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Políticos paranaenses no

artigo
período provincial (1853-1889):
A ANÁLISE GENEALÓGICA E PROSOPOGRÁFICA

PARANAPOLITICIANS IN THE
PROVINCIAL PERIOD (1853-1889):
GENEALOGY AND PROSOPOGRAPHIC ANALYSIS

Alessandro Cavassin Alves*

Introdução mércio de tropas) e da erva-mate (sua fabri-


cação e exportação), qual era a profissão e o
A genealogia e a prosopografia dos polí- perfil educacional desses políticos?
ticos eleitos no Paraná no século XIX, para 3. Frente a essas duas questões, analisar-
os cargos de deputado provincial, deputado se-á a frequência com que esses políticos
geral e senador, têm por objetivo respon- foram eleitos deputados; quem ocupava os
der, em especial, às seguintes questões1: principais cargos na Assembleia Legislativa
1. A que família ou título familiar2 per- do Paraná (presidente, vice-presidente, 1º
tencem os políticos eleitos? secretário); a divisão partidária. Isso tudo
2. Tendo como referência que no período com o objetivo de verificar a existência dos
imperial a economia paranaense girava em chamados “clãs parentais”, com seus “che-
torno, principalmente, do tropeirismo (co- fes ostensivos” que passavam a intervir no

* Doutor em Sociologia, pela UFPR (Universidade Federal do Paraná). Professor de Sociologia na FASBAM
- Faculdade de Filosofia São Basílio Magno (Curitiba/PR/Brasil) e na SEED - Secretaria de Estado da Edu-
cação do Paraná. alessandrocavassin@gmail.com. Agradeço aos pareceristas da Revista pelas observações
e comentários ao texto original.
1. Sobre o método genealógico e prosopográfico, conferir, entre outros: Barman & Barman (1976); Burke
(1991); Carvalho (2003); Corrêa (2006); Heinz (2006); Oliveira (2001); Stone (2011).
2. Na vasta obra Genealogia Paranaense de Francisco Negrão (1926, vol. 1; 1927, vol. 2; 1928, vol. 3;
1929, vol. 4; 1946, vol. 5; 1950, vol. 6), o autor dividiu os indivíduos descritos a partir de títulos familia-
res (conferir os títulos na Tabela I deste trabalho). Cada título familiar tem seu início no Paraná com uma
família colonizadora que, com sesmaria ou mesmo em trabalhos específicos nessas terras, foi formando
sua ampla parentela ao longo do tempo.

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direito púbico e na história política, for- rão de Antonina, não teria ocupado o car-
mando os “clãs eleitorais”, como apresen- go, por ter sido eleito senador pelo Paraná
taram os estudos de Oliveira Viana (1949)3, em 1854, cargo de caráter vitalício.
para o Brasil como um todo. O primeiro ponto a ser observado é o
O universo de indivíduos que ocuparam título familiar a que esses políticos perten-
esses cargos eletivos existentes na provín- cem, tendo como referência a obra do ge-
cia durante os anos de 1853 a 1889 foi de nealogista Francisco Negrão, que realizou
188 homens. minucioso trabalho sobre as principais fa-
mílias que ocuparam a região do litoral pa-
1. Deputados provinciais do Paraná ranaense, Curitiba, Campos Gerais e Guara-
puava, desde o século XVII até o início do
Quanto aos deputados provinciais, a século XX4. Neste item, centra-se a análise
biografia coletiva abrange 187 políticos, genealógica dos políticos paranaenses.
pois apenas João da Silva Machado, o Ba-

Tabela 1 – Genealogia paranaense e deputados provinciais (1854/1889)

Títulos da genealogia paranaense – Francisco Negrão Número de Deputados


Vol.1 – Carrascos dos Reis 32
Vol. 2 – Rodrigues Seixas 32
Vol. 3 - Rodrigues de França 50
Vol. 4 – Teixeira Coelho; Moraes Cordeiro; Pereira Braga; Xavier Pinto; 16
Oliveira Cardoso
Vol. 5 – Corrêa de Bittencourt; Cardoso de Lima 14
Vol. 6 – Souza Pinto; Pereira; Laynes; Xavier da Silva; Brandão Proença; 12
Santos; Silva Pereira; Marques de Jesus; Morocine Borba
Deputados não citados na genealogia paranaense 31

TOTAL 187

Fonte: Alves (2014); Negrão (1926, 1927, 1928, 1929, 1946, 1950).

3. Oliveira Viana (1949): Cap. X – O “Complexo da Família Senhorial” e os clãs parentais e Cap. XI – Os
“clãs eleitorais” e sua emergência no IV século [século XIX] (gênese dos partidos políticos). Para Oliveira
Vianna, a família senhorial ou patriarcal “abrangia apenas o grupo que vivia dentro da ‘fazenda’”; e o clã
parental “exorbita as lindes do domínio-tronco” formando as famílias aparentadas, consanguíneas, por
afinidades, os compadrios etc. E o clã eleitoral surge da necessidade imposta “por ordem política” e seus
“fins eleitorais” no século XIX, em que clãs parentais foram levados à solidariedade e à competição elei-
toral. Surgiram, assim, os “chefes ostensivos” desses clãs eleitorais e sua divisão política nos dois partidos
políticos existentes, o Conservador e o Liberal.
4. Os três primeiros volumes da obra de Francisco Negrão, como o próprio autor apresenta, referem-se às
famílias que estão há mais tempo nessa região do litoral, de Curitiba e de Campos Gerais, desde os sécu-
los XVII e XVIII. Os demais volumes são sobre famílias que vão se estabelecendo a partir da metade do sé-
culo XVIII e durante o século XIX.

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Dos 187 deputados provinciais do Para- tradicionais famílias paranaenses, sendo que
ná, 114 são descendentes dos três primeiros elas possuíam uma intrincada rede de paren-
títulos familiares que iniciaram a ocupação tela entre si. Enfim, era uma Assembleia Le-
do território ao sul de São Paulo, o que re- gislativa Provincial estritamente fechada, em
presenta praticamente 61% deles. Deve-se especial para os 19 títulos familiares.
ressaltar que muitos destes políticos são “de Com isso, sobrariam apenas 6 deputados
fora”, isto é, provenientes de outras provín- provinciais, ou seja, 3,2%, que realmente não
cias brasileiras, mas que, principalmente por tiveram vínculo algum de parentesco com as
casamento, acabaram incorporados a essas famílias tradicionais do Paraná. São os depu-
tradicionais famílias. Esses adventícios, ge- tados, o engenheiro Henrique de Beuarepaire
ralmente, vieram para o Paraná como mili- Rohan e o engenheiro André Rebouças, que
tares, tropeiros, comerciantes, funcionários por circunstâncias de trabalho foram eleitos
públicos, advogados, engenheiros, médicos, deputados no Paraná e logo voltaram para o
jornalistas, portanto já com um determinado Rio de Janeiro; o deputado, advogado e juiz
grau de escolaridade ou de status social, con- no litoral José da Rocha Vianna, que retorna
traindo casamento com moças dessas famílias ao Rio de Janeiro na década de 1870; dois
tradicionais. Outros 42 políticos pertencem padres que vieram de outras províncias, mas
aos demais títulos de ocupação mais recente acabaram se tornando líderes no litoral, o pa-
da região paranaense. Ao todo, seriam 156 dre Jordão Homem Pedroso e o cônego Gre-
políticos descritos por Francisco Negrão per- gório José Lopes Nunes; e o deputado Adol-
tencentes a essas famílias tradicionais, o que pho Hurlleman, suíço, funcionário público
representa 83,4% dos deputados provinciais. em Paranaguá, que por circunstâncias espe-
Para os demais 31 políticos não citados cíficas acabou eleito deputado provincial.
na ampla genealogia elaborada por Francisco Num segundo momento, busca-se enten-
Negrão, por meio de outras fontes biográfi- der quem são esses deputados provinciais e
cas e genealógicas, tem-se que mais 25 de- sua base econômica, a partir de alguns fa-
les também faziam parte das mesmas antigas tores. O primeiro é o perfil econômico, dado
famílias, porém foram omitidos pelo genea- pela profissão e pelo nível educacional do
logista (ALVES, 2014). Portanto, dos 187 político. Nesse item, concentra-se a análise
deputados provinciais eleitos no período de prosopográfica, em especial as proprieda-
1854 a 1889, 181 deles, 96,8%, integravam as des sociais dos políticos paranaenses.

