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A obrigação fiscal é “indisponível e irrenunciável”.

O princípio da indisponibilidade decorre do caráter público e legal da obrigação tributária.


Sendo a lei o fundamento, o critério e o limite da relação jurídica tributária não podem os
sujeitos desta relação dispor dos direitos que lhe são atribuídos, nem o sujeito ativo renunciar
ao crédito tributário. Assim sendo, as partes encontram-se vinculadas à obrigação tributária
nos seus exatos termos legais, não podendo o contribuinte eximir-se ao seu cumprimento,
nem a Administração Tributária prescindir desse cumprimento, sob pena de se comprometer
ou desconsiderar a matriz axiológica do Direito Tributário. Até porque o rédito tributário é
arrecadado com base nos princípios da legalidade, da igualdade e da segurança jurídica e dado
que visa a satisfação das necessidades financeiras do Estado, parece-nos evidente que os
sujeitos não possam dispor nem a Administração Tributária renunciar ao cumprimento das
várias obrigações tributárias sem uma motivação atendível juridicamente. Não obstante as
diversas alusões ao princípio da indisponibilidade do crédito tributário nos artigos 29.º, n.º 1 e
3, 36.º, n.º 2 e 3, e 37, n.º 2, todos da LGT, este tem expressão inequívoca no artigo 30.º, n.º 2,
também da LGT, o qual prevê que “o crédito tributário é indisponível, só podendo fixar-se
condições para a sua redução ou extinção com respeito pelo princípio da igualdade e da
legalidade tributária”, o que significa que a concessão de moratórias, a permissão de
pagamento em prestações, a redução, a renúncia ou a extinção do objeto da relação jurídica
tributária não cabem nos poderes da Administração Tributária.180 A somar a todos os
preceitos legais supra referidos, a Lei n.º 55-A/2010, de 31 de Dezembro, que aprovou o
orçamento de Estado para 2011, aditou o n.º 3 ao artigo 30.º da LGT, o que veio reforçar o teor
do princípio da indisponibilidade da obrigação tributária ao proibir a sua derrogação através de
legislação especial. Face ao exposto, a relação jurídica tributária e, por maioria de razão, as
obrigações tributárias não podem ser alteradas por acordo da vontade das partes.182 Daí
decorre que a Administração Tributária está impedida de exercer os seus direitos com base na
sua vontade ou de atuar em razão da oportunidade, estando sempre vinculada a um dever
geral de agir. Via de regra está também vedada a transmissão da obrigação tributária,
ressalvados os casos de sucessão por morte. Por um lado, quer isto dizer que vigora a regra de
intransmissibilidade das dívidas tributárias inter vivos e, por outro lado, que constitui objeto de
sucessão as obrigações tributárias a que o de cujus se encontrava obrigado à data do seu
falecimento. Convém ainda referir que, nos termos do artigo 2068.º e ss. do C.C., o pagamento
das dívidas tributárias é da responsabilidade da herança e não dos bens pessoais dos
herdeiros, a não ser que onerem bens objeto de legado.185 Ainda sobre esta matéria é de
salientar que a lei prevê a possibilidade de sub-rogação de terceiro nos direitos da
Administração Tributária, desde que aquele cumpra a obrigação após o termo do prazo do
pagamento voluntário, requeira a declaração de sub-rogação e o devedor autorize ou o sub-
rogado prove ter interesse legítimo no pagamento da dívida. Também decorre deste princípio
que os direitos da Administração são irrenunciáveis o que significa que o sujeito ativo não
pode recusar a prestação tributária, reduzir o seu quantitativo ou conceder moratórias, salvo
nos casos legalmente previstos. Exemplos de exceção a esta regra encontram-se na admissão
do pagamento em prestações da dívida tributária pelo órgão da administração fiscal sempre
que estejam satisfeitas as condições legais impostas, conforme o previsto no artigo 42.º da LGT
e nos artigos 196.º e ss. do CPPT. Por último, no que tange ao sujeito passivo nada o impede
de dispor livremente de eventuais créditos que detenha em relação à Administração
Tributária, podendo, inclusivamente, renunciar ao pagamento do mesmo.
Pode afirmar-se que é proibida a analogia no direito fiscal?
O Art.11º LGT remete para o Art.10º Estatuto dos Benefícios Fiscais, o qual surge enquanto
interpretação e integração.
A integração de lacunas está proibida aos olhos do princípio da legalidade fiscal quando vise
integrar matérias referentes a elementos essenciais dos impostos, porque se tais elementos
têm de constar de lei, ou melhor, respeitar as reservas de lei então não faz sentido deixar-se
para o aplicador das leis a integração dessas lacunas. Pelo Art.11º/4 LGT retira-se isto, porque
deve interpretar-se que não só está proibida a integração de lacunas por recurso a analogia
como isso conduz a que o legislador quisesse que não fossem colmatadas lacunas do domínio
que é coberto pela reserva de lei fiscal.
Apesar disto, alguma doutrina na qual se inclui Casalta Nabais entende que que não pode
ser rejeitada absolutamente qualquer integração do direito fiscal essencial, acreditando que
deve haver uma adequada e equilibrada ponderação dos bens jurídico-constitucionais que
passam pela legalidade fiscal ao exigir-se segurança jurídica, mas também passam pela
igualdade fiscal ao reclamar-se justiça fiscal. Ao fim ao cabo, admite-se a integração de lacunas
de matérias essenciais quando a lei assim o preveja e dentro da tal ponderação de bens
jurídico-constitucionais e que o Art.11º/4 LGT não obsta, até porque este artigo é uma norma
infraconstitucional e aqueles princípios são do plano constitucional, ou seja supralegal. Mas
isto sempre do lado do legislador, porque o aplicador das normas está absolutamente proibido
de integrar tais lacunas, ou seja, falamos da Administração tributária, os juízes ou os
particulares.

