos termos do requerimento
executivo. A impugnação da liquidação só pode ter lugar em oposição à
execução art.º 716/4.
→ Liquidação por árbitros
Art.º 716/6- quando a lei especial determine ou as partes hajam estipulado que
a liquidação se faça por arbitro, a arbitragem tem lugar extrajudicialmente sem
prejuízo de ao juiz presidente do tribunal de execução caber a nomeação do
terceiro arbitro.
→ Liquidação da obrigação de entrega de uma universalidade
Quando o exequente pede que lhe seja entregue uma universalidade,
constituiria desnecessária complicação do acesso à justiça negar a
possibilidade de dedução genérica do pedido, na ação executiva, quando ao
exequente não seja possível fazê-lo no requerimento inicial.

Se não for requerida a liquidação de obrigação líquida, deve o juiz proferir despacho de
aperfeiçoamento e se não for aperfeiçoada, só ai pode vir a indeferi-la, podendo haver
oposição à execução art.º 729/e).

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§ 6.º Exequibilidade extrínseca


O dever de prestar deve constar dum título. Trata-se dum
A causa de pedir gera
pressuposto de carater formal, que extrinsecamente factos principais e facos
secundários. O facto
condiciona a exequibilidade do direito, na medida em que principal é o facto
aquisitivo do direito à
lhe confere o grau de certeza que o sistema reputa pretensão bem como a
exigibilidade da
suficiente para a admissibilidade da ação executiva. obrigação.
O título executivo constitui a base da execução uma vez A liquidez e a certeza não
fazem parte da causa de
que determina o fim e os limites da ação executiva. Assim pedir, mas sim do pedido

determina, o tipo de ação, o objeto, a legitimidade ativa e


passiva art.º 714 a 716.
Documento que representa a causa de pedir e o pedido.
O art.º 703/1 enumera quatro espécies de títulos:
→ Sentença condenatória- Constituem título executivo, as sentenças que
encerrem uma componente condenatória, ainda que de forma implícita.
RP- quando sejam obrigações típicas previstas na lei,
Art.º 535/2, c)- se o autor
não é necessário enunciá-las no contrato. A sentença propuser uma ação
condenatória, já tendo um
engloba as obrigações do contrato e da lei. Se não titulo executivo, apenas
decorrem da lei ou do contrato, não constam do fica obrigado a pagar as
custas.
título. As condenações implícitas restringem os
direitos do devedor, uma vez que este só sabe no que está a ser condenado
quando já o é. Nada impedia o credor de pedir a condenação in futurum na ação
declarativa. O que pode acontecer é uma constituição implícita de uma
obrigação, não uma condenação.
Às sentenças do art.º 703/1, a) são equiparados os despachos e outras
decisões ou atos de autoridade judicial que condenem no cumprimento duma
obrigação, assim como as decisões dos tribunais arbitrais. Art.º 705
Art.º 290/3- constituem títulos executivos as sentenças homologatórias de
transação celebrada entre as partes ou entre as partes e terceiros.
Para que a sentença seja exequível é necessário que
EFEITO DEVOLUTIVO
tenha transitado em julgado, ou seja, que seja Traduz-se em devolver ou
atribuir ao tribunal a
insuscetível de recurso ordinário ou reclamação art.º função de reexaminar a
questão resolvida pela
628. Salvo se tiver sido interposto recurso com efeito decisão recorrida. Efeito
meramente devolutivo art.º 704/1 o que significa meramente devolutivo
significa que não tem
que é possível executar a decisão recorrida na efeito suspensivo.

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

pendencia do recurso. Constitui hoje regra no recurso de apelação art.º 647 e


no recurso de revista art.º 676.
Se for instaurada execução na pendencia de recurso com efeito meramente
devolutivo essa execução sofrerá as consequências da decisão que venha a ter
nas instâncias superiores. Quando a causa vier definitivamente julgada, a
decisão proferida terá efeito de:
▪ Extinção- se for totalmente revogatória
▪ Modificação- se apenas parte revogar a decisão exequenda art.º
704/2
Proferida a condenação judicial genérica art.º 609/2 e não dependendo a
liquidação da obrigação de simples cálculo aritmético, esta tem lugar em
incidente no próprio processo declarativo art.º 704/6 e 358/2.
A sentença de declaração só se torna exequível com a sentença de liquidação
que a complementa.
A sentença proferida por tribunal estrangeiro é exequível após revisão e
confirmação pelo tribunal da relação competente art.º 706 e 979.
→ Documento exarado ou autenticado por Documento recognitivo-
notário ou outra entidade competente- são os documentos que
apenas formalizam o ato
títulos extrajudiciais art.º 703/1, b). São exarados de constituição de uma
obrigação não constituem
por notário o testamento publico e a escritura título executivo.
publica. São autenticados por notário aqueles que
por ele não exarados, lhe são posteriormente levados para que, na presença das
partes, ateste a conformidade da sua vontade e respetivo conteúdo.
O testamento é um título executivo quando o testador nele confessa uma divida
sua ou constitui uma divida que impõe ao sucessor. Em ambos os casos é
preciso aceitar a herança de forma a permitir a transmissão da divida e
legitimar passivamente o sucessor para a execução.
Relativamente a obrigações futuras de contratos real quod constitutionem,
art.º 707

→ Título de crédito- a letra de cambio, a livrança e o cheque são os únicos


documentos particulares a que a lei geral hoje confere exequibilidade.
o Letras de câmbio- título de crédito que consiste numa ordem pura e
simples dada por uma pessoa a outra, para que pague uma quantia
determinada a certa pessoa ou à ordem dela.

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

Quem tem na sua posse a letra de cambio pode ficar na posse dessa letra
e cobrá-la na data de vencimento, endossá-la a um terceiro para
liquidar eventuais débitos ou descontá-la imediatamente junto de uma
entidade bancaria.
Art.º 1 LULL- a letra de cambio deve conter os seguintes elementos:
1. Palavra letra inserida no texto do título
2. Mandato puro e simples de pagar uma quantia determinada,
isto é, conter uma ordem incondicional de pagamento de uma
determinada quantia pecuniária
3. Nome daquele que deve pagar
4. Época de pagamento art.º 33 LULL
5. Indicação do lugar de pagamento
6. Nome da pessoa a quem a ordem deve ser paga
7. Indicação da data e lugar onde a letra é passada
8. Assinatura de quem passa a letra
Faltando algum destes requisitos o escrito não produz efeitos como
letra.
Art.º 11 LULL- a letra de cambio pode ser transmitida por via de
endosso, o que implica a transmissão da propriedade da letra e de todos
os direitos dele emergentes art.º 14 LULL.
Art.º 43 LULL- no caso de ação por falta de aceite ou de pagamento, o
portador de uma letra pode exercer os seus direitos:
▪ No vencimento, se o pagamento não for efetuado
▪ Antes do vencimento, se houver recusa total ou parcial de aceite
▪ Falência do sacado ou de execução dos seus bens
▪ Falência do sacador de uma letra não aceitável
o Livranças- traduz-se numa promessa pura e simples, feita por uma
pessoa, pelo devedor, de pagar uma determinada quantia pecuniária a
uma outra pessoa ou à ordem dela, ou seja, ao credor.
A livrança não enuncia uma ordem de pagamento de uma pessoa a
outra e a favor de uma terceira, mas uma simples e diretamente uma
promessa de pagamento.
Art.º 75 LULL- a livrança deve conter os seguintes elementos:
1. Palavra livrança no texto do título
2. Promessa pura e simples de pagar uma quantia determinada
3. Época do pagamento

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

4. Indicação do lugar
5. Nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser paga
6. Indicação da data e do lugar de onde a livrança é passada
7. Assinatura de quem paga a livrança

o Cheques- constitui um título de crédito que, enquanto meio de


pagamento, se materializa numa ordem pura e simples dada por uma
pessoa a um banco para que pague determinada quantia por conta da
provisão bancaria à disposição do sacador.
O titular de conta tem o dever de ter a conta provisionada quando sobre
ela emite e põe cheques em circulação para que o sacado possa cumprir
a ordem de pagamento consubstanciada no cheque art.º 3 LUC.
Distancia-se assim da letra de câmbio já que esta exige um deposito de
fundos feito pelo emitente em poder daquele a quem a ordem de
pagamento é dada.
Nos termos do art.º 1 LUC o cheque deve conter:
▪ Palavra cheque no título
▪ Mandato puro e simples para pagar uma quantia determinada
▪ Nome de quem deve pagar
▪ Indicação do lugar em que o pagamento deve ser efetuado
▪ Indicação da data e do lugar onde o cheque é passado
▪ Assinatura de quem passa o cheque
Art.º 2 LUC- se no título faltar algum destes pontos, não produz efeitos
como um cheque, salvo se faltar a indicação do lugar de pagamento, caso
em que o cheque é pagável no lugar em que o sacado tem o seu
estabelecimento principal. A falta de elementos não obsta à eficácia
desde que completado até ao pagamento.
Art.º 44 LUC- todas as pessoas obrigadas em virtude de um cheque são
solidariamente responsáveis com o portador, podendo este proceder
contra essas pessoas, individual ou coletivamente.
Para que possa valer enquanto título cambiário a LUC estabelece dois
requisitos cumulativos:
1. Deve ser apresentado a pagamento no prazo de 8 dias a contar
do primeiro dia seguinte ao indicado no cheque como data de
emissão art.º 29 e 56 LUC.
Passado este prazo, o cheque perde a sua força executiva.

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

2. A ação do portador contras os endossantes, contra o sacador ou


os demais coobrigados prescreve decorridos que sejam 6 meses
contados do termo do prazo de apresentação art.º 52 LUC
Se a conta sacada não se achar devidamente provisionada, o banco deve
proceder à devolução do cheque com a menção de recusa por falta de
provisão.
Art.º 40 LUC- o portador do cheque só pode exercer os seus direitos de
ação se o cheque, apresentado em tempo útil, não for pago e se a recusa
de pagamento for verificada:
1. Por ato formal
2. Declaração do sacado, datada e escrita sobre o cheque, com
indicação do dia em que este foi apresentado
3. Declaração datada duma camara de compensação, constatando
que o cheque foi apresentado em tempo útil e não foi pago
Art.º 5 LUC- o cheque pode ser pagável a uma determinada pessoa, com
a clausula à ordem ou não à ordem. Neste último caso, o beneficiário não
pode endossá-lo a um terceiro, podendo apenas transmiti-lo pela forma
e com os efeitos de uma cessão ordinária. Pode ainda ser endereçado ao
portador, sem qualquer indicação do respetivo beneficiário.

Prescrito o título, o crédito pode ainda ser executado enquanto


documento particular. Uma linha jurisprudencial maioritária entende
que o credor pode executar não a obrigação cartular, mas a obrigação
subjacente fazendo uso do mesmo documento, agora como simples
reconhecimento da divida nos termos do art.º 458 CC.
Segundo o AC. STJ 27-nov-07, deve preencher os seguintes
pressupostos:
1. Pressuposto formal- tem de satisfazer os requisitos dos outros
escritos particulares, estar assinado pelo devedor
2. Pressuposto material objetivo
a. Enunciação da concreta e determinada relação causal ou
subjacente- que contenha ou represente um ato jurídico
por virtude do qual alguém se tenha constituído em
obrigação de pagar determinada quantia a outrem, no
título de crédito ou por alegação no requerimento
executivo.

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

b. Natureza não formal da relação subjacente- sendo a


causa do negócio jurídico um elemento essencial, se o
título prescrito não seguir a forma devida não poderá
constituir título executivo.
3. Pressuposto material subjetivo- o valor de reconhecimento
de divida só pode valer nas relações imediatas, no caso dos
títulos de crédito, já que o putativo reconhecimento o foi entre
o sacador e o beneficiário.
A lei apenas exige o pressuposto formal e a natureza não formal da
relação subjacente, os restantes requisitos são jurisprudenciais.
RP- não concorda. Atribuir-se uma vontade de reconhecer a divida
equivale a ultrapassar os limites e seguranças do título de crédito, bem
como os seus limites temporais.

→ Titulo executivo por força de disposição especial


o Títulos judiciais impróprios- cuja força executiva resulta de
disposição especial da lei formam-se no decurso de um processo. No
processo de prestação de contas, quando o réu as apresente e resultar
um saldo a favor do autor, pode este requerer que lhe seja notificado
para pagar a importância do saldo, sob pena de lhe ser instaurado
processo executivo art.º 944/5. Aqui o título executivo são as contas
apresentadas pelo réu.
o Títulos administrativos- títulos de cobrança de tributos, coimas,
dividas determinadas por atos administrativos, reembolsos ou
reposições e outras receitas do estado.

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

o Títulos particulares- também documentos particulares podem


constituir um título executivo:
▪ Ata da reunião da assembleia de condóminos, assinada pelo
condómino devedor, onde estão fixadas as contribuições a
pagar ao condomínio
▪ Documento de contrato e arrendamento de prédio urbano
acompanhado de comprovativo de comunicação do
arrendatário da resolução ou denuncia do contrato pelo
senhorio
▪ Extrato de conta passado por sociedade dedicada à concessão
de crédito por via de emissão e utilização de cartões de crédito,
titulando o respetivo saldo.
▪ Documento de contrato de mútuo concedido pela CGD

§ 6.º Pressupostos processuais


➢ Legitimidade
Art.º 53/1 estabelece o princípio da legalidade formal ou da coincidência,
segundo o qual a execução tem de ser promovida pela pessoa que no título
executivo figure como credor e contra a pessoa que no titula tenha a posição de
devedor.
Salvo exceções previstas na lei, o exequendo e o executado são partes ilegítimas
se não figurarem como credor e devedor no título executivo.
Sendo a ação executiva intentada por quem não figure no título executivo como
credor, o requerimento executivo deve ser indeferido liminarmente com
fundamento em ilegitimidade ativa.
→ Título ao portador
Art.º 53/2- título sem que dele conste a CHEQUE EMITIDO AO
PORTADOR
identificação do respetivo titular a ação Não constando do título
executiva deve ser movida pelo próprio executivo o nome do
credor, a ação executiva
portador do título executivo. poderá ser proposta pelo
portador desse cheque.
Trata-se de uma obrigação de sujeito ativo
indeterminado art.º 511 CC.
A posse de um título de crédito habilita ou legitima o respetivo portador a
exercer o direito nele incorporado e impede o verdadeiro titular do direito de
o exercer se não estiver na posse do documento. Art.º 34 e 38 LULL e 28 LUC.

