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Universidade Estácio de Sá

Departamento de Letras
História da Educação

Relatório de análise de livro didático de História do


Ensino Médio

Aluno: Wandersson Hidayck Silva


Matrícula: 202002442281
08/06/2020
Objetivos

Este relatório objetiva registrar os passos dados na análise, no livro História


(2° edição), destinado ao Ensino Médio, publicado pela Secretaria de Estado
da Educação do Paraná, em 2006, dos seguintes pontos:
 As perspectivas de modelo de ensino adotadas no livro, em suas
explanações teóricas, atividades e relações com outros conteúdos e
dispositivos.
 A abordagem da formação individual e social no decurso da História.
 A presença de menções a fatos relacionados à educação no período
histórico apresentado.
 As interações entre comunidades diferentes e os resultados de tais
interseções étnicas.
 O desenvolvimento da formação da educação e do sujeito como
consequência de fatos históricos e participação de diferentes povos.
Introdução teórica

Na Antiguidade Clássica, a educação, voltada a uma elite, foi


profundamente marcada pelo desenvolvimento da filosofia e tinha como
objetivos formar cidadãos atuantes na vida política e militares. A noção de
verdade regia a busca pelo conhecimento, tanto na Grécia quanto em Roma,
que era transmitido pelos sábios da comunidade. E muitos dos valores da
educação clássica permaneceram ou foram revistos com o passar do tempo,
até a era contemporânea, como os formulados por Aristóteles e Sócrates.
Importantes revisões dos princípios clássicos foram feitas na Idade
Média (séculos V a XV), quando o império romano se fragmentou e a Igreja se
tornou o poder centralizador nos contextos político e educativo. Houve a
cristianização da cultura greco-romana. O ensino formal era tarefa dos padres,
e a produção de conhecimento foi armazenada em mosteiros. Assim como os
elementos artísticos assimilaram os conteúdos cristãos, que eram divulgados
cotidianamente em meios não formais, como a arquitetura e a iconografia.
Santo Agostinho e Tomás de Aquino foram alguns dos principais pensadores
desse período.
A arte e o pensamento clássicos são retomados, em certa medida, no
Renascimento, com o advento da modernidade. Enquanto o feudalismo,
modelo econômico da Idade média, era enfraquecido, o comércio se expandia
e dinamizava. Nessa fase, a leitura se popularizou, devido ao surgimento da
imprensa, e a ciência foi legitimada como autoridade do conhecimento. E
alguns pensadores se dedicaram a refletir sobre a educação, como Maquiavel,
que defendia o ensino aliado à disciplina que formaria bons cidadãos, e John
Locke, defensor do sistema liberal e de uma pedagogia direcionada para a
formação moral do sujeito.
No século XVIII, que ficou conhecido como o Século das Luzes, houve o
irrompimento do Iluminismo, cujos representantes defendiam que a razão
deveria prevalecer na busca do conhecimento, e não os preceitos religiosos.
Em vez do teocentrismo, o antropocentrismo. No lugar do absolutismo, a
igualdade de direitos. Representava, então, o enfraquecimento da Igreja como
instituição estatal e educadora.
Para alcançar a luz almejada pelos iluministas era necessário, portanto,
livrar-se do obscurantismo do ensino religioso e monárquico. No Brasil, assim
como em Portugal e suas outras colônias, a reforma instituída pelo marquês de
Pombal, que incluía a expulsão dos jesuítas, foi decisiva para que o sistema de
educação tivesse uma guinada aos ideais do Iluminismo. Houve a adoção, em
Portugal, de um ensino público, laico e centralizado, mesmo que ainda voltado
para a elite.
Com a vinda da Família Real portuguesa ao Brasil, alguns avanços da
reforma pombalina puderam ser vistos por aqui. No período regencial houve,
por exemplo, a criação do Jardim Botânico, da Biblioteca Nacional, do Museu
Real, das Escolas de Ensino Superior no Rio de Janeiro e na Bahia e de
escolas normais.
Em fins do século XVIII, com as revoluções Industrial e Francesa,
ocorreram mudanças fundamentais no cenário ideológico e político ocidental,
bem como nas relações econômicas e de trabalho. Rupturas que foram
acentuadas nos séculos posteriores e que influenciaram os rumos da
educação.
Com a consolidação do capitalismo, os modelos de educação se
voltaram para a formação de profissionais, enquanto os desafios do mundo
contemporâneo fazem com que as escolas se preocupem em formar indivíduos
capazes de exercer sua cidadania. E a tecnologia cada vez mais acessível
amplia as possibilidades de ensino e aprendizagem, com a aplicação de
metodologias que incluam recursos virtuais. Além disso, novos conceitos são
valorizados como uma forma de acompanhar a intensificação da globalização e
mesclar as áreas do conhecimento, como a intertextualidade e a
transversalidade.
Nesse novo cenário, globalizado e tecnológico, a escola e os
professores deixam de ser meros transmissores do conhecimento e passam a
exercer a função de formadores de indivíduos críticos e atuantes que estejam
preparados para potencializar suas habilidades e lidar com os desafios do
mundo contemporâneo.
A educação no Brasil, desde que as primeiras medidas governamentais
foram tomadas nessa área, no período regencial, segue modelos de influência
europeia, inclusive dando-se atenção, na formação pedagógica universitária, a
estudiosos desse contexto. Com o passar dos anos, muitas regulamentações
oficiais entraram em vigor com o objetivo de alinhar o projeto educacional do
País ao tipo de governo vigente. Algumas conquistas importantes foram o
ensino público gratuito para todas as idades, incluindo aulas noturnas na
modalidade Jovens e Adultos; a adoção da Base Nacional Comum Curricular,
que uniformiza as competências essenciais da aprendizagem em todo o
percurso escolar; a expansão do ensino universitário em todas regiões do País,
inclusive em cidades do interior.
Procedimentos metodológicos