Qual a relevância da distinção entre a caducidade e a liquidação ao nível da extinção da


obrigação fiscal?
A extinção da obrigação fiscal pode ser feita através de diversas formas: através da sua
liquidação (cumprimento), prescrição, caducidade ou compensação e dação em cumprimento.
Neste caso releva a liquidação e a caducidade.
Relativamente à primeira:
A forma típica e normal de extinção da obrigação fiscal é o seu cumprimento, seja ele
voluntário ou coercivo (art.40º e 84ºss CPPT). Ocorre voluntariamente quando este seja
prestado dentro do prazo estabelecido nas leis tributárias, podendo ganhar os moldes do
art.40º/1 LGT (cfr.art.84º CPPT).
Relembramos aqui o princípio da indisponibilidade e da irrenunciabilidade da obrigação
fiscal pelo qual, por um lado, não podem os sujeitos ativos conferir facilidades de pagamentos
os perdões fiscais arbitrariamente nem podem, por outro lado, os sujeitos passivos dispor da
sua obrigação fiscal. Isto só se admite quando a lei o admita. É o caso, como já dissemos, do
contribuinte requerer o pagamento em prestações (art.42º LGT), caso este não tenha
condições de pagar integralmente o imposto.
Não pagando dentro dos prazos legais começam a contar-se os juros de mora do art.44º
LGT e do art.86º/1 CPPT. Os juros compensatórios serão devidos nos termos do art.35º/1 LGT.
Não cumprindo voluntariamente então este pode requerer o pagamento em prestações
(art.86º/2 CPPT) ou pode fazer pagamentos por conta das dívidas, nos termos do art.86º/4
CPPT. Não cumprindo isto então é extraída a certidão de dívida nos termos do art.88º CPPT e
que vale como título executivo para instauração do processo de execução fiscal para
pagamento coercivo (art.88º/5 CPPT).
Relativamente à caducidade:
O poder da Administração tributária para liquidar os impostos pode caducar. Este poder
deve ser exercido no prazo de quatro anos (art.45º/1 LGT) contados nos mesmos moldes que
vimos para a prescrição (art.45º/4 LGT). Mas se houver erro na declaração do sujeito passivo
então o prazo já é só de três anos (art.45º/2 LGT).
É possível a transmissão da obrigação fiscal?
Ainda no sentido do caráter indisponível e irrenunciável de que falámos supra quando
dissemos as características da obrigação de imposto podemos dizer que a obrigação fiscal é
intransmissível, ou seja rege-se por um princípio de intransmissibilidade dos créditos e das
dívidas tributárias, de acordo com o art.29º/1 e 3 LGT. Mas a lei logo no mesmo artigo no n.2
estipula uma exceção que ocorre na sucessão legal, do lado passivo, e estipula uma exceção do
lado ativo no que toca à sub-rogação nos direitos da Fazenda Pública, do art.41º/2 LGT.