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

O devedor desonera-se validamente desta obrigação mediante o respetivo


cumprimento perante o portador legitimo do título, não tendo de indagar sobre
a sua verdadeira ou material titularidade art.º 40/3 LULL e 35 LUC.
→ Sucessão
Por ato entre vivos ou mortis causa, o direito ou a obrigação pode transmitir-se
a um terceiro, o qual assumirá a posição jurídica de credor ou de devedor.
o Antes da propositura- o exequente, ao dar inicio à execução, deve alegar
e provar, no próprio requerimento executivo art.º 54/1, os factos
constitutivos dessa sucessão.
o Na pendencia da ação- é necessário suscitar um incidente de habilitação
art.º 351 e 357, por forma a intervir na ação o sucessor da parte
primitiva.
Art.º 744/1- o sucessor só pode ser executado no limite da herança
→ Execução por divida provida de garantia real
Art.º 735/1- estão sujeitos à execução todos os bens do devedor suscetíveis de
penhora que respondam pela divida exequenda. Só podem ser penhorados
bens de quem figure na execução com a qualidade de executado.
Pode suceder que um terceiro constitua a favor do credor uma garantia real
sobre um bem de que seja proprietário, a fim de assegurar o cumprimento de
uma obrigação pelo devedor.
Se a obrigação não for cumprida, o credor tem a faculdade de acionar a garantia
que foi prestada a seu favor art.º 818 CC.
O credor pode adotar uma de três atitudes:
o Demandar apenas o devedor- não pode nomear à penhora, em sede
executiva, o bem do terceiro sobre o qual foi constituída uma garantia
real, nem o devedor pode exigir que a penhora comece por esse bem.
o Demandar apenas o terceiro- se o exequente pretender fazer valer a
garantia deve intentar a ação executiva diretamente contra o terceiro
art.º 54/2. Se o terceiro tiver transmitido o bem a outrem a ação pode
ser intentada contra o adquirente desde que essa transmissão tenha
sido realizada após a constituição da garantia. O exequente poderá
deduzir um incidente de habilitação desse terceiro como forma de
garantir o prosseguimento da execução contra ele.
o Demandar ambos- para a eventualidade do produto da venda do bem
onerado com garantia se revelar insuficiente, o credor deve demandar
também o devedor. Art.º 54/3.

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Art.º 54/2 e 4

A
r
t
.
º
5
4
Art.º 54/3 /
2
e
→ Bens em posse de terceiro 4
Se os bens pertencerem ao devedor, mas estão na posse de terceiro, o
exequente pode optar por intentar a ação executiva apenas contra o devedor
ou contra o devedor e o possuidor dos bens art.º 54/4.
→ Sentença contra terceiros
A execução fundada em sentença condenatória pode ser promovida não só
contra o devedor, mas ainda contra as pessoas em relação às quais a sentença
produza força de caso julgado art.º 55. É o que se sucede com o transmissário
ou com o cessionário do direito litigioso nos casos em que não tenha chegado a
intervir na causa art.º 263/3.
RP- não se aplica este regime ao chamado no âmbito de intervenção provocada
uma vez que, aquando a intervenção provocada, o terceiro perde esta qualidade
e passa a ser parte, estando abrangido pelo art.º 53/1.
O exequente deve alegar no requerimento executivo, que a sentença tem força
de caso julgado em relação ao terceiro, sob pena de ilegitimidade.
→ Ministério publico
Nas execuções por custas e multas judicias impostas em qualquer processo, o
MP tem legitimidade para promover essa execução art.º 57.
A legitimidade pode ainda ser plural:
→ Litisconsórcio inicial
Existem dois ou mais exequentes e/ou executados.
o Voluntario- a ação executiva pode ser proposta por vários credores
contra vários devedores:
▪ Obrigações conjuntas
▪ Obrigações solidarias
▪ Obrigações que beneficiem de garantia real ou pessoal

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

o Necessário- casos em que a lei, convenção entre as partes ou a natureza


das coisas imponham a presença de todas as partes na ação.
▪ Pagamento de quantia certa, impondo a lei ou negócio jurídico
a intervenção de todos os interessados
▪ Entrega de coisa certa, pertencendo a mesma a várias pessoas
▪ Prestação de facto, recaindo a obrigação sobre vários
devedores.
▪ Art.º 34- execução que tenha por objeto pagamento de divida
contraída por ambos os cônjuges ou entrega de um bem que só
ambos os cônjuges possam dispor.
→ Litisconsórcio sucessivo
Situações em que a execução começa com um único exequente e/ou executado,
verificando-se, na pendencia da ação, a intervenção principal de outros
exequentes e/ou executados.
o Art.º 54/2- ação executiva para pagamento de quantia certa, em que a
obrigação beneficie de uma garantia real sobre bens de terceiro, a lei
permite em caso de insuficiência do bem, de requerer que a execução
prossiga contra o devedor originário, caso não faça parte da ação.
o Art.º 745/2 e 3- existindo um devedor principal e um subsidiário, o
exequente pode requerer que a ação seja movida contra o outro se os
bens do devedor principal não forem suficientes ou se o devedor
subsidiário invocar benefício da excussão prévia.
o Art.º 741/1- se a ação executiva for movida apenas contra um dos
cônjuges, o exequente pode alegar que a divida é comum
→ Coligação
Art.º 56- quando vários exequentes reclamarem ao mesmo executado, cada um
a sua prestação, ou quando forem pedidas prestações diferentes, a vários
executados por um ou vários exequentes.
A coligação ativa visa a união de esforços entre todos no exercício da ação
executiva, assegurar a economia processual e garantir a paridade de
tratamento,
A coligação passiva procura tornar viável a execução simultânea de obrigações
formalmente unitárias
Para que seja permitida a coligação não podem ser verificados nenhum dos
impedimentos previstos no art.º 709:

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

a) Incompetência absoluta do tribunal


b) As execuções têm de ter o mesmo fim
c) Seguir a mesma forma de processo
d) Não pode estar em causa a execução de uma decisão judicial nos
próprios autos.
Verificando-se uma coligação ilegal, o executado pode deduzir a oposição à
execução nos termos do art.º 729/ c).
O juiz tem o dever de, no despacho liminar, convidar o exequente a indicar qual
o pedido ou processo em relação ao qual pretende que a ação executiva
prossiga.
➢ Patrocínio judiciário
Art.º 58/1- as partes têm de se fazer representar por advogados nas execuções
de valor superior à alçada da relação ou superior à alçada dos tribunais de 1º
instância quando tenha lugar algum procedimento que siga os termos do
processo declarativo.

➢ Competência
→ Internacional
Vigora o princípio da territorialidade, segundo o qual cada estado possui
o monopólio das medidas coativas efetuadas no seu território.
Estando em causa uma relação jurídica plurilocalizada, a competência
internacional dos tribunais é regulada pelo art.º 59, sem prejuízo de
normas internacionais.
O regulamento 1215/2012 apenas se aplica se:
o Se tratar de matéria civil ou comercial, excetuada a enunciada no art.º
1/2
o Estiver no seu âmbito de aplicação temporal
o E se o reu tiver domicílio num dos estados membros, salvas
competências dos art.º 22 e 23
Em matéria de execuções, este regulamento apenas prevê no art.º 24/5,
que têm competência exclusiva os tribunais do estado membro do lugar
da execução.
A doutrina divide-se quanto ao âmbito de aplicação material do preceito:

30
Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

o MTS- o preceito estabelece a competência exclusiva do tribunal da


execução para apreciar os diferendos resultantes do recurso á força
ou à coerção aquando da decisão material de decisões e atos.
o LF- o antigo art.º 22/4 Reg. 44/2001, correspondente ao artigo em
questão, configura uma norma de extensão da competência, na
medida em que se limita a regular a competência para os
procedimentos declarativos que tenham lugar por causa de uma
execução, sendo a competência determinada através do recurso às
normas internas
o RP- têm competência exclusiva os tribunais do estado-membro do
lugar da execução, isto é, os tribunais do lugar onde se localizem os
bens que serão objeto dos atos executivos.

Na ausência de vinculações normativas internacionais devem


aplicar-se as nossas normas internas de competência
internacional
Art.º 63/d) - os tribunais portugueses têm competência internacional
exclusiva em matéria de execuções sobre bens imoveis situados em
território português.
Não se verificando a alínea em questão no art.º 63 e não havendo
convenção entre as partes art.º 94, resta verificar as circunstâncias do
art.º 62.
AC- o art.º 62 apenas se aplica a causas declarativas, não sendo legitimo
transpor sem mais para o campo de processo executivo. As regras deste
artigo são inapropriadas ao processo executivo, devendo restringir-se a
competência internacional dos tribunais portugueses para as execuções
baseadas em sentença aos casos em que os bens a executar se encontrem
em Portugal e aplicar a execuções baseadas noutro título o art.º 89/3,
sempre que a execução deva correr sobre bens sitos em Portugal.

MTS- cada estado tem o monopólio das medidas coativas efetuadas no


seu território, é a regra da territorialidade da execução. O fator de
conexão relevante para a aferição da competência executiva
internacional dos tribunais português não pode deixar de ser a

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

circunstância de as medidas necessárias à realização coativa da


prestação poderem correr em território português.

AC. TRP 12-06-12- os tribunais portugueses têm competência


internacional se as medidas necessárias à realização coativa da
prestação puderem correr em território português, prevalecendo a regra
da territorialidade.
→ Interna
1. Matéria
Aplica-se a mesma regra subsidiaria que vigora na ação declarativa, ou
seja, são da competência dos tribunais judiciais as causas que não sejam
atribuídas a outra ordem jurisdicional art.º 40/1 e 80/1 LOSJ,
Os tribunais da comarca desdobram-se em instâncias centrais, que
integram as secções de competência especializada, e as instâncias locais,
que integram as secções de competência genérica. Art.º 81/1 LOSJ.
2. Valor
Se existir uma secção especializada de execução, é esta a secção
competente para o conhecimento da execução art.º 129/1 LOSJ
Não havendo secção especializada de execução, se o valor da ação
executiva for superior a 50.000 €, é competente para a execução a secção
especializada cível da instância central art.º 117/1, b) LOSJ.
Se for igual ou inferior, é competente a secção genérica da instância local
art.º 130/1, d) LOSJ
3. Hierarquia
Os tribunais da comarca têm competência executiva ainda que esteja em
causa uma decisão condenatória proferida pelo Tribunal da Relação ou
pelo Supremo Tribunal de justiça art.º 86.
4. Território
Importa distinguir consoante o título executivo revista natureza judicial
ou extrajudicial:
o Execução fundada em sentença
▪ Tribunal da comarca- é territorialmente competente para a execução
o tribunal onde tiver corrido a própria ação declarativa art.º 85/1.

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

▪ Tribunais superiores- se a ação tiver sido proposta no TR ou no STJ, é


competente para a execução o tribunal do domicílio do executado. Art.º
86. O TR e o STJ não têm competência para executar decisões proferidas
por esses em primeira instância art.º 55 e art.º 73 LOSJ.
▪ Tribunais estrangeiros- é competente para a execução o tribunal do
domicílio do executado, nos termos do art.º 86 ex. via art.º 90.
▪ Custas, multas e indemnizações- É competente o tribunal em que haja
corrido o processo no qual tenha tido lugar a notificação da respetiva
conta ou liquidação art.º 87/1. Se tiver sido aplicada pelo TR ou STJ, é
competente para a respetiva execução o tribunal de primeira instância
competente da área em que o processo haja corrido art.º 88.
o Execução fundada em título executivo extrajudicial
Na falta de disposição em contrário, é competente para a execução o
tribunal do domicílio do executado, podendo o exequente optar pelo
tribunal do lugar em que a obrigação deva ser cumprida quando o
executado seja pessoa coletiva, ou quando o domicílio das partes seja
ambas ou na área metropolitana de lisboa ou do proto art.º 89/1.
O lugar de cumprimento da obrigação é determinado pelo art.º 772ss CC.
No caso dos títulos de crédito:
▪ Letras e livranças- Devem conter a indicação do lugar onde deve
ser efetuado o pagamento. Art.º 1/5 e 75/4 LULL
▪ Cheques- o cheque deve conter menção do lugar onde o pagamento
deve ser efetuado. Art.º 1/4 LUC
Se a execução for para entrega de coisa certa ou por divida com garantia
real, são territorialmente competentes o tribunal do lugar onde a coisa se
encontre art.º 89/2.

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

IV. OPOSIÇÃO À EXECUÇÃO

§ 7.º Enquadramento e fundamentos


Uma vez citado, o executado pode pagar voluntariamente as custas e a divida art.º 846
ss.
Também tem um prazo de 20 dias a contar da citação para deduzir nos termos do art.º
728/1, oposição à execução.
Assim, a oposição à execução é o meio processual pelo qual o executado exerce o seu
direito de defesa ou de contradição perante o pedido do exequente. A defesa pode
assentar na impugnação de factos materiais e processuais ou na apresentação de factos
que impedem o conhecimento da procedência do pedido, ou que impedem modificam
ou extinguem o efeito jurídico que é pedido pela parte ativa.
Na execução de título diverso de sentença, além dos fundamentos de oposição
especificados no art.º 729, podem ser alegados quaisquer outros que seria lícito
deduzir como defesa no processo de declaração art.º 731.
Esta defesa é autónoma no seu objeto e procedimento, correndo como ação declarativa,
incidental à execução.
➢ Plano formal-temporal- tendencial coincidência da sua duração com a duração da
execução à custa de uma simplificação processual, aproximando.se do processo comum
sumario art.º 732/2
➢ Objeto do processo- apenas pode invocar causas de pedir especificas admitidas pela
lei, art.º 729 ss.
➢ Plano de efeitos da sentença- a procedência do pedido de oposição implica a
extinção da execução
PEDIDO
O autor deduz o pedido de extinção da execução, total ou parcial. Por ter como
fundamentos decisórios o reconhecimento da atual inexistência do direito exequendo,
varia jurisprudência afirma tratar-se de uma ação de simples apreciação negativa da
obrigação exequenda, de um pressuposto ou de uma condição
LF- trata-se sempre de uma ação de acertamento negativo da situação substantiva ou
da falta de um pressuposto processual
A extinção pode equivaler à absolvição da instância ou à absolvição do pedido,
consoante o fundamento seja processual ou seja material.

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

Não há reconvenção, uma vez que o executado apenas pode pedir a sua absolvição na
ação executiva, defendendo-se.
CAUSA DE PEDIR
Apesar de ser uma petição inicial, tem o teor de uma contestação.
A causa de pedir é sempre um facto jurídico legalmente previsto. Os factos admissíveis
dependem do título executivo em que se funda a execução.
→ Titulo diverso de sentença- podem ser invocados como causa de pedir os factos do
art.º 729, na parte em que sejam aplicáveis e quaisquer outros que possam ser
invocados como defesa no processo declarativo art.º 731
→ Títulos públicos judiciais ou judiciais impróprios
o Sentença- apenas os do art.º 729/a) a g)
o Sentença homologatória- apenas dos do art.º 729/a) a h)
o Sentença arbitral- apenas os do art.º 729/a) a g) e art.º 730
o Injunção- fundamentos do art.º 729, e em certas circunstâncias os do
art.º 731, além de certos fundamentos de conhecimento oficioso art.º
857
Existem fundamentos comuns a todos os títulos:
➢ Exceções dilatórias- relativamente à relação processual art.º 729/e), art.º 730, 731 e
857/1
▪ Incompetência absoluta e relativa do tribunal
▪ Nulidade de todo o processo
▪ Falta de personalidade ou capacidade jurídica
▪ Falta de autorização ou deliberação
▪ Ilegitimidade das partes
▪ Coligação indevida
▪ Falta de constituição de advogado
▪ Litispendência ou caso julgado
Se os vícios forem sanáveis, pelo art.º 6/2, o juiz da oposição deve promover
oficiosamente a sua correção.

➢ Inexistência, inexequibilidade ou invalidade do título- a alegação de inexistência


ou inexequibilidade do título, ao abrigo do art.º 729/a), configura materialmente uma
defesa por impugnação, já que o executado nega o facto da existência do documento ou o
seu valor jurídico.

