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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS - UEMG

Kelly Elaine de Oliveira


Ludmila Helena de Assis e Freitas Moura

A música nas interações humanas:


Um estudo teórico aplicado no Hospital Espírita André Luiz

Belo Horizonte
2012
1

Kelly Elaine de Oliveira


Ludmila Helena de Assis e Freitas Moura

A música nas interações humanas:


Um estudo teórico aplicado no Hospital Espírita André Luiz

Monografia apresentada à Escola de Música da


Universidade do Estado de Minas Gerais, como
requisito parcial para a obtenção do título de
Graduação em Licenciatura em Música com
habilitação em Instrumento – Violino e Saxofone.

Orientador: Prof. Dr. José Antônio Baêta Zille


Co-orientadora: Profª. Esp. Eliana Olímpio

Belo Horizonte
2012
2

FOLHA DE APROVAÇÃO

Kelly Elaine de Oliveira


Ludmila Helena de Assis e Freitas Moura

A música nas interações humanas: um estudo teórico aplicado no Hospital Espírita André
Luiz

Monografia apresentada à Escola de Música da


Universidade do Estado de Minas Gerais, como
requisito parcial para a obtenção do título de
Graduação em Licenciatura em Música com
habilitação em Instrumento – Violino e Saxofone.

Orientador: Prof. Dr. José Antônio Baêta Zille


Co-orientadora: Profª. Esp. Eliana Olímpio

Aprovado em: 23 de Junho de 2012

Banca Examinadora

___________________________________________________________________

Prof. Dr. José Antônio Baêta Zille – Presidente da banca


Universidade do Estado de Minas Gerais

___________________________________________________________________

Prof. Ms. Wagno Macedo Gomes


Universidade do Estado de Minas Gerais

___________________________________________________________________

Prof. Esp. Marcelo das Dores Pereira


Universidade do Estado de Minas Gerais
3

AGRADECIMENTOS

A Deus e à espiritualidade superior, por terem nos guiado, iluminado e colocado em nosso
caminho pessoas especiais.

Aos nossos pais, pelo incentivo da vida e por permitirem nossa liberdade de escolhas,
pensamentos e ações.

A todas as pessoas do Hospital Espírita André Luiz, que abriram as portas nos possibilitando
compartilharmos nosso aprendizado e, ao mesmo tempo, aprendermos com sua equipe e
pacientes.

À Edna Martins por fazer parte do nosso grupo musical e das nossas vidas.

À banca do projeto, composta pelos professores Marcelo Pereira e Wagno Gomes que com
suas sugestões contribuíram para a conclusão desta pesquisa.

À co-orientadora Eliana Olimpio, pelos primeiros incentivos de um trabalho científico, pela


inteligência aplicada a este trabalho e principalmente pela sensibilidade.

Finalizamos por agradecer ao nosso professor e orientador Doutor José Antônio Baêta Zille,
que com sua altíssima competência, e um lado humano invejável, com ternura, dedicação,
compreensão, esmero e acessibilidade, tornou este caminho menos tortuoso e mais agradável.

Agradecemos a todos aqueles que de alguma forma contribuíram para a realização desse
trabalho.
4

“A educação é a capacidade de perceber as conexões


ocultas entre os fenômenos.”

Václav Havei
5

RESUMO

OLIVEIRA, Kelly Elaine e MOURA, Ludmila Helena de Assis e Freitas. A música nas
interações humanas: Um estudo teórico aplicado no Hospital Espírita André Luiz. 2012.
51f. Monografia (Graduação em Licenciatura em música) – Escola de Música, Universidade
Estadual de Minas Gerais, Belo Horizonte.

O presente trabalho tem como objetivo estudar a música e a performance musical como
coadjuvantes das relações e como promotora de afetos no ambiente do Hospital Espírita
André Luiz (HEAL). O HEAL, na prática do cuidado aos pacientes, tem buscado uma junção
às propostas holísticas, aliadas às outras áreas de tratamento, direcionando assim, seu enfoque
para além da doença e do sintoma. Dentro deste universo, este estudo busca se fundamentar
na literatura científica que considera a forte influência dos estímulos ambientais no
desenvolvimento do ser. Ser que, no contexto dessa pesquisa, inserido num contexto social, se
torna um agente interativo em uma experiência estética musical. Utilizando-se de experiência
em trabalho voluntário desenvolvido neste hospital elaborou-se a pesquisa, tomando como
referencial teórico, ideias interacionistas e da complexidade.

Palavras-chave: música, interação, ambiente, holística


6

SUMÁRIO

Introdução................................................................................................................... 07

1 Interligação Sujeito-Objeto.............................................................................. 10

1.1 Uma nova concepção sistêmica.......................................................................... 10


1.2 O homem e o meio.............................................................................................. 13
1.3 Algumas considerações....................................................................................... 16

2 A música como instrumento de interação………………………...………. 18

2.1 Algumas reflexões sobre o conceito de música………………………………. 18


2.2 A música enquanto sensações………………………………………………… 20
2.3 A música e o meio……..........................………………………………………. 23

3 O Hospital Espírita André Luíz .................................................................... 26

3.1 Breve Histórico.................................................................................................... 26


3.2 O cotidiano e os recursos terapêuticos no HEAL............................................ 30

4 As apresentações musicais no HEAL............................................................ 33

4.1 Considerações Metodológicas............................................................................ 33


4.1.1 Pesquisa qualitativa: método observação participante............................... 33
4.1.2 Dos procedimentos..................................................................................... 35
4.2 Histórico das apresentações............................................................................... 36
4.3 O observado no ambiente HEAL durante as apresentações
38
musicais...............................................................................................................
4.3.1 No meio...................................................................................................... 38
4.3.2 Nos pacientes.............................................................................................. 40
4.3.3 Nas musicistas............................................................................................ 43

Considerações finais................................................................................................ 45

Referências.................................................................................................................. 48
7

INTRODUÇÃO

A entrada no século XXI proporcionou uma perspectiva filosófica que permitiu a confirmação
de hipóteses já aventadas, de que a realidade é complexa e que ultrapassa os paradigmas até
então vigentes. Esta perspectiva vem nos mostrando que estamos todos conectados. Todas as
formas de vida organizam-se em padrão reticular, rizomático, demonstrando que a existência
está interligada, interagindo com objetos, pensamentos, seres, desejos, em todas as suas
dimensões e abrangendo todo o universo.

Dentro deste contexto complexo, o ser humano se constitui, assim como constitui o meio em
que vive. Nesse processo, se estabelece como ser social e cultural. Enquanto ser social, se
relaciona com os demais e estabelece estruturas que garantem vínculos institucionais e
pessoais, ao mesmo tempo em que se elabora como sujeito e como parte dessa estrutura.
Enquanto ser cultural, produz um universo de significados e significantes que dão forma a sua
existência, como sujeito e como espécie.

Sob esta perspectiva, desde os primórdios, o ser humano vem se constituindo e se


desenvolvendo, fundado no desejo de se manter são e se perpetuar como espécie. Nesse
sentido, seja para melhorar suas condições de vida, seja em conforto, facilidades ou prazer, o
homem recria a natureza e a si mesmo, através de suas ações, ideias, descobertas, tecnologias,
linguagens etc. Dentro deste contexto, veem-se, de um lado, aqueles que, por um motivo ou
outro, sofrem com as incontingências humanas, adoecendo. Por outro lado, um universo de
possibilidades criativas, desenvolvidas por estes e outros sujeitos.

Neste ponto, surgem inquietações que nos levam a pensar: em que aspectos a produção
humana pode afetar seus criadores? Mais especificamente: como o fazer artístico pode afetar
aquele que o realiza, o meio e aqueles que, por ventura, se encontram doentes?

Sob esta perspectiva que este trabalho foi desenvolvido. Longe de se entender a música como
elemento terapêutico, este trabalho se limitou em avaliar os afetos e suas consequências junto
ao universo pesquisado.
8

O interesse pela realização desta monografia surgiu da nossa experiência de trabalho como
musicistas voluntárias em instituições sociais, como hospitais, penitenciárias, asilos entre
outros. Dentro deste contexto, atualmente, exercemos a prática da performance musical no
Hospital Espírita André Luiz (HEAL), para os pacientes em tratamento. Essa atuação
despertou o desejo de maior aprofundamento no estudo dos fenômenos que envolvem a
interação música, musicistas e ouvintes neste ambiente hospitalar.

Ao longo do tempo em que vimos realizando nossos trabalhos nas instituições, pudemos notar
que algo acontece na interação entre nós músicos e ouvintes. Ambos, em contato com a
música, são afetados e, consequentemente, reflexos são gerados no meio 1. Ou seja, a música é
capaz de atuar nas relações que se processam entre o meio, músicos e ouvintes. Interações
estas que são comumente descritas na literatura como aspectos que podem favorecer ou não a
harmonia do meio. Foi na tentativa de buscar uma maior compreensão deste universo, que
decidiu-se realizar o presente trabalho, tomando como objetivo a tentativa de identificar a
ação da música como coadjuvante das relações e como promotora de afetos no ambiente do
HEAL.

Para tanto elaborou-se, no primeiro capítulo, uma reflexão teórica acerca do que é interação
dentro do paradigma emergente da complexidade, em que se enfatiza o funcionamento
sistêmico dos elementos que compõem o todo.

No segundo capítulo, discorreu-se sobre o que é a música, o sentido, o significado do fazer


musical e o seu poder de afetar o ser humano e o meio no qual está inserido.

No terceiro capítulo, levantou-se um breve histórico sobre o Hospital Espirita André Luíz –
HEAL, sua organização e seu cotidiano, como forma de apresentar o universo em que a
pesquisa foi realizada.

No quarto capítulo são apresentados e justificados a metodologia e os procedimentos usados


na pesquisa de campo, bem como o resultado das observações efetuadas para este estudo, no
que tange aos efeitos da performance musical sobre os ouvintes, o meio e sobre as próprias
musicistas.

1
Meio neste contexto será utilizado como as relações que se estabelecem entre as pessoas, num determinado
ambiente cultural ou social.
9

Finalmente, foram feitas algumas considerações conclusivas, frente à reflexão do potencial da


música como elemento que afeta o meio e aqueles que nele estão inseridos.
10

1 INTERLIGAÇÃO SUJEITO-OBJETO

“Isto sabemos.
Todas as coisas estão ligadas
como o sangue que une uma famlia...

Tudo o que acontece com a Terra,


acontece com os filhos e filhas da Terra.
O homem não tece a teia da vida;
ele é apenas um fio.
Tudo o que faz à teia,
ele faz a si mesmo.”

Ted Perry

A interação dos elementos do ambiente com os seres vivos possibilita a troca de matéria,
energia e informação, interligando coisas, processos, pessoas e consciências, garantindo a
dinâmica vital da Terra. A qualidade desse ambiente não é fator nem do espaço físico, tão
pouco do homem, mas da relação que se processa entre eles. Relação esta, que se organiza em
sistemas complexos e abertos, sujeitos a toda sorte de influências e interferências. Por sua
vez, por ser complexo, o ambiente não deixa de ser um sistema, que em última análise,
envolve uma infinidade de outros sistemas. São as relações entre estes sistemas, o fator
essencial que favorece ou não o desenvolvimento e a existência dos seres inseridos no
ambiente.

Neste capítulo, estudar-se-á o paradigma emergente que abarca uma nova concepção
sistêmica, em que as interações entre os seres humanos e meio são determinantes para um
ciclo vital saudável. Em seguida, serão apresentadas algumas ideias interacionistas que fazem
eco com essa visão e, por último, serão traçadas algumas considerações sobre a arte e seu
papel no meio e sua relação com o ser humano.

