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Momento de Reflexão

Biblioteca Escolar: usuário criativo é a


realidade atual
Marlene Trotta de Souza

Resumo: A Biblioteca escolar na observação dos últimos 50 anos, envolvendo o início dos multimeios e os
novos usuários deste milênio.

Palavras-chave: biblioteca escolar; educação.

Avalanche da Informação era a grande novidade da década de 70, com novos veículos
de comunicação e suas técnicas eletrônicas avançadas que extrapolavam os textos,
livros, revistas, discos e fitas. Processo contínuo em que nos encontramos até hoje, e
que nos fascina.

Bibliotecas começaram a expandir os multimeios e o incentivo a leitura passou a ser


ilimitado através de elementos eletrônicos atraentes, rápidos e estimulantes.

As bibliotecas escolares inseridas em algumas instituições privilegiadas começaram a


cativar mais os jovens e as crianças, que passaram gradativamente a ter também em
casa a informação multifacetada.

As crianças, os jovens, os professores e nós bibliotecários começamos a aprender a


manejar os novos instrumentos de informação que nos colocaram numa nova era,
dinâmica e, rapidamente, num novo cotidiano, em direção ao futuro – como dizia Marylin
Ferguson, autora da “Conspiração aquariana”.

Aí começaram a surgir novos materiais no acervo e novos sistemas de recuperação da


informação, tão naturalmente, que o tempo passou a acontecer de forma cada vez mais
rápida e natural, até que nos demos conta de que o novo milênio já fazia parte de nós.

A preocupação com o sistema de informação e a qualidade das bibliotecas escolares e


de sua administração se desenvolveu rápida e gradativamente, até que a realidade nos
mostrou que a preocupação do novo milênio mudou: agora é o usuário da biblioteca –
seja ela escolar, pública ou especializada – que precisa ser entendido em suas
expectativas.

O bom entrosamento escola-biblioteca e, principalmente, entre professor e bibliotecário


escolar, proporciona a conquista dos leitores: crianças e jovens que serão embriões dos
usuários permanentes de bibliotecas, centros de informação e informação virtual.

O que era a biblioteca escolar nas décadas de 70? Quais as nossas dúvidas?
Descrevi naquela época a realidade que se apresentava a nós:

“Diversas circunstâncias fazem com que, na maioria dos casos, as crianças não possam
dispor de livros próprios. O acesso aos materiais bibliográficos só acontece em
bibliotecas escolares ou públicas.

CRB-8 Digital, São Paulo, v. 1, n. 3, p. 50-55, dez. 2008 | http://www.crb8.org.br/ojs/crb8digital


51 Biblioteca Escolar: usuário criativo é a realidade atual

Como colocarmos o livro ao alcance da criança e do adolescente? Apesar de o problema


ser complexo, as soluções implica em política educacional, interesse editorial, formação
de pessoal capacitado para cuidar de bibliotecas infantis e escolares, reconhecidos e
remunerados. Fato que aos poucos vem se transformando, em realidade.

A biblioteca escolar tem por objetivo incentivar e disseminar o hábito da leitura junto a
crianças e adolescentes, adotando preceitos que levam conhecimento e informação
atualizados por meio do entrosamento com educadores que os estimulem a leitura e a
pesquisa.

A biblioteca escolar é a base sobre a qual se edificam todas as outras bibliotecas gerais
e especializadas, por toda a vida intelectual, cultural e profissional do estudante
permanente que existe em cada um de nós, vida a fora.

O acervo da biblioteca escolar devia ser constituído de:

 livros de texto e informação, formação e lazer


 livros didáticos
 livros de referência
 periódicos (jornais e revistas)
 mapas
 audiovisuais
 arquivo de recortes (meio criado para recolher e ordenar recortes de jornais e
revistas, folhetos, catálogos, apostilas... de forma a possibilitar a fácil
recuperação da informação neles contidas)

Com a seleção adequada observadas a idoneidade do autor, responsabilidade da editora,


qualidade literária e apresentação da obra.

Neste pequeno trecho, percebemos o esforço e a imaginação que era usada para nos
atualizarmos de maneira rápida e adequada ao momento em que vivíamos.

Hoje, com os modernos meios de informação virtual, temos um controle contra o tempo
para nos mantermos em dia com quantidade e qualidade do que o mundo nos oferece,
numa flexibilidade de aquisição de conhecimento que nos encanta.”

Temos soluções e orientação para a administração das bibliotecas, que são o apoio ideal
para desenvolvermos a melhor qualidade em nossa atividade.

No manifesto da biblioteca escolar no ensino e aprendizagem para todos, traduzido pela


bibliotecária Neusa Dias Macedo, temos as diretrizes da IFLA/UNESCO. Temos hoje,
assim, toda a missão, a política e regras, normas e métodos para organizar materiais de
informação continuamente atualizados.
Qual o objetivo de nosso estudo atualmente? São as crianças nascidas desde 2000,
mais espertas e mais dinâmicas. São novos seres com alto nível de consciência,
dispostos a mudar, construir e até desmoronar o que era obsoleto, porque elas têm uma
matéria prima, uma condição humana que evolui a cada mês, a cada ano reciclando a
terra, com seus novos interesses e curiosidade estimulante.