Tabela 2 – Profissão e formação dos 187 deputados provinciais do Paraná (1854-1889)

Profissão Formação Número de %


deputados
36 advogados; 15 padres; 10 médicos; 6 engenhei- Com educação superior 73 39
ros; 6 professores / humanidades
Negociantes, tropeiros, fazendeiros, lavradores, er- Sem educação superior 114 61
vateiros, funcionários públicos, comerciantes, mi-
litares.
Total 187 100

Fonte: Alves (2014); PARANÁ, Lista de votantes de vários municípios paranaenses (1853 – 1889).

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As profissões refletem a economia pa- ca a “profissionalização política”5 de mui-
ranaense do ciclo do tropeirismo e do ciclo tos deles, bem como a sua liderança frente
da erva-mate, principalmente com as pro- aos demais deputados. E, ainda, associa-se
fissões de negociante, ervateiro, tropeiro, a que título familiar eles pertencem e sua
fazendeiro e lavrador; para os negociantes, profissão/formação.
por vezes, não havia a distinção se eram ne- Entre 1853 a 1889, foram 18 Legislatu-
gociantes de tropas ou de erva-mate. Como ras, com mandatos de dois anos cada, sendo
exemplo, David dos Santos Pacheco (Barão que em nenhum momento a reunião desses
dos Campos Gerais), na lista de votantes da legisladores deixou de acontecer, demons-
Vila do Príncipe, se autodenomina como trando a importância da instituição. Anual-
negociante, porém de tropas e não de erva mente, em Curitiba, por um período de dois
-mate; Manoel Antonio Guimarães (Viscon- meses, os deputados ali se encontravam para
de de Nácar), em Paranaguá, era negociante participar das sessões diárias da Assembleia,
de erva-mate e também de outros produtos, com vistas a legislar sobre como deveria agir
mas não era negociante de tropas. Também a administração provincial, estabelecendo as
os que se autodominaram fazendeiros e la- leis necessárias para a província e para os
vradores tinham negócios tanto com os tro- municípios, em especial a lei orçamentária
peiros como com os ervateiros. anual, que obedecia, logicamente, aos pre-
Quanto aos políticos que eram funcio- ceitos constitucionais do Império sobre o
nários públicos, comerciantes e militares, que se poderia legislar nas províncias.
esses centravam suas atividades mais nas A frequência de participação dos depu-
cidades e menos nos campos ou fazendas. tados, para esse caso restringe-se, entre-
Muitos filhos de tropeiros, ervateiros, tanto, apenas ao período de 1854 a 1889,
negociantes e comerciantes tornaram-se os mas muitos desses políticos já tinham sido
advogados, engenheiros, médicos, padres, deputados em São Paulo antes da emanci-
professores, funcionários públicos e mili- pação política do Paraná, como Joaquim Ig-
tares que assumiram o cargo de deputado nácio Silveira da Mota, Joaquim José Pinto
provincial. Além disso, muitos desses pro- Bandeira, Manoel Antonio Guimarães, José
fissionais liberais que vieram para o Paraná Mathias Ferreira de Abreu, entre outros, e
se casaram com as filhas das famílias tra- muitos continuaram a se eleger como de-
dicionais da região. E esses políticos com putados estaduais durante a República, pós-
educação superior passavam a residir nos 1889, como é o caso de Vicente Machado da
centros das principais cidades paranaenses, Silva Lima, Francisco Xavier da Silva, Ama-
em especial em Curitiba. zonas de Araujo Marcondes, Arthur Ferreira
Num terceiro momento, a partir des- de Abreu, e outros, e registra-se pouca par-
se universo político familiar é interessan- ticipação sua durante o Império, por serem
te observar a frequência com que os 187 ainda jovens. Entretanto, essa frequência
deputados provinciais foram eleitos para a ajuda a identificar os mais ativos deputados
Assembleia Legislativa. Com isso, se desta- durante o Império na província do Paraná.

5. “Profissionalização política” significa, para este trabalho, a constante participação de alguns indivíduos
nos cargos eletivos do período analisado, isto é, são constantemente eleitos para os cargos de deputado
provincial e geral, e com isto, tornam-se também os “chefes” de seus respectivos grupos ou partido.

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Tabela 3 - Frequência de participação dos deputados provinciais no período imperial

Número de mandatos Número de deputados Porcentagem (%)


1 96 51,3
2 36 19,2
3 24 12,8
4 19 10,1
5 3 1,6
6 5 2,6
7 vezes ou mais 4 2,1
Total 187 99,7

Fonte: Alves (2014).

A metade dos deputados provinciais vincial, teve dois filhos e um genro eleitos
participou apenas de uma legislatura; os para o mesmo cargo, destacando que ele é
que participaram de até quatro mandatos primo do deputado Manoel Antonio Gui-
eletivos somam cerca de 93% deles, de- marães, entre muitos outros casos.
monstrando a ampla rotatividade neste Essa é praticamente a mesma porcenta-
cargo eletivo e a alta “competição”6 que gem de frequência de novos deputados (de
existia entre seus pares. caráter individual) que ocorreu no período
Entretanto, aqui está se considerando o da República Velha no Paraná, de 1889 a
deputado de forma individual, pois se fos- 1930 (GOULART, 2008). A importância de
sem somados os mandatos em que filhos, se ocupar ao menos uma vez o cargo de
sobrinhos e genros foram eleitos ao longo deputado provincial ou deputado estadual
das legislaturas, enquanto membros de uma no tempo da República sinaliza ser essa
mesma casa/família, a frequência seria ou- instituição um local estratégico, onde, afi-
tra. Como exemplo, na segunda legislatura, nal, se debatem e se decidem os rumos da
Manoel Antonio Guimarães, “Visconde de província. A Assembleia Legislativa é, tam-
Nácar”, de Paranaguá, foi eleito junto com bém, um local em que se podem defender
seus três genros; o Dr. Joaquim Ignácio interesses específicos desses políticos, de
Silveira da Mota, além de ser eleito qua- suas famílias e localidades, além de abrir
tro vezes deputado provincial, teve três fi- horizontes para outros cargos públicos, ou
lhos também eleitos deputados provinciais mesmo obter status.
ao longo do período analisado. Da mesma Mas a contínua reeleição para o mes-
forma o comendador Antonio Ricardo dos mo cargo pode apontar para a “profissio-
Santos, quatro vezes eleito deputado pro- nalização” desses políticos, sinalizando que

6. Assim como destaca Sérgio Buarque de Holanda, que “a democracia no Brasil foi sempre um lamentável
mal-entendido” (HOLANDA, 1995, p. 160), se referindo ao século XIX e início da República, as eleições nas
províncias tinham uma dinamicidade interessante de ser observada, que envolvia os dois partidos políticos
em sintonia com a alternância dos Gabinetes Ministeriais nomeados por D. Pedro II, no Rio de Janeiro.