1.1 Uma nova concepção sistêmica

Para se compreender da natureza da vida à dimensão social do ser humano é necessário


refletir sobre o paradigma emergente, pelo qual se tem uma visão do mundo como um sistema
integrado e ecológico, deixando para trás as ciências mecanicistas dos séculos passados. Nesta
11

concepção, entre outras coisas, não se concebe uma separação entre mente e corpo. A
consciência e a mente, sob essa perspectiva, são entendidas como processos integrados.

A física quântica permitiu entender que a matéria é energia. Sob essa perspectiva, a relação
que se estabelece entre matéria e energia pode ser compreendida a partir do todo. Esta
maneira de ver o universo e tudo que o constitui, levou a conceber que corpo e ambiente
podem ser compreendidos a partir também de um todo, mostrando que as barreiras que os
colocavam em condições distintas se tornam cada vez menos definidas. Esta concepção
sistêmica da vida não classifica as coisas como elementos separados, mas como partes de
padrões vibratórios integrados, onde as características mais importantes não estão em suas
partes, mas na maneira como estas se relacionam (CAPRA, 2002). Os elementos que
compõem o universo perdem os seus contornos e estendem-se num continum onde “os objetos
têm fronteiras cada vez menos definidas; são constituídos por anéis que se entrecruzam em
teias complexas com os dos restantes objetos, a tal ponto que os objetos em si são menos reais
que as relações entre eles.” (SANTOS, 1991, p. 34)

É também de Santos (1991) a afirmação de que “Heisenberg e Bohr demonstram que não é
possível observar ou medir um objeto sem interferir nele, sem o alterar, e a tal ponto que o
objeto que sai de um processo de medição não é o mesmo que lá entrou”. O mesmo autor cita
Ilya Prigogine, cuja teoria estabelece que as estruturas funcionam através de sistemas abertos,
com interação de processos segundo uma lógica de auto-organização em que a mínima
flutuação de energia pode conduzir a um estado distinto. Neste sentido, os ambientes e os
indivíduos nele inseridos estão em constante interação. Assim, qualquer interferência
produziria uma modificação neste ambiente e nos indivíduos nele inseridos.

Morin (1979, p.120), referindo-se à complexidade dos ambientes e de seus indivíduos,


escreve que

[...] a diferença fundamental entre os organismos vivos e as máquinas


artificiais diz respeito à desordem, ao ruído, ao erro. Na máquina artificial,
tudo o que é erro, desordem, aumenta a entropia, provocando a sua
degradação, sua desorganização enquanto que, no organismo vivo, apesar
de, e com a desordem, erro, os sistemas não provocam necessariamente
entropia, podem até ser regeneradores. É o processo (organização do ser
vivo) de autoprodução permanente ou autopoiesis ou reorganização
permanente, proporcionando, aos sistemas vivos, flexibilidade e liberdade
12

em relação às máquinas. Princípios estes que são os de organização da vida,


que são os da complexidade.

Analogamente às ideias de Prigogine apresentadas por Santos (1991), Morin (2000) considera
os ambientes funcionando em redes de interação em que seus elementos agem e retroagem
uns sobre os outros, assim como entre as partes e o todo. Este processo se dá mediante lógicas
já conhecidas, e ainda, consideras as que estão por conhecer, numa dialógica que consiste em
reconhecer a unidade, a multiplicidade e a diversidade. Esta lógica funciona numa perspectiva
de organização e reorganização permanente tendo na sua base a instabilidade e o caos.

Estas ideias deram condições para se considerar o planeta Terra como um grande ser vivo,
como proposto na hipótese de Gaia, do autor Lovelock, citado por Capra (2002). Para aquele
autor o mundo possui a capacidade de auto sustentação, ou seja, é capaz de gerar, manter e
alterar suas próprias condições de existência. A partir dessa visão, Maturana e Varela (1984)
desenvolvem a teoria de Santiago, que consiste numa formulação sistemática dos princípios
de organização dos seres vivos e não vivos com seu ambiente. A ideia central dessa teoria é a
identificação da cognição, o processo de conhecimento com o processo do viver. Segundo
Maturana e Varela (1984) a cognição é a atividade que garante a auto geração e a auto
perpetuação das redes vivas. Em outras palavras, o processo cognitivo é o próprio processo da
vida. A atividade organizadora dos sistemas vivos, em todos os níveis de vida é, portanto,
uma atividade mental.

Para Capra (2002, p.14):

As interações de um organismo vivo vegetal, animal ou humano - com seu


ambiente são interações cognitivas. Assim, a vida e a cognição tornam-se
inseparavelmente ligadas. A mente – ou melhor, a atividade mental – é algo
imanente à matéria, em todos os níveis de vida. Essa é uma expansão
radical do conceito de cognição e, implicitamente, do conceito de mente. De
acordo com essa nova concepção, a cognição envolve todo o processo da
vida - inclusive a percepção, as emoções e o comportamento - e nem sequer
depende necessariamente da existência de um cérebro e de um sistema
nervoso.
13

Com o avanço da ciência, cada vez mais as diferenças entre o orgânico e o inorgânico se
tornam menos evidentes. Santos (1991, p. 37) cita:

As características da auto-organização, do metabolismo e da auto-


reprodução, antes consideradas específicas dos seres vivos, são hoje
atribuídas aos sistemas pré-celulares de moléculas. E quer num quer noutros
reconhecem-se propriedades e comportamentos antes considerados
específicos dos seres humanos e das relações sociais.

Algumas teorias orientam a superar as visões positivistas e homocêntricas, ao considerar o


ambiente como parte de uma subjetividade. É o caso, dentre outras, da teoria das estruturas
dissipativas de Prigogine2 (1996) e da teoria da matriz de Geoffrey Chew3 também chamada
‘bootstrap’. Estas teorias trazem em sua concepção a ideia de que a aparente organização do
universo é ilusória, já que este é concebido no caos. Organismos vivos e não vivos, matéria
inerte e em movimento, ondas e vibrações interagem aleatoriamente e contém em si
consciência que, não necessariamente, será percebida pela consciência humana. Por sua vez,
este mesmo universo e o que o compõe se estabelecem nessa dinâmica, como sistemas
complexos que se relacionam de forma efetiva, exercendo ações uns nos outros.

1.2 O homem e o meio

Aristóteles (1973), em seu livro, Metafísica, em sua explicação sobre o Cosmos, refere-se ao
significado do ser4 como uma variada e extensa gama de possibilidades. Segundo o autor, que
viveu entre 384 a 322 a.C., todo ser compartilha de um mesmo princípio, uma essência que
une todos os seres. Afirma, ainda, que esta essência se apresenta em diversas aparências e que
há quatro causas responsáveis por proporcionar mudanças em sua aparência: causa material,
causa formal, causa eficiente e causa final. Assim, tudo o que compõe o universo é
constituído da mesma essência que se manifesta segundo essas causas, fazendo com que umas
sejam distintas às outras. Com base nestes princípios é que Aristóteles reconhecia o cosmos
como parte do ser e vice versa.

2
Ilya Prigogine aponta para a instabilidade do universo e sustenta que a ciência deve incorporar no seu escopo
os critérios do indeterminismo, da assimetria do tempo e da irreversibilidade.
3
O modelo bootstrap de Geoffrey F. Chew afirma que a percepção de concretude e finitude da matéria devem-
se a uma ilusão provocada pelas limitações humanas no nível sensorial e de consciência.
4
Para Aristóteles o Ser é tudo o que é passível de existência.
14

Em outro estudo5, Aristóteles amplia seu pensamento e discorre sobre a estrutura da sociedade
e evidencia a essência do homem enquanto um ser social. Sob uma perspectiva semelhante,
Vygotsky (1995) postula que o homem não se constitui humano por características
unicamente biológicas, mas por fatores sócio culturais. Segundo o mesmo autor, o humano
não está apenas nas suas características genéticas, mas na combinação dessas características
com as interações que ele estabelece com o outro, no meio em que vive. “Na ausência do
outro, o homem não se constrói homem”. (VYGOTSKY, 1994, p.68)

O foco de Vygotsky (1995) é sobre a relação que cada indivíduo estabelece com o meio. Ou
seja, sobre a experiência pessoalmente significativa, em que o homem modifica o meio e é por
ele modificado. Este autor ainda postula que cada ser humano se desenvolve de acordo com
suas vivências, aliadas a processos biológicos, psicológicos e genéticos e que o aprendizado
se dá no contato do homem com o seu meio.

O processo psicológico de pensamentos e ações não está pronto quando nascemos. É no


decorrer da vida que vão sendo construídos. Com isso, o ser humano vai criando um
repertório de conhecimentos, habilidades e percepções. A partir desse pressuposto, Vygotsky
(1994) classifica o desenvolvimento psicológico em filogenético, sociogenético, ontogenético
e microgenético.

Para entender o desenvolvimento psicológico é preciso levar em conta o


desenvolvimento: filogenético, ou seja, da espécie; sóciogenético, em outras
palavras, o desenvolvimento social/cultural da espécie humana;
ontogenético, ou a história do indivíduo, seu desenvolvimento ao longo de
sua história; e microgenético, ou um aspecto da história de determinado
indivíduo. Esses quatro planos interagem: pertencemos a uma espécie,
estamos inseridos em uma cultura, vivemos nossa ontogênese e as
microgêneses vão acontecendo a vida toda, no decorrer dos nossos dias.
(FITTIPALDI, 2006, p.77)

Segundo este autor, para Vygotsky os quatro planos de desenvolvimento, juntos, caracterizam
o funcionamento psicológico do ser humano. O processo de evolução da espécie humana e do
desenvolvimento de cada um resultam das evoluções naturais e culturais e ambas estão
interligadas.

5
Em A Política, Aristóteles, trata do sistema social da sua época, influenciando muitos dos pensadores que
vieram posteriormente.
15

Esta ideia, de que os seres humanos nascem num meio sócio cultural, e isso será uma das
principais influências no seu desenvolvimento, é a base da teoria interacionista de Vygotsky.
Segundo suas ideias, é pela interação social que o ser humano aprende e se desenvolve, cria
novas formas de agir no mundo, ampliando ferramentas de atuação no contexto cultural
complexo em que se está inserido, durante todo o ciclo vital.

Pensamento semelhante tem Mogilka (2005), para quem o homem se torna homem pelo
resultado da interação de três grandes forças: a genética, a sociedade e a cultura. Segundo o
autor, sem a interação desses fatores, não seria possível a construção do ser homem, pois o
que existe “são potencialidades, tendências, funções, impulsos, desejos. As formas e
estruturas são o resultado da interação dessas tendências e potencialidades com a cultura e as
relações sociais.” (MOGILKA, 2005, p. 372). Segundo o mesmo autor, sem a interação entre
cultura e genética não existiria a construção humana. O ser humano precisa de uma boa
constituição genética e bons estímulos culturais para que, cognitivamente, possa se
desenvolver.

Nesse contexto, a mediação do outro e com o outro e, também, das coisas e com as coisas são
fundamentais para que ocorra o desenvolvimento, já que é por meio das interações, que o
sujeito passa a ter uma significação subjetiva, internalizando suas vivências. Quando essa
mediação é feita pelo outro, trata-se de mediação pedagógica, assim como a mediação
semiótica são as interações feitas pelos e com os signos. Nesse sentido, o autor esclarece que:
“todo estímulo condicional criado pelo homem artificialmente e que se utiliza como meio para
dominar a conduta – própria ou alheia – é um signo [...]” (VYGOTSKY, 1995, p. 83).

Sob essa perspectiva, há de se considerar dois momentos importantes que favorecem a


explicação do uso dos signos no desenvolvimento humano. O primeiro, diz respeito ao
estímulo externo que tem uma representação específica para cada sujeito. O segundo
momento refere-se aos estímulos que já introduzidos no contexto social, se tornam símbolos e
que na sua interação, passam a ter uma significação coletiva, desencadeando assim, um
processo de linguagem.