Os adultos percebem que “as crianças já não são como antes”, elas sabem, aprendem
rápido, agem e reagem numa velocidade espantosa para a rotina do cotidiano, que
acelera a vida de cada um de nós. O nível de compreensão das crianças é diferente,
difícil de ser compreendidos por eles mesmos e por nós adultos.

CRB-8 Digital, São Paulo, v. 1, n. 3, p. 50-55, dez. 2008 | http://www.crb8.org.br/ojs/crb8digital


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O mundo avança em vertiginosas transformações globais, nos usos e costumes, na
família, na cultura, na política e na maioria dos aspectos antes tradicionais.

O grande segredo hoje é acompanhar o entendimento destas novas gerações do


segundo milênio, unidos aos especialistas da educação, pais, professores, terapeutas,
pediatras... É a família, a sociedade e a escola convivendo uma mesma linguagem para
decodificar quem são e como são as crianças de hoje.

As crianças liam autores infantis, hoje lêem textos na internet, e com certeza lêem mais.
A qualidade e a quantidade são imprevisíveis em seus novos interesses, criam alfabetos
próprios, e desde muito pequenos são fascinados pelos jogos eletrônicos. Alguns
parecem querer ensinar ao invés de aprender: têm pressa.

Os elementos mais variados são constantemente atualizados e sem perceber lêem mais,
aprendem mais, buscam mais informação para uma melhor formação numa competitiva
busca de orientação profissional após a adolescência. Correm em busca de novos
valores, diferentes daqueles que nos eram transmitidos por nossos antepassados.
Buscam entender o presente e decifrar o futuro.

Aplica-se muito bem, apesar do tempo ocorrido entre a elaboração do trabalho e o


momento atual, a frase: “Como profissionais da educação temos que acreditar na
mudança, temos que saber que é possível, do contrário não estaria ensinando, pois a
educação é um constante processo de modificação”. Palavras de Leo Buscaglia,
autor que morreu no final do século passado acreditando em sua maneira de pensar, um
precursor que viveu o futuro.

Notamos que a modificação também existe hoje no sentido da necessidade de controle


que as crianças e jovens sentem e precisam, em face de violência nas ruas, nas escolas
e nas próprias famílias. A notícia, a informação está aí, a vista de todos.

Eles precisam de orientação, respeito e controle, seja em casa ou na escola. Uma


independência assistida, porque são humanos e precisam saber viver, corrigindo seus
erros, melhorando seus acertos.

Novos sistemas têm sido introduzidos na educação num sentido amplo e diversificado,
disseminados por meio de análise e orientação e embasados em filosofias de ensino que
há algum tempo mostram bons resultados.

No passado alguns autores já prenunciavam, uns discretamente, outros abertamente, a


situação que viria no segundo milênio.

É o caso da Antroposofia criada por Rudolf Steiner, que percebeu com antecedência as
mudanças que estavam acontecendo em vários níveis sociais, em todo o mundo, e
passou a orientar as crianças com um sistema específico que as preparava para uma
nova fase.

Outro precursor deste entendimento antecipado a meu ver foi Hans Christian Andersen,
que previu a liberdade de expressão da criança em seu conto “A roupa nova do rei”:
ao iniciar o desfile real, de forma inovadora e moderna, o garoto diz “o rei está nu”, fato
observado por todos, mas corajosa e livremente exposto por um menino na multidão.

CRB-8 Digital, São Paulo, v. 1, n. 3, p. 50-55, dez. 2008 | http://www.crb8.org.br/ojs/crb8digital


53 Biblioteca Escolar: usuário criativo é a realidade atual

A capacidade natural das crianças aprenderem o que é de seu interesse, olhando para
frente, se transformando através de sua própria sensibilidade, liberdade e coragem,
inseridos na busca da informação, é inovadora. Os cinco sentidos já vêm prontos.

Temos que estudar as crianças em seu ambiente familiar, nossos filhos, nossos alunos e
usuários da informação para nos prepararmos para a mudança de comportamento e as
novas formas de comunicação em conjunto e para estarmos prontos para as
necessidades atuais. O que esperamos de nossas crianças no futuro?

Novos caminhos para a aprendizagem permitem-nos, na Biblioteca escolar, um nível de


abertura em todas as áreas: cultura, arte, esporte e um incontável número de interesses.

Até alguns que fogem da realidade própria da idade deles, buscando informações sobre
sexo, esportes radicais, dietas, alimentação natural, beleza artificial, aquecimento global
e constantes novos interesses, o que indica que mudou o mundo e que mudamos nós.

Compreender as necessidades, dons, qualidades, defeitos, metas, medos, bloqueios,


pensamentos e ações de cada um de nós faz parte de nosso cotidiano.

A vida é uma espiral e sempre voltamos ao lugar de antes, mas com novas experiências,
conhecimento e sabedoria, acreditando que é um contínuo reinventar a vida. A
transformação do processo de consciência humana indica possíveis reflexos até no
futuro do planeta.

Antes de irmos adiante no futuro, uma retrospectiva se faz necessária para nos permitir
estudar a antiga sabedoria para atualizá-la no presente.