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sua presença na Assembleia Legislativa, deputado Dr. Generoso Marques dos San-
enquanto liderança de seu partido político, tos, seis vezes eleito deputado provincial,
de seus interesses econômicos, ou de sua e seu sogro, Benedicto Enéas de Paula, sete
família é extremamente necessária. vezes deputado provincial. O Padre Lou-
Tendo como referência os deputados renço Justiniano Ferreira Bello, também de
provinciais que se elegeram mais de cin- tradicionais famílias paranaense, foi eleito
co vezes, soma-se um total de 12 políticos, seis vezes deputado. Domingos Antonio da
6,3% do total. Outro dado é de que esses Cunha, eleito cinco vezes, era membro da
deputados eram constantemente membros família Guimarães dos Campos Gerais.
do “núcleo duro” da Assembleia, isto é, da Do Partido Conservador, tem-se: Dr.
mesa diretora, atuando como presidente, Manoel Eufrásio Correia eleito seis vezes
vice-presidente ou 1º secretário da casa. deputado provincial, em três delas foi pre-
Quem são eles? sidente da casa, bem como Manoel Anto-
Do Partido Liberal, tem-se: Dr. José nio Guimarães (Visconde de Nácar), seu
Lourenço de Sá Ribas, onze vezes eleito, cunhado e sogro, eleito cinco vezes, e por
sendo que nove vezes fez parte da mesa duas vezes assumiu a vice-presidência do
diretora da Assembleia Legislativa do Pa- Paraná. E, por fim, o Dr. Tertuliano Teixei-
raná, e seu cunhado Manoel Antonio Fer- ra de Freitas, natural de Salvador, Bahia,
reira, seis vezes eleito deputado provincial, filho dos barões de Itaparica, eleito seis ve-
e primeiro paranaense a assumir o cargo de zes deputado, fixando-se em Curitiba com
vice-presidente da província do Paraná, em sua família; seus filhos se casaram com as
1863. O Dr. Manoel Alves de Araujo, em tradicionais famílias do Paraná.
todas as sete vezes em que foi eleito, foi Foram eles, igualmente, os chefes os-
presidente da Assembleia Legislativa, bem tensivos de seus partidos políticos, como se
como seu irmão comendador Antonio Al- verá adiante. Desses doze políticos, cinco
ves de Araujo, eleito cinco vezes deputado pertencem ao título Rodrigues de França;
provincial, e por duas vezes vice-presidente ao título Carrascos dos Reis, quatro; ao tí-
da província do Paraná; o padre Camargo tulo Rodrigues Seixas, um; ao título Cardo-
(padre José Antonio de Camargo e Araujo) so de Lima, um.
foi oito vezes eleito deputado provincial. O

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Tabela 4 - Perfil dos presidentes da Assembleia Legislativa do Paraná (1854-1889)

Presidente Ano / Mandato Partido Residência Profissão


Joaquim José Pinto Bandeira 1854/55 Liberal Curitiba Negociante
Damaso José Corrêa 1856 Conservador Castro Padre
Joaquim Ignácio Silveira da Mota 1857; 58/59; 60 Liberal Curitiba Médico
Laurindo Abelardo de Brito 1861; 62/63 Liberal Castro Advogado
Manoel Alves de Araujo 1864/65; 67; Liberal Antonina, Advogado
68/69; 80/81; Curitiba e
84/85; 86/87; 88 Palmeira
Manoel Antonio Ferreira 1866 Liberal Curitiba Lavrador e
cargos públicos
Joaquim Dias da Rocha 1870/71 Conservador Curitiba Médico
Manoel Leocádio de Oliveira 1872 Conservador Paranaguá Negociante
Francisco Pinto de Azevedo Por- 1873 Conservador Campo Largo Fazendeiro
tugal
Manoel Eufrásio Coreia 1874/75; 76; 79 Conservador Paranaguá Advogado
Tertuliano Teixeira de Freitas 1877 Conservador Curitiba Advogado
Antonio Ricardo dos Santos 1878 Conservador Curitiba Negociante
Antonio Alves de Araujo 1882/83 Liberal Antonina Negociante
Generoso Marques dos Santos 1889 Liberal Curitiba Advogado

Fonte: Alves (2014)

Para as 18 legislaturas houve 14 presi- eram do Partido Liberal, com residência no


dentes. A cada início de ano legislativo eram litoral do Paraná, mas também em Curitiba
realizadas as eleições para presidente da As- e Palmeira (Campos Gerais), representantes
sembleia e demais cargos e comissões, po- tanto dos interesses da erva-mate quanto do
rém o mandato do deputado era sempre de comércio de tropas. Em oposição a eles esta-
dois anos. Destacam-se, conforme a Tabela vam o presidente pelo Partido Conservador,
4, as figuras de Dr. Manoel Alves de Araujo Manoel Eufrásio Correia – o líder do partido,
e seu irmão, o comendador Antonio Alves de que representava os interesses de sua família
Araujo, que juntos governaram parte da dé- –, e os negociantes de erva-mate do litoral
cada de 1860 e toda a década de 1880. Eles e de Curitiba.

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Tabela 5 – Perfil dos vice-presidentes da Assembleia Legislativa do Paraná (1854-1889)

Vice-presidente Ano / Mandato Partido Residência Profissão

Manoel Antonio Guimarães 1854; 56 Conservador Paranaguá Negociante

Jesuino Marcondes de Oliveira e Sá 1855 Liberal Curitiba, Advogado


Palmeira

Manoel Gonçalves de Moraes Roseira 1857 Conservador Curitiba Fazendeiro

Manoel Antonio Ferreira 1858/59; 61; Liberal Curitiba Lavrador e


62/63 cargos públicos

José Mathias Ferreira de Abreu 1860 Conservador Paranaguá Advogado

Sérgio Francisco de Souza Castro 1864; 80/81; Liberal Curitiba Advogado

Antonio de Sá Camargo 1865 Liberal Guarapuava Fazendeiro


(então, barão de Guarapuava)

José de Souza Ribas 1867 Conservador Ponta Grossa Advogado

José Antonio de Camargo e Araujo 1868/69 Liberal Palmeira Padre

Manoel de Oliveira Franco 1870/71; 72 Conservador Curitiba Cargos públicos

Manoel José de Souza 1873 Liberal Antonina Padre

Tertuliano Teixeira de Freitas 1874/75; 76 Conservador Curitiba Advogado

Francisco José Correia de Bittencourt 1877 Conservador São José Padre


dos Pinhais

Joaquim José Bellarmino Bittencourt 1879 Conservador Curitiba Negociante

Manoel Marcondes de Sá 1882/83; Liberal Palmeira Fazendeiro

Generoso Marques dos Santos 1884/85; Liberal Curitiba Advogado


86/87; 88

Tristão Cardoso de Menezes 1889 Liberal Ponta Grossa Advogado

Fonte: Alves (2014).

Para as 18 legislaturas houve 17 vice atividades de serviço público, e Dr. Jesuino


-presidentes. Os dois primeiros vice-pre- Marcondes de Oliveira e Sá, Liberal, advo-
sidentes atuaram durante todo o período gado em Curitiba e na região dos Campos
provincial como articuladores políticos, Gerais e de família de tropeiros, era filho do
chamados de chefes ostensivos, tanto de Barão de Tibagy. Na década de 1860 des-
suas famílias como de seu partido. Manoel tacaram-se: Manoel Antonio Ferreira, líder
Antonio Guimarães, (Visconde de Nácar), liberal em Curitiba, lavrador e funcionário
Conservador residente no litoral, era nego- público; Antonio de Sá Camargo (Visconde
ciante de diversos produtos e tinha muitas de Guarapuava), tropeiro e fazendeiro, em

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uma de suas poucas participações na As- co, Dr. Tertuliano Teixeira de Freitas e a fa-
sembleia Legislativa – ele que era primo/ mília Bittencourt, o Padre Francisco José e
cunhado do Dr. Jesuino Marcondes; e em o negociante Joaquim José. Na década de
1882/83 outro primo de Jesuino Marcon- 1880 percebe-se a liderança dos advogados
des, Sr. Manoel Marcondes de Sá, foi eleito Dr. Sérgio Francisco de Souza Castro e do
vice-presidente da Assembleia Legislativa. Dr. Generoso Marques dos Santos, ligados
Na década de 1870, quando os conserva- às famílias Alves de Araujo e Oliveira e Sá,
dores estavam no poder, destacaram-se os que continuaram suas atividades políticas
líderes Brigadeiro Manoel de Oliveira Fran- durante a República.

Tabela 6 – Perfil dos 1°s secretários da Assembleia Legislativa do Paraná (1854-1889)

1º Secretário Ano / Mandato Partido Residência Profissão


José Mathias Gonçalves Guimarães 1854/55; 56/57; Conservador Curitiba Advogado
José Lourenço de Sá Ribas 1858/59; 61; Liberal Curitiba Advogado
62/63; 64/65;
66/67; 82/83;
84/85; 86/87
Caetano José Munhoz 1860 Conservador Curitiba Negociante
Generoso Marques dos Santos 1868/69; Liberal Curitiba Advogado
Antonio Candido Ferreira de Abreu 1870/71 Conservador Curitiba Advogado
Joaquim de Almeida Faria Sobrinho 1872/73 Conservador Curitiba Advogado
José Arthur Murinelly 1874 Conservador Curitiba Engenheiro
Joaquim Antonio Guimarães 1875; 76 Conservador Morretes Negociante
José Lourenço de Vasconcellos Chaves 1877 Conservador Curitiba Militar
Manoel de Souza Dias Negrão 1878/79 Conservador Curitiba Negociante;
Cargos
públicos
João Baptista Ferreira Bello 1880/81 Liberal São José dos Padre
Pinhais
João Manoel Ribeiro Vianna 1888/89 Liberal Antonina Negociante

Fonte: Alves (2014).

