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1.1 CONCEITOS BÁSICOS


1.1.1 Epistemologia
Significa "estudo da ciência". É a crítica do conhecimento científico, exame dos
princípios, das hipóteses e das conclusões das diferentes ciências, buscando determinar
seu alcance e seu valor objetivo. Abrange também a filosofia da ciência e a história do
desenvolvimento científico (BRABO, 2003).
1.1.2 Ciência
É um conjunto de proposições (teorias) coerentes, sem contradições internas, com
encadeamento racional, despida de valorações e subjetividade (JUNIOR, 1988).
Caracteriza-se como uma forma especial de conhecimento da realidade empírica; um
conhecimento racional, metódico, sistemático, capaz de ser submetido à verificação e que
passa por um processo de reflexão (DENCKER, 1998).
Dentro da classificação das ciências, a Psicologia encontra-se nas Ciências Humanas.
A ciência não é o único caminho de acesso ao conhecimento e à verdade. Um mesmo
objeto ou fenômeno pode ser matéria de observação tanto para o cientista como para o
homem comum. O que os diferencia é a forma de observação (LAKATOS e MARCONI,
1995).
1.1.3 Metodologia Científica
É um sistema de regras e procedimentos explícitos. Normas científicas agrupam
padrões a serem seguidos na pesquisa e análise científica. A maior função da
metodologia é facilitar a comunicação entre pesquisadores, possibilitando a replicação 1.
Assim será possível validar fatos empíricos 2 e conclusões (NACHMIAS e NACHMIAS,
1996). Ou seja: comunicação, replicação, regras para raciocinar, regras para
intersubjetividade (critérios aceitáveis de objetividade entre juízes e métodos para
validação). Já para Laville e Dione (1999, p.335), “metodologia é o estudo dos princípios e
dos métodos de pesquisa”.
1.2 TIPOS DE CONHECIMENTOS
1.2.1 O conhecimento Popular (senso comum)
Também denominado bom senso ou senso comum, é aquele que todo o ser
humano desenvolve no contato direto e diário com a realidade. Estrutura-se como
um conjunto de crenças e opiniões, utilizadas em geral para objetivos práticos. É
basicamente desenvolvido por meio dos sentidos, e não tem intenção de ser
profundo, sistemático ou infalível (NETO, 2002, p.2).

Senso comum é um conjunto de informações não sistematizadas que aprendemos por


processos formais, informais e, às vezes, inconscientes, e que inclui um conjunto de
1
Replicação: Possibilidade de repetir o estudo exatamente como foi feito, ou seja, o estudo deve estar claro
e detalhado para que qualquer pessoa possa reproduzi-lo.
2
Empírico: “Baseado na experiência” (LAVILLE e DIONE, 1999, p.333)
2
valorações. Apesar de suas inconsistências, constitui-se na base a partir da qual se
constrói a ciência. Toda e qualquer observação pressupõe uma teoria, mesmo que ela
seja do senso comum. Numa teoria do senso comum, os conceitos podem ser vagos e
contaminados por valores e doutrinas (JUNIOR, 1988). O senso comum ou conhecimento
popular é superficial, sensitivo, subjetivo, assistemático e acrítico (LAKATOS e
MARCONI, 1995).

1.2.2 Conhecimento Religioso ou Teológico


O que funda o conhecimento religioso é a fé. Não é preciso ver para crer, e
devemos crer mesmo que as evidências apontem para o contrário do que a
religião nos ensina. As ‘verdades’ religiosas estão registradas em livros sagrados
ou são reveladas por deuses (ou outros seres espirituais) por meio de alguns
iluminados, santos ou profetas. Essas verdades são em geral tidas como
definitivas, e não permitem revisão mediante a reflexão ou experiência. Nesse
sentido, podemos classificar sob este título os conhecimentos ditos místicos ou
espirituais (NETO, 2002, p.3).