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

Especificamente, a sentença não existe se o tribunal não tinha poder jurisdicional. Será
inexequível a sentença que:
▪ Não contenha uma ordem de prestação ou condenação
▪ Não esteja assinada pelo juiz
▪ Esteja pendente de recurso com efeito suspensivo
▪ Tenha sido revogada em recurso
▪ Sendo estrangeira, não tenha sido revista e confirmada pela relação.
➢ Incerteza, inexigibilidade e iliquidez da obrigação- são fundamento de oposição art.º
129/e), caso não tenham sido supridas na fase introdutória da execução. Configura
materialmente uma exceção perentória impeditiva relativa à exigibilidade do crédito.
➢ Factos impeditivos, modificativos ou extintivos- são exceções perentórias art.º 576/3.
Alguma jurisprudência defende que os factos devem ser atuais no momento em que são
invocados, não podendo estar dependente de um evento futuro e incerto.
o Impeditivos- inexistência originaria da obrigação
▪ Falta ou nulidade formal do título material
▪ Nulidade não formal
▪ Falta de causa aceite da letra ou livrança
o Modificativos
▪ Modificação por alteração das circunstâncias
▪ Factos que consubstanciam a inexigibilidade da obrigação
▪ Substituição do objeto da prestação ou do direito real
▪ Alteração das garantias
o Extintivos- consubstanciam a inexistência da obrigação
▪ Comuns- anulabilidade por incapacidade do devedor
▪ Específicos
• Cumprimento ou qualquer outra causa de extinção da obrigação
• Impossibilidade objetiva do cumprimento
• Prescrição da divida
• Extinção da causa
• Falta de protesto
• Extinção do direito real
• Usucapião

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

Fundamentos específicos da oposição:


❖ Execução de sentença- há várias restrições à oposição de factos impeditivos
modificativos e extintivos. A relevância deste objeto configura uma revisão de
uma decisão transitada em julgado ou com aptidão para transmitir em julgado.
Os factos extintivos ou modificativos têm de ser posteriores ao encerramento
da discussão no processo de declaração.

E se o executado não alegou factos porque dele não tinha conhecimento, sem culpa, ou não
disponha de documento necessário para prova?
Jurisprudência- os factos não alegados foram precludidos pelo caso julgado art.º 588, mesmo que
o executado deles não tinha conhecimento ou não podia fazer prova, não podendo servir de
fundamento para a oposição à execução.
MTS- admite, invocando as situações que permitiriam recurso de revisão de sentença art.º 696/c)

❖ Execução de sentença homologatória- de confissão, transação ou de partilha


finda por acordo ou deliberação dos interessados permite a oposição por
fundamentos da sentença comum

❖ Execução de sentença arbitral- podem ser opostos os fundamentos do art.º


729/a) a g) e os fundamentos em que pode basear-se a anulação judicial da
mesma decisão art.º 730.

❖ Executado não devedor, terceiro garante e terceiro possuidor- quando o


executado não é o devedor pode invocar causas de defesa especificas. O terceiro
garante pode ainda opor os meios de defesa que o devedor tiver contra o
crédito, ainda que a eles tenha renunciado. Art.º 698 CC. O terceiro possuidor
pode invocar a extinção ou inexistência do seu direito ou posse, como
fundamentos gerais não pessoais do devedor

§ 8.º Dedução e efeitos


→ Pressupostos processuais
Exige-se que o executado assegure a presença dos pressupostos processuais
positivos e comuns a qualquer causa.
O tribunal da execução é competente para conhecer o apenso da oposição à
execução art.º 91/1.

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

As partes devem apresentar personalidade, capacidade e legitimidade, sendo o


executado e o exequente, o autor e o réu desta causa. Mas também o cônjuge
goza de legitimidade ativa nos termos do art.º 787/1.
No caso de haver pluralidade de sujeitos processuais:
MTS- no caso de pluralidade ativa, qualquer um pode opor-se à execução tal
como aconteceria na legitimidade para interpor recurso art.º 634/1. Na
pluralidade passiva, há litisconsórcio necessário se o fundamento da oposição
lhes for comum.
Não pode haver intervenção de terceiros uma vez que esta supõe uma extensão
decisória da oposição, ultrapassaria a função acessória de estrita extinção da
execução.
IMPULSO PROCESSUAL
→ Petição inicial
É formalmente uma petição inicial visto que constitui uma nova relação
processual ao contrário do que sucederia formalmente com uma contestação.
Estando o direito do exequendo já certificado pelo título, este não tem ónus de
oposição.
Deve ser apresentada no prazo de 20 dias a contar da citação art.º 728/1.
Contudo, se houve revogação do despacho que indeferiu liminarmente o
requerimento executivo, o prazo conta-se da notificação ao executado do
despacho que ordenou o prosseguimento da execução art.º 569/1.
Pode requerer, também, a substituição da penhora por caução idónea, ao abrigo
do art.º 751/7.
O valor da oposição é o da execução a que respeita, salvo se tiver realmente
valor diverso art.º 304/1, se não indicar o valor, entende-se que aceita o valor
dado à execução art.º 307/1.
➢ Princípio da concentração- art.º 573. A petição constitui o momento oportuno
para deduzir toda a defesa. Não pode o oponente deduzir facto posterior em
outros embargos art.º 728
➢ Custas- em termos tributários deve ser equiparada à contestação art.º 570
➢ Natureza processual- o prazo de 20 dias é continuo art.º 138/1

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

→ Recebimento e despacho liminar


Deve ser entregue na secretaria de execução ou na secretaria do tribunal
competente. Há despacho liminar, que poderá de ser de indeferimento quando:
art.º 732/1
a) Tiver sido deduzida fora de prazo
b) O fundamento não seja admitido na lei
c) O pedido for manifestamente improcedente
d) Ocorram, de forma evidente, exceções dilatórias insupríveis e de que o juiz deva
conhecer oficiosamente art.º 590/1
→ Efeitos da pendencia
Generaliza-se a qualquer forma de processo que o recebimento dos embargos
não suspende a marcha do procedimento executivo art.º 733/1.
Vigoram as exceções do art.º 733/1 e ainda se foi impugnada a exigibilidade ou
liquidação da obrigação exequenda e o juiz considerar, que se justifica a
suspensão sem prestação de caução.
Suspensa a marcha do processo, matem a eficácia dos atos processuais já
consumados, mas não se promove ou aceita mais algum ato processual
executivo.
Art.º 733/4- se a oposição não tiver efeito suspensivo, o exequente e os
credores não podem obter pagamento sem prestar caução.
→ Prestação da caução
Pode ter por objeto qualquer das formas admitidas pelo art.º 623/1 e 2 CC.
Pode considerar-se como garantia especial das obrigações do executado.
A prestação da caução tem natureza incidental art.º 906ss, sendo processada
por apenso à causa pendente, embora com aplicação das regras próprias do
processo autónomo art.º 913, com as especialidades previstas no art.º 915.
Apenas o executado-embargante a pode requerer para efeito de suspensão da
execução e não esta sujeita a qualquer prazo.
O exequente será ouvido podendo impugnar o valor ou a idoneidade da mesma
art.º 913/2, que será depois decidida pelo tribunal se não houver acordo dos
interessados art.º 623/3.
A jurisprudência aponta um como critério funcional para avaliação da
idoneidade:
➢ Juridicamente admissível
40
Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

➢ Objetivamente adequada

Não havendo ainda penhora, a caução deve cobrir o pagamento da divida, mais
juros se estes tiverem sido pedidos.
Havendo penhora ou garantia real, a caução cobrirá apenas o eventual
diferencial estimado entre o valor garantido pela penhora e o estimado.
A caução pode ser prestada por terceiro
→ Oposição superveniente
Art.º 728/2- pode haver oposição à execução deduzida depois deste momento,
quando se baseie em factos que ocorrera ou foram conhecidos depois daquele
prazo inicial.
CONTESTAÇÃO
O exequente pode:
➢ Impugnar as exceções perentórias, as exceções dilatórias negativas e as
nulidades formais do título executivo
➢ Alegar factos contrários aos que consubstanciam exceções dilatórias
positivas, inexistência ou de inexequibilidade do título executivo ou a
incerteza e iliquidez do crédito.
Confrontado com a petição inicial, o exequente não pode, unilateralmente, modificar a
causa de pedir da ação executiva
Art.º 732/3- na falta de contestação consideram-se confessados os factos articulados
pelo oponente art.º 567/1, com exceção dos factos que se oponham diretamente ao
alegado pelo exequente.

SANEAMENTO, INSTRUÇÃO, DISCUSSÃO E JULGAMENTO


Não existem mais articulados, por isso o processo segue a tramitação dos art.º 552ss.
→ Procedimento- seguem-se os termos do processo sumario art.º 732/2
→ Regime probatório- a regra do ónus da prova aplicável é a geral art.º 342 CC.
Os meios de prova admissíveis seguem o regime comum, salvo nas execuções
de sentença em que o facto modificativo ou extintivo da obrigação tem de ser
provado por documento.
o LF- esta restrição introduz um desfasamento entre o direito substantivo e o
direito processual. Conduz a resultados de injustiça material quando o
executado dispõe de outras provas, mas não de documento.
41
Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

o MTS- não se pode atender ao sentido literal face de uma interpretação


sistemática. A exigência documental corresponde aos casos em que há uma
imposição legal art.º 394 e 395 CC. Fora deste âmbito, é uma restrição não
razoável ao direito de acesso à justiça art.º 20/1 CRP.
o RP- a ratio do preceito é coerente com o sistema de impugnação da sentença
transitada em julgado em matéria de facto art.º 696/c). o desfasamento
apontado por LF está ligado ao desfasamento que o legislador quer para todo o
regime de revisão de sentença.
Pode entender-se a prova admissível tanto à confissão como a meios de prova
mais seguros, como inspeção ou perícia.

SENTENÇA
Deve ser proferida no prazo máximo de 3 meses contados da data da petição art.º
723/1, b). Sendo vários oponentes, o prazo é contado singularmente art.º 728/3 e
569/2.
É impugnável nos termos gerais, e dela pode caber recurso de apelação art.º 853/1.
→ Sentença de forma
A sentença pode terminar na absolvição do exequente da instância incidental
quando o tribunal anule todo o processo de oposição à execução ou quando haja
uma exceção dilatória relativa à instância.
Fará caso julgado formal art.º 620/1
→ Sentença de mérito
Se não decidir pela absolvição, o juiz pode conhecer do pedido:
➢ Favorável- o executado será absolvido da instância executiva ou do
pedido executivo.
o Efeito primário- art.º 732/4. Extingue-se a execução. Esta procedência
deve ser definita, apos o transito em julgado da decisão de embargos.
o Efeitos secundários
▪ art.º 839/1, a). A venda de bens fica sem efeito salvo se a
procedência for parcial.
▪ O exequente terá de pagar as custas tanto da execução, quanto
do próprio incidente
▪ As penhoras pendentes são levantadas

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

▪ Sujeição de um pacote de sanções ao exequente que


promoveu a execução sem citação previa de modo
negligente
➢ Desfavorável- o exequente será absolvido do pedido de embargos. A instância
acessória extingue-se com o transito em julgado da decisão, e a instância
executiva prosseguirá.
A sentença de oposição à execução que conheça do pedido fundado em vícios
processuais tem força obrigatória apenas dentro do processo, caso julgado formal. Já
todos os demais fundamentos são materiais é discutido se a decisão alcança valor de
caso julgado material.
❖ Castro Mendes- quando se trate de incerteza ou iliquidez da obrigação exequenda,
determinará a absolvição da instância executiva. Os demais fundamentos levariam a
absolvição do pedido executivo com valor de caso julgado material.
❖ TRL 4-7-96- a sentença que julgou os embargos de executado improcedentes não pode
atribuir-se força de caso julgado quanto à inexistência real de um crédito do
embargador para efeitos de compensação
❖ LF- apenas em concreto se pode verificar se o direito à prova foi efetivamente limitado,
valendo mutatis mutandis o disposto no art.º 332/a) por analogia.
❖ RP- em razão do fundamento, podemos isolar alguns com aptidão para a respetiva
sentença alcançar valor de caso julgado material. Relativamente ao título, alegando a
sua falta, por insuficiência ou invalidade formal, nega-se a demonstração da divida, mas
não sobre a divida em si mesma.
LEVANTAMENTO DA CAUÇÃO
Independentemente do sentido da sentença, a caução associada ao efeito suspensivo
deve ser extinta.
Contudo, se a decisão for no sentido de improcedência, o exequente terá direito ao
montante depositado e só depois ao produto dos bens penhorados.

RELAÇÕS COM OUTROS OBJETOS PROCESSUAIS


MTS- a oposição à execução pode concorrer com outros meios com função próxima
sobre a eficácia da sentença.
→ Ações declarativas- pode ocorrer litispendência entre a oposição à execução e uma
outra ação em que se discute a existência ou extensão do crédito exequendo. O caso
julgado material circunscreve-se à obrigação exequenda, dele estando excluídas
outras obrigações que poderiam dar lugar a cumulação de pedidos.
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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

LIMITES SUBJETIVOS DA EFICACIA DECISORIA


→ Pluralidade de exequentes- há litisconsórcio necessário passivo se o fundamento
da oposição lhes for comum, pelo que a sentença os vinculará a todos nessa
eventualidade
→ Pluralidade de executados- tendo legitimidade singular, o caso julgado apenas
vinculará os concretos executados que foram partes na oposição à execução.
MTS- se há litisconsórcio voluntario na ação executiva a decisão pode aproveitar se
art.º 634/2:
▪ Se o fundamento for comum
▪ Se o executado não oponente for titular de interesse essencialmente
dependente do interesse do executado oponente
▪ Se o executado não oponente for um devedor solidário
Havendo litisconsórcio necessário, a decisão favorável aproveita aos demais art.º
634/1
LF- se o litisconsórcio necessário for legal a extensão do caso julgado ao ausente
decorre da natureza do litisconsórcio.

V. CONSTITUIÇÃO DA GARANTIA PATRIMONIAL

§ 9.º Penhora de bens e direitos


Art.º 817 CC- tem o credor o direito de executar, penhorando e vendendo, o património
do devedor.
Art.º 735/1- estão sujeitos à execução todos os bens do devedor suscetíveis de
penhora que respondem pela divida exequenda.
Objetivo- A penhora pode incidir imediatamente sobre direitos, e só mediatamente
sobre coisas e prestações, através da sua apreensão. Estes direitos apenas
podem ser passiveis de ser transmitidos a terceiro.
Assim, tem por objeto, toda e qualquer situação jurídica ativa disponível de
natureza patrimonial, integrante da esfera jurídica do executado, cuja
titularidade possa ser transmitida forçadamente nos termos da lei
substantiva. Este objeto é tomado em abstrato deve ter em conta os limites.

44
Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

Subjetivo- conjugando o art.º 817 CC e 53, apenas os bens do devedor estão sujeitos à
execução.
IMPUGNAÇÃO PAULIANA
Art.º 735/2- nos casos especialmente previstos na - Pode ser invocada até à
penhora
lei, podem ser penhorados bens de terceiros. É - A procedência permite
executar os bens no
condição necessária que a execução tenha sido património de terceiro
- Não é uma ação de
movida contra terceiro. O terceiro à divida não pode anulação, apenas a
responsabilização
ser terceiro ao processo. patrimonial do terceiro
para com o credor
o Art.º 54/2- terceiro que tenha dado em garantia - O devedor pode ser
real de uma divida alheia um bem seu responsável perante
terceiro
o Art.º 818 e 616 CC- terceiro contra quem tenha - Os efeitos da impugnação
aproveitam apenas ao
sido obtida sentença de impugnação pauliana credor não ao devedor

O devedor subsidiário não está abrangido, estando


sujeitos à penhora nos termos do art.º 735/1.

