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Em 1948 muda-se para a favela do Canindé. Nos anos seguintes, Carolina foi
mãe de três filhos, todos de relacionamentos diferentes. Em 1958, o repórter do
jornal Folha da Noite, Audálio Dantas, foi designado para fazer uma
reportagem sobre a favela do Canindé e por acaso, uma das casas visitadas foi
a de Carolina Maria de Jesus, que lhe mostrou seu diário, surpreendendo o
repórter que ficou maravilhado com a sua história.
No dia 19 de maio de 1958, Audálio publicou parte do texto, que recebeu vários
elogios. Em 1959, a revista O Cruzeiro também publica alguns trechos do
diário. Mas foi em 1960 que foi finalmente publicado o livro autobiográfico
“Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, em edição de Audálio Dantas.
Com tiragem de dez mil exemplares, só a noite de autógrafos foram vendidos
600 livros.
Com o sucesso das vendas, Carolina deixa a favela e pouco depois compra
uma casa no Alto de Santana. Recebe homenagem da Academia Paulista de
Letras e da Academia de Letras da Faculdade de Direito de São Paulo. Em
1961 viaja para a Argentina onde é agraciada com a “Orden Caballero Del
Tornillo”. Nos anos seguintes publica: “Casa de Alvenaria: Diário de uma Ex-
favelada” (1961), “Pedaços da Fome” (1963) e “Provérbios” (1965).
Apesar de ter um livro transformado em Best-seller, Carolina não se beneficiou
com o sucesso e não demorou muito para ela voltar à sua condição de
catadora de papel. Em 1969 mudou-se com os filhos para um sítio no bairro de
Parelheiros, em São Paulo, época em que é praticamente esquecida pelo
mercado editorial.
Vida[editar | editar código-fonte]
Juventude[editar | editar código-fonte]
Carolina Maria de Jesus nasceu em 14 de março de 1914, [1] na cidade
de Sacramento, Minas Gerais,[2] numa comunidade rural, de pais negros analfabetos. [3] Ela
era filha ilegítima de um homem casado e foi maltratada durante toda sua infância. [4] Aos
sete anos, a mãe de Carolina forçou-a a frequentar a escola depois que a esposa de um
rico fazendeiro decidiu pagar seus estudos,[4] mas ela parou de frequentar a escola no
segundo ano, tendo ainda conseguido aprender a ler e a escrever e desenvolvido um
gosto pela leitura.[3]
Mudança para a Favela do Canindé[editar | editar código-fonte]
Em 1937, sua mãe morreu e ela se viu impelida a migrar para a metrópole de São Paulo.
[4]
Carolina construiu sua própria casa, usando madeira, lata, papelão e qualquer coisa que
pudesse encontrar. Ela saía todas as noites para coletar papel, a fim de conseguir dinheiro
para sustentar a família.[4]
Em 1947, aos 33 anos, desempregada e grávida, Carolina instalou-se na extinta favela do
Canindé, na zona norte de São Paulo,[3] num momento em que surgiam na cidade as
primeiras favelas, cujo contingente de moradores estava em torno de cinquenta mil. [1] Ao
chegar na cidade, conseguiu emprego na casa de Euryclides de Jesus Zerbini, médico
precursor da cirurgia de coração no Brasil, que permitia a Carolina ler os livros de sua
biblioteca nos dias de folga. Em 1948, deu à luz seu primeiro filho, João José. Teve ainda
mais dois filhos: José Carlos e Vera Eunice, nascidos em 1949 e 1953 respectivamente. [3]
Ao mesmo tempo em que trabalhava como catadora de lixo, registrava o cotidiano da
comunidade onde morava nos cadernos que encontrava no lixo, os quais somavam mais
de vinte. Um destes cadernos, um diário que havia começado em 1955, deu origem ao seu
livro mais famoso, Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, publicado em 1960.[2]
Publicação de Quarto de Despejo[editar | editar código-fonte]
Publicado em 1960, a tiragem inicial de Quarto de Despejo foi de dez mil exemplares e
esgotou-se em uma semana.[5] Desde sua publicação, a obra já vendeu mais de 1 milhão
de exemplares e foi traduzida em 14 línguas, fazendo dele um dos livros brasileiros mais
conhecidos no exterior.[5] Depois da publicação, Carolina teve de lidar com a raiva e a
inveja de seus vizinhos, que reclamaram de ter suas vidas colocadas no livro sem
autorização.[5] A autora relata que muitos dos moradores da favela chegaram a jogar os
conteúdos de seus pinicos nela e em seus três filhos. [5]
O professor da USP Ricardo Alexino Ferreira caracterizou a escrita de Carolina como
"direta, nua e crua, mas, ao mesmo tempo, suave."[5]
Após o lançamento, seguiram-se três edições, com um total de 100 mil exemplares
vendidos, tradução para 13 idiomas e vendas em mais de 40 países.