1.2.3 Conhecimento Filosófico


[...] A filosofia é a ciência-mãe, da qual foram, pouco a pouco, separando-se
formas de pensar e métodos que mais tarde se especializaram e se tornaram
independentes, e que hoje consideramos as ciências [...] Com o objetivo de
diferenciá-lo do conhecimento científico, poderíamos caracterizar o conhecimento
filosófico contemporâneo como um diálogo contínuo com os filósofos precedentes,
baseado em raciocínios lógicos e sem a obrigação de aplicação direta à realidade
[...] (NETO, 2002, p.3).

Segundo Ruiz (1996, p.111), o conhecimento filosófico é um “[...] esforço da razão


pura para questionar problemas humanos e discernir entre certo e errado, sem fazer
apelo a iluminações divinas, e recorrendo unicamente às luzes da própria razão humana”.
1.2.4 Conhecimento Científico
O conhecimento científico, assim como o filosófico, é racional, mas tem a
pretensão de ser sistemático e de revelar aspectos da realidade. As noções de
experiência e verificação são essenciais nas ciências; o conhecimento científico
deve ser justificado e é sempre passível de revisão, desde que se possa provar a
sua inexatidão [...] (NETO, 2002, p.4).

O conhecimento científico busca analisar, explicar, desdobrar, justificar, induzir e


aplicar leis, predizer com segurança eventos futuros (RUIZ, 1996). Conforme o autor:
A ciência é fruto da tendência humana para procurar explicações válidas, para
questionar e exigir respostas e justificações positivas e convincentes [...] Conhecer
perfeitamente é conhecer pelas causas; saber cientificamente é ser capaz de
demonstrar. O conhecimento científico difere do conhecimento vulgar 3 [senso
comum] e vai muito além deste, porque explica os fenômenos e não só os aprende
(p.96).

Senso comum Conhecimento científico


3
Ruiz refere-se ao senso comum como sendo um conhecimento vulgar. Para não causar confusão quanto à
terminologia, sempre que o autor utilizar a expressão conhecimento vulgar esta será substituída por senso comum.
3
Adquirido por todos os seres humanos Adquirido por especialistas das diversas
de qualquer nível cultural. áreas da ciência.

Ocasional, assistemático, sem método, É programado, sistemático, metódico.


não organiza os fragmentos de
conhecimentos em um corpo ordenado
de enunciados inter-relacionados e
subordinados uns aos outros.

Não questiona, não analisa, não tem É rigoroso, crítico, objetivo, tem uma
rigor de linguagem e de método, tem linguagem clara, sem ambigüidades.
uma confiança e aceitação passiva, não
exige demonstração.

Normalmente, gera certezas desde o Nasce da dúvida e se consolida na


seu nascimento. certeza demonstrada.

Associa analogias globais, estando Busca leis válidas para todos os casos
mais sujeito ao erro em seus da mesma espécie e nas mesmas
prognósticos. condições, estando menos sujeito a
erros em seus prognósticos.

Figura 1: Características que diferenciam o conhecimento científico do senso comum


Fonte: Ruiz (1996)