§ 10.º Funções da penhora


Ato processual pelo qual o estado retira ao executado os poderes de aproveitamento e
de disposição de um direito patrimonial na sua titularidade.
Não tem uma função sancionatória, mas uma função instrumental de garantir a
preservação dos bens, acautela a venda executiva e pressiona o devedor a pagar.
→ Efeito de preferência- o exequente fica com o direito a ser pago antes de outros
credores que não tenham garantias anteriores art.º 822 CC.
→ Efeito conservatório-
o Material- indisponibilidade material absoluta. A posse, o gozo e a administração
ficam à ordem do tribunal. São entregues a um depositário, normalmente o
agente de execução
o Jurídica- indisponibilidade jurídica relativa. São inóponiveis à execução, os atos
de alienação, oneração e arrendamento dos bens. Evita que o executado venda
os bens. Art.º 819 CC.
EFEITOS
→ Posse
o RP- A posse continua no executado, mas é uma posse meramente civil. Serve apenas
para efeitos de usucapião. Convive com a posse do estado.

45
Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

o Doutrina dominante- ato de desapossamento de bens a favor do exequente para


pagamento de quantia certa. O executado fica sem a posse, o tribunal fica possuidor
e o agente de execução fica detentor.
→ Propriedade- não tem nenhum efeito translativo sobre o bem penhorado, apenas a
venda executiva ou a adjudicação o têm art.º 824 e 826 CC. qualquer negócio
translativo não é oponível à execução art.º 819 CC, é oponível a qualquer outro
terceiro.

A pode empenhar o objeto X, penhorado em sede de ação executiva, a favor de B, e vender a C.


Nenhum destes atos prejudica a execução porque não lhe são oponíveis, os problemas suscitados são
somente processuais.

§ 11.º Limites da penhora


Dentro do objeto potencial da penhora, deve ser operada uma delimitação concreta dos
bens em razão de:
❖ Limites substantivos
→ Limites da lei quanto à responsabilidade
Art.º 601 CC- a regra é a da responsabilidade universal e imediata. Pelo
cumprimento da obrigação respondem todos os bens do devedor suscetíveis de
penhora.
Este artigo tem a ressalva dos “regimes especialmente estabelecidos em
consequência da separação de patrimónios”. Pode ser:
▪ Plena- o património só responde por certa categoria de dividas. É o que sucede
no regime da penhora em execução de dividas de herança contra herdeiros,
constante do art.º 744. Só podem ser penhorados bens recebidos do autor da
herança.
▪ Condicional ou imperfeita- restrição à imediação da responsabilidade. O
património responde primeiro por certas dividas e condicionalmente pelas
restantes.
Contudo, este princípio pode ter vários desvios e exceções:
➢ Limitação legal
o Art.º 197/3 e 271 CSC- os sócios das sociedades por quotas e das
sociedades anonimas têm a sua responsabilidade por dividas destas
limitadas à participação social
o Art.º 831 CC- havendo cessão de bens pelo devedor aos credores para que
estes os liquidam e repartem entre si o produto da venda, os credores

46
Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

cessionários e os credores posteriores à cessão não podem penhorar esses


bens art.º 833 CC.
o Art.º 1184 CC- os bens que o mandatário haja adquirido em execução do
mandatado e devam ser transferidos para o mandante não respondem pelas
obrigações daquele, desde que o mandato conste de documento anterior à
penhora e não tenha sido feito o registo de aquisição
o Art.º 2292 CC- os credores pessoais do fiduciário não podem pagar pelos
bens sujeitos ao fideicomisso, mas somente seus frutos.
o Art.º 127/2 CC- pelos atos relativo à profissão do menor e pelos atos
práticos no exercício dessa só respondem os bens de que o menor tiver livre
disposição
➢ Limitação convencional
Art.º 602 CC- as partes podem limitar a
PL e AV- esta disposição
responsabilidade do devedor a alguns bens ou não autoriza a que por
vontade das partes, a divida
que determinados bens sejam excluídos da seja inteiramente subtraída
execução. Esta limitação pode ser contemporânea à execução patrimonial,
transformando-se uma
ou posterior à constituição da divida. obrigação civil numa
obrigação natural.
O risco dos bens se desvalorizarem corre por
conta do credor, sem prejuízo de facto imputável ao devedor ou modificação
por alteração das circunstâncias.
Não pode ter lugar quando se trate de matéria subtraída à disponibilidade das
partes. Se o direito é indisponível também o é a respetiva garantia patrimonial.
Dividas dos cônjuges
Em primeiro lugar, há que distinguir entre:
→ Dividas próprias de um dos cônjuges- art.º 1692, 1693/1 e 1694/2 CC
→ Dividas comuns ou comunicáveis- art.º 1691, 1693/2 e 1694/1 CC
Pelas dividas comuns ou comunicáveis respondem primeiro os bens e comuns e
subsidiariamente, os bens próprios de qualquer dos conjugues- art.º 1695/1
CC. No caso de insuficiência importa saber qual o regime de bens:
➢ Separação de bens- a responsabilidade não é solidaria, pelo que cada um deles
responde apenas pela parcela que lhe competir na divida art.º 1695/2 CC
➢ Outro- pode ataca indistintamente os bens próprios de qualquer um dos
cônjuges
Para que a divida seja responsabilidade de ambos os cônjuges não é necessário
que ambos a tenham contraídas. Contudo, a ação só pode ser movida contra

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

quem constar do título art.º 53/1, e há dividas comuns ou comunicáveis que


não carecem de ser contraídas por ambos art.º 1691/1 CC.
Segundo o art.º 741/1, o exequente pode requerer um incidente de
comunicabilidade no requerimento executivo ou até ao inicio das diligencias
para a venda e adjudicação. Contudo, este incidente só é valido se o título
executivo for diverso de sentença, pois entende-se que a comunicabilidade
precludiu quando não invocada na ação declarativa.
O cônjuge não executado pode impugnar a comunicabilidade da divida em
oposição à execução.
➢ Se a divida for considerada comum, a execução prossegue também contra o
cônjuge não executado, cujos bens próprios podem ser penhorados a título
subsidiário art.º 741/5
➢ Se a divida for considerada própria, há que seguir o respetivo regime. O
cônjuge não executado tem 20 dias apos o transito em julgado da decisão para
requerer a separação de bens ou juntar a certidão comprovativa da pendencia
de ação em que a separação já tenha sido requerida art.º 741/6
O incidente de comunicabilidade também pode ser requerido pelo cônjuge
executado, especificando logo quais os bens comuns que podem ser penhorados
art.º 742/1. Se o cônjuge não executado ou o exequente se opuserem, a questão
é decidida pelo juiz. Art.º 742/2
Pela dividas incomunicáveis ou próprias, respondem em primeiro lugar os bens
próprios do cônjuge devedor art.º 1696/2 CC, e sem qualquer subsidiariedade
ou limitação, certas categorias de bens comuns, sendo em geral, a sua meação
nos bens comuns é subsidiaria art.º 1696/1 CC.
Neste caso, o cônjuge do executado é notificado para, no prazo de 20 dias,
requerer a separação de bens ou juntar a certidão comprovativa da pendencia
de ação em que a separação já tenha sido requerida art.º 740/1.

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

ESQUEMA DE RESOLUÇÃO

Ambos constam do
título?

Não Sim

Divida do art 1691 CC Comum

Não Sim

Comum
Própria Incidente de comunicabilidade se
titulo diverso de sentença
art 741 e 742

Separação de bens Comunhão Separação de Comunhão


Bens

Bens próprios e
Art 1695 CC respondem os
subsidiariamente a bens comuns e na sua
Bens próprios meação dos bens isuficiencia os bens proprios
art 1696 CC comuns art 1696 CC solidariamente

Art 1695 CC
art 740 e 786/1,a) respondem os bens
cita-se o conjuge e proprios de cada
procede-se à separação conjuge
de bens comuns
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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

Responsabilidade subsidiaria
o Objetiva- a subsidiariedade tem lugar no interior do património do executado,
em resultado da existência de separação de patrimónios. Há uma parte dos bens
que não responde de imediato por qualquer divida, mas pelo pagamento de
determinadas dividas.
A condição de penhora destes bens é a falta ou insuficiência dos bens de
primeira linha art.º 745/5.
▪ Art.º 1695 e 1696 CC- bens comuns, sendo a divida própria e bens
próprios, sendo a divida da responsabilidade de ambos os cônjuges.
▪ Art.º 725- bens onerados com garantia real a favor do credor
Benefício da excussão real- o devedor que for dono da coisa hipotecada tem
o direito de se opor não só a que outros bens sejam penhorados enquanto não
se reconhecer a insuficiência da garantia, mas ainda que a execução se estenda
além do necessário à satisfação do direito do credor. Art.º 697 CC.
O devedor não tem direito a que a penhora inicie sobre os bens alheios, daí o
art.º 54/2, em que o credor pode executar tanto o devedor como o terceiro.
Art.º 752/1- este benefício também vale para o penhor de coisas e privilégios
creditórios. AC entende que nestes artigo estão compreendidas todas as
garantias reais, incluindo as causas legitimas de preferência conforme o art.º
604/2 CC.
o Subjetiva-entre dividas de dois sujeitos, um devedor principal e um devedor
solidário, e entre os respetivos patrimónios. A condição de penhora dos bens
do devedor subsidiário é a verificação da falta ou esgotamento dos bens do
património do devedor principal.
É o caso:
▪ Socio de sociedade civil
▪ Socio de sociedade em nome coletivo
▪ Socio comandito
▪ Fiador- é-lhe lícito recusar o cumprimento enquanto o credor não tiver
excutido todos os bens do devedor sem obter a satisfação do seu
crédito. Art.º 638/1 CC.
Se houver garantia real constituída por terceiro, contemporânea ou
anterior à fiança, tem o fiador o direito de exigir a execução previa das
coisas sobre que recais a garantia real. Art.º 639/1 CC.
Se o devedor subsidiário for singularmente demandado, tem a seu favor a
garantia da forma ordinária art.º 550/3, d), desde que não haja renunciado ao
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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

benefício da excussão previa. Se houver renuncia à excussão previa ou for


demandado conjuntamente com o devedor principal, então segue a forma
sumaria.
Não podem penhorar-se os bens do devedor subsidiário, enquanto não
estiverem excutidos todos os bens do devedor principal.
Tem o ónus de invocar o benefício da excussão previa em requerimento,
entregue no prazo da oposição à execução art.º 745/1 e 728/1, como objeção
preventiva à penhora.
Se for deferido, suspende-se a execução e:
I. Se for demandado singularmente, o exequente pode requerer a execução contra
o devedor principal art.º 745/2
II. Se for em conjunto, a execução prossegue apenas contra o principal.
No caso de a forma ser sumaria já não será uma objeção preventiva à penhora,
mas sim um fundamento de objeção à execução
→ Limites da lei quanto à disponibilidade e transmissibilidade
A penhora apenas pode recair sobre uma situação jurídica ativa disponível de
natureza patrimonial e cuja titularidade possa ser transmitida forçadamente
nos termos da leis substantiva.
Não são penhoráveis coisas fora do comercio, por não poderem ser objeto de
direitos privados art.º 202/2 CC.
o Art.º 736/b) - bens do domínio publico e das restantes pessoas coletivas
o Bens que pela sua natureza não são suscetíveis de apropriação individual
Bem como direitos indisponíveis, intransmissíveis art.º 784/1, a), como por
exemplo o direito a alimento art.º 2008/2.
❖ Intransmissibilidade objetiva
Há direitos disponíveis, mas que são intransmissíveis em razão do seu
objeto. Art.º 736/ a), define como absolutamente impenhoráveis as
coisas ou direitos inalienáveis:
o Art.º 1488 CC- direito de uso e habitação o qual não pode ser
trespassado ou locado, nem onerado de qualquer modo
o Art.º 1545 CC- servidão predial, apenas pode ser penhorada com os
prédios a que pertencem
o Art.º 1038/f) CC- o direito de arrendamento

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

❖ Intransmissibilidade subjetiva
A transmissão do direito disponível e alienável pode estar:
▪ Subjetivamente limitada- na dependência de autorização de terceiros
ao direito decorrente de acordo entre as partes ou de disposição legal.
EX: estabelecimento comercial

▪ Restringida na esfera jurídica do respetivo titular


→ Exclusão objetivas especiais
Há bens que nunca podem ser penhorados ou apenas o podem em certas
condições. Tal resulta de normas que fixam as:
➢ Impenhorabilidade absolutas- art.º 736/a) e normas avulsas que podem ser
arrumados em 3 grupos:
a. Ofensa aos bons costumes- objetos destinados aos exercício de culto
publico, túmulos, instrumentos indispensáveis aos deficientes e ao
tratamento de doentes
b. Diminuto valor- carecem de justificação económica
c. Bens isentos de penhora por disposição especial- manuscritos
inéditos, esboços, telas ou esculturas.
➢ Impenhorabilidades relativas- há bens que estão afetos a certas dividas e
mais nenhumas ou só respondem numa dada circunstância processual. Art.º
737/1, os bens de domínio privado do estado e das restantes pessoas coletivas
publicas, de entidades concessionarias de obras ou serviços públicos, podem
beneficiar de isenção de penhora desde que se encontrem especialmente
afetados à realização de fins de utilidade publica.
Os instrumentos de trabalho e os objetos indispensáveis ao exercício da
atividade ou formação profissional do executado, por regra, não podem ser
penhorados. Apenas podem se o executado os indicar para penhorem ou forem
considerados elemento corpóreo de um estabelecimento comercial.
➢ Impenhorabilidade relativa- art.º 738/1- os rendimentos periódicos que
assegurem a subsistência do executado não podem ser penhorados na sua
totalidade.
São impenhoráveis 2/3 dos rendimentos, devendo atender-se ao valor líquido.
Art.º 194- nada obsta a que a mesma parte seja penhorada noutra execução.
Não pode é ser penhorada a outra parte dos rendimentos.
A parte impenhorável tem limites:

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

o Mínimo- garantia de reserva de um montante equivalente ao salário


mínimo a quem não tenha outro rendimento. Art.º 738/3
o Máximo- três salários mínimos nacionais à data de cada apreensão
❖ Limites objetivos
→ Proporcionalidade
Art.º 735/3- a penhora limita-se aos bens necessários ao pagamento da divida
exequenda e das despesas previsíveis da execução. Este preceito lida com uma
dupla estimativa:
▪ Valor dos bens- importa operar uma prognose não só do valor do produto
arrecadável, mas ainda quanto desse valor chegará às mãos do exequente.
LF- é preciso ter em consideração garantias reais de terceiro, acionadas em
sede de reclamação de créditos
▪ Valor das despesas de justiça- engloba as custas judiciais stricto sensu, os
encargos com remunerações e outros pagamentos a fazer ao agente de
execução
Estas regras funcionam de modo objetivo, em função do valor das dividas.
A medida dos bens necessários é apreciada no momento da apreensão e não
após a venda dos bens.
A violação deste princípio é fundamento de oposição à penhora pelo executado.

→ Adequação
O agente de execução deve procurar penhorar os bens que apresentam maior
probabilidade de realizarem uma quantia pecuniária em menor tempo,
cumprindo o princípio de adequação do objeto da penhora à realização do
direito à execução.
Art.º 751/3- o agente de execução deve respeitar as indicações do exequente
sobre os bens que pretende ver prioritariamente penhorados. Não que dizer que
o agente penhorará unicamente esses bens. O nº 2 entende que o agente de
execução não deve cumprir esta indicação se for contra normas imperativas.