Publicação de Quarto de Despejo nos EUA[editar | editar código-fonte]
Em 1962, Quarto de Despejo foi publicado nos Estados Unidos pela editora E. P. Dutton
com o título Child of the Dark. No ano seguinte, como parte da coleção Mentor, a tradução
ganhou uma edição de bolso, publicada primeiro pela New American Library, depois pela
Penguin USA.[6] Somente das vendas desta edição, que totalizaram mais de trezentas mil
cópias nos EUA, Carolina e sua família deveriam ter recebido, pelo contrato original, mais
de cento e cinquenta mil dólares.[6] Contudo, não foi encontrado indício algum de que ela
tenha recebido sequer uma pequena parte disto.[6]
Pagamento de direitos autorais das traduções [editar | editar código-fonte]
Em março de 1961, uma reportagem afirmou que a publicação de Quarto de
Despejo havia rendido à Carolina seis milhões de cruzeiros em direitos autorais, contudo a
quantia exata variava de acordo com a reportagem.[7] É certo que Carolina tinha direito a
dez por cento do preço de venda das traduções, com trinta por cento de sua parte
reservada à Audálio Dantas; ela recebia pequenos pagamentos em dólares das editoras
estadunidenses, mas, por força do contrato original, não podia autorizar traduções de sua
obra: este direito fora cedido à editora Paulo de Azevedo, uma filial da editora Francisco
Alves.[7]
Saída da Favela[editar | editar código-fonte]
Depois da publicação de Quarto de Despejo, Carolina mudou-se para Santana, bairro de
classe média, na zona norte de São Paulo.[5] Posteriormente, em 1969, Carolina acumulou
dinheiro suficiente para se mudar de Santana para Paralheiros, uma região árida, no pé de
uma colina.[7] Próxima de casas ricas, local de algumas das mais pobres habitações do
subúrbio da cidade, com impostos e preços menores, era lá que Carolina esperava
encontrar solitude.[7] Paralheiros se caracteriva por fortes contrastes entre ricos e pobres:
grandes casarões ao lado de barracos, que, via de regra, surgiam em vales, onde o ar era
poluído pelas indústrias da região do Grande ABC.[7] Embora pobre, Paralheiros era o mais
próximo que Carolina poderia chegar do interior de sua infância sem deixar São Paulo e
suas escolas públicas, para as quais seus filhos iam de ônibus. [7] Agora passando boa
parte de seu tempo sozinha, Carolina lia o jornal e plantava milho e outras hortaliças,
apesar de reclamar que seus esforços de jardinagem rendessem tanto quanto custassem.
[8]
Carolina nunca quis se casar para não se submeter a um homem e cada um dos seus três
filhos era de um relacionamento diferente.[5]
A filha de Carolina, Vera Eunice, hoje professora, contou, em entrevista, que sua mãe
aspirava a se tornar cantora e atriz.[9]
Carolina Maria de Jesus morreu em 13 de fevereiro de 1977, vítima de insuficiência
respiratória.[10]
Obra[editar | editar código-fonte]
É considerada uma das primeiras e mais importantes escritoras negras do Brasil. [2]
A autora chegou a classificar a favela de "tétrica", de "recanto dos vencidos" e de "depósito
dos incultos que não sabem contar nem o dinheiro da esmola." [5]
Legado[editar | editar código-fonte]
Postumamente, foram publicadas as obras Diário de Bitita, Meu Estranho Diário, Antologia
Pessoal e Onde Estaes Felicidade.[5]
A pesquisadora Raffaella Fernandez ainda trabalha na organização do material inédito
deixado por Carolina de Jesus em 58 cadernos que somam 5 000 páginas de textos: são
sete romances, 60 textos curtos e 100 poemas, além de quatro peças de teatro e de 12
letras para marchas de Carnaval. [11]
Dos livros escritos acerca da autora, se destacam Cinderela negra: a saga de Carolina
Maria de Jesus (1994), de José Carlos Meihy e Robert Levine; Muito Bem, Carolina!:
Biografia de Carolina Maria de Jesus (2007), de Eliana Moura de Castro e Marília Novais
de Mata Machado; Carolina Maria de Jesus - Uma Escritora Improvável (2009), de Joel
Rufino dos Santos; e A Vida Escrita de Carolina Maria de Jesus, de Elzira Divina Perpétua.
[12]
Diário de Bitita (1982)
Meu Estranho Diário (1996)
Antologia Pessoal (1996)
Onde Estaes Felicidade (2014)[13]