Para as 18 legislaturas houve apenas 1880, demonstrando sua importância tam-


doze primeiros secretários, demonstrando bém para o seu partido político, numa clara
ser esse um cargo ainda mais restrito. O ligação com as famílias Alves de Araujo e
destaque está no líder liberal Dr. José Lou- Oliveira e Sá; os demais liberais que tiveram
renço de Sá Ribas, da importante e tradicio- acesso a esse cargo foram o Dr. Generoso
nal família Sá Ribas em Curitiba, que atuou Marques dos Santos, de Curitiba, o padre
nessa função por oito legislaturas, ou seja, João Baptista Ferreira Bello (irmão do pa-
por 15 vezes, durante as décadas de 1860 e dre e político Lourenço Justiniano Ferreira

Políticos paranaenses no período provincial (1853-1889) 259


Bello), líder religioso e político em São José secretários estão ligados por parentesco a
dos Pinhais, e o comendador João Manoel outro chefe conservador, o Brigadeiro Fran-
Ribeiro Vianna, genro do negociante do li- co (Manoel de Oliveira Franco): o primeiro
toral José Miró de Freitas, que também foi é Caetano José Munhoz, seu cunhado, o se-
deputado provincial. Quanto aos conser- gundo José Lourenço de Vasconcellos Cha-
vadores, possibilitaram que muitos de seus ves, seu genro e, por fim, Manoel de Souza
correligionários atuassem nesse importante Dias Negrão, casado com a filha de Caetano
cargo, com destaque a José Mathias Gon- José Munhoz, portanto, sobrinho pelo lado
çalves Guimarães, Antonio Candido Ferreira da esposa do Brigadeiro Franco. Também
de Abreu, José Arthur Murinelly e Joaquim o Dr. Joaquim de Almeida Faria Sobrinho,
Antonio Guimarães. O interessante é que to- importante político paranaense, nomeado
dos estes quatro políticos eram ligados por vice-presidente e presidente da província do
parentesco a Manoel Antonio Guimarães Paraná na década de 1880, era casado com
(Visconde de Nácar); os dois eram primeiros a sobrinha do Dr. José Lourenço de Sá Ribas
genros, o terceiro era casado com uma neta e do Brigadeiro Franco, e era aliado político
dele, e o quarto era seu filho. Também três do Dr. Manoel Eufrásio Correia.

Tabela 7 – Partido político dos 187 deputados provinciais do Paraná (1854/1889)

Liberal Conservador Total Mudança de partido

96 91 187 2

Fonte: Alves (2014).

É visível o equilíbrio entre esses dois pelo Paraná, mudaram de partido. Quanto
partidos políticos no Paraná. Apesar disso, aos deputados provinciais que visivelmente
por vezes, é difícil identificar a que grupo trocaram de partido, há o médico Joaquim
partidário pertence o político por existirem Dias da Rocha e o engenheiro Francisco
poucas informações sobre alguns deles, ou Therezio Porto. Talvez existam outros que
ainda informações contraditórias. Neste ar- tenham também optado pela agremiação
tigo, entretanto, optou-se por observá-los política contrária – o que necessitaria de
– por meio da leitura dos jornais de época, mais pesquisas sobre a trajetória política
das reuniões partidárias de que participa- desses indivíduos –, como é o caso do lí-
vam, das listas eleitorais em que eram elei- der conservador Dr. Tertuliano Teixeira de
tos, com quem estavam juntos, e da própria Freitas, sempre muito próximo dos políti-
defesa da opção partidária que faziam em cos liberais; fica difícil classificar em que
público –, apresentando-os, ou como Libe- agremiação partidária ele estava em deter-
rais ou como Conservadores. minados momentos históricos.
Outro ponto interessante é a baixíssima O deputado engenheiro André Rebouças
mudança de partido político. O conselheiro não tinha um partido político específico,
Zacarias de Góes e Vasconcellos, deputa- mas no início da década de 1880 ele acabou
do geral pelo Paraná, mas que não era da sendo indicado pelo Dr. Jesuino Marcondes
província, e o Barão de Antonina, senador de Oliveira e Sá a fazer parte da lista de

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candidatos liberais e assim ajudar a discu- Frente ao exposto, já é possível delimi-
tir na Assembleia Legislativa a aprovação tar os principais políticos paranaenses do
do traçado final da estrada de ferro do li- período de 1853 a 1889, utilizando a ter-
toral a Curitiba, que junto com seu irmão minologia de Oliveira Vianna, dividindo-os
Antonio Pereira Rebouças, já falecido em em clãs familiares e eleitorais.
1874, tinham projetado. O debate girava
principalmente em torno de onde deveria 1.1 Clãs familiares e eleitorais
iniciar a ferrovia, se na cidade portuária de
Paranaguá ou na de Antonina, pois inte- Clã Sá Ribas. O primeiro clã familiar, a
resses familiares estavam envolvidos nessa partir dos dados expostos, é o clã Sá Ribas,
importante decisão (ALVES, 2014). representado nesse momento histórico pelo
De maneira geral, no Paraná, o Partido Dr. José Lourenço de Sá Ribas e seus três
Liberal representava os interesses do tropei- cunhados, casados com suas irmãs, Manoel
rismo e o Partido Conservador os interesses Antonio Ferreira, Joaquim Ignácio Silveira
da erva-mate. Porém, como a economia pa- da Mota e Manoel de Oliveira Franco (Bri-
ranaense foi se modificando ao longo dos gadeiro Franco). Abaixo, os principais car-
anos, os políticos também iam migrando gos públicos que esses chefes assumiram no
em seus interesses e investimentos. Paraná, tendo como referência os diversos
Gabinetes imperiais no Rio de Janeiro.

Políticos paranaenses no período provincial (1853-1889) 261


262
Quadro 1 – Chefes ostensivos pertencentes ao Clã Sá Ribas no Paraná7

Rio de Janeiro Manoel Antonio Ferreira José Lourenço Joaquim Ignácio Manoel de Oliveira Franco
Liberal de Sá Ribas Silveira da Mota Conservador
Liberal Conservador
Gabinetes da conciliação e con- Deputado provincial (1854/55; Deputado provincial Deputado provincial Deputado provincial (1854/55;
servador 57; 58/59; 60/61) (1854/55; 57; 58/59; (1856/57; 58/59; 60/61) 56/57);
(06/09/1853 a 24/05/1862) 60/61)
Gabinete liberal (24/05/1862 a Vice-presidente da província Deputado provincial Deputado provincial Empreiteiro de obras públicas;
16/07/1868) (1863); (1862/63; 64/65; 66/67; (1862/63)
Deputado provincial (1862/63; 68/69) Deputado geral (1861/63)
64/65*; 66/67)
Gabinete conservador Chefe da Guarda Nacional da Tesouraria da província Deputado provincial Deputado provincial (1870/71;
(16/07/1868 a 05/01/1878 capital (até 1873) (1870) e comando supe- (1872/73*; 74/75*); 72/73; 76/77*; 78/79*);
rior da Guarda Nacional Faleceu em 1875
(1873)
Gabinete liberal (05/01/1878 a - Deputado provincial - -
20/08/1885) (1882/83; 84/85)

Repocs, v.13, n.25, jan/jun. 2016


Gabinete conservador Faleceu em 1885 Deputado provincial Deputado provincial Deputado provincial
(20/08/1885 a 07/06/1889) (1886/87) (1888/89*); (1888/89*);
Gabinete liberal (07/06/1889 a - Perde a eleição em 1887 O mesmo O mesmo
15/11/1889)