II –
O Direito Fiscal é fortemente ligado ao Direito Constitucional, daí surgir o termo
“Constituição Fiscal”.
O direito dos impostos está moldado pela constituição fiscal, ou seja, por um conjunto de
princípios jurídico constitucionais disciplinares quer de “quem”, “como”, “quando” tributar
(limites à tributação de caracter formal), quer do “que” e do “quanto” tributar (limites à
tributação de caracter material).
Ao nível dos limites de caracter formal releva o princípio da legalidade fiscal, o princípio da
segurança jurídica e a proibição do referendo fiscal.
Ao nível dos limites de caracter de caracter material releva o princípio da igualdade fiscal, a
consideração fiscal da família, o respeito pelos direitos fundamentais e o princípio do estado
social.
Não há expressão na CRP deste princípio. Ele brota do próprio geral princípio da igualdade,
do art.13º CRP, no seu sentido material de igualdade na lei, aliado e articulado com os demais
princípios e preceitos da constituição fiscal. Surge da própria Revolução Francesa e pauta-se,
por um lado, numa ideia de generalidade ou universalidade, onde todos os cidadãos devem
pagar impostos, e numa ideia de uniformidade, onde se pretende que seja usado um mesmo
critério para todos. Este critério de uniformidade é o critério da capacidade contributiva. Se
assim o é, temos pautada a igualdade horizontal: onde pessoas com a mesma capacidade
contributiva pagarão uns mesmo impostos, e temos pautada também a igualdade vertical:
pessoas com diferentes capacidades contributivas pagarão diferentes impostos, na medida da
proporção pela diferença entre os vários patamares da capacidade contributiva, defendendo
Casalta Nabais a aplicação de taxas proporcionais para esse efeito. É a capacidade contributiva
que serve de pressuposto e de critério da tributação Enquanto pressuposto cumpre a
finalidade ao aferir do objeto do imposto, do “bem fiscal”, excluindo o mínimo de existência e
o máximo confiscatório. Enquanto critério, nos impostos fiscais, não há outro critério que
possa ser usado senão este da capacidade contributiva. Quer isto dizer que quando os
impostos seguem fins meramente fiscais – impostos fiscais vs. extrafiscais – então só este
critério serve os propósitos.
Nos impostos sobre o rendimento o princípio da capacidade contributiva manifesta-se
através de um conceito mais amplo de rendimento, ou seja do rendimento-acréscimo (ou
rendimento de mercado), através de um princípio de rendimento líquido (e não ilíquido ou
bruto) daí que se devam fazer deduções específicas e abatimentos a fim de se obter o
rendimento coletável em termos líquidos, mas ainda de um critério do rendimento disponível
pelo qual se respeita o mínimo de existência individual assim como o mínimo de existência
conjugal ou familiar. Esta ideia está traduzida tanto no art.104º/1 CRP como no art.6º/1 LGT
como no art.4º/1 LGT.