1.3 MÉTODOS CIENTÍFICOS


O método é um caminho a seguir na busca do conhecimento, na solução de
problemas (DENCKER, 1998).
1.3.1 Método Indutivo ou Probabilístico
Inicia pela observação para chegar aos princípios gerais e, depois, testá-los
(DENCKER, 1998). Segundo Nachmias e Nachmias (1996), os cientistas sociais usam
principalmente este tipo, indicando tendências e generalizações probabilísticas.
Lakatos e Marconi (1995) exemplificam:
O corvo 1 é negro, o corvo 2 é negro, o corvo 3 é negro, o corvo n é negro = (todo)
corvo é negro.
Assim, passa-se pelo raciocínio, pelos indícios percebidos (observação), a uma
realidade desconhecida. Vai-se do particular ao geral.
Elementos fundamentais do método indutivo: observação dos fenômenos, descoberta
da relação entre eles e generalização da relação.
Os casos particulares devem ser provados e experimentados na quantidade suficiente
(e necessária) para que possamos dizer (ou negar) o que será afirmado.
4
Além da grande quantidade de observações e experiências, é necessário analisar e
destacar a possibilidade de variações provocadas por circunstâncias acidentais. Se,
depois disso, o fenômeno continuar acontecendo, é provável que sua causa seja o que
está sendo apontado.
Quanto maior e mais representativa a amostra 4 maior a força indutiva do argumento.
Problemas ocorrem com a amostra insuficiente e tendenciosa 5.
1.3.2 Método Dedutivo
Não dedica muita atenção à experiência, mas parte da formulação de princípios gerais
para chegar aos particulares (DENCKER, 1998). Conforme Nachmias e Nachmias (1996),
requerem uma generalização universal, devendo incluir todos os casos.
Lakatos e Marconi (1995) exemplificam o método dedutivo, diferenciando-o do
indutivo:
Dedutivo: Todo mamífero tem um coração. Ora, todos os cães são mamíferos. Logo,
todos os cães têm um coração.
Indutivo: Todos os cães que foram observados tinham um coração. Logo todos os
cães têm um coração.
Os dois tipos de argumentos têm finalidades diversas: o dedutivo tem o propósito de
explicar o conteúdo das premissas e o indutivo de ampliar o alcance dos conhecimentos.
Os argumentos lógicos e matemáticos são dedutivos.

1.3.3 Método Hipotético-Dedutivo


Além destes, o MÉTODO HIPOTÉTICO DEDUTIVO busca superar as dificuldades de
generalização dos resultados através da noção de falseabilidade. Segundo Lakatos e
Marconi (1995), para Popper, criador do método hipotético-dedutivo, o método científico
parte de um problema, ao qual se oferece uma solução provisória, passando-se depois a
criticar a solução com vistas à eliminação do erro, dando surgimento a novos problemas.
Segundo Popper (apud LAKATOS e MARCONI, 1995), a ciência começa e termina com
problemas.

Expectativas PROBLEMA CONJECTURAS FALSEAMENTO


ou
conhecimento
prévio

4
Amostra: “Subconjunto dos elementos de uma população a partir do qual os dados são recolhidos
(LAVILLE e DIONE, 1999, p.331).
5
A amostra é tendenciosa quando agrupa sujeitos não representativos da população.
5

Figura 2 – Método hipotético dedutivo


Fonte: Lakatos e Marconi (1995)

- O problema surge de expectativas e teorias existentes.


- A solução proposta consiste numa conjectura (nova teoria); dedução de
conseqüências na forma de proposições passíveis de teste.
- Testes de falseamento: tentativas de refutação 6, entre outros meios, através da
observação e experimentação.
- Exemplo: Amanhã choverá. É pouco explicativa e difícil de falsear, pois em
algum lugar do mundo choverá.
- Amanhã choverá em Taquara às 10 horas da manhã. É facilmente falseável,
pois tem grande conteúdo explicativo. Bastará esperar para constatar a
conjectura.
- Se a hipótese não supera os testes, será falseada, refutada, exigindo nova
formulação do problema e da hipótese, que, se superar os testes rigorosos,
estará corroborada e confirmada provisoriamente.
- A observação sempre é precedida por um problema, uma hipótese, algo teórico.
- A indução tenta a todo custo confirmar, verificar hipóteses, busca acumular
todos os casos afirmativos possíveis. Já Popper procura evidências empíricas
para torná-las falsas. Um único caso negativo concreto será suficiente para
falsear a hipóteses. Isto é mais fácil e possível do que buscar a generalização.
Se a conjectura resistir a testes severos, estará corroborada, não confirmada
como querem os indutivistas. Confirmar é utópico, pois deve incluir todos os
casos positivos presentes, passados e futuros.
1.3.4 Método Dialético
Segundo Lakatos e Marconi (1995):
- A dialética compreende o mundo como um conjunto de processos. As coisas
não são analisadas na qualidade de objetos fixos, mas em movimento. Nada
está “acabado”, encontrando-se sempre em vias de se transformar, desenvolver;
o fim de um processo é sempre o começo do outro.
- As coisas não existem isoladas, destacadas umas das outras e independentes,
mas como um todo unido e coerente. Tanto a natureza como a sociedade são

6
“Princípio de refutação que consiste em estimar que um enunciado científico somente tem valor se pode
ser refutado, ou seja, demonstrado falso” (LAVILLE e DIONE, 1999, p.336).
6
compostas de objetos e fenômenos ligados entre si, dependendo uns dos outros
e, ao mesmo tempo, influenciando-se reciprocamente.
- É necessário avaliar-se uma situação, um acontecimento, uma tarefa, uma coisa
do ponto de vista das condições que os determinam, e, assim, os explicam.