Neste relatório, foram empregados métodos de pesquisa bibliográfica e


analítica. A saber, os seguintes passos:
 Leitura do objeto de análise — o livro História, para Ensino Médio,
publicado pela Secretaria de Educação do Paraná, em 2006.
 Leitura dos referenciais teóricos que tratam dos temas que
fundamentam a pesquisa: educação nas grandes eras da humanidade
(Antiguidade Clássica, Idade Média, Idade Moderna, Idade
Contemporânea), passando pelos principais momentos, como o
Iluminismo e o Renascimento; conceitos e metodologias que guiam
importantes modelos de educação: positivismo, educação crítica,
metodologias ativas.
 Análise do objeto de pesquisa, guiada pelos referencias teóricos, que
inclui: comentários a respeito das premissas teóricas que subjazem as
escolhas dos autores do livro didático analisado; exemplos de excertos
que corroboram tais apontamentos, incluindo o texto dissertativo e as
atividades.
 Conclusões sobre a adoção de escolhas metodológicas (como reflexão
crítica e intertextualidade) e teóricas (como dinamismo histórico,
relações interétnicas) no material didático analisado.
Resultados e conclusão

Já na primeira seção do livro História, para Ensino Médio, publicado pela


Secretaria de Educação do Paraná, intitulada Aos alunos, um excerto de A
condição humana, da filósofa Hannah Arendt, indica a posição dos autores
desse livro didático a respeito das possibilidades oferecidas pelo processo de
educação, bem como a participação fundamental do estudante nesse
processo:

[...] cada homem é singular, de sorte que, a cada nascimento,


vem ao mundo algo singularmente novo. Desse alguém que
é
singular pode-se dizer, com certeza, que antes dele não
havia ninguém. Se a ação, como início, corresponde ao fato
do nascimento, se é a efetivação da condição humana da
natalidade, o discurso corresponde ao fato da distinção e é a
efetivação da condição humana da pluralidade, isto é, do
viver como ser distinto e singular entre iguais. (2006, p.5)

Nesse comentário da escritora alemã estão presentes alguns termos que


se relacionam diretamente com os modelos de educação adotados na
contemporaneidade: singular, ação, condição humana, distinção, pluralidade.
Hoje, sabe-se que a educação deve formar, por meio de metodologias ativas,
indivíduos conscientes da diversidade social e capazes de lidar com suas
próprias particularidades e com as de outros. Ao contrário do ensino de
décadas atrás, que encarava o aluno como um mero receptor de conteúdos
estanques e que nem sempre se relacionavam com sua realidade particular.
Esse direcionamento da educação contemporânea pode ser observado
em alguns aspectos do livro didático analisado. Adiante, ainda no prólogo, os
autores afirmam que esse

É um livro diferente porque não tem a pretensão de esgotar


conteúdos, mas discutir a realidade em diferentes
perspectivas de análise; não quer apresentar dogmas, mas
questionar para compreender. (Ibid. p.6)

A Apresentação do livro é introduzida por uma citação do historiador Eric


Hobsbawm que aponta a interculturalidade própria da construção histórica, já
que toda comunidade tem um passado resultante do contato com outros povos:

Provavelmente todas as sociedades que interessam ao


historiador tenham um passado, pois mesmo as colônias
mais inovadoras são povoadas por pessoas oriundas de
alguma sociedade que já conta com uma longa história. Ser
membro de uma comunidade humana é situar-se em relação
ao seu passado (ou da comunidade), ainda que apenas para
rejeitá-lo. (Ibid. p. 10)

Ainda nessa seção, ficam estabelecidas as relações que embasam as


unidades temáticas do livro: relações de trabalho, de poder e culturais.
Tornando-se claro, assim, que o conteúdo desse livro didático foi desenvolvido
a partir de um viés dialógico, com atenção aos processos relacionais dos fatos
históricos.
Os autores ressaltam, também, que o estudo da História realizado nesse
livro foi pautado por uma visão crítica dos acontecimentos. Não se trata,
portanto, de uma leitura positivista, que recusa os questionamentos:

