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9º Ano | Português
Ficha informativa | maio | Ano Letivo 2019/2020
2. Os que ficam
- A gente da cidade deixa transparecer saudade e tristeza (88)
- Os mais chegados revelam a sua tristeza: os homens com “suspiros”; as mulheres, as mães, as esposas e
as irmãs “cum choro piadoso”(89)
Análise do episódio
Este episódio de Os Lusíadas corresponde ao momento da partida dos marinheiros da praia do Restelo e
da despedida dos seus familiares e amigos - início da viagem de Vasco da Gama à Índia.
O episódio está incluído apenas no canto IV. Seguindo o modelo das epopeias greco-latinas, a narração
não começa no princípio da acção (a partida das naus de Lisboa e início da viagem), mas já a meio da acção ( in
media res): “Já no largo Oceano navegavam (Canto I, est. 19).
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Descreve-se a “procissão solene” do Gama e seus companheiros desde o “santo templo” (ermida) até aos
batéis, pelo meio da “gente da cidade”, homens e mulheres, velhos e meninos, com relevo especial para as mães e
esposas.
Tanto os que partiam como os que ficavam se entristeciam e a despedida assume grande emotividade.
“Porque me deixas, mísera e mesquinha?
“Porque de mi te vas, ó filho caro”
Conclusão – est. 93
Refere-se ao embarque que, por vontade de Vasco da Gama, se fez sem as despedidas habituais para
diminuir o sofrimento, tanto dos que partiam como dos que ficavam.
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No primeiro verso, há a indicação de um «tão longo caminho». Na verdade, remete-nos não para a
distância, mas para o sofrimento de todos nesta difícil despedida e partida. As mulheres choram compulsivamente,
os homens desesperam entre suspiros. O desespero apodera-se das mães, esposas e irmãs que, por Amor, temem
não voltar a ver os homens.
Estrofe 90
O desespero é tanto que uma mãe interpela (discurso direto) o seu filho, «Ó filho», tentando dissuadi-lo de
partir. Pergunta-lhe como a pode deixar tão chorosa e em sofrimento, ele que era o seu amparo na sua velhice.
Pergunta-lhe ainda como pode partir para a morte, «onde sejas de pexes mantimento». A mãe não acredita no
sucesso da viagem e crê que o seu filho, ainda vivo, já está condenado à morte.
Estrofe 91
O desespero também leva uma mulher a dirigir-se (discurso direto) ao seu «doce e amado esposo». De
acordo com o que ela sente, contraditoriamente ao suposto, é precisamente o Amor (esse cruel sentimento) que os
impede de estarem juntos. Pergunta ao seu esposo o que o leva a aventurar-se no mar perigoso, por um caminho
incerto, deixando-a na tristeza.
Estrofe 92
Outros intervêm e apelam para que os soldados e marinheiros não partam, seguindo-os até ao mar. O
ambiente é de profunda emoção e claro desespero e isso reflete-se na Natureza: os montes quase respondiam,
comovidos pelo sofrimento humano. Na praia, a «branca área» é banhada pelas lágrimas da multidão. Esta
hipérbole pretende transmitir a dimensão do sofrimento que parece incomensurável.
Conclusão
Neste episódio predomina o tom lírico e não o épico.
É a linguagem emotiva que domina o registo da narração, ou seja, os sentimentos familiares e humanos,
em todos os seus sonhos e temores. Não temos a narração de grandes feitos, como a superação de obstáculos ou
descobertas.
Este episódio permite conferir aos portugueses a sua verdadeira dimensão humana, valorizando todos os
feitos alcançados ao longo da história: por um lado, são capazes de grandes aventuras, coragem e determinação;
por outro lado, são suscetíveis ao sofrimento e dor humanos.
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