Para a dialética, não há nada de definitivo, de absoluto, de sagrado; apresenta a


caducidade de todas as coisas e em todas as coisas e, para ela, nada existe além
do processo ininterrupto do devir transitório. Nada é sagrado significa que nada é
imutável, que nada escapa ao movimento, à mudança. Devir expressa que tudo
tem uma história [...] (ENGELS apud LAKATOS e MARCONI, 1995, p.103).
[...] Os objetos e os fenômenos da natureza supõem contradições internas, porque
todos têm um lado negativo e um positivo, um passado e um futuro; todos têm
elementos que desaparecem e elementos que se desenvolvem; a luta desses
contrários, a luta entre o velho e o novo, entre o que morre e o que nasce, entre o
que perece e o que evolui, é o conteúdo interno do processo de desenvolvimento,
da conversão das mudanças quantitativas em qualitativas (STALIN apud
LAKATOS e MARCONI, 1995, p.105).

1.3.5 Métodos Específicos das Ciências Sociais


O método de abordagem é a forma mais ampla de abordar o fenômeno estudado
(indutivo, dedutivo, hipotético-dedutivo e dialético) e os métodos de procedimento seriam
as etapas mais concretas da investigação, com objetivo mais restrito em termos de
explicação geral dos fenômenos e menos abstratas. Vários métodos podem ser utilizados,
concomitantemente, com a finalidade de obter vários enfoques do objeto de estudo
(LAKATOS e MARCONI, 1995).
1.4 PESQUISA CIENTÍFICA
1.4.1 O que é Pesquisa Científica
“A pesquisa é um esforço dirigido para aquisição de um determinado conhecimento,
que propicia a solução de problemas teóricos, práticos e/ou operativos [...]” (BARROS e
LEHFELD, 1990, p.29).
“[...] a pesquisa é um procedimento reflexivo, sistemático, controlado e crítico que
permite descobrir novos fatos ou dados, relações ou leis no campo atual do conhecimento
humano” (ANDER-EGG apud SCHLUTER, 2003, p.27).
A pesquisa científica “é a exploração, é a inquisição e é o procedimento sistemático e
intensivo que tem por objetivo descobrir, explicar e compreender os fatos que estão
inseridos ou que compõem uma determinada realidade” (BARROS e LEHFELD, 1990,
p.30). Segundo os autores, esta busca de soluções deve utilizar procedimentos
científicos.
Segundo Gil (1996, p.19):

[...] a pesquisa é desenvolvida mediante o concurso dos conhecimentos


disponíveis e a utilização cuidadosa de métodos, técnicas e outros procedimentos
científicos. Na realidade, a pesquisa desenvolve-se ao longo de um processo que
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envolve inúmeras fases, desde a adequada formulação do problema até a
satisfatória apresentação dos resultados.

A seguir, serão discutidos vários tipos de pesquisa. O tipo de pesquisa deve estar
relacionado ao objetivo do estudo, pois é o que se pretende investigar que levará à
escolha do tipo de pesquisa a ser realizado e não vice-versa. O pesquisador partirá de um
tema de interesse que o levará, então, a um problema de pesquisa ou a várias questões
de pesquisa que serão respondidas através da sua investigação.

Pesquisa qualitativa e quantitativa

Pesquisa Quantitativa Pesquisa Qualitativa

Plano estabelecido a priori. Plano flexível – parte de questões ou focos


amplos, que vão se definindo à medida que o
estudo se desenvolve.
A coleta e a análise dos dados não são
divisões estanques. As informações que se
colhem podem ser interpretadas e originar
uma nova busca de dados.