Partiu-se do princípio de que a História é um conhecimento


construído socialmente, que tem como objeto de estudo os
processos históricos construídos pelas ações e pelas
relações humanas (atividades, experiências ou trabalhos
humanos, entre outros aspectos) praticadas no tempo. Para
isso, é necessário fazer uso de um método científico
específico pautado na análise e na interpretação de
documentos deixados pelos sujeitos históricos do passado
(fontes, provas ou evidências). São estes elementos que
permitem aos historiadores a compreensão dos processos
históricos e possibilitam a construção de uma narrativa
histórica (interpretações e explicações).
Sendo assim, a história pode ser entendida como uma
interpretação dos processos históricos do passado e não só
como uma descrição dos fatos, como acontecia no século
XIX. (Ibid. p. 11)

O Capítulo 13, que trata das relações de poder na formação dos Estados
nacionais, é iniciado com dados da realidade contemporânea, acerca da forma
de governo atual de alguns países, para instigar o aluno a saber o percurso
histórico necessário para que se chegasse ao cenário de hoje.
Nesse contexto, os autores do livro didático destacam a participação de
diferentes povos e nações no surgimento dos projetos estatais da
modernidade, explicando como esses movimentos interétnicos resultaram no
ideal posterior de nação:

Os Estados-nação que surgiram na Europa Ocidental, entre o


final do século XVIII e século XIX, em sua maioria resultaram
das fronteiras territoriais das velhas monarquias, ou seja,
reuniram diferentes nações, sobre uma cultura imposta. Além
disso, eram pluralistas, ou seja, possuíam várias etnias.
Então, para convencer os cidadãos que todos pertenciam a
uma nação, produziu-se a ideia de nacionalidade. (Ibid. p.
241)

No caso específico da França, a introdução de um sistema educacional


público, conforme salientado pelos autores, exerceu um papel importante na
consolidação do Estado nacional:
A nação francesa também constituiu-se por meio de um
projeto político complexo envolvendo interesses dos grupos
dominantes (principalmente a burguesia), vinculados por
interesses econômicos do mercado nacional e com a
implantação de escolas para a educação pública. (Ibid. p.
241)

Já o Capítulo 15 trata do enfraquecimento do imperialismo, depois da


Segunda Guerra Mundial. E, mais uma vez, é enfatizada a importância da
educação no desenvolvimento desse processo histórico, elencada pelos
autores ao lado de outros aspectos relativos a diferentes nações:

Contribuíram para esse processo: o enfraquecimento das


nações europeias com a Grande Guerra, a participação de
soldados africanos na luta contra o nazismo e o fascismo, a
influência do modelo socialista (difundido pela Revolução
Russa de 1917), a formação de elites locais com acesso a
uma educação universitária na Europa, capaz de formular
projetos de emancipação. (Ibid. p. 279)

A Unidade Temática IV, que trata dos movimentos sociais, políticos e


culturais, é introduzida por um texto contemporâneo (a canção Primavera nos
dentes, do grupo Secos e molhados) para indagar a relação desses versos
com o contexto social da época em que foram produzidos e com as ideias de
dominação e resistência ligadas aos movimentos sociais:

Qual a relação entre essa passagem da letra da banda Secos


e Molhados com a unidade temática aqui apresentada?
Como era o contexto histórico que possibilitou que essas
palavras fossem sonhadas, faladas e postas em prática por
homens e mulheres?
Esta unidade temática focaliza os sujeitos históricos e as
respectivas ações e projetos de futuro em diferentes épocas
e sociedades. Consideramos as relações de dominação e de
resistência que os constituíram ao longo do processo
histórico. (Ibid. p.294)
Os capítulos dessa unidade tratam das relações de poder sob o viés da
cultura. A começar pelo estudo das sociedades clássicas grega e romana, no
Capítulo 16. Após uma explanação sobre o papel da mulher na Grécia Antiga,
uma atividade propõe observar possíveis mudanças do lugar da mulher na
sociedade da década de 1970, quando foi produzida a canção Mulheres de
Atenas, por Chico Buarque e Augusto Boal. Estabelece-se, assim, uma
comunicação entre duas sociedades distantes no tempo e no espaço, além de
um viés intertextual e transversal, relacionando diferentes gêneros textuais e
áreas do conhecimento. 

Referências bibliográficas

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação e da pedagogia:


Geral e Brasil. São Paulo: Moderna, 2006.

BORTOLOTI, Karen Fernanda. História da educação. Rio de Janeiro: SESES,


2015.

História. Vários autores. Curitiba: SEED-PR, 2006. Disponível em:


http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?
conteudo=6. Acesso em 25/04/2020.

MANACORDA, Mario Alighiero. História da educação: Da antiguidade aos


nossos dias. São Paulo: Cortez, 2010.

PILETTI, Claudino; PILETTI, Nelson. História da educação: De Confúcio a


Paulo Freire. São Paulo: Contexto, 2012.

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