Segundo Vygotsky (1994) se de um lado a combinação da cognição e da afetividade seria


capaz de dar conta da quantidade de estímulos que o ser humano recebe do meio, de outro, o
sistema nervoso humano não consegue processar todos os estímulos que chegam. No entanto,
16

na cultura existem artifícios para se conseguir unificar estas duas dimensões do humano. Um
destes artifícios é a arte.

Vygostky (2001) relaciona as artes, a semiótica e a educação, e analisa os mecanismos de


construção estética a partir da dialética homem cultura. Em citação de Cunha (2009, p. 4) vê-
se que o imaginário do ser humano é construído

[…] nos fatos que encontra e vivencia no decorrer das interações sociais. As
fantasias seriam combinações de elementos retirados da realidade e
reelaborados pela imaginação. Percebe-se por essa exposição que os
sentimentos, imagens e pensamentos que se reorganizam enquanto o ser
humano partilha a música, procedem de vivências reais, de experiências já
apropriadas e constituintes de suas subjetividades.

A arte seria um instrumento que possibilitaria equilibrar o organismo ao seu meio, além de
também, externalizar emoções e sentimentos como: alegria, ansiedade, agressividade, medo,
raiva, angústia e outros. Os sentimentos provocados pelo contato com a arte podem superar os
sentimentos vivenciados e ainda não resolvidos, rompendo o equilíbrio interno. Assim, ao ser
afetado pela arte, toda sorte de sensações podem se manifestar e vir a tona. Nesse sentido,
Vygotsky (2001, p. 315) esclarece que “a refundição das emoções fora de nós realiza-se por
força de um sentimento social que foi objetivado, levado para fora de nós, materializado e
fixado nos objetos externos da arte, que se tornaram instrumentos da sociedade”.

1.3 Algumas considerações

Como foi apresentado, o ser humano é parte de um sistema complexo no qual, como parte
complexa deste sistema, é sujeito e também objeto. Nesse sentido, o ser humano é capaz de
criar instâncias que o coloca frente a frente a este universo complexo assim como a si mesmo,
alterando o seu exterior bem como seu interior. Dentre estas instâncias estão as artes.

Para Vygotsky (2001, p. 57) "a arte é trabalho do pensamento, mas de um pensamento
emocional inteiramente específico [...]". Ao tocar o interior do sujeito ela, a arte, proporciona
mudanças em sua subjetividade com reflexos diretos na sua objetividade e, portanto, no seu
meio.
17

Guattari (1992) faz eco com estas ideias. Para este autor a arte promove desestabilizações que
agenciam novas maneiras de pensar e viver. Em suas palavras:

Produzir novos infinitos a partir de um mergulho na finitude sensível,


infinitos não apenas agregados de virtualidade, mas também de
potencialidades atualizáveis em situação, se demarcando ou contornando os
Universais repertoriados pelas artes, pela filosofia, pela psicanálise
tradicionais: todas as coisas que implicam a promoção permanente de outros
agenciamentos enunciativos, outros recursos semióticos, uma alteridade
apreendida em sua posição de emergência – não-xenófoba, não-racista, não-
falocrática -, devires intensivos e processuais, um novo amor pelo
desconhecido[...] (GUATTARI, 1992, p.47 )

A música, enquanto arte, como salientou Cunha (2009), proporciona a mediação entre o
sujeito, o mundo e as emoções, ao mesmo tempo em que é objeto sobre o qual o sujeito age.
Nesse sentido, pode-se considerar que a música, como qualquer outra expressão artística tem
o “poder” de promover alterações no meio em que se realiza. O fenômeno se dá na relação
que se estabelece entre o músico, a música em si e, também o ouvinte. A interação se dá num
contexto complexo, difícil de prever, controlar, sistematizar. Emoções fluem e o que se pode
absorver são apenas impressões do processo.

Será mais, especificamente, sobre à música e às sensações que ela promove no indivíduo e no
meio é que o próximo capítulo tratará.
18

2 A MÚSICA COMO INSTRUMENTO DE INTERAÇÃO

“Já se deram conta, que a música faz livre o espírito?


Dá asas ao pensamento?
Que alguém se torna mais filósofo,
quanto mais se torna músico?”

Nietzsche

É sabido que aspectos estruturais da música – som, ritmo, melodia, harmonia, timbre,
dissonância, silêncio, e também os gestos, entre outros –, se organizam numa linguagem
simbólica que podem provocar sensações e expressões subjetivas nas pessoas. Como foi visto
no capítulo anterior, segundo alguns autores, tudo acontece concomitantemente de forma
complexa e interligada. A arte tem um significado subjetivo para cada indivíduo que a
experimenta. Conceituar a arte é algo complexo, mas o que há de comum em muitas das
ideias que partem de especialistas ou leigos, é que arte tem uma significação afetiva.

Levando em consideração o que foi dito, e sendo a música uma das possíveis manifestações
artísticas, abordar-se-á algumas ideias sobre a musica, conceituando, refletindo sobre sua
função e importância no campo da interação entre as pessoas e entre as pessoas e o seu meio.

2.1 Algumas reflexões sobre o conceito de música

A palavra música, tem origem do grego e se define como μουσική τέχνη - musiké téchne -, a
arte das musas. A música constitui-se, estruturalmente, de uma sucessão de sons e silêncios
organizados ao longo do tempo6 e espaço, constituindo um complexo de interpretantes7. É
considerada por diversos autores como uma manifestação cultural e humana. Embora nem
sempre seja feita com um objetivo artístico, a música é considerada por muitas sociedades
como um elemento importante dentro das representações culturais.

Apesar da música ser intuitivamente conhecida por todos, seu entendimento completo é algo
relativamente complexo. Encontrar um significado que abarque todos os sentidos da sua

6
Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Musica>.
7
Para Peirce (2000), o interpretante é o potencial interpretativo contido em algo. É o terceiro elemento que,
atuando como mediador entre objeto e signo, completa a tríade que faz emergir a semiose. Assim, o
interpretante, através da síntese intelectual frente ao objeto e o signo, deixa de ser apenas potencialidade para
gerar outro(s) signo(s).
19

prática é um desafio. Segundo Blasco (1999), o valor da música está no fato dela causar no ser
humano efeitos no campo biológico, fisiológico, psicológico, intelectual, social e espiritual; e
é por estes efeitos que o indivíduo buscará significar a música.

Um dos poucos consensos sobre o conceito de música é que ela consiste em uma combinação
de sons e de silêncios ou em sequências sucessivas e simultâneas que se desenvolvem ao
longo do tempo. Para Schafer (1991, p. 35) “música é uma organização de sons (ritmo,
melodia etc.) com a intenção de ser ouvida. Música é algo que soa. Se não há som, não é
música”. Neste contexto incluem-se as

variações nas características do som (altura, duração, intensidade e timbre)


que podem ocorrer sequencialmente (ritmo e melodia) ou simultaneamente
(harmonia). Ritmo, melodia e harmonia são entendidos aqui apenas em seu
sentido de organização temporal, pois a música pode conter propositalmente
harmonias ruidosas (que contém ruídos ou sons externos ao tradicional) e
arritmias (ausência de ritmo formal ou desvios ritmicos). (PULLIG, 2010, p.
22)

Por sua vez, são inúmeros os conceitos que interpretam a música como uma forma de
comunicação. La Compôte (1977) avalia a música como uma “linguagem sonora, isto é, a arte
de expressar e transmitir os sentimentos vindos da alma, por meio de sons dispostos em séries
e combinações de acordo com uma lógica”. Nesse contexto, Hargreaves (2004) considera que
a música transcende fronteiras físicas e culturais. Desse modo, é possível, através da música
estabelecer comunicação mesmo para pessoas que falam línguas distintas.

De modo análogo, Cunha (2009) considera a música como uma das mais importantes
manifestações sociais. A autora postula que a arte musical quando ultrapassa o exercício
desencadeador de sentimentos, de descarga emocional e do contágio afetivo, pode fazer parte
da vida cotidiana, como um fato que, simbolicamente, se transporta aos sentimentos e
emoções do ser. Também Blacking (1981), acredita que “a música é um fato social”. Segundo
o autor, a arte não existe em produtos, mas sim em processos, através dos quais, cada pessoa
por mais que esteja compondo um grupo, dá um significado específico à sua experiência.

Na tentativa de entender e explicar o que é a música, vários autores a conceituam, ou tentam


defini-la, de diferentes formas. Alguns a consideram apenas sob um viés estrutural técnico,
outros como uma expressão artística, com o fim em si mesmo; outros, porém, dão-lhe uma
dimensão significante/comunicacional.
20

Para efeito desse trabalho, será abordado o conceito da música como linguagem, atribuindo à
música o caráter de uma ferramenta capaz de gerar significante, comunicar e facilitar a
interação entre as consciências e seu meio, capaz de provocar sensações, de alterar e
reorganizar o meio. Para Craveiro de Sá (2003, p. 131), música são

[...] forças sonoras que conduzem à formação de imagens, à visualização de


cores, cenas, formas, texturas etc. Música que narra, que descreve, que
disserta. Música que faz percorrer o tempo numa velocidade inconcebível ...
música que conduz a um estado de pura virtualidade...música que transporta
a outros lugares, a outros tempos...música que conduz a outros estados de
humor e de consciência ... música que, muitas vezes, organiza e, outras
tantas, desorganiza ... música que, em alguns momentos, equilibra e, em
outros, causa reação totalmente contrária... música-corporalidade, música-
tempo ... multiplicidades ...

A música é uma maneira de sistematização que alia som, silêncio e ruído, numa sequência
interativa, dentro do tempo, possibilitando combinações entre sua estrutura e seu meio.

2.2 A música enquanto sensações

É fato que a música tem um efeito de ‘tocar’ o ser humano de várias formas. Para Montagu
(1905, p. 275)

tanto a verdade quanto a comunicação começam com um gesto simples:


tocar, que é a verdadeira voz da sensação, do sentimento. O toque amoroso,
como a música, profere em geral as coisas que não podem ser ditas: nada é
preciso que se diga visto que tudo está entendido. As sensações geralmente
tem uma qualidade tangível, isso se expressa muitas vezes em nossa
linguagem […]

Em várias passagens do seu livro Tocar – o significado humano da pele, este autor relata
experiências de culturas distintas em que a presença da música ou sons ritmados causam
efeitos sobre os indivíduos e que todas as emoções provêm dos primeiros estímulos sensoriais
que o bebê recebe do meio ambiente. Para este autor, as emoções estão associadas aos sons
que o bebê ouviu ainda no ventre, como as batidas do coração e/ou a voz da mãe e outros sons
que, quando já fora do útero, o bebê ouviu como as conversas, as cantigas de ninar, as
músicas. Esses sons podem ter um efeito tranquilizador ou aterrorizador, dependendo dos
condicionamentos operados naquela tenra infância. Em um relato sobre as mães esquimós, o
autor escreve:
21

A mãe entoa cantigas para o filho enquanto lhe dá tapinhas carinhosos,


abraça-o e o mantém perto do corpo, dentro do parka; com o tempo ele
aprende a identificar e a responder à sua voz como substituto para o seu
toque. Esta é uma forma de condicionamento reflexo, em que o sinal do
estimulo original, a voz, substitui o toque, mas a voz sempre conserva sua
qualidade tátil, pois é tranquilizante, carinhosa, reconfortante. Ocupa bem o
lugar da presença amorosa da mãe, cujo amor o bebê conheceu inicialmente
através do calor e do apoio, da docilidade e da suavidade da pele materna
que ele recebeu no atendimento que a mãe dedicou às suas necessidades, de
modo tanto ativo quanto passivo, estimulando-lhe a pele, carregando-o,
limpando-o e lavando-o. (MONTAGU, 1905, p.290)

É comum as pessoas utilizarem de qualidades táteis para conceituar sensações e experências


que vivenciam diante de um som. Assim, dizer que a voz de alguém é macia, aveludada ou é
como uma carícia demonstra como os sons são definidos pelas sensações que seriam próprias
a outros órgãos sensoriais, no lugar da audição.