Hipóteses claramente especificadas. Não se preocupam em buscar dados ou


evidências que corroborem ou neguem
hipóteses.

Variáveis operacionalmente definidas. Não utiliza – Todo o contexto é importante,


não é reduzido a variáveis.

Medição objetiva. Dados descritivos sobre pessoas, lugares e


processos interativos pelo contato direto do
pesquisador com a situação estudada para
compreender os fenômenos segundo a
perspectiva dos participantes do estudo.

Quantificação dos resultados. Não procura enumerar ou medir os eventos


estudados, nem emprega instrumental
estatístico na análise dos dados. Utiliza
análise de conteúdo, de discurso, etc.

Evita distorções na etapa de análise e Considera o pesquisador e suas percepções


interpretação dos resultados em relação às como parte do processo de coleta e análise
inferências do pesquisador. dos dados.

Pesquisa experimental, testes, escalas, Observação, entrevistas, vídeos com análise


questionários e entrevistas com questões descritiva enfatizando a descrição do que
fechadas ou, se abertas, transformadas em está sendo visto, a fala dos entrevistados.
categorias quantificáveis, análise quantitativa Fotos, documentos, anotações das
de vídeos, documentos, observação com percepções e reflexões do pesquisador (diário
categorias pré-determinadas. de campo).
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Pesquisa Quantitativa Pesquisa Qualitativa

Previamente investigado por outros Pesquisa exploratória, pode faltar teoria para
pesquisadores, já com corpo de literatura, embasar o estudo.
variáveis conhecidas, teorias existentes.

Tempo de estudo de pouca duração. Tempo para estudo longo.

Preocupação com os resultados. Preocupação com o processo e não apenas


com os resultados.

Abordagem superficial – visa generalização Amostragem aprofundada – visa à


estatística. generalização analítica.

Adequada para estudo de grandes Dificuldades no estudo de grandes


populações. populações.

1.5 TIPOS DE PESQUISA CIENTÍFICA


1.5.1 Quanto aos Objetivos (GIL, 1995)
Exploratória: conhecer mais e melhor o problema, elaborar hipóteses, aprimorar
idéias, descobrir intuições;
Descritiva: descrever características de uma população ou fenômeno, estabelecer
relações entre variáveis;
Explicativa: identificar variáveis que determinam a ocorrência de um fenômeno,
explicar a razão de um fenômeno, investigar relações de causa e efeito.

EXEMPLOS:
- Exploratória: verificar quais são as necessidades de apoio de uma comunidade
X.
- Descritiva: descrever o trabalho realizado nas creches municipais de Taquara.
- Explicativa: verificar a relação entre depressão e desempenho no trabalho.