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

§ 12.º Constituição da penhora


O ato de penhora é o resultado de diligencias previas, são estas:
→ Indicação de bens
É um ato voluntario de uma parte executiva de individualização dos concretos bens
a penhorar.
A individualização de bens penhoráveis pode ser feita pelo exequente em dois
momentos:
o Inicial- no requerimento executivo o exequente pode indicar bens para a
penhora. Deve fornecer os elementos e documentos que disponha que
contribuam para a identificação e localização. Art.º 724/2.
É eventual, não constitui um ónus processual nem um dever processual.
o Sucessivo- nos termos do art.º 750/1, quando não tenham sido inicialmente
encontrados bens penhoráveis que permitam o arranque dos atos executivos
Se não forem encontrados bens penhoráveis no prazo de 3 meses a contar da
notificação feita pela secretaria ao agente de execução para o inicio das diligencias
da penhora art.º 748/1, o agente de execução notifica em simultâneo o exequente
para especificar quais dos bens que pretende ver penhorados e o executado para
indicar bens à penhora art.º 750/1.
A intervenção do executado é reduzida ao mínimo possível.
Se houver pluralidade de devedores executados, pode cada um indicar à penhora
os seus bens, mas não os bens de outro devedor executado, ainda que solidário.
Está ainda sujeito a uma sanção pecuniária de ocultar bens, por omissão ou
falsidade de declaração art.º 750/1

→ Consulta no registo informático de execuções


É o primeiro ato preparatório levado a cabo pelo agente de execução art.º 717, é
imposto pelo art.º 748/2.
Se houve execução movida contra o executado que terminou- art.º 748/3 têm lugar
imediatamente, as diligencias tendentes a identificar e localizar bens penhoráveis, a não
ser que o exequente tenha indicado bens. Caso as diligencias se frustrem, é o seu resultado
comunicado ao exequente, extinguindo-se a execução caso não indique bens no prazo de
10 dias.

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

Em todos os outros casos, o agente de execução deverá prosseguir com as


diligencias previas à penhora art.º 748/4, devendo efetuar a inscrição no registo
informático de execuções dos dados a que se refere o art.º 717/1

→ Localização e identificação de bens


O agente de execução deve indagar sobre a identificação e localização de bens junto
das pessoas e entidades que tiver como adequadas, num prazo de 20 dias art.º
749/1.
Pode consultar junto de terceiras entidades, elementos sujeitas a sigilo bancário
mediante:
• Consulta direta e sem autorização judicial às bases de dados da administração
tributaria da segurança social, das conservatórias do registo predial, comercial e
automóvel art.º 749/3 e 4
• Fornecimento obrigatório dos elementos pelos serviços competentes pelo meio
mais célere no prazo de 10 dias
O acesso aos elementos sujeitos a sigilo fiscal ou sob outro regime de
confidencialidade está regulado no art.º 749/7. A consulta dependerá de
despacho judicial e remete para o art.º 418/2.
Art.º 749/6- relativamente aos depósitos bancários não é necessária esta
autorização judicial, uma vez que o banco de Portugal disponibiliza ao agente de
execução informação acerca das instituições legalmente autorizadas a receber
depósitos em que o executado detém contas ou depósitos bancários.
Vale sempre o princípio do dever de cooperação das partes e terceiros art.º
417/1.
Se num prazo de 3 meses não forem encontrados esses bens penhoráveis o agente
de execução notifica em simultâneo o exequente para especificar quais os bens que
pretende ver penhorados e o executado para indicar bens à penhora.
Na falta absoluta de indicação de bens penhoráveis no prazo de 10 dias, extingue-
se sem mais a execução

BENS IMÓVEIS
A penhora de bens móveis e imoveis é uma penhora de direitos reais de gozo em
titularidade e posse exclusivas que incidam sobre aqueles bens.

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

Pode ser penhora de propriedade, de usufruto, superfície ou de outro direito real


menor de gozo.
Se for em regime de contitularidade, os atos de penhora seguem o regime da penhora
de direitos reais indivisos art.º 781.
A penhora de imoveis abrange art.º 758:
→ Partes integrantes do prédio
→ Frutos, naturais e civis- os que se produzirem ou vencerem depois do momento da
penhora.
Não abrange as coisas acessórias, salvo os documentos de titularidade do bem. Art.º
210/2 CC. Ter-se-á de fazer uma penhora autónoma de coisa móvel não sujeita a
registo art.º 764/1.
Se for penhorado um imóvel que seja divisível e o valor do imóvel exceder largamente
o valor do crédito exequendo e reclamado, o executado pode requerer a autorização
para proceder ao seu fracionamento art.º 759.
A competência decisória é do juiz.
Art.º 755/1- A penhora de imoveis é efetivada através de comunicação eletrónica do
agente de execução ao serviço de registo competente, a qual vale como pedido de
registo ou com a apresentação naquele serviço de declaração por ele subscrita.
O registo predial é constitutivo da penhora.
O título que fundamenta o registo de uma penhora é o requerimento executivo.
O conservador recusará o registo apenas se se verificar algum dos casos previstos no
art.º 69 CRPd.
Art.º 119 CRPd- havendo registo provisório de arresto, penhora ou apreensão em
falência ou insolvência de bens inscritos a favor de pessoa diversa do requerido ou
executado, o juiz deve ordenar a citação do titular inscrito para declarar, no prazo de
10 dias, se o prédio ou direito lhe pertence.
Se o citador declarar que os bens lhe pertencem, permanece a situação de duvida
quanto à titularidade sobre o bem, sendo os interessados remetidos para os meios
processuais comuns.
O registo provisório não tem efeito suspensivo sobre a execução, salvo se o juiz de
execução decidir em contrário, se suscitada a questão.
O agente de execução deverá designar um depositário judicial dos bens imoveis.
→ Em regra, será o próprio agente de execução art.º 756/1.

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

→ Pode ainda, ser o próprio executado, se o exequente o consinta ou se for casa de


habitação efetiva. Se o executado for promitente-comprador só pode ser depositário se
for casa de habitação efetiva, após tradição da coisa, ou se lhe tenha sido judicialmente
reconhecido o direito de retenção.
→ Terceiro designado pelo agente de execução com o consentimento do exequente. O
exequente ao indicar os bens para penhora pode propor ao agente de execução certa
pessoa para depositário
O depositário está sujeito aos deveres comuns do depositário, apesar de não estarmos
perante um contrato art.º 1190 CC e art.º 760/1.
Preforma atos de administração corrente, quanto a atos de administração
extraordinária, como exploração dos bens penhorados, deve obter-se um acordo entre
o exequente e o executado.
Pode sempre pedir escusa do cargo ocorrendo um motivo atendível art.º 761/3. Estes
motivos, podem ser, por analogia, alguns dos art.º 417/3 e 497.
O depositário deve tomar posse efetiva do imóvel. O executado ou terceiro detentor
estão legalmente obrigados a entregar o imóvel.

BENS MÓVEIS
→ Sujeitos a registo
Art.º 768 manda aplicar, com as devidas adaptações o disposto no art.º 755,
relativamente à penhora de bens imoveis.
A penhora efetiva-se por comunicação eletrónica à conservatória do registo
competente.
A imobilização pode ser anterior à penhora, mas não é obrigatório que o seja
art.º 768/2, e é realizada através da imposição de selos ou de imobilizadores.
Apos a imobilização deve proceder-se à apreensão do documento de
identificação do veículo e à remoção do mesmo, salvo se o agente de execução
não achar necessário.
→ Não sujeitos a registo
Art.º 764/1- a penhora faz-se por apreensão efetiva do bem, seguida da sua
remoção para depósitos. Esses podem ser depósitos privados, públicos ou
equiparados.
Apenas nos depósitos públicos ou equiparados virá a possível venda em
deposito publico art.º 836
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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

Art.º 764/2- não há lugar à remoção nas seguintes situações:


o A natureza dos bens é incompatível com o deposito
o A remoção implica uma desvalorização substancial dos bens ou a sua
inutilização
o Custo da remoção é superior ao valor dos bens
Neste caso deve proceder-se a uma descrição pormenorizada dos bens,
obtenção de fotografias e imposição de algum sinal distintivo nos próprios bens.
Fica o executado como depositário.
→ Partes integrantes e frutos
O ato processual de penhora de coisas moveis abrange eventuais partes
integrantes e frutos, naturais ou civis, desde que não sejam expressamente
excluídos e nenhum privilégio exista sobre eles.
Não abrange as coisas acessórias, salvo os documentos de titularidade do bem.
Sempre que haja uma remoção de bens moveis penhorados, o fiel depositário é o agente
de execução que realizou a diligencia art.º 764/1.
Se o executado se recusar a entregar o bem, aplica-se o art.º 757

DIREITOS
Penhora de qualquer posição jurídica ativa que não seja tratada em sede de penhora
de imoveis ou em sede de penhora de moveis, ou seja:
▪ Posições jurídicas reais não exclusivas sobre a coisa
▪ Posições jurídicas creditícias
o Pecuniário ou de prestação de facto fungível
o Singular ou plural, conjunto ou solidário
o Vencido não vencido
o Presente ou futuro

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

▪ Universalidade de direitos
→ Plural, parciário ou solidário
A penhora de créditos tem de lidar com os problemas
o Ativo- aplicação analógica do art.º 743,
da existência da obrigação, das suas garantias e do articulado com o art.º 735, impõe que
só se possa penhorar a respetiva
cumprimento da prestação. Em relação às garantias da posição e nunca a dos demais credores.
Estes devem ser notificados art.º
obrigação, estas estão fora do título executivo. O art.º 781/1

773ss apresentam um procedimento sumário de o Passiva- devem ser notificados todos os


devedores e não somente um deles,
cominatório pleno, através do qual se permite que uma vez que a confissão de um não se
estende aos demais. Art.º 552 CC
apenas para efeitos daquele concreto processo se
→ Garantia real
possa concluir pela existência do pretenso direito de
Impõe atos acessórios de conservação da
crédito. garantia que não integram a penhora.

Assenta na declaração que o terceiro devedor nele vier o Penhor- o agente de execução procede
à apreensão do objeto deste, aplicando-
a proferir sobre a existência ou não do direito. Porém, se o regime da penhora de moveis. Art.º
773/7
esta declaração, individualmente julgada, não pode
o Hipoteca- faz-se no registo o
ser considerada título executivo. Art.º 703. averbamento especial da penhora
conforme o art.º 773/7
O agente de execução, no ambito do art.º 749/1, pode
requerer a terceiro devedor informações que
considere uteis à individualização do crédito.
Porém, a penhora propriamente dita efetiva-se através de uma notificação ao devedor
do devedor, de que o crédito fica à ordem do agente de execução art.º 773/1. Esta
notificação deve ser feita com as formalidades da citação pessoal e sujeita ao seu
regime.
A notificação contém também a informação do prazo para declarar se reconhece ou não
o crédito e das consequências da inercia. Art.º 773/4, o reconhecimento tácito da
obrigação é um efeito cominatório pleno da omissão de pronuncia. Tem valor de
preclusão.
Se tal notificação for consumada, o terceiro devedor não poderá opor à execução, um
ato de extinção do crédito posterior art.º 820.
No ato de notificação ou num prazo de 10 dias art.º 773/3, o terceiro pode:
➢ Reconhecer que o crédito existe, mas declarar que a sua exigibilidade depende de
contraprestação art.º 776
Reconhecimento qualificado do crédito, com reservas. Deve ter em conta o art.º 820
CC.
Se o executado confirmar o crédito, mas não cumprir, a lei criou a possibilidade de ser
instaurada ação executiva contra o executado, pelo exequente ou pelo terceiro devedor

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

art.º 776/4, na mesma ação executiva, sem necessidade de citação previa, tendo como
título executivo a declaração de reconhecimento do crédito.
Se negar a existência desse crédito, aplica-se o regime do art.º 775.
➢ Reconhecer que o crédito existe nas condições indicadas
Deverá, logo que se vença, proceder ao cumprimento e apresentar o documento do
deposito.
Se não cumprir, pode ser proposta uma ação executiva pelo exequente ou pelo
adquirente do crédito art.º 777/3, consoante o crédito ainda esteja penhorado ou já
tenha sido vendido.
o Exequente- título executivo é o documento demonstrativo da ocorrência da
confissão da divida
o Adquirente- o título executivo é o título de aquisição do crédito emitido pelo
agente de execução nos termos do art.º 827
➢ Contestar a existência do crédito
Pode negar nos mesmos termos em que o faria se fosse réu numa ação declarativa. Pode
impugnar existência ou opor uma exceção perentória.
Art.º 820 CC- apenas podem ser opostos com eficácia processual factos anteriores à
penhora.
Art.º 775/1- deve proceder-se à notificação do exequente e do executado para se
pronunciarem num prazo de 10 dias, devendo o exequente declarar se mantém a
penhora ou desiste dela.
o Manter- o crédito é levado à venda ou à adjudicação como litigioso art.º 775/2
o Desistir- é levantada, e o exequente poderá fazer uma nova indicação de
bens art.º 751/4, b) e e).
➢ Créditos incorporados
→ Títulos de crédito
São objeto os títulos de crédito stricto sensu e os direitos reais no caso dos títulos de
créditos representativos
A penhora assenta em dois momentos:
➢ Apreensão do título art.º 774/1
Transferência efetiva do exercício dos poderes de facto para o agente de execução.
Art.º 783 aplicam-se as normas que regulam a entrega de coisa móvel não sujeita a
registo.
➢ Deposito em instituição de crédito art.º 774/2
Dada a possível natureza obrigacional do título, é necessário notificar o terceiro devedor
que o crédito que o documento título foi penhorado nos temos dos art.º 773 e 774

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

→ Valores mobiliários
➢ Não sujeitos a imobilização- a penhora é feita nos termos previstos para os títulos
de crédito
➢ Escriturais, integrados em sistema centralizado- art.º 82 CVM, a penhora será feita
mediante comunicação à entidade registadora, de que o valor fica à ordem do agente
de execução
➢ Sujeitos imobilização ou deposito- o regime dos depósitos bancários é aplicável
➢ Registado- há que aplicar ainda as normas relativas à penhora de moveis sujeitos a
registo art.º 783.

➢ Rendimentos periódicos
Podem ser rendas, abonos, vendimentos, salários ou Os valores auferidos de
forma excecional como
outros créditos periódicos. Cabem aqui rendimentos de prémios de produtividade
não cabem aqui, devendo ser
causa pessoal: penhorados como créditos
▪ Rendimentos de trabalho- vencimentos, salários,
avenças ou prestação de natureza semelhante, incluindo direitos de autor
▪ Prestações sociais- abonos, subsídios e pensões de reforma
▪ Prestações pagas regulamente a título de seguro ou indemnização
▪ Rendimentos de causa real- frutos civis vencidos regularmente pela titularidade de um
direito real ou pessoal de gozo sobre a coisa
o Renda e alugueres
o Prestações semelhantes ex.: contrato de leasing
o Prestações pecuniárias convencionadas pagas por titular de direito real de gozo
menor
Confirmada a legalidade da penhora, deve o agente de execução promover a notificação
do locatário, empregador ou entidade que os deve pagar. Ordena-o a que passe a
descontar o valor de crédito penhorado e o deposite em instituição de crédito.
Os efeitos da penhora produzem-se com a notificação ao terceiro devedor, pois, nos
termos gerais do art.º 773/1, o respetivo crédito fica desde logo à ordem do agente de
execução.
Feito o deposito, as quantias ficam indisponíveis até:
▪ Termo do prazo para a oposição à penhora
▪ Transito em julgado da respetiva decisão

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

➢ Saldos bancários
O objeto da penhora é o direito de crédito do executado sobre uma instituição de
crédito decorrente de um saldo positivo num deposito bancário.
A identificação da conta poderá ser feita na indicação dos bens para a penhora art.º
724/1, i), contudo, caso não tenha sido feita adequadamente, poderá ser penhorada a
parte do executado nos saldos de todos os seus depósitos existentes art.º 780/2,
respeitando o limite do princípio da proporcionalidade.
A ordem de penhora será:

Contas Contas Contas coletivas- Seja


o primeiro contitular
Singulares coletivas- Menor
número de
• A prazo contitulares
• À ordem • A prazo
• A prazo • À ordem
• À ordem

Assim, só se deve passar para a conta seguinte, quando a anterior não satisfizer a
execução art.º 751/4, b).
Art.º 780/5- devem ser consideradas no objeto da penhora as entradas ou saídas
ordenadas antes da penhora. Devem ser contabilizadas:
▪ A favor do saldo- os lançamentos dos créditos de valores entregues antes da penhora,
mas ainda não creditados
▪ Em desfavor do saldo- as apresentações a pagamentos de cheques, com data anterior
à penhora, e os pagamentos ou levantamentos, já creditados a terceiros antes da
penhora.
Art.º 780/11- a entidade bancaria fornecerá ao agente de execução extrato onde
constem todas as operações que afetem os depósitos penhorados após a realização da
penhora.
Os limites subjetivos encontram-se nas contas conjuntas.
Art.º 780/5- sendo vários os titulares do deposito, a penhora incide sobre a quota-
parte do executado na conta comum, presumindo-se que as quotas são iguais.
O procedimento de penhora inicia-se com:
1. Obtenção de informação acerca das instituições legalmente autorizadas a receber
depósitos em que o executado detém contas junto do Banco de Portugal. Art.º 749/6.