Fonte: Alves (2014). OBS.: * O filho ou genro é deputado provincial. Em todos os mandatos de deputado legislativo provincial, os “chefes ostensivos” participaram do “núcleo duro” da
Câmara Legislativa, seja como presidente, vice-presidente, 1º ou 2º secretários, ou suplentes dos mesmos.
O clã Sá Ribas, nas pessoas dos quatro dades públicas, e veio a falecer em Curitiba,
políticos citados, teve grande força até a no início da República, em 1890. A divisão
década de 1870, quando faleceu o Briga- partidária desses quatro concunhados, dois
deiro Franco, em 1875; o coronel Manoel do Partido Liberal e dois do Partido Con-
Antonio Ferreira, provavelmente por moti- servador, talvez tenha impedido que eles
vo de idade, vai deixando de atuar na po- tivessem uma força mais intensa como a
lítica e vem a falecer em 1885; é provável dos próximos clãs familiares.
que o Dr. Joaquim Ignácio Silveira da Mot- O clã Oliveira e Sá, Camargo e Alves de
ta tenha mudado para o Rio de Janeiro já Araujo. Outros chefes ostensivos na política
no início da década de 1880, quando não paranaense do século XIX são os liberais Dr.
se encontram mais menções de suas ativi- Jesuino Marcondes de Oliveira e Sá, do pla-
dades públicas no Paraná, mas apenas das nalto curitibano, e seus cunhados do litoral
de seus filhos, e vem a falecer no Rio de Ja- paranaense, Dr. Manoel Alves de Araujo e
neiro em 1891; apenas o Dr. José Lourenço o comendador Antonio Alves de Araujo. E
de Sá Ribas consegue participar ativamente Antonio de Sá Camargo (Visconde de Gua-
da política durante todo o período impe- rapuava) e seu irmão Padre Camargo, primos
rial, não sendo eleito deputado provincial do Dr. Jesuino Marcondes. Padre Camargo,
durante a década de 1870, de predomínio como deputado provincial, era tido como lí-
Conservador, mas exercendo outras ativi- der na Câmara dos Conservadores.

7. Sobre os Sá Ribas no Paraná, conferir, entre outros: Oliveira (2001).

Políticos paranaenses no período provincial (1853-1889) 263


264
Quadro 2 – Chefes ostensivos pertencentes ao Clã Oliveira e Sá, Camargo e Alves de Araujo no Paraná8

Rio de Janeiro Jesuino Marcondes de Oliveira e Sá Antonio de Sá Camargo Manoel Alves de Araujo Antonio Alves de Araujo
Liberal Liberal Liberal Liberal
Gabinetes da conci- Deputado provincial (1854/55, Deputado provincial - Deputado provincial
liação e conservador 56/57, 60/61); Deputado geral (1854/55) (1856/57)
(06/09/1853 a (1857/60)
24/05/1862)
Gabinete libe- Deputado geral (1864/68); Minis- Deputado provincial Deputado provincial (1864/65, 67, Deputado provincial
ral (24/05/1862 a tro da Agricultura (1865) (1864/65); Contribui na 68/69); Vice-presidente da provín- (1868/69)
16/07/1868) Guerra do Paraguai cia do Paraná (1865)
Gabinete conserva- - - - -
dor (16/07/1868 a
05/01/1878
Gabinete libe- Vice-presidente da província do Visconde de Guarapuava Deputado geral (1878/81; 82/84; Deputado provincial
ral (05/01/1878 a Paraná (1878; 79; 82) (1880) 85); Ministro (1883) (1880/81; 82/83)
20/08/1885) Deputado provincial (1880/81, Vice-presidente da província
84/85) do Paraná (1883, 85)
Gabinete Conserva- - - Deputado geral (1886/89); Deputa- Deputado provincial

Repocs, v.13, n.25, jan/jun. 2016


dor (20/08/1885 a do provincial (1886/87, 88/89) (1888/89)
07/06/1889) Faleceu em 1888
Gabinete Libe- Presidente da província do Para- - Presidente da província de Per- -
ral (07/06/1889 a ná (1889) nambuco (1889)
15/11/1889)

Fonte: Alves (2014). OBS.: Em todos os mandatos de deputados legislativos provincial, os “chefes ostensivos” participaram do “núcleo duro” da Câmara Legislativa, seja como presiden-
te, vice-presidente, 1º ou 2º secretários, ou suplentes dos mesmos.
Esses chefes ostensivos liberais não fo- chefes ostensivos desse clã familiar. Esse
ram eleitos durante os Gabinetes Conserva- clã familiar formou um clã eleitoral, tendo
dores da década de 1870. Porém, no último o Partido Liberal como bandeira.
Gabinete Conservador de 1885 a 1889, li- O clã Guimarães e Correia. Igualmente,
derados pelo Dr. Jesuino Marcondes, eles no litoral paranaense, tem-se a figura do
venceram as eleições para deputado pro- chefe ostensivo Manoel Antonio Guimarães
vincial, talvez reflexo das novas regras (Visconde de Nácar), da ampla família Gui-
eleitorais propostas pela chamada Lei Sa- marães e Correia. Também o primeiro sena-
raiva. Quanto ao Visconde de Guarapuava, dor do Paraná, Barão de Antonina, pertencia
este era um político fiel aos liberais, um dos ao clã familiar dos Guimarães, porém era da
pilares do partido na região de Guarapua- região dos Campos Gerais. Outro chefe Con-
va, mas apesar de não ter uma atividade servador do litoral foi o Dr. Manoel Fran-
intensa na política, como seus outros três cisco Correia, segundo senador do Paraná e
correligionários, suas ações de benfeitorias cunhado de Manoel Antonio Guimarães. A
pelo Paraná eram inúmeras, como demons- partir da década de 1860 destacou-se o che-
tram os jornais da época e em destaque sua fe político Dr. Manoel Eufrásio Correia, tio
biografia (SANTOS, 2007). O Dr. José Lou- do senador Correia, cunhado e depois genro
renço de Sá Ribas aproxima-se muito dos de Manoel Antonio Guimarães.

8. Sobre os Oliveira e Sá, Camargo e Alves de Araujo no Paraná, conferir, entre outros: Côrtes (1949);
Oliveira (2001); Santos (2007).

Políticos paranaenses no período provincial (1853-1889) 265


266
Quadro 3 – Chefes ostensivos pertencentes ao Clã Guimarães e Correia no Paraná9

Rio de Janeiro Manoel Antonio Guimarães Manoel Francisco Correia Junior Manoel Eufrásio Correia João da Silva Machado
Conservador (pai do Senador Correia) Conservador (Barão de Antonina)
Conservador Conservador
Gabinetes da conciliação Deputado provincial Deputado provincial (1854/55; 59*) - 1º Senador do Paraná
e conservador (1854/55, 56/57, 58/59, Faleceu em 1857 (cargo vitalício)
(06/09/1853 a 60/61)
24/05/1862)
Gabinete Negociante e responsável Os filhos são bastante ativos eco- Promotor Público em Senador
liberal (24/05/1862 a pela Companhia Progres- nômica e politicamente no litoral e Morretes (1865)
16/07/1868) sista de navegação em Pa- planalto curitibano
ranaguá
Gabinete conservador Deputado provincial Manoel Francisco Correia (neto) Chefe de polícia em Santa Senador
(16/07/1868 a (1870/71; 72/73*, 74/75*, Deputado geral (1869/76); Catarina (1871); deputado Faleceu em 1875
05/01/1878 76/77*) Senador (1876/89) geral (1872/75; 76/79); de-
Vice-presidente da provín- putado provincial (1874/75;
cia do Paraná (1873; 1877) 76/77)
Gabinete liberal Visconde de Nácar (1880) Senador Deputado provincial (1878/79; -
(05/01/1878 a Deputado provincial (1884/85*) 82/83; 84/85; deputado geral

Repocs, v.13, n.25, jan/jun. 2016


20/08/1885) (1884/85)
Gabinete conserva- Deputado geral (1888/89) Senador Deputado provincial -
dor (20/08/1885 a (1886/87); deputado geral
07/06/1889) (1886/89); presidente da
província de Pernambuco
(1887); Faleceu em 1888
Gabinete liberal Deputado geral Senador - -
(07/06/1889 a
15/11/1889)