1.5.2 Quanto aos Procedimentos


1.5.2.1 Pesquisa bibliográfica
A pesquisa bibliográfica é fundamental, pois permite a aquisição de conhecimentos
sobre os temas investigados. Através dela, pode-se saber o que já foi descoberto sobre o
tema, lacunas que ainda precisam ser investigadas, metodologias empregadas no estudo.
A pesquisa bibliográfica pode ocorrer em bibliotecas, buscando-se livros, revistas
científicas, monografias, dissertações e teses.
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Além disso, atualmente, a internet oferece vários sites especializados para pesquisa.
O cuidado que se deve ter ao buscar um artigo na internet é quanto à origem do site, pois
nem tudo o que está disponível é de boa qualidade. Deve-se buscar, de preferência, sites
de instituições, de revistas científicas, por exemplo. Caso sejam utilizados outros sites,
deve-se identificar a qualificação do autor ou o objetivo de realização do trabalho. A
pesquisa na internet geralmente é feita através de palavras-chave que caracterizam o
tema que será investigado, quando não se tem um endereço eletrônico já estabelecido.
A pesquisa bibliográfica pode ter o objetivo de apenas aprofundar conhecimentos
sobre determinado tema ou servir como embasamento para um projeto de pesquisa ou
pesquisa propriamente. Conforme Gil (1995), toda pesquisa exige uma pesquisa
bibliográfica, mas existem algumas que são apenas bibliográficas.
A pesquisa bibliográfica utiliza fontes secundárias, ou seja, material já elaborado pelo
autor que produziu o texto. Conforme Marconi e Lakatos (2001), a pesquisa bibliográfica
envolve várias etapas:
- Escolha do tema que será pesquisado
- Elaboração do plano de trabalho (objetivos, problema, metodologia)
- Identificação, localização e compilação do material
- Fichamento (síntese das principais idéias, transcrições de passagens do autor)
- Análise e interpretação (crítica sobre o material, dispensando o que foge aos
objetivos, articulando as idéias dos diferentes autores, organizando o texto por
temas)
1.5.2.2 Redação do texto
No Apêndice A, encontra-se uma relação de endereços eletrônicos para busca na
internet.
1.5.2.3 Pesquisa documental
A pesquisa documental é semelhante à pesquisa bibliográfica, exceto pela origem do
material utilizado – documentos, enquanto que a pesquisa bibliográfica trabalha com
material que já recebeu alguma forma de tratamento analítico, sendo publicados os
resultados de sua elaboração.
A pesquisa documental geralmente busca obter dados em resposta a um problema. É
realizada em arquivos públicos, imprensa, arquivos particulares, prontuários de hospitais
e clínicas, registros escolares, registros de hotéis e agências de viagens.
Exemplos:
- Verificar, num hospital psiquiátrico, os diagnósticos dos pacientes internados no
período de 1940-1950 e de 1990-2000.
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- Verificar, em agências de viagens, o registro dos locais de destino escolhidos
por jovens entre 15 e 18 anos no período de 1998-1999.
1.5.2.4 Estudo de caso
Segundo Yin (1994), estudos de caso geralmente são a estratégia preferida quando
questões de “como” e “por que” são colocadas e quando o pesquisador tem pequeno
controle sobre os eventos. O estudo de caso permite ao investigador aprofundar o
conhecimento sobre determinado fato/fenômeno/contexto. É utilizado quando se deseja
cobrir condições contextuais, acreditando que estas são altamente pertinentes ao
fenômeno estudado. O contexto e o fenômeno não podem ser separados na vida real.
O caso pode ser uma pessoa, comunidade, empresa, grupo, é uma unidade de
análise. Quando são investigados vários casos, chama-se “estudo de casos múltiplos”. As
evidências dos estudos de múltiplos casos são freqüentemente consideradas mais
robustas. O uso deste tipo requer fontes e tempo extensivos. Serve para a replicação
lógica, que é semelhante ao uso de múltiplos experimentos.
Os estudos de caso geralmente utilizam várias fontes de dados. Uma das mais
importantes fontes de informação do estudo de caso é a entrevista. Ela pode ser de várias
formas, mas a mais comum é a com questões abertas. O uso de informantes chaves
também é fundamental no estudo de caso, pois podem fornecer informações adicionais
que ajudem a compreender o caso. Entretanto, a entrevista é um relato verbal sujeito a
viéses, sendo necessário corroborar os dados com outras fontes.
Já para Stake (1994), o estudo de caso não é uma escolha metodológica, mas uma
escolha de objeto a ser estudado - o caso. Pode ser analisado de forma qualitativa,
quantitativa ou de ambas. Um caso pode ser simples ou complexo, isto é, pode ser um
sujeito, um grupo, uma instituição, etc. Pode-se desenvolver simultaneamente mais do
que um caso, mas cada um deles é um inquérito concentrado em um único caso. O