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

2. Comunicação eletrónica direitamente às instituições de crédito art.º 780/1 e 2, com


menção expressa do saldo ou quota-parte do executado
3. 2 dias para as instituições comunicarem se as contas existem e qual o montante do
saldo art.º 780/8
a. Inexistência da conta ou impossibilidade de efetuar o bloqueio por via do art.º
738/4 e 5, a penhora condicional fica sem efeito por ilegal
b. Comunica o montante bloqueado, tem-se a penhora efetuada na data do envio da
comunicação de bloqueio que o agente lhe fizera
4. Recebida a comunicação, o agente de execução comunica num prazo de 5 dias, às
instituições de crédito, a penhora dos montantes dos saldos existentes que se
mostrem necessários para a satisfação da quantia exequenda e o desbloqueio dos
montantes não penhorados. Art.º 780/9
5. Instituição de crédito comunica a penhora ao executado com natureza de
comunicação interna
6. Notificação do agente de execução de constituição de penhora

➢ Quotas sociais, de liquidação e lucros


A penhora de uma quota abrange os direitos patrimoniais a ela inerentes, com ressalva
do direito a lucros já atribuídos por deliberação dos sócios à data da penhora e sem
prejuízo da penhora deste crédito.
Não é penhorado o direito ao voto.
A penhora é feita através de notificação à própria sociedade e de registo art.º 755/1.
A penhora de direito aos lucro e à quota de liquidação deve ser vista como uma penhora
de quinhão sobre um bem indiviso art.º 781

➢ Direitos em comunhão e sobre patrimónios autónomos


Em qualquer dos casos apenas pode ser penhorada a quota-parte do executado. Não se
penhora a coisa em si pois estar-se-ia a penhorar um bem de terceiro art.º 735/2.
A penhora efetiva-se unicamente por notificação do agente de execução aos
contitulares. Tem-se por realizada desde a data da primeira notificação art.º 781/1.
Os notificados podem fazer as declarações que entenderem quanto ao direito do
executado art.º 781/2, nomeadamente contestar a existência do direito.
➢ Direitos reiais de gozo sobrepostos
→ Penhora do direito onerado
O seu titular tem gozo partilhado da coisa e uma posse não exclusiva e não efetiva.
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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

Nestes casos a coisa não pode ser apreendida segundo o regime da penhora de imoveis ou
moveis, pois implicaria tirar o gozo da coisa ao terceiro titular do direito real onerador.
Art.º 781/5 manda aplicar o regime da penhora de parte, quota, ou quinhão em bens
indivisos.
→ Penhora do direito onerador
Se o objeto da penhora for o direito real pelo qual a coisa está a ser efetivamente
gozada, segue-se o regime da penhora de imoveis ou moveis.
A coisa corpórea pode ser apreendida já que o gozo de terceiro não se traduz em
posse efetiva.
Porém, estes casos também devem ser notificados a terceiros titulares de direitos
reais maiores

➢ Direitos e expetativas de aquisição


O objeto desta penhora são situações jurídicas ativas que, afetando em termos reiais
um bem, permitem que o sujeito executado, possa, no futuro, adquiri-lo para si.
É um objeto amplo pois não só engloba o direito ou expetativa de aquisição como o
conteúdo obrigacional, uma vez que o que é penhorado é a posição contratual.
Excluem-se os direitos ou expetativas de aquisição de:
• Natureza obrigacional, os quais são penhoráveis nos termos gerais da penhora de
créditos.
• Bens indeterminados art.º 778/1
• Não constante de título formal e cujo reconhecimento o executado esteja a pedir em
ação que para o efeito intentou.
Art.º 778/1 manda aplicar o regime da penhora de créditos. Assim, a penhora é feita
somente por notificação à contraparte reservatária no contrato, realizada pelo agente
de execução art.º 773.
Se a coisa a adquirir já estiver em posse ou detenção do devedor, deverá proceder
também à sua apreensão, sendo necessário designar um depositário art.º 772
Estando perante um direito real de aquisição, a penhora deve ser registada art.º 755 e
768 ex. vi 783.
Se se verificarem as condições legais ou contratuais para a aquisição, esta pode ser um
efeito legal ou convencional automático, mas também pode ser consequência de um
ato voluntario do executado ou adquirente seja pela via extrajudicial ou judicial.

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

Se esta for antes da venda executiva, o executado precisará da autorização do agente


de execução para o exercício do poder de aquisição, uma vez que a expetativa ficou à
ordem do agente de execução art.º 773/1.
Feita a aquisição definitiva da coisa antes da venda há uma conversão automática da
penhora. O objeto passa a incidir sobre o direito real adquirido art.º 778/3.
Se ocorrer alguma causa de extinção da posição jurídica a penhora extingue-se pelo
desaparecimento do seu objeto, podendo então ser nomeados outros bens art.º 751/4,
b)

➢ Penhora de estabelecimento comercial


Trata-se de uma penhora de uma universalidade de direito na titularidade do
executado composto por:
▪ Direito reiais
▪ Créditos imobiliários
▪ Créditos mobiliários
▪ Outros direitos
Há certos estabelecimentos comerciais que são impenhoráveis, tem se entendido que
não é penhorável o estabelecimento comercial derivado de um contrato inominado de
instalação de lojista em centro comercial, dada a natureza intuitu personae.
A penhora é feita por auto em que se relacionam os bens que essencialmente integram
o estabelecimento comercial, feito oficiosamente pelo agente de execução art.º 719/1.
A essencialidade traduz-se em que sem esses bens o estabelecimento não pode
continuar.

VI. IMPUGNAÇÃO DA PENHORA


§ 13.º Violação de limites objetivos
As ilegalidades objetivas podem ser arguidas em:
→ Oposição à penhora pelo executado
É um incidente declarativo da execução, logo não pode existir sem ação executiva
O pedido será a revogação da penhora de um bem do executado.
No caso do art.º 742/1, o cônjuge executado pode requerer a comunicabilidade da
divida com fundamento no art.º 784/1,b), pois estariam a penhorar bens que seria
subsidiários. Aqui não haveria uma ilegalidade da penhora, porque até à pronúncia

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

de comunicabilidade seria valida. Haveria uma troca dos bens próprios pelos bens
comuns art.º 741/5.
A causa de pedir tem de ser uma das tipificadas no art.º 784/1, são ilegalidades
objetivas que dizem sempre respeito aos bens do executado:
a) Inadmissibilidade da penhora dos bens concretamente apreendidos ou da
extensão com que ela foi realizada.
Alega-se uma violação das normas que fixam:
▪ Impenhorabilidades objetivas, absolutas, relativas ou parciais
▪ Princípio da proporcionalidade
b) Imediata penhora de bens que só subsidiariamente respondam pela divida
exequenda
Trata-se de penhora de bens em responsabilidade subsidiaria objetiva e subjetiva.
Relativamente à preterição da responsabilidade subsidiaria subjetiva, só pode ser
alegada quando o opoente não tece oportunidade processual de invocação do
benefício da excussão previa no prazo de oposição à execução, é o caso do art.º
828/3.
Se o fiador não cumpriu o ónus de alegar o benefício da excussão previa no prazo
da oposição à execução como impõe o art.º 745/2, precludiu. Tal também vale se
já invocou tal benefício e foi indeferido pelo juiz
c) Incidência da penhora sobre bens que, não respondendo, nos termos do
direito substantivo, pela divida exequenda, não deviam ter sido atingidos
pela diligencia.
Casos de limitação convencional e legal de responsabilidade, bem como o caso dos
bens intransmissíveis ou mesmo fora do comercio.
Este incidente é da competência exclusiva do juiz de execução art.º 723/1, b), logo,
o agente de execução não tem competência para conhecer da oposição.
Relativamente à legitimidade ativa, só o executado pode opor-se à execução art.º
784/1.
O momento e prazo de dedução do incidente de oposição à penhora estão
dependentes da forma de processo:
➢ Sumario- art.º 856/1. A oposição será apresentada num prazo de 20 dias a
contar da citação da execução e do ato de penhora. Aqui, o executado tem o
ónus de cumular a oposição à penhora com a oposição à execução art.º
856/3.

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

➢ Ordinário- a oposição será apresentada em 10 dias a contar da notificação do ato


de penhora art.º 785/1
❖ Se não houver cumulação de oposições, por qualquer razão, o incidente segue as
disposições gerias dos incidentes da instância.
O juiz profere um despacho liminar onde pode indeferir em caso de manifesta
improcedência ou o fundamento não ser uma das alíneas do art.º 784/1. Se
deferir, o exequente deve ser notificado para contestar no prazo de 10 dias art.º
293/2. No caso de não responder, é aplicável o art.º 732/3 ex vi art.º 785/2.
❖ Se houver cumulação de oposições, por via do art.º 856/1 e 3, há um despacho
liminar e notificação do exequente para contestar nos termos do art.º 732.

Art.º 785/3- quando a oposição é autónoma dá-se a


Art.º 785/5- na
suspensão da execução apenas se o executado prestar caução. pendência da oposição
que não suspenda a
Esta suspensão circunscreve-se aos bens referidos na execução, nenhum dos
credores pode ser pago
oposição, podendo a execução prosseguir quanto aos
restantes. Porém, se a oposição respeitar a um imóvel que constitua habitação, o
executado pode requerer ao juiz que a venda aguarde a decisão da oposição art.º
733/5 ex vi 785/4.
Quando a oposição é cumulada, o processo só suspende nos termos do regime
próprio dos embargos à execução art.º 733. Segundo o art.º 856/6, o executado
pode ainda requerer a substituição dos bens penhorados por caução idónea o que
retira à execução os bens penhorados inicialmente.
A penhora será levantada se a oposição à penhora for procedente art.º 785/6. Esta
sentença tem valor de cado julgado formal.
→ Recurso de apelação
Os despachos do juiz quanto à penhora são passiveis de recurso, seja por um error
in procedendo, comos as nulidades do art.º 738 ou 195, seja por error in indicando
de onde resulte a violação das normas sobre o objeto e os limites da penhora.
Podem ainda reclamar quando os despachos não admitam recurso ordinário, nos
termos do art.º 615/4.
Assim, o recurso próprio é o de apelação nos termos dos art.º 644 e 852.

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

→ Simples requerimento
É admitido a título residual uma vez que só pode ser requerido quando a lei o
preveja expressamente.
Está previsto no art.º 738/6 para a redução ou extensão de rendimentos
periódicos penhorados.
Ainda o requerimento de levantamento da penhora de bens que o herdeiro do
executado não haja recebido em herança art.º 744, com indicação dos bens da
herança que tem em seu poder.
É ainda um meio das partes deduzirem uma pretensão ou pedido ao gente de
execução no ambito das suas competências, nomeadamente a substituição de bens
penhorados art.º 751/4.
Também é um meio residual de oposição à penhora de bens pelo próprio
exequente, como a penhora de um bem seu.

§ 14.º Violação de limites subjetivos


As ilegalidades subjetivas do ato de penhora podem ser arguidas em:
→ Protesto do ato de penhora
A pretensão é a do levantamento da penhora e a restituição dos bens, por
afastamento da presunção de que o que está em poder do executado lhe pertence.
Os bens moveis estão em poder do executado quando se achem num espaço
identificado no processo como sendo objeto de algum direito de gozo, real ou
pessoal, do executado. Art.º 764/3.
É uma presunção ilidível, mas não no ato de penhora.
Não se aplica a bens moveis sujeitos a registo pois nesse caso a presunção reside
do registo, o agente de execução não pode penhorar um automóvel que encontre
na garagem do executado sem nada saber sobre o mesmo.

A PRESUNÇÃO DEVE FUNCIONAR QUANDO SEJA MANIFESTO QUE OS BENS SÃO DE TERCEIRO?
LF- entende que o agente de execução não deve realizar a penhora quando seja confrontado, no próprio
ato, com a evidencia do direito de terceiro. A ilisão da presunção caberia ao agente de execução, se for clara
a titularidade de terceiro não há lugar a presunção
RP- a posição de LF é contra legem. O art.º 764/3 ignora a situação material do bem a qual apenas pode
ser considerada em sede de ilisão da presunção

➢ Legitimidade ativa- o requerimento pode ser deduzido pelo executado ou por


alguém em seu nome, quer por terceiro

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

➢ Legitimidade passiva- é o exequente pois este é o titular do interesse em manter


a penhora
A presunção é ilidível apenas com prova documental inequívoca, não podendo
recorrer-se a testemunhas. O documento não tem que ser autêntico, pode ser
simples documento particular.
Se o documento for impugnado ou contestado não há prova inequívoca, pois a
qualidade probatória perdeu-se de imediato.
Este procedimento inicia-se pela dedução pelo legitimado em simples requerimento
do pedido de levantamento da penhora, acompanhado de documento suficiente
para provar a titularidade do direito anterior à data da penhora. Vale o prazo geral
de 10 dias art.º 149/1, a contar do ato de penhora ou do conhecimento do mesmo
art.º 344/12, mas nunca depois da venda do mesmo.
Se o juiz considerar improcedente, tal não prejudica a dedução de embargos de
terceiro.
O não uso do procedimento não pode ser entendido como uma renúncia ao direito
de usar os embargos de terceiro.
→ Embargos de terceiro
Ação pela qual quem não é parte na execução pede a extinção do ato de penhora,
apreensão ou entrega judiciais de bem seu.
Situa-se entre a execução do direito à prestação e o exercício dos direitos dos
sujeitos que não são os executados.
Nunca podem ser penhorados bens de terceiro à execução art.º 735/1 e 2.
Contudo, os bens do executado são apreendidos ainda que em posse de terceiro
art.º 747/1, quando estes têm direitos que não sejam licitamente oponíveis ao
exequente.
Art.º 342/1- sob pena de improcedência, o autor dos embargos de terceiros, deve
alegar e provar:
▪ Penhora ou qualquer ato judicialmente ordenado de apreensão ou entrega de bens
EX: arrolamento, arresto, restituição da posse e apreendidos.
▪ Ofensa
Decorrerá de uma incompatibilidade entre o exercício do direito de terceiro e os
efeitos da penhora. Os efeitos da penhora que são incompatíveis são:
o Indisponibilidade material- perda de posse efetiva da coisa. Não existe
numa penhora que não implique uma apreensão. EX: penhora de direitos