Montagu (1905) lembra que Sally Carrighar, em sua autobiografia, conta que, aos seis anos,
ouviu um famoso violinista tocar e sua sensação era de que recebia o som não apenas pelos
ouvidos, mas também, através da pele de todo o corpo. O mesmo autor também lembra que
Edmund Carpenter comenta que, não raro, cantores determinarem a altura do som pela
sensação que o mesmo lhe causa. Uma experiência que não seria diferente do rock, em que a
pessoa sente a música, geralmente com o corpo todo.

Segundo Langer (2004) os psicólogos Helmholtz e Wundt, consideravam a música como uma
sensação prazerosa, ocasionadas por seus arranjos. A mesma autora acrescenta que os
pensadores Rousseau, Kierkegaard e Croce, acreditavam na ideia da música como catarse
emocional e sua essência seria a auto expressão. Esta mesma ideia também é compartilhada
pelos músicos Beethoven, Schumann e Liszt. Para Howard (1984, p.23) “a música é a relação
entre os sons e não o próprio som, qualquer que seja o grau de artifício e de complexidade de
sua sucessão”.

Para a mesma autora a música é capaz de nomear e acessar os sentimentos, visto que atinge
uma comunicação em linguagem não verbal. A autora considera que a música pode ser um
mecanismo para “descarregar nossas experiências subjetivas e restaurar nosso equilíbrio
emocional” ( LANGER, 1989, p. 217). Ou seja, o sujeito se constitui como uma realidade que
22

compreende um entrelaçamento de múltiplos componentes e que, em contato com a música


pode experimentar sensações agradáveis ou não.

Subitamente tudo parece mais suave e mais complexo, o mundo vira uma
mistura discernível de múltiplos tons, cores, ritmos, intensidades,
reverberações, cadências, qualidades, acontecimentos... O que era Um vira
muitos, o que estava subsumido a um Plano único vira um folheado, o que
parecia hierarquizado torna-se ramificado, uma pulverização,
reagrupamentos, novas dimensões, proliferações... (PELBART, 1993, p.
96).

Aspectos que Sacks (2007) ratifica ao transcrever um trecho de carta de um de seus pacientes,
portador da Síndrome de Tourette8. Nesta carta, seu paciente comenta os efeitos da música
sobre seus tiques, quando em contato com a música, quando narra: “Pode ser tanto uma
bênção como uma maldição para os meus tiques. Pode pôr-me em um estado no qual me
esqueço completamente da síndrome de Tourette ou provocar um surto de tiques difícil de
controlar ou de suportar” (SACKS, 2007, p. 221).

Segundo Piazzetta (2008) alguns estudos filosóficos, antropológicos e neurocientíficos mais


recentes, buscam entender o universo da música e sua relação com o homem. Os estudos neste
campo abarcam a inter-relação que se processa e sua capacidade perceptiva. Neste contexto,
utilizando-se dos conceitos formulados a partir da concepção sistêmica, a música está para
além da lógica e da racionalidade e participa de uma estrutura mental que comporta também
aspectos do inconsciente, com suas contradições e afetos. Nesse sentido, segundo Cunha
(2009), é que Vygotsky afirma que “a verdadeira natureza da arte estaria contida no conflito
entre emoções opostas, na contradição que se estabelece entre a forma e o conteúdo da obra
que acarretariam na transformação dos sentimentos.” (CUNHA, 2009, p.3)

Assim, a música pode atingir o homem através de dois conjuntos de características: as de


caráter estrutural e afetiva (HERRINGTON E CAPELLA, 1996). Aspectos que levam a Joy
(1998) a propor que através dos processos interativos e sob uma perspectiva cognitiva, pode-
se compreender as relações que se estabelecem entre os indivíduos e o seu meio.

8
A Síndrome de tourrete é uma doença de fundo neurocerebral que foi descrita em 1885 por Gilles de La
Tourette e consiste em manifestação de tiques compulsivos, repetitivos, com movimentos rápidos, muitas vezes
repentinos e acompanhados de coprolalia, que são vocalizações de palavrões descontextualizados. Ainda não foi
descoberta a cura para essa doença que se inicia na infância, mas que pode ter seus sintomas diminuídos na vida
adulta.
23

2.3 A música e o meio

A música pode não ser uma invenção humana, é algo inato à natureza. No entanto, a criação
musical sim é uma invenção humana. Somente os seres humanos são capazes de criar música
que, como produto da cultura e está interligada ao processo dinâmico e energético no
universo. Como tal, a música proporciona condições para reflexão ao mesmo tempo em que
promove a mediação entre os indivíduos e este meio.

O ambiente, como visto no capítulo anterior, é constituído pelos seres vivos nele inseridos que
interrelacionam-se, como sugere Tomatis e Vilain (1991, p. 114-5):

O ambiente não cessa de revelar ao homem sua pertinência a este grande


todo vibrante que se manifesta fora e dentro de cada ser humano, passando
de um para outro, unindo num jogo permanente o finito da natureza humana
e o infinito imóvel, limite de nossa concepção de mundo.

Ao interagir no meio com sua frequência vibracional, como sugere Jenny (1967), as ondas
sonoras, independem da percepção ou até mesmo da audição de quem ou do que está exposto
a ela. Mesmo assim, a música interage com as unidades celulares ou atômicas, podendo
modificar suas estruturas, de acordo com o tipo de vibração a ela exposto. Para o autor, várias
substâncias, principalmente as líquidas, são bastante susceptíveis às transformações. Vale
lembrar, então, que o corpo humano, na fase adulta, como postula Macêdo (2004), é
constituido de 70 à 74% de água. Petráglia (2008) acredita que a música pode atuar tanto no
nível da matéria com suas ondas vibratórias em organismos e objetos, num caráter estrutural,
quanto em processos cognitivos, acompanhados pelas sensações, percepções e emoções.

Ao interagir com o meio através do seu conteúdo simbólico, a música deixa aflorar todo o
conteúdo subjetivo de seus interpretantes, ou seja, seu potencial interpretativo. Para que este
potencial passe a significar algo é necessário o processo cognitivo.

Assim a música, por seu conteúdo significante comunica tanto com quem a produz, quanto
com quem a ouve. Desse modo, a música atua junto aos afetos, possibilitando emergir novas
maneiras de significação do indivíduo frente ao seu meio (WAZLAWICK; CAMARGO;
MAHEIRIE, 2007). Ou seja, a música é capaz de atuar na subjetividade daquele que a ouve
fazendo com que a sua relação com o seu meio se altere. Também, Castro (2007) afirma que o
24

contato com a música é uma interação ser vivo/meio ambiente e que a possibilidade de escutar
é algo que traz o ambiente para dentro do ser e o posiciona diante dele.

Dentro deste contexto, a música tem a capacidade de atuar na extensa e complexa rede em que
o homem é apenas mais um de seus constituintes. Aí, estabelece um diálogo entre seus
componentes dentro de um processo sígnico, reformulando e reconfigurando a ecologia em
que o homem é sujeito e objeto.

É de modo emocionado que o sujeito constrói os significados da música, em


sua vivência, a partir de seus sentidos, objetivando sua subjetividade,
tornando-a “audível” para ele e para os outros. Os significados e sentidos
ressoam nas vivências do sujeito são construídos na sua relação com a
música. Estes significados partem das vivências afetivas do sujeito,
demonstrando a utilização viva da música, uma vez que mudam,
desconstroem-se e são recriados, porque também são constituídos pelos
sentidos, ligados ao uso da música de modo idiossincrático e em relação.
(WAZLAWICK; CAMARGO; MAHEIRIE, 2007, p. 112).

Música, inserida em um meio, pode favorecer ou não este ambiente. Conforme pesquisado
por Petráglia (2008), em termos vibracionais, músicas eruditas, como as de Bach, podem ser
favoráveis a organismos vivos, como as plantas, enquanto que as musicas ruidosas, do estilo
Acid Rock de Jimi Hendrix e Led Zeplin, podem ser desfavoráveis a estes organismos. Por
sua vez, em termos simbólicos, as sensações e emoções pessoais permitem construir
significados na música ou mesmo resignificá-la, assim como a cada vivência do sujeito que
entra em contato com ela. Além disso, numa dimensão sócio cultural a música possibilita
aflorar de modo objetivo, a própria subjetividade, como nos sugere Wazlawick, Camargo e
Maheirie (2007).

Este contexto último, o sócio cultural, é a dimensão espaço temporal do meio em que a
música se concretiza. Nesse sentido, a música tem estado presente em vários ambientes e com
as mais variadas funções. Independente do tempo e de sua aplicação, sua função primordial se
resumem em “afetar”, não só aquele que a ouve, mas também quem a faz e o contexto em que
se desenvolve. Assim, independente se a música se apresente naqueles lugares “normalmente”
eleitos como espaços apropriados para ela, como teatros, salas de concertos, templos etc, e
independente da intenção, ela está apta a afetar.
25

Segundo as ideias de Shaffer (1991), todo ambiente tem sua particularidade sonora, sua
paisagem sonora9. Assim é comum se imaginar cânticos de louvor em igrejas evangélicas,
gritos em brinquedos como montanhas russas e buzinas no trânsito, mesmo que estes sejam
apenas parte do complexo sonoro que compõe cada um desses ambientes, dando-lhes uma
identidade própria. E como afirma Schafer (1991), os sons da paisagem sonora, em especial
os sons fundamentais de uma cultura, influenciam o comportamento de um grupo social.
Portanto, qualquer som introduzido num dado ambiente, estará interferindo na paisagem
sonora deste mesmo ambiente. Nesse sentido, uma música introduzida num ambiente
“estranho” a ela, pode interferir num meio, modificando-o. A presença de uma música pode
modificar essa paisagem e por consequencia, pode proporcionar ao meio e a seus integrantes,
uma nova perspectiva deste ambiente.

É neste sentido que a música pode e tem estado inserida nos mais diversos ambientes e
afetando-os. É de um destes ambientes, que tratará o próximo capítulo.

9
Paisagem Sonora “é constituída de ruído, som, timbre, amplitude, melodia, textura que se encontram num cone de tensões,
instalado num horizonte acústico”. Como por exemplo,“uma composição musical é uma viagem de ida e volta através desse
cone de tensões [....] Cada peça de música é uma paisagem sonora elaborada, que pode ser delineada no espaço acústico
tridimensional” (SCHAFER, 1991, p. 78).
26

3 O HOSPITAL ESPÍRITA ANDRÉ LUIZ

“Da mesma forma que não se pode curar os olhos sem a


cabeça, ou a cabeça sem o corpo, também não se deve
tentar curar o corpo sem a alma. Pois a parte nunca pode
ficar boa, se o todo não estiver bem.”

Platão

A Organização Mundial de Saúde (OMS) conceitua saúde não apenas como ausência de
doença, mas como uma situação favorável de bem-estar físico, mental e social (BRASIL,
2004). Sob essa perspectiva, o Hospital Espírita André Luiz – HEAL –, entende que no
exercício ao cuidado ao próximo deve buscar, a partir de uma visão holística, unir várias
formas de tratamento. Ou seja, o HEAL, vê no atendimento ao paciente, não apenas
patologias, mas uma integração como ser psicológico, social, cultural e espiritual.

Este capítulo traz um breve histórico do HEAL, sua concepção e criação, seguindo pela
descrição de sua organização e de seus recursos terapêuticos utilizados, mostrando o
cotidiano, suas atividades e sua terapêutica. A intenção é possibilitar a contextualização das
atividades que serviram de espaço de pesquisa que resultou neste trabalho.

3.1 Breve histórico

Dentro da diversidade religiosa no Brasil, o espiritismo 10 assume uma grande relevância.