estudo de caso pode ser visto como um pequeno passo no sentido da grande
generalização, mas a generalização não deve ser enfatizada. Além disso, um único caso
é capaz de falsear uma teoria, limitando a sua generalização, ou confirmá-la. A partir de
um caso particular, pode-se aprender muito. É fundamental a boa escolha de um caso,
muito mais do que ser representativo, ele deve oferecer uma oportunidade para
aprender.
Segundo Robson (1994), o estudo de caso é uma estratégia que envolve uma
investigação empírica de um fenômeno contemporâneo particular, usando múltiplas fontes
de evidência (variedade de técnicas de coleta de dados). Existem vários tipos de estudo
de caso: individual, grupo de estudos de casos individuais, estudos de grupos sociais,
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estudos de organizações e instituições, estudos de eventos, papéis e relações. O estudo
de caso também necessita de um plano de pesquisa, mas este não precisa ser tão rígido
quanto nos estudos experimentais. É um processo contínuo e seu delineamento e foco
podem ser modificados durante o estudo. É interessante começar a revisão de literatura
antes de iniciar o estudo para ter algumas orientações iniciais, mas esta revisão não é
definitiva, podendo ser revisada à luz da experiência. Diferentemente dos estudos
experimentais e enquetes a amostragem no estudo de caso não está a serviço de
generalização. A escolha da amostra vai ser orientada pelas questões de pesquisa,
arcabouço teórico e questões da vida real (disponibilidade, acessibilidade).
1.5.2.5 Etnografia
A etnografia tem sua raiz na antropologia e na sociologia e, recentemente, tornou-se
um modelo para pesquisa em psicologia social e a chave de um novo paradigma de
pesquisa (BANISTER et al., 1994). Etnografia é uma forma básica de pesquisa social
envolvendo observações, obtenção de dados por meio de informantes, construção de
hipóteses e ação sobre estas.
Conforme refere o autor, a etnografia está preocupada com a experiência, o
pesquisador participa da vida diária durante um período de tempo, assistindo o que
acontece, escutando o que é dito, fazendo questões, estudando documentos e coletando
os dados à medida que estão disponíveis.
A etnografia é uma forma de pesquisa que engloba vários métodos. A observação
participante, que muitos pesquisadores vêem como um sinônimo de etnografia, é um
método básico. A utilização de vários métodos reduz o risco de confiar num único método
de coleta de dados, que pode significar que um achado é dependente do método. Isto
também significa que a triangulação é possível, permitindo ao pesquisador comparar os
dados coletados por diferentes métodos.
Essencialmente, a etnografia é caracterizada por (BANISTER et al., 1994):
- coletar os dados de várias fontes (entrevistas, conversações, observações,
documentos, etc.);
- estudar o comportamento em contextos cotidianos e não em situações
experimentais;
- usar uma abordagem não estruturada para coleta de dados nos primeiros
estágios, a questão chave pode emergir gradualmente através da análise;
- compreender um estudo em profundidade.
Banister et al. (1994) explicam que este tipo de pesquisa preocupa-se com a interação
de fatores e eventos, a pesquisa está inserida num mundo social. O pesquisador
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etnográfico reconhece que ele é parte do mundo social que está estudando e ele não
pode evitar que provoque algum efeito no fenômeno que está estudando. Ele não tenta
eliminar estes efeitos, mas compreendê-los.
O pesquisador etnográfico tem problemas específicos de registro de dados.
Gravações em vídeo e áudio, por vezes, são inapropriadas e o comum são as notas de
campo, que consistem em descrições relativamente concretas de processos sociais e
seus contextos. Notas analíticas também são úteis. Enquanto vai lendo as notas de
campo ou documentos, transcrevendo um tape, é útil construir um comentário,
especialmente quando se tem idéias teóricas. A formulação de um problema preciso,
hipóteses e uma estratégia de pesquisa apropriada são emergentes na pesquisa
etnográfica. Também é encorajado o pesquisador anotar alguns sentimentos, que poderá
adicionar ao processo analítico, pode ser uma fonte para interpretações (BANISTER et
al., 1994).
O autor aponta algumas desvantagens do método, são elas: o contato intensivo tem
maiores implicações éticas tanto em relação às condutas do pesquisador como em
relação aos seus achados, existe uma seleção de situações, pessoas e períodos de
tempo e outros são excluídos (por isso a necessidade de informantes). Além disso, um
setting inteiramente ‘natural’ nunca é possível e o pesquisador/observador pode ter
influência sobre os outros participantes e pode modificar a validade dos achados. Este
tipo de pesquisa demanda muito tempo.
1.5.2.6 História de vida