Boa parte dos adultos desconhece os interesses e necessidades das crianças e jovens
de hoje, a necessidade de harmonia de todas as suas capacidades, interligadas as
esferas físicas, emocionais e psíquicas.

Nos mais diferentes meios sociais encontramos os mais ou menos inteligentes, criativos,
emotivos, intuitivos, rebeldes e revoltados, em busca do significado da própria vida e do
mundo em que vivemos, nesta rápida mudança social, política e física tão rápida e
incompreensível.

As mudanças de energia parecem estimular nos seres humanos uma nova forma de
comportamento, comunicação, aprendizado, ensino e de adaptação.
Outros fatores importantes como saúde, higiene, equilíbrio emocional e familiar têm
influência marcante.

Estamos vivendo um novo modelo de autoridade, disciplina e missão, atentos a cada


detalhe que está atrás de cada ação, boa ou má, construtiva ou destrutiva.

Estamos aprendendo juntos os caminhos que se abrem a nossa frente, numa crise
evolutiva em busca do equilíbrio pessoal, familiar e social.

Se nos parece alarmante a adaptação aos novos meios de comunicação, o que dizer do
aprendizado desta nova infância com tão grande necessidade de expressar algo?
Somos nós, adultos, que precisamos estar em dia, despertar para o mundo que tem uma
nova energia vibracional.

CRB-8 Digital, São Paulo, v. 1, n. 3, p. 50-55, dez. 2008 | http://www.crb8.org.br/ojs/crb8digital


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Somos estimulados a compreender as verdadeiras necessidades dos usuários de
bibliotecas escolares de hoje, diferentes do passado e do futuro.

Sabemos que o conhecimento não se adquire na pós-graduação, mas a cada dia desde
a infância, adolescência e maturidade. Ele deve ser permanente.
Se fomos especialistas, hoje temos que ser visionários associando raciocínio e
imaginação, para nos abrirmos a uma nova mentalidade que acompanhe a
remodelação da sociedade e as necessidades que se apresentam.

Assim estaremos aptos à transformação rápida e contínua, tão óbvia como um


antídoto da alienação de uma sociedade reformulada, flexível e aberta.

Podemos sentir que uma torre de Babel, exemplo de falta de entendimento no passado,
é hoje simbolicamente a base da comunicação. Por exemplo, Internet não tem dono,
sede ou língua em comum. Cada um fala sua língua e tem seu endereço de acordo com
seu interesse. Uma realidade virtual que modifica a comunicação, numa continua
transformação atualizada e inovadora. Um meio virtual e universal ao alcance de grande
parte da população.

Chegamos ao cerne da questão: como lidar com a biblioteca escolar com os elementos
que temos hoje? Crianças ávidas por aprender e informação qualitativa e
quantativamente crescente num mundo em que o tempo parece correr a nossa frente?

O que querem estas crianças?

“Para assegurar o sucesso na escola e na vida de cada criança, é preciso transformar


cada lar na primeira verdadeira e melhor sala de aula”, segundo Leonard Tomasello.

É o momento de integrar todas as áreas do conhecimento – ciência, filosofia, arte, ética


e espiritualidade – visando facilitar a evolução individual e coletiva da humanidade num
sistema integral, abrindo caminhos e gerando oportunidades para a realização pessoal,
profissional e familiar.

É nosso dever de educadores irmos ao encontro das necessidades das crianças e


jovens para oferecer, na biblioteca escolar, a resposta às motivações e interesses mais
profundos deles.

Precisamos nos voltar aos grupos sociais comunitários de acordo com seu processo
evolutivo, para sabermos quais são suas necessidades básicas. Se analisarmos
atentamente as múltiplas e variadas formas de interesse, encontraremos o tipo de
atividade que corresponderá às suas necessidades concretas e objetivas, em constante
mutação. Os trabalhos independentes ou em grupos, podem e devem ser desenvolvidos
em cooperação amistosa uns com os outros, com maleabilidade.

Quem somos nós? Sabemos de onde viemos e como, mas o que somos hoje? Seres em
vertiginosa transformação, num mundo que deve ser entendido, a cada dia, mês e ano –
porque não dizer, a cada minuto – numa transmissão simultânea de comunicação via
satélite.

É a realidade “multimídia” que me fascinava e fascina cada vez mais, agora com o
conhecimento desta nova geração a nossa volta.

CRB-8 Digital, São Paulo, v. 1, n. 3, p. 50-55, dez. 2008 | http://www.crb8.org.br/ojs/crb8digital


55 Biblioteca Escolar: usuário criativo é a realidade atual

Devemos acompanhar as novas mídias que se colocam a nossa frente, com todo um
mundo de informação, lembrando de participar das atividades do dia a dia, da
convivência com as crianças, adolescentes, e adultos, além de atualização sobre
globalização, consciência ecológica, realidade sócio-econômica e convivência com o
mundo psicológico e social que nos rodeia.

CRB-8 Digital, São Paulo, v. 1, n. 3, p. 50-55, dez. 2008 | http://www.crb8.org.br/ojs/crb8digital

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