69
Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

o Ilegalidade subjetiva da penhora- o terceiro deixa de poder dispor do objeto


só seu direito de crédito nos termos dados pelo seu título de aquisição
Qualquer inibição, material ou jurídica, total ou parcial do titular de exercer o seu
direito sobre o bem jurídico respetivo
▪ Aquisição de direito ou posse
O terceiro deve alegar e demonstrar a titularidade da posse ou de direitos
ofendidos, o que determina, ao mesmo tempo, legitimidade e causa de pedir.
Art.º 342/1 e 30/1- apenas o titular tem interesse em demandar pois é ele que,
em caso de procedência, colherá benefício da sentença
▪ Incompatibilidade desse direito ou posse com a realização ou ambito da diligencia
o MTS- os direitos incompatíveis são aqueles que impedem que os bens
penhorados possam ser incluídos naqueles que, por pertencerem ao
património do executado, devem responder pela divida exequenda.
Art.º 824/2 CC- com a venda executiva extinguem-se os direitos reais de
gozo que não tenham registo anterior ao de qualquer arresto, penhora ou
garantia exceto os que se tenham constituído antes que produzam efeitos
oponíveis a terceiros independentemente do registo.
o LF- todo o direito de terceiro, ainda que derivado do executado, cuja
existência, tendo em contra o ambito com que é feita, impediria a realização
desta função de transmissão forçada do objeto apreendido. Art.º 840/1
São os direitos que não caducam com a venda e que poderão ser depois opostos ao
adquirente
o RP- direito oponível à execução ou procedimento de apreensão por razoes de
direito substantivo:
o Objetivamente oponíveis- direitos reais
o Subjetivamente oponíveis- os direitos de crédito e qualquer outro direito
sobre bens que não integrem a esfera do executado.
DIREITOS REAIS DE GOZO
A propriedade e a compropriedade de terceiro não podem Art.º 344/2-
nada impede a
integrar o objeto da penhora. Art.º 735. Se mesmo assim se colocação da ação
de reivindicação
suceder, o efeito translativo do art.º 824/1 CC não ocorre,
Art.º 819 CC- se o
nem a venda extrajudicial faz extinguir o direito legitimo do título for
posterior à
titular do direito real. penhora não há
direito de
Não pode haver restrição ou exclusão do exercício de um propriedade

direito sem que o titular seja também citado como executado

70
Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

nos termos do art.º 54/4. Não pode haver direitos de terceiro que caduquem
com a venda sem citação do seu titular.

DIREITOS PESSOAIS DE GOZO


O direito de crédito do exequente prevalece sobre o direito de crédito do
comodatário ou do depositário. Porém, o art.º 1133/2 CC permite a oposição
do direito quando este incida sobre bens que não são do executado.
A locação apresenta um regime diferente dada a sua oponibilidade que assenta
na regra emptio non tollit locatio art.º 1057 CC.
Alguma doutrina defende que, por este princípio, a locação não caduca com a
venda executiva, por isso seria compatível com a penhora.
RP- a oponibilidade fundada no art.º 1057 CC permite que em sede de efeitos
extintivos da venda executiva, que a locação deva ser tratada nos mesmos e
ecatos termos dos direitos reais de gozo menores. Assim, uma locação anterior
à primeira garantia não pode ser objeto da penhora, posterior à primeira
garantia, ou apenas recai sobre a propriedade de raiz ou estende-se a penhora
ao arrendamento se o arrendatário for citado nos termos do art.º 54/4
DIREITOS REAIS DE GARANTIA
São oponíveis à execução os direitos reiais de garantia, dada a sua natureza de
causa legitima de preferência. Art.º 604/2 CC.
A caducidade das garantias reiais supõe a prévia citação, contudo, esta citação
e em sede de reclamação de créditos art.º 786/1, b) e não por meios de
embargos de terceiro.

Discute-se se for penhorado bem de terceiro poderá embargar de terceiro o


credor de terceiro, com garantia real sobre esse bem:
➢ MTS e LF- não sendo ele credor do executado, não será citado para a reclamação
de créditos. Sem duvida que o seu direito é materialmente oponível e nem sequer
será eficaz apos a penhora ou extinto pela venda.
➢ RP- transmite-se o direito do executado e caducam garantias de credor
privilegiado com uma garantia sobre bens do executado. Não se transmite o
direito de terceiro, nem tampouco caducam as garantias do credor privilegiado
de terceiro.

71
Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

DIREITOS REAIS DE AQUISIÇÃO


Trata-se de direitos que, dada a sua realidade, também são materialmente
oponíveis à execução que não os pode restringir ou suprimir sem citação do
seu titular. Essa citação serve para o exercício do seu direito real art.º 819 e
831.
A falta de citação importa direito a ação de preferência art.º 819/1 e 1410 CC.
ou ação de execução especifica, ainda que depois da transmissão do bem a
terceiro.

LF- o promitente
Se o bem penhorado for propriedade de terceiro e não do
comprador pode
embargar de terceiro, ao
executado não será procedente a ação de preferência uma
ser titular de um direito
incompatível na exata
vez que o bem não foi validamente vendido, era de
medida em que é
incompatível o direito do
terceiro, logo a venda era nula, este não pode preferir
promitente vendedor
numa venda nula.
Nos casos de expetativa real de aquisição, como venda com reserva de
propriedade, esta é oponível à execução nos termos e limites do art.º 777. Há
que distinguir:
➢ Quem é o terceiro
➢ Se houve tradição da coisa
pode ser o proprietário ou vendedor- reservatário/ locador e o executado o
comprador- reservatário/ locatário, respetivamente. O proprietário pode embargar
terceiro pois é um direito de natureza real.
RP- se tiver lugar uma verdadeira e rigorosa penhora de expetativas de aquisição, nos
termos do art.º 778, o proprietário, vendedor-reservatário ou locado não verá o seu
direito ofendido
Se se apresentar como comprador reservatário ou locatário:
o MTS- o comprador pode sempre embargar para salvaguardar a subsistência da
sua posição apos a venda.
o RP- é necessário que a penhora haja produzido uma ofensa à expetativa para
obter ganho nos embargos de terceiro. A expetativa não caducará com a venda
pois está fora do ambito da penhora
DIREITOS DE CRÉDITO E SOBRE UNIVERSALIDADES
A penhora pode ofender o direito de crédito nomeadamente quando:
❖ O terceiro cocredor não for notificado da penhora de créditos
❖ A coisa depositada objeto de prestação não seja a devida, mas de terceiro
❖ Seja estabelecimento comercial, saldo bancário ou quota em sociedade
72
Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

❖ Crédito penhorado tiver por credor um terceiro e não o executado.


POSSE INCOMPATIVEL
Art.º 342 admite que o fundamento da incompatibilidade seja a titularidade
possessória. Sendo esta a causa de pedir, quem deduz embargos de terceiro
tem de declarar e provar a posse.
MERA DETENÇÃO
A detenção está manifestamente excluída como causa de pedir dos embargos
de terceiro. A detenção não faz presumir o direito de fundo. Não é possuidor
uma vez que o uso que faz da coisa se enquadra numa situação precária, cuja
função é permitir a não titulares do direito o uso de coisa alheia, mas não a
aquisição do respetivo direito.
O facto de o detentor representar o proprietário na posse não decorre que o
possa representar na dedução de embargos de terceiro de defesa do direito de
propriedade.
Relativamente aos detentores de direitos reais de gozo menores estes são
possuidores alheios quanto à propriedade, mas possuidores em nome próprio
quanto ao seu direito, logo podem deduzir embargos de terceiro nos termos
anteriormente descritos.
CONJUGE TERCEIRO
Art.º 343- o cônjuge terceiro tem legitimidade singular, não carecendo de
autorização do outro para se defender por meio de embargos de terceiro em
duas situações:
➢ Para defender os direitos relativamente a bens próprios. Quando se penhora
um bem próprio do cônjuge não executado em desconformidade com o art.º
735
➢ Para defender os direitos sobre os bens comuns que hajam sido
indevidamente atingidos. Dá-se quando se penhora um bem comum sem que
o cônjuge seja citado como impõe o art.º 740/1 e 786/1, a)
RP- não pode embargar de terceiro nos casos do art.º 786/1, a) 1º parte,
(imoveis ou estabelecimento comercial) uma vez que o bem não é de terceiro. Pode
arguir sim, a falta de citação do art.º 786/6.

73
Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

Caberá ao embargado, impugnar os factos constitutivo da pretensão de


levantamento da penhora e invocar os factos impeditivos do art.º 1696/2 CC.
A procedência de embargos de cônjuge do executado com fundamento em não
se ter pedido a sua citação, não obsta a que possa ser requerida e decretada,
de novo, a penhora do mesmo bem.

O terceiro é quem não é parte na causa. Não pode ser nem o executado, nem
exequente, nem cônjuge citado nos termos do art.º 786/1, nem credor reclamante.
Também não o é o herdeiro habilitado como sucessor do primitivo executado.
O devedor não executado já é considerado terceiro.
Se executarem bens do exequente ou de credor reclamante estes não podem nem
deduzir oposição nem embargos. Tem-se defendido que o meio é o simples
requerimento.
Art.º 347- pode pedir cumulativamente a restituição provisoria da posse. Terá de
ter uma posse incompatível, não bastando a incompatibilidade do direito. Terá
também de a demonstrar pois o direito não presume a posse, apenas o contrário.
Art.º 91/1- há uma extensão da competência, logo o tribunal competente será
aquele onde decorre a ação.
Art.º 344/2- o terceiro de colocar a ação num prazo de 30 dias a contar da data em
que a diligencia foi efetuada ou em que embargante teve conhecimento da ofensa.
Presume-se que o terceiro tem conhecimento no ato da penhora, quando este se
traduza na apreensão da coisa e que este tenha participado ou presenciado.
Fora destes casos, o conhecimento será por meio da notificação do ato de penhora.
Não podem ser propostos depois da venda judicial dos bens.

74
Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

A propositura de embargos de imoveis deve ser levada a registo nos termos do


art.º 3/a) CRPd.
Recebida a petição, o juiz deve proferir um despacho liminar art.º 345/1 e 226/4,
a). Esta deve ser indeferida quando ocorram vícios insanáveis:
▪ Pedido seja manifestamente improcedente- não alegação e prova dos factos que
integram
▪ O pedido seja deduzido fora do prazo dos 30 dias ou depois da venda ou
adjudicação
▪ Ocorram exceções dilatórios insupríveis de conhecimento oficioso- ineptidão
da petição.
MTS- defende a existência
Pode ser um indeferimento total art.º 560, ou parcial, de um litisconsórcio
necessário natural entre o
caso em que o despacho pode ser de aperfeiçoamento. exequente e o executado.
Apenas obtendo a
As partes primitivas são notificadas para contestar art.º sentença em face a ambos
podem os embargos ter
348/1. efeito útil

A contestação deve ser deduzida no prazo de 30 dias art.º


569/1. A não contestação ou não replica seguem o regime da revelia art.º 574/2
e 587 ex vi 348.
A eficácia do caso julgado abrange apenas quanto à parte decisória, isto é, quanto
à revogação ou não do ato ou despacho de penhora, arresto ou apreensão cautelar.
Art.º 349- também constitui caso julgado quanto à existência e titularidade do
direito ou da posse invocados pelo embargante.
Pode valer ainda como autoridade de caso julgado em face de ações que conheçam
da existência e titularidade da posse EX: ação de reivindicação, ações possessórias
→ Ação de reivindicação
Art.º 1311 e 1315 CC legitimam o proprietário ou titular de qualquer direito real
a requerer judicialmente a qualquer possuidor ou detentor da coisa o
reconhecimento do seu direito de propriedade e a consequente restituição do que
pertence.
Pode ser deduzida a todo o tempo, autonomamente e mesmo depois do termo da
ação executiva.
O direito real não há de ter caducado com a venda executiva, em face ao art.º 824
CC.
Tendo em conta que esta ação inclui um pedido de restituição da coisa, estão
excluídos os direitos que não incluam posse ou detenção da coisa.
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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

A procedência do pedido está dependente da data do registo da ação de


reivindicação. A penhora e aquisição executivas que lhe sejam anteriores, garantem
ao credor que recebe o produto da venda e ao adquirente a improcedência da ação
de reivindicação, desde que alegados e provados os requisitos dos art.º 291 CC ou
17 CRPd.
Se o terceiro adquiriu antes da penhora e não registou pode opor o seu direito art.º
5/4 CRPd, pode pedir a restituição junto do agente de execução ou junto do
adquirente, se o bem já tiver sido vendido.
Pode, em vez, requerer também o pagamento do preço. Art.º 894 CC.
Se o terceiro proprietário tiver também deduzido embargos de terceiro, existem
três cenários:
➢ Rejeição dos embargos- art.º 346 a decisão de rejeição não obsta a que o terceiro
proponha ação em que peça a declaração da titularidade do direito. Trata-se de
uma decisão sumária sem força de caso julgado.
➢ Sentença final de forma- extinção por inutilidade superveniente, resultante da
extinção da penhora por o bem respetivo ter sido adjudicado. Pode o terceiro
instaurar ação de reivindicação
➢ Sentença de mérito- a sentença que decide os embargos de terceiro tem valor de
caso julgado material e poderá ser invocada noutra ação, real ou possessória, pois
decidiu da existência do direito ou posso do embargante ou do direito do
embargado, nos termos do art.º 349.
o Se os embargos forem anteriores à ação de reivindicação e se basearem em
direito incompatível- faz caso julgado e litispendência para a reivindicação
posterior. Uma e outra ação conhecem a titularidade do direito.
o Se os embargos forem anteriores à ação de reivindicação e se basearem em
posse incompatível- não há possibilidade de valerem como exceção de caso
julgado ou mesmo autoridade de caso julgado em face a ação de
reivindicação. Uma vez que a causa de pedir é diferente.
o Se for instaurada primeiro uma ação de reivindicação- a sentença que
absolver o reu no pedido determina a improcedência dos posteriores
embargos de terceiro fundados em posse, uma vez que há uma relação de
prejudicialidade entre a decisão reivindicatória e os fundamentos
possessórios da sentença dos embargos.

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

Se se fundarem no direito base são lhe oponíveis tanto as exceções de


litispendência como o caso julgado, uma vez que ambos se fundam na
mesma causa de pedir.
Assim, não são meios cumulativos, poiso primeiro meio utilizado pode condicionar
o segundo.
Se a ação for deduzida antes da venda, pode o terceiro produzir o incidente cautelar
do protesto pela reivindicação previsto no art.º 840.
Funda-se na pendencia ou iminente propositura da alção de reivindicação por
quem não é parte na causa, invocando a titularidade de direito próprio
incompatível com a transmissão. Basta fazer o protesto e acompanhar com a
certidão da pendencia de reivindicação.
Tem então um prazo de 30 dias para propor a ação de reivindicação.
→ Reclamação do ato do agente de execução
Serve para alegar violação de deveres profissionais, erro de decisão e erro de
procedimento quanto a um concreto ato da penhora.
A nulidade procedimental ocorre quando:
➢ Seja realizado um ato que a lei não admita, nem a título discricionário
➢ Haja omissão de um ato ou de uma formalidade que a lei prescreva.
Os atos do agente de execução regem-se pelos art.º 195 e 614.
Estão excluídas as invocações de que a penhora é intrinsecamente nula por ser
objetiva ou subjetivamente ilegal. Para tal existem outros mecanismos.
Contudo, por exemplo o ato de recusa de substituição dos bens penhorados por
outros, requerida ao agente de execução pelo art.º 751/4, a), só pode ser
sindicável pela reclamação. São também exemplos:
❖ A penhora de bens não indicados pelo exequente, quando a indicação seja
vinculativa
❖ A penhora objetiva ou subjetiva ilegal pelo exequente
❖ A negação da verificação da comunicabilidade da divida
❖ Indeferimento de requerimento dirigido ao agente de execução
Em geral, deveres funcionais do agente de execução na penhora quando sejam
processualmente relevantes e não configurem nulidades processuais, de modo a
provocar a fiscalidade por parte do juiz.
Têm legitimidade a parte ou terceiro, incluindo o debitor debitoris na penhora de
créditos.