Segundo Santos (1997), o espiritismo encontra-se presente de modo marcante na sociedade
brasileira. Neste país, esta prática doutrinária se disseminou mais que qualquer outro lugar em
todo o mundo.

Na base dessa doutrina, a filantropia é uma das referências mais relevantes diante da
sociedade. Muitas instituições como hospitais, asilos e creches, são ligadas e mantidas
diretamente às federações espíritas, responsáveis pela manutenções e direcionamento
filosófico das mesmas. Dentre muitas das instituições espíritas se encontra aquela em que o
presente estudo foi realizado.

10
Compreendido como uma doutrina de cunho filosófico-religioso voltada para o aperfeiçoamento moral do
homem que acredita na possibilidade de comunicação com os espíritos. (CAVALCANTI, 1985)
27

Segundo Costa (2001) foi a partir da década de 1930 que se deu o início à construção de
hospitais psiquiátricos espíritas no Brasil11. Puttini (2004), ao pesquisar hospitais mantidos e
administrados por adeptos ao espiritismo, passa a conceituar estas instituições como
híbridas12. Para este autor:

Allan Kardec, no século XIX na França, construiu uma doutrina religiosa,


que inclui concepções sobre a doença mental e uma proposta de tratamento
moral religioso. Kardec não formulou a doutrina com o interesse de luta
aberta no campo médico psiquiátrico, nem teve a intenção de transformar-se
numa alternativa terapêutica ou complementar às ciências médicas ou à
psiquiatria francesa, pois a criação e organização da doutrina espírita era-lhe
uma alternativa cristã e humanista, no campo religioso. Nesse item defende-
se a hipótese de que, no Brasil do século XX, o Espiritismo interessou-se
por efetivar a pretensão filosófica da doutrina de Kardec, de torná-la uma
doutrina científica, pela via da medicina. (PUTTINI, 2004, p.63)

De acordo com este mesmo autor, foi a partir do trabalho espiritual desenvolvido pelo médico
alopata Bezerra de Menezes, que surgiu a primeira estrutura religiosa para fins médicos com
bases no espiritismo no Brasil. Por sua vez, Inácio Ferreira, médico psiquiatra, foi um dos
primeiros médicos a institucionalizar as ideias de tratamento espírita defendidas por Dr.
Bezerra de Menezes. O autor ainda traça o perfil de alguns hospitais espíritas:

No interior dos hospitais visitados observou-se um padrão na


distribuição dos espaços terapêuticos, bem como o movimento de
pessoas que usavam esses espaços. Sempre se encontrou, nos espaços
das administrações, quartos, refeitórios, pátios, enfermarias, espaço de
lazer interno e amplas áreas de lazer externa, ora preenchidos com
atividades de plantio ou atividades de jardinagem pelos internos.
(PUTTINI, 2004, p.78)

Dentro desse perfil, o Hospital Espírita André Luiz foi concebido em 25 de dezembro de
1949, por um grupo de simpatizantes da doutrina espírita que, segundo eles, tinham
orientação e instrução direta dos espíritos. Segundo documentos e atas de reuniões do HEAL,
uma equipe de médiuns recebiam orientações dos espíritos de Joseph Gleber, Irmã Scheilla,
André Luiz e Fritz Schein. Através dessa equipe e com as orientações recebidas, foi, então,
concebida a fundação e construção do hospital. A partir daí, iniciou-se dois anos de intensos
trabalhos filantrópicos como forma de arrecadação de fundos, o que resultou em muitas

11
Para mair aprofundamento deste tema consulte Associação Médico-Espírita do Brasil. Disponível em:
<www.amebrasil.org.br>.
12
Puttini (2004) definiu como locais onde há prática médica e espírita ao mesmo tempo.
28

doações vindas de várias partes do país, para a aquisição de um terreno para a construção do
HEAL.

Em Agosto de 1951, deu-se a compra do terreno para a construção. O objetivo era construir
um hospital que pudesse atender pessoas carentes, que necessitassem de cuidados,
independente de suas crenças religiosas. O hospital foi idealizado para ser para atendimento
de caráter geral. No entanto, com o advento da Segunda Guerra Mundial e crescente demanda
específica, acabou sendo destinado a atender pessoas com transtornos mentais variados,
inclusive transtornos mentais relacionados ao uso de substâncias (álcool e drogas).

Em 1955, dá-se início as obras em terreno, então adquirido no Bairro Salgado Filho, em Belo
Horizonte. Nessa época, a secretaria do Hospital já funcionava à Rua Rio de Janeiro, na
mesma cidade, possibilitando assim, a conselheiros e diretores do hospital reunirem-se para o
planejamento da construção.

Em 1957 já estava em funcionamento a ala ambulatorial com a crescente ampliação no


número de atendimento a pacientes, antes mesmo da inauguração oficial do hospital. Nessa
mesma época, intensifica-se o atendimento por parte de médicos voluntários, doações de
direitos autorais de livros, eventos beneficentes – todas as ações foram em prol da
continuidade da construção do Hospital Espírita André Luiz.

Em 1961, ainda antes de ter efetuado a sua inauguração e a normalização dos atendimentos, o
HEAL recebe o certificado de utilidade pública Federal, conforme decreto nº 48.661 daquele
mesmo ano. Somente em Outubro de 1967, o então secretário de saúde de Belo Horizonte,
Professor Clovis Salgado, declara o HEAL oficialmente inaugurado. A partir desta data, o
atendimento aos pacientes passa a ter, além do tratamento psiquiátrico convencional, um
enfoque bio-psico-social, tendo o tratamento espiritual sido oferecido como um tratamento à
parte.

Em 1977, após uma progressiva reestruturação da equipe médica, o tratamento espiritual


passou a integrar ao já existente tratamento bio-psico-social. Assim, uma nova perspectiva foi
dada ao tratamento dos pacientes. A essa integração das várias técnicas terapêuticas foi dado o
nome de Tratamento Bio-Psico-Sócio-Espiritual.
29

Atualmente, o hospital possui leitos para tratamento em regime de observação, internações


psiquiátricas e para dependentes químicos, além do hospital-dia13 para a permanência até às
17 horas. Sua equipe técnica reúne profissionais e estagiários como: médicos, enfermeiros de
nível superior e técnicos de enfermagem, psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes
sociais, músicos, educador físico, entre outros, e ainda, artesãos e monitores em
praxiterapia14.

Muitos desses profissionais, também participam do departamento de Assistência Espiritual –


DAE. Este departamento é constituído de profissionais de diversas áreas e especializados em
dar apoio ligado às práticas da doutrina espírita, quando solicitadas pela família. Essas
práticas são utilizadas como recursos terapêuticos e são: fluidoterapia, desobsessão, estudos
evangélico doutrinários, orientações espirituais, atendimento fraterno e momento de oração.

Outro departamento do Hospital Espírita André Luiz é o CETAS – Centro de Terapias e


Assistência Social, que foi criado especialmente para atender os dependentes químicos e o
NUPTAS, especializado a atender pacientes com transtornos mentais. Ambos os
departamentos funcionam como um hospital dia, de 08:00 às 17:00 horas.

O HEAL é uma instituição filantrópica, sem vínculo direto com o Sistema Único de Saúde
(SUS). Recebe pacientes particulares, de diversos órgãos gestores da saúde, bem como
pessoas carentes. É dirigido por uma Diretoria Administrativa e um Conselho, que realizam os
seus trabalhos voluntariamente, sem nenhum tipo de ônus para o Hospital.

3.2 O cotidiano e os recursos terapêuticos no HEAL

O cotidiano do HEAL, assim como seus recursos terapêuticos, se diferencia de um hospital


convencional por fatores históricos e estruturais, como mencionado no início do capítulo.
Consta no site da instituição15 que o hospital conta com 150 leitos, entre enfermarias e quartos
individuais. Cerca de 250 funcionários e 350 voluntários. A dependência química e de álcool

13
Refere-se ao regime de assistência intermediária entre internação e atendimento ambulatorial, para realização de
procedimento clínico, cirúrgico, diagnóstico e terapêutico, sendo indicado quando a permanência do paciente é requerida por
um período do dia.
14
Praxiterapia, segundo Ferreira (1986), significa “técnica de tratamento usada, em geral, com doentes crônicos
internados, e que consiste na utilização terapêutica do trabalho, distribuindo-se aos pacientes tarefas de complexidade
crescente”.
15
Disponível em: <http://www.heal.org.br/>.
30

e os transtornos mentais são o foco de atenção nas atividades deste hospital. O hospital ainda
está apto a atender as necessidades dos pacientes em diagnóstico, tratamento e reabilitação
dos mesmos.

A composição do HEAL se divide entre serviços, organizados em unidades. Oferecem:


internação psiquiátrica, permanência dia no CETAS (dependência química e de álcool) e
NUPTAS (saúde mental), residência terapêutica, ambulatório, palestras abertas ao público em
geral e cursos destinados a profissionais da área. As unidades Harmonias (Harmonia I e
Harmonia II), separadas por sexo, são destinadas aos pacientes com transtornos mentais com
maior grau de risco de autoextermínio, fuga e dificuldade do convívio social. As unidades
Renovares (Renovar I e Renovar II), também separadas por sexo, são destinadas aos pacientes
com transtornos mentais, com crise psiquiátrica típicos como transtornos: de humor,
depressivos, alimentares, obsessivo - compulsivos, esquizofrênicos entre outros. A unidade
Novos Passos, exclusivamente masculina, é destinada aos pacientes com quadro de
dependência química e de álcool.

O atendimento começa no ambulatório, que funciona durante as 24 horas do dia. Cada


paciente é encaminhado quando chega para uma primeira triagem em que, a partir desse
atendimento, é definido o tratamento adequado, estabelecendo a necessidade ou não de
internação. Para o dependente químico, após a triagem e a internação, é realizado um processo
de desintoxicação para, só então, iniciar o tratamento propriamente dito.

Além da terapêutica convencional,

o exercício da disciplina, do trabalho, do contato com a natureza e a


vivência da espiritualidade propiciam ao dependente químico reencontrar o
sentido da vida, indispensável á recuperação da dignidade, da cidadania,da
saúde física e mental e do convívio social e familiar.16

Sob a perspectiva de um tratamento convencional do hospital, pacientes participam de


atividades diariamente de 8:00 às 19:00 horas, inclusive aos domingos e feriados. Essas
atividades são realizadas por uma equipe interdisciplinar, composta por psiquiatras,
neurologistas, psicólogos, assistentes sociais, homeopatas, clínicos gerais, terapeutas

16
Disponível em: < http://www.heal.org.br/heal/jornal/Informativo%202.pdf>.
31

ocupacionais, educadores físicos, músicos, musico terapeutas, arte terapeutas, nutricionistas e


enfermeiros.

Consta ainda no site do hospital17 que o corpo clínico do HEAL oferece atendimento médico
dentro das propostas mais modernas de terapia. Estes profissionais se dividem em:

Médicos-assistentes […], todos com especialização em psiquiatria, com


grande experiência clínica na área que atuam, e são responsáveis pelo
atendimento individual de todos os pacientes internados. 2. Médicos
plantonistas […], responsáveis por um atendimento em tempo integral,
cobrindo o setor de internação e intercorrências, com especialização em
psiquiatria ou com ampla experiência na área. 3. Clínica-geral […], que
avalia os pacientes, no primeiro momento, após a internação e que é
responsável pelo acompanhamento nos casos de comorbidades; além das
avaliações de risco-anestésico, quando os pacientes são encaminhados para a
eletroconvulsoterapia. 4. Neurologista […], responsável pelos
acompanhamentos e avaliações, quando ocorrem quadros neurológicos
concomitantes. 5. Anestesista geral […], que realiza as anestesias, aplica as
eletroconvulsoterapias (ECTs) e faz o acompanhamento após os ECTs. 18

Com o objetivo de levar o paciente ao processo terapêutico, o setor de psicologia do HEAL


oferece atendimento individual e grupo de intervenção psicológica, favorecendo a adesão ao
tratamento e a continuidade do mesmo. O setor de terapia ocupacional tem como foco,
atividades como recurso terapêutico. Realiza grupos de terapia, oficinas, atendimentos
individuais, conforme as necessidades do paciente e mediante uma avaliação feita pelo
profissional após internação. Os profissionais se utilizam de diversas atividades como: o
artesanato, a pintura, a argila, tapeçaria entre outras atividades.