III –
1. Incidência real
Os Art.2º a 11º CIRS estipulam qual a matéria em que recairá o imposto, ou seja, estipula o
Art.1º CIRS o elenco das categorias de rendimentos e, posteriormente, irá ser fixado
pontualmente e mais detalhadamente de que se trata e o que compõe cada uma dessas
categorias de rendimentos.
Remuneração mensal de 2 000€ como gerente. Isto segundo o Art.1º/1 do CIRS está
presente na categoria A, mais especificamente no Art.2º/1, a) do CIRS.
Lucro de 40 000€, segundo o Art.1º/1 do CIRS está presente na categoria E mais
espeficamente no Art.5º/2, h) do CIRS.
Renda do Apartamento de 500€/ mês - segundo o Art.1º/1 do CIRS está presente na
categoria F mais espeficamente no Art.8º/1 e 2, a) do CIRS.
Renda do armazém 1000€/mês - segundo o Art.1º/1 do CIRS está presente na categoria F
mais espeficamente no Art.8º/1 e 2, a) do CIRS.
Incidência pessoal. Segundo o Art.13º/1, 1ª parte estão sujeitos a IRS as pessoas singulares
que residam em território português. Segundo o Art.16º/1 do CIRS ele é residente em
Portugal. Assim sendo o Art.13º/1, 1ª parte remete-nos para o Art.15º/1 do CIRS segundo o
qual o IRS incide sobre a totalidade dos rendimentos incluindo aqueles que são obtidos fora de
Portugal.
Como ele tem um filho menor dependente a regra é a tributação conjunta prevista no
Art.13º/ 2, 3, 4, 5 do CIRS.
Referente as despesas: Alexandre tem um apartamento que lhe confere uma remuneração
de 500€/mês = 6 000€/ano. Neste apartamento Alexandre teve gastos no valor de 8 000€, logo
teve 2 000€ de perdas. – Art.41º/1 do CIRS.
As perdas nos termos do Art.55º/1, b) são reportadas nos 6 anos consecutivos.
Relativamente as despesas de 200€ e 500€ no apartamento de IMI nos termos do Art.41º do
CIRS as despesas de IMI não são deduzidas.
A operação ao filho refere-se à coleta e não há matéria coletável segundo o Art.78º/1, c) do
CIRS assim sendo, as despesas com a saúde podem ser deduzidas na coleta.

2. Segundo o Art.22º/1 do CIRS a regra geral é a do englobamento. No entanto, o


rendimento coletável apenas poderá ser apurado após as respetivas deduções previstas no
Art.25º a 54 do CIRS.
Dedução da remuneração de 2000€ como gerente. Ele recebe mensalmente 2 000€, por
isso tem um rendimento anual de 28 000€ (2 000€ * 14 = 28 000€). Segundo o Art.25º/1, a)
devem ser deduzidos 4 104€ a este valor. Logo 28 000€ - 4 104€ = 23 896€.
Relativamente aos lucros de 40 000€ presentes no Art.40º e ss do CIRS não existem
deduções, logo será considerado para efeitos de englobamento os 40 000€.
Relativamente à renda do aparamento iria gerar uma perda de 2 000€ por isso vamos
considerar apenas a renda do armazém porque é a que gera lucros, neste caso de 1 000€/mês
= 12 000€/ano. Segundo o Art.41º/1 do CIRS uma vez que não foram verificadas nenhumas
despesas possíveis iremos considerar o valor total de 12 000€ para o englobamento.
Somando todos os valores sujeitos a deduções: 23 896€ + 40 000€ + 12 000€ = 75 896€
Depois de feitas as deduções temos de verificar no Art.22º/3, b) do CIRS se existe alguma
exceção ao englobamento. Neste caso existe no Art.71º/1, a) do CIRS quanto à categoria E
sendo-lhe aplicada uma taxa de 28%. No entanto, pelo Art.71º/8 do CIRS o sujeito pode optar
pelo englobamento se este lhe for mais favorável.
Art.72º/1, e) está prevista uma exceção à categoria F à qual será também aplicada uma taxa
de 28%. No entanto este pode também optar segundo o Art.72º/12 do CIRS.
Em regra, a opção é sempre mais favorável ao individuo.
Sendo aplicável o Art.22º/1 do CIRS serão aplicadas as taxas do Art.68º do CIRS. De acordo
com o Art.68º/2 do CIRS temos de imputar o limite máximo existente naquela tabela neste
caso será ao valor de 75 896€ por isso o valor máximo é de 36 856€ (5ª classe), aplicando a
média da tabela B que são 28,838% ao restante valor 75 896€ - 36 856€ = 39 040€ ao qual será
aplicada a classe imediatamente a cima da coluna A que é de 45%.

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