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

VII. EXECUÇÃO DA GARANTIA PATRIMONIAL


§ 15.º Participação de interessados
Consumada a penhora, deve haver lugar à citação do executado quando a forma seja
sumaria art.º 856/1.
Art.º 786/1- Concluída a fase da penhora e apurada, pelo agente de execução, a
situação registal dos bens, este procede à citação de:
→ Cônjuge do executado- nas situações de penhora de bens
É realizada no prazo de 5
imoveis ou estabelecimento comercial que o executado não dias a contar do
possa alienar livremente; de penhora de bens comuns do casal apuramento da situação
para a promoção de separação de bens e comunicação da registal dos bens.
divida; exclusivamente para declarar se aceita a
comunicabilidade da divida.

→ Credores titulares de direito real de garantia, sobre É realizada no prazo de 5


bens penhorados- para reclamarem o pagamento dos seus dias a contar do termo do
prazo para deduzir
créditos, incluindo de penhor cuja constituição conte do registo oposição à penhora
informático de execuções

→ Fazenda publica- representada pelo Ministério Publico


→ Instituto de gestão financeira da segurança social- também representado pelo MP
Quanto aos direitos reais de garantia que não estejam registados, são conhecidos no
processo por alguma das vias especialmente criadas para o efeitos:
❖ Exequente- pode indicar os credores que conheça no requerimento executivo
❖ Executado- tem o dever de indicação de direitos, ónus e encargos não registáveis que
recaiam sobre o bem penhorado e respetivos titulares ou beneficiários no prazo da
oposição e sob pena de condenação como litigante de má fé art.º 753/3

❖ Oficiosamente- o agente de execução pode no ato de apreensão de bem em poder de


terceiro indagar se o terceiro tem os bens em seu poder por via de penhor ou direito
de retenção art.º 747/2.
❖ O juiz- pode conhecer oficiosamente a existência de garantia real.
Em todos os demais casos é um credor desconhecido que pode reclamar
espontaneamente o seu crédito art.º 788/3.
Os interessados são citados por via postal no domicílio conhecido. Os credores não
podem ser citados
Se tal não for possível, será por contacto pessoal do agente de editalmente art.º
execução através do executado. E se tal também não for possível, 786/7
por edital.
O desrespeito por estas normas pode causa nulidade da citação Art.º 189/1 e 788/3-
art.º 191, que pode ser arguida pelo cônjuge ou credores no a falta de citação fica
prazo da oposição ou da reclamação de créditos. Se tal prazo não sanada se intervir no
processo sem a arguir
for indicado pode ser arguida na primeira intervenção do
processo.
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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

A arguição só é atendida se a falta cometida puder prejudicar a defesa do citado. Já a


simples falta de citação tem o mesmo efeito que a falta de citação do réu.
No requerimento de arguição de nulidade serão alegados e demonstrados os
pressupostos do ato de citação omitido
Não sendo sanada importa determinar em que momento se dará a produção de eficácia,
qual o seu objeto e qual a sua extensão:
→ Quanto ao momento
o Anselmo de Castro- o efeito da anulação não pode dar-se antes de a qualidade
que a pressupõe estar verificada, o que quanto ao reclamante seria após o
despacho liminar de admissão da reclamação
o RP- existindo despacho liminar de admissão das reclamações, a procedência da
arguição de nulidade basta-se com a prova das qualidades de legitimação junto
do juiz que aprecia a arguição da nulidade. Uma vez decretada, a decisão judicial
é imediatamente eficaz, não ficando condicionada.

→ Quanto ao objeto
A remissão para o regime geral parece determinar ser nulo tudo o que se processe
depois da penhora dos bens em questão salvando-se apenas esta art.º 187/a):
▪ Atos executivos incluindo vendas, adjudicações, remições ou pagamentos já a
efetuar
▪ O apenso de verificação e graduação de créditos
A anulação apenas se refere aos atos em que o credor exequente há de ter sido
beneficiário exclusivo, isto é, quando lhe couber em pagamento todo o preço da coisa
vendida.
Assim, não se anulam vendas, adjudicações, remissões ou pagamentos já efetuados dos
quais o exequente não é o exclusivo beneficiários. Assim, não se anularão os atos se:
▪ Art.º 795/1- os credores reclamantes beneficiarem de algum dos modos de
pagamento
▪ Art.º 842- terceiros exercerem o direito de remição sobre os bens
▪ Art.º 819/1- terceiros exercerem o direito de preferência.

Enquanto não forem citados para a causa tanto o cônjuge como os credores, mantêm-
se como terceiro, podendo embargar de terceiro ao abrigo do art.º 343.

INTERVENÇÃO DO CONJUGE
A citação do cônjuge deve ter lugar:
➢ Nos casos do art.º 786/1, a), quando a penhora recaia sobre:

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

o Bens imoveis ou
estabelecimento comercial que
o executado não possa alienar
livremente, para os efeitos do
art.º 787/1
o Bens comuns do casal,
cumprindo o art.º 740, e para
promoção da separação de bens

➢ Nos termos do art.º 786/5, para declarar se aceita ou não a comunicabilidade


da divida alegada pelo exequente ou pelo executado. Esta citação é imposta
pelos art.º 741/2 e 742/1
Em ambos os casos são dividas próprias face ao título, caso contraria haveria uma
necessidade litisconsorcial que imporia que ambos os cônjuges estivessem na
execução.
No caso da 1º parte do art.º 786/1, a) o objeto da penhora são bens próprios do
executado com uma especial legitimidade material nos atos dispositivos ou de
oneração de certos bens do casal. Art.º 1682-A CC.
O cônjuge citado é, pelo art.º 787, equiparado ao estatuto do executado:
❖ Pela penhora de estabelecimento comercial ou imóvel- tem um prazo de 20
dias para se opor à penhora desses bens, podendo cumular fundamentos de oposição
à execução. É considerado parte principal pois tem o poder de extinção da execução

❖ Pela penhora de bens comuns- não beneficia do estatuto. Não pode opor-se à
penhora nem à execução, pode é agir nos termos regulados pelo art.º 740 a 742, tal
como perfaz o art.º 787/2. Não é considerado parte principal.

§ 16.º Satisfação dos créditos


Permite-se que os credores cujos créditos não estejam ainda O exequente beneficia
vencidos ou que já se venceram, possam intervir quando haja um de uma prevalência no
nexo direito e necessário entre e execução e a diminuição da pagamento sobre
qualquer outro credor
garantia patrimonial numa futura execução. que não tenha uma
garantia real anterior
Este nexo é a titularidade de uma garantia real que caduque art.º 822 CC.
com a venda ou adjudicação. Precisamente por isto, o legislador
previu que os bens executados sejam vendidos livres de garantias reais, as quais
caducam art.º 824/2 CC.
Assim, não há lugar à reclamação de créditos se não houver pagamento por meio de
venda ou adjudicação, pois nessas eventualidades não sobrevém extinção da garantia
real art.º 824/2 e 826 CC.
➢ Por entrega em dinheiro- na penhora de moeda corrente, deposito bancário em
dinheiro ou crédito de terceiro com prestação depositada art.º 795/1 e 798

➢ Por consignação de rendimentos- requerida antes da citação de eventuais credores


reclamantes art.º 803/3

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

➢ Voluntario- mediante pleno pagamento a prestações desde que a suspensão/extinção


da instância seja anterior à citação dos eventuais credores art.º 806/2

Nestes casos é nula a citação dos credores e proibida a sua intervenção espontânea.
O credor reclamante tem vários direitos e poderes processuais tipificados:
→ Poderes ativos de:
o Requerer a suspensão da segunda penhora
o Requerer a adjudicação do bem art.º 799
o Requerer a prossecução/renovação da execução suspensa/extinta por plano de
pagamento em prestações art.º 809/2
o Requerer a extensão do objeto da penhora ao objeto da sua garantia ou penhora
eventualmente acompanhada de extensão subjetiva

→ Poderes passivos de:

o Garantia de notificação da liquidação da responsabilidade do executado art.º


847/3 e da extinção da execução art.º 849/2
o Audição sobre despacho de determinação da modalidade da venda art.º 812/1
e sobre a anulação da venda art.º 838/2
o Ser pago por entrega em dinheiro art.º 798/1
o Apreciar e votar as propostas de venda em carta fechada art.º 821/1
o Acordar para que aceitem propostas de valor inferior ao disposto no art.º 816/2,
art.º 821/3
o Propor venda em leilão art.º 834/1, a)

Por outro lado, está obrigado a depositar o excedente sobre o montante do crédito que
tenha reclamado sobre os bens adquiridos art.º 815/2.
O credor reclamante pode, ainda e a título excecional, substituir processualmente o
credor exequente ou, ele mesmo, passar à condição de credor exequente, se verificados
os pressupostos.
A promoção pode ser:
❖ Póstuma- num prazo de 10 dias contados da notificação da extinção requer o credor,
que tenha satisfeito aquelas condições, a reabertura da causa para efetiva verificação,
graduação e pagamento do crédito. Art.º 850/2

❖ Incidental- fica sem efeito a suspensão/extinção da execução decorrente da


pendencia da execução de plano de pagamentos, por requerimento do credor
reclamante nas mesmas condições que queira obter satisfação do seu crédito.

A substituição do exequente pelo reclamante está prevista no art.º 763/4. Qualquer


credor reclamante pode substituir-se ao exequente na prática do ato que ele tenha
negligenciado desde que tenham passados 3 meses sobre o inicio da atuação negligente
e enquanto não for requerido o levantamento da penhora.

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

A execução prossegue, como o reclamante a poder praticar os atos processuais


próprios na posição do exequente, mas apenas relativamente aos bens sobre quais
incida a garantia real invocada.
Art.º 788/2- a reclamação tem por base um título exequível contra o executado, ou
seja, um documento que poderia servir como título executivo nos termos do art.º 703.
O reclamante deve também, apresentar uma garantia real uma vez que é esse elemento
que vai legitimar a que seja pago na totalidade do seu crédito com o produto da venda
e não proporcionalmente art.º 604 CC. Este artigo, no nº 2, prevê:
➢ Consignação de rendimentos, judicial ou voluntaria
➢ Penhor de coisas e de direitos
➢ Hipoteca
➢ Privilégios creditórios
➢ Direito de retenção

O credor reclamante pode ainda apresentar a penhora como elemento real da sua causa
de pedir, como decorre do art.º 794. Tem-se discutido se, dada a semelhança, se o
beneficiário de arresto pode intervir como reclamante:
→ Jurisprudência dominante- o arresto ainda não convertido em penhora não confere
qualquer preferência no pagamento, pois não é uma garantia real que possa ser
invocada para reclamar créditos

→ MTS- o arresto enquanto não for convertido em penhora é apenas um meio de


conservação da garantia patrimonial e não atribui qualquer preferência no pagamento
→ RP- o credor arrestante teria que esperar pelo sucesso da sua própria execução para
obter uma penhora cuja data remontaria à do arresto art.º 762. Nessa data o credor
poderia encontrar uma execução extinta por falta de bens, o que inutilizaria o arresto.
Ademais, o arresto antecipa, de modo provisório a penhora, o efeito real ou equiparado
da penhora e, por aí, a sua exequibilidade em sede de reclamação de créditos.

A intervenção pode ser provocada ou espontânea


❖ Provocada- por citação dos credores conhecidos no prazo de 5 dias contados da
realização da última penhora art.º 786/1 a 3.
❖ Espontânea- feita independentemente de citação, por ato unilateral do credor
terceiro.
O conjunto das reclamações de crédito corre numa nova ação declarativa acessória,
incidental ou instrumental da execução. Segue o regime comum dos articulados e deve
ser deduzida num prazo de 15 dias a contar da data da notificação art.º 788/2.
Depois de notificado o executado, o exequente e os credores reclamantes art.º 789/1,
estes (exequente, executado ou o seu cônjuge por via do art.º 787) tem um prazo de
15 dias a contar da notificação para deduzir impugnação.
Se o credor não estiver munido de título exequível pode, no mesmo prazo para a
reclamação, requerer a sustação da graduação do crédito.

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Catarina de Sottomayor Barbosa Direito Processual Civil III 26131

Art.º 792 apresenta um processo sumario com efeito cominatório pleno para o credor
obter o título exequível na própria ação executiva.
O executado é notificado para no prazo de 10 dias, se pronunciar sobre a existência do
crédito invocado art.º 792/2. O requerimento não obsta à venda ou adjudicação dos
bens, nem à verificação do crédito reclamado, mas faz com que o credor tenhas os
mesmos direitos que teria se o crédito fosse admitido.
Importa distinguir:
➢ Executado reconhece o crédito- seja expressamente seja por falta de contestação,
considera-se formado o título executivo e reclamado o crédito art.º 792/3

➢ Executado contesta a existência do crédito- o credor terá de obter em ação de


condenação, sentença exequível, reclamando seguidamente o crédito na execução art.º
792/4

Art.º 723/1, b) - a sentença de reconhecimento e graduação de créditos deve ser


proferida no prazo máximo de 3 meses. Tendo em conta que esta ira conhecer de todos
os requerimentos apresentados para um dado bem, o prazo apenas corre para o último
requerimento relativamente ao mesmo bem.
➢ CM- a sentença de verificação e graduação faz caso julgado material quando reconheça
os créditos. Já absolvição da instância não dificultaria uma futura ação.

➢ LF- não oferece ao devedor garantias idênticas às da ação executiva comum. O caso
julgado cobriria apenas o reconhecimento das garantias reais, os créditos reclamados
seriam reconhecidos apenas para fundar a existência daquele direito real. Há caso
julgado quanto à graduação, mas não quanto à verificação dos créditos.

➢ RP- o requerimento contém dois pedidos, o reconhecimento do crédito e a graduação


deste. O reconhecimento da garantia real não integra o efeito jurídico pretendido pelo
reclamante. Não se forma caso julgado quanto às garantias pois estas são fundamento
da decisão. Forma-se caso julgado material quanto aos créditos, salvo no caso de
citação edital.

GRADUAÇÃO
A graduação de créditos reconhecidos é determinada por dois fatores:
❖ Relação e prevalência com a penhora- art.º 822 o exequente adquire pela penhora o
direito de ser pago com preferência a qualquer outro credor que não tenha garantia real
anterior

❖ Relações de prevalência entre garantias reais


o Titular do direito de retenção sobre imóvel- enquanto não entregar a coisa, tem a
faculdade de a executar, nos mesmo termos que um credor hipotecários, e de ser
pago com preferência aos demais credores do devedor art.º 759/1 e 2 CC
o Titular do direito de retenção sobre móvel- goza dos direitos e está sujeito às
obrigações do credor pignoratício, salvo pelo que respeita à substituição ou reforço
da garantia art.º 758 CC.

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