O Serviço Social compreende o paciente psiquiátrico como indivíduo que tem papéis
significativos no contexto familiar, social e no trabalho. Fazem parte do serviço social do
hospital, uma equipe interdisciplinar com o objetivo de atender pacientes e suas respectivas
famílias, buscando junto a elas, uma posição de parceria e compromisso no tratamento
proposto. A orientação do trabalho do Serviço Social com pacientes e familiares é de natureza
informativa e socioeducativa. Esta mesma equipe efetua uma triagem a fim de definir a forma
do atendimento, filantrópica ou coberto por convênios de saúde.

17
Disponível em: <http://www.heal.org.br/>.
18
Disponível em: <http://www.heal.org.br/heal/servicos/ambulatorio.asp>.
32

O DAE – Departamento de Assistência Espiritual, por sua vez, é um setor que se dedica
exclusivamente às atividades ligadas à doutrina espírita dentro do hospital. A Assistência
Espiritual prestada aos pacientes é opcional, respeitando a liberdade de credos. Os recursos
utilizados são a fluidoterapia (passe e água fluidificada), a desobsessão, os estudos
doutrinários, as orientações espirituais, orações e atendimentos fraternos. Todas essas
atividades são realizadas por voluntários.

O hospital adota uma filosofia de liberdade de escolha junto aos pacientes. Nesse sentido, os
pacientes têm a liberdade de participar ou não das atividades e orientações ligadas à doutrina
espírita. A única obrigatoriedade no contexto do hospital é a medicação.

Mesmo que não se exija do paciente a obrigação de participar das atividades oferecidas a ele,
são vários os recursos que auxiliam nos tratamentos terapêuticos, seja no contexto da terapia
ocupacional ou grupos terapêuticos, ou mesmo como a educação física e apresentações
musicais. Estas últimas, foco deste trabalho, serão tratadas com mais detalhe no próximo
capítulo.
33

4 AS APRESENTAÇÕES MUSICAIS NO HEAL

“[...] Um universo em movimento cria e desfaz seres transitórios


Deixando, no rastro de seu processo, aquilo que chamamos existência.
E quando, numa benção, tocamos sua essência criadora
Tudo que percebemos é Música.”

Marcelo Petraglia

Considerando o que foi apresentado nos capítulos anteriores sobre as interações e a


significação da música no sujeito e seu meio, serão expostas, aqui, as observações que foram
feitas durante as apresentações musicais no HEAL. Para tal, utilizou-se como metodologia a
observação participante para descrever o comportamento dos ouvintes durante as
apresentações e do ambiente como um todo, além de se mencionar alguns depoimentos que os
ouvintes e/ou profissionais do hospital espontaneamente expressaram. Serão, também,
relatadas as impressões experimentadas pelas próprias musicistas quanto aos efeitos da
música nelas mesmas.

4.1 Considerações Metodológicas

4.1.1 Pesquisa qualitativa: método observação Participante

Uma das possibilidades que se insere na pesquisa qualitativa é que se realize pelo uso da
observação participante. Esta é uma técnica que tem como objetivo a compreensão de alguns
fenômenos circunscritos à realidade empírica de um grupo social. Observar é utilizar dos
sentidos do pesquisador para obter informações sobre uma realidade específica de forma
sistematizada, com planejamento e controle da objetividade (ANGUERA, 1985). Se este
procedimento é feito com a inserção do pesquisador no grupo a ser observado, participando e
interagindo com seus membros, então, trata-se de uma observação participativa.

O eixo central desta técnica é a possibilidade do indivíduo observado responder a estímulos


externos de maneira seletiva que serão, por sua vez, definidas e interpretadas com base numa
fundamentação teórica, pelo pesquisador. Nessa abordagem, não há padrões formais ou
conclusões definitivas e a incerteza faz parte da sua epistemologia. Dos tipos de observação
participante, optou-se por usar, neste trabalho, a observação assistemática ou não estruturada.
34

Nesse tipo de procedimento, o pesquisador tem a liberdade para desenvolver seu trabalho em
cada situação direcionando seu olhar para qualquer direção que considere adequada. É uma
forma de poder explorar mais amplamente as diversas situações que se lhe apresentam.

Há de ressaltar que a observação assistemática não está relacionada a interpretações


meramente emotivas ou deformadas, mas a pesquisa deve-se ater às evidências. Outro fato a
se considerar é que a presença do pesquisador nunca é neutra e, certamente modifica o
ambiente onde observador e pesquisador, concomitantemente, transformam-se, mesmo que de
forma não intencional (MORIN, 1997). Romagnoli (2012), também aponta que “A
importância desta técnica reside no fato de poder se captar uma variedade de situações ou
fenômenos que não são obtidos por meio de perguntas”.19 Assim, o pesquisador deve ficar
atento para não perder a objetividade e estar pronto a considerar os efeitos de sua presença no
meio pesquisado.

A abordagem e a técnica escolhidas estão alinhadas com os princípios da incerteza, da


complementaridade e da complexidade propostos pela fundamentação teórica deste trabalho.
Além disso, recebem o aval dos teóricos20 que estudam esse universo.

Para a realização da observação participante é necessário que o pesquisador busque uma


aproximação com o grupo a ser observado. Nessa aproximação, deve procurar ser aceito de
forma a quebrar os possíveis bloqueios, resistências e desconfiança, mantendo, contudo, o
devido distanciamento para não prejudicar a objetividade do trabalho.

O pesquisador pode utilizar também de documentos, relatos e levantamento de dados sobre a


instituição e os membros a ser observados. Podem-se registrar os dados e impressões em
diário, bem como utilizar-se de fotos, filmagens, gravações e outros.

A sistematização e organização dos dados, juntamente com o estudo teórico que fundamenta a
pesquisa facilita a interpretação da realidade observada. O tempo para a pesquisa pode ser
determinado pelo pesquisador segundo os objetivos do estudo.

19
ROMAGNOLI, Roberta C. Anotações de aula da disciplina Metodologia de Pesquisa em Psicologia, PUC-
MG, 2012
20
Morin E. Complexidade e ética da solidariedade. In: Castro G, Carvalho EA, Almeida MC. Ensaios da
complexidade. Porto Alegre (RS): Sulina;1997. e; Beto Frei. Inderteminação e complementariedade. In: Castro
G, Carvalho EA, Almeida MC. Ensaios da complexidade. Porto Alegre (RS): Sulina;1997. dentre outros.
35

4.1.2 Dos procedimentos

Para o cumprimento dos preceitos estabelecidos para uma pesquisa que se amparam na
técnica da observação procurou-se, inicialmente, entender o funcionamento e filosofia da
instituição. Concomitantemente, procurou-se estabelecer qual a relação da atividade
pesquisada, dentro do contexto daquela instituição. O que se observou serviu para delinear os
passos seguintes que se calcaram em observações nos espaços em que se realizavam as
apresentações e possíveis reflexos no contexto da instituição. Para tal, anotaram-se dados em
diário de campo, entre Julho de 2011 a abril de 2012. Ao longo desse tempo foram analisadas
quatorze apresentações que se realizaram no auditório, na Unidade Novos Passos e no pátio
do hospital.

Com base nos dados levantados junto ao corpo administrativo da instituição, documentos e
peças publicitárias pode-se constatar , como anteriormente mencionado, que o HEAL busca
uma junção transdisciplinar e interdisciplinar nas suas linhas de tratamento de forma a
interagir entre as propostas convencionais, recursos terapêuticos e holísticos. A intenção é
dirigir um olhar para além da doença e do sintoma.

Dentro deste contexto, este estudo parte de considerações que se apoiam na teoria da
complexidade e na teoria interacionista utilizando-se do contexto do HEAL, numa interface
entre performance musical, interação entre musicistas, ouvintes e ambiente como um todo.
Apoia-se, também, nas ideias de Santos (1998) quando afirma que um dos papéis do
profissional da música é atuar como agente que pode levar emoções na utilização da música
em vários ambientes, mesmo em momentos que não comportem uma abordagem que não seja
clínica. Neste trabalho a música não será considerada como ferramenta para terapia, porém, o
foco será observar a mudança do meio diante das interações ocorridas em contato com a
música.

A partir destas premissas, alguns cuidados foram tomados no sentido de se atingir o objetivo
proposto. Nesse sentido, as apresentações eram precedidas da definição de repertório, que era
preparado a cada semana. Este repertório era diversificado e baseado nas escolhas dos
pacientes que deixavam seus pedidos e sugestões com um profissional do HEAL, que
encaminhavam às instrumentistas via e-mail. Geralmente iniciava-se e encerravam-se as
apresentações com músicas eruditas e/ou músicas com temas religiosos. No entremeio,
36

executavam-se várias obras do gênero música popular brasileira, tais como samba, forró, entre
outros.

Também havia uma preparação dos quesitos básicos a se observar: espaço físico, ouvintes,
reações, musicistas, músicas e suas interações. Tais quesitos se apoiavam na perspectiva de se
obter informações sobre os sujeitos presentes nas audições, em torno do ambiente do hospital
e naqueles que se apresentavam, buscando informações sobre os reflexos destas interações
como um todo. Naturalmente, como já mencionado sobre a técnica escolhida, e por se tratar
de um ambiente inconstante no que diz respeito aos espectadores entre uma apresentação e
outra, era constantemente ressaltada a importância de se observar o que o universo
apresentasse, mesmo que em situações inéditas. Desta forma, poder-se-ia, colher uma maior
diversidade de informações que demonstrasse o já previsto do escopo teórico da pesquisa.

As musicistas se reuniam ao final das apresentações para anotar, em bloco de notas destinado
a esta pesquisa, suas observações.

4.2 Histórico das apresentações

As apresentações musicais regulares no HEAL iniciaram-se em Julho de 2011 e desde então


acontece quinzenalmente às sextas-feiras pela manhã, com a proposta de levar a música, não
só para os pacientes institucionalizados, mas também, para profissionais e todos aqueles que
quiserem assistir. No início tocava-se durante aproximadamente 40 minutos no auditório e
seguia-se por algumas unidades de tratamento no hospital. Atualmente as apresentações
iniciam-se às 09.00 horas e variam entre 60 a 90 minutos e podem acontecer tanto no
auditório como em outra unidade do hospital, dependendo da programação conjunta entre as
musicistas e a administração do hospital.

O grupo iniciou esse trabalho com três integrantes sendo duas instrumentistas e uma cantora:
Edna Martins (canto), Kelly Elaine (teclado, violão, saxofone e flauta transversal) e Ludmila
Helena (violino). Os instrumentos musicais utilizados, na maioria das vezes, foram o teclado,
com timbre de piano, e o violino, embora o saxofone, a flauta transversal, o violão e a voz,
fizessem, eventualmente, parte dessas apresentações. Atualmente o trabalho é realizado
apenas pelas instrumentistas.
37

O auditório comporta aproximadamente 150 pessoas assentadas. Este é o espaço que acontece
o maior número das apresentações musicais. Este ambiente é composto de amplas janelas, 150
poltronas de madeira, uma espécie de tablado, (em desnível de aproximadamente 40 cm, que
chamaremos de palco, nele um piano de armário sem condições técnicas para uso, uma grande
mesa e algumas cadeiras. No primeiro dia dessas apresentações no hospital, alguns
funcionários abordaram as musicistas para sugerir a utilização do piano do auditório. Foi feito
um teste no mesmo e foi atestado seu estado “desafinado”.