Fonte: Alves (2014). OBS.: * O filho é deputado; em todos os mandatos de deputados legislativos provincial, os “chefes ostensivos” participaram do “núcleo duro” da Câmara Legislati-
va, seja como presidente, vice-presidente, 1º ou 2º secretários, ou suplentes dos mesmos.
O clã Guimarães Correia foi bastante E, no final do período monárquico, a
forte durante todo o período imperial. O liderança desse clã passou para Ildefonso
senador João da Silva Machado, Barão de Pereira Correia (Barão de Serro Azul, 1845-
Antonina, acabou, depois de ser escolhido 1894), irmão do senador Correia, porém o
senador pelo Paraná, indo residir definiti- Barão de Serro Azul foi assassinado co-
vamente em São Paulo, já idoso, e suas cin- vardemente, sem julgamento, por motivos
co filhas acabaram casando com membros políticos em 20 de maio de 1894 ‒ pós Re-
de importantes famílias de São Paulo e do volução Federalista (VARGAS, 2006). Ocor-
Rio Grande do Sul. Em seu lugar, como che- reu, ainda, a morte prematura do filho do
fe ostensivo desse partido, pode-se colocar senador Correia, em acidente de trabalho;
o Dr. Agostinho Ermelino de Leão, Juiz de era o o jovem engenheiro Manoel Francisco
direito, que não chegou a ser deputado ge- Correia Junior, falecido em 07 de dezembro
ral ou provincial, mas assumiu por quatro de 1889, possível líder político na Repúbli-
vezes, como vice-presidente, a província do ca. Mas outros dessa família adentram na
Paraná, inclusive em época de predomínio República, como o jovem Dr. Arthur Fer-
Liberal. Era casado com a irmã do senador reira de Abreu, neto do Visconde de Nácar.
Manoel Francisco Correia e de Ildefonso O quarteto luzia (Liberal) no Paraná
Pereira Correia, o Barão de Serro Azul. foi composto por Dr. Jesunino Marcondes
Nesse sentido, existiram três grandes de Oliveira e Sá (1827-1903) e seu primo
grupos familiares no Paraná, os clãs Sá Antonio de Sá Camargo (Visconde de Gua-
Ribas, Oliveira e Sá Camargo e Alves de rapuava, 1808-1896), pelo comendador
Araujo, e os Guimarães Correia, devido a Antonio Alves de Araujo (1833-1888) e
sua ampla influência na política local, for- por seu irmão Dr. Manoel Alves de Arau-
mando os clãs eleitorais. Porém, como os Sá jo (1836-1908), líderes incontestáveis desse
Ribas, em especial os concunhados, por ve- partido político, que tinham ainda o apoio
zes estavam divididos, pode-se reduzi-los, do Dr. José Lourenço de Sá Ribas (1820-
no Paraná, a dois grandes clãs eleitorais, 1890) da família Sá Ribas, unindo outro im-
liderados por chefes ostensivos, que pode- portante clã familiar, com raízes específicas
riam ser chamados de quarteto saquarema em Curitiba. Mas, devido às características
e quarteto luzia do Paraná. próprias do Visconde de Guarapuava, que
O quarteto saquarema (Conservado- tinha uma vida não tão voltada à política, é
res) no Paraná foi composto por Manoel possível colocar em seu lugar o Dr. Genero-
Antonio Guimarães (Visconde de Nácar, so Marques dos Santos, de Curitiba.
1813-1893), Dr. Manoel Francisco Correia Ao final da monarquia, por decisão pró-
(Senador Correia, 1831-1905), Dr. Manoel pria, abandonam a política o Dr. Jesuino
Eufrásio Correia (1839-1888) e Dr. Agosti- Marcondes e seu cunhado Manoel Alves
nho Ermelino de Leão (1834-1901), todos de Araujo, ambos saindo do Paraná. Esse
parentes entre si. Apoiava esses chefes po- grupo, então, durante o início da Repúbli-
líticos, como líder Conservador em Curitiba, ca, passa a ser liderado pelo Dr. Generoso
o Brigadeiro Franco, do clã Sá Ribas. Marques dos Santos, que terá de enfrentar

9. Sobre os Guimarães e Correia, conferir, entre outros: Beloto (1990); Oliveira (2001); Vargas (2006).

Políticos paranaenses no período provincial (1853-1889) 267


a força de um jovem líder que se identifi- desses políticos no cenário nacional, com-
cou com o republicanismo: o Dr. Vicente parando-os aos parlamentares das outras
Machado da Silva Lima (GOULART, 2008). províncias brasileiras10. Isso era reflexo,
também, da baixa densidade populacional
2. Senadores e deputados gerais do Paraná e do consequente nível de arrecadação das
pequenas províncias.
2.1. Senadores do Paraná Quanto às biografias conjuntas dos dois
senadores eleitos pelo Paraná, elas podem
Quanto ao número de senadores e de- reforçar o retrato das forças familiares,
putados gerais representantes da Província econômicas e políticas dessa província no
do Paraná, fica evidente o baixo número século XIX.

Tabela 8 – Senadores do Paraná (1854-1889)

Senador Família Residência Educação / Partido Cargos públi- Títulos


Profissão político cos
João da Silva Família Castro / São Alfabetizado; Liberal / Vereador, depu- Comendador,
Machado, Guimarães Paulo Tropeirismo Conser- tado provincial, barão, barão
Barão de / Título vador, vice-presiden- com grande-
Antonina Cardoso de pós 1843 te de província, za, veador,
De 1854 a Lima senador fidalgo
1875
Manoel Fran- Família Paranaguá / Advogado / Conser- Funcionário Comendador e
cisco Correia Correia / Rio de Ja- Funcionário vador público, Depu- Conselheiro
De 1876 a Título neiro público; tado provincial, * teria renun-
1889 Rodrigues Erva-mate deputado geral, ciado ao título
de França presidente de de visconde
província, mi-
nistro, senador

Fonte: Alves (2014).

10. A Constituição de 1824 determinou uma lei regulamentar para definir o número de deputados gerais
por província, que estabeleceu: Minas Gerais, 20 deputados gerais e 10 senadores; Bahia e Pernambuco,
13 deputados gerais cada uma; Rio de Janeiro, 12; São Paulo, 9; Ceará, 8, etc. As “pequenas províncias”,
como Amazonas, Espírito Santo, Paraná e Santa Catarina, tinham 1 deputado geral cada; apenas a partir
de 1860 as pequenas províncias passaram a ter direito a eleger 2 deputados gerais até o final do Império,
mas continuavam a ter apenas um senador. Quanto ao número de deputados provinciais, Rio de Janeiro
possuía 45 deputados, Bahia, 42, Minas Gerais, 40. As outras províncias teriam entre 20 a 39 deputados
(GOUVÊA, 2008, p. 105). O Paraná terá 20 deputados provinciais até 1882 quando passa a ter 22, chegan-
do a 24 na legislatura de 1888/89.

