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A L F R E D O BUZA ID
RUMOS POLÍTICOS
DA R E V O L U Ç Â O
BRASILEIRA
1970
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA
ALFREDO BUZAID
RUMOS POLÍTICOS
DA R E V O L U Ç Â O
BRASILEIRA
1970
ALOCUQAO PROFERIDA PELO
PROFESSOR ALFREDO BUZAID, MI-
NISTRO DA JUSTINA, NO DIA 1" DE
ABRIL DE 1970. ATRAVÉS DE RÉDE
DE TELEVISAO E RADIO, NA SEMA-
NA COMEMORATIVA DO SEXTO
ANIVERSARIO DA REVOLU^ÁO DE
31 DE MARQO DE 1964
RUMOS POLÍTICOS DA REVOLUgAO
BRASILEIRA
I - CONSIDERAgóES PRELIMINARES
SUMARIO: - 1. O P O V O Q U E SE REENCONTRA
A O ELAEORAR O CÓDIGO POLITICO - 2. A PALAVRA
RKVOLUCAO. SEUS SIGNIFICADOS - 3. O QUE JA
R E A I I Z O U A R E V O L U g A O DE 31 DE M A R C O ÑAS
MAIS VARIADAS AREAS.
II — A R E V O L U g À O POLÍTICA
3. HANS KELSEN, Von Wcsen und Wert dee Demokratie, 1963, p á g . 14.
4. BURDEAU, La Democratie, pág. 36.
9. Federalisí, n9 57.
10. Constituiçâo, art. 6'.
11. Constituiçâo, art. 74.
èstes, portante, a responsabilidade de selecionar quantos
devem ser apresentados ao julgamento do povo. M a s
nao foi das mais edificantes a éste respeito a experiencia
brasileira.
Para se compreender bem o defeito da represen-
t a d o no Poder Legislativo e no Poder Executivo, è de
todo conveniente bosquejar, ainda que em rápidas pince-
ladas, a historia do Partido Político no Brasil, assinalando
a evolugao por que passou desde os esforgos dos esta-
distas do Impèrio até as organizares que dominaram
a República.
20. Constituigao, art. 118, § único; art. 121; art. 128; a r t . 141, § I o , « a » .
afastar aqueles que se tornaram indignos da repre-
sentado ( 21 ) .
14 — Esta racionalizado do Poder Judiciário nao
nasceu por acaso nem por encanto; foi o resultado de
um paciente processo de aperfeigoamento da instituigáo
reclamado pela natureza da atividade jurisdicional e
dignidade dos seus órgáos. Entenderam nossos consti-
tuintes que só deviam confiar a magistrados cultos,
honestos e capazes, o julgamento das causas relativas á
liberdade e á fazenda.
Aos publicistas que se preocuparam com o Poder
Judiciário, um dos meios de selecionar os melhores para
o exercício da fungao se afigurou o concurso de provas
e títulos. Pode nao ser o único sistema. Mas sem
dúvida é aínda um dos melhores na democracia, porque
assegura a todos a possibilidade de conquistar, por
merecimento próprio, tao elevada fungao. Respeitava-se
assim o principio da igualdade.
A experiencia brasileira demonstrou as inequívocas
vantagens désse processo seletivo de valores. Desde a
implantagao do sistema de concurso, já ninguém pensa
noutra solugao, nem outra melhor surgiu nos monumentos
legislativos contemporáneos. A ligáo que se tira dessa
conquista brasileira nao está, porém, apenas em exaltar
os méritos do processo de selegáo, mas especialmente
em cotejar a conquista do Poder Judiciário, pondo-a em
confronto com a escolha de representantes do povo nos
dois outros Poderes.
22. Constituic,5o, a r t . 152, I; KELSEN, Von Wesen und Wert der Demo-
kratie, p ä g . 20: — " D i e Demokratie ist n o t w e n d i g u n d vermeidJich ein Par-
teinstaat" .
23. Constitui^äo, a r t . 160.
24. Constituigäo, art. 47, § 1".
17 — O segundo objetivo é preservar a probidade
administrativa. Por esta expressáo se há de designar a
inteireza do caráter que leva á observancia estrita dos
deveres do homem público. Se a leí complementar visa
a preservar a probidade administrativa, a escolha de
candidatos ao exercício de fungao eletiva supóe que éles
sejam politicamente capazes, porque carece de retidáo
quem é investido em mandato para cujo desempenho nao
está apto. A probidade administrativa concerne, pois, á
competencia funcional, que se demonstra nao pela fólha
corrida de inexistencia de antecedentes crimináis, mas
por atos ou fatos inequívocos que atestem o mérito no
exercício de fungao eletiva. Esta idéia nao é nova;
constituiu sempre uma preocupagáo dos publicistas. Já
em trabalho publicado em 1886 V . E . ORLANDO
dizia que "a representaqáo pressupóe a selegáo dos
capazes para lhes confiar o exercício das mais altas fun-
goes da vida pública". Mas, compreendendo as dificul-
dades da representado, esclarece: " N a o pretendemos
que a Cámara deva ser composta de imortais; mas que-
remos falar de capacidade específica em relagao á forma
de atividade de que se trata: em uma palavra, de capa-
cidade política" ( 25 ) . O mérito do direito brasileiro
foi o de erigir a probidade administrativa á eminencia
de principio constitucional, impondo aos partidos a res-
ponsabilidade de escolher os que melhor e mais digna-
mente podem ser os mandatários do povo.
18 — O terceiro objetivo é preservar a normali-
dade e a legitimidade das eleigoes. A Constituidlo
25. V.E. ORLANDO, Diritto Pubblico Gencrale, Milano, 1940, p á g s . 456
e 454.
considerou que dois fatòres podem concorrer para per-
turbar a seriedade dos pleitos. U m é a pressáo de
grupos económicos. Outro é a influencia de quem abusa
do exercicio de cargo, fungào ou emprègo público na
administrado direta ou indireta. Para evitar qu'e uns e
outros violassem o principio da igualdade de todos na
disputa eleitoral, a lei de inelegibilidade lhes exigiu a
desincompatibilizagáo de modo que ambos fóssem desar-
mados dos meios de que poderiam valer-se.
19 — O quarto objetivo é a moralidade para o
exercício do mandato, levando em consideralo a vida
pregressa do candidato. Esta cláusula quer significar
que aquèle que nao tem vida pregressa moralmente irre-
prochável, nào pode ser indicado ao eleitorado. A o
considerar esta condigao requisito autònomo, a Constitui-
d o quis distinguir claramente a probidade administrativa
da moralidade para o exercício do mandato. A primeira
supòe candidato politicamente capaz; a segunda, moral-
mente digno. Nao se trata de condigSes alternativas,
mas concorrentes, ou em outras palavras, o candidato
deve reunir as duas qualidades para legitimar-se na
disputa de mandato eletivo.