É neste palco que as apresentações musicais acontecem. Neste auditório, assistem às


apresentações, pessoas em tratamento com dependência química e de álcool e/ou transtornos
mentais, bem como profissionais que em sua maioria, são psicólogos, terapeutas ocupacionais
e médicos, além da equipe do DAE e alguns funcionários da administração.

Para as apresentações na unidade Novos Passos, utilizou-se uma das suas salas: a sala de
terapia em grupo, em que pacientes sob dependência química e de álcool assistiram as
apresentações musicais acompanhados de um psicólogo responsável naquele horário. Esta
sala tem aproximadamente 15m2, com paredes brancas, cerca de 20 cadeiras que ficavam
todas ocupadas por ouvintes, uma pequena mesa ao fundo, um quadro branco e uma janela
sem cortina com a entrada da claridade ou da luz do sol.

Já o pátio é amplo, bem arejado com árvores, bancos e uma grande mesa de madeira que fica
sob uma área coberta. É nesta parte coberta que acontecem as apresentações musicais. Este
pátio foi utilizado para as apresentações, em ocasião de reforma no auditório e nas
comemorações de final de ano, em que se contou com a presença também dos diretores e
responsáveis pela administração do hospital, além da presença da maioria dos profissionais e
pacientes.

As instrumentistas chegam ao HEAL cerca de 20 minutos antes do início da apresentação


para preparação e afinação dos instrumentos. Em seguida começa-se a tocar algumas músicas
clássicas de caráter suave, enquanto os profissionais e pacientes vão entrando e se
acomodando no auditório. Quando todos já estão acomodados, as instrumentistas se
apresentam e geralmente propõem aos ouvintes, uma escuta que leve à reflexão. Assim dá-se
início à apresentação.
38

O repertório das apresentações foi pensado, pelas musicistas, a partir da experiência em


atuações em instituições semelhantes. Também, como já mencionado, considerando-se alguns
pedidos dos ouvintes. Com base nestes princípios, foi-se criando um repertório em que se
consideravam, entre outras coisas, os textos das canções e o ritmo/caráter.

No conjunto de músicas dos repertórios apresentados, algumas canções populares ou eruditas


como “Como é grande o meu amor por você”, “Ária da Quarta Corda”, “Arioso”, entre outras,
que eram classificadas como reflexivas. Faziam parte também, temas religiosos evangélicos
como: “Deus de Promessas”, “Águas Purificadoras”; músicas conhecidas nas doutrinas
católicas e espíritas como: “A Barca”, “Oração de São Francisco”, “Impossível”; assim como
temas mais ritmados como: “Trem das onze”, “Maria Maria”, entre muitas outras.

4.3 O observado no HEAL durante as apresentações musicais

As observações feitas nas apresentações musicais no hospital HEAL, apontam elementos


importantes a serem refletidos. Apesar das vibrações sonoras poderem interferir no ambiente,
em seu caráter físico, neste trabalho, não houve como mensurar. Em termos do meio, o que se
observou é o que a música pode causar nas relações, que serão relatadas abaixo. Nesse
sentido, refletir-se-á a presença da música no ambiente do hospital e suas mudanças. Ou
também, nos profissionais em que essas transformações refletiram na lida com pacientes ou
entre eles. Por último, abordar-se-á aspectos da observação das musicistas e as mudanças na
maneira de tocar, de sentir e de interagir diante desse ambiente.

4.3.1 No meio

De acordo com o exposto por Santos (1991), que afirma que qualquer interferência produz
uma modificação no meio, observou-se que quando as musicistas chegavam com os
instrumentos para as apresentações já se percebia um deslocamento de pacientes, profissionais
e outros interessados direcionando-se para as salas onde seriam executadas as músicas. Isto já
aponta para a mudança da configuração no HEAL, que a presença das musicistas imprimem
neste meio.
39

Há relatos também de profissionais que presenciaram alguns pacientes se arrumando e


demonstrando ansiedade ao aguardarem até o momento da apresentação. Outros pacientes
chegam a convidar colegas de quarto, afirmando da necessidade de irem assistir às
apresentações e sugerindo-lhes que estes se sentirão com o estado de ânimo modificado
positivamente.

Assim como visto no primeiro capítulo deste trabalho, Vygotsky (1995) postula sobre as
relações dos indivíduos com o meio. Segundo este autor, é através de uma experiência que
tenha o afetado de algum modo que o indivíduo dará significado as suas relações com o meio.

Durante as apresentações, percebe-se um aumento gradativo do número de pacientes e


também de funcionários no auditório. Frequentemente acontece de muitos profissionais do
hospital chegarem no auditório durante as apresentações, se acomodarem de pé no corredor,
ouvirem algumas músicas e se retirarem voltando para os seus afazeres.

O tempo para acontecer essas apresentações foi cedido ao hospital pela terapia ocupacional,
pela psicologia e eventualmente por alguns médicos que paralisam suas atividades junto aos
pacientes para liberá-los para assistirem as apresentações. Neste horário, pacientes das
unidades Harmonia I e II, Renovar I e II que têm diagnóstico de transtorno mental, e pacientes
da unidade Novos Passos que têm diagnóstico de dependência química ou de álcool, são
convidados a participarem do evento conjuntamente, o que configura uma mudança no
cotidiano do hospital. A apresentação musical é a única atividade em que os pacientes com
transtorno mental participam em conjunto com os pacientes em tratamento por dependência
química ou de álcool, pois as outras atividades que o hospital oferece são para grupos
separados.

Por parte dos funcionários que antes lidavam com as apresentações musicais como algo
esporádico, atualmente já se sentem mais à vontade para expor suas opiniões sobre os efeitos
da música dentro do hospital, assim como para relatar casos de pacientes ou algum fato
ocorrido em decorrência da música ou até mesmo em tratamentos terapêuticos. As musicistas
observam que, de forma gradativa, o corpo profissional e administrativo do hospital absorve a
presença delas como parte integrante da equipe de profissionais do HEAL.
40

Durante as apresentações, as musicistas puderam observar o impacto que a música causava no


ambiente, afetando o meio. Por exemplo: antes da música começar, os presentes na sala ou no
auditório ficavam batendo os pés no chão inquietos, ouvia-se conversas paralelas entre
funcionários, profissionais e pacientes e movimento de entrar e sair da sala/auditório. Mas à
medida que a música ia sendo tocada, estes comportamentos se alteravam. Enquanto a música
acontecia, observava-se que de alguma forma os ouvintes eram afetados pelas músicas. Ao
final de cada apresentação, os pacientes se apresentavam mais calmos e demonstravam um
aspecto mais alegre.

A coordenadora da terapia ocupacional relatou que alguns profissionais da equipe, utilizavam


do momento após as apresentações musicais para efetuarem algum procedimento em
determinados pacientes. Segundo estes profissionais, é notório que os pacientes, após o
evento, se apresentam mais calmos e receptivos ao tratamento.

4.3.2 Os pacientes

Durante as apresentações alguns pacientes se interagem cantando, dançando, falando, sorrindo


e até mesmo chorando. Muitos procuraram as mucisistas ao final para relatar o que sentiram,
para agradecer, para darem um abraço. Alguns pedem para cantar, outros para tocar e outros,
ainda, apenas para ver de perto os instrumentos. As coisas acontecem de forma simultânea,
interligada e complexa.

Alguns pacientes chegam agitados e às vezes até se comportam de forma descontrolada


apresentando ostensivo mau humor, irritabilidade e isolamento, mas no decorrer da
apresentação vão aparentando estarem mais calmos e, após ouvirem algumas músicas,
começam a interagir com o meio, fazendo algum comentário com quem está ao seu lado,
cantando, movimentando o corpo ou a cabeça, batendo palmas ou sibilando algum compasso
da música. A terapeuta ocupacional do hospital, numa conversa que teve com as musicistas
afirmou que após as apresentações musicais percebe que os pacientes ficam mais calmos e
mais dispostos para o tratamento.

Na primeira apresentação que estava prevista para ocorrer na sala de terapia em grupo, na
unidade Novos Passos, as musicistas chegaram ao local antes da presença de qualquer
ouvinte. Após a afinação dos instrumentos neste dia, a intenção era tocar e deixar que os
41

interessados fossem se aproximando espontaneamente. As primeiras músicas foram suaves e à


medida que se tocava, alguns dos pacientes apareciam na porta, outros entravam e surpresos
perguntavam do que se tratava. A sala antes vazia, ao final da apresentação estava cheia. Para
o término da apresentação, foi escolhida a música religiosa Sonda-me.

Neste dia, o que se observou, enquanto a música era tocada é que a maioria dos ouvintes foi
afetada pela música de alguma forma, pois muitos deles deixaram escorrer lágrimas, outros se
levantaram e foram embora. O observado, coincide com as afirmações de Montagu (1905), de
que a música toca o ser humano de várias formas. Também Langer (2004), afirma que a
música é capaz de acessar os sentimentos e promove uma comunicação não verbal, com vistas
a uma descarga e equilíbrio emocional.

Houve porém, uma pessoa que permaneceu apático, olhando para as paredes, sem deixar
transparecer nenhuma emoção, o que faz lembrar o relato de Sacks (2007) este autor aponta
para o fato de que o estímulo musical pode ser agradável, mas também pode ser indiferente ou
desagradável para algumas pessoas, principalmente dependendo da sua patologia.

Em apresentações realizadas no auditório, muitos pacientes sentiam-se a vontade para sugerir


algumas músicas, bem como cantar. Foi o caso de um paciente que pediu para que as
mucisistas tocassem uma música para ele cantar, em italiano, Con Te Partirò21. Então, este
paciente subiu ao palco, pegou uma garrafa de água imitando um microfone e começou a
cantar com a postura de um artista. Sua expressividade contagiou o público, de forma tal que
todos os ouvintes interagiam batendo palmas e cantando. Uma profissional do hospital trouxe
um microfone verdadeiro, incitando-o a cantar outras músicas, o que de certa forma,
valorizou sua perfomance, entusiasmando ainda mais a plateia. Conforme nos sugere
Wazlawick, Camargo e Maheirie (2007), a música toca a subjetividade individual e coletiva
promovendo mudanças não só naquele que a executa como também naqueles que a ouvem.

Outro relato relevante é de uma paciente que, no seu último dia de permanência no hospital,
aproveitou do espaço das apresentações musicais no auditório para cantar uma música. Neste
dia, antes de iniciar as apresentações, ela procurou as musicistas, falou que já havia estudado
em conservatório de música e solicitou cantar uma música. Fez então um breve ensaio para a

21
Música de autoria de Francesco Sartori e letra de Lucio Quarantotto, gravada por Andrea Bocelli em 1994.
42

sua apresentação e na apresentação propriamente dita, a paciente cantou emocionada e


contagiou com sua emoção todos os presentes.

Apesar dos repertórios escolhidos serem constituídos de diversos estilos musicais, nunca
havia sido utilizado o Hino Nacional nessas apresentações. Num determinado dia, no meio da
apresentação de um repertório selecionado, um paciente solicitou a execução do Hino, o que
tornou essa solicitação inusitada dentro do contexto. À medida que se iniciou a execução,
todos os ouvintes se levantaram em postura respeitosa e muitos deles colocaram a mão sobre
o peito. Todos cantaram o hino e ao final aplaudiram bastante. Percebeu-se uma comoção
geral. Esta manifestação serve como um exemplo de como a música pode funcionar como
uma linguagem sonora, que num contexto cultural promove manifestações sociais. O Hino
Nacional, mesmo neste ambiente, não deixou de trazer consigo todo o seu simbolismo no
sujeito, conforme ressaltado por Cunha (2009) e Blacking (1981).