268 Repocs, v.13, n.25, jan/jun. 2016


Após a eleição na província, uma lista nho, por parte de pai, da esposa do Barão
tríplice era enviada ao Imperador, que es- de Antonina e tio de Manoel Francisco Cor-
colhia o senador, cargo vitalício no Império. reia, pelo lado paterno.
As eleições para senador dos dois po- O senador João da Silva Machado, re-
líticos paranaenses aconteceram em mo- sidente nos Campos Gerais do Paraná, era,
mentos distintos. Havia uma única vaga no porém dono de fazendas em toda a estrada
senado para o Paraná. Em 1854 foi eleito das tropas, do Rio Grande do Sul a Soro-
João da Silva Machado, Barão de Anto- caba, no estado de São Paulo; não possuía
nina, e após o seu falecimento uma nova formação acadêmica, mas chegou a ser
eleição ocorreu em 1876, sendo eleito o Dr. membro do Instituto Histórico e Geográfico
Manoel Francisco Correia. Brasileiro e político do Partido Liberal; de-
O Barão de Antonina, descendente de pois de 1843 mudou-se para o Partido Con-
portugueses colonizadores do Rio Grande servador; possuía experiência em cargos
do Sul, por suas atividades tropeiras, que o públicos eletivos como vereador e deputa-
enriqueceram, casou-se com “moça rica” da do provincial por São Paulo, e foi nomeado
família de Manoel Gonçalves Guimarães, vice-presidente daquela província; por suas
dos Campos Gerais do Paraná, também atividades em prol do Império recebeu o tí-
atuante no comércio das tropas. Manoel tulo de Barão em 1843, Barão com grande-
Gonçalves Guimarães, também português, za em 1860, além de outros títulos nobiliár-
incorpora-se ao título familiar Cardoso de quicos, como os de comendador, veador e
Lima, povoador da região “paranaense” fidalgo. O segundo, Manoel Francisco Cor-
desde o século XVIII, por meio de casamen- reia, era de família residente no litoral do
to com Maria Magdalena de Lima. Já Ma- Paraná, ervateiros, negociantes, do Partido
noel Francisco Correia, “moço rico” graças Conservador, funcionário público no Rio de
às atividades de comércio, em especial de Janeiro, nomeado presidente da importante
erva-mate, de seus pais e avós no litoral, província de Pernambuco em 1862, deputa-
teve a oportunidade de estudar e formar- do provincial e geral pelo Paraná, chegan-
se em Direito em São Paulo, mas trabalhou do a ser ministro e conselheiro de Estado,
como funcionário público e casou-se no e era comendador da ordem de Cristo e da
Rio de Janeiro. A família Correia perten- Rosa. Em 1900, já no período republicano,
ce ao título familiar Rodrigues de França, foi vice-presidente do Instituto Histórico e
também povoador dessa região desde o Geográfico Brasileiro.
início do século XVIII. A família Guima- Enfim, ambos os senadores represen-
rães e a família Correia, em 1854, tinham tam as duas grandes forças econômicas do
como um dos elos familiares o importan- Paraná no século XIX – o tropeirismo e a
te comerciante do litoral Manoel Antonio erva-mate – passando pelos dois partidos
Guimarães (Visconde de Nácar), um dos políticos do Império, o Liberal e o Conser-
mais influentes políticos paranaenses do vador. Ambos são provenientes de famílias
século XIX, eleito diversas vezes deputado “legalistas”, isto é, frente às revoltas con-
provincial, chegando a assumir o cargo de tra o Império, como a dos Farrapos (1835-
vice-presidência da província na década de 1845) e a Revolução Liberal de Sorocaba
1870 e de deputado geral no Rio de Janeiro (1842), tanto João da Silva Machado como
em 1889. O Visconde de Nácar era sobri- Manoel Francisco Correia Junior (pai do se-

Políticos paranaenses no período provincial (1853-1889) 269


nador Correia) foram a favor da legalidade, 2.2. Deputados gerais do Paraná
não apoiando os “revoltosos”. E, como vis-
to, entre esses dois senadores há o elo do Quanto aos deputados gerais do Paraná, eles
parentesco formando a grande família, ou foram apenas 12 representantes da nova pro-
clã, Guimarães Correia no século XIX. víncia na Câmara Legislativa no Rio de Janeiro.

Tabela 9 – Deputados Gerais do Paraná (1854/1889)

Deputado Legis- Família Residência Educação / Partido Cargos públicos


geral latura Profissão político
1. Antonio 9ª Título Rodrigues Curitiba Advogado / Conservador Juiz, deputado
Candido de França (esposa) juiz; geral,
Ferreira de Erva-mate deputado
Abreu provincial
2. Jesuino 10ª, Título Carrascos Curitiba / Advogado; Liberal Vereador,
Marcondes 12ª, 13ª dos Reis (mãe) e Palmeira Tropeirismo deputado pro-
de Oliveira Rodrigues de vincial, dep.
e Sá França (esposa) geral, ministro,
presidente de
província
3. Laurindo 10ª, Título Rodrigues Curitiba / Advogado; Liberal Juiz, deputa-
Abelardo de 12ª, 13ª de França (sogra); Castro Tropeirismo do provincial,
Brito genro do dep. geral, pre-
deputado Manoel sidente de pro-
Ignácio do Canto víncia
e Silva
4. Joaquim 11ª Título Rodrigues Curitiba Médico; Liberal Deputado
Ignácio Seixas (esposa); provincial,
Silveira da Sá Ribas dep.geral
Motta
5. Zacarias 11ª Sem vínculos Rio de Advogado; Conservador Deputado pro-
de Goes e familiares no Janeiro / Liberal vincial, dep.
Vasconcellos Paraná (Progressista) geral, presiden-
te de província,
ministro,
senador
6. Joaquim 14ª Família Moraes Curitiba Médico; Liberal / Deputado pro-
Dias da Conservador vincial, dep.
Rocha geral

270 Repocs, v.13, n.25, jan/jun. 2016


7. Manoel 14ª, 15ª, Título Rodrigues Rio de Ja- Advogado / Conservador Deputado pro-
Francisco 16ª de França neiro / Pa- Funcionário vincial, dep.
Correia ranaguá público; geral, presiden-
Erva-mate te de província,
ministro,
senador
8. Manoel 15ª, 16ª, Título Rodrigues Paranaguá Advogado; Conservador Deputado pro-
Eufrásio 19ª, 20ª de França / Curitiba Erva-mate vincial, dep.
Correia geral, presiden-
te de
província
9. Manoel 17ª, 18ª, Título Rodrigues Antonina / Advogado; Liberal Deputado pro-
Alves de 19ª, 20ª de França Curitiba Erva-mate e vincial, dep.
Araujo tropeirismo geral, ministro,
presidente de
província
10. Sérgio 17ª Título Moraes Curitiba Advogado; Liberal Deputado pro-
Francisco de Cordeiro vincial,
Souza dep.geral
Castro
11. Genero- 18ª Título Carrascos Curitiba Advogado; Liberal Vereador, de-
so Marques dos Reis putado provin-
dos Santos cial, dep.geral
12. Manoel 20ª Título Rodrigues Paranaguá Alfabetiza- Conservador Vereador, de-
Antonio de França do; Comer- putado provin-
Guimarães ciante; cial, presidente
Erva-mate de província;
dep.geral

Fonte: Alves (2014).

Os deputados gerais do Paraná são mem- frásio Correia e Manoel Antonio Guimarães
bros de importantes e tradicionais famílias (Visconde de Nácar), parentes entre si – e do
paranaenses. Do título Rodrigues de França Partido Conservador – são todos herdeiros
são sete deputados, destacando-se a famí- diretos dos sesmeiros conquistadores dessa
lia Correia, Guimarães, Alves de Araujo e região. E o vínculo familiar entre eles é bas-
Oliveira e Sá; do título Carrascos dos Reis, tante forte. Os deputados gerais e advoga-
dois deputados, e dos títulos Rodrigues Sei- dos Dr. Antonio Candido Ferreira de Abreu,
xas e Moraes Cordeiro, um deputado cada. Dr. Laurindo Abelardo de Brito e os médicos
De um lado, Dr. Jesuino Marcondes de Dr. Joaquim Ignácio Silveira da Motta e Dr.
Oliveira e Sá e seu cunhado Dr. Manoel Al- Joaquim Dias da Rocha são os “genros” que,
ves de Araujo, Dr. Generoso Marques dos além da formação específica (advogado e
Santos e Dr. Sérgio Francisco de Souza Cas- médico), da liderança e da capacidade argu-
tro – do Partido Liberal – e de outro lado, Dr. mentativa, tiveram que contar com o apoio
Manoel Francisco Correia, Dr. Manoel Eu- de clãs familiares locais sem os quais não