Batizada de história ou narrativa de vida, pode ser definida como a narração, por
uma pessoa, de sua experiência vivida. A narração é autobiográfica, pois é
construída pelo próprio participante do estudo, tendo o pesquisador a menor
interferência possível (LAVILLE e DIONE, 1999, p.158).

Segundo os autores, o pesquisador deverá ter uma ou várias questões que pretende
responder com este tipo de pesquisa, um objetivo a seguir. Isto o auxiliará na escolha
do(s) participantes(s), na identificação de lacunas na história apresentada que deverão
ser preenchidas e na análise dos dados (LAVILLE e DIONE, 1999, p.158).
Para Kude (2003), no início, enquanto não houver intimidade e confiança, os dados
podem ser superficiais, sendo necessárias muitas entrevistas para que as histórias se
tornem reveladoras. A história de vida pode centrar-se sobre toda a vida da pessoa, sobre
determinados períodos ou acontecimentos.
1.5.2.7 Pesquisa ação e pesquisa participante
Segundo Titoni e Jacques (1998), para muitos autores, a pesquisa ação e a pesquisa
participante são sinônimos; para outros, o diferencial é a ação.
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- A pesquisa ação é uma forma de pesquisa participante, mas nem toda a
pesquisa participante concentra suas atenções na ação (THIOLLENT apud
TITONE e JACQUES, 2001).
- Envolvimento efetivo da população pesquisada em todas as etapas do
desenvolvimento da pesquisa, desde a formulação do problema até a divulgação
dos resultados.
- Proposta político-pedagógica e a favor dos oprimidos.

1.5.2.8 Pesquisa de opinião


A pesquisa de opinião é uma estratégia de pesquisa que visa a conhecer as
opiniões, as intenções ou até os comportamentos de uma população
freqüentemente muito grande [...] recorre-se a um conjunto de questões propostas
a uma amostra dessa população (LAVILLE e DIONE, 1999, p.148).

Segundo os autores, geralmente, as questões do instrumento são fechadas,


facilitando o tratamento estatístico.

1.5.2.9 Pesquisa experimental


Os experimentos possibilitam ao pesquisador grande controle sobre as variáveis,
fortalecendo a validade de inferências causais. O pesquisador pode controlar a introdução
da variável independente- VI (variável que influencia outra, é manipulada pelo
pesquisador) e determinar a sua influência sobre a variável dependente- VD (variável
que é estudada, observada). Entretanto, o pesquisador freqüentemente tem que confiar
em voluntários ou sujeitos auto-selecionados para suas amostras. A amostra então não é
representativa da população de interesse, de modo que os achados não podem ser
generalizados para a população não testada, limitando a abrangência dos achados
(NACHMIAS, 1996). Na pesquisa experimental o pesquisador busca testar hipóteses
previamente estabelecidas. Hipóteses são respostas prováveis ao problema. As
hipóteses podem ser nulas H0, ou seja não afirmam relação nenhuma entre as variáveis
ou então podem afirmar algum tipo de relação H1, H2...

Exemplo:
Problema: A terapia em grupo reduz a depressão pós-parto?
H0= A terapia em grupo não influencia na redução da depressão pós-parto.
H1= A terapia em grupo influencia na redução da depressão pós-parto.
VD= depressão pós-parto
VI= terapia em grupo
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As pesquisas, de forma geral, podem caracterizar-se, ainda, de acordo com os


momentos de coletas de dados.
Pesquisa transversal: o pesquisador faz um corte em determinada(s) faixa(s)
etária(s) ou fenômeno(s), observando um dado momento. Geralmente, estes estudos são
mais utilizados por serem mais rápidos e fáceis de se realizar.
Pesquisa longitudinal: estudo dos mesmos sujeitos através de diferentes fases do
desenvolvimento ou acompanhamento após a ocorrência de determinado fenômeno.
Requer mais tempo, custos geralmente maiores e risco de perder alguns sujeitos ao longo
do estudo.

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