Wazlawick, Camargo e Maheirie (2007), afirmam que a música aflora a subjetividade de


ouvintes de grupos específicos. Parece que é isso o que acontece frequentemente na sala de
terapia da Unidade Novos Passos. A maioria dos ouvintes desta sala é composta por pacientes
em tratamento por dependência de substâncias tóxicas e estes sempre solicitam músicas em
estilo de Rock como Led Zepelin, Raul Seixas, Rappa, Cássia Eller. Tal fato sugere que estas
músicas, para este grupo de ouvintes em especial, possuem um significado e um sentido
afetivo que seus membros compartilham.

Cunha (2009), também afirma que a música facilita a manifestação de fantasias com a
combinação de elementos retirados da realidade e reelaborados pela imaginação. Num dia de
apresentação musical, tão logo se iniciou a execução de uma música, uma paciente adentrou o
auditório dançando como uma bailarina e pedindo para não parar de tocar. A paciente
permaneceu assim dançando, deitou-se no chão rastejando e chegou a colocar sua cabeça no
colo da violinista dizendo que “sentia-se possuída por uma bailarina”. Neste momento foi
interpelada por uma profissional que sugeriu que ela se retirasse do palco, mas as musicistas
autorizaram-na a ficar. A paciente permaneceu ali por mais algumas execuções musicais e
então se retirou para o tratamento.

Observação semelhante aconteceu com um paciente diante da música Ave Maria, de Gounod.
Tal paciente mostrou-se consternado e levantando-se, foi até ao palco e ajoelhou-se numa
43

atitude fervorosa, balbuciando alguma oração, dando mostras de que interpretava o palco
como um oratório.

Ainda no auditório, durante uma apresentação, um paciente de aproximadamente 20 anos de


idade se dirigiu às musicistas e perguntou qual era o nome do trio. Como as musicistas não
haviam estabelecido um nome para si, responderam que não havia. Continuaram por mais ou
menos 60 minutos tocando normalmente. Ao final, ele pediu a palavra e apontou para a
cantora e disse: “Força”. Apontou para a violinista e falou: “Luz” e em seguida, apontou para
a tecladista e falou: “Harmonia”. A intenção era dar um nome para cada musicista. A música,
enquanto arte, como salientou Cunha (2009), proporciona a mediação entre o sujeito, o
mundo e as emoções, ao mesmo tempo em que é objeto sobre o qual o sujeito age. Nesse
sentido, pode-se considerar que a música, como qualquer outra expressão artística tem o
“poder” de promover alterações no meio em que se realiza. O fenômeno se dá na relação que
se estabelece entre o músico, a música em si e, também no ouvinte. A interação se dá num
contexto complexo, difícil de prever, controlar, sistematizar. Emoções fluem e o que se pode
absorver são apenas impressões do processo.

4.3.3 Das musicistas

O impacto dos afetos demonstrados pelos ouvintes interfere diretamente na atuação das
musicistas. Naturalmente, estas também foram afetadas, fazendo-as muitas vezes, corarem,
tremerem, perderem a sequencia das notas musicais, esquecerem a noção de tempo e espaço,
dentre outras manifestações.

Dependendo da expressão e do comportamento dos ouvintes, muitas vezes as musicistas


ficavam apreensivas e em alerta. No episódio em que a paciente dançava como bailarina e
aproximou-se colocando a cabeça no colo da violinista fez com que esta, de certa forma,
ficasse mais atenta para as vivencias que poderiam advir deste comportamento, mantendo-se
mais vigilante. Por outro lado, as musicistas diante destas manifestações, mesmo se
surpreendendo, procuravam manter a concentração na performance musical, ao mesmo tempo
que acolhiam as experiências vivenciadas. Isto demonstra, conforme exposto nos capítulos
teóricos deste trabalho, a existência de uma interação no ambiente de forma dinâmica e que
envolve todos ali presentes, neste caso, tanto entre os observadores (musicistas), quanto
observados (ouvintes).
44

Outra ocasião que deixou uma das musicistas muito afetada, chegando inclusive a perder a
atenção da partitura, foi numa apresentação no pátio, em razão das comemorações de final de
ano. As musicistas tocavam fazendo um fundo musical para a fala do diretor geral do hospital
que fazia um discurso. Então, uma paciente descontroladamente começou a gritar,
aparentemente calma, mas com traços de algum transtorno: Hipócrita, hipócrita! Tal
exacerbação da voz da paciente, junto aos murmúrios dos ouvintes fez uma das musicistas
descontrolar e parar com a música. Castro (2007) afirma que escutar uma música pode
possibilitar ao sujeito revivenciar uma experiência. A musicista relata que todas as vezes que
ouve a tal música que fazia fundo ao discurso, relembra da cena com todos os seus detalhes.

Também, muitos pacientes procuravam as musicistas ao final das apresentações para


cumprimentá-las, falar sobre música, para contar sobre sua vida e seus afetos. Nota-se que a
música, como afirmam Tomatis e Vilain (1991), introduzida num ambiente, tem a capacidade
de integrar as pessoas, aproximando-os para uma inter-relação cujo produto é produtivo e
benéfico. A música funciona como um mediador entre os indivíduos.

Há de se considerar diferenças entre se interpretar uma música em uma sala de concerto e


interpretar a mesma música em uma praça, presídio, hospital ou em qualquer outro lugar. A
maior e notável diferença está na forma de manifestação do como a música é capaz de afetar
os ouvintes, o que comprova que o ambiente, assim como os ouvintes, imprimem um
significado ao resultado sonoro. Gritos, agitações, palmas ou mesmo, o simples fato de ser um
hospital ou outra instituição, afetam as musicistas numa interpretação musical. Com a
experiência adquirida nestas apresentações, as musicistas conseguem hoje, perceber, com
maior clareza, que as reações de alguns ouvintes neste hospital, que gritam, choram ou se
agitam é apenas a demonstração de que ele está sendo afetado pela música.

De um mesmo modo, as musicistas puderam perceber uma grande satisfação em estar ali se
apresentando para aquele público específico. Espontaneamente se apresentarem em ambientes
em que o que se espera não é o perfeccionismo técnico geram um prazer nas mesmas, sem
deixar, contudo, que elas não primem por uma performance de alto nível. Estas, por estarem
ali por vontade própria e de forma descontraída, acabam obtendo um resultado técnico e
sonoro muito satisfatório, acreditando ainda que a performance no HEAL sensibiliza e as
estimula para novas experiências artísticas e culturais.
45

Considerações finais

“[...] Hoje, vocês fizeram toda uma diferença pra mim.”

Uma paciente do HEAL - 2012

A ciência moderna se valeu do modelo de racionalidade do positivismo lógico, mecanicista e


materialista perdurando, predominantemente, de meados do século XVI até fins do século
XIX. Por sua vez, o século XX introduziu o fim da hegemonia científica, baseada nos
preceitos da ciência moderna e fez emergir uma nova ordem. Dentro desta nova perspectiva,
conceitos adequados a ela têm surgido, e teorias são reformuladas, no sentido de se
desdobrarem para dar sentido às questões que se colocam em todos os campos: matemáticos,
sociológicos, psicológicos, humanos, políticos e outros. O paradigma emergente dessa
perspectiva, que norteiam a construção de novos conhecimentos, recorre a novos pressupostos
epistemológicos onde a investigação considera a intersubjetividade, os métodos qualitativos, a
descrição e a compreensão do objeto estudado. Também incorpora os conceitos de sistema,
rede e inter-relação, em que tudo o que compõe o universo está intimamente ligado e todas as
ações geram um efeito como consequência.

Com base nesses pressupostos, este trabalho se desenvolveu no sentido de buscar substratos
teóricos que permitissem compreender os processos que se instauram nas relações entre os
sujeitos e entre estes mesmos sujeitos e seu meio. Nesse sentido, pode-se constatar que num
processo constante e crescente, o ser humano cria e recria significados e, através de artifícios
como a ciência, a arte e suas crenças, constroem outros tipos de relações que atuam nas suas
subjetividades com reflexos que vão além se si mesmos.

Dentro deste contexto, se de um lado o ser humano produz seu universo cultural, nada impede
que este universo seja produzido por ele. Ou seja, o ser humano não é autor exclusivo de suas
obras, ou seu mero efeito. Os artefatos humanos promovem diferenças, desvios,
transformações no modo de se pensar e de lidar com o mundo que não podem ser totalmente
deduzidas ou extraídas de um conjunto de capacidades e habilidades mentais prévias.
46

Direcionados por esta perspectiva, neste trabalho, transitou-se pelo universo da música,
justamente aquele em que a ressalta no seu potencial de afetar e até mesmo promover
mudanças, seja nos sujeitos em contato com ela, seja no meio em que estes se encontram.
Nesse sentido, pode-se perceber que este potencial é verdadeiro e enorme. A música, mais que
uma produção humana, é um elemento da cultura que pode funcionar como catalisador das
relações entre os sujeitos e entre os sujeitos e seu meio.

Ao se promover as observações direcionadas a que se propôs esta pesquisa, puderam-se


encontrar os aspectos, na prática, que sustentam a afirmação de que as performances musicais
apresentadas aos pacientes e outros ouvintes presentes no Hospital Espírita André Luiz afetam
todo o contexto daqueles sujeitos como a eles mesmos e aqueles que a realizam. Nesse
sentido, e de acordo com os autores com quem se travou diálogo nesse trabalho, pôde-se
colecionar uma série de eventos, resultados da afecção proporcionada pela presença da música
naquele ambiente, muitas vezes tido como inapropriado para sua realização. Independente
disso, a música, alheia a qualquer coisa que a sociedade lhe defina, exerce um de seus papeis:
o papel de afetar.

A condição de proporcionar afetos é intrínseca à música. Afetos geram sentimentos e atuam


na subjetividade daquele que é afetado por ela. Nesse trabalho, não se teve a intenção de
diagnosticar ou mesmo analisar os sentimentos proporcionados pela música, ou mesmo o seu
caráter terapêutico. Estes aspectos são pontos que se necessitam estudos específicos e mais
aprofundados.

No entanto, sejam pelas observações realizadas, sejam por depoimentos informais de


profissionais e mesmo de pacientes, os afetos proporcionados pela música levaram a
alterações, sejam comportamentais, sejam quanto à percepção de si mesmos e do seu
contexto. Ressalta-se aqui que, a maioria dos depoimentos afirma que a presença da música
no contexto do HEAL trouxe acréscimos positivos na rotina terapêutica daquela instituição.

Apesar de ser, este último, um dado interessante, para o contexto desse trabalho, apenas
aponta para pesquisas futuras, mais adequadas metodologicamente. Assim, esse trabalho,
além de poder ratificar as hipóteses levantadas inicialmente, ainda acena para possibilidades
de continuidade de estudos os quais aqui, apenas foram iniciados.
47

Com esse trabalho, puderam-se confirmar novas possibilidades de público, assim como novas
qualidades da música. Desse modo, público, músicos, música e ambiente, interligados e
interagindo entre si podem ser, e na verdade o são, uma coisa só. É isso que sugere Santos
(1991), Morin (2000), Capra (2002), Maturana e Varela (1984) entre outros ao formularem a
teoria da complexidade, no paradigma emergente. Executar música em um meio como o
Hospital Espírita André Luiz modificou o olhar das musicistas diante das pessoas, da saúde
mental. Também ampliou para as musicistas as inúmeras possibilidades que a música pode
favorecer enquanto instrumento de interação. Segundo as observações a música afetou
pacientes, profissionais, elas mesmas e com isso modificou o meio, proporcionando
momentos agradáveis de interação, ao mesmo tempo em que pôde ser utilizada como
ferramenta importante enquanto recurso terapêutico dentro do hospital.
48

REFERÊNCIAS

AME, Brasil. Site institucional da Associação Médico-Espírita do Brasil. Disponível em:


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