Políticos paranaenses no período provincial (1853-1889) 271


poderiam ser vitoriosos, mas eram igual- força de suas famílias e à “dobradinha” com
mente provenientes de famílias senhoriais um dos chefes acima.
de outras províncias brasileiras. Quanto à defesa dos interesses econô-
Como não pertencente aos títulos fami- micos dessas famílias na Câmara Geral no
liares paranaenses havia apenas o conse- Rio de Janeiro, o tropeirismo e o comércio
lheiro Dr. Zacarias de Goes e Vasconcellos, de tropas tiveram sua força representativa
nomeado primeiro presidente da província na década de 1860 com os doutores Jesui-
do Paraná em 1853, e eleito deputado geral no Marcondes e Abelardo de Brito, e de-
por essa província no início da década de pois com o Dr. Manoel Alves de Araujo,
1860, graças ao apoio do então presidente de Antonina, casado com a filha do Barão
da província do Paraná, Dr. José Francisco dos Campos Gerais, David dos Santos Pa-
Cardoso. Outro deputado geral não citado na checo; também a família Alves de Araujo
genealogia de Francisco Negrão é o médico tinha negócios com engenhos de erva-mate,
baiano Dr. Joaquim Dias da Rocha, que veio bem como o senador barão de Antonina, até
para o Paraná em 1858, mas casa com Ma- sua morte, em 1875; e serão quatro depu-
ria Índia de Moraes, irmã do capitão Julio tados diretamente ligados ao comércio da
Índio do Brasil Moraes, residentes em Curiti- erva-mate, Dr. Antonio Candido Ferreira de
ba; praticante da tesouraria da província do Abreu, Dr. Manoel Eufrásio Correia, Manoel
Paraná, foi morto na batalha de Curupaity, Antonio Guimarães e Dr. Manoel Francisco
Paraguai, em 22 de setembro de 1866. Correia, sendo eles do Partido Conservador,
Um ponto importante a salientar é a fre- e depois o senador Manoel Francisco Cor-
quência de participação na Assembleia Geral reia, pós 1876. Cinco deputados gerais não
no Rio de Janeiro desses deputados, isto é, estão identificados diretamente com a er-
quantas vezes cada um deles foi eleito para as va-mate ou com o comércio de tropas, mas
12 legislaturas que aconteceram no período de possuíam cargos públicos ou mesmo eram
1853 a 1889. Isso demonstra o predomínio e profissionais liberais (advogados e médicos).
a força de alguns desses políticos. Pelo Parti- Os médicos Joaquim Ignácio Silveira da
do Liberal foram eleitos por três vezes a dupla Mota e Joaquim Dias da Rocha, além dos
Dr. Jesuino Marcondes de Oliveira e Sá e Dr. cargos públicos na província, exerciam suas
Laurindo Abelardo de Brito, que na década de profissões liberais; os advogados Generoso
1870 e 1880, porém, deixaram o espaço para Marques dos Santos e Sérgio de Castro tam-
o deputado Dr. Manoel Alves de Araujo, eleito bém tinham cargos públicos, mas exerciam
quatro vezes; o Conservador e chefe político a profissão de advogado. E o conselheiro
desse partido, Dr. Manoel Eufrásio Correia, foi Zacarias de Goes Vasconcellos era um polí-
quatro vezes eleito, e seu sobrinho Dr. Manoel tico de fora do Paraná, que também exerceu
Francisco Correia, três vezes – a partir de 1876, a profissão de advogado na Corte.
ele será também senador; e serão esses depu- Quanto ao partido político, seis são
tados, que mais vezes dirigiram-se ao Rio de Conservadores e seis são Liberais. Havia,
Janeiro, a também ocupar outros importantes portanto, um equilíbrio de forças, no que-
cargos na Corte, como os de conselheiro, mi- sito partidário, salientando que, geralmen-
nistro e presidente de províncias. Os demais te, eram eleitos deputados gerais de acordo
deputados gerais pelo Paraná tiveram apenas com o Gabinete ministerial formado no Rio
uma única participação, vencendo graças à de Janeiro.

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Quanto à residência, a referência é a políticos estratégicos para seu desenvolvi-
cidade de Curitiba, capital e centro admi- mento. E, assim, buscou-se demonstrar as
nistrativo da província, com oito deputados origens familiares desses indivíduos, sua
gerais; porém, desses oito políticos, Jesui- profissão e formação, a frequência com que
no Marcondes também tem residência em venciam as eleições, o perfil de suas prin-
Palmeira, Manoel Eufrásio Correia, em Pa- cipais lideranças, as lutas políticas partidá-
ranaguá, Abelardo de Brito, em Castro; do rias existentes na província, divididas entre
litoral, um é de Paranaguá, Manoel Anto- o Partido Conservador e o Partido Liberal,
nio Guimarães, e um de Antonina, Manoel tendo como referência também a dinâmica
Alves de Araujo, mas com residência em das mudanças de Gabinetes Ministeriais no
Curitiba e Palmeira; dois residem no Rio de Rio de Janeiro. Isso tudo sob as caracterís-
Janeiro: Manoel Francisco Correia e Zaca- ticas institucionais proporcionadas por um
rias de Goes e Vasconcellos. modelo de democracia que permitia as cha-
Quanto aos cargos públicos, três foram madas “fraudes eleitorais”, ao mesmo tem-
presidentes da Câmara Geral no Rio de Ja- po que exigia, como demonstrou Oliveira
neiro, quatro foram ministros, sete foram Viana (1949), a existência de clãs eleitorais.
presidentes ou vice-presidentes de provín- Dos clãs familiares aos clãs eleitorais do
cias, cinco foram conselheiros de Estado século XIX foi possível identificar os chama-
e todos foram deputados provinciais. Isso dos chefes ostensivos da política paranaense,
demonstra uma intensa participação desses indivíduos que permaneceram sendo eleitos
políticos locais no cenário nacional e sua ao longo de todo o período analisado, entre
constante atuação na Assembleia Legisla- 1853 a 1889, e consequentemente influen-
tiva Provincial. ciaram todo o processo decisório nessa nova
e estratégica província brasileira.
Considerações finais Outro ponto deste trabalho foi valorizar a
instituição política da Assembleia Legislati-
A metodologia proposta pela genealogia va Provincial do Paraná como espaço signi-
e a prosopografia ajudaram a entender de ficativo e importante das principais decisões
forma ampla as características gerais dos que afetavam a vida da população desse
188 políticos paranaenses que ocuparam território e seus respectivos municípios. Os
os cargos de deputado provincial, deputado chamados homens bons assumiam esse es-
geral e senador pelo Paraná, e que têm na paço de discussão e apontavam as princi-
estrutura familiar sua lógica de ação. pais ações a serem realizadas como forma
O significado sociológico da vitória po- de consolidar no Paraná, como eles mesmos
lítica de maneira geral desses indivíduos acreditavam, um dos principais territórios
durante todo o período imperial no Para- de desenvolvimento do Brasil, bem como a
ná se aproxima da conclusão já proposta importância de ter eleitos deputados gerais
por Ricardo Costa de Oliveira (2001) de que e senadores do Paraná, como representantes
para esse grande momento histórico anali- dos interesses locais na Câmara Legislativa
sado podem-se agrupar os indivíduos elei- na capital – Rio de Janeiro.
tos em poderosos grupos familiares, com Enfim, a análise genealógica e prosopo-
interesses econômicos e posicionamentos gráfica do grupo de políticos que governou
políticos semelhantes, ocupando os cargos o Paraná no século XIX demonstrou existir

Políticos paranaenses no período provincial (1853-1889) 273


uma intrincada rede de parentes que assumi- blicano no final do século XIX. 2006. 221f. Dis-
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Políticos paranaenses no período provincial (1853-1889) 275


RESUMO ABSTRACT
O objetivo deste trabalho é verificar quem The objective of this study is to ascertain
foram os políticos paranaenses no período who were the politicians in Paraná pro-
provincial, entre 1853, momento da eman- vincial period between 1853, when the
cipação política do Paraná, até a procla- Paraná political emancipation, until the
mação da República, em 1889 – senadores, proclamation of the Republic in 1889 (sen-
deputados gerais e deputados provinciais, ators, general deputies and provincial dep-
num universo de 188 indivíduos, utilizan- uties), out of 188 individuals, using the
do da metodologia proposta pela genealo- methodology proposed by genealogy and
gia e prosopografia. Por meio das caracte- prosopography. And through the common
rísticas comuns desses políticos, busca-se features of these politicians seek to verify
verificar um fenômeno descrito por Olivei- a phenomenon described by Oliveira Vi-
ra Viana (1949), existente no Brasil: a pre- ana (1949) existing in Brazil, which was
sença de “clãs parentais” que, por atuarem the presence of “parental clans”, which act
na política, formavam também os chama- in politics also formed the so-called “elec-
dos “clãs eleitorais”. E, a partir dessa pro- toral clans.” And from this particular
víncia específica, conclui-se que política province, it is concluded that politics was
era interesse de família no Brasil Império. a family interest in Brazil Empire.

PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS
Paraná. Brasil Império. Genealogia. Proso- Paraná. Empire Brazil. Genealogy. Proso-
pografia. “Clãs eleitorais”. pography. “Electoral Clans”.

Recebido em: 06/06/15


Aprovado em: 21/10/15

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